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Universidade e heteronomia
cultural no capitalismo dependente
Um estudo a partir de Florestan Fernandes
CONSEQUÊNCIA
© 2018 Roberto Leher
Conselho editorial
Álvaro Ferreira
Carlos Walter Porto-Gonçalves
João Rua
Marcelo Badaró Mattos
Marcos Saquet
Ruy Moreira
Virgínia Fontes
Coordenação editorial
Consequência Editora
Revisão
Priscilla Morandi
Capa, projeto gráfico e diagramação
Letra e Imagem
CAPITULO 1
CAPITULO 4
19
20 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
3 DIEESE. Balanço das Greves em 2013, Estudos e Pesquisas, 79, dezembro de 2015. Disponível
em: <https://www.dieese.org.br/balancodasgreves/2013/estPesq79balancogreves2013.pdf>.
4 DIEESE, Balanço das Greves 2016. Estudos e Pesquisas n. 84, agosto de 2017. Disponível
em: <https://www.dieese.org.br/balancodasgreves/2016/estPesq84balancogreves2016.html>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 21
5 MOTA, Camila Veras. Com crise, base da pirâmide cresce e volta aos níveis de 2011.
Valor, 30 jan. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4851490/com-crise-
-base-da-piramide-cresce-e-volta-aos-niveis-de-2011>.
6 VENTURINI, Lilian. Como está a desigualdade de renda no Brasil, segundo o IBGE.
Nexo Jornal, 30 nov. 2017. Disponível em: < https://www.nexojornal.com.br/expres-
so/2017/ll/30/Como-est%C3%Al-a-desigualdade-de-renda-no-Brasil-segundo-o-IBGE>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 23
6. 000.000.000 .............- ............. .........................................................- ......... ...... — --- ------------------------------------------------------------------ ------------------------ — -------------------------------------- -------------
o N
1996
1997
6000.000.000
1000.000.000
12 A nova lei (Lei N° 13.467/2017) foi sancionada em julho de 2017. Estabelece mudanças
estruturais na Consolidação das Leis do Trabalho. Permite que prevaleça o negociado
frente ao legislado, estabelece a terceirização de atividade-fim, possibilita o trabalho in
termitente e o teletrabalho, a remuneração por produtividade, a prorrogação de jornada
em ambiente insalubres, o banco de horas individual, permite que os acordos coletivos
por empresa prevaleçam sobre as convenções coletivas (por categoria), entre outros re
trocessos.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 29
16 “Não estamos caminhando para uma sociedade homogênea, medianizada, mas para
uma sociedade mais polarizada”. Entrevista especial com Márcio Pochmann, Institu
to Humanitas Unisinos, Sexta, 27 jun. 2014. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.
br/entrevistas/nao-estamos-caminhando-para-uma-sociedade-homogenea-mediani-
zada-mas-para-uma-sociedade-mais-polarizada-entrevista-especial-com-marcio-po-
chmann/532719-nao-estamos-caminhando-para-uma-sociedade-homogenea-medi#>.
17 MOTTA, Camila Veras. Rotatividade no emprego chega a 38,5%, menor nível em 10
anos. Valor, 3 abr. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4924238/rotati-
vidade-no-emprego-chega-385-menor-nivel-em-10-anos>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 31
tudam e trabalham 13,6%; apenas trabalham 45,2%, e não estudam nem tra
balham 19,6%. Este último grupo está concentrado principalmente na faixa
etária de 25 a 29 anos, totalizando 21,6% dos jovens (PNAD/IBGE, 2012).
Estudo de Nelson N. Granato Neto e Claus Germer (2013) coloca em
destaque o enorme percentual de jovens e adultos nesta condição. Estes
pesquisadores apontam que, em 2001, 57,3% da População em Idade Ativa
(PIA) compunha o EIR; em 2009, após o período expansivo, 51,9% da PIA
encontrava-se nessa condição. Desagregando os percentuais por gênero, o
quadro é ainda mais grave: mulheres - 2001: 70,9%, 2009: 64,8%; homens
- 2001: 42,6%, 2009: 38,1%. A consideração do desenvolvimento desigual
no território permite evidenciar que no Maranhão, por exemplo, conside
rando homens e mulheres indistintamente, em 2001, o EIR correspondia a
73,7% e, em 2009,66,6% (LEHER; MOTTA, 2015).
A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contí
nua (PNAD Contínua, 2016, divulgada pelo IBGE em 29/11/17), examina o
rendimento das famílias com base nos dados de 2016, e confirma o elevado
percentual de domicílios que recebem recursos do Bolsa Família: Norte:
27,2%; Nordeste: 29,3%; Centro-Oeste: 9,2%; Sudeste: 6,9% e Sul: 5,4%18.
Com a simplificação das cadeias produtivas, a expansão das commodi
ties e o crescimento do setor de serviços de baixa qualificação, o contin
gente da força de trabalho que demandaria formação complexa foi propor
cionalmente reduzido. Mas o problema, como assinalado, não se restringe
aos que comporão o EIR flutuante; os chamados sobrantes (EIR estagnado
e latente) precisam ser “socializados” tanto para buscarem empregos assa
lariados em contextos expansivos (sem o que os salários dos já empregados
poderiam subir) como para que a ordem do capital não seja tensionada
pela violência ou pelas revoltas e protestos populares. Para estes estratos, a
opção disponível é o empreendedorismo popular. Cabe lembrar que entre
os milhares de jovens que saíram às ruas nas Jornadas de Junho de 2013,
muitos compunham o EIR e, objetivamente, demonstraram seu inconfor-
mismo com a situação vigente.
Retomando o problema inicial, para tornar pensáveis as lutas de classes
no Brasil contemporâneo, é necessário dissipar a densa neblina que recai
sobre o tema. Um esforço de síntese é necessário.
19 Valor: Grandes Grupos. Editora Tânia Nogueira Alves, Dezembro de 2017, Ano 16, Nú
mero 16, Valor Econômico.
34 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
20 TEIXEIRA, Matheus. Por maioria, Supremo permite ensino religioso confessional nas
escolas públicas. Consultor Jurídico, 27 set. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.
com.br/2017-set-27/stf-permite-ensino-religioso-confessional-escolas-publicas>.
21 BEDINELLI, Talita. Partidos em disputa pelo capital político dos evangélicos para 2018.
El País, Brasil, 4 dez. 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/ll/29/po-
litica/1511910263_276710.html>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 35
cias utilizadas: TODOS PELA EDUCAÇÃO (Brasil). Todos p ela Educação. Disponível em:
<https://www.todospelaeducacao.org.br>. Acesso em: 03 dez. 2017.
TODOS PELA EDUCAÇÃO (Brasil). De Olho nas M etas 2015-16: sétimo relatório de mo
nitoramento das 5 Metas do Todos Pela Educação. 2017. Disponível ejn: <https://www.
todospelaeducacao.org.br//arquivos/biblioteca/olho_metas_2015_16_final.pdf>. Acesso
em: 03 dez. 2017.
FUNDAÇÃO LEMANN (Brasil). Fundação Lem ann. 2017. Disponível em: <http://www.
fundacaolemann.org.br>. Acesso em: 03 dez. 2017.
FUNDAÇÃO LEMANN (Brasil). Relatório an u al 2016. Disponível em: <http://www.
fundacaolemann.org.br/wp-content/uploads/2014/10/RA2016_lemann_PDF-interati-
vo_web-l.pdf>. Acesso em: 03 dez. 2017.
MOVIMENTO BRASIL COMPETITIVO (Brasil). M ovim ento Brasil Competitivo. Dispo
nível em: <http://www.mbc.org.br>. Acesso em: 03 dez. 2017.
BORGES, Helena. Conheça os bilionários convidados para “reformar” a educação bra
sileira de acordo com sua ideologia. The Intercept. Disponível em: <https://theintercept.
com/2016/11/04/conheca-os-bilionarios-convidados-para-reformar-a-educacao-brasilei-
ra-de-acordo-com-sua-ideoIogia/>. Acesso em: 5 dez. 2017.
FLORES, Paulo. O que são think tanks. E como eles influenciam a política. Nexo. Disponí
vel em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/12/01/0-que-s%C3%A3o-think-
-tanks.-E-como-eles-influenciam-a-pol%C3%ADtica>. Acesso em: 5 dez. 2017.
23 Ao longo da história do MST foram conquistadas 2.520 escolas nos acampamentos e
assentamentos; mais de 4 mil professores foram formados no movimento e existem parce
rias com 50 instituições de ensino superior, 100 turmas de cursos formais. Ver: MST: Lutas
e Desafios. 2. ed. São Paulo: Secretaria Nacional MST, jan. 2010.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 43
26 Requerida pelos deputados Alceu Moreira (PMDB-RS), Marcos Montes (PSD-MG), Nil
son Leitão (PSDB-MT), Valdir Colatto (PMDB-SC), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Mandet-
ta (DEM-MS) e outros.
27 Foram diversas edições com o mesmo teor: WEINBERG, Mônica. Madraçais do MST.
Revista Veja, edição 1870, ano 37, n. 36, p. 4 6-49,8 set. 2004; Os 25 Anos do MST: invasões,
badernas e desafio à lei. Veja, 23 jan. 2009. Disponível em: < https://veja.abril.com.br/
brasil/os-25-anos-do-mst-invasoes-badernas-e-desafio-a-lei/ >; RIBEIRO, Gustavo. Ma-
draçal no Planalto. Revista Veja, p. 111-116, 6 jul. 2011; AZEVEDO Reinaldo. O MST e o
terrorismo oficializado. Veja, 22 fev. 2017. Para uma análise crítica, ver: MELLO, Maria;
VILLAS BÔAS, Rafael. M adraçais d a Veja: a importação da doutrina antiterror pelo jor
nalismo brasileiro. Disponível em: <http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2015/04/
Madra%C3%A7ais-da-Veja-doutrina-antiterror.pdf>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 49
28 A primeira edição em inglês data de agosto de 1995, a primeira versão em espanhol foi
em janeiro de 1996,
50 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
tidades31. É preciso registrar que essa construção foi marcada por tensões,
sobretudo em relação aos termos da agenda de 18 pontos e à imagem pública
da luta. Em virtude desse equilíbrio precário, a Campanha acabou perdendo
força organizativa, tornando-se um evento que não assumiu a dimensão de
um movimento classista pela educação pública. Apesar de seus limites, a
Jornada foi a iniciativa que mais aproximou as lutas brasileiras das demais
lutas latino-americanas, pois reuniu, em um mesmo espaço, os movimentos
da educação e os movimentos antissistêmicos, como o MST e outros.
Não surpreende que, a despeito do caráter incipiente dessa jornada, as
principais entidades que vêm protagonizando as lutas contra a ofensiva
pró-sistêmica do governo federal e das entidades empresariais sobre a edu
cação pública estejam sofrendo forte ataque dos aliados governamentais.
Entre estas entidades, as mais diretamente combatidas são o MST e o An-
des-SN, ambas concebidas como movimentos a serem criminalizados por
sua ação política.
O MST, além de forte estrangulamento financeiro, foi alvo de intensa
campanha difamatória pela grande imprensa, liderada pela revista Veja, que
elegeu as atividades educacionais do movimento como um dos principais
alvos. As acusações sustentaram que a educação das crianças nas escolas
itinerantes e, mais amplamente, de seus militantes, na Escola Nacional Flo-
restan Fernandes, objetivava formar revolucionários extremistas, em tudo
semelhante à caracterização dos terroristas por Bush. Em 2008, procura
dores do estado do Rio Grande do Sul denunciaram o MST como entidade
criminosa e terrorista, defendendo que o movimento deveria ser colocado
na ilegalidade. A partir desse posicionamento, o governo do estado do Rio
Grande do Sul descredenciou todas as escolas itinerantes do estado, bus
cando inviabilizá-las. Posteriormente, a bancada ruralista no Congresso Na
cional viabilizou a terceira Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para
investigar o MST, objetivando torná-lo uma entidade proscrita.
Não apenas a meta dos 10% do PIB para a educação foi remetida para
longos 10 anos, para 2024, como, desastrosamente, o Art. 5, §4 da refe
rida Lei possibilita contabilizar como se fosse público os gastos com as
corporações internacionais, os bancos e os fundbs de investimentos que
vendem educação técnica e superior no Brasil e no exterior (Ciência Sem
Fronteiras), assim como os gastos com bolsas para o setor privado, as isen
ções tributárias e toda sorte de parcerias público-privadas, o novo léxico
da privatização em curso. Com o novo PNE, está aberto o caminho para
a reconfiguração da educação pública por meio da conversão das esco
las públicas estatais em escolas charter, financiadas com verbas públicas,
mas administradas e dirigidas pedagogicamente por grupos econômicos,
assim como para a generalização dos vouchers, tal como no Chile, no pe
ríodo Pinochet, nos termos dos modelos elaborados pela Escola de Chi
cago: as famílias recebem o cheque (voucher) e escolhem “livremente” o
tipo de escola em que seus filhos irão estudar. Os mais pobres, terão de se
contentar com escolas que somente vivem dos referidos vouchers, os que
possuem melhor condição econômica poderão “escolher” complementar o
valor dos seus cheques e matricular seus filhos nas escolas privadas. Não
resta dúvida de que a agenda do Todos pela Educação e, por isso, a agenda
do próprio governo Federal, com o PNE, caminha nessa direção33.
O que o ENE sinaliza de novo nas lutas pela educação pública é que
os movimentos, sindicatos e demais protagonistas não poderão se limitar
a reagir diante da ofensiva dos governos e do capital, mas, antes, afirmar
uma nova agenda para a educação pública:
36 Fonte: <http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/12-ensino-superior>.
60 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
20,000 18,704
37 Eduardo Rodrigues e Adriana Fernandes. Fies sofrerá revisão total após custo chegar a
R$ 32,2 bi, O Estado de São Paulo, 28/03/2017, disponível em: http://educacao.estadao.com.
br/noticias/geral,fies-sofrera-revisao-total-apos-custo-chegar-a-r-32-2-bi,70001716449.
62 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
38 Fonte: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/
2016/censo_superior_tabelas.pdf>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 63
pela Kroton, apenas uma única corporação teria 400 mil matrículas a mais
do que as federais, alcançando 1,5 milhão de matrículas, 25% do total das
matrículas privadas. É relevante destacar que mais de 70% das matrículas a
distância estão sendo ofertadas por empresas educacionais controladas por
apenas cinco fundos de investimentos. O controle do capital financeiro da
educação no Brasil não encontra paralelo em nenhum país do mundo.
Outra dimensão a ser considerada é a editorial. Grandes corporações têm
atuado no setor editorial, promovendo forte concentração monopólica. Aqui
também a indução estatal, por meio do Programa Nacional do Livro Didá
tico e, mais recentemente, nos estados e municípios, por meio da aquisição
de sistemas de ensino apostilados, é definidora. E com isso, cada vez mais, o
conteúdo do que é dado a pensar nas escolas é definido pelos grupos econô
micos, liderados crescentemente por corporações multinacionais (Santillan,
Pearson etc.), seja por meio de livros, seja, principalmente, por intermédio
de apostilas trabalhadas diretamente com os estudantes (PINHEIRO, 2014).
Desse modo, o capital atua na disputa da educação objetivando dire
cionar verbas públicas para os seus próprios negócios. Entre os setores que
maior êxito têm tido na apropriação das verbas públicas, é imperativo lis
tar as universidades, as faculdades e as escolas isoladas controladas pelos
fundos de investimentos, os grupos editoriais e o sistema educacional pa
tronal, como o Sistema S, e por meio de renúncia fiscal no imposto de ren
da das famílias usuárias das instituições privadas. A força desses segmen
tos se soma à de outros sujeitos coletivos relevantes, como o confessional, o
comunitário e a vasta rede assistencial, dita filantrópica.
e co n ô m ico s [ ...]. Seu o b jeto é prom over estu d os, p esquisas, sem in ário s, debates, cu rso s e
p u b licaçõ es, visan d o a d iscu tir a realidad e so cio eco n ô m ica do P aís, bem co m g erir p ro
gram as de bo lsas de estud os e pesquisas. V er: <http://iepecdg.com.br/quem-somos/>.
41 Como assinalado, a construção política do im peachm ent de Dilma Rousseff foi urdida
com forte apoio de destacados aparelhos privados de hegemonia, notadamente, as agên
cias do capital. Embora destoante da agenda tradicional do PMDB (de certo, não coincide
com a pauta de Ulysses Guimarães na constituinte de 1987-1988), em 29 de outubro de
2015 este partido publicou o documento “Uma Ponte para o Futuro” dirigido ao merca
do, publicizando os seus compromissos com o capital. Editado pela Fundação Ulysses
Guimarães, um texto que coincide, essencialmente, com as proposições dos banquei
ros reunidos na Casa das Garças. Ver documento em: <http://pmdb.org.br/wp-content/
uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15-Online.pdf>.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 67
42 A presente seção tem como referência artigo publicado no Jorn al dos Economistas, n.
340, dezembro de 17, dedicado ao balanço de 2017 “2017: ano perdido ou de recuperação?”
Roberto Leher, Ciência e trabalho criativo em risco, p. 11-13.
43 GUIMARÃES, Ligia. Corte de verba “expulsa” pesquisadores do país. Valor, A12, 9
maio 2017.
68 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
44 MOREL, Carlos; HAUEGEN, Renata. Ascensão, queda e ressureição dos INCT. Valor,
AIO, 9 maio 2017.
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 69
45 “Comunidade científica é contra MP que destina recursos do FNDCT para o Fies”. Dis
ponível em: <http://www.agenciacti.com.br/index.php?option=com_content&view=arti-
cle&id=10596:comunidade-cientifica-e-contra-mp-que-destina-recursos-do-fndct-para
-o-fies&catid=l:latest-news>. Acesso em: 9 maio 2017.
70 UNIVERSIDADE E HETERONOMIA CULTURAL NO CAPITALISMO DEPENDENTE
cantil. A sugestão de uso de recursos do Fundo Social para o FIES46 não de
veria ser uma hipótese aceitável. É o sistema público que está descapitalizado.
O FIES custou R$ 20 bilhões em 2016, enquanto o orçamento de custeio e o
investimento das 63 universidades federais de 2017 foi inferior a R$ 6 bilhões.
Até onde os cortes podem chegar? O trágico e inaceitável caso das uni
versidades estaduais do Rio de Janeiro (UERJ - Universidade do Estado do
Rio de Janeiro UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense
UEZO - Centro Universitário da Zona Oeste) confirma que não há limite
para os cortes.
Na perspectiva teórica aqui desenvolvida, um segundo eixo se impõe: a
sobrevivência da ciência depende da educação pública e das perspectivas
para a economia e para o mundo do trabalho.
A reforma do ensino médio47 esvazia a formação científica dos estudan
tes e, na prática, pretende direcionar o grosso dos estudantes para precoce
formação profissional minimalista. É uma reforma explicitamente voltada
para a formação do Exército Industrial de Reserva, conforme discutido
anteriormente. Tal perfil estudantil estará em conformidade com a pasteu
rizada formação ofertada por agressivas corporações educacionais mer
cantis, mas não para a vida universitária.
Correlatamente, como já sublinhado anteriormente, é preciso captar as
tendências indicadas pela chamada reforma trabalhista e suas repercus
sões no mundo do trabalho e, o que é seu proldjjgamento, pela (contra)
reforma da previdência. Do resgate da “moderna” remuneração por meio
do fornecimento de casa e comida pelo patrão48, passando pela terceiriza
ção de todas as atividades-fim e pela admissão de trabalho intermitente
46 Fonte: <https://drive.google.eom/file/d/0B-h7ieF7jdYXWHVwYkJyUDg0eFk/view>.
47 Originalmente, o governo Temer fez a reforma por meio de uma Medida Provisória (MP n.
746/2016), convertida em Lei após aprovação pelo Congresso Nacional (Lei N° 13.415, de 16 de
fevereiro de 2017). Estabelece itinerários educacionais precoces (Art. 36): 1. Linguagens; 2. Ma
temática; 3. Ciências da natureza; 4. Ciências humanas e sociais aplicadas, e 5. Formação técnica
e profissional. A profissionalização precoce e superficial foi implementada, com escasso êxito,
também na ditadura empresarial-militar por meio da Lei 5.692/1971. O acesso à referida Lei
pode ser feito em: <http://www.planalto.gov.br/ccivLl_03/_ato2015-2018/2017/lei/U3415.htm>.
48 O deputado da bancada ruralista Nilson Leitão (PSDB-MT) propôs a inclusão (PL
6442/2016), nas formas de remuneração “de qualquer espécie” do trabalhador rural, a
moradia e a alimentação, institucionalizando a modalidade de trabalho análogo à escravi
dão, tema relativizado, também, por recente medida de Michel Temer. Ver material sobre
o tema em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/trabalhador-rural-podera-receber-
-casa-e-comida-no-lugar-do-salark».
Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo 71