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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Eduardo Feniman

CADEIA PRODUTIVA DA ERVA-MATE

Trabalho apresentado para conclusão da


disciplina de comercialização e sistemas
agroindustriais do curso de agronomia, sob
orientação da professora Vânia Guimarães.

CURITIBA
2022
1

SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................................... 2
1. Produção ....................................................................................................................................... 3
2. Produto .......................................................................................................................................... 5
3. Negociação .................................................................................................................................. 7
4. Processo de comercialização ........................................................................................... 10
5. Conclusão .............................................................................................................................. 11
Referências .................................................................................................................................... 14

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Introdução

A erva-mate (Ilex paraguariensis A. St. Hil) é uma espécie nativa do sul da


América do Sul, com incidência nos territórios do Brasil, Paraguai e Argentina.
Nestes países, juntamente com o Uruguai, a erva-mate é parte da cultura alimentar,
hábito iniciado pelas populações indígenas que permanece até os dias de hoje. Seu
consumo se dá na forma de infusão quente – o chimarrão – ou fria – o tereré. A pós
a colonização da América do Sul pelos portugueses e espanhóis, a bebida passou a
ser consumida também pelos estrangeiros, na forma de chá, ao modo como os
ingleses preparavam a infusão do chá preto indiano produzido com as folhas da
Camelia sinensis (Boguszewski, 2007).
No Brasil, a erva-mate é endêmica nos estados do Rio Grande do Sul,
Paraná, Mato Grosso do Sul e extremo sul de São Paulo e é o principal produto
florestal não madeireiro da região sul (PENTEADO JUNIOR, 2019). O Brasil é o
maior produtor, atingindo em 2019 880 mil toneladas. O Rio Grande do Sul é o
estado que mais se destaca pela produtividade, responsável por 45% do total,
seguido pelo Paraná, com 37%. A produção paranaense gerou para o estado R$
656,6 milhões de reais em 2019 (PARANÁ, 2020).
Além da tradição, a erva-mate possui um papel importante na economia rural
da região sul, sobretudo para os agricultores familiares. Outros seguimentos tem
encontrado na erva-mate propriedades que fazem desta planta um produto
promissor, não somente no território nacional mas também como item de
exportação. Este trabalho busca apresentar a cadeia produtiva da erva-mate e as
perspectivas que se abrem para a melhoria e o aumento da produção.
No primeiro tópico aborda-se o processo produtivo da erva-mate nas
propriedades e como os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento tem contribuído
para o avanço da produção. O tópico dois apresenta a erva-mate como produto, sua
demanda e processo de beneficiamento. No tópico três os atores presentes no
processo de negociação são apresentados, bem como as modalidades com que
esta ocorre. O tópico quatro dedica-se a esclarecer as etapas e modalidades de
comercialização no mercado interno e externo e como afeta os produtores e suas
decisões na produção. No quinto tópico conclui-se apresentando as oportunidades e
desafios que o setor ervateiro tem à frente e uma breve análise da tendência de
preços pagos ao produtor no Paraná em uma série histórica e sua sazonalidade.
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1. Produção

A produção da erva mate é uma atividade predominantemente da agricultura


familiar, onde é empregada pouca tecnologia. A atividade é desenvolvida em 19.003
propriedades, ocupando uma área de 39.456 hectares, nos estados do Paraná,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul (IBGE, 2017).
Um erval pode ser estabelecido a partir do plantio de mudas em uma área
onde não havia outrora a atividade, ou da seleção de áreas onde se encontra uma
grande população de plantas de erva-mate nativas, onde as demais espécies que
podem gerar competição no sub-bosque são removidas, mantendo apenas as
árvores mais altas. A erva-mate nativa se desenvolve melhor quando sombreada,
portanto é uma cultura que pode se associar de um modo muito sustentável com
outras espécies nativas da floresta ombrófila mista. No caso de um erval nativo, as
novas plantas são formadas a partir das sementes produzidas na mesma área,
mantendo uma homogeneidade genética do erval.
Nas regiões produtoras existe um mercado de mudas bem estabelecido, com
viveiros especializados que realizam o processo de seleção de sementes, produção
de mudas e venda para os produtores. A Embrapa florestas tem trabalhado com
viveiros de diferentes regiões no sul do Brasil a fim de desenvolverem cultivares com
características de interesse agronômico, como qualidade de bebida, resistência a
doenças e maior produtividade.
No momento existem seis cultivares registradas no ministério da agricultura
disponíveis aos produtores, cuja tecnologia de produção está integrada no programa
Erva 20, que trabalha no desenvolvimento genético, de cultivo e assessoria
agronômica aos produtores e viveiristas. O objetivo do programa é a melhoria dos
ervais em relação ao manejo da cultura, nutrição do solo, escolha de materiais
genéticos adequados para cada região edafoclimática, de modo que a produtividade
média saia dos atuais 12 toneladas por hectare para 20 toneladas por hectare com a
adoção do sistema de produção (Penteado Júnior, 2019). Os materiais genéticos de
alto rendimento desenvolvidos pela Embrapa e parceiros estão apresentados na
tabela 1:
4

Tabela1: cultivares de erva-mate desenvolvidas pela Embrapa e parceiros


Variedade Mantenedor Características
SCS BRS Caa rari Embrapa/epagri Indicado para regiões de
clima subtropical, com baixa
incidência de geadas.
Cambona 4 Embrapa/apromate Menor amargor, utilizada na
elaboração de blends mais
suaves
BRS 408 Embrapa Sabor medianamente suave,
tolerante a 30% de
sombreamento
BRS409 Embrapa Sabor medianamente suave,
produtividade superior a BRS
408.
BRS BLD Aupaba Embrapa/Baldo Alta suavidade e folhas de
coloração mais clara. Melhor
adaptada a pleno sol.
BRS BLD Yari Embrapa/Baldo Alta suavidade, tolerante ao
sombreamento.
Fonte: Penteado Júnior, 2019.

O trabalho de pesquisa e desenvolvimento tem feito com que os ervais


brasileiros aumentem sua produtividade e qualidade, passando de uma média de 8
toneladas/hectare para 18 a 25 toneladas por hectare. Este incremento se dá não
somente pela genética, mas também em melhorias de manejo e nutrição da lavoura.
O uso de máquinas se faz necessário somente para o preparo do solo no
momento da implantação, adubação (que ocorre a cada 3 anos aproximadamente),
limpeza (roçada) e transporte. Deste modo, não há a necessidade de muitos
implementos ou tratores de alto rendimento, fazendo com que o investimento em
máquinas seja pequeno. Além do trator e seus implementos, o manejo da cultura
exige o uso de serras manuais e motorizadas, além de tesouras de poda, que
podem ser manuais ou elétricas.
O investimento de implantação de um erval não é alto quando comparado
com a infraestrutura necessária para outras culturas, como frutíferas e mesmo
grãos. Segundo Bartsch et al (2018), o custo de implantação de 1 hectare de erva-
mate é de cerca de R$ 4.300,00, e sua manutenção anual é de cerca de R$
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1.200,00. Para a formação de um pomar de pêssego, por exemplo, o investimento é


de R$ 16.338,00 por hectare (Embrapa, 2003).
Os produtores de erva-mate não encontram dificuldades para escoar sua
produção. Além do mercado interno estar crescendo, outros países também tem
encontrado na erva-mate características de interesse que mantém as exportações
com um crescimento sustentado (PARANÁ, 2020).

2. Produto

O maior uso da erva-mate no Brasil se dá na forma de bebidas. Nos estados


da região sul do Brasil a bebida típica é o chimarrão, já no Mato Grosso do Sul o
consumo da erva mate ocorre de maneira similar com o tererê, porém este gelado.
Em todo o país é possível encontrar a erva tostada, o chá-mate, consumida tanto
quente como gelado. No entanto, há diversas finalidades para esta planta na
indústria de alimentos, cosmética e farmacêutica.

Tabela 2: Uso atual e potencial da erva mate.


Aplicação industrial Subprodutos comerciais Forma de consumo
Chimarrão, tererê, chás Infusão quente ou fria
Bebidas Refrigerantes, sucos
Extrato de folhas diluído
cervejas
Corante natural, conservante
alimentar
Insumos de alimentos Clorofila e óleo essencial
Sorvetes, balas, bombons,
gomas
Estimulante do sistema Extrato de cafeína e
nervoso central teobromina
Medicamentos Compostos para tratamento
de hipertensão, bronquite e Extratos de flavonóides
pneumonia
Bactericida e antioxidante, Extrato de saponinas e óleo
Higiene geral
emulsificante, esterilizante essencial
Produtos de uso pessoal Perfumes, cosméticos Extrato de folhas e clorofila
Fonte: Paraná, 1997. Citado por Mendes, 2005.
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Tamanha diversidade de aplicações demanda que haja do lado da pesquisa


agronômica o desenvolvimento de cultivares que atendam as necessidades de cada
setor com o melhor rendimento no campo. As cultivares foram selecionadas durante
séculos por suas características gustativas para as bebidas, principalmente o
chimarrão, que apresenta uma grande diversidade de características que variam
entre as regiões produtoras, formas de cultivo, colheita e secagem. No entanto, as
pesquisas na melhoria de outras substâncias ainda são escassas (HELM et al,
2015).
A qualidade da erva-mate é caracterizada pela sua composição química
(cafeína) e características sensoriais (cor, odor, sabor, granulometria, etc). Há no
mercado uma grande variação destes parâmetros, pois existem públicos diferentes
para cada tipo de erva. A própria legislação (Resolução RDC nº 302 de 2002)
deixam uma grande margem para que haja tamanha distinção.
As características de uma erva-mate passam pela ação tanto do produtor
quanto da indústria de beneficiamento (ervateira). O produtor pode optar por compor
seu erval com cultivares e variedades que melhor lhe pareçam, principalmente
ligado a produtividade e resistência a pragas e doenças. A ervateira tratará a erva
(secagem e moagem) de acordo com o mercado que atende, conferindo ao produto
o sabor característico da sua marca, fazendo blends com lotes de diferentes
produtores (MACCARI JUNIOR, 2005).
Uma vez que o processamento da erva-mate não demanda grandes
investimentos em equipamentos, há vários produtores que dominam a cadeia de
ponta a ponta, criando um produto distinto da escala industrial. Estas pequenas
produções familiares trabalham muitas vezes com variedades selecionadas de
plantas nativas por eles mesmos, processadas na propriedade de forma artesanal. O
aumento da valorização dos produtos artesanais, como ocorre com o queijo em
diversas regiões do país, fez com que no setor ervateiro surgisse também diversas
marcas com indicação geográfica (PRADO, 2021).
Nos demais segmentos da indústria da erva-mate, participam as ervateiras de
maior porte, fornecendo a erva processada a granel para outros processos
industriais, no Brasil e no exterior. Empresas especializadas extraem o extrato (seco
ou aquoso), que é comercializado para as indústrias. Encontra-se no mercado
cremes de pele produzidos na França, cápsulas de teobromina e cafeína nos
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Estados Unidos. A Red Bull, maior fabricante de energéticos do mundo, produz na


Alemanha uma bebida de erva-mate orgânica.

Figura 1: produtos a base de erva mate produzidos em outros países.

FONTE: Internet, 2022

Nota-se que, enquanto produto, a erva-mate tem ainda um longo caminho a


ser percorrido pela indústria, pela ciência e pelos produtores. Novos caminhos
podem ser abertos, bem como pode-se melhorar os existentes de modo que este
produto da flora brasileira ganhe cada vez mais destaque, sustentando as famílias
no campo e mostrando ao mundo que temos em nosso país a possibilidade de fazer
uma agricultura ambientalmente responsável e economicamente viável.

3. Negociação

Há produtores que conseguem verticalizar sua produção, controlando desde o


cultivo à comercialização. Para estes, a formação de preços está balizada pelo
preço de mercado ao consumidor final, podendo agregar mais valor quando se
consegue embutir no produto algum diferencial, como certificado de identificação
geográfica, selo de orgânico, blends especiais, etc. O número de produtores que se
enquadram neste perfil é bastante alto. Chechi e Schultz (2017) apresentam que
36% das ervateiras nos três estados da região sul possuem em média 10
trabalhadores, na sua maioria com grau de parentesco. Nestes casos, a circulação
do produto é local. Nos municípios produtores de erva mate, é comum encontrar
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uma grande diversidade de marcas nos supermercados, em razão desta grande


disseminação de pequenas ervateiras.
Muitas destas ervateiras que iniciaram da atividade de produção familiar
cresceram, passando a adquirir erva-mate de outros produtores para suprir sua
demanda. A própria Mate Leão, que até 2007 foi a maior companhia de mate do
Brasil, agora de posse da Coca-Cola, iniciou suas atividades com ervais próprios da
família Leão na região de Ponta Grossa. Quando seu mercado cresceu, a alternativa
foi contar com outros produtores para o fornecimento de matéria prima. Hoje, a
companhia não possui ervais próprios.
Desta evolução das ervateiras, surgiram negociações entre a indústria e os
produtores. Como relatado no capítulo anterior, não há uma padronização de
qualidade tão rigorosa do produto final e isto se reflete também na forma como
ocorrem as negociações. Elas ocorrem de forma desorganizada, isolada e com
contratos informais (ROCHA JUNIOR, 2001).
Ainda segundo Rocha Junior, são dois os possíveis atores que negociam com
os produtores:
1. atravessador-transportador: compra a erva-mate na propriedade e a revende
a indústria ervateira;
2. Ervateira: a indústria de beneficiamento negocia diretamente com o produtor
e se encarrega da logística de transporte.
Nos dois casos, os contratos podem ser de quatro formas:
1. Venda anual da erva no próprio pé: o atravessador ou ervateira se
encarregam da colheita e pagam o produtor pela quantidade produto colhido.
Este é levado à indústria ainda com as folhas presas aos galhos.
2. Venda das folhas cuja poda e sapeco são de responsabilidade do produtor: o
atravessador ou ervateira retiram o produto na propriedade já colhida e
sapecada (passada na chama para reduzir a volatilização dos compostos
aromáticos), mas com as folhas ainda aderidas aos galhos;
3. Venda da erva-mate cancheada: o produtor faz a colheita, sapeco,
separação, secagem e trituração das folhas e o atravessador ou ervateira
compra o material apenas para finalizar a moagem e padronizar o produto;
4. Arrendamento do erval: Nos casos onde a família já não consegue cuidar do
erval, este é arrendado à indústria ervateira ou a outro produtor que queira
investir neste setor.
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Após a colheita, a erva-mate precisa ser rapidamente submetida ao processo


de secagem para que não sofra oxidação e cause alterações no sabor. Por isso, os
processos de compra e venda são realizados localmente, a curtas distâncias entre o
produtor e a ervateira, a exemplo do que ocorre com a cana de açúcar. Mas ao
contrário da cana, a comercialização da erva-mate processada ocorre
majoritariamente na região onde foi colhida, e não há um acompanhamento tão
estrito do mercado nacional como faz o consecana.
É a demanda local que influencia principalmente nos preços em cada praça,
podendo haver alguma variação impulsionada também pela qualidade da erva em
função do sistema de produção adotada na região, como mostra a tabela 3. A falta
de organização do setor dificulta seu próprio desenvolvimento, no sentido de
buscarem novos mercados, demandarem do setor publico políticas, encomendar
pesquisas de desenvolvimento, etc, como ocorre na Argentina com o setor ervateiro
e no Brasil em outros setores do agronegócio (SCHIRIGATTI et al, 2018.)

Tabela 3: preços pagos ao produtor (R$/kg) em diferentes praças do país em março/2022.


Paraná
Praça Preço pago ao produtor
Cascavel 1,29
Guarapuava 1,63
Pato Branco 1,43
Santa Catarina
Praça Preço pago ao produtor
Canoinhas 1,15
Chapecó 1,09
Rio Grande do Sul
Praça Preço pago ao produtor
Missões 1,36
Região dos vales 1,29
Alto Uruguai 1,42
Fonte: secretaria de agricultura dos estados do PR e RS. compilado pelo autor.

As exportações não possuem um peso tão grande na formação de preços,


pois o volume exportado é pequeno. De uma produção de 880 mil toneladas em
2019, o Brasil exportou somente 36 mil toneladas, sendo o Uruguai o principal
destino, com 85% das exportações. O Rio Grande do Sul é o maior estado
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exportador, respondendo por 80% do total. Neste estado, as exportações


apresentam um fator importante na formação de preços (PARANÁ, 2020).

4. Processo de comercialização

Uma vez entregue na ervateira, a erva-mate segue para o processo de


padronização, de acordo com o produto desejado. Este material chega na indústria
pré-beneficiado (cancheado) ou somente sapecado (processo realizado
imediatamente após a colheita), A padronização consiste em moer as folhas e talos
e fraciona-los de acordo com o produto e as exigências do mercado. Para o
chimarrão, existe uma portaria (234/98 op. Cit. SANTOS, 2002) que define a
padronização da erva-mate para o mercado nacional, quanto a porcentagem de
folhas e outras partes do ramo:
- Padrão Nacional 1 (PN-1), quando no processamento a erva-mate é passada na
peneira de malha de 10mm, resultando no mínimo em 70% de folhas e no
máximo em 30% de outras partes do ramo.
- Padrão Nacional 2 (PN-2), quando no processamento a erva-mate é passada na
peneira de malha de 10mm, resultando no mínimo em 60% de folhas e no
máximo em 40% de outras partes do ramo.
- Padrão Nacional 3 (PN-3), quando no processamento a erva-mate é passada na
peneira de malha de 10mm, resultando no mínimo em 50% de folhas e no
máximo em 50% de outras partes do ramo.
A erva-mate tem como destino principal o mercado de chimarrão, tanto no
Brasil como nas exportações destinadas principalmente para a Argentina e Uruguai.
Países de Europa e América do Norte também são destinos, porém com volumes
muito menores, como mostra a tabela 4:

Tabela 4: exportações de erva-mate beneficiada em 2019 (chá, chimarrão e tererê).

Destino Quantidade (ton) Valor (milhões de dólares)


Uruguai 30.683 67,5
Estados Unidos 758 2,59
Alemanha 692 2,28
Fonte: consulta do autor ao site Comexstat, 2022.
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Em alguns polos produtores, como São Mateus do Sul, no Paraná, tem


ocorrido uma diferenciação do produto de modo a gerar valores agregados ao
produto. A região foi a primeira do Brasil a receber o selo de Identificação
Geográfica, por possuir um grande número de produtores que mantém seus ervais
sob a mata nativa. Esta particularidade tem gerado um maior valor de mercado
frente aos consumidores europeus e norte-americanos, que pagam mais pelo
produto. Enquanto o valor FOB para o Uruguai é de US$ 2,20/kg, o valor FOB para a
Alemanha é US$ 3,30/kg, ambos colocados em Paranaguá. Considerando uma
cotação do dólar de R$ 4,09 (20/12/2019), o valor FOB em reais foi de R$ 9,00/kg
para Uruguai e 13,49/kg para a Alemanha.
O preço médio pago aos produtores em 2019 foi R$ 1,22/kg da erva posta na
indústria. Tem-se então que os custos de colheita, beneficiamento e transporte até o
porto são da ordem de R$ 7,78/kg para a erva destinada ao mercado uruguaio. O
maior valor pago pelo mercado alemão corresponde a melhor qualidade da erva,
que é cultivada sob sombreamento e seu cultivo é realizado principalmente no
Paraná (PARANÁ, 2020).
Estes benefícios de mercado e diferenciação do produto atingem
principalmente as ervateiras com campos de cultivo próprio, pois é grande a
dificuldade de articular outros fornecedores para manter a qualidade necessária para
um mercado mais exigente.
No entanto, estas oportunidades tem aumentado o interesse dos produtores
que não detém o processamento para também participarem destes benefícios,
melhorando seus cultivos de modo a atenderem as exigências de ervateiras.
Outra diferenciação que tem ocorrido na região é pela demanda de extrato de
erva-mate para exportação. Para este segmento, a erva-mate deve ter
características bem definidas de polifenóis, levando a cultivos especializados para
esta finalidade. Algumas ervateiras do Paraná já tem agregado processamentos
deste tipo, buscando agregar mais valor no mercado internacional (CERTI, 2012) .

5. Conclusão

A erva-mate tem se mostrado uma boa opção de produção para os pequenos


produtores do Paraná. A baixa demanda de máquinas e implementos faz com que a
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atividade e torne mais acessível para aqueles que desejem migrar para esta
atividade. Do lado da pesquisa agropecuária, os avanços de novas cultivares e
sistemas de produção tem feito crescer a eficiência e produtividade no campo.
Do lado da comercialização, uma melhor organização do setor poderia
favorecer a abertura de mercados e estimular a melhoria da qualidade e
padronização do processo de produção e beneficiamento. A demanda crescente da
erva cancheada ou extrato tem aumentado tanto no mercado interno quanto no
mercado externo, o que pode abrir novas frentes para a cadeia ervateira.
A análise de tendência mostra uma leve queda no período de 2012-2021 dos
preços pagos ao produtor no Paraná. Como a exportação do estado é pequena, a
tendência se refere sobremaneira a dinâmica do mercado interno. Porém, se a
demanda por erva-mate do mercado externo seguir em crescimento, e o Paraná
corresponder a expectativa, tal tendência pode ser alterada.

Figura 2: média anual de preços pagos ao produtor

Novos sistemas de poda do erval tem permitido equalizar a colheita ao longo


do ano sem prejuízos à planta. No entanto, persiste ainda a tendência de colheita
concentrada entre os meses de maio a agosto. Mesmo com uma oferta menor nos
outros períodos do ano, nota-se que a variação de preços não é tão acentuada ao
longo do ano, apenas 5% entre o maior e o menor valor.
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Figura 3: índices sazonais

Tabela 5: Índices sazonais mensais

Médias dos
Mês Índices Índices Sazonais
Estacionais

jan 99,67 100,16


fev 98,73 99,21
mar 98,64 99,13
abr 98,71 99,19
mai 99,17 99,66
jun 99,08 99,56
jul 98,13 98,61
ago 98,43 98,92
set 98,69 99,18
out 99,61 100,10
nov 102,44 102,95
dez 102,82 103,33
Média 99,51 100,00

O setor ervateiro tem muito potencial para expandir em quantidade e


qualidade, beneficiando milhares de famílias do campo. Experiências pontuais de
produtores individuais, bem como da formação de associações têm demonstrado
que a atividade é viável, sustentável e rentável, contribuindo com a economia do
estado. A capacidade de expansão destas experiências de sucesso depende da
ação de vários atores: produtores, pesquisadores e o poder público.
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REFERÊNCIAS

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Ciência Florestal [online]. 2018, v. 28, n. 4 [Acessado 3 Abril 2022] , pp. 1807-1822.
Disponível em: <https://doi.org/10.5902/1980509835360>.

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