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Eduardo Feniman
CURITIBA
2022
Eduardo Feniman
CURITIBA
2022
RESUMO
O último relatório do IPCC aponta a agricultura urbana como uma ferramenta factível para a mitigação das
emissões de gases do efeito estufa (GEE), por, entre outras razões, promover a reciclagem dos resíduos
orgânicos. O objetivo deste trabalho foi verificar a potencialidade da agricultura urbana em contribuir para a
mitigação das emissões de GEE geradas na gestão de resíduos sólidos, a partir de um estudo de caso onde os
resíduos orgânicos originados em um comércio de hortifrutigranjeiros é absorvido em uma iniciativa de
agricultura, transformando-os em fertilizante orgânico pelo processo de compostagem. A partir de um cenário
hipotético onde os mesmos resíduos seriam depositados no aterro sanitário, fez-se a mensuração das emissões no
transporte e deposição dos resíduos nos dois cenários. Verificou-se o potencial de redução de 77,8% nas
emissões de gases do efeito estufa, calculadas em CO2 equivalente, quando os resíduos são utilizados na
agricultura urbana.
ABSTRACT
The latest IPCC report points to urban agriculture as a feasible tool for the mitigation of greenhouse gas
emissions (GHG) because, among other reasons, it promotes the recycling of organic waste. The objective of this
work was to evaluate the potential of urban agriculture to contribute to the mitigation of GHG emissions
generated in solid waste management, based on a case study where organic waste from a fruit and vegetable
shop is absorbed by an agricultural initiative, transforming it into organic fertilizer through the composting
process. Utilizing a hypothetical scenario where the same waste would be disposed of in the landfill, the
emissions in the transport and disposal of waste in the two scenarios were measured. A 77.8 % reduction in
greenhouse gas emissions, calculated in CO2 equivalent, was found when the waste is used in urban agriculture.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ................................................................. 6
3 METODOLOGIA ....................................................................................................................... 7
3.1 MENSURAÇÃO DOS RESÍDUOS E CARACTERÍSTICAS DAS LEIRAS DE COMPOSTAGEM8
3.2 EMISSÕES DE CO2 NO TRANSPORTE DOS RESÍDUOS ................................................................ 8
3.2.1 Consumo de combustível no Cenário Casa da Videira. .......................................................................... 8
3.2.2 Consumo de combustível no Cenário Aterro Sanitário. ......................................................................... 8
3.2.3 Conversão do consumo de combustível em fator de emissão de CO2 .............................................. 9
3.2.4 Quantidade de CO2 emitida durante o transporte .................................................................................... 9
3.3 EMISSÕES DE CO2 EQUIVALENTE NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS CENÁRIO CASA DA
VIDEIRA ............................................................................................................................................... 10
3.4 EMISSÕES DE CO2 EQUIVALENTE NO TRATAMENTO DOS RESÍDUOS CENÁRIO ATERRO
SANITÁRIO .......................................................................................................................................... 11
3.5 COMPARAÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 EQUIVALENTE NOS DOIS CENÁRIOS
ESTUDADOS ........................................................................................................................................ 12
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 18
4
1 INTRODUÇÃO
A agricultura urbana impacta, pelo menos, de duas formas na redução das emissões
de gases na produção de alimentos. A primeira diz respeito com ao sequestro de carbono, por
meio de técnicas de cultivo que aumentem o teores de matéria orgânica no solo, bem como
cultivo de espécies arbóreas que mantém em sua biomassa grandes quantidades deste
elemento (HAQUE, SANTOS e CHIANG, 2021). A segunda versa sobre a capacidade de
mitigar as emissões urbanas, especialmente com respeito à gestão dos resíduos orgânicos
(MENYUKA et al, 2020, WEIDER e YANG, 2020). Segundo o IPCC (2022), o desperdício
de alimentos e o tratamento de resíduos orgânicos foram responsáveis por 8 a 10 % do total
de emissões globais de gases do efeito estufa, entre 2010 e 2016.
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010) determina que os resíduos
sólidos, dentre eles os orgânicos, devam ser destinados ao aterro sanitário, uma obra de
engenharia capaz de conter os resíduos e gerenciar os efluentes e gases emitidos. No entanto,
cerca de 30% dos gases gerados escapam para a atmosfera sem passar por um tratamento
adequado (MOREIRA et al., 2020). O gás produzido em maior volume nestes aterros é o
metano (55%), que embora tenha uma vida útil curta na atmosfera (12 anos) em relação ao
gás carbônico (200 anos), possui cerca de 28 vezes mais capacidade de retenção de calor que
o gás carbônico (CANDIANI e VIANA, 2017).
O principal gerador de metano em um aterro sanitário são os resíduos sólidos
orgânicos provenientes dos restos de alimentos e podas da vegetação urbana (PAIVA, 2020).
Tais materiais, que no aterro sanitário se transformam em poluentes, poderiam ser reciclados,
transformando-se em nutrientes para o solo das hortas urbanas (LUIZ e SUSKI, 2021).
Na realidade, esta utilização dos resíduos orgânicos como fonte de nutrientes já vem
ocorrendo, ainda que numa escala muito pequena. Feniman (2014) verificou que entre os
agricultores urbanos do município de Curitiba, Paraná, o uso dos resíduos orgânicos gerados
no domicílio como fonte de nutrientes para o solo é uma prática comum, realizado por 77%
dos entrevistados.
Neste contexto, a agricultura urbana pode atuar como uma grande rede de pequenas
“refinarias biológicas”, captando resíduos orgânicos produzidos no entorno para o tratamento
via compostagem e posterior aplicação na fertilização do solo. Além da contribuição na
redução dos GEE no processamento dos resíduos, a produção de alimentos na agricultura
urbana reduz a necessidade de transporte, processamento e estocagem. Segundo a FAO
(2021), do total de emissões dos processos agroindustriais, a cadeia de distribuição responde
por 32%, desde o abastecimento das propriedades com insumos até o transporte dos alimentos
aos centros consumidores.
6
da sazonalidade. Por este motivo, a diferença na composição dos resíduos coletados pouco se
altera ao longo do ano.
Os resíduos da limpeza pública são compostos por folhas da varredura e corte de
grama das vias públicas do entorno da Casa da Videira, que são coletados com um carro
quinzenalmente a uma distância máxima de um quilômetro.
Para compreender o impacto das emissões de gases do efeito estufa geradas na
operação relatada acima, estudou-se um cenário hipotético, em que o resíduo fosse coletado
por um serviço de transporte e levado ao aterro sanitário, destino comum de grande parte dos
resíduos orgânicos produzidos na cidade. Neste caso, presumiu-se que para o transporte ao
aterro sanitário ocorrer, o caminhão deve sair da sua origem, chegar ao ponto de coleta,
descarregar no aterro e retornar a origem. Para efetuar os cálculos, considerou-se o percurso
mais curto entre a sede de uma empresa de transporte de resíduos e o comércio de
hortifrutigranjeiro, supondo que várias coletas são realizadas neste percurso e o comércio em
questão nesta pesquisa foi o último ponto, partindo dali o caminhão diretamente ao aterro
sanitário, que após a descarga retornará ao seu ponto de origem.
3 METODOLOGIA
FIGURA 1. fluxograma dos dois cenários do percurso dos resíduos orgânicos estudados e etapas
de emissão avaliadas. GEE: gases de efeito estufa.
Fonte: o autor, 2022.
8
Uma vez que cada operação emite um conjunto de gases diferentes, seguiu-se o
critério utilizado pelo IPCC (2021) para se fazer as comparações de emissões de gases do
efeito estufa de diferentes segmentos emissores, convertendo o conjunto de gases para CO2
equivalente por meio das equações que serão detalhadas a seguir.
Consumo (L) = 25,531 + 0,66941 ∗ peso (ton) + 0,62886 ∗ distância (km) (1)
Onde:
PECOMPy = Emissões associadas ao projeto de compostagem no ano y (ton CO2 eq
ano-1);
PEECy = Emissões associadas ao consumo de eletricidade no projeto de compostagem
no ano y (ton CO2 eq ano-1);
PEFCy = Emissões associadas ao consumo de combustíveis no projeto de
compostagem no ano y (ton CO2 eq ano-1);
PECH4y = Emissões de metano no processo de compostagem no ano y (ton CO2 eq
ano-1);
PEN2Oy = Emissões de óxido nitroso no processo de compostagem no ano y (ton CO2
eq ano-1);
PEROy = Emissões de metano pelo escoamento de efluentes sanitários no ano y (ton
CO2 eq ano-1).
Onde:
𝑃𝐸CH4, y = emissões do projeto de compostagem no ano y, (ton CO2 eq ano-1);
Para mensurar as emissões que seriam geradas no cenário Aterro Sanitário, foi
utilizada a metodologia desenvolvida pela UNFCCC, CDM Tool AM04 version 08.0:
Emissions From Solid Waste Disposal Sites –, que apresenta a equação 6.
16
BECH4SWDS! = φ ∗ 1 − ! ∗ GWPCH4 ∗ 1 − OX ∗ ∗ F ∗ DOC! ∗ MCF
12
! !
Onde:
BECH4,SWDS,y = Emissões de metano durante o ano y com a destinação de
resíduos orgânicos para aterros sanitários durante o período a partir do início da atividade do
projeto de compostagem até o fim do ano y (ton CO2 eq ano-1);
φ = Valor padrão para o fator de correção para contabilizar incertezas do modelo;
f = Fração de metano capturada no aterro sanitário e queimada em flare, incinerada
ou usada de outra maneira;
GWPCH4 = Potencial de Aquecimento Global do CH4;
OX = Fator de oxidação, o qual reflete a quantidade de metano do aterro que é
oxidado no solo ou em outro material que cobre o resíduo;
F = Fração de metano no gás de aterro (fração em volume);
DOCf = Fração de carbono orgânico degradável (DOC) que pode decompor;
MCF = Fator de correção do metano;
DOCj = Fração de carbono orgânico degradável (por massa) no lixo tipo j;
12
Onde:
RE = reduções de emissões de CH4 (tCO2 eq/ano);
BECH4,SWDS,y = Emissões durante o ano y com a destinação de resíduos orgânicos
para aterros sanitários durante o período, a partir do início da atividade do projeto de
compostagem até o fim do ano y (tCO2eq/yr);
BEFC = Emissões durante o transporte do resíduo até o aterro sanitário (tCO2eq/yr);
PECOMPy = Emissões associadas ao projeto de compostagem no ano y (tCO2eq/yr);
A soma das emissões de CO2 equivalente durante o transporte com as da deposição
no aterro sanitário se faz necessária porque a equação 3 não considera as emissões de
combustível fóssil, como ocorre na equação 4. O valor de RE representa a quantidade de CO2
equivalente em toneladas que foi deixada de ser lançada na atmosfera ao se destinar os
resíduos coletados no comércio de hortifrutigranjeiros para o sistema de compostagem da
Casa da Videira, ao invés de depositá-los no aterro sanitário.
Federal de Santa Catarina, que tem aperfeiçoado métodos de compostagem com menores
emissões de metano, o projeto de gestão comunitária do bairro Monte Cristo, em
Florianópolis, SC (Revolução dos Baldinhos) e a compostagem descentralizada dos resíduos
de feira e podas da subprefeitura da Lapa, em São Paulo, SP. Nestes projetos, o deslocamento
entre a fonte de resíduos e o pátio de compostagem é curto, reduzindo as emissões de CO2 no
transporte.
Quadro 3. Emissões de gases de efeito estufa em CO2 equivalente nas duas operações
analisadas e nos dois cenários estudados e o percentual de redução entre cenário Casa da
Videira e Aterro Sanitário.
Casa da Videira Aterro Redução
Operação
(ton CO2 eq) (ton CO2 eq) (%)
Transporte 0,317 2,224 85,88
Compostagem ou Deposição 4,097 17,642 76,78
total 4,414 19,886 77,80
Fonte. o autor, 2022.
17
Nota-se que tanto no transporte quanto na deposição dos resíduos, o cenário Casa da
Videira se mostrou mais eficiente quanto a redução das emissões de CO2 equivalente,
emitindo 77,8% menos que no cenário Aterro Sanitário.
5 CONCLUSÃO
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