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Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
Greenhouse gases in brazilian livestock production systems and the importance of the carbon
balance for environmental preservation
ABSTRACT
Global warming is intensified by greenhouse gases emissions from human activities, resulting in climate change and
causing many environmental disorders for humanity. The livestock produces greenhouse gases such as methane (CH 4)
and nitrous oxide (N2O) mainly and the increasing in emissions is linked to increased livestock production. The
degradation of pastures had been the most important issue of livestock contributing to the greenhouse gases emissions
and leading the desertification. Mitigation actions can reduce these emissions and the carbon balance of livestock
production systems, which also considerate carbon sequestration besides the emission of greenhouse gases. Mitigating
emissions of CH4 and N2O are possible in livestock but the carbon sequestration that occurs during the recovery of
pasture is the greatest potential for mitigating greenhouse. Nevertheless, great emphasis can be found in literature
related to the aspects involving the issue of enteric methane by ruminants and its methods of mitigation. Importantly,
the adoption of technologies that promote mitigation of greenhouse gases emissions is most dependent of economic
issues than technical feasibility of the mitigation actions proposed.
Keywords: livestock, desertification, degradation, methane, nitrous oxide.
global e deve ser estudada profundamente de mais atenção do que a emissão realizada pelos
forma a diminuir seu impacto sobre o ambiente. outros setores porque, além de existir em 2011 um
A atividade pecuária produz gases de rebanho de 3,6 bilhões de ruminantes domésticos
efeito estufa na forma de metano (CH4), oriundo no mundo, com uma taxa de aumento de 25
da fermentação entérica dos ruminantes, óxido milhões de ruminantes domésticos por ano nos
nitroso (N2O), devido ao uso de fertilizantes últimos 50 anos, ainda há projeção de crescimento
nitrogenados, e ambos os gases, a partir do da produção anual de carne de 229 milhões de
manejo de dejetos e da deposição de dejetos sobre toneladas em 2000 para 465 milhões em 2050.
as pastagens (O´Mara, 2012). Em menor Para melhor avaliar a pecuária e evitar
proporção também existe a emissão de CO2 distorções, chegando a conclusões que reflitam a
devido ao uso de combustíveis fósseis e de realidade e tragam desenvolvimento ao setor,
energia (O´Mara, 2012). torna-se necessário observar a dinâmica de GEE
Globalmente, a tendência é de aumento da nos sistemas de produção pecuários, levando-se
produção da pecuária, como consequência do em consideração todos os compartimentos dos
aumento da demanda por alimentos, e das sistemas produtivos (solo-planta-animal e
emissões de GEE associadas a esta atividade para atmosfera), e não somente as questões de emissão
os próximos quarenta anos, caso não seja de GEE, uma vez que os componentes desses
realizada nenhuma ação de mitigação (O´Mara, sistemas podem atuar como dreno dos GEE, sendo
2012). No Brasil não é diferente. Estudos o sequestro de carbono, realizado pelas pastagens
realizados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e pelas culturas eventualmente integradas nos
e Abastecimento apontam que em 2018-2019 as sistemas de produção, o aspecto mais importante
exportações de carnes pelo Brasil poderão para mitigação das emissões de GEE nos sistemas
representar 60,6%, 89,7% e 21% do comércio de produção animal. Entretanto, para que essa
mundial de carnes bovina, de frango e suína, condição seja alcançada, há necessidade de
respectivamente. Assim, as perspectivas são de adoção de práticas adequadas às áreas cultivadas,
que as produções dessas três commodities pois dependendo do manejo essas áreas podem se
reunidas passarão das atuais 24,6 milhões para tornar tanto fonte como dreno de GEE para a
37,2 milhões de toneladas em 2018 (MAPA, atmosfera (Ferreira et al., 2014).
2008). Uma das principais preocupações com Existe uma forte relação entre a emissão
relação a esse grande crescimento está relacionada de GEE do solo e vegetação para a atmosfera,
aos possíveis impactos ambientais, o que especialmente o CO2, e o processo de degradação
certamente colocará em evidência o tratamento das pastagens, que pode culminar em aumento da
dispensado pelo nosso país em relação às questões área de deserto mesmo em clima com menor
ambientais. déficit hídrico (Lal, 2001). O manejo inadequado
No Brasil, em 2008 o CEPEA publicou o das pastagens contribui para a emissão de GEE,
estudo “Pecuária de corte brasileira: impactos especialmente pela exaustão da matéria orgânica
ambientais e emissões de gases efeito estufa do solo durante o processo de degradação (Lal,
(GEE)” elaborado por Zen et al. (2008), no qual 2001). No Brasil, o deserto do Alemão no
são apontados os principais problemas ambientais município de Santa Rita do Passa Quatro, estado
da pecuária relatados por pesquisadores: a de São Paulo, é um exemplo da formação de um
degradação dos sistemas ambientais, a degradação deserto em local onde o déficit hídrico ocorre
do solo, a emissão de GEE e a poluição de somente em alguns meses do ano. Tal fato ocorreu
recursos hídricos. em consequência do manejo inadequado do solo
No exterior, o tema também é discutido e (http://www.santaritadopassaquatro.tur.br/deserto-
um dos artigos mais debatidos foi “LIVESTOCK'S do-alemao/).
LONG SHADOW: environmental issues and Felizmente esse processo pode ser
options”, (A extensa sombra da pecuária: questões revertido, pois várias formas de recuperação de
ambientais e opções), publicado pela FAO em pastagens têm a capacidade de aumentar o teor de
2006. Esse trabalho permanece formando opinião, matéria orgânica do solo, trazendo vários
como pode ser visto no artigo “Ruminants, climate benéficos para o ecossistema da pastagem e
change and climate policy” (Ruminantes, prevenindo a degradação e desertificação das
mudanças e políticas climáticas), recentemente mesmas. A FAO, em 2009, enfatizou e
publicado por Ripple et al. (2014), em que são reconheceu esse fato quando veiculou o artigo
realizadas as estimativas das emissões futuras de “Grasslands: Enabling their potential to
GEE frente ao crescimento do rebanho mundial. contribute to greenhouse gas mitigation”
Ripple et al. (2014) afirmam que a (Pastagens: aprovando seu potencial para
emissão de GEE por ruminantes deveria receber contribuir com a mitigação dos gases de efeito
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estufa) em que os pesquisadores sugerem que as ao manejo inadequado das plantas forrageiras, têm
pastagens manejadas adequadamente, tanto em levado à degradação de milhões de hectares de
relação à manutenção e/ou melhoria da fertilidade pastagens (Oliveira, 2007). Na década de 90,
do solo quanto ao manejo correto da planta Zimmer et al. (1994) já chamavam a atenção para
forrageira, seriam capazes de sequestrar grandes o fato de que 30 milhões de hectares de pastagens
quantidades de carbono, realizando a mitigação a de capim-brachiaria no Brasil estavam degradados
custos relativamente baixos e inclusive superando e necessitavam de recuperação. Atualmente
as emissões de GEE dos sistemas de produção existem autores compilando informações de que
animal. Dessa forma, os sistemas de produção 80% das pastagens cultivadas estão estabelecidas
pecuários não podem ser observados somente sob em solos degradados (Barcellos e Vilela, 2001;
a ótica das emissões de GEE, mas devem ser Kluthcouski e Aidar, 2003).
observados também sob o contexto de balanço de Entretanto, a estimativa do valor correto
carbono, onde o sequestro de carbono também da área de pastagens degradadas no Brasil é
deve ser considerado. desconhecida, mas há consenso de que o valor é
O objetivo desse artigo é ressaltar a bastante alto e seu conhecimento é imprescindível
necessidade de observações holísticas e fundamental para o planejamento da agricultura
relacionadas à dinâmica de GEE na pecuária, brasileira, pois a recuperação e intensificação
apontando a importância de se melhorar o balanço dessas áreas de pastagens, bem como a adoção de
de carbono desses sistemas de produção, sistemas integrados como a lavoura-pecuária, os
tornando-os mais sustentáveis e evitando sistemas silvipastoris e os sistemas
desordens ambientais, como a degradação das agrossilvipastoris, permitem aumentar a
pastagens e a desertificação de áreas de produção. capacidade de suporte animal e evitam a
necessidade de abertura novas áreas destinadas à
Desenvolvimento exploração com pastagens (Oliveira, 2007). Esse
A ineficiência zootécnica e a problemática fato pode evitar a pressão de desmatamento sobre
ambiental da degradação das pastagens a floresta, permitir a diversificação das
No Brasil, Primavesi (2007) ressalta que, propriedades pecuárias, disponibilizar áreas para
dentre os desequilíbrios ambientais da atualidade agricultura e agroenergia, colocar produtos
relacionados às mudanças climáticas, a pecuários mais próximos dos centros
degradação das áreas agricultáveis é um dos consumidores, além de melhorar a imagem
pontos mais importantes, porque provoca a nacional e internacional da pecuária brasileira,
compactação, reduzindo a aeração dos solos, desgastada especialmente por sua associação com
diminuindo a infiltração de água e aumentando a o desmatamento, emissão de GEE e mudanças
possibilidade de emissão de GEE, além de o solo climáticas.
descoberto favorecer o aumento da amplitude Lal (2001) enfatiza que a mudança no uso
térmica que acelera ainda mais o processo de da terra e a degradação do solo possuem uma
degradação. contribuição importante no enriquecimento da
No caso da Caatinga, um Bioma atmosfera em CO2, sendo a degradação do solo
exclusivamente brasileiro, extensa parte de sua especialmente importante para as regiões secas,
área encontra-se antropizada de forma imprópria, onde a desertificação é um sério problema.
especialmente pelo manejo inadequado dos Segundo o autor, a adoção de práticas
sistemas produtivos, com uso do fogo e inapropriadas para o uso do solo (superpastejo,
agropecuária extensiva, culminando em solos falta de conservação do solo e consequente erosão
extremamente degradados e em desertificação, e não conservação da água) e práticas sem
com o ciclo de carbono alterado e emitindo GEE preocupação com a manutenção da fertilidade do
para atmosfera (Giongo et al., 2011). A Caatinga solo causam a depleção do estoque de carbono
teve sua cobertura vegetal original e secundária orgânico do solo e acentuam o processo de
reduzida de 460.063 km² para 443.121 km², ou degradação e desertificação. Oliveira (2007)
seja, o bioma sofreu uma perda aproximada de 2% também enfatiza a correção e manutenção da
entre 2002 e 2008 (CSR/IBAMA, 2010). Estima- fertilidade do solo e o manejo adequado das
se que a região Nordeste, que abriga a maior pastagens como forma de evitar a degradação e
extensão de área com predominância do clima como meio de promover a recuperação das
semiárido no Brasil, seja responsável pela emissão mesmas.
de 13% do CH4 e 14% do N2O emitidos pelo setor Por outro lado, Oliveira et al. (2014)
brasileiro de agropecuária (MCTI, 2014). ressaltam pontos positivos da pecuária, como o
A falta de correção do solo, de fertilização fato de o rebanho pecuário brasileiro, em especial
de manutenção e de controle da erosão, associados os ruminantes, ser basicamente alimentado em seu
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Figura 1. Emissões de gases de efeito estufa no Brasil, em CO2eq., entre os anos de 1990 e 2012. Tg =
milhões de toneladas (MCTI, 2014)
ocasiões, onde baixas doses de nitrogênio (N) são metas para 2020, para o setor “agropecuária”:
aplicadas em solos pobres em fertilidade, sequer reduções de 83 a 104 Mt de CO2eq. com
chegar a emitir N2O pelo processo de recuperação de pastagens, de 18 a 22 Mt de
desnitrificação. Avaliando dois sistemas de CO2eq. com integração lavoura-pecuária, de 16 a
produção, um baseado em pastagem extensiva 20 Mt de CO2eq. com plantio direto e de 16 a 20
sem nenhum tipo de adubação ou correção do solo Mt de CO2eq. com fixação biológica de N
(sistema extensivo) e outro em pastagens irrigadas (BRASIL, 2010).
e adubadas com 456 kg/ha de N por ano (20-05- Desta forma, os esforços para as
20 + 5% S), parcelado em 12 aplicações, sendo mensurações das emissões de GEE e do sequestro
seis da época das águas (36 kg de N/ha em cada de carbono na agropecuária revestem-se de muita
aplicação) e seis da época da seca (33 kg/ha por importância, porque, além da importância para
aplicação) (sistema intensivo), Oliveira et al. orientar a melhoria da eficiência da pecuária, esse
(2013) observaram que o sistema extensivo valores serão a base para a comprovação do
apresentou durante a primavera menor emissão de alcance das metas propostas.
N2O do que o sistema intensivo. A magnitude das
emissões foi muito baixa, representando, na A importância da mitigação dos gases de efeito
pastagem intensiva, somente 0,01% da quantidade estufa e da preservação ambiental.
de N aplicada naquele ciclo de pastejo, valor O manejo adequado dos solos degradados,
muito abaixo do fator de emissão [Fator de especialmente nos processos de reforma ou
emissão = (N-N2O emitido com aplicação de recuperação de pastagens, por um lado promove,
fertilizante nitrogenado - N-N2O emitido sem em curto prazo, aumento nas emissões de GEE
aplicação de fertilizante nitrogenado) *100 / tanto em função do revolvimento do solo quanto
quantidade de N aplicada] proposto pelo IPCC. devido à aplicação de fertilizantes nitrogenados.
Tal fenômeno pode ser atribuído às condições Por outro lado, em longo prazo, essas práticas
desfavoráveis à desnitrificação encontradas nos aumentam a quantidade de C armazenada no solo.
solos tropicais brasileiros, como baixa Dessa forma para a avaliação da dinâmica de GEE
disponibilidade de N, solos estruturados e bem nesses sistemas de produção, torna-se necessário
drenados, com boa porosidade e aeração (Oliveira considerar o balanço de C, que é a contabilidade
et al., 2014). entre as entradas (acúmulo de C) e saídas de GEE
Morais et al. (2013) avaliaram a emissão (N2O e CH4) dos sistemas de produção em um
de N2O durante 618 dias em uma área de capim determinado período de tempo, expresso em
elefante e encontraram perdas de apenas 726 g/ha equivalente CO2. Se o balanço de C for positivo,
de N-N2O durante o plantio convencional do subentende-se que o sistema é benéfico ao meio
capim. Nesse período, depois dos ciclos de ambiente, pois está havendo maior retenção do
colheita, as emissões de N2O foram de 173, 410 e que emissão de GEE; se o balanço for negativo,
705 g/ha de N-N2O para cada ciclo de há maior emissão do que a retenção dos GEE nos
crescimento, respectivamente, equivalente a um sistemas de produção, o que não é desejável.
fator de emissão de 0,51% com um intervalo de O controle da desertificação e a
confiança de 0,35–0,73%, quase metade do fator recuperação dos solos e ecossistemas poderiam
de emissão proposto pelo IPCC (1% da dose de N melhorar a qualidade do solo e o teor de matéria
aplicada). orgânica e, consequentemente, aumentar a
Sordi et al. (2014) avaliaram os fatores de quantidade de carbono armazenada no solo e na
emissão de fezes e urina de bovinos em pastagens biomassa, além de promover a redução da emissão
na região subtropical do Brasil e encontraram de C para a atmosfera (Lal, 2001).
valores de 0,15% para fezes e 0,26% para urina, O controle da desertificação e a
bem abaixo do fator de emissão de 2% proposto recuperação dos solos são obtidos pelo
pelo IPCC para deposição de excretas sobre o estabelecimento de cobertura vegetal com
solo. Lessa et al. (2014), também chegaram à espécies apropriadas, melhor eficiência de uso da
conclusão de que é preciso rever os fatores de água, usando a irrigação suplementar, inclusive de
emissão de N2O para as pastagens do Cerrado águas de reuso; desenvolvimento de uma
brasileiro. estratégia de manejo integrado de nutrientes que
Em 2009, na Conferência das Partes sobre enriqueçam o solo e adoção de sistemas de
mudança do clima (COP-15), que ocorreu em produção com controle da erosão e da salinização.
Copenhague, na Dinamarca, o Brasil se destacou Apesar dos custos com carbono advindos do uso
com avançadas propostas voluntárias de “Ações de insumos, como combustíveis fósseis e
de Mitigação Nacionalmente Adequadas” fertilizantes, a adoção dessas práticas é importante
(NAMAs, da sigla em inglês), com as seguintes para promover o sequestro de C no sistema. Com
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a adoção de boas práticas nos sistemas de envelhecidas e rejeitadas, além do resíduo de pós-
produção, o potencial total de sequestro de pastejo e dos dejetos depositados pelos animais na
carbono em terras sob clima árido é de 0,9 a 1,9 superfície do solo (Oliveira et al., 2014). Outro
Pg C/ano por 25 a 50 anos, antes que a taxa de fator importante que contribui para o aumento da
sequestro de C fique inexpressiva (Lal, 2001). matéria orgânica no solo sob pastagem é a
Além disso, o sequestro de C nos solos e incorporação de matéria orgânica oriunda do
ecossistemas tem inúmeros benefícios auxiliares, sistema radicular, uma vez que após o corte da
como o aumento de produtividade e a segurança planta verifica-se a morte de até 50% do sistema
alimentar, sendo necessário o estabelecimento de radicular (Moraes, 1991; Cecato et al., 2001).
políticas públicas para facilitar a adoção de Um exemplo da interferência positiva do
práticas recomendadas e para a precificação do melhor manejo e da correção e fertilização do solo
carbono sequestrado (Lal, 2001). em pastagens foi observado por Segnini et al.
O potencial de mitigação das emissões de (2013), que avaliaram o sequestro de carbono em
GEE em escala global para agricultura foi quatro sistemas de produção de bovinos de corte
avaliado no quarto relatório divulgado pelo IPCC mantidos a pasto: pastagem sob manejo intensivo
(Smith et al., 2007, citado por O'Mara, 2011), que irrigado com alta lotação (adubação nitrogenada
mostrou um potencial técnico de mitigação da com 600 kg/ha de N), pastagem sob manejo
ordem de 5.500 a 6.000 milhões de toneladas intensivo de sequeiro com alta lotação (adubação
CO2eq./ano até 2030, comparado a uma emissão nitrogenada com 400 kg/ha de N), pastagem sob
projetada para o mesmo ano de 8.200 milhões de manejo intensivo de sequeiro com lotação animal
toneladas CO2eq./ano. A maior parte desse valor moderada (adubação nitrogenada com 200 kg/ha
(89%) está relacionada ao sequestro de C do solo. de N) e pastagem degradada, comparados com a
O potencial técnico de mitigação para o CH4, Floresta Estacional Semidecidual no Bioma Mata
proveniente da fermentação entérica, manejo de Atlântica. O manejo adotado nos sistemas de
dejetos e manejo das culturas de arroz, foi produção afetou o estoque de C no solo nas
somente de 9% do total, ou aproximadamente 500 camadas de 0 a 30 cm e de 0 a 100 cm de
milhões de toneladas de CO2-eq./ano. Menos da profundidade. Os maiores estoques de C foram
metade disso foi relativo à fermentação entérica. observados para os sistemas sob manejo intensivo
Os solos da região Semiárida brasileira de sequeiro com alta e moderada lotação animal e
têm sido submetidos a intenso processo de o mais baixo estoque para a pastagem degradada
degradação e desertificação, devido à atividade em ambas as profundidades. Os estoques de
agropastoril extensiva, calcada em sistemas de carbono (0 a 100 cm) variaram de 99,2 Mg/ha de
manejo convencionais, associada à mudança de C na pastagem degradada a 142,4 Mg/ha de C na
uso da terra (substituição da vegetação nativa por pastagem de sequeiro com média lotação animal,
culturas), principalmente por meio de queimadas e enquanto que na Floresta Estacional Semidecidual
da retirada de madeira. Isto tem reduzido os o valor foi de 115,5 Mg/ha. Nos sistemas de
estoques de carbono no solo e aumentado a sequeiro de alta e moderada lotação animal foram
emissão de GEE para a atmosfera (Ferreira et al., observadas taxas de acúmulo de C na camada de 0
2014). Neste sentido, estratégias como a adoção a 100 cm de 1,93 e 1,80 Mg/ha de C por ano,
de sistemas conservacionistas, baseados em menor respectivamente, mostrando um favorável
ou nenhum revolvimento do solo, no aumento do acúmulo de carbono nos sistemas mais
aporte de resíduos vegetais e na rotação de intensificados.
culturas, além da implantação de pastagens e A simulação de um balanço entre as
florestamento com espécies nativas, podem emissões e as remoções de GEE num processo de
recuperar os estoques de C e mitigar as emissões recuperação direta de pastagem é apresentada na
de GEE nesse bioma (Ferreira et al., 2014). Tabela 1. É possível observar que o balanço é
Em pastagens sob manejo intensivo, positivo, com um saldo de 7,68 Mg/ha de CO2eq.
observa-se ao longo dos anos aumento no teor de sequestrado anualmente, garantindo o abatimento
matéria orgânica e consequentemente da das emissões dos animais, importante para a
capacidade de troca de cátions do solo; assim, sustentabilidade da atividade pecuária (Oliveira et
ocorrem por vezes teores maiores de matéria al., 2014). Além das emissões provenientes dos
orgânica nas áreas de pastagem sob manejo animais e do uso de fertilizantes, outras emissões
intensivo do que na área de mata não antropizada também deveriam ser consideradas, como o
localizada na mesma gleba (Oliveira et al., 2014). trânsito de máquinas e equipamentos agrícolas, o
Isso acontece porque durante o manejo da que deve ser foco de futuros estudos (Oliveira et
pastagem há perdas de pastejo, representadas al., 2014).
pelas folhas e pelas hastes quebradas,
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Cerradão 0 129
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manejada 30 223 3,13 11,49 0,975 3 0,88 7,68
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