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Introdução
10 A banana possui grande importância econômica e social para o Amazonas, por ser a fruta
mais consumida. Situa-se em segundo lugar como produto agrícola, logo após a mandioca.
Essa fruta, que nas demais regiões do País é consumida como sobremesa, em
complemento à alimentação, no Amazonas, entre a população mais carente, é classificada
como alimento, pois está associada a vários tipos de comidas regionais.
Esse quadro é reflexo da baixa produtividade dos bananais na região - cerca de 10 t/ha,
decorrente de um conjunto de problemas fitossanitários e fitotécnicos, que, se superado,
poderia no mínimo dobrar essa produtividade.
Atualmente, as cultivares Caipira, Thap maeo, Prata Zulu, Prata Ken e Fhia 18,
Manaus, AM
resistentes à sigatoka-negra, são recomendadas pela Embrapa Amazônia Ocidental, e aos
Dezembro, 2002
poucos começam a ser cultivadas.
Luadir Gasparotto
Eng.º Agr.º, Dr.,
Rodovia AM 010,
km 29,Caixa Postal 319
Instalação de um bananal
69011-970, Manaus-AM O sucesso de qualquer atividade agrícola depende muito de um bom planejamento, da
escolha adequada da cultivar e das tecnologias utilizadas desde o plantio até a colheita da
José Clério Rezende Pereira
Eng.º Agr.º, Dr., cultura. Esses cuidados propiciam melhores condições para o aumento da produtividade e
Rodovia AM 010, da qualidade dos produtos.
km 29,Caixa Postal 319
69011-970, Manaus-AM
Características Fitotécnicas Thap maeo Caipira Prata Zulu Prata Ken Fhia 18 Fhia 01 Fhia 02 Pelipita
Grupo genômico AAB AAA AAB AAAB AAAB AAAB AAAB AAAB
Porte Alto Médio/alto Alto Alto Médio Alto Alto Alto
Ciclo (no de dias do plantio à colheita ) 394 383 401 421 327 327 327 327
Perfilhamento Bom Abundante Bom Bom Bom Bom Bom Bom
Peso médio do cacho (kg) 17 20 20 20 25 25 25 25
Número médio de pencas/cacho 11 10 9,7 7,3 9 9 9 9
Número médio de frutos/cacho 164 200 161 103 133 133 133 133
Rendimento (t/ha) 30 22 22 22 27 27 27 27
Tipo de fruto Maçã Ouro Prata Prata Prata Prata Prata Prata
Despencamento Baixo Baixo Baixo Alto Alto Alto Alto Baixo
Doenças e pragas
Sigatoka-negra R* R R R R R R R
Sigatoka-amarela R R R R MS MS R R
Mal-do-panamá R R S R S S S R
Moko S S S S S S S S
Nematóide cavernícola MR S S S MR MR MR MR
Moleque MR R S MR MR MR MR MR
coloração creme e sabor doce, com baixa acidez. É uma As maiores produções de banana estão associadas a
alternativa para o produtor. Além da resistência às precipitações de 1.900 mm/ano bem distribuídos e com
sigatokas amarela e negra e ao mal-do-panamá, pode ausência de estação seca. Em solos profundos e com boa
atingir produtividade até 50% superior à da cultivar Prata. capacidade de retenção de umidade, o suprimento de
Quando cultivada sob irrigação e condições nutricionais água de 100 mm/mês é suficiente, entretanto, para solos
adequadas, pode atingir 50 t/ha. com menor capacidade de retenção, o suprimento ideal é
de 180 mm/mês.
Fhia 01 - Introduzida de Honduras. Os frutos são
semelhantes, em sabor e aspecto, aos da Fhia 18. Preparo do solo
Apresenta porte alto, ciclo vegetativo de 353 dias, O preparo do solo objetiva melhorar as condições físicas
perfilhamento bom, cacho com peso de 24 kg com cerca do solo a fim de facilitar a infiltração de água, aeração e
de 10 pencas. É resistente à sigatoka-negra e à sigatoka- uso mais eficiente de corretivos e fertilizantes,
amarela, mas suscetível ao moko. favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular e,
portanto, maior absorção de nutrientes.
Fhia 02 - Introduzida de Honduras. Produz frutos
semelhantes, em aspecto e sabor, aos frutos do subgrupo No Amazonas, o preparo do solo, em geral, é manual e
Cavendish. Apresenta porte alto, ciclo vegetativo de 320 inicia com a derrubada de mata ou "capoeira", seguida de
dias, perfilhamento bom, os cachos podem atingir até 60 encoivaramento e queima.
kg com mais de 10 pencas. É resistente às sigatokas
negra e amarela, mas suscetível ao moko. No preparo mecanizado, a limpeza é feita por máquinas,
com cuidado para não remover a camada superficial
Pelipita - Produz fruto cujo orgânica do solo, e em seguida procede-se à aração e à
Foto: Luadir Gasparotto
formato se assemelha aos frutos gradagem. Ressalta-se que esse tipo de preparo é
das bananas pertencentes ao recomendado apenas para áreas desmatadas, onde os
subgrupo Figo. Os frutos devem ser tocos já estejam em decomposição e os troncos grossos
consumidos, preferencialmente, já retirados.
após cocção (cozimento), frituras
ou na forma de mingaus. É uma Época de plantio
cultivar rústica, de porte alto, Depende da tecnologia usada e do tamanho da área. Com
apresenta bom perfilhamento e os uso de sistema de irrigação o plantio poderá ser realizado
cachos podem atingir 40 kg com durante todo o ano.
até 10 pencas. É resistente às
É possível obter colheitas escalonadas ao longo do ano,
sigatokas negra e amarela, porém
dividindo-se a área em talhões, plantando um talhão a
suscetível ao moko.
cada um ou dois meses, e assim aumentar a oferta de
frutos em períodos de preço elevado.
Escolha da área
É preciso, inicialmente, considerar a localização da área, Nas áreas sem irrigação é preferível que o plantio seja
porque a banana é um produto perecível, que necessita realizado no período das chuvas, quando estas estiverem
de colheita adequada e transporte com rapidez e mais esparsas, já que as necessidades da bananeira são
segurança; portanto, o local deve ter acesso facilitado menores nos três meses após o plantio. Além disso, em
para o escoamento da produção. solos encharcados, as plantas apodrecem e não
sobrevivem.
Outro aspecto importante são as características edáficas
(do solo), na medida em que estão diretamente ligadas a
produção, qualidade e vida útil das plantas. Áreas com
Espaçamento e densidade populacional
A determinação do espaçamento a ser usado depende de
declive inferior a 8% são mais recomendadas, e acima de
fatores, como porte da cultivar, fertilidade do solo,
30% são inadequadas.
sistema de desbaste, nível tecnológico do cultivo e
Apesar de se adaptar em solos bem diversos e apresentar topografia do terreno.
sistema radicular superficial com cerca de 30 cm de
Em cultivos comerciais de banana no Brasil, os
profundidade, a bananeira pode expressar melhor seu
espaçamentos mais usados variam de 2 x 2 m (2.500
potencial de produção em solos profundos, com mais de
plantas/ha) a 2 x 2,5 m (2.000 plantas/ha) para cultivares
75 cm, que são ideais para o desenvolvimento das
de porte médio; 3 x 2 m (1.666 plantas/ha) a 3 x 2,5 m
plantas.
(1.333 plantas/ha) para cultivares de porte semi-alto e 3 x
É preciso evitar áreas sujeitas a encharcamento, pois o 3 m (1.111 plantas/ha) para cultivares de porte alto.
excesso de umidade por mais de três dias provoca perdas
no sistema radicular das plantas e, conseqüentemente, na
2m
produção.
2m a
h
Condições climáticas 2m 4m
A cultura da bananeira apresenta altos rendimentos em Quadrado
2m
locais com temperaturas altas e uniformes, considerando-
se a faixa de 15°C a 35°C como limites, e a temperatura Triângulo equilátero
Fileira Dupla
em torno de 28°C como ótima para o desenvolvimento
das plantas. Fonte: Circular Técnica, 27.
4 Manejo da cultura da bananeira no Estado do Amazonas
As disposições dos espaçamentos mais eficientes em Quando o produtor não tiver acesso às mudas elite, o
plantios tecnificados são em triângulo equilátero (a = 2,7 ideal é que adquira mudas de viveiros credenciados. Em
m ou 3,40 m e h = 2,34 m ou 2,94 m) e fileira dupla 4 x último caso, se não houver acesso a nenhum dos dois
2 x 2 m, com 1.666 plantas/ha. Assim, além de tipos de mudas, o próprio produtor pode produzi-las,
apresentarem maior densidade de plantas por área, desde que obedeça a critérios mínimos para formação de
proporcionam espaço suficiente para que cada bananeira um viveiro.
receba insolação adequada em sua área foliar, e permitem
boa proteção do solo contra erosão. As mudas só podem ser retiradas de bananais com até
quatro anos de idade e que não tenham histórico de
Coveamento e sulcamento ocorrência do mal-do-panamá, moko, nematóides e
moleque-da-bananeira.
É importante salientar que o produtor, quando adquirir Após a colheita do primeiro cacho (primeiro ciclo), deve-
mudas convencionais de outras áreas de plantio, deve se adubar novamente as plantas com iguais quantidades
efetuar a limpeza da terra aderida ao rizoma, bem como de esterco, superfosfato, sulfato de zinco e FTE BR-12,
das raízes mortas, no próprio local de onde estas estão todos em cobertura com incorporação, e manter as
sendo retiradas, evitando assim levar doenças e/ou adubações de cobertura a partir do 10º mês após o
nematóides para sua área. Antes do plantio das mudas, plantio. Esse procedimento de adubação deve ser
recomenda-se fazer tratamento dos rizomas com solução mantido para os ciclos subseqüentes, acrescentando-se o
inseticida, nematicida e fungicida. Pode-se usar 140 ml de calcário em cobertura de dois em dois ciclos.
Carbofuran/100 litros de água. Mergulhar o material nessa
solução durante 10-15 minutos, retirar e deixar secar à
Adubação
Para o Estado do Amazonas, a recomendação de
adubação é a seguinte:
Adubação de cova
Em covas de 50 x 50 x 50 cm, aplicar junto à terra
retirada do horizonte de fermentação o calcário e o
esterco, previamente mineralizado.
Produto Quantidade Observação
Adubação de plantio
Após o período entre 30 a 60 dias da adubação de cova, 20 cm
se o produtor dispuser de água para irrigação ou já estiver
no período das chuvas, deve-se realizar o plantio, Até o 4º mês após o plantio, todos os perfilhos devem ser
efetuando a seguinte adubação. eliminados, e a adubação deve ser feita ao redor de toda a
Produto Quantidade Observação planta. A aplicação deve ser feita cerca de 30 a 40 cm de
distância do pseudocaule e o adubo, distribuído em uma
Superfosfato simples ou 240 g Dar preferência ao superfosfato simples
Superfosfato triplo 100 g porque além do fósforo possui enxofre, faixa de 20 cm de largura.
que é fundamental para as bananeiras.
FTE BR-12 50 g Micronutrientes. Deve ser aplicado junto Desenho: Adauto M. Tavares
Sulfato de zinco 10 g com o superfosfato.
Adubação de cobertura
Nutriente Em cobertura (meses após o plantio)
2º 4º 7º 10º
Nitrogênio Sulfato de Amônio 150 g
150 g 150 g 150 g
Uréia 70 g
70 g 70 g 70 g
Potássio Cloreto de potássio 270 g
- 270 g 270 g
Micronutrientes FTE-BR12 50 g - - -
A partir de então, seleciona-se um perfilho com alto Para o uso de herbicida, recomenda-se o Glifosate na
vigor, e, quando a planta mãe emitir a inflorescência, a concentração de 150 ml do produto comercial/20 litros de
adubação deve ser feita em meia-lua, ao lado dos água. É importante que o aplicador esteja devidamente
perfilhos selecionados. equipado, com o kit de proteção, para evitar
contaminação. O bico do pulverizador deve estar
Irrigação protegido com o “chapéu-de-napoleão” para evitar
No Estado do Amazonas, a irrigação ainda não é muito respingo do produto nas folhas e pseudocaule das
utilizada, em virtude da alta precipitação média anual, bananeiras.
que está em torno de 2.400 mm. Apesar disso, as
chuvas não são bem distribuídas ao longo do ano. Existe Convém ao produtor observar que a aplicação do produto
um período de estiagem nos meses de junho a novembro, deve ser feita nas horas mais frescas do dia e quando não
quando há necessidade de promover a irrigação. houver vento.
Essa prática deve ser orientada por um técnico da área de
irrigação e drenagem, o qual deverá elaborar um projeto
com todas as informações necessárias para a definição
do método a ser utilizado, o dimensionamento do sistema
e o manejo da irrigação, para que esta seja uma prática
que aumente a produtividade e melhore a qualidade da
produção.
Práticas culturais
A cultura da bananeira é bastante exigente em manejo,
por apresentar um desenvolvimento vegetativo muito
rápido, que requer do produtor um cronograma de
atividades de forma sistemática, de modo que, no
período de produção, as plantas possam direcionar todo Desbaste
seu potencial à produção de cachos com qualidade Nessa prática é retirado o excesso de perfilhos produzidos
comercial. Para tanto é preciso que o produtor se pela planta mãe, tão logo esses comecem a aparecer, o
preocupe em realizar as seguintes práticas: que varia com a cultivar.
Eliminação do
Esta família de plantas: “mãe-filha-neto” deve ser mantida
coração (mangará) e pencas
durante todos os ciclos da cultura, lembrando-se de que, É prática pouco realizada pelos produtores do Amazonas.
quando a “mãe” for colhida e a “filha” estiver florindo, o Existe entre eles a idéia de que deixando o coração
“bisneto” deve ficar ao lado do rizoma do “neto”, que ocorrerá o engrossamento do cacho. Ao contrário, a
ainda estará em crescimento, e assim sucessivamente. eliminação do coração é que acelera o desenvolvimento
das bananas, além de aumentar o comprimento das
últimas pencas e o ganho de peso do cacho.
Desfolha
Essa prática deve ser feita periodicamente, retirando-se as
folhas secas e mortas ou aquelas que, mesmo verdes,
estejam com o pecíolo quebrado, cuja atividade
fotossintética não atenda mais às exigências fisiológicas
da planta.
dos frutos das pencas, dentro de um tanque, para que a As estrias começam então a ficar mais largas, formando
exsudação de goma ou “cica” seja estancada, evitando manchas marrom-escuras que, em estádio mais avançado
manchas nos frutos. da doença, transformam-se em lesões negras com um
pequeno halo amarelo no centro, e com a união dessas
Recomenda-se, lesões, a folha fica com coloração toda negra.
para coagulação
da cica, o sulfato
de alumínio
misturado a
detergente
Foto: B. Vaza
neutro, para
limpar os frutos.
Para um tanque
de 1.000 litros
utiliza-se 500 g
de sulfato de alumínio e meio litro de detergente neutro.
ficar submersas
por 5 a 10
minutos, depois
colocadas em Fotos: Luadir Gasparotto
outro tanque
apenas com água
para retirar o Controle
excesso dos Como medida de controle, podem-se utilizar cultivares
produtos; em seguida, postas para secar à sombra. resistentes ou o controle químico.
Controle
Não existem cultivares resistentes a essa doença. O
controle consiste em medidas preventivas como: Fotos: Luadir Gasparotto
Manejo da cultura da bananeira no Estado do Amazonas 11
Foto: C. de M. Lopez
O monitoramento da população do inseto adulto na área O adulto é uma
plantada é importante para que se saiba o momento de mariposa vistosa
fazer o controle. Para isso, pode ser usado isca tipo semelhante às
“queijo” ou “telha”. As iscas tipo “telha” são feitas a borboletas, possui
partir de pedaços de pseudocaule com aproximadamente hábitos diurnos, voa
50 cm, da planta que já produziu cacho, aberto em duas rapidamente nas
partes no sentido do comprimento. As iscas “queijo” são horas mais quentes
confeccionadas de bananeiras que já produziram cacho: do dia. Alcança 10
corta-se o pseudocaule a uma altura de aproximadamente cm de envergadura
30 cm; na metade da altura do pseudocaule, corta-se de asa.
este na horizontal, sem decepá-lo. As iscas devem ser
distribuídas no plantio em torno de 20 ha, renovando-as Controle
a cada 15 dias. A contagem deve ser feita após sete dias Devido ao não registro na literatura dessa espécie como
da colocação da isca; quando somar 5 insetos/isca/mês, praga de bananeira, não há inseticida recomendado para
o controle do adulto deve ser iniciado. seu controle. No entanto, os controles cultural e
mecânico podem ser uma boa alternativa.
Controle ! Cultural: destruição dos restos culturais; limpeza da
A principal forma de controle é a utilização de mudas área; desbaste; desfolha e adubação;
sadias, produzidas por propagação in vivo ou in vitro.
! Mecânico: retirada do inseto do pseudocaule da
! Cultural: tratamento de mudas; destruição dos restos planta e destruição da lagarta.
culturais; limpeza da área; desbaste; desfolha e
adubação; É importante ressaltar, também, que se deve evitar o
! Químico: distribuição no plantio de 50-100 iscas/ha plantio de bananais próximo a canaviais, pois a cana-de-
de pseudocaule de bananeira do tipo “telha” ou açúcar é altamente atacada pela Castnia.
“queijo” usando os inseticidas: carbofuran de 3-5
g/isca ou terbufos 5 g/isca; Abelha arapuá (Trigona spp.)
! Mecânico: os insetos capturados em armadilhas de Sua presença é freqüente nos bananais em produção.
pseudocaule de bananeira do tipo “queijo” ou “telha” Além de causar dano visual na banana, esse inseto pode
devem ser mortos; ser disseminador de doenças.
Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Aparecida das Graças Claret de Souza
Técnica, 10 Embrapa Amazônia Ocidental Publicações Secretária: Gleise Maria Teles de Oliveira
Endereço: Rodovia AM 010, km 29 - Estrada Membros: Edsandra Campos Chagas, Gladys Ferreira de
Manaus/Itacoatiara Souza, Gleise Maria Teles de Oliveira, Maria Perpétua B.
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Fax: (92) 232-8101 e 622-1100 Quisen, Sebastião Eudes Lopes da Silva, Terezinha
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