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CURSO DE

DIREITO EMPRESARIAL EM 10 DIAS


@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Escopo e princípios.

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

- Preservação da empresa
Essa preservação deve ocorrer por meio de uma solução de mercado.
Ademais, o que se deve preservar é a atividade, algo que pode acontecer
inclusive na falência.

- Par condicio creditorum?


Enunciado 81 das Jornadas de Direito Comercial: “aplica-se à recuperação
judicial, no que couber, o princípio da par condicio creditorum”.

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Aula 9 - Recuperação judicial

Sujeição legal.

Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a


recuperação extrajudicial e a falência do empresário e
da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor.

- Empresários individuais

- Sociedades empresárias (necessidade de deliberação)

- EIRELI

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Agentes econômicos.

Há tempos existe uma discussão acerca da necessidade


de a Lei 11.101/2005 ser alterada para permitir que
qualquer “agente econômico” possa pedir recuperação
judicial, mas na discussão da Lei 14.112/2020 essa
proposta foi rejeitada.

- Caso da Casa de Saúde Portugal


- Caso da Ulbra
- Caso da UCAM

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Cooperativas.

Art. 982, parágrafo único. Independentemente de seu objeto,


considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a
cooperativa.

- Caso da Unimed Petrópolis


- Caso da Unimed Paulistana
- Caso da Unimed Norte-Nordeste

* A Lei 14.112/2020 tentou permitir que cooperativas médicas


pedissem recuperação judicial (art. 6º, § 13).

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Estatais e mercados regulados.

Art. 2º Esta Lei não se aplica a:


I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade
operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora,
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores.

* Quanto às estatais, o STF vai decidir a questão no julgamento do


RE 1.249.945, que já teve sua repercussão geral reconhecida.
Quanto às sociedades empresárias mencionadas no inciso II, elas
podem até falir, mas não podem pedir recuperação judicial.

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Litisconsórcio ativo.

Embora a Lei 11.101/2005, na sua redação original, ao tratar do pedido de


recuperação judicial, não tivesse regra expressa sobre a possibilidade de
litisconsórcio ativo em caso de grupo econômico, isso ocorria comumente na
prática, e no julgamento do REsp 1.665.042 a 3ª Turma do STJ confirmou que
“é possível a formação de litisconsórcio ativo na recuperação judicial para
abranger as sociedades integrantes do mesmo grupo econômico”.
De acordo com o relator, Ministro Cueva, “a admissão do litisconsórcio ativo
na recuperação judicial obedece a dois importantes fatores: (i) a
interdependência das relações societárias formadas pelos grupos econômicos
e a necessidade de superar simultaneamente o quadro de instabilidade
econômico-financeiro, e (ii) a autorização da legislação processual civil para
as partes (no caso, as sociedades) litigarem em conjunto no mesmo processo
(art. 113 do CPC/2015 e 46 do CPC/1973) e a ausência de colisão com os
princípios e os fundamentos preconizados pela Lei 11.101/2005”.

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Litisconsórcio ativo.

Quanto ao cumprimento do disposto no caput do art. 48 da


Lei 11.101/2005, a 3ª Turma do STJ decidiu que as sociedades
integrantes de grupo econômico devem demonstrar
individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2
(dois) anos de exercício regular de suas atividades para
postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo: “em se
tratando de grupo econômico, cada sociedade empresária
deve demonstrar o cumprimento do requisito temporal de 2
(dois) anos, pois elas conservam a sua individualidade e, por
conseguinte, apresentam a personalidade jurídica distinta das
demais integrantes da referida coletividade”.

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Consolidação processual.

Art. 69-G. Os devedores que atendam aos requisitos previstos nesta Lei e que integrem grupo sob
controle societário comum poderão requerer recuperação judicial sob consolidação processual.
§ 1º Cada devedor apresentará individualmente a documentação exigida no art. 51 desta Lei.
§ 2º O juízo do local do principal estabelecimento entre os dos devedores é competente para deferir
a recuperação judicial sob consolidação processual, em observância ao disposto no art. 3º desta Lei.
§ 3º Exceto quando disciplinado de forma diversa, as demais disposições desta Lei aplicam-se aos
casos de que trata esta Seção.
Art. 69-H. Na hipótese de a documentação de cada devedor ser considerada adequada, apenas um
administrador judicial será nomeado, observado o disposto na Seção III do Capítulo II desta Lei.
Art. 69-I. A consolidação processual, prevista no art. 69-G desta Lei, acarreta a coordenação de atos
processuais e garante a independência dos devedores, dos seus ativos e dos seus passivos.
§ 1º Os devedores proporão meios de recuperação independentes e específicos para a composição
de seus passivos, admitida a sua apresentação em plano único.
§ 2º Os credores de cada devedor deliberarão em assembleias gerais de credores independentes.
§ 3º Os quóruns de instalação e de deliberação das assembleias gerais de que trata o § 2º deste
artigo serão verificados, exclusivamente, em referência aos credores de cada devedor, e serão
elaboradas atas para cada um dos devedores.
§ 4º A consolidação processual não impede que alguns devedores obtenham a concessão da
recuperação judicial e outros tenham a falência decretada.
§ 5º Na hipótese prevista no § 4º deste artigo, o processo será desmembrado em tantos processos
quantos forem necessários.

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Consolidação substancial.

Art. 69-J. O juiz poderá, de forma excepcional, independentemente da realização de assembleia geral,
autorizar a consolidação substancial de ativos e passivos dos devedores integrantes do mesmo grupo
econômico que estejam em recuperação judicial sob consolidação processual, apenas quando constatar
a interconexão e a confusão entre ativos ou passivos dos devedores, de modo que não seja possível
identificar a sua titularidade sem excessivo dispêndio de tempo ou de recursos, cumulativamente com a
ocorrência de, no mínimo, 2 (duas) das seguintes hipóteses:
I - existência de garantias cruzadas;
II - relação de controle ou de dependência;
III - identidade total ou parcial do quadro societário; e
IV - atuação conjunta no mercado entre os postulantes.
Art. 69-K. Em decorrência da consolidação substancial, ativos e passivos de devedores serão tratados
como se pertencessem a um único devedor.
1º A consolidação substancial acarretará a extinção imediata de garantias fidejussórias e de créditos
detidos por um devedor em face de outro.
§ 2º A consolidação substancial não impactará a garantia real de nenhum credor, exceto mediante
aprovação expressa do titular.
Art. 69-L. Admitida a consolidação substancial, os devedores apresentarão plano unitário, que
discriminará os meios de recuperação a serem empregados e será submetido a uma assembleia geral de
credores para a qual serão convocados os credores dos devedores.
§ 1º As regras sobre deliberação e homologação previstas nesta Lei serão aplicadas à assembleia geral
de credores a que se refere o caput deste artigo.
§ 2º A rejeição do plano unitário de que trata o caput deste artigo implicará a convolação da
recuperação judicial em falência dos devedores sob consolidação substancial.

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Requisitos materiais.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

* O devedor tem que ser empresário (empresário individual, EIRELI ou


sociedade empresária), e o exercício regular da atividade se comprova com o
registro na Junta Comercial e o cumprimento das obrigações escriturais.

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Aplicação do caput do art. 48 ao produtor rural.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no


momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais
de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos (...).

- Devedor empresário
O produtor rural (pessoa física ou jurídica) precisa estar registrado
na Junta Comercial para pedir recuperação judicial?

- Exercício regular da atividade há mais de 2 anos


Deve-se contar apenas o tempo exercício de atividade após o
registro na Junta Comercial?

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RJ de produtor rural:
enunciados das Jornadas de Direito Comercial.

Enunciado 96: “a recuperação judicial do empresário rural,


pessoa natural ou jurídica, sujeita todos os créditos existentes na
data do pedido, inclusive os anteriores à data da inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis”.

Enunciado 97: “o produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na


ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar
inscrito há mais de dois anos no Registro Público de Empresas
Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade
rural por esse período e a comprovação da inscrição anterior ao
pedido”.

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RJ de produtor rural: REsp 1.800.032.

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. EMPRESÁRIO RURAL E RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REGULARIDADE DO EXERCÍCIO
DA ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO DO EMPREENDEDOR (CÓDIGO CIVIL, ARTS. 966, 967, 968, 970 E 971).
EFEITOS EX TUNC DA INSCRIÇÃO DO PRODUTOR RURAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (LEI 11.101/2005, ART. 48).
CÔMPUTO DO PERÍODO DE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO. POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
1. O produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em situação regular, mesmo ao exercer atividade
econômica agrícola antes de sua inscrição, por ser esta para ele facultativa.
2. Conforme os arts. 966, 967, 968, 970 e 971 do Código Civil, com a inscrição, fica o produtor rural equiparado ao
empresário comum, mas com direito a "tratamento favorecido, diferenciado e simplificado (...), quanto à inscrição e aos
efeitos daí decorrentes".
3. Assim, os efeitos decorrentes da inscrição são distintos para as duas espécies de empresário: o sujeito a registro e o não
sujeito a registro. Para o empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, apenas o transfere do regime do Código Civil
para o regime empresarial, com o efeito constitutivo de "equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro", sendo tal efeito constitutivo apto a retroagir (ex tunc), pois a condição regular de empresário já existia antes
mesmo do registro. Já para o empresário comum, o registro, por ser obrigatório, somente pode operar efeitos prospectivos,
ex nunc, pois apenas com o registro é que ingressa na regularidade e se constitui efetivamente, validamente, empresário.
4. Após obter o registro e passar ao regime empresarial, fazendo jus a tratamento diferenciado, simplificado e favorecido
quanto à inscrição e aos efeitos desta decorrentes (CC, arts. 970 e 971), adquire o produtor rural a condição de
procedibilidade para requerer recuperação judicial, com base no art. 48 da Lei 11.101/2005 (LRF), bastando que comprove,
no momento do pedido, que explora regularmente a atividade rural há mais de 2 (dois) anos. Pode, portanto, para perfazer
o tempo exigido por lei, computar aquele período anterior ao registro, pois tratava-se, mesmo então, de exercício regular da
atividade empresarial.
5. Pelas mesmas razões, não se pode distinguir o regime jurídico aplicável às obrigações anteriores ou posteriores à inscrição
do empresário rural que vem a pedir recuperação judicial, ficando também abrangidas na recuperação aquelas obrigações e
dívidas anteriormente contraídas e ainda não adimplidas.
6. Recurso especial provido, com deferimento do processamento da recuperação judicial dos recorrentes.
(REsp 1.800.032/MT, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 10/02/2020)

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RJ de produtor rural: REsp 1.811.953.

RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL EFETUADO POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL RURAL QUE EXERCE PROFISSIONALMENTE A ATIVIDADE AGRÍCOLA
ORGANIZADA HÁ MAIS DE DOIS ANOS, ENCONTRAN-DO-SE, PORÉM, INSCRITO HÁ MENOS DE DOIS ANOS NA JUNTA COMERCIAL. DEFERIMENTO. INTELIGÊNCIA DO ART. 48
DA LRF. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Controverte-se no presente recurso especial acerca da aplicabilidade do requisito temporal de 2 (dois) anos de exercício regular da atividade empresarial, estabelecido no
art. 48 da Lei n. 11.101/2005, para fins de deferimento do processamento da recuperação judicial requerido por empresário individual rural que exerce profissionalmente a
atividade agrícola organizada há mais de 2 (dois) anos, encontrando-se, porém, inscrito há menos de 2 (dois) anos na Junta Comercial.
2. Com esteio na Teoria da Empresa, em tese, qualquer atividade econômica organizada profissionalmente submete-se às regras e princípios do Direito Empresarial, salvo
previsão legal específica, como são os casos dos profissionais intelectuais, das sociedades simples, das cooperativas e do exercente de atividade econômica rural, cada qual
com tratamento legal próprio. Insere-se na ressalva legal, portanto, o exercente de atividade econômica rural, o qual possui a faculdade, o direito subjetivo de se submeter,
ou não, ao regime jurídico empresarial.
3. A constituição do empresário rural dá-se a partir do exercício profissional da atividade econômica rural organizada para a produção e circulação de bens ou de serviços,
sendo irrelevante, à sua caracterização, a efetivação de sua inscrição na Junta Comercial. Todavia, sua submissão ao regime empresarial apresenta-se como faculdade, que
será exercida, caso assim repute conveniente, por meio da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis.
3.1 Tal como se dá com o empresário comum, a inscrição do produtor rural na Junta Comercial não o transforma em empresário. Perfilha-se o entendimento de que, também
no caso do empresário rural, a inscrição assume natureza meramente declaratória, a autorizar, tecnicamente, a produção de efeitos retroativos (ex tunc).
3.2 A própria redação do art. 971 do Código Civil traz, em si, a assertiva de que o empresário rural poderá proceder à inscrição. Ou seja, antes mesmo do ato registral, a
qualificação jurídica de empresário - que decorre do modo profissional pelo qual a atividade econômica é exercida - já se faz presente. Desse modo, a inscrição do empresário
rural na Junta Comercial apenas declara, formaliza a qualificação jurídica de empresário, presente em momento anterior ao registro. Exercida a faculdade de inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis, o empresário rural, por deliberação própria e voluntária, passa a se submeter ao regime jurídico empresarial.
4. A finalidade do registro para o empresário rural, difere, claramente, daquela emanada da inscrição para o empresário comum. Para o empresário comum, a inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis, que tem condão de declarar a qualidade jurídica de empresário, apresenta-se obrigatória e se destina a conferir-lhe status de
regularidade. De modo diverso, para o empresário rural, a inscrição, que também se reveste de natureza declaratória, constitui mera faculdade e tem por escopo precípuo
submeter o empresário, segundo a sua vontade, ao regime jurídico empresarial.
4.1 O empresário rural que objetiva se valer dos benefícios do processo recuperacional, instituto próprio do regime jurídico empresarial, há de proceder à inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis, não porque o registro o transforma em empresário, mas sim porque, ao assim proceder, passou a voluntariamente se submeter ao
aludido regime jurídico. A inscrição, sob esta perspectiva, assume a condição de procedibilidade ao pedido de recuperação judicial, como bem reconheceu esta Terceira
Turma, por ocasião do julgamento do REsp 1.193.115/MT, e agora, mais recentemente, a Quarta Turma do STJ (no REsp 1.800.032/MT) assim compreendeu.
4.2 A inscrição, por ser meramente opcional, não se destina a conferir ao empresário rural o status de regularidade, simplesmente porque este já se encontra em situação
absolutamente regular, mostrando-se, por isso, descabida qualquer interpretação tendente a penalizá-lo por, eventualmente, não proceder ao registro, possibilidade que a
própria lei lhe franqueou. Portanto, a situação jurídica do empresário rural, mesmo antes de optar por se inscrever na Junta comercial, já ostenta status de regularidade.
5. Especificamente quanto à inscrição no Registro Público das Empresas Mercantis, para o empresário comum, o art. 967 do Código Civil determina a obrigatoriedade da
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Será irregular, assim, o exercício profissional da atividade econômica,
sem a observância de exigência legal afeta à inscrição. Por consequência, para o empresário comum, o prazo mínimo de 2 (dois) anos deve ser contado, necessariamente, da
consecução do registro. Diversamente, o empresário rural exerce profissional e regularmente sua atividade econômica independentemente de sua inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis. Mesmo antes de proceder ao registro, atua em absoluta conformidade com a lei, na medida em que a inscrição, ao empresário rural,
apresenta-se como faculdade - de se submeter ao regime jurídico empresarial.
6. Ainda que relevante para viabilizar o pedido de recuperação judicial, como instituto próprio do regime empresarial, o registro é absolutamente desnecessário para que o
empresário rural demonstre a regularidade (em conformidade com a lei) do exercício profissional de sua atividade agropecuária pelo biênio mínimo, podendo ser
comprovado por outras formas admitidas em direito e, principalmente, levando-se em conta período anterior à inscrição.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1811953/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BEL-LIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 15/10/2020)
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RJ de produtor rural: resumo das decisões do STJ.

O produtor rural precisa estar registrado há mais de 2 (dois) anos


na Junta Comercial para requerer recuperação judicial? Não. Basta
que ele tenha se registrado na Junta Comercial antes do
ajuizamento do pedido e possua mais de 2 (dois) anos de exercício
de atividade econômica rural.
Uma vez deferido o processamento da recuperação judicial do
produtor rural, as dívidas anteriores ao seu registro na Junta
Comercial se sujeitam ao plano de recuperação? Sim. Entendeu-se
que como o registro, para o produtor rural, é facultativo, o exercício
de atividade econômica por ele antes do registro não pode ser
considerado irregular, merecendo o mesmo tratamento dado ao
exercício de atividade econômica após o registro.

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RJ de produtor rural: reforma da LFRE (Lei 14.112/2020).

Art. 48 (...)
§ 2º No caso de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo
estabelecido no caput deste artigo por meio da Escrituração Contábil Fiscal (ECF), ou por meio de
obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir a ECF, entregue tempestivamente.
§ 3º Para a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo, o cálculo do período de exercício
de atividade rural por pessoa física é feito com base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR), ou
por meio de obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela Declaração do
Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) e balanço patrimonial, todos entregues
tempestivamente.
§ 4º Para efeito do disposto no § 3º deste artigo, no que diz respeito ao período em que não for exigível
a entrega do LCDPR, admitir-se-á a entrega do livro-caixa utilizado para a elaboração da DIRPF.
§ 5º Para os fins de atendimento ao disposto nos §§ 2º e 3º deste artigo, as informações contábeis
relativas a receitas, a bens, a despesas, a custos e a dívidas deverão estar organizadas de acordo com a
legislação e com o padrão contábil da legislação correlata vigente, bem como guardar obediência ao
regime de competência e de elaboração de balanço patrimonial por contador habilitado.

Art. 51 (...).
§ 6º Em relação ao período de que trata o § 3º do art. 48 desta Lei:
I - a exposição referida no inciso I do caput deste artigo deverá comprovar a crise de insolvência,
caracterizada pela insuficiência de recursos financeiros ou patrimoniais com liquidez suficiente para
saldar suas dívidas;
II - os requisitos do inciso II do caput deste artigo serão substituídos pelos documentos mencionados no
§ 3º do art. 48 desta Lei relativos aos últimos 2 (dois) anos.

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Pedido de RJ: documentação necessária.

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:


I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para
instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado
desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; e) descrição das sociedades de
grupo societário, de fato ou de direito;
III – a relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação judicial, inclusive aqueles por obrigação de
fazer ou de dar, com a indicação do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza, conforme estabelecido nos arts.
83 e 84 desta Lei, e o valor atualizado do crédito, com a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos;
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas
a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de
nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer
modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições
financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui
filial;
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e procedimentos arbitrais em que este figure como
parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.
X - o relatório detalhado do passivo fiscal; e
XI - a relação de bens e direitos integrantes do ativo não circulante, incluídos aqueles não sujeitos à recuperação judicial,
acompanhada dos negócios jurídicos celebrados com os credores de que trata o § 3º do art. 49 desta Lei.

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Pedido de RJ: valor da causa.

§ 5º O valor da causa corresponderá ao montante total dos créditos sujeitos à recuperação


judicial.

Súmula 481 do STJ: “Faz jus ao benefício da Justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem
fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais”.

“A circunstância de a pessoa jurídica encontrar-se submetida a processo de recuperação


judicial, por si só, é insuficiente para evidenciar a hipossuficiência necessária ao
deferimento da gratuidade de justiça” (AgInt nos EDcl no AREsp 1.388.726 – julgado em
2019).

“O processamento da recuperação judicial, por si só, não importa reconhecimento da


necessária hipossuficiência para fins de concessão da assistência judiciária gratuita à
pessoa jurídica” (AgInt no AREsp 1.218.648 – julgado em 2018).

* No TJSP tentou-se um IRDR, mas se decidiu que essa questão é casuística, não sendo
possível estabelecer uma regra geral e abstrata para todos os casos. Na prática, costuma-se
permitir o parcelamento das custas (art. 98, § 6º do CPC) ou diferir o pagamento para o
final do processo.

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Constatação prévia: a experiência da 1ª vara de falências e recuperações de SP.

“A perícia prévia surgiu em razão da observação da situações reais ocorridas a partir


de 2011 em processos ajuizados perante a 1a Vara de Falências e Recuperações
Judiciais de São Paulo. Em alguns pedidos de recuperação judicial, depois de deferido
o processamento do pedido (com imposição do stay period aos credores em geral) e
por ocasião da primeira visita que o administrador judicial nomeado fazia ao
estabelecimento comercial da devedora, se constatava que a empresa não tinha mais
qualquer atividade, nem tinha condições de gerar qualquer benefício decorrente da
atividade empresarial. Tratavam-se de empresas que só existiam formalmente, no
papel, mas que não geravam empregos, nem circulavam produtos ou serviços, nem
tampouco geravam tributos ou riquezas. Em outros casos, deferia-se o processamento
da recuperação judicial com base na análise meramente formal feita pelo juiz sobre a
documentação apresentada pela devedora. Depois, quando o administrador judicial
realizava a análise técnica desses documentos (com o auxilio de sua equipe
multidisciplinar), descobria-se que os documentos estavam completamente falhos,
incompletos e não refletiam a real situação da empresa”.
https://migalhas.uol.com.br/coluna/insolvencia-em-foco/277594/a-pericia-previa-em-
recuperacao-judicial-de-empresas---fundamentos-e-aplicacao-pratica

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Constatação prévia: Recomendação 57/2019 do CNJ.

Art. 1º Recomendar a todos os magistrados responsáveis pelo processamento e julgamento dos processos de
recuperação empresarial, em varas especializadas ou não, que determinem a constatação das reais condições
de funcionamento da empresa requerente, bem como a verificação da completude e da regularidade da
documentação apresentada pela devedora/requerente, previamente ao deferimento do processamento da
recuperação empresarial, com observância do procedimento estabelecido nesta Recomendação.
Art. 2º Logo após a distribuição do pedido de recuperação empresarial, poderá o magistrado nomear um
profissional de sua confiança, com capacidade técnica e idoneidade para promover a constatação das reais
condições de funcionamento da empresa requerente e a análise da regularidade e da completude da
documentação apresentada juntamente com a petição inicial.
Parágrafo único. A remuneração do profissional deverá ser arbitrada posteriormente à apresentação do laudo,
observada a complexidade do trabalho desenvolvido.
Art. 3º O magistrado deverá conceder o prazo máximo de cinco dias para que o perito nomeado apresente
laudo de constatação das reais condições de funcionamento da devedora e de verificação da regularidade
documental, decidindo, em seguida, sem a necessidade de oitiva das partes.
Art. 4º A constatação prévia consistirá, objetivamente, na análise da capacidade da devedora de gerar os
benefícios mencionados no art. 47, bem como na constatação da presença e regularidade dos requisitos e
documentos previstos nos artigos 48 e 51 da Lei nº 11.101/2005.
Art. 5º Não preenchidos os requisitos legais, o magistrado poderá indeferir a petição inicial, sem convolação em
falência.
Art. 6º Caso a constatação prévia demonstre que o principal estabelecimento da devedora não se situa na área
de competência do juízo, o magistrado deverá determinar a remessa dos autos, com urgência, ao juízo
competente.
Art. 7º Esta Recomendação entra em vigor na data da sua publicação.

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Constatação prévia após a Lei 14.112/2020.

Art. 51-A. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, poderá o juiz, quando reputar necessário,
nomear profissional de sua confiança, com capacidade técnica e idoneidade, para promover a constatação
exclusivamente das reais condições de funcionamento da requerente e da regularidade e da completude da
documentação apresentada com a petição inicial.
§ 1º A remuneração do profissional de que trata o caput deste artigo deverá ser arbitrada posteriormente à
apresentação do laudo e deverá considerar a complexidade do trabalho desenvolvido.
§ 2º O juiz deverá conceder o prazo máximo de 5 (cinco) dias para que o profissional nomeado apresente
laudo de constatação das reais condições de funcionamento do devedor e da regularidade documental.
§ 3º A constatação prévia será determinada sem que seja ouvida a outra parte (inaudita altera parte) e sem
apresentação de quesitos por qualquer das partes, com a possibilidade de o juiz determinar a realização da
diligência sem a prévia ciência do devedor, quando entender que esta poderá frustrar os seus objetivos.
§ 4º O devedor será intimado do resultado da constatação prévia concomitantemente à sua intimação da
decisão que deferir ou indeferir o processamento da recuperação judicial, ou que determinar a emenda da
petição inicial, e poderá impugná-la mediante interposição do recurso cabível.
§ 5º A constatação prévia consistirá, objetivamente, na verificação das reais condições de funcionamento
da empresa e da regularidade documental, vedado o indeferimento do processamento da recuperação
judicial baseado na análise de viabilidade econômica do devedor.
§ 6º Caso a constatação prévia detecte indícios contundentes de utilização fraudulenta da ação de
recuperação judicial, o juiz poderá indeferir a petição inicial, sem prejuízo de oficiar ao Ministério Público
para tomada das providências criminais eventualmente cabíveis.
§ 7º Caso a constatação prévia demonstre que o principal estabelecimento do devedor não se situa na área
de competência do juízo, o juiz deverá determinar a remessa dos autos, com urgência, ao juízo
competente.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Deferimento do processamento da RJ ≠ Concessão da RJ.

Não se deve confundir a decisão que defere o processamento da


recuperação judicial com a decisão que concede a recuperação
judicial: na primeira, o juiz apenas verifica se o devedor
preenche os requisitos do art. 48, e se sua petição inicial atente
os requisitos do art. 51. Portanto, NÃO é correto dizer que a o
devedor está em recuperação judicial após o deferimento do
processamento do pedido.

- Deferimento do processamento: art. 52.

- Concessão: art. 58.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Deferimento do processamento: cabe recurso?

No DL 7.661/1945, estabeleceu-se o entendimento jurisprudencial de que “é


irrecorrível o ato judicial que apenas manda processar a concordata preventiva”
(Súmula 264 do STJ). Alguns doutrinadores chegaram a defender que esse
entendimento fosse aplicado analogicamente para o caso de deferimento do
processamento do pedido de recuperação judicial, mas na prática os tribunais têm
aceitado recurso de agravo de instrumento contra tal decisão.

Enunciado 52 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “a decisão que defere o


processamento da recuperação judicial desafia agravo de instrumento” (o
enunciado 102, aprovado na III Jornada de Direito Comercial, praticamente repete
o enunciado 52: “a decisão que defere o processamento da recuperação judicial
desafia agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015 do CPC/2015”; talvez a
repetição tenha sido para deixar claro que, mesmo após o novo CPC, cabe agravo
de instrumento contra a decisão que defere o processamento do pedido de
recuperação judicial).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Deferimento do processamento: conteúdo da decisão.

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá
o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:
I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;
II - determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor
exerça suas atividades, observado o disposto no § 3º do art. 195 da Constituição
Federal e no art. 69 desta Lei;
III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma
do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam,
ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º , 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a
créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei;
IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais
enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus
administradores;
V - ordenará a intimação eletrônica do Ministério Público e das Fazendas Públicas
federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento, a fim de que tomem conhecimento da recuperação judicial e
informem eventuais créditos perante o devedor, para divulgação aos demais
interessados.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Participação de empresa que pede RJ em licitações.

No AREsp 309.867, a 1ª Turma do STJ julgou um caso em que o TJES tinha mantido decisão judicial da
primeira instância que manteve a inabilitação de uma empresa em recuperação judicial num
determinado procedimento licitatório, pelo fato de não ter sido apresentada a “certidão negativa de
recuperação judicial”, com base no art. 31, inciso II da Lei 8.666/1993. O Ministro relator apontou ainda
que “norma restritiva, como é o caso do art. 31 da Lei 8.666/1993, não admite interpretação que amplie
o seu sentido, de modo que, à luz do princípio da legalidade, é vedado à Administração levar a termo
interpretação extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o dispuser de forma expressa”.
Mas fez uma ressalva: “a dispensa de apresentação de certidão negativa não exime a empresa em
recuperação judicial de comprovar a sua capacidade econômica para poder participar da licitação, (...)
cabendo ao pregoeiro ou à comissão de licitação diligenciar a fim de avaliar a real situação de
capacidade econômico-financeira da empresa licitante”. Enfim, dando eficácia máxima ao princípio da
preservação da empresa, o STJ decidiu que “a exigência de apresentação de certidão negativa de
recuperação judicial deve ser relativizada a fim de possibilitar à empresa em recuperação judicial
participar do certame, desde que demonstre, na fase de habilitação, a sua viabilidade econômica”.
O TCU já decidiu que “é possível a participação em licitações de empresas em RJ”, mas destacou que
elas precisam estar “amparadas em certidão emitida pela instância judicial competente, que certifique
que a interessada está apta econômica e financeiramente” (Acórdão 1201/2020). Em decisão mais
recente (Acórdão 2265/2020), o TCU disse que é possível exigir uma certidão negativa de RJ, mas
ressalvou que a sua não apresentação “não implica a imediata inabilitação da licitante, cabendo ao
pregoeiro ou à comissão diligenciar no sentido de aferir se a empresa teve seu plano de recuperação
concedido”.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Suspensão da prescrição e de processos: stay period.

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação


judicial implica:
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime
desta Lei;
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos
credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à
recuperação judicial ou à falência;
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e
apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de
demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à
recuperação judicial ou à falência.

* O dispositivo em questão, no que se refere à recuperação judicial, cuida do chamado


stay period: trata-se de um período em que o devedor que pede recuperação judicial
ficará imune a certos atos processuais, a fim de que possa ter um mínimo de
tranquilidade para elaborar seu plano de recuperação e negociá-lo com seus credores.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period e “sócio solidário”.

Antes da reforma da LFRE, a redação do art. 6º já falava em suspensão das execuções “dos credores
particulares do sócio solidário”, e a interpretação dessa expressão “sócio solidário” suscitou uma
discussão nos tribunais pátrios, referente aos efeitos do deferimento do processamento da recuperação
judicial sobre as obrigações do sócio avalista da sociedade empresária devedora.
Segundo entendimento predominante, o “sócio solidário” a que faz referência a LRE é apenas aquele
que tem responsabilidade ilimitada, como o sócio da sociedade em nome coletivo, por exemplo.
No caso dos sócios que assumem a posição de avalistas, deve-se aplicar o disposto no art. 49, § 1º da
LRE: “os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os
coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.

Enunciado 43 das Jornadas de Direito Comercial: “a suspensão das ações e execuções previstas no art.
6.º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor”.

“O caput do art. 6.º da Lei n. 11.101/05, no que concerne à suspensão das ações por ocasião do
deferimento da recuperação, alcança apenas os sócios solidários, presentes naqueles tipos societários
em que a responsabilidade pessoal dos consorciados não é limitada às suas respectivas quotas/ações.
Não se suspendem, porém, as execuções individuais direcionadas aos avalistas de título cujo devedor
principal é sociedade em recuperação judicial, pois diferente é a situação do devedor solidário, na forma
do § 1.º do art. 49 da referida Lei. De fato, “[a] suspensão das ações e execuções previstas no art. 6.º da
Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor” (Enunciado n. 43 da I Jornada de Direito
Comercial CJF/STJ)”.
(AgRg no REsp 1.342.833/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 15.05.2014, DJe 21.05.2014).

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Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period e credores proprietários.

Art. 6º (...).
§ 7º-A. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica aos créditos
referidos nos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei, admitida, todavia, a competência do juízo
da recuperação judicial para determinar a suspensão dos atos de constrição que
recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial
durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º deste artigo, a qual será
implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no
art. 805 do referido Código.

* Embora a prescrição da cobrança desses créditos não se suspenda e os respectivos


credores possam iniciar ou continuar suas execuções contra o devedor que pede
recuperação judicial, inclusive requerendo a prática de atos constritivos, a LRE permite
que o juízo onde tramita o processo recuperacional determine, excepcionalmente, a
suspensão desses eventuais atos constritivos, durante o stay period, caso os bens
constritos sejam de capital e essenciais à manutenção da empresa recuperanda (ver
também a parte final do art. 49, § 3º).

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Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period e execuções fiscais: antes da reforma.

Art. 6º (...).
§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da
recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do
Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.
Enunciado 74 das Jornadas de Direito Comercial: “embora a execução fiscal não se
suspenda em virtude do deferimento do processamento da recuperação judicial, os
atos que importem em constrição do patrimônio do devedor devem ser analisados
pelo Juízo recuperacional, a fim de garantir o princípio da preservação da
empresa”.
Enunciado 8 da Jurisprudência em Teses do STJ: “o deferimento da recuperação
judicial não suspende a execução fiscal, mas os atos que importem em constrição
ou alienação do patrimônio da recuperanda devem se submeter ao juízo
universal”.
Tema Repetitivo 987: “possibilidade da prática de atos constritivos, em face de
empresa em recuperação judicial, em sede de execução fiscal de dívida tributária e
não tributária” (houve “determinação de suspensão nacional de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos”, nos termos do art. 1.037, II, CPC).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period e execuções fiscais: após a reforma.

Art. 6º (...).
§ 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções
fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação judicial para
determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital
essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação
judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do
art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado
o disposto no art. 805 do referido Código.

Com a revogação do § 7º e a inserção do § 7º-B, a questão foi resolvida pela própria


lei, que acabou adotando solução parecida com a jurisprudência que estava
consolidada na Segunda Seção do STJ: a execução fiscal realmente não se suspende
com o deferimento do processamento do pedido de recuperação judicial, e no seu
bojo podem ser determinados atos constritivos; no entanto, se o bem constrito for
essencial à manutenção da empresa recuperanda, o juízo onde tramita o processo
recuperacional pode determinar a substituição da constrição.

* A PGFN pediu a desafetação do Tema 987, o que foi deferido pelo STJ.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period, ações que demandam quantia ilíquida e reclamações trabalhistas.

Art. 6º (...).
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que
demandar quantia ilíquida.
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou
modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza
trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão
processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que
será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá
determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na
falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe
própria.

* Como a universalidade do juízo da recuperação judicial é mitigada (apenas para


preservar bens e valores imprescindíveis ao sucesso do processo), essas ações
continuam nos juízos onde estão sendo processadas até a apuração do respectivo
crédito, podendo tais juízos determinarem, inclusive, a reserva de importância que
estimarem devida.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Stay period e cconvenção de arbitragem.

Art. 6º (...).
§ 9º O processamento da recuperação judicial ou a decretação
da falência não autoriza o administrador judicial a recusar a
eficácia da convenção de arbitragem, não impedindo ou
suspendendo a instauração de procedimento arbitral.

* O procedimento arbitral segue a mesma regra das ações que


demandam quantia ilíquida e reclamações trabalhistas: o juízo
arbitral define o crédito, que depois será inscrito no quadro
geral de credores (pode também ser determinada reserva de
valor).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Prazo do stay period: antes da reforma.

Art. 6º (...).
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma
excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de
iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

“A extrapolação do prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005 não causa o
automático prosseguimento das ações e das execuções contra a empresa recuperanda, senão quando
comprovado que sua desídia causou o retardamento da homologação do plano de recuperação”.
(AgRg no CC 113.001/DF, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
14/03/2011, DJe 21/03/2011)

“Em homenagem ao princípio da continuidade da sociedade empresarial, o simples decurso do prazo de


180 (cento e oitenta) dias entre o deferimento e a aprovação do plano de recuperação judicial não
enseja retomada das execuções individuais quando à pessoa jurídica, ou seus sócios e administradores,
não se atribui a causa da demora”.
(REsp 1193480/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 05/10/2010,
DJe 18/10/2010)

Enunciado 42 das Jornadas de Direito Comercial: “O prazo de suspensão previsto no art. 6.º, § 4.º, da Lei
11.101/2005 pode excepcionalmente ser prorrogado, se o retardamento do feito não puder ser
imputado ao devedor”.

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Aula 9 - Recuperação judicial

Prazo do stay period: após a reforma.

Art. 6º (...).
§ 4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que
tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo
de 180 (cento e oitenta) dias, contado do deferimento do
processamento da recuperação, prorrogável por igual período, uma
única vez, em caráter excepcional, desde que o devedor não haja
concorrido com a superação do lapso temporal.

* Após a reforma da LFRE, a possibilidade prorrogação do stay period


está expressamente prevista no texto legal. É importante destacar,
porém, que a prorrogação (i) deve dar-se pelo mesmo prazo (180 dias),
(ii) só pode ser determinada uma única vez e (iii) e tem como
pressuposto o fato de o devedor não ter dado causa à extrapolação do
stay period.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Apresentação de plano alternativo pelos credores.

Art. 6º (...).
§ 4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a respeito do plano de
recuperação judicial proposto pelo devedor faculta aos credores a propositura de plano
alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56 desta Lei, observado o seguinte:
I - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo não serão
aplicáveis caso os credores não apresentem plano alternativo no prazo de 30 (trinta) dias,
contado do final do prazo referido no § 4º deste artigo ou no § 4º do art. 56 desta Lei;
II - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão
por 180 (cento e oitenta) dias contados do final do prazo referido no § 4º deste artigo, ou da
realização da assembleia-geral de credores referida no § 4º do art. 56 desta Lei, caso os credores
apresentem plano alternativo no prazo referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo referido
no § 4º do art. 56 desta Lei.

* Segundo alguns doutrinadores, a apresentação de plano de recuperação alternativo pelos


credores já era possível antes da reforma da LFRE, mas não ocorria na prática por dois motivos:
carência de informações e custo de elaboração. Agora, a LFRE prevê expressamente essa
possibilidade, em duas situações distintas: (i) extrapolação do stay period, após sua prorrogação,
sem deliberação sobre o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; e (ii) rejeição do
plano de recuperação judicial pela assembleia geral de credores (art. 56, § 4º)

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Antecipação do stay period.

Art. 6º (...).
§ 12. Observado o disposto no art. 300 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), o juiz poderá antecipar total
ou parcialmente os efeitos do deferimento do processamento da
recuperação judicial.

“O Juízo da recuperação é competente para avaliar se estão presentes


os requisitos para a concessão de tutela de urgência objetivando
antecipar o início do stay period ou suspender os atos expropriatórios
determinados em outros juízos, antes mesmo de deferido o
processamento da recuperação”.
(CC 168.000/AL, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SE-
GUNDA SEÇÃO, julgado em 11/12/2019, DJe 16/12/2019)

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Desistência do pedido de RJ.

Art. 52 (...).
§ 4º O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação
judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se
obtiver aprovação da desistência na assembléia-geral de
credores.

* O objetivo da regra é impedir um comportamento


oportunista do devedor, que poderia pedir recuperação judicial
para se beneficiar do stay period, e depois pedir desistência.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Verificação e habilitação dos créditos.

§ 1º O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial,


que conterá:
I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento
da recuperação judicial;
II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a
classificação de cada crédito;
III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma
do art. 7º , § 1º , desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao
plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art.
55 desta Lei.

* A fim de reduzir os custos com a publicação do edital, pode-se admitir que a


publicação seja feita de forma reduzida, com indicação de um site onde ficam
as informações completas. Após a reforma da lei, que passou a exigir que os
administradores judiciais mantenham um site, esse entendimento se
fortalece.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Procedimento.

- Publicação de edital (art. 52, § 1º, inciso II).

- Habilitações/divergências (art. 7º, § 1º).

- Relação preliminar de credores (art. 7º, § 2º).

- Impugnações (art. 8º).

- Contestação, manifestações e parecer (arts. 11 a 15).

- Agravo de instrumento (art. 17).

- Quadro-geral de credores (arts. 14 e 18).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Habilitações/divergências.

As habilitações e divergências devem conter as informações previstas no art. 9º da LFRE,


e serão apresentadas perante o administrador judicial, que deve “manter endereço
eletrônico específico, para o recebimento de pedidos de habilitação ou a apresentação
de divergências, ambos em âmbito administrativo, com modelos que poderão ser
utilizados pelos credores, salvo decisão judicial em sentido contrário” (art. 22, inciso I,
alínea ‘l’).

“O requerimento de habilitação de crédito não precisa estar lastreado em título executivo,


em razão do caráter cognitivo e contencioso do seu procedimento” (REsp 992.846/PR, Rel.
Min. Antonio Carlos Ferreira, 4.ª Turma, j. 27.09.2011, DJe 03.10.2011).

“São devidos honorários advocatícios nas hipóteses em que o pedido de habilitação de


crédito (...) for impugnado, conferindo litigiosidade ao processo. Precedentes” (REsp
1.197.177/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 03.09.2013, DJe 12.09.2013).

“Na habilitação de crédito regida pelo Decreto-Lei n° 7.661/45 é necessária a


demonstração de origem do crédito, mesmo em se tratando de título de crédito” (AgRg
no Ag 1144332/SP, Rel. Min. Ricardo Villas-Bôas Cueva, 3.ª Turma, j. 20/11/2012, DJe
26/11/2012).

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Aula 9 - Recuperação judicial

Habilitações/divergências retardatárias.

A perda do prazo para a apresentação de habilitação/divergência


não significa que o credor perdeu o direito de fazê-lo: o art. 10 da
LFRE determina que as habilitações, nesse caso, sejam recebidas
como retardatárias, o que trará algumas consequências negativas (§
1º).

- Antes da homologação do quadro-geral de credores:


habilitações/divergências são recebidas como impugnação (art. 10,
§ 5º).

- Após homologação do quadro-geral de credores: será necessário


requerer ao juízo, em ação própria, a retificação do quadro (art. 10,
§ 6º e art. 19).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Ações de retificação (art. 10, § 6º e art. 19).

Tratando-se de recuperação judicial, o STJ decidiu, antes da


reforma da LFRE, que o prazo fatal para a propositura de ação de
retificação é a decisão de encerramento do processo
recuperacional (art. 63): “uma vez homologado o quadro-geral
de credores, a única via para o credor pleitear a habilitação de
seu crédito é a judicial, mediante a propositura de ação
autônoma que tramitará pelo rito ordinário e que deve ser
ajuizada até a prolação da decisão de encerramento do processo
recuperacional” (REsp 1.840.166).
Portanto, encerrada a recuperação judicial por sentença, o STJ
disse que eventuais credores não constantes do quadro-geral
deveriam buscar a satisfação dos seus créditos por outras vias.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Créditos sujeitos aos efeitos da RJ.

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que
não vencidos.

A 3ª e a 4ª Turmas do STJ já tinham vários precedentes afirmando que o importante é que o fato
gerador do crédito seja anterior ao pedido de recuperação judicial, ainda que o seu reconhecimento
seja posterior.

“Precedentes desta Corte Superior, proferidos em demandas relativas a crédito trabalhista e de


responsabilidade civil, no sentido de que a data do fato gerador da obrigação seria o marco temporal
para a sujeição ou não do crédito à recuperação judicial, ainda que a liquidação venha a ocorrer em
data posterior” (AgInt no REsp 1793713/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSE-VERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 08/04/2019, DJe 15/04/2019).

“Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte Superior, a data do fato gerador da obrigação é o
marco temporal para a sujeição ou não do crédito à recuperação judicial, ainda que a liquidação venha
a ocorrer em data posterior. Precedentes do STJ” (AgInt no REsp 1849373/SP, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 04/05/2020, DJe 07/05/2020).

Enunciado 100 das Jornadas de Direito Comercial: “consideram-se sujeitos à recuperação judicial, na
forma do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, os créditos decorrentes de fatos geradores anteriores ao pedido
de recuperação judicial, independentemente da data de eventual acordo, sentença ou trânsito em
julgado”.

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Aula 9 - Recuperação judicial

“Créditos existentes na data do pedido”.

Mas como nem todos seguiam o entendimento do STJ, a questão foi afetada a julgamento da 2ª Seção, sob a
sistemática dos recursos repetitivos:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CRÉDITO. EXISTÊNCIA.


SUJEIÇÃO AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ART. 49, CAPUT, DA LEI Nº 11.101/2005. DATA DO FATO
GERADOR. (...)
2. Ação anulatória e de reparação de danos pela inclusão indevida em cadastro restritivo de crédito. Discussão
acerca da sujeição do crédito aos efeitos da recuperação judicial.
3. Diante da opção do legislador de excluir determinados credores da recuperação judicial, mostra-se
imprescindível definir o que deve ser considerado como crédito existente na data do pedido, ainda que não
vencido, para identificar em quais casos estará ou não submetido aos efeitos da recuperação judicial.
4. A existência do crédito está diretamente ligada à relação jurídica que se estabelece entre o devedor e o
credor, o liame entre as partes, pois é com base nela que, ocorrido o fato gerador, surge o direito de exigir a
prestação (direito de crédito).
5. Os créditos submetidos aos efeitos da recuperação judicial são aqueles decorrentes da atividade do
empresário antes do pedido de soerguimento, isto é, de fatos praticados ou de negócios celebrados pelo
devedor em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, excetuados aqueles expressamente
apontados na lei de regência.
6. Em atenção ao disposto no art. 1.040 do CPC/2015, fixa-se a seguinte tese: Para o fim de submissão aos
efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é determinada pela data em que
ocorreu o seu fato gerador.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1840531/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CU-EVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/12/2020, DJe
17/12/2020)

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Aula 9 - Recuperação judicial

Estão sujeitos “todos os créditos”?

Art. 49 (...).
§ 3º. Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou
imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade,
inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com
reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e
prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,
observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
§ 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o
inciso II do art. 86 desta Lei.

* Trata-se, basicamente, de créditos titularizados por bancos, que nesse caso são “credores
proprietários”. A LFRE deu tratamento privilegiado a esses créditos, determinando que eles
não se submetem aos efeitos da recuperação judicial. O objetivo foi dar mais segurança ao
crédito bancário no Brasil, e com isso tentar diminuir os juros dessas operações (o chamado
spread). Na reforma da LFRE, foi inserido o § 7º-A no art. 6º, que segue no mesmo sentido
da parte final do § 3º do art. 49 (proteção de bens de capital essenciais).

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O que são travas bancárias?

“Quando se trata de cessão fiduciária de recebíveis futuros, o


devedor deverá abrir uma conta bancária na instituição
financiadora, na qual deverão ser depositados esses recebíveis,
constituindo-se a garantia do financiamento. Caso a empresa
descumpra sua obrigação de pagar as parcelas do financiamento, a
instituição financeira bloqueia seu acesso à referida conta bancária
e passa a retirar os valores lá depositados para a quitação do
financiamento. Essa é a conhecida trava bancária” (COSTA, Daniel
Carnio e MELO, Alexandre Correa Nasser de. Comentários à Lei de
Recuperação de Empresas e Falência, art. 49 «in» JuruáDocs n.
201.2281.1996.4174. Disponível em: <www.juruadocs.com>.
Acesso em: 13/03/2021).

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Travas bancárias: primeiros precedentes do STJ.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONTRATO DE CESSÃO FIDUCIÁRIA DE DUPLICATAS.


INCIDÊNCIA DA EXCEÇÃO DO ART. 49, § 3º DA LEI 11.101/2005. ART. 66-B, § 3º DA LEI 4.728/1965.
1. Em face da regra do art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos da
recuperação judicial os créditos garantidos por cessão fiduciária.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1.263.500/ES, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
05/02/2013, DJe 12/04/2013)
* Esse precedente saiu no Informativo 514 do STJ

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CÉDULA DE CRÉDITO GARANTIDA POR CESSÃO


FIDUCIÁRIA DE DIREITOS CREDITÓRIOS. NATUREZA JURÍDICA. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA. NÃO
SUJEIÇÃO AO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. "TRAVA BANCÁRIA".
1. A alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis,
bem como de títulos de crédito, possuem a natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se
sujeitando aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005.
2. Recurso especial não provido.
(REsp 1.202.918/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/03/2013, DJe 10/04/2013)
* Esse precedente saiu no Informativo 518 do STJ

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Travas bancárias: desnecessidade de indicar os títulos no contrato.

Ainda sobre o assunto das travas bancárias, mas dessa vez analisando uma
questão formal, a 3ª Turma do STJ, no julgamento do REsp 1.797.196, decidiu que
“no caso de cessão fiduciária de direitos creditórios, para a consumação do
negócio fiduciário, que exclui o respectivo credor dos efeitos da recuperação
judicial (art. 49, § 3º da Lei 11.101/2005), o contrato deve indicar, de maneira
precisa, o crédito objeto de cessão, mas não o título representativo desse crédito,
que pode não ter sido sequer emitido ainda”.

“A exigência de especificação do título representativo do crédito, como requisito


formal à conformação do negócio fiduciário, além de não possuir previsão legal - o
que, por si, obsta a adoção de uma interpretação judicial ampliativa - cede a uma
questão de ordem prática incontornável. Por ocasião da realização da cessão
fiduciária, afigura-se absolutamente possível que o título representativo do crédito
cedido não tenha sido nem sequer emitido, a inviabilizar, desde logo, sua
determinação no contrato” (item 4 da ementa do acórdão).

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Travas bancárias: desnecessidade de registro do contrato em cartório.

Ainda acerca de questões formais, a 3ª e a 4ª Turmas do STJ, em casos


sobre direitos de crédito cedidos fiduciariamente, já firmaram posição no
sentido da desnecessidade do registro do contrato em cartório para a não
sujeição dos respectivos créditos aos efeitos da recuperação judicial do
devedor (REsp 1.412.529, REsp 1.592.647 e REsp 1.529.314).

“A constituição da propriedade fiduciária, oriunda de cessão fiduciária de


direitos sobre coisas móveis e de títulos de crédito, dá-se a partir da
própria contratação, afigurando-se, desde então, plenamente válida e
eficaz entre as partes. A consecução do registro do contrato, no tocante à
garantia ali inserta, afigura-se relevante, quando muito, para produzir
efeitos em relação a terceiros, dando-lhes a correlata publicidade” (item
3.1 da ementa de um dos acórdãos).

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Travas bancárias: a questão dos bens de capital essenciais.

Quando o objeto da cessão/alienação fiduciária são créditos futuros (recebíveis)


da empresa recuperanda, é possível aplicar a parte final do art. 49, § 3º da LRE,
afastando a “trava bancária”? Podemos caracterizar esses recebíveis como bens
de capital essenciais à atividade empresarial do devedor?
A 3ª Turma do STJ decidiu que não (REsp 1.758.746). Entendeu-se que “o bem,
para se caracterizar como bem de capital, precisa ser utilizado no processo
produtivo da empresa, já que necessário ao exercício da atividade econômica
exercida pelo empresário”. Entendeu-se ainda que “o bem, para tal categorização,
há de se encontrar na posse da recuperanda, porquanto, como visto, utilizado em
seu processo produtivo”. Finalmente, entendeu-se que “não se pode atribuir tal
qualidade (bem de capital) a um bem cuja utilização signifique o próprio
esvaziamento da garantia fiduciária”.
Em suma: decidiu-se que, para ser bem de capital, o bem deve ser corpóreo, se
encontrar na posse direta do devedor e não ser perecível nem consumível, de
modo que possa ser entregue ao titular da propriedade fiduciária, caso persista a
inadimplência, ao final do stay period.

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Adiantamento a contrato de câmbio.

“O exportador se compromete a entregar mercadorias ao comprador situado no exterior. Este, por


sua vez, se compromete a pagar-lhe o valor das mercadorias. O pagamento é feito, geralmente,
em moeda de curso internacional, como o dólar norte-americano ou, eventualmente, o euro.
Como visto anteriormente, o exportador é obrigado, pela lei brasileira, a adquirir moeda nacional
(utilizando, como meio de pagamento, a estrangeira) de uma instituição financeira, mediante a
celebração de contrato de câmbio. Evidentemente, a venda ao exterior é contratada algum tempo
antes da entrega da mercadoria e liberação do pagamento – que se faz, em geral, por crédito
documentário mediado por instituições financeiras. Por vezes, passam-se vários meses entre a
contratação da exportação e sua execução. Nesse período, o exportador que precisa de
financiamento pode obtê-lo numa operação de ACC (antecipação de crédito derivado de contrato
de câmbio). Ele procura o banco e celebra, desde logo, o contrato de câmbio. O banco, então,
antecipa ao exportador o dinheiro nacional (que este último será obrigado a adquirir) e fica sendo
o credor da moeda estrangeira a ser entregue pelo estrangeiro comprador das mercadorias
(melhor, pela instituição financeira contratada pelo estrangeiro comprador das mercadorias para
emitir a carta de crédito). Em termos singelos, a garantia do banco, na operação de ACC, é a
solvência da instituição financeira contratada pelo estrangeiro comprador das mercadorias para
emitir a carta de crédito. A antecipação, claro, é operação financeira lucrativa para o banco: o
valor antecipado ao exportador é sempre menor que o mencionado na carta de crédito” (COELHO,
Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas - Ed. 2021).

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Tratamento do ACC na Lei 11.101/2005.

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: (...)


II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de
adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e 4º,
da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive
eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade
competente.

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do
pedido, ainda que não vencidos. (...)
§ 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere
o inciso II do art. 86 desta Lei.

* O ACC recebe um tratamento especial da legislação falimentar: em caso de falência,


o banco credor não se sujeita ao procedimento de habilitação, recebendo seu crédito
por meio de pedido de restituição em dinheiro (art. 86, II da Lei 11.101/2005); em caso
de recuperação judicial, o valor objeto do negócio não se sujeita aos efeitos do plano
(art. 49, § 4º da mesma lei).

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Força normativa do art. 49, § 4º da Lei 11.101/2005.

O STJ, no julgamento do REsp 1.279.525, reconheceu a não sujeição de créditos


oriundos de ACC ao plano de recuperação judicial, em caso no qual mais da metade
das dívidas da empresa recuperanda se referiam a ACC, o que a fez alegar que a regra
do art. 49, § 4º violaria a norma programática do art. 47 da Lei 11.101/2005.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ADIANTAMENTO A CONTRATO DE


CÂMBIO - ACC. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. ARTS. 47 e 49, § 4°, DA LEI N° 11.101/05.
1. As execuções de títulos de adiantamento a contrato de câmbio - ACC não se sujeitam
aos efeitos da recuperação judicial (art. 49, § 4°, da Lei n° 11.101/05). Precedentes.
2. Sem declaração de inconstitucionalidade, as regras da Lei n° 11.101/05 sobre as
quais não existem dúvidas quanto às hipóteses de aplicação, não podem ser afastadas
a pretexto de se preservar a empresa.
3. Recurso especial provido.
(REsp 1.279.525/PA, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 07/03/2013, DJe 13/03/2013)

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Encargos do ACC na recuperação judicial.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. IMPUGNAÇÃO DE CRÉDITO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. ADIANTAMENTO DE CONTRATOS DE CÂMBIO (ACCs). ENCARGOS.
SUJEIÇÃO AO PROCESSO DE SOERGUIMENTO. AUSÊNCIA DE REGRA ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. RISCO DE DECISÕES CONFLITANTES. INEXISTÊNCIA. (...)
2. O propósito recursal, além de verificar se houve negativa de prestação jurisdicional, é definir se os
encargos derivados de adiantamento de contratos de câmbio se submetem aos efeitos da recuperação
judicial da devedora.
3. Muito embora os arts. 49, § 4º, e 86, II, da Lei 11.101/05 estabeleçam a extraconcursalidade dos
créditos referentes a adiantamento de contratos de câmbio, há de se notar que tais normas não
dispõem, especificamente, quanto à destinação que deva ser conferida aos encargos incidentes sobre o
montante adiantado ao exportador pela instituição financeira.
4. Inexistindo regra expressa a tratar da questão, a hermenêutica aconselha ao julgador que resolva a
controvérsia de modo a garantir efetividade aos valores que o legislador privilegiou ao editar o diploma
normativo.
5. Como é cediço, o objetivo primordial da recuperação judicial, estampado no art. 47 da Lei 11.101/05,
é viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.
6. A sujeição dos valores impugnados aos efeitos do procedimento recuperacional é a medida que mais
se coaduna à finalidade retro mencionada, pois permite que a empresa e seus credores, ao negociar as
condições de pagamento, alcancem a melhor saída para a crise enfrentada.
(REsp 1.810.447/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe
22/11/2019)
* Houve voto divergente do Ministro Bellizze, muito mais bem fundamentado do que o voto vencedor.

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PRJ: apresentação pelo devedor.

Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo


devedor em juízo (...).

* A elaboração do plano de recuperação cabe ao devedor. No


entanto, vale lembrar que a LFRE, após a reforma provocada
pela Lei 14.112/2020, passou a permitir que os credores
apresentem plano alternativo em duas situações: (i)
extrapolação do stay period sem deliberação e (ii) rejeição
pela AGC.

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Prazo de apresentação do plano.

Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em


juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da
decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena
de convolação em falência, (...).

“A forma de contagem do prazo - de 180 dias de suspensão das ações


executivas e de 60 dias para a apresentação do plano de recuperação
judicial - em dias corridos é a que melhor preserva a unidade lógica da
recuperação judicial: alcançar, de forma célere, econômica e efetiva, o
regime de crise empresarial, seja pelo soerguimento econômico do
devedor e alívio dos sacrifícios do credor, na recuperação, seja pela
liquidação dos ativos e satisfação dos credores, na falência” (REsp
1.699.528/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 10/04/2018, DJe 13/06/2018).

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Conteúdo do plano.

Art. 53. O plano de recuperação (...) deverá conter:


I – discriminação pormenorizada* dos meios de recuperação a ser empregados,
conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo;
II – demonstração de sua viabilidade econômica**; e
III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor***,
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

* Não deve ser admitida a apresentação genérica dos meios de recuperação. Em


caso de consolidação, atentar para os arts. 69-I, § 1º e 69-L.

** O devedor deve demonstrar que a recuperação judicial será melhor do que


eventual falência, mas não cabe ao juiz fazer essa análise, e sim aos credores,
quando do exercício do voto na assembleia geral.

*** O laudo será fundamental para que os credores façam a referida análise de
viabilidade econômica, isto é, se a recuperação judicial será melhor do que
eventual falência.

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Meios de recuperação: rol exemplificativo.

Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros:
I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas;
II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou
ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;
III – alteração do controle societário;
IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos;
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às
matérias que o plano especificar;
VI – aumento de capital social;
VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados;
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva;
IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de
terceiro;
X – constituição de sociedade de credores;
XI – venda parcial dos bens;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da
distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do
disposto em legislação específica;
XIII – usufruto da empresa;
XIV – administração compartilhada;
XV – emissão de valores mobiliários;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do
devedor.
XVII - conversão de dívida em capital social;
XVIII - venda integral da devedora, desde que garantidas aos credores não submetidos ou não aderentes condições, no
mínimo, equivalentes àquelas que teriam na falência, hipótese em que será, para todos os fins, considerada unidade
produtiva isolada.

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Parcelamento de créditos trabalhistas/acidentários.

Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento
dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a
data do pedido de recuperação judicial.
§ 1º. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite
de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos
nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.
§ 2º O prazo estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido em até 2 (dois) anos, se o plano
de recuperação judicial atender aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I - apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz;
II - aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de
acidentes de trabalho, na forma do § 2º do art. 45 desta Lei; e
III - garantia da integralidade do pagamento dos créditos trabalhistas.

* Pode o PRJ prever um deságio para os créditos trabalhistas? Na TP 2.778, o Ministro Cueva entendeu
que sim: o TJ tinha declarado a nulidade de uma cláusula que previu deságio de 60% para os créditos
trabalhistas, sob o fundamento de que não houve “participação do sindicato dos trabalhadores” (art. 50,
VIII da LFRE), mas Cueva afirmou que “não existe, a princípio, óbice para o pagamento do crédito
trabalhista com deságio, tampouco se exige a presença do sindicato dos trabalhadores para validade da
votação implementada pela assembleia geral de credores”.

** Existem créditos que são equiparados a trabalhistas: comissões de representantes comerciais (art. 44
da Lei 4.886/1965), honorários de profissionais liberais (REsp 1.152.218 e 1.851.770) e créditos que
tenham natureza alimentar (REsp 1.799.041).

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Supressão de garantias: panorama da discussão.

- A concessão da RJ acarreta novação, “sem prejuízo das garantias” (art. 59).

- A supressão de garantia real depende de anuência expressa (art. 50, § 1º).

- Os credores conservam seus direitos contra garantidores (art. 49, § 1º).

- REsp repetitivo 1.333.349: a RJ não produz efeitos contra garantidores.

- Súmula 581 do STJ.

* Mas poderia um plano de recuperação estipular a supressão de garantias,


considerando natureza negocial da recuperação judicial e a soberania da
assembleia geral de credores? E mais: nesse caso, a supressão se daria
apenas em relação aos credores que com ela consentiram expressamente na
assembleia que deliberou a aprovação do plano, ou se estenderia aos
credores ausentes e dissidentes?

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Supressão de garantias no STJ.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO.


NOVAÇÃO. EXTENSÃO. COOBRIGADOS. IMPOSSIBILIDADE. GARANTIAS. SUPRESSÃO OU
SUBSTITUIÇÃO. CONSENTIMENTO. CREDOR TITULAR. NECESSIDADE.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil
de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se a cláusula do plano de recuperação judicial que prevê a
supressão das garantias reais e fidejussórias pode atingir os credores que não manifestaram sua
expressa concordância com a aprovação do plano.
3. A cláusula que estende a novação aos coobrigados é legítima e oponível apenas aos credores
que aprovaram o plano de recuperação sem nenhuma ressalva, não sendo eficaz em relação aos
credores ausentes da assembleia geral, aos que abstiveram-se de votar ou se posicionaram contra
tal disposição.
4. A anuência do titular da garantia real é indispensável na hipótese em que o plano de
recuperação judicial prevê a sua supressão ou substituição.
5. Recurso especial interposto Tonon Bionergia S.A., Tonon Holding S.A. e Tonon Luxemborg S.A.
não provido. Agravo em recurso especial interposto por CCB BRASIL - China Construction Bank
(Brasil) Banco Múltiplo não conhecido.
(REsp 1794209/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
12/05/2021, DJe 29/06/2021)

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Art. 60, parágrafo único: antes da reforma.

Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou
de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o
disposto no art. 142 desta Lei.
Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão
do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o
disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 60, PARÁGRAFO ÚNICO, 83, I E IV, c, E


141, II, DA LEI 11.101/2005. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA
AOS ARTIGOS 1º, III E IV, 6º, 7º, I, E 170, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988. ADI JULGADA
IMPROCEDENTE.
(...)
II - Não há, também, inconstitucionalidade quanto à ausência de sucessão de créditos
trabalhistas.
(...)
V - Ação direta julgada improcedente.
(ADI 3934, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009,
DJe-208 DIVULG 05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-02 PP-00374 RTJ VOL-
00216-01 PP-00227)

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Art. 60, parágrafo único: após a reforma.

Art. 60, parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá
sucessão do arrematante nas obrigações do devedor de qualquer natureza, incluídas, mas
não exclusivamente, as de natureza ambiental, regulatória, administrativa, penal,
anticorrupção, tributária e trabalhista, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

“A despeito do veto, a redação original do dispositivo já permite exatamente essa


interpretação do texto. Ainda que não tenha sido a lei expressa quanto à sucessão das
obrigações ambientais, administrativas, penais, anticorrupção e trabalhistas, determinou-
se que não haverá sucessão do arrematante em nenhuma obrigação, de modo que todas
essas, juntamente com as tributárias, estão incluídas” (SACRAMONE, Marcelo Barbosa.
Comentários à lei de recuperação de empresas e falência. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021,
p. 343-344).
* O veto foi derrubado.

Enunciado 104 das Jornadas de Direito Comercial: “não haverá sucessão do adquirente de
ativos em relação a penalidades pecuniárias aplicadas ao devedor com base na Lei n.
12.846/2013 (Lei Anticorrpução), quando a alienação ocorrer com fundamento no art. 60
da Lei 11.101/2005”.

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Objeções dos credores ao PRJ.

Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano
de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação
da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei.
Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o
caput deste artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53,
parágrafo único, desta Lei, contar-se-á da publicação deste o prazo para as
objeções.

* Esse prazo deve ser contado em dias corridos, por expressa


determinação do art. 189, § 1º, inciso I da LFRE (redação dada pela Lei
14.112/2020). Quanto à contagem, ela só será iniciada a partir da
publicação do edital que avisa sobre o recebimento do plano de
recuperação judicial SE já tiver sido publicada a relação de credores de
que trata o art. 7º, § 2º.

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Convocação da AGC.

Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz
convocará* a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano de
recuperação.
§ 1º A data designada para a realização da assembléia-geral não excederá 150 (cento e
cinqüenta) dias** contados do deferimento do processamento da recuperação
judicial.

* Em princípio, não cabe ao juiz analisar o conteúdo das objeções, mas apenas
convocar a AGC. No entanto, há quem defenda a possibilidade de o juiz indeferir
objeções não fundamentadas, por exemplo.

* A previsão desse prazo de 150 dias para a realização da AGC teve o objetivo de
assegurar que a deliberação dos credores sobre o PRJ ocorreria dentro do stay period,
mas na prática esse prazo quase nunca é respeitado, em razão da morosidade do
processo judicial. A propósito, foi por isso que se firmou jurisprudência pela
possibilidade de prorrogação do stay period, apesar de a redação original da LFRE ter
sido clara quanto à impossibilidade dessa prorrogação (com a reforma da LFRE, a
prorrogação passou a ser expressamente permitida, uma única vez).

@prof.andresantacruz
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Aprovação do PRJ.

Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de
credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.
§ 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta
deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos
créditos presentes à assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores
presentes.
§ 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser
aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de
seu crédito.
§ 3º O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de
quórum de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as
condições originais de pagamento de seu crédito.

* Nas classes dos credores com garantia real e dos credores quirografários, subordinados e
com privilégios, a votação se dá por valor do crédito e por cabeça, mas nas classes dos
credores trabalhistas/acidentários e dos credores que são ME/EPP a votação se dá apenas
por cabeça, valendo lembrar que, em qualquer classe, o credor que não tiver seu crédito
alterado não terá direito de voto nem será considerado para fins de verificação de quórum.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Aprovação com alterações e rejeição do PRJ.

Art. 56 (...).
§ 3º O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembléia-geral, desde
que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem diminuição
dos direitos exclusivamente dos credores ausentes.
§ 4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial submeterá, no ato,
à votação da assembleia-geral de credores a concessão de prazo de 30 (trinta) dias para
que seja apresentado plano de recuperação judicial pelos credores.
§ 5º A concessão do prazo a que se refere o § 4º deste artigo deverá ser aprovada por
credores que representem mais da metade dos créditos presentes à assembleia-geral de
credores.
§ 8º Não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º deste artigo, ou rejeitado o plano de
recuperação judicial proposto pelos credores, o juiz convolará a recuperação judicial em
falência.

* Os credores podem (i) aprovar o plano de recuperação judicial tal como proposto pelo
devedor, (ii) aprovar o plano de recuperação judicial com alterações (desde que o devedor
concorde e que não seja causado prejuízo exclusivo aos credores ausentes) ou (iii) rejeitar o
plano de recuperação judicial. Neste último caso, a LFRE, em sua redação original, previa a
convolação da recuperação em falência, mas após a reforma há a possibilidade de a AGC
conferir prazo para que os credores apresentação plano alternativo.
@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Deliberação por termo de adesão.

Art. 39 (...).
§ 4º Qualquer deliberação prevista nesta Lei a ser realizada por meio de assembleia-geral de
credores poderá ser substituída, com idênticos efeitos, por:
I - termo de adesão firmado por tantos credores quantos satisfaçam o quórum de aprovação
específico, nos termos estabelecidos no art. 45-A desta Lei;

Art. 45-A. As deliberações da assembleia-geral de credores previstas nesta Lei poderão ser
substituídas pela comprovação da adesão de credores que representem mais da metade do valor
dos créditos sujeitos à recuperação judicial, observadas as exceções previstas nesta Lei.
§ 1º Nos termos do art. 56-A desta Lei, as deliberações sobre o plano de recuperação judicial
poderão ser substituídas por documento que comprove o cumprimento do disposto no art. 45
desta Lei.

Art. 56-A. Até 5 (cinco) dias antes da data de realização da assembleia-geral de credores
convocada para deliberar sobre o plano, o devedor poderá comprovar a aprovação dos credores
por meio de termo de adesão, observado o quórum previsto no art. 45 desta Lei, e requerer a sua
homologação judicial.

* Os credores aderentes devem representar a maioria de cada classe, obedecendo-se à forma de


contagem estabelecida nos parágrafos do art. 45.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Cram down.

Art. 58 (...).
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação
na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido, de forma
cumulativa:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos
presentes à assembleia, independentemente de classes;
II - a aprovação de 3 (três) das classes de credores ou, caso haja somente 3 (três) classes com
credores votantes, a aprovação de pelo menos 2 (duas) das classes ou, caso haja somente 2
(duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas, sempre nos
termos do art. 45 desta Lei;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores,
computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.
§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste artigo se o
plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.

* No Brasil, o cram down está previso no art. 58, §§ 1º e 2º da Lei 11.101/2005, e a expressão tem
sido traduzida como “goela abaixo”, justamente por se referir a uma situação em que o juízo da
recuperação judicial impõe aos credores um plano não aprovado, nos termo da lei (art. 45), por
todas as classes de credores (art. 41) da assembleia geral.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Aplicação do cram down no Brasil.

Na prática, o cram down brasileiro acaba sendo um quórum alternativo para


aprovação do plano de recuperação, e em muitas situações os juízes acabam
concedendo a recuperação judicial mesmo quando não obtidos sequer os quóruns
para o cram down.

“No Brasil, o cram down funciona como um mero abrandamento do quórum de


aprovação do Plano de Recuperação Judicial. Isto é, se no trâmite regular de uma
Recuperação Judicial, o quórum necessário para aprovar o Plano apresentado pelo
devedor é de “X” (art. 45 da LREF), no âmbito de um cram down, por outro lado, o
quórum passa a ser “X-Y” (art. 58, §1º da LREF). Essa fórmula, porém, frequentemente
é excepcionada pelo Poder Judiciário, que, ao julgar a pertinência de homologar ou
não determinado Plano de Recuperação Judicial, acaba abrandando o próprio quórum
de cram down (cujo papel já era tornar menos árdua a aprovação do Plano) em nome
do princípio da preservação da empresa, passando a utilizar um quórum “X-Y-Z” para
evitar que se percam empregos, consumo, serviços, tributos” (GABIROTTI, Gabriel.
Vale a pena mantermos o 'cram down' à brasileira? | JOTA Info).

* Ver REsp 1.337.989.

@prof.andresantacruz
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Exigência de CND antes da concessão da RJ.

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela


assembleia-geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art.
55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresentará
certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 151,
205, 206 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código
Tributário Nacional.

Art. 68: As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro Social


– INSS poderão deferir, nos termos da legislação específica,
parcelamento de seus créditos, em sede de recuperação judicial, de
acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1966 – Código Tributário Nacional.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Enquanto o art. 68 não foi regulamentado...

Enunciado 55 das Jornadas de Direito Comercial: “o parcelamento do crédito


tributário na recuperação judicial é um direito do contribuinte, e não uma
faculdade da Fazenda Pública, e, enquanto não for editada lei específica, não
é cabível a aplicação do disposto no art. 57 da Lei n. 11.101/2005 e no
art.191-A do CTN”.

“O parcelamento tributário é direito da empresa em recuperação judicial que


conduz a situação de regularidade fiscal, de modo que eventual
descumprimento do que dispõe o art. 57 da LRF só pode ser atribuído, ao
menos imediatamente e por ora, à ausência de legislação específica que
discipline o parcelamento em sede de recuperação judicial, não constituindo
ônus do contribuinte, enquanto se fizer inerte o legislador, a apresentação de
certidões de regularidade fiscal para que lhe seja concedida a recuperação”
(REsp 1187404/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL,
julgado em 19/06/2013, DJe 21/08/2013).

@prof.andresantacruz
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Depois da regulamentação do art. 68...

Em 2014 foi criado o parcelamento específico para devedores que pediam recuperação
judicial (Lei 13.043/2014, cujo art. 43 acresceu o art. 10-A na Lei 10.522/2002): os débitos
com a Fazenda Nacional podiam ser divididos em 84 parcelas mensais e consecutivas.
Ocorre que muitos juízes ainda continuaram entendendo que a exigência de CND devia ser
afastada, não sendo raro que reconhecessem, em controle difuso, a sua
inconstitucionalidade.

“O parcelamento instituído pela Lei 13.043/2014, na contramão do quanto disposto acima,


determina um tratamento jurídico-tributário uniforme para todos os empresários que se
sujeitem à recuperação judicial, independentemente de quaisquer critérios ou
circunstâncias que permitam apurar diferenças resultantes da complexidade de operações
ou estruturas de empreendimentos. O mesmo parcelamento será empregado para
empresários diversos, independentemente das particularidades das atividades exercidas, o
que contraria a isonomia material buscada pela Constituição Federal. Por tais fundamentos,
pronuncio a inconstitucionalidade do art. 43 da Lei 13.043/2014, para se afastar as
exigências previstas nos arts. 57 e 68 da Lei 11.101/2005, diante a ausência de diploma
jurídico válido necessário ao cumprimento de tais obrigações” (sentença do caso
Odebrecht).

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REsp 1.864.625.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. ART. 57 DA LEI 11.101/05 E ART. 191-A DO
CTN. EXIGÊNCIA INCOMPATÍVEL COM A FINALIDADE DO INSTITUTO. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E FUNÇÃO SOCIAL. APLICAÇÃO
DO POSTULADO DA PROPORCIONALIDADE. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DA LEI 11.101/05.
1. Recuperação judicial distribuída em 18/12/2015. Recurso especial interposto em 6/12/2018. Autos conclusos à Relatora em 30/1/2020.
2. O propósito recursal é definir se a apresentação das certidões negativas de débitos tributários constitui requisito obrigatório para
concessão da recuperação judicial do devedor.
3. O enunciado normativo do art. 47 da Lei 11.101/05 guia, em termos principiológicos, a operacionalidade da recuperação judicial,
estatuindo como finalidade desse instituto a viabilização da superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da
empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Precedente.
4. A realidade econômica do País revela que as sociedades empresárias em crise usualmente possuem débitos fiscais em aberto, podendo-se
afirmar que as obrigações dessa natureza são as que em primeiro lugar deixam de ser adimplidas, sobretudo quando se considera a elevada
carga tributária e a complexidade do sistema atual.
5. Diante desse contexto, a apresentação de certidões negativa de débitos tributários pelo devedor que busca, no Judiciário, o soerguimento
de sua empresa encerra circunstância de difícil cumprimento.
6. Dada a existência de aparente antinomia entre a norma do art. 57 da LFRE e o princípio insculpido em seu art. 47 (preservação da
empresa), a exigência de comprovação da regularidade fiscal do devedor para concessão do benefício recuperatório deve ser interpretada à
luz do postulado da proporcionalidade.
7. Atuando como conformador da ação estatal, tal postulado exige que a medida restritiva de direitos figure como adequada para o fomento
do objetivo perseguido pela norma que a veicula, além de se revelar necessária para garantia da efetividade do direito tutelado e de guardar
equilíbrio no que concerne à realização dos fins almejados (proporcionalidade em sentido estrito).
8. Hipótese concreta em que a exigência legal não se mostra adequada para o fim por ela objetivado - garantir o adimplemento do crédito
tributário -, tampouco se afigura necessária para o alcance dessa finalidade: (i) inadequada porque, ao impedir a concessão da recuperação
judicial do devedor em situação fiscal irregular, acaba impondo uma dificuldade ainda maior ao Fisco, à vista da classificação do crédito
tributário, na hipótese de falência, em terceiro lugar na ordem de preferências; (ii) desnecessária porque os meios de cobrança das dívidas de
natureza fiscal não se suspendem com o deferimento do pedido de soerguimento. Doutrina.
9. Consoante já percebido pela Corte Especial do STJ, a persistir a interpretação literal do art. 57 da LFRE, inviabilizar-se-ia toda e qualquer
recuperação judicial (REsp 1.187.404/MT).
10. Assim, de se concluir que os motivos que fundamentam a exigência da comprovação da regularidade fiscal do devedor (assentados no
privilégio do crédito tributário), não tem peso suficiente - sobretudo em função da relevância da função social da empresa e do princípio que
objetiva sua preservação - para preponderar sobre o direito do devedor de buscar no processo de soerguimento a superação da crise
econômico-financeira que o acomete.
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
(REsp 1864625/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/2020, DJe 26/06/2020)
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Rcl 43.169.

A decisão do STJ teve seus efeitos sobrestados por decisão liminar do


Ministro Luiz Fux, do STF, proferida na Rcl 43.169. Segundo ele, o afastamento
da exigência de CND, prevista no art. 57 da LRE, exigiria o respeito à cláusula
de reserva de plenário (art. 97 da CF/88), o que não ocorreu (Súmula
Vinculante 10).
Essa liminar, porém, durou pouco: o Ministro Dias Toffoli a derrubou e negou
seguimento à reclamação da União, sob o fundamento de que “a controvérsia
relativa à exigência de apresentação de CND na forma do art. 57 da Lei
11.101/2005 é eminentemente infraconstitucional, como já decidiu o
Plenário da Corte em sede de controle concentrado, nos autos da ADC 46”.
Sendo infraconstitucional a controvérsia, concluiu Toffoli, o julgamento da 3ª
Turma do STJ foi legítimo e não ofendeu diretamente a cláusula de reserva de
plenário e a Súmula Vinculante 10: “o que fez a 3ª Turma do STJ foi olhar a
teleologia da Lei 11.101/2005, como um todo, e procurar a solução que
apresentava menor restrição possível às normas legais que nortearam o
instituto da recuperação judicial”.

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Após a reforma da LFRE provocada pela Lei 14.112/2020...

- Alteração do art. 10-A da Lei 10.522/2002: o parcelamento pode ser feito em mais
prestações, o escalonamento das parcelas ficou mais vantajoso e se admitiu o uso de
prejuízo fiscal e base de cálculo negativa para liquidação de parte da dívida.

- Transação tributária (art. 10-C na Lei 10.522/2002): o devedor que pede recuperação
judicial pode propor transação tributária, com prazo máximo de quitação de até 120
meses e reduções de até 70%.

- Como juízos e tribunais agirão após a entrada em vigor dessas novas regras?

- Caso se exija CND, qual a consequência da sua não apresentação? O juiz deve (i)
convolar a recuperação em falência ou (ii) extinguir o processo, sem decretação da
falência?

Opinião: o ideal seria a revogação do art. 57 da LFRE, até porque a reforma da lei
reforçou a regra de que a execução fiscal não se suspende e pode ensejar a constrição
de bens, com ressalva apenas dos bens de capital essenciais à manutenção da
empresa (art. 6º, § 7º-B).

@prof.andresantacruz
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Situações que permitem a concessão da recuperação judicial.

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação


judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos
termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral
de credores na forma dos arts. 45 ou 56-A desta Lei.

- Aprovação tácita (ausência de objeções).


- Aprovação pela AGC (plano do devedor ou plano dos credores).
- Aplicação do cram down pelo juiz.

*Criou-se uma prática (não prevista em lei) de “homologação judicial” do


plano de recuperação, antes da concessão do benefício legal. É nesse
momento em que o juiz faz o tal “controle de legalidade” da deliberação e
das cláusulas estipuladas (ver os enunciados 44, 45 e 46 das Jornadas de
Direito Comercial).

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Concessão da RJ e novação dos créditos sujeitos.

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o
devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do
art. 50 desta Lei.

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CRÉDITO CONCURSAL.


NECESSIDADE DE HABILITAÇÃO DO CRÉDITO NO QUADRO GERAL DE CREDORES DA SOCIEDADE EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. FACULDADE DO CREDOR PRETERIDO.
1. O titular do crédito que for voluntariamente excluído do plano recuperacional, detém a prerrogativa
de decidir entre habilitar o seu crédito ou promover a execução individual após finda a recuperação.
2. De fato, se a obrigação não for abrangida pelo acordo recuperacional, ficando suprimida do plano,
não haverá falar em novação, excluindo-se o crédito da recuperação, o qual, por conseguinte, poderá ser
satisfeito pelas vias ordinárias (execução ou cumprimento de sentença).
3. Caso o credor excluído tenha optado pela execução individual, ficará obrigado a aguardar o
encerramento da recuperação judicial e assumir as consequências jurídicas (processuais e materiais) de
sua escolha para só então dar prosseguimento ao feito, em consonância com o procedimento
estabelecido pelo CPC.
4. Na hipótese, tendo o credor sido excluído do plano recuperacional e optado por prosseguir com o
processo executivo, não poderá ser ele obrigado a habilitar o seu crédito.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1851692/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/05/2021, DJe
29/06/2021)

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Concessão da RJ: constituição de título executivo e recurso cabível.

Art. 59 (...).
§ 1º A decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá
título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III, do caput da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
§ 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá
agravo, que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo
Ministério Público.
§ 3º Da decisão que conceder a recuperação judicial serão intimadas
eletronicamente as Fazendas Públicas federal e de todos os Estados,
Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Concessão da RJ: período de fiscalização judicial.

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá
determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam
cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no
máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial,
independentemente do eventual período de carência.

“É possível, e comum, que o plano de recuperação preveja obrigações ou


medidas recuperacionais que perdurarão por um tempo posterior ao
encerramento do processo. O plano deverá continuar sendo cumprido, mas a
fiscalização, agora, será de exclusiva responsabilidade dos credores, e não
mais do administrador judicial” (COSTA, Daniel Carnio e MELO, Alexandre
Correa Nasser de. Co-mentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência,
art. 63 «in» JuruáDocs n. 201.2281.1746.9515. Disponível em:
<www.juruadocs.com>. Acesso em: 22/02/2021).

@prof.andresantacruz
Aula 9 - Recuperação judicial

Descumprimento do plano durante e após o período de fiscalização judicial.

Art. 61 (...).
§ 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de
qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em
falência, nos termos do art. 73 desta Lei.
§ 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias
nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos
e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.

Art. 62. Após o período previsto no art. 61 desta Lei, no caso de descumprimento de
qualquer obrigação prevista no plano de recuperação judicial, qualquer credor poderá
requerer a execução específica ou a falência com base no art. 94 desta Lei.

* Se o devedor descumprir o plano durante a recuperação judicial, sua falência será


decretada e suas obrigações voltarão às condições originais. Se, porém, o devedor
descumprir o plano após a recuperação judicial, sua falência poderá ser requerida e
suas obrigações manterão as condições renegociadas.

@prof.andresantacruz
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Fiscalização judicial e planos aditivos/modificativos.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. FALHA NA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
ENCERRAMENTO. PLANO DE RECUPERAÇÃO. ADITIVOS. TERMO INICIAL. PRAZO BIENAL. CONCESSÃO. BENEFÍCIO. HABILITAÇÕES
PENDENTES. IRRELEVÂNCIA. (...)
2. Cinge-se a controvérsia a definir (i) se houve falha na prestação jurisdicional e (ii) se nos casos em que há aditamento ao plano
de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que trata o artigo 61, caput, da Lei nº 11.101/2005 deve ser a data da
concessão da recuperação judicial ou a data em que foi homologado o aditivo ao plano. (...)
4. A Lei nº 11.101/2005 estabeleceu o prazo de 2 (dois) anos para o devedor permanecer em recuperação judicial, que se inicia
com a concessão da recuperação judicial e se encerra com o cumprimento de todas as obrigações previstas no plano que se
vencerem até 2 (dois) anos do termo inicial.
5. O estabelecimento de um prazo mínimo de efetiva fiscalização judicial, durante o qual o credor se vê confortado pela exigência
do cumprimento dos requisitos para concessão da recuperação judicial e pela possibilidade direta de convolação da recuperação
em falência no caso de descumprimento das obrigações, com a revogação da novação do créditos, é essencial para angariar a
confiança dos credores, organizar as negociações e alcançar a aprovação dos planos de recuperação judicial.
6. A fixação de um prazo máximo para o encerramento da recuperação judicial se mostra indispensável para afastar os efeitos
negativos de sua perpetuação, como o aumento dos custos do processo, a dificuldade de acesso ao crédito e a judicialização das
decisões que pertencem aos agentes de mercado, passando o juiz a desempenhar o papel de muleta para o devedor e garante do
credor.
7. Alcançado o principal objetivo do processo de recuperação judicial que é a aprovação do plano de recuperação judicial e
encerrada a fase inicial de sua execução, quando as propostas passam a ser executadas, a empresa deve retornar à normalidade,
de modo a lidar com seus credores sem intermediação.
8. A apresentação de aditivos ao plano de recuperação judicial pressupõe que o plano estava sendo cumprido e, por situações
que somente se mostraram depois, teve que ser modificado, o que foi admitido pelos credores. Não há, assim, propriamente
uma ruptura da fase de execução, motivo pelo qual inexiste justificativa para a modificação do termo inicial da contagem do
prazo bienal para o encerramento da recuperação judicial.
9. A existência de habilitações/impugnações de crédito ainda pendentes de trânsito em julgado, o que evidencia não estar
definitivamente consolidado o quadro geral de credores, não impede o encerramento da recuperação.
10. Recurso especial não provido.
(REsp 1.853.347/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/05/2020, DJe 11/05/2020)

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Causas de encerramento da recuperação judicial.

- Concessão da RJ sem fiscalização judicial (art. 61).

- Cumprimento do PRJ no prazo da fiscalização judicial (art. 63).

- Desistência do devedor aprovada pela AGC (art. 52, § 4º).

- Convolação da recuperação judicial em falência (art. 73).

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