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Nesta sessão, serão discutidos os aspectos históricos das políticas públicas por
meio das leis da meia-entrada, caracterizando-as como políticas públicas para fomentar o
consumo de bens culturais. Assim, será estabelecida a relação entre as leis e o capital
cultural, trazendo consigo o debate referente aos determinantes do consumo de cultura,
buscando tanto na literatura empírica como nos “clássicos” da teoria. Em seguida, far-se-
á uma breve consideração acerca dos impactos de uma política de discriminação de preços
no bem-estar, tendo como referência o basilar trabalho de Varian (1985).
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O autor se vale, para a sua análise, da diferenciação dos grupos conforme a ocupação, com a palavra
“classe” ocupando este sentido.
Em contraponto ao disposto acima, Throsby (1999), partindo da definição clássica
de que Capital é um bem que quando combinado com outros “inputs”2 gera um outro
bem, coloca que o Capital Cultural se manifesta como tangível ou intangível (THROSBY.
1999), ambos particulares em relação aos outros bens de capital, embora sujeitos a uma
eventual depreciação. Apesar da aparente contradição entre os dois conceitos de Capital
Cultural apresentados, o aspecto benéfico de um aumento de tal capital mostra-se presente
na perspectiva sociológica (Bourdieu) e na da tradição econômica, marcada por Throsby
(WINK et al. 2016).
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Podendo ser outros bens ou mesmo ações, como Throsby menciona o trabalho (“Labour”)
(THROSBY.1999).
Além do Capital Cultural, que assume papel basilar no campo dos determinantes
do consumo de cultura, outras variáveis mostram-se presentes como importantes para a
análise do consumo de bens e serviços culturais.
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Desta forma, pode-se caracterizar o consumo cultural como função de variáveis socioeconômicas,
geográficas, demográficas e educacionais: 𝑦𝑖 = 𝑓(𝑆𝑒𝑖 , 𝐺𝑖 , 𝑆𝑑𝑖 , 𝐸𝑖 ). Para uma exposição mais detalhada, ver
Diniz & Machado (2011).
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Como a própria autora afirma, não foi possível analisar o consumo de atividades culturais desprovidas
de dispêndio monetário.
se do arcabouço das preferências estáveis do modelo de Stigler & Becker (1977)5. Outra
característica explicitada no estudo é um custo de oportunidade crescente para o consumo
de cultura conforme a renda aumenta, devido a característica tempo-intensiva do consumo
de bens culturais. Ou seja, tem-se um debate acerca da própria natureza dos bens culturais,
sendo bens de luxo quando se considera o preço do lazer e bens normais quando não
(PAGLIOTO & MACHADO, 2012). Mostra-se ainda um efeito negativo do preço do
lazer no consumo cultural com o aumento da renda, anulando o efeito positivo promovido
pelo próprio aumento dos rendimentos (IDEM).
Por fim, em Diniz & Machado (2011) observa-se que a hipótese na qual o
consumo de cultura é distribuído de forma desigual, sendo condicionado principalmente
pela renda e pela educação, é confirmada. Para tal, dividiu-se em quartis de renda e
educação para avaliar a concentração6 do dispêndio em bens e serviços culturais. Além
disso, mostrou-se que – de forma surpreendente – a presença de uma estrutura de cultura
na cidade (no caso das metrópoles brasileiras) impacta negativamente o gasto familiar em
atividades de consumo de cultura (IDEM).
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Para uma comparação com a visão Marshalliana referente à mudança de padrões de consumo, na qual
ocorre uma mudança nas próprias preferências, ver: Paglioto & Machado (2012), Stigler & Becker (1977)
e Marshall (1890).
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Função Kernel (DINIZ & MACHADO, 2011).
Pode-se caracterizar a política promovida pelas leis de meia-entrada como sendo
um caso de discriminação de preços do 3º (terceiro) grau, isto é, estabelecem-se preços
diferentes para grupos com preferências distintas sem que as curvas de demanda sejam
conhecidas, embora seja possível diferenciar os grupos. Ao contrário do caso
normalmente estudado, no qual a discriminação dá-se no âmbito do setor privado, sendo
promovido por monopólios; tem-se neste cenário um caso da discriminação sendo fruto
da intervenção estatal, como subsídio para o consumo cultural para setores específicos.
RILEY, D. A teoria das classes de Pierre Bourdieu. Revista Outubro, n. 31, 2ºsemestre
2018.
SÃO PAULO. Lei nº 7.844, Diário oficial-executivo, v. 102, n. 90, p.1, 1992a.
SÃO PAULO. Decreto-lei nº. 35.606, Diário oficial-executivo, v. 102, n. 169, p.2, 1992b.
SÃO PAULO. Lei nº 14.729, Diário Oficial - poder legislativo, v. 122, n. 62, p. 9, 2012.
VARIAN, H. Price Discrimination and Social Welfare. The American Economic Review.
v. 75, n. 4. 1985.
VARIAN, H. Price Discrimination. In: Varian, Hal. Handbook of Industrial Organization,
Volume I. p. 598-647. 1989.
WINK, M. et al. Os efeitos da criação de leis de meia entrada para estudantes sobre o
consumo de bens e serviços culturais no Brasil. Estudos. Econômicos, São Paulo, v.46,
2016.