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O que são instituições e qual sua

relevância?
DIREITO
ECONOMIA
POLÍTICA

Publicado por: André Borges Uliano


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O discurso pró-institutições está em toda parte no Brasil. Políticos,


intelectuais, acadêmicos, juristas… todos são “a favor das instituições”.

Mas, afinal de contas: o que são e qual a importância das instituições? E


será que toda e qualquer instituição merece louvor e defesa?

O tema das instituições é tão importante que se tornou uma linha de


pesquisa e até um escola político-econômica: o neoinstitucionalismo. O
grande nome na área é o economista Douglass North, laureado com o Nobel em
Economia pelos estudos sobre o tema em 1993.
Douglass North, vencedor do Nobel em economia de 1993 pelos estudos
sobre instituições.
Segundo Douglass North, instituições são “determinações criadas pelo homem
que estruturam as interações políticas, econômicas e sociais.” (artigo
acadêmico aqui, tradução nossa).
Podem consistir em duas espécies de normas: determinações informais,
basicamente elementos culturais, como costumes, tradições, códigos
sociais de conduta; e regras formais, como constituições, leis e direitos de
propriedade (cf. NORTH, 1991, p. 97). Seriam as instituições, em suma, as
“regras do jogo” (NORTH, 1991, p. 98): o conjunto de normas – culturais ou legais
– que efetivamente regulam o conjunto de interações humanas.
Geoffrey M. Hodgson, outro importante estudioso da
matéria, desenvolvendo as lições de North, define as instituições como
“sistemas firmemente estabelecidos e socialmente prevalentes de regras que estruturam
as interações sociais“. E termina ele exemplificando: “língua, moeda, direitos,
sistemas de pesos e medidas, convenções sobre comportamentos e firmas
(entre outras organizações) são todos exemplos de instituições” (artigo
acadêmico aqui, p. 2, tradução nossa). Assim, declara que instituições são
um elemento da estrutura social.
Importante perceber – para evitar confusões semânticas – que instituições
não são, no sentido aqui estudado, apenas organizações: como o Parlamento,
uma empresa ou o Poder Judiciário. Instituições formam um conjunto mais
amplo. São regras formais ou informais de comportamento social. Incluem
as organizações, na medida em que estas também determinam comportamentos
por meio de seu funcionamento. Mas as instituições não se restringem às
organizações.
Como bem pontua Hodgdson:

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da definição de instituições como sistema de regras socialmente


introjetado, resta evidente que organizações são um especial tipo de
instituições, com características adicionais. Organizações são um especial
tipo de instituições que envolvem (a) critérios que estabeleçam suas
fronteiras e que distingam aqueles que são membros dos que não são, (b)
princípios de governo que apontem quem responde pelos atos da
organização, e (c) uma cadeia de comando delineado em seu interior (2006,
p. 8, tradução nossa).

A importância das instituições decorre de que elas são um elemento da estrutura


social com o potencial para alterar, influenciar, o comportamento das pessoas. Ao
estabilizar condutas e hábitos, as instituições influem nas aspirações e nos
mecanismos primariamente vislumbrados para realizá-las (cf. HOGDSON,
2006).
As instituições têm com isso um duplo efeito: constrangem
comportamentos, mas também ampliam possibilidades de ação. Com
efeito, elas geram ambos os efeitos que pareciam contraditórios num
primeiro momento: constrangem e habilitam ações.

Inicialmente, a existência de regras implica constrangimentos. É o seu efeito


mais claro. Mas essas balizas podem abrir novas possibilidades: podem
possibilitar escolhas e ações que de outro modo não existiriam. Por
exemplo: as regras de linguagem permitem que nos comuniquemos; regras
de trânsito ajudam o tráfego a fluir mais fácil e seguramente; a aplicação da
lei pode aumentar a segurança pessoal. Regulações não são sempre a
antítese da liberdade; podem ser suas aliadas (HOGDSON, 2006, p. 2,
tradução nossa).

Instituições e economia

Instituições têm uma relevância enorme para a economia. Segundo Douglass


North: “instituições e o modo como se desenvolvem moldam a performance
econômica” (artigo acadêmico aqui, 1992, p. 5, tradução nossa).
Isso porque instituições definem custos de transação. Custos de transação são
os custos exigidos para realizar uma ação, especialmente custos de
informação (análise da real qualidade dos bens envolvidos), dos trâmites
burocráticos e dos gastos para executar uma decisão em caso de
descumprimento por quaisquer das partes (cf. NORTH, 1992, p. 6-9).
Ao elevar os custos de transação relativo de algumas atividades e reduzir os de
outras, instituições impõem prêmios ou perdas para determinadas funções. Com
isso, elas alteram custos e benefícios de algumas iniciativas em relação a
outras, acabando por alterar o sistema de incentivos, ao tornar
determinadas ações mais atraentes em detrimento das restantes.
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Isso têm um enorme impacto na atividade econômica e em sua
performance. De fato, caso o sistema de incentivos premie atividades menos
produtivas, e imponha maiores custos para as capazes de gerar maior riqueza, o
arranjo institucional prejudicará a performance econômica. E vice-versa (cf.
BOETTKE, 2009, p. 159-164).
Imagine um país em que a atividade de lobby – a qual não gera qualquer
riqueza, mas apenas direciona aquela produzida para certos setores e
agentes econômicos – seja extremamente lucrativa. Pense numa economia
em que conseguir créditos subsidiados possa aumentar a margem de lucro
muito além do que é possível, no mesmo prazo, gerando inovações ou
incrementando a produtividade per capita dos empregados. Ora, isso gera
incentivos para que indivíduos invistam os recursos escassos muito mais
em lobby do que em inovar e aumentar a produtividade (por exemplo:
atualizando tecnologia, fornecendo treinamento, renovando a linha de
máquinas de produção). A consequência no longo prazo será uma queda
da capacidade de geração de riqueza.
Há muito mais para falar sobre instituições, particularmente sobre seus
impactos políticos e jurídicos. Mas isso ficará para um segundo post.

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