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Introdução
A Conceitografia surge do objetivo de Frege de fornecer uma fundamentação
para a aritmética, e dos empecilhos que encontrou em seu projeto. Em seu
Prefácio, Frege distingue entre a gênese psicológica de um juízo (ou contexto de
descoberta, mais geralmente) e sua justificação, e esclarece que seu interesse
é sobre a justificação. Isto será relevante em sua crítica futura ao psicologismo,
já que Frege admite que a descoberta pode passar por empiria e psicologia, mas
estas são irrelevantes à justificação. Quanto a justificação, deve-se diferenciar
entre juízos cuja justificação se dá empiricamente (como a de que “há oxigênio
na atmosfera de Marte”), e juízos cuja justificação se dá por meio de inferências
formais (logicamente); similar a distinções tradicionais, como as verdades da
razão e as verdades de fato leibizianas
O caminho escolhido por Frege foi tentar reduzir a sucessão (por exemplo,
a série dos naturais) à consequência lógica, e daí reduzir os números à lógica.
É isto o que marca seu projeto logicista quanto à aritmética (redução da
aritmética à lógica), sua rejeição ao empirismo quanto a aritmética (contra Mill,
por exemplo), bem como a rejeição à tese kantiana de que as proposições da
aritmética são sintéticas, já que têm conteúdo exclusivamente conceitual, não
misturando-se a elas nenhuma intuição.
Para evitar a intromissão de intuições em suas provas, seriam
necessárias cadeias de inferências rigorosas, sem lacunas, que exigissem o
recurso à intuição. É aqui que encontra-se o empecilho que motivou a
Conceitografia. A linguagem natural torna mais difícil operar com as expressões,
e é geradora de certas ilusões pela confusão entre a sua gramática e a forma
lógica das expressões, além de gerar acréscimos logicamente inúteis. Exemplo
disso é a caracterização dos juízos como predicação de um sujeito,
paradigmática em toda a história da lógica desde a Aristóteles, e sua substituição
desta pela caracterização por função e argumento. Esta crítica à linguagem
natural é que justifica sua algebrização da lógica, bem como justificará depois a
filosofia da linguagem ideal, ou da análise lógica da linguagem, de Russel.
É necessário advertir que Frege não pretende substituir a linguagem
natural pela linguagem formal universalmente. Sua linguagem formal é útil para
o fim de gerar provas rigorosas e claras, mas a linguagem natural continua a ter
maior poder expressivo para a maioria dos assuntos humanos. Aqui é que é
relevante sua célebre analogia entre o olho e microscópio: para um fim científico
determinado, colher informações empíricas sobre o mundo microscópico, o
microscópio supera em muito o olho humano nu, mas o olho humano nu tem
muitas mais utilidades que o microscópio. Sua linguagem tem utilidade para a
lógica, para a fundamentação da aritmética, bem como pode ser usada em
diversas ciências para as quais um método rigoroso de raciocínio é necessário:
a geometria, a física, a biologia...
Sua Conceitografia não tem por finalidade expressar novas verdades, por
exemplo, expor uma descoberta de alguma nova lei da lógica. Trata-se de uma
inovação metodológica, que tem por objetivo facilitar a descoberta de novas
verdades. Seu projeto, em certo sentido, é uma contribuição ao projeto
leibiziniano de criar uma linguagem ideal, universal, adequada à inteligência,
embora seu projeto seja mais modesto, consistindo somente numa contribuição,
entre muitas outras, vindas de outras disciplinas.
A definição dos símbolos
§1 Símbolos de significado preciso e indeterminado
Na matemática diferenciam-se dois tipos de símbolos: aqueles cujo significado
é preciso, como “2”, “+”, “=”, “>” ... e símbolos que representam números ou
funções indeterminadas, que permitem expressar generalidade. É essa
indeterminação que permite exprimir resultados algébricos gerais, como os
produtos notáveis. Em notação lógica contemporânea, afirmações gerais como
“todos os homens são mortais” podem ser expressas, como:
(x) (Hx→Mx)
Onde “H” significa o predicado ser homem e “M” o predicado de ser mortal.
A Conceitografia introduz esses símbolos de significado indeterminado na
lógica, é este o primeiro passo para a sua algebrização .
§2 Juízo
Juízo significa, para os propósitos da Conceitografia, um conteúdo asserível
afirmado; ou, o que significa o mesmo, uma proposição afirmada, tomada como
verdadeira. O conteúdo asserível (proposição) é qualquer conteúdo semântico
que pode ser afirmado ou negado, isto é, que tem valor de verdade. Assim, um
sujeito isolado, como “casa”, não é uma proposição, tampouco uma sentença
não declarativa como “me passe a manteiga” ou “que horas são?”. Temos uma
proposição em “a casa é amarela” em que algo pode ser afirmado, pode ser
verdadeira ou falsa. O símbolo para a proposição, ou “conteúdo asservível”, é
um traço horizontal, “—", chamado por Frege de traço de conteúdo. “—C”
significa que “a casa é amarela”, onde “C” representa a proposição de que a casa
é amarela.
A mera apresentação da proposição não implica que ela seja um juízo,
para isso é preciso que ela seja tomada como verdadeira. Pode-se apresentar
uma proposição com outras finalidades que não a sua afirmação, por exemplo,
podemos estar considerando-a como uma hipótese. Para afirmarmos um juízo
na linguagem da Conceitografia basta acrescentarmos um traço vertical à
esquerda do traço horizontal (formando a catraca) ⊢. Assim “⊢C” significa que
“a casa é amarela” está sendo afirmada, é verdadeira. O traço vertical ao lado
do horizontal é chamado de traço de juízo.
§3 A crítica do juízo como predicação de sujeito
Pelo menos desde Aristóteles juízos foram caracterizados como predicação de
um sujeito. No juízo “a casa é amarela”, “a casa” é sujeito”, “é amarela” é um
predicado que aplica-se a este sujeito. Frege rejeita a distinção como meramente
gramatical.
Juízos podem diferir entre si de duas formas: juízos que tem o mesmo
conteúdo proposicional, mas são apresentados de formas diferentes e juízos que
não tem o mesmo conteúdo proposicional. O segundo tipo, exemplificado pelo
par “a casa é amarela” e “a casa é verde” não tem interesse para sua
argumentação. O primeiro foi exemplificado por ele pelo par: “Em Plateia, os
gregos derrotaram os persas” e “Em Plateia, os persas foram derrotados pelos
gregos”. Embora uma ligeira diferença de significado possa ser apontada, o
conteúdo proposicional de ambas é o mesmo, foi somente apresentado
diferentemente. Na primeira, “os gregos” é o sujeito e “derrotaram os persas em
Plateia”, o predicado; na segunda, “os persas” é o sujeito e “foram derrotados
pelos gregos em Plateia” o predicado. Que uma possa ser parafraseável na outra
sem alteração no conteúdo proposicional, mostra que sujeito e predicado não
dizem respeito à natureza do conteúdo proposicional, mas tem função
meramente gramática, além da função pragmática de chamar a atenção para o
sujeito, a fim de relacionar a sentenças com outras sentenças no discurso. Por
elas não dizerem nada a respeito do conteúdo proposicional, e, portanto, em
nada impactar na correção das inferências que se pode fazer a partir delas,
Frege sentiu-se confortável em rejeitar expressar proposições como predicação
de um sujeito.
§5 Condicional
O condicional expressa a relação “se, então”. Ele refere-se aqui ao que hoje
temos como operador verofuncional da implicação, ou condicional, material.
a) A é verdadeiro e B é verdadeiro.
b) A é verdadeiro e B é falso.
c) A é falso e B é verdadeiro.
d) A é falso e B é falso.
Afirma que “se B, então A”, então A e Γ . Afirma-se isto porque afirma-se
o condicional “B” em “A”, o que é o mesmo que dizer que o primeiro é condição
necessária do segundo, e de Γ em A, do que segue que se B é o caso, então
qualquer condição necessária A também deve ser o caso.
§6 Abreviação de juízo
Significa que não é o caso que A. O pequeno traço vertical no traço de conteúdo
de A é o traço de negação.
Se B, então não é o caso que A. Quer dizer que o caso a) de §5 não é o caso.
Isso é o mesmo que uma negação da conjunção A e B: ~(A. B) (em notação de
Russel).
Se não B, então A. Quer dizer que ambos não podem ser ao mesmo tempo
falsos, negação do caso d). Isso quer dizer que afirmação da disjunção
(inclusiva): (AvB).
A disjunção exclusiva (ou... ou), que nega tanto o caso em A e B são falsos
quanto o caso em que são ambos verdadeiros, é expresso pela conjunção de:
Se B, então não A; se não B, então A:
§8 Identidade de Conteúdo
§9 Função e Argumento
§11 Universal
Significa nem pra todo X (a). Ou, existem algumas coisas às quais não aplica-se
a propriedade X. Uma representação em linguagem de primeira ordem: ~ ∀xAx.