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Universidade Federal de Minas Gerais

Aluno: João Victor Ferreira de Almeida 2021011719


1 Introdução

O realismo a respeito de um campo pode ser caracterizado de diferentes maneiras.


Tradicionalmente, o realismo é uma posição metafísica caracterizada pela afirmação de
que um objeto, propriedade, ou tipo de objetos e propriedades, existe e é independente de
nossos processos mentais, esquemas conceituais e práticas linguísticas, ou simplesmente
“mente-linguagem”. Um realista quanto a objetos macroscópicos cotidianos como
árvores, rochas, cadeiras, e etc, diria que tais objetos e suas propriedades existem de
maneira independente de operações mentais, práticas linguísticas, e assim por diante.
Uma abordagem diferente desta foi proposta por Dummet em seu Realism (1963).
Segundo ele, o debate sobre realismo pode ser melhor caracterizado como referindo-se à
verdade de sentenças a respeito de um determinado campo. Embora tenha formulado sua
abordagem para lidar com debates filosóficos em geral a respeito do realismo, seu
principal interesse era em filosofia da matemática. Assim, um realista em matemática é
aquele que afirma que sentenças a respeito da matemática tem valor de verdade
independente de “mente-linguagem”; enquanto os anti-realistas afirmam que são
dependentes de nossa mente-linguagem, no caso da matemática construtiva, de provas
construtivas.
Podemos chamar a versão tradicional de ontológica (explicitamente defendida por
Devitt, por exemplo), e Dummet chamava a sua de semântica. Aplicadas à lógica tais
versões significariam respectivamente que há “entidades lógicas” independentemente de
nossa mente-linguagem; e que a verdade de sentenças lógicas é independente de nossa
mente-linguagem.
McSweaney (2017), ao caracterizar o realismo lógico como a visão segundo a
qual “há uma estrutura lógica no mundo”, parece exemplificar a abordagem ontológica.
Se tal versão do realismo lógico for correta, a abordagem semântica também o é por
consequência: se é correto que há uma estrutura lógica no mundo, que têm existência
independente da mente-linguagem, também é correto que o valor de verdade das
sentenças lógicas é tornado verdadeiro ou falso por geradores de verdade (“truthmakers”)
independentes da mente-linguagem, e é, portanto, também independente. Em síntese, a
correção da versão ontológica acarreta a correção da semântica. Além disso, parece que
o realismo ontológico não só é condição suficiente, mas também é o modo mais plausível
de tornar o realismo semântico verdadeiro: se o valor de verdade das sentenças a respeito
de um campo qualquer é independente de nossa mente-linguagem, parece que há
geradores de verdades independentes aos quais as sentenças podem adequar-se ou não,
tornando-as verdadeiras ou falsas.
A caracterização de realismo que será interessante nesta pesquisa será de certo
modo conciliatória das versões ontológica e semântica: “há uma estrutura lógica no
mundo” (McSweany, 2017), que existe independente de nossa mente-linguagem, que é
geradora de verdades lógicas, e que, por consequência, faz com que ao menos uma lógica
seja correta.
Em consonância com o tema desta pesquisa, Chateubriand, em sua introdução ao
seu Logical Forms, distingue três abordagens da lógica: ontológica, epistemológica e
linguística. No texto, Chateubriand chama a atenção para o fato de que o que entende por
“concepção ontológica” é uma posição bastante tradicional, que remonta à Aristóteles, e
que está na gênese da fundação da lógica contemporânea por Frege. De fato,
parafraseando conhecida passagem da Conceitografia, a lógica tem como objeto o
verdadeiro do mesmo modo que a estética tem por objeto o belo e a ética o bem; daí ela
tratar das “leis da verdade”. E como argumenta Chateubriand, “a verdade tem sido
tradicionalmente concebida como expressão do que é real”. E é por essas duas premissas,
(i) a lógica tratas das leis da verdade e (ii) a verdade é uma expressão do que é real, que
Chateubriand argumenta que parece que um dos objetivos da lógica é investigar leis
generalíssimas da realidade. Isto é, de certa forma, ela é uma ontologia. Ora, dado que o
realismo lógico foi definido aqui como a tese de que “há uma estrutura lógica no mundo”,
a concepção ontológica de Chateubriand de que um dos objetivos da lógica é investigar
leis generalíssimas do que é real, faz com que ela esteja de acordo com a definição dada
aqui de realismo lógico.
Em contraposição à sua abordagem ontológica, o que Chateubriand entende por
abordagem “linguística” implica a rejeição do realismo lógico. Segundo ele, esta
concepção enraíza-se na descoberta dos paradoxos na lógica e na teoria de conjuntos, na
teoria eliminativista de classes e funções proposicionais, e nos trabalhos de Wittgenstein
e dos positivistas lógicos, tendo se consolidado com a teoria da verdade de Tarski.
Segundo ele, estes fatores tiveram o efeito de minar os elementos platônicos
anteriormente presentes na lógica e na teoria dos conjuntos e fizeram com que a parte
sintática da lógica fosse enfatizada e considerada autônoma.

2. Objetivo
O objetivo deste projeto de pesquisa é investigar a correção do realismo lógico,
tal como definimos na introdução.

3. Metodologia
A metodologia usada na pesquisa será a leitura e análise dos textos relacionados
ao tema.
4. Referências
Dummet, M. Realim. Synthese Vol 52, N. 1, Parte II (Jul, 1982), p. 55-112
McSweany, M. M. Following Logical Realism Where it Leads. Philisofical Studies 176
(Nov. 2017), p. 117, 159
Chateubriand, O. Logical Forms: Truth and Description. CLE – Unicamp, 2001.

5. Cronograma
As etapas listadas no cronograma a seguir devem ser realizadas em 12 meses:
(i) Estudo do realismo lógico em Frege, à ser realizado nos 3 meses seguintes à aprovação
do projeto.
(ii) Estudo da origem e desenvolvimento da chamada “concepção linguística da lógica”
em sua relação com a negação da concepção ontológica da lógica e do realismo lógico, a
ser realizada nos 4 meses seguintes à etapa “i”.
(iii) Estudo do estado atual do debate entre realistas lógicos e anti-realistas lógicos, a ser
realizada nos 4 meses seguintes à etapa “ii”.
(iv) Redação de um texto em português com os resultados da pesquisa no último mês de
pesquisa.

Aprovação da Câmara Departamental

Data: ___/___/___

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