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Introdução
Durante a presente unidade do programa da disciplina o principal
assunto trabalhado foi sobre a teoria padrão de conjuntos, ZFC, sigla que
homenageia Ernest Zermelo (1871–1953) Abrahan Fraenkel (1891–1965), além
de incluir o “C” de “Choice”, representando o axioma da escolha. O principal
motivo para o estudo de ZFC é seu mérito intrínseco em relação à história da
teoria dos conjuntos, ao fornecer uma alternativa consistente à teoria intuitiva,
com destaque à sua capacidade de contornar os paradoxos de Cantor e o
paradoxo de Russell, e para nós, as relações desta com a filosofia de Quine. O
extensionalismo do norte-americano, que tem ligações claras mesmo com os
aspectos mais relevantes de seu sistema, como o ceticismo quanto às noções
intensionais de significado, propriedade e proposição, e mesmo sua rejeição da
distinção analítico/sintético parece indissociável da revolução operada por ZFC.
Além disso, podemos citar os problema levantados pela teoria de conjuntos,
com seus conjuntos infinitos não enumeráveis, entre outros, para alguém que,
como ele, tanto admirava a economia ontológica.
Ao falarmos de ZFC, devemos ter em mente que ela trata
exclusivamente de conjuntos que são hereditariamente conjuntos. Isto é, em
ZFC os conjuntos têm como elementos conjuntos, que por sua vez têm como
elementos conjuntos, e assim sucessivamente. Noutros termos, ZFC não
possui urelementos, isto é, elementos que não são conjuntos, como objetos
concretos (mesas, cadeiras, pessoas, átomos, e assim por diante). Outra
característica é que sua linguagem é a linguagem da lógica clássica de
primeira ordem. Grosso modo, lógica de primeira ordem é a parte da lógica
clássica que estende a lógica proposicional (que além das fórmulas, usa
somente operadores) com a adição de quantificadores, e que é estendida pela
lógica de segunda ordem, que aplica variáveis e quantificadores à conjuntos de
indivíduos, ao invés de só indivíduos como a lógica de primeira ordem. Além
dos símbolos lógicos, temos uma única adição, que é o símbolo de pertinência,
∈. ZFC apresenta 9 axiomas, desde que consideremos os esquemas de
infinitos axiomas, como somente um. Estes 9 axiomas serão o principal tema
do presente trabalho, apresentamo-los a seguir:
Axiomas de ZFC
A ideia central deste axioma é que dois conjuntos são idênticos somente
se suas coleções de elementos forem idênticas. “Extensionalidade” está
semanticamente relacionada à noção de extensão, que é a coleção de objetos
que caem, por exemplo, sob um conceito, em oposição à intensão ou
compreensão desse conceito, que é sua definição, seu modo de apresentação.
Esta é uma antiga distinção, presente já em Aristóteles.
∀x∀y(∀z(z ∈ x ↔ z ∈ y)-> x = y )
Lê-se: para todo x, para todo y, x é igual a y, se esomente se, para todo z, z
pertence a x, se e somente se, z pertence y
A diferença é que neste caso vale a volta: se x=y, então x tem os mesmos
elmentos de y. Ou seja, dois conjuntos são idênticos, se e somente se,
possuem a mesma coleção de elementos. Alguns autores preferem não usar
este modo de apresentação, mas não há qualquer problema lógico nele. De
fato, a volta é indubitavelmente verdadeira em ZFC: se dois conjuntos são
idênticos, então sua coleção de elementos também é a mesma.
Na teoria intuitiva de conjuntos é possível formar um conjunto pela
enumeração de seus elementos (sua extensão) ou por meio da apresentação
de uma propriedade comum a esses elementos (sua intensão). Definir um
conjunto por meio de sua intensão permite determinar conjuntos, como o
conjuntos dos cidadãos do Brasil, conjunto dos números pares, conjuntos dos
primos, conjuntos dos ex-presidentes do Brasil, que funcionam bem
intuitivamente, mas também conjuntos inconsistentes, como o “conjunto dos
conjuntos que não pertencem a si mesmos”, que acarretou o famoso paradoxo
de Russel.
Uma das motivações para a ZFC era fornecer um sistema axiomático
que construísse uma teoria de conjuntos consistente, e que evitasse, portanto,
os problemas decorrentes da noção intuitiva de que toda propriedade permite
formar um conjunto, como o paradoxo de Russel. O primeiro axioma define os
conjuntos apenas por meio de sua extensão. Assim, o conjunto dos animais
bípedes e sem penas é igual ao conjuntos dos animais capazes de falar, o
conjuntos dos triângulos equiângulos e dos equiláteros é igual, o conjunto
unitário do par primo e da raiz quadrada de 4 é igual, o conjunto dos animais
com rins e com coração é igual... embora os conjuntos citados tenham
diferentes modos de apresentação (intensões diferentes), a igualdade da
coleção dos elementos que os compõem (sua extensão) é condição suficiente
para estabelecer sua identidade.
Como ZFC só trata de conjuntos que são hereditariamente conjuntos,
não é necessário estabelecer critério de identidade para elementos para
complementar o critério de identidade estabelecido pelo axioma 1.
A cláusula de que z não pode ser uma variável livre é a única restrição
para a fórmula F, e é necessária pois ao permitirmos que a variável que define
o conjuntos dado pelo axioma de separação fique livre, é possível construir
uma fórmula contraditória, que contém o mesmo tipo de problema de auto
referência que paradoxos célebres como o de Russel, o do mentiroso, e etc.
Considere, por exemplo, a instância em que F = “x não pertence a z”. Temos
que:
Esse axioma nos diz que existe um conjunto x tal que ∅ ∈ x ; S(∅)= ∅ U
{∅} = {∅} ∈ x; S(S(∅)) = S({∅}) = {∅, ∅ }} ∈ x, e etc...
Ainda não definimos conjunto infinito, mas intuitivamente esse axioma
nos diz que existe um conjunto infinito. Além disso, a partir dele e com auxilio
dos axiomas da extensionalidade, do esquema de compreensão, e do par; na
interpretação de Von Neumann, conseguimos uma das possíveis definições
para os números naturais e o conjunto dos números naturais. Da seguinte
maneira:
0=∅
1 = {∅}
2 = {∅, {∅}}
3 = {∅, {∅, {∅}}}
... Em que o conjunto dos naturais é IN= {0,1,2,3,...}
Ainda nessa interpretação, se formamos o conjunto das partes
das partes do conjunto dos números naturais P(P(IN)) aparece um problema
com o par cartesiano IN x IN , pois não sabemos até onde vai sua
cardinalidade (melhor representada no teorema I.1.1, da pág. 5 do livro Set
Theory, de Kunen, 2013), o que pode certamente é, ao menos incômodo, à
alguém que prefere “paisagens desérticas”.
9.Axioma da Escolha