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Métodos Matemáticos Avançados I

Programa de Pós-Graduação em
Modelagem Matemática e Computacional

Jairo Rocha de Faria

UFPB

2021

Jairo Rocha de Faria Métodos Matemáticos Avançados I 1 / 16


Lógica e Teoria dos conjuntos

Relações

Um conceito que é, de certa forma, mais geral do que o de função é o


conceito de uma relação.

Nesta aula, definimos o que os matemáticos querem dizer com uma relação,
e consideraremos dois tipos de relações que ocorrem com grande frequência
na matemática: relações de equivalência e relações de ordem.
Relação
Uma relação em um conjunto A é um subconjunto C do produto cartesiano
A × A. Se C é uma relação em A, usamos a notação xCy para significar a
mesma coisa que (x, y ) ∈ C . Lemos que “x está na relação C com y ”.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Uma regra de atribuição r para uma função f : A → A também é um


subconjunto de A × A, mas é um subconjunto de um tipo muito especial
onde cada elemento de A aparece como a primeira coordenada de um
elemento de r exatamente uma vez. Qualquer subconjunto de A × A é uma
relação em A.

Exemplo 1. Seja P o conjunto de todas as pessoas no mundo, e defina


D ⊂ P × P por

D = {(x, y )|x é um descendente de y}.

Então D é uma relação no conjunto P. As afirmações “x está na relação D


com y ” e “x é um descendente de y” significam precisamente a mesma
coisa, a saber, que (x, y ) ∈ D.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Duas outras relações em P são as seguintes:

B = {(x, y )|x tem um ancestral que também é ancestral de y},

S = {(x, y )| os pais de x são os pais de y }.


Podemos chamar B de “relação de sangue” e podemos chamar S de
“relação de irmão”.

Essas três relações têm propriedades bastante diferentes. A relação de


sangue é simétrica, por exemplo (se x é um parente de sangue de y , então
y é um parente de sangue de x), enquanto o relação descendente não é.
Devemos considerar essas relações novamente em breve.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Relações de equivalência e partições

Uma relação de equivalência em um conjunto A é uma relação C em A


com as seguintes propriedades:
1 (Reflexividade) xCx para cada x em A.
2 (Simetria) Se xCy , então yCx.
3 (Transitividade) Se xCy e yCz, então xCz.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Exemplo 2. Entre as relações definidas no Exemplo 1, a relação


descendente D não é nem reflexiva e nem simétrica, enquanto a relação de
sangue B não é transitiva (eu não sou um relação de sangue com minha
esposa, embora meus filhos sejam!). A relação de irmão S é, no entanto,
uma relação de equivalência, como você pode verificar.

Não há razão para usar uma letra maiúscula - ou mesmo uma letra de
qualquer tipo - para denotar uma relação, mesmo que seja um conjunto.
Outro símbolo também serve. Um símbolo que é frequentemente usado
para denotar uma relação de equivalência é o símbolo “til” (∼).

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Com esta notação, as propriedades de uma relação de equivalência


tornam-se
1 x ∼ x para cada x em A.
2 Se x ∼ y , então y ∼ x.
3 Se x ∼ y e y ∼ z, então x ∼ z.
Existem muitos outros símbolos que foram concebidos para representar
relações de equivalência particulares; encontraremos alguns deles neste
curso.

Dada uma relação de equivalência ∼ em um conjunto A e um elemento x


de A, definimos um certo subconjunto E de A, chamado de classe de
equivalência determinada por x, pela equação

E = {y |y ∼ x}.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Observe que a classe de equivalência E determinada por x contém x, pois


x ∼ x. As classes de equivalência têm a seguinte propriedade:

Lema. Duas classes de equivalência E e E 0 são disjuntas ou iguais.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Observe que a classe de equivalência E determinada por x contém x, pois


x ∼ x. As classes de equivalência têm a seguinte propriedade:

Lema. Duas classes de equivalência E e E 0 são disjuntas ou iguais.

Prova. Seja E a classe de equivalência determinada por x, e seja E 0 a


classe de equivalência determinada por x 0 . Suponha que E ∩ E 0 não seja
vazio; seja y um ponto de E ∩ E 0 . Veja a figura abaixo.

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Mostraremos que E = E 0

Por definição, temos y ∼ x e y ∼ x 0 . A simetria nos permite concluir que


x ∼ y e y ∼ x 0 ; da transitividade, segue-se que x ∼ x 0 . Se w é qualquer
ponto de E , temos w ∼ x por definição; segue-se de outra aplicação de
transitividade que w ∼ x 0 . Concluímos que E ⊂ E 0 . A simetria da situação
permite-nos concluir que E 0 ⊂ E também, de modo que E = E 0 .

Dada uma relação de equivalência em um conjunto A, denotemos por E a


coleção de todos as classes de equivalência determinadas por esta relação.
O lema anterior mostra que elementos distintos de E são disjuntos. Além
disso, a união dos elementos de E é igual a todos de A porque cada
elemento de A pertence a uma classe de equivalência.

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A coleção E é um exemplo particular do que é chamado de partição de A:

Definição. Uma partição de um conjunto A é uma coleção de


subconjuntos não vazios disjuntos de A cuja união é A.

Estudar relações de equivalência em um conjunto A e estudar partições de


A são realmente a mesma coisa. Dada qualquer partição D de A, há
exatamente uma relação de equivalência em A do qual D é derivado.

A prova não é difícil.

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Para mostrar que a partição D vem de alguma relação de equivalência,


vamos definir uma relação C em A definindo xCy se x e y pertencem a o
mesmo elemento de D. A simetria de C é óbvia; reflexividade decorre do
fato que a união dos elementos de D é igual a A; transitividade decorre do
fato que elementos distintos de D são disjuntos. É simples verificar se a
coleção de classes de equivalência determinadas por C é precisamente a
coleção D.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Para mostrar que existe apenas uma relação de equivalência, suponha que
C1 e C2 são duas relações de equivalência em A que dão origem à mesma
coleção de classes de equivalência D. Dado x ∈ A, mostramos que yC1 x se
e somente se yC2 x, donde se conclui que C1 = C2 . Seja E1 a classe de
equivalência determinada por x em relação a a relação C1 ; seja E2 a classe
de equivalência determinada por x em relação à relação C2 . Então E1 é um
elemento de D, de modo que deve ser igual ao único elemento D de D que
contém x. Da mesma forma, E2 deve ser igual a D. Agora, por definição
E1 consiste em todos aqueles yC1 x; e E2 consiste em todos y tais que
yC2 x. Como E1 = D = E2 , nosso resultado está provado.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Exemplo 3. Defina dois pontos no plano como equivalentes se eles


estiverem na mesma distância da origem. A reflexividade, simetria e
transitividade são triviais. A coleção E de classes de equivalência consiste
em todos os círculos centrados na origem, junto com o conjunto
consistindo apenas na origem.

Exemplo 4. Defina dois pontos do plano como equivalentes se eles


tiverem a mesma coordenada y . A coleção de classes de equivalência é a
coleção de todas as linhas retas no plano paralelas ao eixo x.

Exemplo 5. Seja L a coleção de todas as linhas retas no plano paralelas


à linha y = −x. Então L é uma partição do plano, uma vez que cada
ponto está exatamente em uma dessas linhas. A partição L vem da relação
de equivalência no plano que declara os pontos (x0 , y0 ) e (x1 , y1 ) como
equivalentes se x0 + y0 = x1 + y1 .
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Lógica e Teoria dos conjuntos

Exemplo 6. Seja L0 a coleção de todas as linhas retas no plano. Então


L0 não é uma partição do plano, pois elementos distintos de L0 não são
necessariamente disjuntos; duas linhas pode se cruzar sem ser iguais.

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Lógica e Teoria dos conjuntos

Exercícios - Lista 3a - Relações de Equivalência


1 Defina dois pontos (x0 , y0 ) e (x1 , y1 ) do plano como equivalentes se
y0 − x02 = y1 − x12 . Verifique se esta é uma relação de equivalência e
descreva as classes de equivalência.
2 Seja C uma relação em um conjunto A. Se A0 ⊂ A, defina a
restrição de C para A0 como sendo a relação C ∩ (A0 × A0 ). Mostre
que a restrição de uma relação de equivalência é uma relação de
equivalência.
3 Aqui está uma “prova” de que toda relação C que é simétrica e
transitiva é também reflexiva:
“Como C é simétrica, aCbimplica bCa. Uma vez que C é transitiva,
aCb e bCa juntos implicam aCa, conforme desejado.” Encontre a
falha neste argumento.

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4 Seja f : A → B uma função sobrejetiva. Vamos definir uma relação
em A definindo a0 ∼ a1 se f (a0 ) = f (a1 ).
a Mostre que esta é uma relação de equivalência.
b Seja A? o conjunto de classes de equivalência. Mostre que há uma
correspondência bijetiva de A? com B.
4 Sejam S e S 0 os seguintes subconjuntos do plano:

S = {(x, y )|y = x + 1 e 0 < x < 2},

S 0 = {(x, y )|y − x é um inteiro}.

a Mostre que S 0 é uma relação de equivalência na reta real e S 0 ⊃ S.


Descreva as classes de equivalência de S 0 .
b Mostre que dada qualquer coleção de relações de equivalência em um
conjunto A, sua intersecção é uma relação de equivalência em A.
c Descreva a relação de equivalência T na reta real que é a interseção de
todas as relações de equivalência na reta real que contêm S. Descreva
as classes de equivalência de T .
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