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Aula 1 - Introdução ao Cálculo

Prof. Jáuber Cavalcante de Oliveira


Departamento de Matemática, UFSC,
CEP 88040-900 Florianópolis,
e-mail:j.c.oliveira@ufsc.br
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AULA 2

Assuntos:

• 1.3 União, interseção, complemento e diferença.


Exercícios
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Unidade 1: CONJUNTOS (Cont.)

N = Z+ , N0 = {0} ∪ N.

Proposição 0.1. Seja n ∈ N0 . Se A é um conjunto com n elementos, então


P(A) tem 2n elementos.

Demonstração. Se n = 0, então a demonstração é imediata, pois nesse caso


P(A) = {∅}.
Consideremos n ∈ N.
Podemos representar o conjunto A por A = {a1 , a2 , · · · , an }. Podemos as-
sociar a cada subconjunto de A uma e somente uma sequência de números
binários com n dígitos (ou seja, n dígitos, que em que cada dígito é 0 ou 1).
Dado um subconjunto S de A, digamos S = {a1 , a3 , a5 } com n = 6, podemos
associar uma sequência de n dígitos binários em que na posição i o dígito é
igual a 0 se ai 6 inS e na posição i o dígito é igual a 1 se ai ∈ S. No exemplo
dado, a sequência seria 101010. Note também que cada sequência binária
de tamanho n corresponde a um único subconjunto de A, a saber aqueles
ai em que o i-ésimo dígito na sequência é igual a 1. Assim, temos uma cor-
respondência biunívoca entre os subconjuntos de A e as sequência binárias
com n dígitos. Quantas sequência binárias temos ao todo ? Como em cada
posição da sequência podemos ter 0 ou 1, temos 2n sequências binárias. Isso
implica que temos 2n subconjuntos de A.

OPERAÇÕES COM CONJUNTOS

UNIÂO

Dados dois conjuntos A, B, a união de A e B é o conjunto definido por

A ∪ B = {x| x ∈ A ∨ x ∈ B}.

Assim, um elemento x pertence a A ∪ B se, e somente se, x é um elemento


de pelo menos um dos conjuntos A, B.
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INTERSEÇÃO

Dados dois conjuntos A, B, a interseção de A e B é o conjunto definido


por
A ∩ B = {x| x ∈ A ∧ x ∈ B}.
Assim, um elemento x pertence a A ∩ B se, e somente se, x é um elemento
de ambos os conjuntos A, B.
Observação 0.1. As operações de união e interseção são comutativas e as-
sociativas:
• A∪B =B∪A

• (A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C)

• A∩B =B∩A

• (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C)
Demonstração. Provemos apenas a propriedade associativa da união:
Se x pertence ao conjunto (A ∪ B) ∪ C, então x pertence ao conjunto A ∪ B,
ou x pertence ao conjunto C.
• Se x ∈ (A ∪ B), então x é um elemento de A, ou x é um elemento de B.
No caso de x ∈ A, segue que (x ∈ (A ∪ (B ∪ C))). No caso de x ∈ B,
segue que x ∈ (B ∪ C), e logo x ∈∈ (A ∪ (B ∪ C))).
Assim, em qualquer dos casos temos x ∈ A ∪ (B ∪ C).

• Se x ∈ C, então x ∈ (B ∪ C), e logo x ∈ A ∪ (B ∪ C).


Assim, concluímos que se x pertence ao conjunto (A∪B)∪C, então x pertence
ao conjunto A ∪ (B ∪ C).
Com isso provamos que (A ∪ B) ∪ C ⊆ A ∪ (B ∪ C).
Utilizando argumentos análogos pode-se provar que

A ∪ (B ∪ C) ⊆ (A ∪ B) ∪ C.

Definição 0.1. Dois conjuntos A, B são disjuntos se, e somente se, A ∩


B = ∅. Uma coleção de conjuntos é uma coleção disjunta se cada par de
membros distintos da coleção são conjuntos disjuntos.
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Definição 0.2. Uma partição de um conjunto X é uma coleção disjunta A


de subconjuntos não-vazios e distintos de X tais que cada elemento de X é
um elemento de algum (e logo de exatamente um) membro de A.

Exemplo 0.1.
A = {{1, 2}, {3}, {4, 5}}
é uma partição de A = {1, 2, 3, 4, 5}.

Outra forma de gerar conjuntos a partir de outros conjuntos é a comple-


mentação.

Definição 0.3. O complemento(absoluto) de um conjunto A, denotado A,


é definido por
{x| x ∈
/ A}.
O complemento relativo de A com relação a um conjunto X é X ∩ A,
denotado X − A. Assim,

X − A = {x ∈ X| x ∈
/ A}.

(conjunto dos elementos de X que não são elementos de A)

Definição 0.4. A diferença simétrica dos conjuntos A, B, denotada A +


B, é definida por
A + B = (A − B) ∪ (B − A).

A diferença simétrica é uma operação comutativa e associativa, e A+A =


∅, A + ∅ = A para qualquer conjunto A.

Demonstração. Apresentamos parte da demonstração de que a diferença


simétrica é associativa, notando que a validade da comutatividade da difer-
ença simétrica é um resultado imediato.
Seja W := A + (B + C).
Se x pertence ao conjunto (A + B) + C, então x pertence ao conjunto
(A + B) − C ou x pertence ao conjunto C − (A + B).
Analisemos ambos os casos.

* Se x pertence a (A + B) − C, então x pertence aos elementos de A + B que


não pertencem a C, ou seja, x pertence a (A + B) ∩ C.
Assim, x ∈ (((A − B) ∪ (B − A)) ∩ C).
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Logo, x ∈ (A − B) ∩ C, ou então x ∈ (B − A) ∩ C.
No primeiro caso, temos que (x ∈ A) ∧ (x ∈/ (B ∪ C));
ou seja, x pertence ao conjunto A − (B + C) ⊆ W .
No segundo caso, temos que (x ∈ B) ∧ (x ∈ / (A ∪ C)), ou seja, x pertence a
(B − C) − A ⊆ (B + C) + A = W .

* Se x ∈ C − (A + B), então x ∈ C ∧ x ∈
/ (A + B)).
Lembrando que
A + B = (A ∪ B) − (A ∩ B),
segue que
x∈C ∧x∈A∩B
ou
x ∈ C ∧ x ∈ A ∩ B.
Note que a idéia aqui é que se x está "fora" de A + B, então x pode estar na
interseção de A e B, ou x está na interseção dos complementares: A ∩ B.
No primeiro caso, mostraremos que

x ∈ A ∩ B + C ⊆ W.

Observamos que

A ∩ B + C = A ∩ (B ∪ C) ∩ (C ∪ B)

que podemos escrever como


 
(A ∩ B) ∪ (A ∩ C) ∩ C ∪ B .

Assim, se x ∈ C ∧ x ∈ A ∩ B, então x ∈ A ∩ C ∩ B, que aparece na expressão


acima. Concluímos que neste primeiro caso, x ∈ A ∩ B + C ⊆ W .
No segundo caso, (x ∈ C ∧ x ∈ A ∩ B), mostraremos que x ∈ (B + C) ∩ A ⊆
W.
Observamos que
 
(B + C) ∩ A = (B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∩ A,

que podemos escrever como


   
B∩C ∩A ∪ C ∩B∩A .
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Como C ∩A∩B aparece na expressão acima, segue que se x ∈ C ∧ x ∈ A∩B,


então x ∈ (B + C) ∩ A ⊆ W .

Portanto, mostramos que (A + B) + C ⊆ A + (B + C).


Resta mostrar a inclusão contrária, que deixamos como um bom exercí-
cio.
Se todos os conjuntos em consideração são subconjuntos de um conjunto
U, dizemos que U é o conjunto universal (para aquela consideração). Disc-
utivos em aula a importância destes conjuntos para evitar a formação de
conjuntos "muito grandes".

DIAGRAMA DE VENN

Um diagrama de Veen é uma representação esquemática de conjuntos por


meio de regiões planas como retângulos, círculos, etc. Em aula, esboçamos di-
agramas de Venn para a união, interseção, complementar e diferença simétrica.
Além disso, mostramos a propriedade associativa da diferença simétrica por
meio de diagramas de Venn.

Exemplo 0.2. Sejam A e B conjuntos tais que A − B = B − A = ∅.


Mostremos que A = B.

Solução 0.1. Como A − B = ∅, concluímos que A ⊂ B.


Como B − A = ∅, concluímos que B ⊂ A.
Então, pelo Axioma da Extensão, concluímos que A = B.

Exemplo 0.3. É possível encontrar três subconjuntos A, B, C de U tais que


C 6= ∅, A ∩ B 6= ∅ e (A ∩ B) − C = ∅ ?

Solução 0.2. Utilizando diagrama de Venn, verificamos rapidamente que


isso não é possível. Mostremos isso aqui, sem usar diagramas.
Como A ∩ B 6= ∅, segue que A 6= ∅, B 6= ∅.
Como (A ∩ B) − C = ∅, seque que (A ∩ B) ⊆ C.
Isso nos mostra que a primeira condição é consequência da segunda e da
quarta condições.
Mas A ∩ B 6= ∅ e (A ∩ B) ⊆ C, implicam que existe um elemento de A que
pertence a C, e logo A ∩ C 6= ∅, contradizendo a terceira condição.
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EXERCÍCIOS

E1. Seja U = Z o conjunto universal, e

A = {x| ∃y ∈ Z + ∧ x = 2y},

B = {x| ∃w ∈ Z + ∧ x = 2w − 1},
C = {x| x < 10}.
Descreva os conjuntos A, A ∪ B, A − C e C − (A ∪ B).

E2. Complete a demonstração da propriedade associativa da união.

E3. Complete a demonstração de que a operação de diferença simétrica é


associativa.

E4. Mostre que a seguinte identidade é válida: Dados três conjuntos quais-
quer A, B, C,
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C).

E5. Moste que as seguintes identidades são válidas:


para quaisquer conjuntos A, B,

A = A,

(A ∪ B) = A ∩ B
e
(A ∩ B) = A ∪ B.

E6. (*) Mostre que para todos os conjuntos A, B, C, vale que

(A − B) − C = (A − C) − (B − C).

REFERÊNCIAS

1. Seymour Lipschutz, Teoria dos Conjuntos, Coleção Schaum, Editora McGraw-


Hill do Brasil, Ltda., 1976.
2. Paul R. Halmos, Teoria Ingênua dos Conjuntos, Editora Polígono, 1973.
3. Robert R. Stoll, Set Theory and Logic, Dover, Publications, 1963.

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