Resenha 6, Capítulo VI da Filosofia do Atomismo Lógico, Descrições e Símbolos incompletos
João Victor Ferreira de Almeida
Descrições Definidas e Análise Lógica em Filosofia do
Atomismo Lógico Este texto trata do capítulo VI d´ A Filosofia do Atomismo Lógico. A proposta do capitulo de Russel é tratar das descrições definidas, do que entende por símbolos incompletos e da existência dos descritos.
1. O que são as descrições definidas e como elas são diferentes dos
nomes As descrições ambíguas são aquelas não selecionam somente um indvíduo,mas podem selecionar muitos, ou ao menos mais de um: “um filósofo grego”, “um autor de Principia Matematica”, “um dia chuvoso”... Estas não terão interesse no texto. As descrições definidas são aquelas que, em oposição às ambíguas, descrevem um, e somente um, indivíduo: “O autor de Filosofia do Atomismo Lógico”, “o atual rei da Espanha”, “a Estrela mais próxima da Terra”, o “a soma de 4 e 8”,”o elefante presente na praça 7”, e assim por diante. Pelo último exemplo que dei de descrição definida, pode-se notar que ela não demanda a existência do descrito; “o elefante na praça 7” é uma descrição definida mesmo que seu número seja 0 em algum momento; o que torna algo uma descrição definida é sua forma. Russel escreve que mesmo “o habitante de Londres” é uma descrição definida. Mas devo dizer que vejo com estranheza isso. A não ser em contextos em que “o habitante de Londres” possa ser útil para selecionar um, e apenas um indivíduo, apesar do artigo definido ser usado, a descrição é ambígua. O artigo estaria simplesmente sendo usado de maneira imprópria. Seria tão impróprio quanto dizer “um atual presidente do Brasil”, ou “um autor de Filosofia do Atomismo Lógico”, facilmente interpretaríamos a expressão como um uso impróprio do artigo indefinido, devendo ser reescrita com o outro artigo. Parece, então, que o que conta como descrição definida ou ambígua depende da semântica e do contexto em que a descrição é enunciada, e não somente de conter um artigo ou outro. Mas isso parece um detalhe. Como disse, um dos principais assuntos deste texto são as descrições definidas. Uma observação de grande importância é não confundi-las com nomes. “O autor de Filosofia do Atomismo Lógico” não o mesmo que “Russel”. As diferenças entre nomes e símbolos são as seguintes: (1) um nome é um símbolo simples, isto é, não contém partes que são símbolos, enquanto as descrições contém. “Russel” não tem partes significantes além de si mesmo, “o autor de Filosofia do Atomismo Lógico”, contém “o”, “autor”, “de” e “Filosofia do Atomismo Lógico”, cada uma com seu próprio significado. Naturalmente, as letras não estão sendo consideradas símbolos. Russel não apresenta explicitamente o que se deve entender aqui por “símbolos”. Fora isso, não há maior objeção à diferença apontada por Russel. (2) um nome tem seu significado determinado de forma totalmente convencional, trata-se de uma mera questão de batismo, que não conheceríamos se não conhecêssemos a convenção. Uma descrição tem seu significado completamente determinado pelos seus componentes, cujo significado já estava determinado de antemão. Uma interpretação caridosa, é que, embora o significado dos seus componentes seja determinado convencionalmente (ela pode, inclusive, conter nomes), o seu próprio significado, é determinado por composicionalidade. (3) uma descrição definida, ao contrário do nome demanda um fato, além da mera convenção do batismo. Assim uma identidade entre um nome e outro nome, como “Bertrand é Russel”, é de um tipo diferente de “Russel é o autor de Filosofia do Atomismo Lógico”. O segundo implica que Russel de fato tenha sentado e escrito o livro, que está além de nossas simples prática linguísticas. A identidade relaciona o nome ao um determinado fato, portanto. O “é” de “Russel é o autor de Filosofia do Atomismo Lógico” é de identidade, e não de predicação. Percebemos facilmente com o exemplo de “Russel é britânico”, que obviamente faz com que Russel seja identifica Russel à “britânico”, mas simplesmente predica Russel, diferentemente de “Russel é o autor de Filosofia do Atomismo Lógico. Dito isso, (4) a identidade entre um nome e um nome pode ser somente de falsidade e tautologia, enquanto a identidade “Russel é o autor de Filosofia do Atomismo Lógico” não é tatutológica nem falsa. Dizer “Bertrand é Russel” não é mais tatutológico que “Russel é Russel”. A justificativa de Russel é que quando identificamos nomes, como no caso, “Bertrand é Russel”, o que estamos fazendo é simplesmente relacionar nomes, tratando somente de símbolos, não da própria referência do nome. Ao contrário de “Russel é Autor de Filosofia do Atomismo Lógico”, em que “Russel” é, não o nome, mas a própria pessoa. Posso pensar em um argumento contra afirmação, e outro contra o argumento. Contra a afirmação, que “Bertrand é Russel” pode ser uma afirmação ampliativa, tanto quanto “Scot é o autor de Warveley” era para George IV, se alguém não sabe que Russel tem ambos os nomes. Seria necessária alguma definição precisa de tautologia que evitasse essa objeção. Talvez uma leitura caridosa, é que o critério para distinguir uma tautologia, é que a tautologia é determinado pelo mero significado dos termos, a despeito dos fatos. Como o significado dos nomes são convencionalmente determinados, independentemente de estados do mundo além de nossas práticas linguísiticas, concluiríamos que a identidade entre nomes é meramente tautológica. Contra o argumento, não parece nada claro que o “Russel” na frase apareça como símbolo e não como o próprio Russel, de modo que a identidade poderia ser simplesmente entendida como uma síntese de “Bertrand é o primeiro de Russel”. Não é claro porquê a frase não poderia ser traduzida, sem perda de significado, nessa descrição definida, que refere-se ao homem. Apesar de a última diferença ser duvidosa, as 3 outras parecem convincentes o bastante para justificar que descrições definidas não são nomes. 2. Análise lógica das proposições que contém descrições definidas e descrições definidas como símbolos incompletos Em On Denoting, Russel já tinha argumentado que as frase denotativas não têm significado completo, isto é, só têm significado nas proposições em que ocorrem. É isto, o fato de elas não terem significado completo sozinhas, é o que Russel quer dizer quando dizem que elas são símbolos incompletos. Proposições como “unicórnios não existem”, ou “não há números primos pares maiores que 2” são perfeitamente verdadeiras, mas não pode ser o caso que os termos “unicórnio” e “primo par maior que 2” apareçam do mesmo modo que modo que “Russel” aparece em “Russel é o autor de A Filosofia do Atomismo Lógico”, isto é, como constituinte da proposição. Isto porque, para Russel, um constituinte da proposição deve ser um constituinte do fato que faz a verdade da proposição. O que Russel apresenta é o velho problema de que ao negar a existência, parecemos assumir a existência do que tentamos negar, o famoso problema da “barba de Platão”. O mesmo problema, originado por se tomar um não existente como constituinte da proposição, ocorre em proposições que contém descrições definidas, como o famoso “o atual rei da França é careca”. Não parece que a proposição é verdadeira, mas se negarmos que o rei da França é careca, como seria intuitivo, nos veríamos com o problema de que não encontraríamos, numa lista de todas as coisas não são carecas, o atual rei da França. Teríamos, portanto, que o rei da França é careca é falsa e sua negação também o é. Uma aparente falha do terceiro excluído. Ou admitimos que a lógica clássica é falsa, uma saída desesperada, ou teríamos que admitir que a expressão é, na verdade, sem sentido. Mas isso não parece uma boa saída também, porque podemos entender o que ela diz. A solução para este problema é revelar a verdadeira forma lógica das proposição com uma proposicional, usando variáveis, aos quais predicados das descrições podem ser ou não satisfeitos; e revelar que descrições definidas escondem afirmações existenciais. A verdadeira forma lógica da proposição, portanto é a seguinte: “existe x, e para qualquer y, x=y, tal que x é rei da França e x é careca”. Com isso, asseguramos que a proposição afirma uma existência, que nossa proposição trata-se de um e somente um rei. Com isso, podemos falsear a proposição, dado que não há nada que satisfaça x, sendo x = “o atual rei da França”.