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Saul Kripke e suas críticas às teorias descritivistas dos nomes próprios

em O Nomear e a Necessidade

Matheus Stipp Correia1

Palavras-chave: Filosofia da Linguagem; Nomes próprios; Problema da Referência;


Descritivismos.

Será apresentada uma exposição de um dos principais tópicos presentes na obra do filósofo,
matemático e lógico Saul Kripke, O Nomear e a Necessidade, mais especificamente, o seu
ataque às teorias descritivistas dos nomes próprios (defendidas por pensadores como Gottlob
Frege e Bertrand Russell, entre outros). Os descritivismos, como toda Teoria da Referência
dos Nomes Próprios, pretendem responder ao Problema da Referência dos Nomes Próprios,
que pode ser expresso de maneira breve assim: o que e de que maneira um usuário
competente de um nome próprio refere ao usar um nome? O descritivista defende que a
resposta pode ser dada afirmando que nomes nada mais são que descrições definidas
abreviadas ou disfarçadas, que para cada nome próprio há uma descrição definida tal que é
necessário que o referente do nome próprio seja o objeto que cumpre univocamente a
descrição definida e que todo usuário competente desse nome, apenas em virtude de ser um
usuário competente, está em posição de saber a priori que essa descrição é satisfeita por algo
se o somente se essa coisa for o referente do nome. Em outras palavras, para todo nome n há
uma descrição definida tal que é necessário, analítico e a cognoscível a priori que a coisa é n
se e somente se ela for aquilo que satisfaz a descrição definida. A crítica de Kripke se
apresenta na forma de três diferentes contra-argumentos: o argumento modal; o argumento
epistêmico e o argumento semântico. O argumento modal de Kripke implica que um nome
próprio do tal qual ‘Héspero’ não pode ser analiticamente equivalente à nenhuma descrição
definida do tipo ‘o corpo celeste visível em determinado lugar à noite’, visto que nomes
próprios são designadores rígidos (referem o mesmo objeto em todos os mundos possíveis) e
Héspero não é visível em determinado lugar à noite em algum mundo possível. Quanto ao
1
Discente do segundo ano do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Centro-oeste (UNICENTRO) e
bolsista do grupo PET/Filosofia pelo SISU/MEC.

XXI Semana de Filosofia e XII Semana PET/Filosofia


Filosofia em Tempos de Inovação
27 a 30 de novembro de 2023.
ISSN: 2178-9991
argumento epistêmico: podemos supor, por exemplo, que ‘o homem que descobriu a
incompletude da aritmética’ seja a descrição que fornece a análise para o nome ‘Gödel’. Mas
“[...] embora sejamos usuários competentes do nome ‘Gödel’, não estamos em condições de
conhecer essas verdades de uma forma a priori; poderíamos perfeitamente descobrir que a
descoberta da incompletude da aritmética foi atribuída erroneamente a Gödel e se deve a um
homem diferente, Schmidt.2” (HUGHES, p. 12. Tradução nossa). Quanto ao argumento
semântico, suponha que ‘Peano’ signifique ‘o matemático que descobriu tais e tais
postulados (aqueles cuja descoberta é geralmente atribuída erroneamente a Peano)’. Então,
na verdade, ‘Peano’ se refere a Richard Dedekind, o verdadeiro descobridor de tais
postulados — e isso parece absurdo. Após apresentar tais argumentos, Kripke (2012, p. 154)
afirma: “Julgo que os exemplos que dei mostram, não apenas que há algum erro técnico aqui
ou algum engano ali, mas que a concepção de conjunto que esta teoria nos dá sobre como se
determina a referência parece estar errada desde as suas bases”.

Bibliografia

KRIPKE, Saul. O Nomear e a Necessidade. Lisboa: Gradiva, 2012.


HUGHES, Christopher. Kripke, names, necessity and identity. Nova Iorque: Clarendon
Press, 2006.

2
[...] even though we are competent users of the name ‘Gödel’, we are in no position to know those truths a
priori; we could perfectly well find out that the discovery of the incompleteness of arithmetic was
misattributed to Gödel and is due to a different man, Schmidt.

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