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Correia
INTRODUÇÃO
Todos os textos aqui presentes possuem alguma relação com a chamada Disputa das Horas (Horenstreit) que ocorreu entre Fichte e
Schiller, tendo ela por tema geral a Estética, sendo eles: o Sobre o Espírito e a Letra na Filosofia, texto causador da disputa; a
Correspondência entre os autores; o Sobre a vivificação e a elevação do puro interesse pela verdade, o primeiro texto de Fichte na
revista As Horas; e, por último, o conjunto de prelações Sobre a diferença entre o espírito e a letra na filosofia. Essa reunião de
textos tem por objetivo, por tanto, esclarecer esse importante embate a respeito da relação entre Arte e Filosofia.
A história tem início em 1794, o ano em que Schiller e outra importantes mentes do período decidiram fundar a “sociedade de
ilustres sábios” (Gelehrten), com o objetivo de publicar um periódico mensal chamado As Horas (Die Horen), revista que
abrangeria desde textos filosóficos até poemas e contos. Fichte é, pois, convidado a escrever o primeiro número da revista: o Sobre
a vivificação e a elevação do puro interesse pela verdade, texto que foi muitíssimo bem recebido. Schiller pede a ele que escreva
ouro texto para a segunda publicação, sendo esse justamente o Sobre o Espírito e a Letra na Filosofia – Numa série de cartas.
Schiller, porém, decido não publicar esse texto e escreve uma carta à Fichte apontando os motivos para tal. Esse é o ato que inicia a
chamada Disputa das Horas.
Esse confronto nasce justamente de um interesse em comum entre os dois filósofos: levar o pensamento filosófico para além da
academia, pô-la em contato com o homem comum. A discordância entre eles está na maneira em que isso deveria ser feito. A
concepção de Schiller era de que dever-se-ia, dentre os vários tipos de exposição de exposição filosófica, dar preferência ao ‘estilo
belo’ e à utilização de imagens para que as ideias fossem mais bem absorvidas pelos leitores. Para Fichte, ao contrário, acreditava
que o público deveria antes elevar-se ao ‘nível’ de compreensão necessária para uma discussão filosófica conceitual. Estavam,
portanto, concepções filosóficas completamente opostas.
Schiller procurou, principalmente em sua obra A educação estética do homem, conciliar sistematicamente liberdade e liberdade,
mundo sensível e mundo suprassensível – belo conceito de Belo. Fichte, resumidamente, baseando-se na sua distinção entre espírito
e letra, procurava constituir um discurso que melhor transmitisse o espírito através da letra, isso é, um discurso que se comunicasse
quase imediatamente com imaginação do leitor.
Fichte pretende diferenciar letra e espírito não somente na filosofia, mas também na arte em geral – também realizando uma
aproximação das duas atividades pelo conceito de espírito. Diferencia ele também três formas de ‘impulsos’: o de conhecimento, o
prático e o estético. Ele define o terceiro como tendo a característica de ser totalmente auto referencial, autodeterminado e visando a
representação pela representação – parece ser uma aproximação à estética de Kant, fundamentada no desinteresse da representação
pelo objeto, também sendo ela um ponto médio entre a visão comum e a transcendental. Afirma, pois, ser essencial para essa
passagem a compreensão da diferença do espírito e da letra na filosofia. Espírito é para Fichte a capacidade de elevar sentimentos à
consciência, é imaginação criadora. Por isso ela concerne tanto ao filósofo quanto ao artista, e essa passagem do comum ao
transcendental pode ser realizada tanto pela filosofia quanto pela arte.
Primeira carta
Fichte escreve essa ‘carta’ para um interlocutor que possui dúvidas com relação ao Espírito e a Letra na filosofia. O autor pretende,
portanto,