Você está na página 1de 4

Sáez, Oscar Calavia. Esse obscuro objeto da pesquisa: um manual de método, técnicas e teses em antropologia.

Florianópolis,
Edição do Autor, 2013.

p.7
O método é escrito em linguagem compreensível, direto ao ponto, conversa diretamente com o etnógrafo
Método etinográfico
Experiência: estudante, professor de pós-graduação, orientador, membro de bancas, e
Parecerista ad hoc de projetos ou artigos
O roteiro do livro se baseia em perguntas, problemas ou causas dos problemas em meio às pesquisas dos alunos
Outros temas foram incluídos
Devemos ser etnográficos
Guia para viajantes: enviesados e mais francos que outros documentos
Não se detém em estratégias engessadas, apesar de se inserir no campo que descreve
Por vezes, expressa opiniões opostas às de aceitação geral em busca de novas alternativas às práticas correntes, ou pelo menos trazer à
tona uma percepção mais nítida sobre a prática acadêmica voltada para a etnografia
A teoria e o método não deveriam ocupar muito espaço

p. 08
Algumas páginas deste manual se assemelham ao gênero autoajuda, lamentável mas inevitável, tudo isso por conta das aflições em que
vive o pesquisador durante seu percurso
Gravidez e parto são metáforas da elaboração de uma pesquisa mais válidas que descoberta e iluminação
Angústias ao longo da pesquisa tem se tornado objeto de estudo a ser discutidos em artigos e seminários
Objetivo do método: tratar de como fazer uma pesquisa e como sobreviver a ela
O método traz a indicação de referências que sustentam as inclinações do autor
Muitas das teorias ou conceitos tidos como vanguarda reeditam ideias que nem sempre são tão novas
A leitura do método pode ser de acordo com as necessidades de entendimento do leitor
O mundo editorial percebe-se hoje como prestador de serviços (ao autor ou sua instituição) e não mais como produtor de bens culturais

p. 09
Graças à editora, o autor se agrada ao ver sua obra impressa - as instituições continuam a dar mais valor ao livro impresso que ao livro
puramente virtual
São criados vários empregos neste mundo editorial, que atende aos interesses dos autores e PPGs, mas, após os lucros da co-edição, não
costuma ajudar muito na divulgação da obra e nem fazê-las acessível ao bolso do estudante
Objetivo da disponibilização por meio digital: 1- imediata e gratuita disponibilidade aos pesquisadores interessados; 2- poupar papel.
As notas dos capítulos se configuram como textos paralelos, servindo para ampliar ou trazer visões diferentes sobre os assuntos tratado
configuram um texto paralelo e sugerem vias que quem lê pode talvez preferir às que aqui se expõem
Este texto busca discutir assuntos de interesse por alunos em geral e orientandos em particular, que não estão bem explicados nos manuais
ou textos da área, se configuram como áreas de sombra, pois nenhum deles se ocupou destas
Como exemplo: indicações sobre o mundo acadêmico, ou incertezas sobre a antropologia e sua identidade
Muitos estudantes foram colaboradores deste trabalho: perspicácia, criatividade, dúvidas e por vezes insensatez

p. 10
Este texto pretende ser um manual prático
Fonte da experiência docente e de orientação
Poucas das ideias são do Calavia Sáez
Ele cita mais textos opostos aos seus pensamentos, para oferecer um panorama mais amplo e mais consensual que o dele, oferecendo
pontos de vistas alternativos

p. 11

Existe muitos manuais de antropologia e etnografia, só para uma simples resenha o autor estima que seriam necessárias mais páginas que
as da totalidade do seu livro
Sugere contornos deste panorama, indicando outros manuais que poderão complementar as deficiências deste
Os manuais perdem a validade para contextos históricos diferentes dos de sua consecução, entretanto, valem para entender a história da
disciplina
Manuais: Marcel Mauss – compilação de suas aulas feitas por seus alunos, em especial Denise Paume (Notes and Queries on Anthopology,
1892). A tradução brasileira desta obra se intitula: Guia prático de Antropologia
Estes manuais contém descrições do que o pesquisador poderá ou deverá achar no campo: técnicas de extração, conservação, transporte,
como evitar que os nativos nos enganem, nos passando um pote que acabaram de fabricar como sendo peça arqueológica
Eram manuais pensados para um uso eventual por etnógrafos amadores, que forneceriam seus dados a investigadores profissionais
Já Malinowski e Boas determinaram que os investigadores fossem pessoalmente a recolher os dados que analisariam depois
Quase todos os manuais existentes pertencem a esse paradigma e tratam da pesquisa de campo, suas complexidades, arapucas práticas ou
intelectuais da atividade da pesquisa etnográfica

p. 12
se forem lidos numa ordem cronológica, o leitor perceberá que há uma lenta progressão
problemas que o pesquisador (com suas expectativas, preconceitos e quadros teóricos) causa a si mesmo
problemas que o pesquisador pode causar aos nativos com sua pesquisa (revisão pós-moderna da antropologia)
A ênfase das disciplinas de métodos passou, recaindo em textos inspiradores como o de Roberto DA MATTA (1978) no Brasil “O ofício de
etnólogo, ou como ter ‘anthropoligical blues’”. O mesmo texto esta no livro Relativizando: uma introdução à antropologia social, usado como
texto introdutório
cumpriam o mesmo papel textos como VELHO 1978, ou como CARDOSO 1986
veio a ter mais tarde a reflexão de Jeanne FAVRET-SAADA: “Ser afetado”, fartamente usado para tratar do modo em que o sujeito
pesquisador encontrar-se-á alterado pelo seu campo
que a pesquisa etnográfica não é uma pesquisa de laboratório e portanto mal pode ser treinada, prevista ou regulamentada como se o fosse.

p. 13
embora já fossem textos reflexivos, deixavam de escanteio a sensibilidade pós-moderna, eram atentos ao papel do
pesquisador e da sua subjetividade, mas essa reflexividade raramente focalizava no que o pesquisador trazia de bagagem: suas
motivações, suas expectativas acadêmicas, a epistemologia, o projeto
Essas questões eram atendidas por manuais mais gerais e chatos: GIL (1988) ou o enxuto e magnífico Como se faz uma tese,
de Umberto Eco, cuja a utilidade prática jamais perguntou sua utilidade prática para entender o todo
Reflexões da sociologia - BOURDIEU, CHAMBOREDON e PASSERON 2004.

Reassembling the social. Anvintroduction to actor-network-theory (LATOUR 2005), Remontando o social. Uma introdução à teoria
do ator-rede

p. 15
O que é antropologia?
Não pretende servir como introdução à antropologia
É dirigido a pesquisadores iniciantes
Fundamentação a recomendações práticas
Só será entendido em conjunto com a leitura de outros textos, descrições mais extensas e profundas da história da disciplina
A identidade da disciplina está em crise
Crise de autoridade, objeto, representação
Não está claro o que a antropologia fala, nem de como poderia ou deveria falar desse objeto que não se sabe definir
Não se sabe se teria o direito de falar pelos outros ou pela humanidade
Crises alimentam a teoria em qualquer ciência... de que modo alimentam a antropologia?
A antropologia parece conviver bem com a crise... A crise da antropologia é um dado positivo... isso fez dela uma disciplina
indisciplinada
No Brasil, as avaliações são positivas sobre o lugar da antropologia no campo científico e não demonstram sinais de cansaço

p. 16
Porque a antropologia seria necessária quando o Outro não está nem distante nem mudo?
Porque decifrar o outro quando o outro já sabe falar as línguas do Ocidente e da Academia, e já reivindica falar por si mesmo,
sem intermediários
Na Espanha a antropologia se tornou necessária para intermediar contingentes de migrantes recentes e pouco integrados
Os motivos do sucesso ou insucesso da antropologia pertencem à mesma episteme: globalização, interdisciplinaridade,
multiculturalidade, fragmentação, afloramento de disjuntivas que não aspiram à síntese
A crise da antropologia é consequência de um mundo que gosta de sentir-se em crise

Indisciplina construtiva
A antropologia não é uma ciência normal e nem revolucionária
Um paradigma não refuta nem substitui totalmente o anterior, como aconteceria com as ciências revolucionárias
Os paradigmas teóricos da antropologia convivem pacificamente. Para isso, aplica-se uma indiferença mútua, em lugar de
lutar pelo predomínio
A antropologia não tem sentido linear. A criação de novos objetos é mais significativa que a de novas teorias
Sínteses ou generalizações não são melhores que as análises locais
Desordem, rebeldia libertária
Dificilmente se encontram disputas de fronteiras,

p. 17
polêmica acirrada, nem polêmica entre antropólogos, a não ser por questões políticas
Isso não quer dizer que os antropólogos cooperem solidariamente e não saibam de inimigos
A antropologia é avessa a ortodoxias
É importante que a identidade da antropologia esteja permanentemente em questão, em dúvida, em crise
p. 19
Antropologia feita por nativos, ou a ideia de antropologias periféricas

p. 20
A antropologia é uma ciência?
E isso é coisa que se pergunte? (kkkkkkk)
Na opinião do autor a antropologia é uma ciência. A possibilidade de não ser é muito menos interessante
É útil refletir a esse respeito
A antropologia queria ser uma ciência no sentido positivista
A especificidade das ciências humanas é tão indiscutível que ninguém quer perder tempo em codifica-la
Tratar as ciências humanas como ciências naturais é discutível: 1- tende a levar o conceito de ciência pelo viés positivista; 2-
opera como se a separação entre humanas e naturais fosse maléfica, havendo como que uma necessidade de aproximação, por
parte das humanas, das naturais; 3- privar a antropologia de traçar seu próprio caminho, objetos, métodos, sua autonomia.
A rebelião perante as camisas de força do positivismo teve sem dúvida efeitos libertadores

p. 21
a autonomia da ciência deve ser discutida
1- O conceito de ciência tem assumido significados vários na academia. No positivismo era considerada como um
conjunto hierarquizado de fórmulas empiricamente verificáveis
Segundo Popper, a ciência passa a ser um conjunto de proposições suscetíveis de ser refutadas
São abundantes os tipos de saberes que não são ciência e que são dignos e úteis, são mais recorrentes e úteis que a ciência
A regra da falseabilidade de Popper pode ser aplicável à heurística – processos intelectuais capazes de organizar dados

p. 22
Boa parte das nossas interpretações são dispositivos heurísticos, uma classificação, uma descrição, podem ser vistas como
artefatos heurísticos
Um artefato heurístico é falseável na medida em que pode ser substituído por outro que apresente uma maior economia de
meios e/ou um desempenho maior
Wittgenstein – a ciência como um conjunto de jogos de linguagem – não há objetos científicos ou problemas reais fora da
língua que os formula e dos jogos de que ela é capaz – a finalidade da investigação é identificar e eventualmente dissolver esses
jogos de linguagem
Para Popper os objetos da ciência são reais e não dependentes da linguagem
Wittgenstein nega a existência de uma realidade que possa ser argumentada fora da linguagem – a noção de jogos linguísticos
contribuem a ciência como novos objetos – interessa a antropologia, pois fatos linguísticos são sociais
Para os antropólogos, o termo “jogos de linguagem” representa uma chamada ao centro da reflexão

p. 23
Thomas Kuhn - a ciência não se da como uma espécie de linha continua de descoberta, mas em forma de paradigmas
as verdades científicas só existem dentro de conjuntos de pressupostos conceituais e metodológicos, de critérios de legitimidade e
relevância concretos, limitados, não universais nem eternos
Popper tende a pensar a ciência como uma espécie de monarquia onde tudo está previsto na lei e os cidadãos nunca avançam o sinal
fechado

p. 24
Feyerabend entende que o mundo é bastante caótico, a lei não deixa de existir, mas sempre é definida ou redefinida a posteriori

SEGUNDA DISCURSÃO
Divórcio entre as ciências humanas e inumanas
De um lado a objetividade da natureza, do outro a subjetividade humana
Ciências duras e ciências moles – as primeiras devem ser capazes de formalizar, enunciar regras e predizer, as segundas são saberes pouco
formalizados, que se valem da linguagem comum e não da matemática, se interessam mais pelas descrições que por regras, vão atrás de fatos
sem conseguir antecipá-los

p. 25
Na antiguidade todo conhecimento objetivo a respeito da natureza era considerado inferior: a teologia e o direito eram julgados muito
acima dos conhecimentos que se ocupavam de bichos, tripas, plantas ou pedras, a medicina era a única aceita na universidade
O positivismo inverteu essa preeminência: as ciências humanas passaram a ser um estágio transitório no caminho do saber
O que diferencia drasticamente as ciências naturais e das humanas são seus objetos
A ciência humana faz explicitamente parte do seu objeto: é reflexiva

p. 26
Terceira discursão
Dilatado ceticismo a respeito da certeza científica

p. 27
O positivismo é obsoleto, porém continua firme e forte em muitos lugares

p. 28
A ciência desejava ser o retrato fiel de uma realidade... entretanto a ciência é uma construção

p. 29
Entre sair, carregando nosso relativismo e nossas interpretações, ou permanecer lá onde o relativismo e as interpretações fazem mais
sentido, onde são mais questionados

p. 30

Você também pode gostar