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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E ARTES

Filosofia, Política e Relações internacionais

Filosofia da linguagem e comunicação

Filosofia da linguagem: Uma introdução contemporânea- William G. Lycan

Docente: José Sanches


Discente: Victor dos Reis

2023
Índice

Conteúdo
Índice...........................................................................................................................................2
Introdução....................................................................................................................................3
Descrições definidas.....................................................................................................................4
Nomes próprios: A teoria descritiva.............................................................................................5
Nomes próprios: referencia direta e a teoria histórico-causal.......................................................6
Teorias tradicionais do significado...............................................................................................8
Teorias de uso..............................................................................................................................9
Teorias psicológicas: o programa de Grice.................................................................................10
Verificacionismo........................................................................................................................10
Teorias verdadeiro-condicionais: o programa de Davidson........................................................11
Teorias verdadeiras-condicionais: mundos possíveis e semântica intensiva...............................12
Considerações finais...................................................................................................................14
Referência bibliográfica.............................................................................................................15

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Introdução
O livro " Filosofia da linguagem: uma introdução contemporânea " é escrito por
William Lycan, um filósofo americano conhecido por sua contribuição na área da
filosofia da mente, lógica e linguagem. Ele é professor emérito da Universidade da
Carolina do Norte em Chapel Hill, e o livro foi publicado pela Routledge. Este livro
fornece uma introdução abrangente às principais questões e teorias na filosofia da
linguagem, incluindo a representação de significado, a natureza da referência, a
estrutura da sentença, a relação entre mente e linguagem, e a relação entre linguagem e
realidade. Ele também discute aplicações da filosofia da linguagem para outras áreas,
como filosofia da mente, lógica e epistemologia.
Lycan é conhecido por sua teoria da "comunicação-condicional" e "condições de
adequação da verdade" e ele argumenta que a comunicação é possível quando as
condições de adequação são atendidas, e essas condições variam dependendo do
contexto da comunicação. Ele contribuiu de forma significativa para a compreensão da
filosofia da linguagem como um campo interdisciplinar.
A filosofia da linguagem é uma área da filosofia que se concentra na natureza da
linguagem, do significado e da comunicação. Ele tem sido um campo importante de
estudo desde a antiguidade, mas se tornou especialmente relevante na filosofia
contemporânea, com desenvolvimentos teóricos e técnicos na lógica, filosofia da mente,
e ciências cognitivas. O livro de Lycan fornece uma introdução atualizada e acessível
para estudantes e profissionais interessados em filosofia da linguagem, e se encaixa bem
no contexto histórico e teórico da área.
Além disso, é importante mencionar que William Lycan tem uma formação acadêmica
diversificada, ele é graduado em Filosofia, psicologia e matemática e tem doutorado em
filosofia pela Universidade de Massachusetts em Amherst. Ele é reconhecido por sua
contribuição em áreas como representação de significado, mente e linguagem e
epistemologia. Ele tem publicado vários livros e artigos sobre esses assuntos e sua obra
"Philosophy of Language" é considerada como um ponto de referência importante na
área.
Neste trabalho tenciono fazer uma resenha da obra de forma mais simples e sucinta
possível.

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Descrições definidas
Para Lycan a teoria atual de definições descritivas propõe que o significado de uma
palavra ou expressão é composto por significados genéricos e não por um significado
específico. A verdade de uma sentença é determinada pela verdade de suas palavras
individuais. No entanto, essa abordagem gera controvérsias, como a questão da verdade
independente da realidade e a importância do contexto na determinação do significado.
A crítica de Lycan à teoria Russell-Fregeana argumenta que ela simplifica demais o
processo de significação e sugere o uso de um referencialismo contextual para abordar
essa questão. As definições descritivas são especialmente relevantes para termos
singulares, como nomes próprios e pronomes, pois não podem ser consideradas
verdadeiras por convenção.
Gotllob Frege (1848- 1925) e Bertrand Russell (1872-1970), como afirma Lycan,
formularam quatro problemas sobre termos singulares.
O problema da referência aparente a não-existentes propõe uma definição descritiva
simples como “uma coisa é algo”. É inconsistente ou logicamente contraditório afirmar
simultaneamente que a sentença “é significante” e que “é uma sentença sujeito-
predicado” e que ”uma sentença sujeito-predicado é significante (somente) em virtude
de seu apego a uma coisa individual e de atribuir alguma propriedade à coisa” e que, da
sentença, “o termo subjetivo falha em se apegar ou denotar alguma coisa que existe” e
que se a sentença “é significante somente em virtude se apegar a uma coisa e atribuir
propriedade a essa coisa” e se, da sentença, “o termo subjetivo falhar a se apegar a algo
que existe”, então a sentença “não é significante” ou “se apega a uma coisa que não
existe”: mas “não há nenhuma coisa como uma coisa não-existente”. Por exemplo: “6)
O atual rei da França é calvo.” Parafraseando:
“Pelo menos uma pessoa é atualmente rei de França; no máximo, uma pessoa é
atualmente rei de França; seja quem for presentemente rei de França é calvo.”
(LYCAN, 2019; 40)
Com isso pode-se verificar que a primeira conjuntura é falsa, pois França não tem rei,
o que falsificaria logo a frase por completo, nenhuma conjuntura faz menção a um
individuo em específico que seja o rei, “o rei não surge na forma lógica como sujeito.”
(LYCAN, 2019; 41)
O problema dos existenciais negativos propõe uma definição descritiva simples como
“uma coisa inexistente nunca existiu”. A verdade de uma sentença como esta é
problemática porque, para ser verificada, ela precisa se referir a algo que não existe,
sendo, apesar disso, compreensível. Neste problema Russel argumenta: “(2) Pégaso
nunca existiu”.
“A frase 2 parece verdadeira e parece ser acerca de Montada de Belfonte, pégaso. Mas
se 2 for verdadeira, não pode ser acerca de pégaso, pois não existe para que possa ser
sobre isso. (…) se 2 for acerca de pégaso, então é falsa pois Pégaso terá, em algum
sentido de existir.” (LYCAN, 2019; 34))
O problema da substituibilidade, o autor realça que a função do termo singular é a de
selecionar e introduzir um único elemento no discurso, dando-lhe um significado

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específico. De acordo com a teoria referencial do significado, dois termos singulares
que denotem a mesma coisa são semanticamente equivalentes, permitindo que se faça a
substituição de um pelo outro sem alterar o significado ou o valor de verdade da frase.
A teoria das descrições de Russell ousa atribuir significância até mesmo a artigos
definidos como (“o”). “O”, nesta conceção, serve como termo definidor de três
significados intrínsecos: no mínimo uma coisa é algo; no máximo uma coisa é algo;
qualquer que seja a coisa, ela é algo.
Ao utilizar o modelo proposto pelo filósofo-matemático, é possível observar que o
problema da referência aparente a não-existentes pode ser enfrentado quando se aplica a
definição descritiva "uma coisa é algo", pois essa definição pode se tornar falsa devido à
inexistência de "uma coisa". Dessa forma, as três definições genéricas, falseadas, não
podem formar uma sentença específica verdadeira, mesmo que gramaticalmente, fora de
contexto, a sentença, em si, não apresente nenhum elemento que a torne falsa, exceto
segundo uma determinada presunção contextual.
Russel defende com base nos quebra cabeças que as descrições definidas realmente têm
significado além de seus referentes e que esse é um dos seus contributos semânticos.
Russel em vez de definir a palavra claramente, oferece uma forma de parafrasear tipos
comuns de frases completas que contem “o”, revelando o que se denomina por “formas
lógicas” das frases.

Nomes próprios: A teoria descritiva


Os nomes próprios são diferentes de palavras comuns, eles são considerados simples e
não compostos. No entanto, a análise dos problemas relacionados aos nomes próprios
gera várias interpretações.
Frege tentou resolver esses problemas sugerindo que os nomes próprios não apenas se
referem a algo, mas também têm um significado ou sentido. De acordo com ele, um
nome não se refere a algo, mas sim expressa um sentido que é o exemplo específico de
um sujeito e um atributo.
Russell discordou dessa perspetiva, argumentando que os nomes próprios são na
verdade descrições definidas disfarçadas e que a solução para esses problemas é
simplesmente usar a descrição completa em vez do nome próprio. Ele afirma que uma
frase que contém um nome próprio envolve automaticamente três partes e juntas
formam uma frase específica. A tese é que os nomes próprios do quotidiano não são
realmente nomes, pelo menos, não são nomes millianos genuínos. Parecem nomes e
soam a nomes quando os dizemos em voz alta, porem não são nomes no que respeita a
forma logica, onde as propriedades logicas das expressões são postas a nu. Russel
afirma que abreviam descrições.
A tese de Russel de que os nomes próprios são semanticamente equivalentes as
descrições enfrenta fortes objeções, é difícil encontrar uma descrição especifica que seja
equivalente a um dado nome, e as pessoas para as quais um mesmo nome exprime
diferentes descrições, estariam a falar em “dessintonia” quando tentassem discutir a
mesma pessoa ou coisa.

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A teoria referencial do significado é falsa no que respeita as descrições, porque estas
não são realmente termos (logicamente) singulares, mas podemos continuar a sustentar
a teoria referencial no que concerne os nomes próprios em si.
“Os nomes são apenas nomes; têm o significado que têm simplesmente porque
designam as coisas particulares que designam e porque introduzem designate no
discurso.” (LYCAN, 2019; 68)
John Stuart Mill defende que os nomes próprios são meramente etiquetas de pessoas
ou objetos individuais, não dando outro contributo para os significados das frases nas
quais ocorrem senão o dos próprios indivíduos. (LYCAN, 2019; 68)
A ideia de sentidos como modos particulares de apresentação permite a Frege uma
solução, no mínimo, aparente d problemas das existenciais negativas. Na conceção de
Frege, um nome só expressa seu sentido, não o denota.
Kripke tentou, no entanto, criticar esses dois modelos. Ele observou que, na verdade,
uma pessoa referenciada por descrições genéricas pode nunca ter praticado as ações e
situações associadas ao seu nome e ainda assim ser referenciada por ele. Ele também
mostrou que é possível que a pessoa desminta as características associadas ao seu nome
e que palavras sinônimas produzem frases totalmente desnecessárias. Além disso, ele
mostrou como é comum as pessoas associarem nomes diferentes a descrições diferentes
e nomes diferentes a uma única descrição. Nomes fictícios, segundo o modelo de
Russell, nunca poderiam ser considerados verdadeiros, pois não têm referências reais,
apesar de serem conhecidos na cultura popular.
Lycan afirma que a tese dos nomes é inteiramente independente da própria teoria das
descrições. Realça que alguns teorizadores sustentam a teoria das descrições como uma
teoria das próprias descrições definidas, ao mesmo tempo que rejeitam completamente
teses dos nomes; é menor comum, mas poderia aceitar-se a tese dos nomes e sustentar
uma teoria das descrições diferentes da de Russel.
Searle ofereceu sua objeção mais flexível que sugere que um nome está associado não
a uma descrição particular, mas a um agregado vago de descrições.

Nomes próprios: referencia direta e a teoria histórico-causal


A ideia de nomes próprios está relacionada com a noção de mundos possíveis. Esta
perspetiva sugere que existem verdades que não estão ligadas à realidade conhecida.
Uma frase pode ter sido verdadeira no passado ou pode ser verdadeira no futuro. Cada
uma dessas possibilidades alternativas pode ser potencialmente considerada verdadeira
sem qualquer relação com a realidade atual. Assim, há uma diferença entre um
designador fraco, que muda de mundo para mundo, e um designador rígido, que é único
universalmente.
Alguns teorizadores defendem que os nomes são diretamente referenciais, no sentido
de não dar contributo algum para o significado de uma frase na qual ocorre, alem do seu
portador ou referente. Considera-se o mundo em que vivemos não apenas o planeta
terra, mas todo o universo. O nosso discurso sobre coisas no nosso universo é sobre o

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que efetivamente existe, que coisas realmente há, afirma. (…) O que é verdadeiro neste
universo é claro que é atualmente verdadeiro afirma o autor, contudo há coisas que são
de fato falsas e, no entanto, poderiam ter sido verdadeiras. As coisas poderiam ter sido
diferentes; o mundo poderia ser diferente do que é. (LYCAN, 2019; 90)
“A verdade de uma frase, mesmo que mantenhamos fixo seu significado depende do
mundo que estamos a considerar. «May é primeira ministra» é verdadeira no mundo
atual, mas, dado que May não tinha de ter sido primeira ministra, há inúmeros mundos
nos quais «May é primeira ministra é falsa» é falsa; nesses mundos May não foi
sucessor de David Cameron, ou nunca existiu. E em alguns outros mundos, outra
pessoa é primeiro ministro. Desta forma, uma dada frase ou proposição varia o seu
valor de verdade de mundo para mundo” (LYCAN, 2019; 91)
Os nomes próprios têm uma certa fixação que os coloca na categoria de designador
rígido, normalmente por manter o mesmo significado de referência entre diferentes
mundos, sem, contudo, serem equivalentes descritivamente. No entanto, existem
exceções, como quando objetos são mencionados para se referir a uma de suas
características e não a eles mesmos. Kripke oferece uma forma de testar se um
designador é rígido: se "N pode não ter sido N" pode ser considerado verdadeiro, o
designador é fraco; se "N pode não ter sido N" não pode ser considerado verdadeiro, o
designador é rígido. Um nome próprio forte é levado de um mundo possível para outro,
ainda que contenha predicados diferentes. Nesse sentido, os nomes próprios, embora
sejam psicologicamente associados a definições descritivas corretas na mente de uma
pessoa, nunca podem ser equiparados aos referenciais descritivos por natureza. John
Stuart Mill propôs que o nome não contribui para a frase, mas sim se refere a um
indivíduo para introduzi-lo no discurso. Um nome milleano é rígido, mas um nome
rígido não é necessariamente milleano.
A teoria de Mill é chamada de teoria da referência direta de nomes. Ela afirma que
nomes podem ser trocados sem mudar o significado da frase. Essa teoria é positiva, ao
contrário da noção de que nomes não têm significados além do contexto em que são
usados. Kripke, por outro lado, apresenta uma visão histórica e causal dos nomes,
mostrando como a ideia de um nome está ligada a uma conexão recente entre as
referências nominais.
A conexão histórica e causal coloca o significado do nome no contexto dos
interlocutores capazes de entender o substantivo. Esse contexto permite identificar
informações conhecidas como válidas e invalidar informações sem ligação coerente
com a realidade. Os nomes próprios estão relacionados com a ideia de mundos possíveis
e a teoria da referência direta de nomes. A teoria de John Stuart Mill diz que nomes se
referem diretamente a um indivíduo e são chamados de "nomes milleanos". Já Kripke
propõe uma teoria histórico-causal para os nomes, onde a ideia de um nome se liga a
uma conexão recente na sequência de referências nominais. Isso significa que o
significado de um nome não depende de crenças ou informações, mas sim do contexto
em que é usado. No entanto, essa teoria também aponta problemas como nomes
surgindo para se referir a algo que não existe e a ambiguidade dos nomes próprios.
Hilary Putnam exemplifica isso com a ideia de um planeta idêntico a Terra, mas com

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nomes diferentes para as coisas, mostrando como isso pode causar confusão na
comunicação.

Teorias tradicionais do significado


Fatos significantes são base para a teoria do significado. Ademais, a significância de
objetos físicos, as expressões distintas que se definem por um significado comum, as
sentenças singulares que podem ter significados plurais, etc, são tópicos de extrema
relevância para a avaliação de uma teoria do significado.
O significado está ligado à ideia de individualidade de coisas. Ele não é apenas uma
ideia na mente de alguém, mas algo semelhante a uma ideia abstrata. A lógica e a
linguística permitem formalizar o significado em uma plataforma ainda mais abstrata. A
significância, a univocidade dos sinônimos e a equivocidade dos termos ambíguos, a
abreviatura e a implicação são elementos naturais do conceito. Lycan afirma que é
importante evitar a formalização excessiva do conceito de significado, pois isso pode
desnaturalizar a realidade do significado.
As teorias ideacionais tratam os significados como entidades independentes. De
acordo com John Locke, o significado das expressões linguísticas são ideias presentes
na mente. Nesta perspetiva, a comunicação é realizada através de uma correspondência
entre a expressão e a ideia contida na mente do recetor. No entanto, essas ideias mentais
podem variar no tempo e espaço, levando a problemas como o dos sinônimos (quando
as ideias são diferentes, mas unívocas) e o da ambiguidade (quando as ideias são iguais,
mas equívocas). A defesa ideacional argumenta que a ambiguidade é resolvida pela
univocidade das ideias, ou seja, que elas carregam um único conteúdo, mas em
diferentes formas, alusão à confusão temática da linguagem. (LYCAN, 2019; 127-128)
“Algumas sequencias ou marcas ou ruídos no ar são apenas sequencias ou marcas ou
ruídos no ar, ao passo que outras em particular, frases completas têm significado.”
(LYCAN, 2019; 126)
As teorias ideacionais tratam os significados como entidades independentes, como
ideias contidas na mente. No entanto, essa abordagem enfrenta algumas críticas, como a
dificuldade de se definir e compreender a natureza dessas entidades mentais, bem como
o problema de algumas expressões linguísticas não terem uma referência concreta no
mundo real. Além disso, imagens mentais não podem ser confundidas com as próprias
entidades significantes, e a linguagem é um fenômeno público e não está sujeita a
normas estabelecidas. Por fim, sentenças formais válidas podem ser verdadeiras em si
mesmas, mesmo sem estarem ligadas à realidade
A teoria proposicional é baseada na ideia de que as expressões linguísticas são
entidades autônomas, desvinculadas da realidade e que a lógica da linguagem pode ser
estudada de maneira formal, independente de qualquer subjetividade. Ela afirma que os
termos são entidades autônomas que não precisam estar associados à realidade e que a
ambiguidade é um problema que pode ser resolvido pela lógica. A teoria proposicional é
baseada na introdução de uma sentença proposicional para análise, e o valor de verdade
da sentença não depende do significado dos termos, mas sim de sua validade formal e
verificação de correspondência. O contexto é considerado como um fator importante
para a estipulação do valor da sentença, mas a verdade das sentenças é permanente de

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acordo com as regras da teoria. Além disso, os termos isolados em uma proposição não
são considerados como representantes de uma ideia completa, mas como unificadores
de várias ideias. Estas características qualificam a teoria proposicional como uma teoria
da entidade significante.
Por vezes dizemos que duas expressões são sinónimas; dizemos, por vezes que uma
expressão é ambígua, ou seja, que tem mais de um significado. Dizemos por vezes que o
significado de uma expressão está contido no de outra, como fêmea e equídeo estão
contidas no significado de “égua”. Conferir em: (LYCAN, 2019; 126)
Qualquer teoria do significado deve levar em conta os fatos relevantes: Alguns objetos
físicos têm significado, diferentes expressões podem ter o mesmo significado, uma
única expressão pode ter mais de um significado e que o significado de uma expressão
pode estar contido no de outra. Tendemos a falar de significados como objetos
individuais. Pensa-se que os significados sejam ideias particulares na mente das
pessoas, mas isso foi desmascarado com várias objeções. Os significados devem ser
mais abstratos, os tipos de ideias que podem estar ocorrendo na mente de algum
indivíduo em algum lugar.

Teorias de uso
Ao contrário da teoria proposicional, o autor realça que Wittgenstein argumentou que
palavras e sentenças não são objetos abstratos, elas dependem do papel que a expressão
desempenha no comportamento social humano. Saber o significado de uma expressão
significa saber usá-la adequadamente em uma conversa. De acordo com Wittgenstein e
Austin, a ideia de Russell de examinar a proposição tratando-a como um objeto de
interesse como tal e tentando entender sua estrutura está errada. Porque as entidades
linguísticas não são objetos abstratos desprovidos de vida. Segundo eles, a linguagem
tem mais a forma de um comportamento, uma atividade, especificamente uma prática
social. Para um indivíduo, pronunciar uma afirmação significa fazer algo e, portanto,
um comportamento que se tornou uma prática social regida por regras.
Wittgenstein e Austin desenvolveram a ideia do comportamento social de maneiras
diferentes:
A visão wittgensteiniana, para lidar com o significado que em si é misterioso, deve-se
partir do lado da receção, da apreensão do significado, da compreensão. Você tem que
olhar para a compreensão enquanto aprende uma língua. O que aprendemos é uma
forma complicada de comportamento social. A prática da linguagem é um conjunto
complexo de regras que muitas vezes não são explícitas; na verdade, as crianças
aprendem fácil e rapidamente sem perceber o que estão fazendo.
Segundo Wittgenstein, a linguagem é algo que é produzido pelas pessoas de uma forma
profundamente convencional e regulada. As expressões linguísticas são como peças de
jogo, peões que são definidos pelas regras do jogo e regem suas posições iniciais e
movimentos subsequentes.

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“Wittgenstein introduziu o termo «jogo de linguagem» tendo em vista coisas como jogo
de linguagem de encontrar e saudar alguém, o jogo de linguagem do casamento, o jogo
de linguagem da aritmética e assim por diante” (LYCAN, 2019; 144)
Ainda o autor afirma que “a beleza da teoria inferencial é conseguir evitar sem
esforço, todas as objeções que fizemos a cada uma das três teorias tradicionais
(referencial, ideacional e proporcional). Além disso é naturalista visto que centra a
atenção nas características propriamente ditas da linguagem, tal como esta é usada no
mundo real” (LYCAN, 2019; 146)

Teorias psicológicas: o programa de Grice


Grice argumenta que uma expressão linguística tem significado apenas porque é uma
expressão, introduz o conceito de "significado do locutor" que é equivalente ao que o
falante pretende comunicar ao ouvinte com a emissão de um enunciado em uma ocasião
particular. Mas os falantes nem sempre querem dizer o que seus enunciados significam,
e é por isso que Grice introduz a distinção entre o significado do falante e o significado
padrão do enunciado.
Enunciados são tipos de sinais e sons que as pessoas produzem ocorrências em
ocasiões particulares para um propósito particular. Quando algo é dito, é feito com o
objetivo de comunicar, algo é expresso com o objetivo de produzir algum efeito para
que algo se siga.
O fundamento real da expressão significativa está no estado de espírito que ela
expressa. Grice pensa que o significado de uma declaração está fundamentado na mente.
A noção de significado de Grice é diferente daquela de enunciados.
“Esta vermelha é muito boa.” Como vimos, o significado dessa frase tomado por si
só, não esta inteiramente determinada, para o compreender, precisamos de saber para
onde aponta o locutor. Num contexto, o locutor pode querer dizer que a maçã na sua
mão é uma maça vermelha muito boa, ao passo que outra pessoa numa ocasião
diferente pode querer dizer que a terceira carrinha a sua esquerda é uma bela carrinha
vermelha dos bombeiros” (LYCAN, 2019; 160)
A explicação do significado de um enunciado em termos psicológicos segundo Grice
consiste em duas etapas distintas: Tentativas de reduzir o sentido do enunciado ao
sentido do falante e ideia plausível porque é estranho pensar que os enunciados tenham
um sentido abstrato e tenta reduzir o significado do falante a um complexo de estados
psicológicos foco no tipo de intenção. O significado do falante deve ser explicado em
termos de estados mentais é uma ideia ainda mais plausível. Há uma divergência de
quando existe sarcasmo, pois o significado da frase e que locutor queria dizer ao
proferi-la são diferentes como exemplifica: quando alguém diz” essa ideia foi
brilhante”, querendo dizer que a ideia foi estúpida.

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Verificacionismo
Segundo a teoria verificacionista, uma frase tem significado se e só se a sua verdade
fria alguma diferença no discurso da nossa experiência posterior; uma frase ou “frase”
inverificável pela experiência não tem significado. O significado particular de uma frase
é a sua condição de verificação, um conjunto de experiências possíveis da parte de
alguém, que tenderia a mostrar que a frase era verdadeira.
Em particular, era a força motriz que conduzia o movimento filosófico do positivismo
lógico, corretamente encarado por filosos, morais, poetas, teólogos, e muitos outros
como um ataque direto aos fundamentos dos seus respetivos labores. Pretendia-se que a
teoria verificacionista fosse usada como um instrumento clarificador, e tem sido usado
desse modo, mesmo por pessoas que não a aceitam completamente. A teoria é, desta
forma uma explicação epistémica do significado; ou seja, localiza o significado nas
nossas maneiras de vir a saber ou a descobrir coisas. Para um verificacionista, o
significado de uma frase é a sua epistemologia, é uma questão de saber qual é a sua base
probatória apropriada
Uma declaração não verificável ou declaração entre aspas não tem significado. O
sentido de um enunciado é dado por sua condição de verificação, pelo conjunto de
experiências possíveis de um sujeito que tenderiam a mostrar que aquele enunciado é
verdadeiro. Ao contrário de outras teorias, a verificacionista teve muitos efeitos muito
bons e ruins na prática da ciência. Isso levou à corrente positivista que implementou
outras disciplinas, como poesia e ciência. Se algo é considerado significativo, então
deve fazer alguma diferença para o pensamento e a ação. Relevante para experiências
futuras. A teoria enfrenta várias objeções de médio porte afirma Lycan, mas a objeção
mais forte é que, como Duhem e Quine argumentaram, as frases individuais não têm,
por si, condições de verificação distintas.

Teorias verdadeiro-condicionais: o programa de Davidson


Segundo Davidson, substituir a noção de condição de verificação pela de verdade
daria uma melhor teoria do significado. Condição sob a qual a afirmação é realmente
verdadeira ou seria verdadeira, em vez de um estado de coisas que serviria meramente
como evidência em favor da veracidade da afirmação. Davidson propõe a tese da
composicionalidade para explicar como entendemos sentenças longas e novas:
decompomos sintaticamente sentenças em elementos significativos menores e usamos
as regras de composição (gramática) para combinar palavras que geram os significados
de expressões mais complexas. Além da capacidade de entender sentenças novas e
longas, também temos a capacidade de determinar o valor de verdade dessas sentenças
se não conhecermos um certo número de fatos.

Condições de verdade: A teoria da proposição toma os significados das sentenças e os


reifica sem conectar o objeto ao comportamento e às práticas linguísticas das pessoas.
Grice tenta deslocar a questão para a filosofia da mente sem grandes resultados,
enquanto os positivistas se saem melhor ao propor um teste para o conteúdo.

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Davidson argumentou que podemos obter o que queremos se substituirmos a noção dos
positivistas pela de uma condição de verdade. Saber o significado de uma afirmação
significa conhecer as condições sob as quais essa afirmação seria verdadeira, em vez de
saber como determinar se a afirmação é realmente verdadeira.
Segundo Davidson, obteremos uma teoria do significado melhor se substituirmos a
noção de condições de verificação de uma frase pela noção de condições de verdade da
frase: as condições nas quais a frase é realmente verdadeira ou o seria, em vez de o
estado de coisas que serviriam apenas como prova da verdade. Davidson oferece vários
argumentos, sendo o principal a ideia que precisamos da composicionalidade para dar
conta da nossa compreensão de frases longas e novas, e as condições de verdade de uma
frase constituem a sua característica mais obviamente composicional. Essa teoria
enfrenta muitas objeções. Uma delas é que muitas frases perfeitamente dotadas de
significados não têm valor de verdade. Outras objeções incluem a incapacidade da
teoria para lidar com expressões cujos referentes dependem do contexto (como é o caso
dos pronomes), predicados que não são sinónimos, mas que, por acaso, se aplicam
precisamente as mesmas coisas, e frases cujos valores de verdade não são determinados
pelos valores de verdade das orações que as compõem. O autor inicia com duas ideias
que depois se vera que estão relacionadas. Uma delas é que uma teoria do significado
deve proporcionar uma orientação quanto ao que determina o significado de uma frase
particular, a outra é dar importância central ao fenómeno assombroso com o qual o livro
começou: a nossa capacidade para compreender instantaneamente frases novas e longas.
Russell também propôs uma abordagem condicional verdadeira, dando as condições de
verdade de uma sentença contendo descrições e argumentando que essas são as
condições de verdade corretas.

Teorias verdadeiras-condicionais: mundos possíveis e semântica intensiva


Os mundos de Kripke fornecem uma noção alternativa de condições de verdade.
Condições de verdade reformuladas: Um mundo possível é um universo alternativo
onde as coisas são diferentes das nossas. E, portanto, a verdade de uma determinada
afirmação depende de qual mundo se considera. A afirmação é verdadeira em algumas
circunstâncias possíveis e não em outras, é verdade em alguns mundos e não em outros.
Lógica intencional, um termo singular tem uma extensão e um sentido ou intensão
fregeano (uma afirmação dotada de significado é tal em virtude do fato de identificar
um objeto particular e atribuir-lhe alguma propriedade). Construir a intenção de um
termo como uma função de mundos possíveis.
A teoria de Frege sobre entidades abstratas, chamadas de "sentidos", é diferente da
teoria de Russell. Ele argumentou que um termo singular tem tanto um referente quanto
um sentido. Ele também defendeu a composicionalidade em sua teoria, que é uma
versão da teoria da proposição. No entanto, Carnap, Montague e Hintikka
desenvolveram a lógica intensional, dando uma explicação dos sentidos fregeanos em
termos de mundos possíveis. Um termo singular ou um predicado tem tanto uma
extensão quanto uma intensão, onde extensão é a classe de objetos aos quais o termo se
aplica e a intensão é uma função de mundos possíveis para extensões. A intenção de um

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predicado é uma função de mundos para conjuntos de coisas existentes nesses mundos
que estão nas extensões do predicado nesses mundos. Por exemplo, "gordo" significa
não apenas indivíduos realmente gordos, mas também aqueles que seriam gordos em
outras circunstâncias. As "intensões individuais" ou as intenções de termos singulares
são funções de mundos para indivíduos que habitam esses mundos. Por exemplo, a
intenção de "O atual presidente dos EUA" varia de mundo para mundo e escolhe quem
é o presidente dos EUA nesse mundo. Essas funções se combinam para criar as
intensões de frases inteiras. De acordo com essa interpretação, uma proposição é um
conjunto de mundos e um "conceito" abstrato é uma função de mundos para extensões.
Lewis sugere que, para compreender o que é um significado, precisamos primeiro saber
o que ele faz. Um significado de uma frase é algo que determina as condições sob as
quais a frase é verdadeira ou falsa, determinando, assim, o valor de verdade da
afirmação em diferentes estados de coisas possíveis.

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Considerações finais

Em conclusão, o livro "Filosofia da linguagem: uma introdução contemporânea" de


William Lycan é uma obra importante na área de filosofia da linguagem que oferece
uma abordagem original e única para a compreensão da linguagem. As teorias fornecem
uma nova forma de pensar sobre como a linguagem funciona e como é usada para
comunicar e transmitir informações. As teorias de Lycan fornecem uma nova perspetiva
para a compreensão da filosofia da linguagem e como ela se relaciona com outras áreas,
como filosofia da mente, lógica e epistemologia.
É importante mencionar que o livro é complexo e requer um esforço para compreender
completamente as teorias e os argumentos propostos. Ele pode ser desafiador para
aqueles que não têm uma formação sólida em filosofia da linguagem ou lógica.
Em resumo, as teorias de Lycan são contribuições valiosas para a área de filosofia da
linguagem e oferecem uma nova perspetiva para a compreensão da linguagem e como
ela é usada para comunicar e transmitir informações. O livro é uma boa fonte para
aqueles interessados em se aprofundar na filosofia da linguagem, mesmo que sua leitura
possa ser desafiadora.

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Referência bibliográfica

Lycan, William G. Filosofia da Linguagem: Uma Introdução Contemporânea. 3ª ed.


tradução de Desiderio Murcho. Edições 70, 2019. Lisboa.

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