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AS TEORIAS SOBRE REFERÊNCIA E SIGNIFICADO NA INTRODUÇÃO DE

LYCAN

Jorge-Américo Vargas-Freitas

Rio de Janeiro, 26 de Novembro de 2014

Resumo: A pesquisa procura relatar as principais noções contemporâneas relativas às


tradicionais teorias da referência e do significado mediante o estudo introdutório de
Filosofia da Linguagem: uma introdução contemporânea de Lycan. Para preencher tais
requisitos, o estudo abordará as Partes I e II do trabalho. Como o livro abordado está
escrito em língua estrangeira, os trechos utilizados serão traduzidos por meio de
interpretação livre.

Palavras-chave: Filosofia da Linguagem. Lycan. Referência. Significado.

Abstract: The research looks for to report the principal contemporary notions related to
the traditional theories of reference and of meaning mediated by the introductory stydt of
Philosophy of Language: a contemporary introduction of Lycan. To fullfill such
requisites, the study will approach Parts I and II of the work. As the approached book is
written in foreign language, utilized excerpts will be translated by means of free
interpretation.

Keywords: Lycan. Meaning. Philosophy of Language. Reference.

Introdução

Apresenta-se a pesquisa esclarecendo a intenção de Lycan em introduzir os


principais tópicos do estudo filosófico da linguagem. Como o próprio explica, um dos
interesses típicos dos filósofos da linguagem tem sido o uso metodológico da gramática
formal ou sintaxe na linguística teórica, mas esse não é o foco do estudo pretendido pelo
filósofo.

Crítico em relação ao elevado interesse sobre a ligação entre a linguagem e a


realidade, destacado na junção entre a Filosofia da Linguagem e a Filosofia da Mente e a
Metafísica, Lycan, assim, pretende se concentrar nos mecanismos e problemas específicos
da linguagem, elementos obscurecidos por essas correntes. Ele afirma que uma teoria do
significado deve definir, genericamente, como sons e sequências de letras podem ser
significantes e, especificamente, como estes objetos funcionam para serem significantes.

1
O senso comum crê que palavras representam coisas existentes na realidade,
contudo, esta espécie de teoria da referência se mostra completamente absurda,
justamente, porque o vocabulário é composto por elementos linguísticos de várias
naturezas distintas e grande parte deles não encontra referência na realidade aparente,
como conclui Lycan. O filósofo demonstra como que, pelo simples ato de expressar pela
escrita uma sentença randômica, válida, mas falsa, a mente do leitor é capaz de processar
o texto e compreender a mensagem significante apesar de apresentada como novidade
absolutamente inédita ao conhecimento específico sobre o fato.

Lycan se importa com o modo como o procedimento informacional, dependente do


normalismo da linguagem codificada, ultrapassa a noção superficial da mera compreensão
de determinado código linguístico, como exemplo, propõe sentenças com caracteres
distintos: uma novidade inteligível, porém fictícia; um conjunto de letras dispostas como
palavras, mas sem significação em nenhum idioma; uma sentença simples, relatando uma
situação conhecida pelo costume; um conjunto de palavras denotadas, só que em ordem
caduca. A intenção é clarificar os seguintes pontos: “algumas sequências de palavras e
sons são sentenças significantes”; “cada sentença significante tem partes que são em si
mesmas significantes”; “cada sentença significante significa algo em particular”; “falantes
competentes de um idioma são capazes de entender muitas das sentenças da linguagem,
sem esforço e quase instantaneamente”1.

As principais objeções à teoria referencial são bastante claras: “nem toda palavra
nomeia ou denota um objeto real”; “uma mera lista de nomes não significa nada” 2. Lycan
acredita que a linguagem se dá muito mais no espectro da significação do que no da
referência, contudo, é sabedor das dificuldades que as diversas perspectivas que a teoria
referencial do significado carrega.

Assim, o estudo se dispõe a relatar as interpretações de Lycan expressas em


Philosophy of Language: A Contemporary Introduction. Então, segue-se à análise do
conteúdo substancial da obra.

Definite descriptions

1
Tradução livre de: some strings of marks or noises are meaningful sentences; each meaningful sentence has
parts that are themselves meaningful; each meaningful sentence means something in particular; competent
speakers of a language are able to understand many of that nguage’s sentences, without effort and almost
instantaneously, in LYCAN, Philosophy of Language: A Contemporary Introduction, p.3-4.
2
Tradução livre de: not every word does name or denote any actual object; a mere list of names does not say
anything, in LYCAN, 2008, p.5.
2
Como aponta, a concepção lógico-linguistíca contemporânea sobre definições
descritivas, ao invés de pôr um significado específico, compõe-se por significados
genéricos, ou seja, a individualização do significado integral se perfaz na coleta de
significados parciais, isto é, como se a verdade de uma sentença, ao todo, se fizesse
naturalmente por um conjunto de palavras verdadeiras, literalmente. Esta concepção,
entretanto, produz uma série de controvérsias, tais como o fato de a verdade de uma
sentença não depender estritamente de uma realidade verdadeira e a ignorância acerca da
dependência do significado em referência a um contexto específico; em suma, a crítica de
Lycan à teoria russell-fregeana contraria o tratamento formal simplificado empregado na
concepção que utiliza um tipo de referencialismo contextual para abordar o processo de
significação de uma senteça.

Entre os termos singulares como nomes próprios, pronomes pessoais singulares,


pronomes demonstrativos, etc, particulares a um idioma, as definições descritivas se
destacam porquanto não podem ser presumidamente verdadeiras. Gotllob Frege (1848-
1925) e Bertrand Russell (1872-1970), como relata Lycan, formularam quatro problemas
sobre termos singulares.

O problema da referência aparente a não-existentes propõe uma definição


descritiva simples como “uma coisa é algo”. É inconsistente ou logicamente contraditório
afirmar simultaneamente que a sentença “é significante” e que “é uma sentença sujeito -
predicado” e que ”uma sentença sujeito-predicado é significante (somente) em virtude de
seu apego a uma coisa individual e de atribuir alguma propriedade à coisa” e que, da
sentença, “o termo subjetivo falha em se apegar ou denotar alguma coisa que existe” e que
se a sentença “é significante somente em virtude se apegar a uma coisa e atribuir
propriedade a essa coisa” e se, da sentença, “o termo subjetivo falhar a se apegar a algo
que existe”, então a sentença “não é significante” ou “se apega a uma coisa que não
existe”: mas “não há nenhuma coisa como um “coisa não-existente’”3.

O problema dos existenciais negativos propõe uma definição descritiva simples


como “uma coisa inexistente nunca existiu”. A verdade de uma sentença como esta é
problemática porque, para ser verificada, ela precisa se referir a algo que não existe,
3
Tradução livre de: is meaningful; is a subject–predicate sentence; a meaningful subject–predicate sentence is
meaningful (only) in virtue of its picking out some individual thing and ascribing some property to that thing;
subject term fails to pick out or denote anything that exists; is meaningful only in virtue of picking out a thing
and ascribing a property to that thing; subject term fails to pick out anything that exists; is not meaningful;
picks out a thing that does not exist; there is no such thing as a “nonexistent thing”; in LYCAN, 2008, p.10.
3
sendo, apesar disso, compreensível. Esta sentença de verificação contraditória afirma a
exclusão de um objeto da realidade, declarando que tal objeto, aludido à realidade, não faz
parte da realidade.

O problema de Frege sobre identidade propõe uma definição descritiva simples


como “uma coisa é outra coisa”. Dois nomes próprios são confundidos de forma que um
se refere a outro, referindo-se, assim, a si mesmo, trivialmente. Cada um dos termos da
sentença pode ser considerado como peça informativa ou desnecessária.

O problema da substitutividade propõe uma definição descritiva complexa como


“alguém acredita que outrem foi algo”. Como termos singulares servem para
individualizar uma coisa na sequência de um discurso, é crível que a um sinônimo se
verificaria o mesmo valor de verdade. Porém, é possível que, proposta outra sentença
sinonimada como ”alguém acredita que outra pessoa foi algo”, apesar de significar a
mesma coisa, seja compreendida validamente como falsa por um recipiente ignorante do
vínculo sinonimal.

A teoria das descrições de Russell ousa atribuir significância até mesmo a artigos
definidos como “o” e “a”, como uma definição descritiva simples como “a coisa é algo”.
“A”, nesta concepção, serve como termo definidor de três significados intrínsecos: no
mínimo uma coisa é algo; no máximo uma coisa é algo; qualquer que seja a coisa, ela é
algo.

Neste fluxo, ao aplicar o modelo do filósofo-matemático: ao problema da


referência aparente a não-existentes, é possível que a definição descritiva “uma coisa é
algo” se torne falsa pela inexistência de “uma coisa” de forma que as três definições
genéricas, falseadas, não podem formar uma sentença específica verdadeira, apesar de,
gramaticalmente, fora de contexto, a sentença, em si, não compreender nenhum elemento
que o teorize sua falsidade a não ser segundo uma determinada presunção contextual; ao
problema dos existenciais negativos, as definições genéricas primeiramente afirmam a
particularidade de algo não existente e em seguida negam a existência dessa
particularidade de forma que Lycan observa que, nesta visão, a presença do termo de
negação serve de aparelho categórico de escopo para transformar o significado das
definições genéricas ainda quando elas, em si, não textualizam a negação, opostamente,
textualizam a própria afirmação; ao problema de Frege sobre identidade, a redundância
nominal não é trivial, logicamente, porquanto sua formulação linguística, que intui o
4
conhecimento de dois termos equívocos que denotam uma identidade unívoca, de forma
que Lycan observa que, pelo mecanismo do processo de significação linguística, apesar da
simplicidade da realidade que a formulação representa, a confusão derivada é plenamente
compreensível no nível metodológico da linguagem; ao problema da substitutividade,
divindo o processo trilógico russelliano em cada um dos dois termos sinônimos , é possível
que o recipiente ignorante desconheça e negue o significado de um dos sinônimos apesar
de afirmar o significado do outro de forma que Lycan constata que sentenças que em
realidade deveriam ser redundantes podem ser validamente controversas. O filósofo
exemplifica com esses quebra-cabeças o sentido de que definições descritivas não se
relacionam objetivamente com a realidade do estado de coisas, mas, no entanto, ainda
fazem referência subjetiva a alguma individualidade.

A teorização russelliana sobre a denotação, nestes parâmetros, é contrariada pela


noção de Peter Frederick Strawson (1919-2006) sobre a referência. Ao invés de uma
indicação abstrata e objetiva, opões-se uma relação concreta e subjetiva. Assim: o
significado de sentença independe da denotação dos termos genéricos, mas depende do
contexto em que a sentença se insere; o significado de uma sentença não implica na
realidade de suas presunções inerentes; o significado de um termo subentende o contexto a
qual ele se refere elipticamente. Dialeticamente, Keith Donnellan (1931) bifurca as
definições descritivas entre o uso atributivo, a conexão entre uma coisa e uma
propriedade, e o uso referencial, a conexão entre a sentença e o contexto em que se insere.

Por fim, ainda emerge o problema das referências anafóricas notado por Gareth
Evans (1946-1980). É possível que um termo anafórico não mantenha univocidade em
relação ao antecendente para ser significante e que um termo antecedente retomado no
anafórico pode equivocar o significado de uma sentença descritiva.

Proper names: the Description Theory

Nomes próprios, diferentemente de definições descritivas, pelo senso comum,


podem ser classificados como termos simples, não expressões complexas. Contudo, a
revisão dos quebra-cabeças diante da singularidade dos nomes próprios origina diversas
interpretações.

Frege tentou solucionar os problemas propondo que os nomes, além da referência,


carregam sentidos, ou seja, a maneira pela qual exemplificam a referência do termo.
Assim, em sua visão: um nome não se refere nem denota nada, senão, expressa um
5
sentido, que é o próprio exemplo particularizado pela ligação de um sujeito a um atributo;
o sentido de um nome de algo inexistente se refere ao conceito que o nome expressa; dois
nomes que mantém relação sinonimal expressam sentidos diferentes a um mesmo sujeito;
o nome não se refere a um sujeito, mas ao sentido que expressa.

A resistência russelliana ao problema notou que nomes próprios são, na lógica da


linguagem, definições descritivas de caráter abreviativo. Assim sendo, a resolução para os
problemas é simplesmente alterar os nomes próprios pela descrição completa do que
definem para que o modelo permaneça válido. Ele afirma que uma sentença continente de
um nome próprio envolve intuitivamente seu modelo tripartite e as três generalizações
formam conjuntamente uma sentença específica. E argumenta que, naturalmente, ao se
citar um nome de um desconhecido, inicia-se um processo de clarificação que se desdobra
justamente na descrição do perfil do sujeito que particulariza o nome.

John Searle (1932) tentou ampliar o sentido do apêndice russelliano testando a


equivalência entre nomes próprios e definições descritivas. Sua perspectiva revelou a
complexidade em definir descrições apropriadas a um nome e a confusão potencial no
diálogo entre dois interlocutores que portassem descrições diferentes para o mesmo nome,
o que lhes impediria de se compreenderem mutuamente. Então, cristalizando a proposta
russelliana à sua visão, argumentou que um nome não se liga a uma única definição certa,
mas a várias descrições vagas.

Saul Kripke (1940) tentou, contudo, propor uma crítica mais consistente aos dois
modelos. Em primeiro plano, notou que, na realidade, um sujeito referido por descrições
genéricas poder nunca haver praticado as ações e situações associadas a seu nome e ainda
assim ser referenciado por seu nome. Logo, em outro viés, mostrou a possibilidade de o
sujeito motivar o falseamento de suas características por meio da declaração falsa de seu
perfil de forma que uma mentira pode ser tida como válida e verdadeira justificadamente.
Outrossim, procurou demonstrar que sinônimos, equivalidos descritivamente, produzem
sentenças absolutamente redundantes. Também, mostrou como é comum que as pessoas
associem nomes distintos de pessoas distintas às suas descrições próprias e nomes
distintos de uma pessoa a uma mesma descrição. Nomes fictícios, inseridos no modelo
russelliano, jamais poderiam ser considerados verdadeiros por serem desprovidos de
referências reais, ainda que participantes da cultura popular.

Proper names: Direct Reference and the Causal–Historical Theory


6
A noção de nomes próprios tem a ver, intrinsecamente, com a concepção de mundos
possíveis. Comum a esta perspectiva é a ideia de que existem verdades alheias às
ocorrências do universo conhecido. Uma sentença pode ter sido validamente verdadeira
em ato no passado ou em potencial no futuro. Cada uma das possibilidades alternativas de
sequência pode ser potencialmente considerada validamente verdadeira sem qu alquer
apego à realidade atual. Logo, diferencia-se um designador flácido, que cambia de mundo
para mundo, de um designador rígido, que é único universalmente.

Nomes próprios contêm certa fixação que os colocam na condição de designador


rígido, normalmente, por manter o mesmo sentido de referência entre universos
alernativos, sem, contudo, equivalerem descritivamente. Entretanto, Lycan reconhece a
existência excepcional de nomes próprio flácidos, como no caso em que objetos são
aludidos para se referir a alguma de suas características e não a si mesmos. Kripke oferece
um modelo sentencial hábil a testar a qualidade da designação: se “N pode não ter sido N”
puder ser considerado verdadeiro, o designador é flácido; se “N pode não ter sido N” não
puder ser considerado verdadeiro, o designador é rígido 4 . O nome próprio rígido é
carregado de um universo possível para outro, ainda que embutido de predicados distintos.
Neste sentido, nomes próprios, ainda que psicologicamente associados a definições
descritivas certas na mente de um indivíduo, jamais podem ser equiparados aos
referenciais descritivos por essência.

John Stuart Mill (1806-1873) propôs que o nome não contribui com a sentença
apenas porta ou se refere a um indivíduo a fim de lhe introduzir no discurso. Um nome
milleano é rígido, mas um nome rígido não é necessariamente milleano. A teoria milleana
é denominada teoria da referência direta de nomes. Esta tese considera que nomes podem
ser substituídos sem alterar o conteúdo da sentença. Esta formulação trata da versão
positiva da teoria, sendo a versão negativa a noção de que nomes não têm leituras não-
milleanas nem em contexto de crença.

Kripke, porém, elabora uma via histórico-causal para os nomes, exemplificando


como a ideia de um nome se liga a uma conexão recente na sequência de referências
nominais. Assim, a ideia de um nome não carece de uma crença em sua verdade nem em
sua aquisição informacional, senão simplesmente no próprio ato comunicativo que indica
o nome entre membros de uma comunidade sócio-linguística capazes de estabelecer o

4
Tradução livre de: N might not have been N, in LYCAN, 2008, p.47.
7
nome em referência a definições descritivas de sua identidade. A conexão histórico-causal
contextualiza o significado do nome entre os interlocutores capazes de articular
sensivelmente a compreensão do substantivo próprio. Este contexto permite a
identificação de dados notórios como válidos e invalida, sensatamente, informações
despidas de ligação coerente ao estado de coisas em que os sujeitos se situam. A
ambiguidade nominal é recepcionada rasamente pela teoria que a compreende apenas
como uma coincidência ocasional.

O rito de passagem de referências que é praticado pela comunicação intersubjetiva é


a superfície sobre o fenômeno de denominação. A maioria dos nomes próprios em voga,
sejam os pessoais, sejam os institucionais, sejam fictícios, tendem a continuar um
processo rotativo sobre nomes típicos. E ocorre que tais denominações, em vez de se
referirem a um indivíduo diretamente antecedente, aludem a um exemplo nominal tópico
remoto na cadeia histórico-causal. Problemas surgem na doutrina, objeta-se: a
possibilidade de nomes surgirem eventualmente identificando algum tipo de existência
que serviu de base de referência para a comunição introdutória do nome; a nomeação é
apenas um dos eventos instituidores de novos nomes em uma massa não-linear que
processa a nomenclatura; o procedimento de designação nominal lida mais diretamente
com o plano aparente do que com a realidade em si, permitindo confusões extras à lógica
da linguagem; pessoas podem se equivocar plenamente sobre suas crenças referenciais;
entre outros.

Substantivos referentes a substâncias e organismos não são termos singulares por


não se fixarem a uma única coisa particularizada, senão a diversos fragmentos
exemplares. A concepção descritivista da natureza associa padronizadamente as
propriedades destes itens por meio de estereótipos referenciais. Entretanto, a identidade
cientifica real destas naturezas não tem nada a ver com as referencias descritivas notórias
ao senso comum, senão com informações de caráter químico ou físico ou biológico .

Hilary Putnam (1926) exemplifica a geminação da Terra em ato. O planeta dúplice


conflui na maioria dos aspectos com seu modelo. Neste planeta, a única diferença em
relação à Terra é que uma única substância que aqui se chama tal lá se chama qual. Nestas
condições, apesar da semelhança científica, a distinção cultural é capaz de equivocar e
confundir a comunicação no próprio canal da linguagem. Afinal, a linguagem também se
perpetua e consolida na padronização de seu uso.

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Traditional theories of meaning

Fatos significantes são base para a teoria do significado. Ademais, a significância de


objetos físicos, as expressões distintas que se definem por um significado comum, as
sentenças singulares que podem ter significados plurais, etc, são tópicos de extrema
relevância para a avaliação de uma teoria do significado.

Ao conceito de significado, está embutida uma intuição acerca da individualização


de coisas. O significado, em si, não é uma ideia inserida no pensamento de um indivíduo,
mas algo semelhante a um tipo abstrato de ideia. A metodologia lógico-linguística permite
a formalização do significado em uma plataforma de abstração ainda mais densa. À
significação, a significância propriamente dita, a univocidade dos sinônimos e a
equivocidade dos ambíguos, a abreviatura, a implicação, são elementos naturais que
funcionam no conceito. Lycan expõe sobre a importância de evitar a reificação, ou seja, a
excessiva formalização do conceito de significado, sob pena de desnaturar a realidade do
significando.

As teorias ideacionais tratam os significados como entidades, institutos autônomos.


John Locke (1690/1955) definiu que o significado das expressões linguísticas são ideias
contidas na mente. Nesta concepção, por conveniência ou correspondência, uma expressão
significante é canalizada em direção a um conteúdo mental portado pelo receptor,
perfazendo a comunicação. Todavia, o significado concebido por tais entidades mentais
variam, assim, em tempo e espaço, o que leva a duas situações problemáticas: o problema
dos sinônimos, isto é, no caso de as duas ideias serem diferentes e unívocas ao mesmo
tempo e o problema da ambiguidade, ou seja, no caso de as duas ideias serem iguais e
equívocas. A defesa ideacional argumenta sobre a univocidade dos equívocos, melhor, no
sentido de que as ideias portam um único mesmo conteúdo, mas em várias outras formas,
alusão clara à tópica e típica temática da confusão da linguagem.

Objeta-se que: uma entidade mental precisa ser definida e conhecida em sua
natureza, o que parece intangível para a ciência atual; bem como a teoria referencial, a
concepção reificante enfrenta o obstáculo de que nem todas as expressões linguísticas
encontram referência material no mundo real, o que complica ainda mais o conhecimento
da essência da entidade significante de advérbios, por exemplo; imagens mentais não
podem ser confundidas com as próprias entidades significantes, o que leva à mesma
situação anterior, em que não é possível representar todas nem qualquer expressão
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linguística por meio de figuras; o domínio público sobre a linguagem torna o processo de
significação zetético, o que se opõe a dogmatismos estabelecidos normativamente;
sentenças formais válidas podem ser verdadeiras em si ainda que estejam completamente
desvinculadas da realidade.

A teoria proposicional parte deste último princípio, estipulando um tratamento


plenamente formal sobre a lógica da linguagem a fim de extrair dados objetivos
independentes de qualquer subjetivação sobre a realidade, isto é, abordando os
mecanismos linguísticos em gênero, não em espécie. Todavia, esta concepção também
entende que os termos são entes autônomos desassociados da realidade. Aliás, a
autonomia proposicional, garante que a teoria permeie o campo abstrato sem se preocupar
com qualquer obstáculo real, desdobrando-se em lógica própria. O sinônimo não é um
problema dentro deste sistema, uma vez que todo foco está sobre a validade das
expressões sentenciadas formalmente. A ambiguidade é um mero empecilho para o qual a
lógica está instrumentalizada para lidar razoavelmente. A proposição é referenciada por
alusão, isto é, é a própria introdução de uma proposta sentencial lançada a análise. As
sentenças proposicionais podem ser concebidas como entidades contidas na mente,
representantes de um teor de ideia. O valor de verdade de uma sentença não depende do
significado que compreende em seus termos, senão de estimas de validade formal e
verificação de verdade por correspondência. O contexto, então, colabora com a
estipulação do valor da sentença conforme parâmetros espaço-temporais variantes, sendo
que a verdade de uma sentença é válida permanentemente de acordo as regras da teoria.
Um termo isolado em uma proposição não é considerado como representante de uma ideia
completa, senão como um unificador de várias ideias. Portanto, tais características
qualificam a teoria proposicional como guia da teoria da entidade significante.

Objeta-se contra a teoria proposicional que: em primeiro lugar, a formalização


performática impede a adequação da teoria coerentemente à realidade, de forma que os
resultados obtidos formalmente nem sempre encontram significados palpáveis; o purismo
teórico das proposições não concorda pacificamente com o senso comum e, suas
profundidades, ainda mais, prolongam a distância entre o plano formal e o mundo real;
como proposições expressam realidades em vez de denominar coisas, as realidades nelas
expressadas portam uma imperecibilidade que as categorizam como sempiternas e não -
espaciais, o que, por falta de nexo causal, desliga a proposição completamente da

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realidade das coisas; as expressões proposicionais são estranhas à natureza da experiência
humana; as proposições não explicam nenhuma realidade, apenas adicionam tecnicidade à
linguagem; o alheamento da lógica da linguagem em relação ao linguajar versado
desnatura o sentido da linguagem como instrumento canalizador da comunicação.

Conclusão

Lycan exibe um digno panorama sobre a exploração filosófica da temática do


problema da linguagem. Interessante não somente à Filosofia da Linguagem, senão à
Filosofia da Mente, à Lógica, à Metafísica, à Epistemologia e à Linguística, a confusão da
linguagem é examinada em diversas vertentes conflituosas que novamente demonstram a
importância do assunto à Filosofia em si.

O tema é ambíguo relativamente às perspectivas do senso comum e da pesquisa


científica, uma vez que, pela própria natureza da linguagem, salvo sob exame mais
profundo, a superfície da linguagem oferece, como autodefesa à sua verdadeira
inteligibilidade, ingredientes suficientes para desvirtuar sua compreensão real. À
academia importa saber como se perfaz a ligação entre as expressões linguísticas e um
significado instantaneamente inteligível conversado em um mero diálogo intersubjetivo.

Termos singulares, isto é, indicadores de uma identidade nem sempre se referem a


objetos paupáveis, mas ainda assim funcionam como componentes fundamentais para a
contextualização do sentido de uma sentença. Propõe-se, pela via descritiva, que
referências são pontuadas por definições, sendo que estas definições portam inerentemente
três certezas referenciais. Assim, um significado específico é composto por significados
genéricos. Ou seja, uma sentença, em si mesma, porta conteúdo suficiente para ser
significante. Contudo, esta visão ignora o fato de a compressão se completar pelo
contexto, isto é, a linguagem não se realiza formalmente por formulações objetivas, senão,
organicamente, mediante diálogos subjetivos.

Não apenas definições descritivas como também nomes próprios apresentam as


mesmas características. Porém, a noção de mundos possíveis, em última instância, valida
a verdade formal das sentenças logicamente válidas, uma vez que como uma definição não
especifica uma natureza, senão se refere genericamente a um contexto espaço-temporal, é
possível que em algum momento passado ou futuro, se a sentença se confirma válida e
verdadeira formalmente, uma realidade confirme efetivamente sua verdade. Porém, nomes
podem ser compreendidos de forma minimalista, na concepção em que servem como
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meros representantes linguísticos de coisas reais, funcionando como instrumento de
introdução de um sujeito ou objeto em discurso. Entretanto, o principal, que é como se
perfaz a ligação entre o nome e o nominado, permanece longe do foco teóri co. As
propostas histórico-causais, que embutem as denominações na ordem de uma cadeia
orgânica, sim, demonstram uma via mais trafegável nessa direção, não obstante, não
explicam, então, a recorrência de nomes típicos e tópicos em detrimento de novos nomes ,
de forma que, nem sempre um nome segue de um antecessor próximo, tampouco o nome,
propriamente em si, refere-se a tal ou a qual indivíduo particular, mas representa um
significado geral compartilhado coletivamente.

Se as teorias referenciais não solucionam completamente o problema da linguagem


e já carregam excedente técnica formal, a lógica proposicional abstrai ainda mais a
linguagem. Formalizada pela lógica, a linguagem perde completamente o contato com a
realidade e funciona em mecanismo próprio, tão mais comum ao estudo teórico do que à
aplicação prática. Contudo, a perspectiva ideacional simplifica o mecanismo de
comunicação, optando por uma perspectiva menos objetiva, mais subjetiva, em que os
interlocutores se compreendem mutuamente pela canalização da mensagem entre dois
pontos significante abrangidos em suas mentes, de forma que a comunicação se perfaz
conceitualmente. Esta via é agradável pela intuitividade que pressupõe, no entanto,
encontra dificuldades ao tratar de conflitos próprios da linguagem como o caso dos
sinônimos e o da ambiguidade.

Provavelmente, a maior importância do estudo de Lycan é clarificar o problema da


linguagem, tipificando diversas abordagens conflitantes sobre o caso. O painel exib ido
pelo filósofo pontua os sintomas do problema, esclarecendo a complexidade e a
importância do assunto, não apenas por interpretar diversas concepções relevantes, senão
por consolidar o conhecimento científico categoricamente, estipulando os obstáculos q ue
devem enfrentar àqueles que são capazes de contribuir com novas propostas para a
solução do problema.

Enfim, resta às ciências específicas do gênero filosófico continuar utilizando os


melhores equipamentos conceituais à disposição para avançar na solução de um problema,
possivelmente, insolúvel. Contudo, Lycan exemplificou performaticamente a capacidade
instrumental do conjunto formado pelos institutos da Linguística, da Epistemologia, da

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Metafísica, da Lógica, da Filosofia da Mente e da Filosofia da Linguagem para lidar com
o problema da linguagem.

Bibliografia

LYCAN, William G.. Philosophy of Language: A Contemporary Introduction. 2nd ed.


New York: Routledge, 2008.

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