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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÂO
A Filosofia da Educação, manifestando uma intensa presença académica como “disciplina
fundamentante” (discipline foundation) do estudo da educação, implica, necessariamente,
que seus programas de estudo correspondam não só a autores referenciados na História da
Filosofia, mas, também, sobre temas/teses contemporâneas que lhe são constitutivas.
Pretende-se, então, promover uma reflexão sobre temas e teses contemporâneos da
Filosofia da Educação, uma vez que, a intencionalidade dominante da pedagogia
contemporânea de pensar a educação sob os desígnios de uma racionalidade técnico-
científica desvaloriza (como categorias pedagogicamente não pensáveis) as dimensões da
contingência, da incerteza e da experiência no processo de (trans)formação do sujeito
educativo.
Pretende-se, neste sentido, perspectivar a educação como um saber de experiência que se
distancia das pretensões científicas de regularidade, universalidade e predictibilidade das
posições teóricas em educação.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da Educação

Pressupostos epistemológicos da Filosofia da Educação


 Discursar sobre os pressupostos epistemológicos da
Filosofia da Educação significa:
 -Indagar acerca da sua identidade, isto é, é perguntar o que
é a Filosofia da Educação;
 -Perguntar pelo lugar da Filosofia da Educação no seio
dos outros saberes sobre a educação;
 -Procurar saber quando e como a filosofia da educação foi
instituída como disciplina filosófica;
 -Descortinar as tarefas da Filosofia da Educação;
 -Saber qual o método e o Objecto de estudo da Filosofia da
Educação, entre outros pontos.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação

Pressupostos epistemológicos porque, em termos


gnosiológicos, cada área do conhecimento humano (neste
caso as áreas que estudam a educação) tem a sua forma de
actuar ~metodologicamente relativamente a este objecto de
estudo que é a educação.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
É desta forma que começamos por perguntar:
 Filosofia da Educação ou Filosofias da Educação?
 Segundo Octavi Fullat, no seu livro “Paideia – filosofias de
la educacion”: - existem Filosofias da Educação e não
uma única Filosofia da Educação;
 - Que cada filósofo tem a sua Filosofia da Educação;
 - Que cada pensamento filosófico traz consigo uma ideal
de formação do homem: Assim, fala-se numa filosofia
personalista, numa filosofia marxista, numa filosofia
kantiana, numa filosofia freireana ou numa filosofia
platónica da educação.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação

Outra questão normalmente levantada é a seguinte:


Filosofia e Educação ou Filosofia(s) da Educação?
Se dissermos Filosofia e Educação, parece que separamos duas
instâncias inseparáveis.
Isto porque ao longo da História da Filosofia, em nenhum
momento a Filosofia foi vivida de forma separada da educação: a
filosofia é por natureza pedagógica e a pedagogia é por natureza
filosófica.
A Filosofia Antiga era uma forma de vida, uma opção
existencial, onde o discurso filosófico era uma praxis.
Por isso a filosofia é impensável sem mestres e discípulos
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
 Por isso a filosofia é impensável sem mestres e discípulos,
implica uma relação pedagógica - e uma ética da relação
pedagógica - conforme nos mostra a sua própria história.
 Logo, fala-se em Filosofia da Educação e não em Filosofia
e Educação , como se fossem duas instâncias separadas.
 Aquilo que o filósofo pensa, desenha é o Logos. Esse logos
que o filósofo ensina tem a ver com a lição.
Etimologicamente = legen, está próxima da ideia de leitura;
um modo de ler o mundo, lendo-nos (mestre-discípulos).
 As obras / diálogos dos filósofos antigos (Sócrates,
Platão, Aristóteles Estóicos, Epicuristas,) não eram para
momentos de informação, mas sim para formação; dai o
seu valor pedagógico: a Paideia.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação

A filosofia curava as doenças produzidas pelas falsas


crenças. Por meio de uma forma de argumentação
procurava uma vida feliz, sendo a meta desta forma
de pensamento a “vida boa”. Conhecimento para a
vida e para a transformação de si.
Sócrates: «método pedagógico-existencial:
ironia e maiêutica».
Platão: «desvelamento».
Aristóteles: «A educação é um caminho para a
polis».
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
É a Filosofia da Educação História da Filosofia?
Ou seja, ela deve limitar ao estudo da História
da Filosofia da Educação? Ou mesmo ao estudo
da História da Educação?
A Filosofia não se reduz á sua história, embora
seja importante conhecer a história da filosofia
para fazer Filosofia. Também, a filosofia da
educação não se reduz á história da filosofia da
educação, embora o filósofo/investigador
educacional deve fazer dela um caminho de
iluminação.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
Logo, a Filosofia da Educação (enquanto filosofia
que é) não se deve reduzir jamais:
-quer a história da Filosofia;
-quer a história da Filosofia da Educação;
-quer a história da educação.
Atenção: isto não quer dizer que desvalorizemos a
História da Filosofia e da Filosofia da Educação, isto
é, o labor filosófico de filósofos como Sócrates,
Platão, Aristóteles, Kant, Rousseau, Marx, Pestalozi,
Dewey, Reboul, e de pedagogos como Montessori,
Paulo Freire, Froerbel, Skiner…
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da Educação

 História da Filosofia (e da Filosofia da Educação) =:


pilar irrecusável no estudo da educação = matriz
contemporânea da Filosofia da Educação;
Logo, postura hermenêutica que reinterpreta os sentidos
contemporâneos da educação;
Paideia Grega (Sofistas, Sócrates, Platão, Aristóteles,
epicuristas…) continua inspirando a educação
contemporânea, exibindo para ser (re)interpretada à luz de
hoje.
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Logos, Polis e Paidéia como Matrizes da educação


contemporânea:
Logos = palavra, razão, discurso, relação.
- Palavra oral: argumentação, retórica, persuasão, dialéctica,
Democracia;
- Palavra escrita: literatura/poesias homéricas, poesias de
Hesíodo, Filosofia;
- Artes: dança, música, pintura, escultura, arquitectura,
Ginástica: jogos olímpicos.
Polis = Cidade-Estado, República;
CONTEMPORANEAMENTE utiliza-se o termo: - sentido
comum (“senso comunis”, Gadamer, Verdade e Método);
- “Mundo Comum” e “espaço de aparência” – H.Arendt, Obra A
Condição Humana.
Pressupostos epistemológicos da
Filosofia da Educação
 
Hoje, Cidade = ideia deturpada = oposição campo-cidade, mas como o
espaço público de intersubjectividade (e interlocução), espaço de
aparência: apareço aos outros e estes aparecem a mim.
Cidade educativa: a relação Filosofia/Cidade marcou a matriz
civilizacional Ocidental.
HOJE, Cidade é o lugar cada vez mais exponenciador das patologias das
sociedades contemporâneas.
Diz Bauman no livro Confiança e medo na Cidade: «as Cidades são
lugares cheios de desconhecidos que convivem em estreita
proximidade».
PAIDÉIA: educação, cultura, formação.
Bildung= movimento de ida e de volta pelo qual o sujeito ou uma obra
de arte ganha a sua forma; relação entre o mesmo e o outro, onde o
mesmo, ao reconhecer-se no outro realiza uma viagem de
(trans)formação: (trans)forma-se num sujeito radicalmente outro.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
Continuação: aula 05/04/2022

É a Filosofia da Educação uma Ciência da Educação?


Ou seja, ela tem o mesmo estatuto epistemológico que a
História da Educação, Sociologia da Educação, Biologia
da Educação, Economia da Educação, Direito á
Educação, Psicologia da Educação? Em que
departamento deve situar a Filosofia da Educação? No
de Filosofia ou no de Ciências da educação?
 -1º livro de Filosofia da Educação surgiu por volta de
1834 por James Simpson em Edimburgo,
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da Educação

-Desde os gregos existiu Filosofia da Educação: a passagem da Phisys ao


antrophos demonstra a preocupação do homem grego com a educação da
Cidade.
Início do século XX, a Filosofia da educação manifestava ainda uma certa
instabilidade epistemológica, às vezes encontrando-se no Departamento
de Filosofia e outras vezes no de Educação.
Hoje encontra-se cada vez mais aprofundando o seu estatuto
epistemológico, embora ainda não consolidou o seu estatuto no elenco dos
outros saberes acerca da educação.
Obs: A Filosofia da Educação funciona como a metáfora da casca da
laranja.
Filosofia da educação: é a problematização acerca das condições de
possibilidade do conjunto (Ciências da Educação) e não uma ciência como
a Psicologia da Educação, História da Educação, Sociologia da Educação,
Economia da Educação, porque essas, tendo um objecto (e métodos) mais
delimitados, apresentam uma visão mais redutora, mais especializada.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da Educação

O que é, então, a Filosofia da Educação? “É um


saber racional e crítico sobre as condições de
possibilidade da realidade experimental educativa
no seu conjunto.” Octavi Fullat (idem). O
conceito de realidade experimental faz alusão ao
conceito de experiência no seu sentido
hermenêutico.
Filosofia da Educação pode também ser definida
da seguinte forma: saber crítico que esclarece os
conceitos, os enunciados e os argumentos que
utilizam educadores e pedagogos. Fullat.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
 Objecto de estudo: esclarecimento lógico das ideias. A Filosofia não
é uma doutrina, mas sim uma actividade. A Filosofia deve clarificar e
delimitar as ideias que de outra forma, tornariam obscuras.
 A Filosofia da Educação não é, portanto, ciência ou tecnologia
educacional, nem tampouco pedagogia ou teoria da educação. Então,
o que é?
 A Filosofia da Educação é um questionamento do que se faz e do
que se diz nos campos educativo e pedagógico em geral.
 Como não há homem sem processo educativo, ou seja, sem educação
(educabilidade), como nos mostrou Kant, no livro Reflexões sobre a
educação, a Filosofia da Educação coloca uma interrogação radical,
uma interrogação que resvala para a Antropologia da Educação, para
a seguinte pergunta: o que é o homem? Ora, o homem é educação e a
educação é o homem. O homem só se torna realmente homem pela
educação: a educabilidade é eminentemente humana.
Pressupostos epistemológicos da Filosofia da
Educação
Tarefas da Filosofia da Educação
 Análise de linguagens (propedêutica);
 Antropologia da educação (“o homem é educação”);
 Teleologia da educação – finalidades da educação (“para quê o homem é
educação”);
 Filosofia da história da educação (constantes e direcções desta história);
 Epistemologia da educação (valor das ciências e técnicas educacionais);
Análise da linguagem: o filósofo da educação não cria a educação: pensa
sobre a educação, isto é, pensa sobre as linguagens utilizadas na educação.
Nesta lógica filosofar é o mesmo que perguntar sobre o que se diz.
Exemplo: o que significa educar e democracia no enunciado “eduquemos
para a democracia”?
A Epistemologia da Educação tem um papel importante, uma vez que
quer conhecer os factos educativos não na forma de doxa, mas sim, na sua
forma científica, na sua objectividade.

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