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Tempo histórico

In: KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto
Editora; Editora PUC Rio, 2006.

história dos conceitos teoria da história Metodologia: Analisar a mudança na "semântica dos conceitos
fundamentais que plasmaram a experiência histórica no tempo".
articulado
O conceito coletivo de História [geschichte]
Tempo: "como construção cultural que , em cada época, determina um
O conceito de revolução
modo específico de relacionamento entre o já experimentado como
passado e as possibilidades que se lançam ao futuro como horizonte de
expectativas" (p.9). (XVI-XIX) O que caracterizou o período como um tempo específico?
Observa-se, nesses séculos, uma temporalização da história, cujo fim se
O moderno conceito de história encontra uma forma peculiar de aceleração que caracteriza a nossa
história [historie] História [Geschichte] modernidade.
séc. XVIII
(singular) advento da modernidade
-diversas narrativas "históricas" - tanto para designar a sequência
- história "mestra da vida" unificada de eventos que constituem a
marcha da humanidade, como o seu
relato (a História da civilização ou dos análise da perspectiva que se descortina a partir
progressos do espírito humano) do futuro concebido pelas gerações passadas, a
sua transformação em objeto partir do futuro passado.
- substantivação da história
de teorias políticas e filosóficas
foi com o advento da filosofia da história que uma incipiente
modernidade desligou-se de seu próprio passado (caráter
instrumento normativo circular de sua história).
processo inexorável de progresso
da luta política
Uma consciência de tempo e de futuro que se nutre de uma
"Dimensão inescapável do próprio devir, obrigando toda ação social a
ousada combinação de política e profecia.
assumir horizontes de expectativa futura que a inscrevam como um "Imiscui-se na filosofia do progresso uma mistura entre
desdobramento consoante com o processo temporal" (p.11). prognósticos racionais e previsões de caráter salvacionista"
(p.35).
Fontes e metodologia
Ao contrário da concepção de tempo anterior, a concepção de
Fontes: textos nos quais a experiência temporal manifesta-se à superfície
futuro progressivista traz à tona a capacidade de ultrapassar o espaço do
da linguagem.
tempo, da experiência tradicional, natural e prognosticável.
. abordam relações entre um determinado passado e um
determinado futuro (p.15) aceleração -"abrevia-se os campos de
Dois momentos experiência, rouba-lhes sua
."As análises semânticas pretendem investigar a continuidade"
constituição linguística das experiências temporais." desconhecido
. deduções a partir da semântica dos conceitos, sobre a rouba ao presente a possibilidade de
dimensão histórico-antropológica inerente a toda se experimentar como presente
conceitualidade ou ato de linguagem. "No turbilhão da aceleração nasce um movimento de adiamento que
Hipótese primária: "no processo de determinação entre passado e futuro, contribui para a antecipação do tempo histórico pela alternância de
ou, usando-se a terminologia da antropologia, entre experiência e reação e revolução" (p.37).
expectativa, constitui-se algo como um 'tempo histórico'" (p.16). A reação, que no século XVIII é ainda empregada como uma
- recupera a importância das análises de longa duração (BRAUDEL) categoria mecanicista, tornou-se funcionalmente um vetor que
tenta detê-la (a revolução).
revolução-reação é entendida como um futuro sem perspectiva, pois a Geschichte significou originalmente o acontecimento em si antes do que
reprodução e a permanentemente necessária superação dos contrários o relato, no entanto, paulatinamente, foi designando também o relato.
instaura uma "má infinitude". Preparou, no âmbito da linguística, as condições para a revolução
a consciência dos agentes é atada a um "ainda não" finito transcendental que conduziu à filosofia da história própria do idealismo
alemão.
"a fixação dos atores em uma situação final determinada
mostra-se como pretexto para um processo histórico que se furta História coletivo singular ou singular coletivo
ao olhar dos participantes" (p.37). Resultado da transposição de fronteiras entre a história e a poética.
Passou-se também a exigir unidade épica também da narrativa
Historia Magistra Vitae histórica.
"Ela orientou, ao longo dos séculos, a maneira como os historiadores "Deu-se em uma circunstância temporal que pode ser entendida como
compreenderam o seu objeto, ou até mesmo a sua produção" (p. 42). a grande época das singularizações, das simplificações, que se voltavam
Até o século XVIII, o emprego dessa expressão permanece como indício social e politicamente contra a sociedade estamental."
da constância da natureza humana, cujas histórias são instrumentos "história acima de tudo" introduziu as categorias "força e direcionamento"
recorrentes apropriados para comprovar doutrinas religiosas, teológicas,
Permitiu-se que fosse atribuída à história a força que reside no interior
jurídicas ou políticas.
de cada acontecimento que afeta a humanidade.
"a perpetuação desse topos aludia a uma constância efetiva das
O período que se seguiu aos acontecimentos da revolução francesa
premissas e pressupostos, fato que tornava possível uma semelhança
tornou a história, ela própria, um sujeito.
possível entre os eventos terrenos" (p.43).
apud. HUMBOLT: "O historiógrafo digno desse nome deve representar
Cícero referindo-se aos modelos helenísticos cunhou o emprego da cada singularidade como parte do Todo, o que significa que ele deve
expressão historia magistra vitae representar em cada uma dessas partes singulares a própria forma da
o orador é capaz de emprestar sentido de imortalidade à história história." (grifo meu)
como instrução para a vida Caráter singular e inédito dos acontecimentos e do tempo histórico
- o uso da expressão está associado às tarefas da história segundo
Cícero: "destruição do caráter modelar dos acontecimentos passados, para
a tarefa principal que Cícero perseguir em lugar disso a singularidade dos processos históricos e a
Ele se serve da história atribuí à historiografia é possibilidade de sua progressão."
como coleção de especialmente dirigida à O progresso foi a primeira categoria na qual se deixa manifestar uma
exemplos a fim de que prática, sobre à qual o orador certa determinação de tempo, transcendente à natureza e imanente à
seja possível instruir-se exerce sua importância. história." p.55 moderno conceito de história
por meio dela.
O surgimento da filosofia da história está relacionada diretamente a
"A tese da capacidade de repetição e, com isso, do caráter instrutivo da
esse processo, bem como a constituição do conceito de história tal como o
experiência histórica permanece um momento da experiência histórica
conhecemos.
cristã, bem como no reino da política dos príncipes" (p.46).
"A história em si" começou a abrir um novo espaço de experiência, ao A filosofia, ao transpor para o progresso a história compreendida
abrir uma qualidade temporal própria. singularmente como um todo unitário, fez com que o nosso topos
perdesse obrigatoriamente o sentido.
Koselleck desnuda esse processo através da História dos
Conceitos. Sua análise evidencia a maneira como, apesar
das descontinuidades, nosso topos se desfaz em meio a
diferentes sentidos que se deslocam uns nos outros (p.48).
1. Na língua alemã, um deslocamento lexical que esvazia o sentido do
velho topos.
"A palavra estrangeira que o léxico nacional tomou de
empréstimo, 'historie', que significava predominantemente o
relato, a narrativa de algo acontecido, designando
especialmente as ciências históricas, foi sendo visivelmente
Por Danielle Freire
preterida em favor da palavra 'Geschichte'".

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