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Prefácio
Embora não seja necessário realizar o questionamento quanto ao tempo histórico durante
uma investigação histórica, é imprescindível uma datação exata (p. 13).
A cronologia, enquanto ciência auxiliar da história, não leva em conta as diferenças entre
calendários e maneiras de contar o tempo de diferentes povos e culturas: homogeniza-as
de acordo com seus pressupostos de um tempo “natural”, regido pelo nosso sistema
planetário e determinado pela física e pela astronomia (p. 13).
Não existe apenas um tempo histórico, mas muitos, que se sobrepõem uns aos outros. O
tempo histórico está ligado aos homens e instituições que o compõem; tais homens e
instituições estão em constante mutação e o mesmo se dá com o tempo histórico (p. 14).
A divisão do tempo natural, levada a cabo através da mensuração dos fatos naturais que
definem a passagem do tempo, é necessária para se tematizar o tempo histórico (temas
como a duração da existência de pessoas e instituições, acontecimentos políticos etc.) (p.
14/15).
Tais documentos são produzidos desde a Antiguidade. O autor busca, assim, investigar a
maneira como, num determinado tempo presente, o aspecto temporal do passado
estabelece uma relação de reciprocidade com o aspecto temporal do futuro (p. 15).
A obra, composta de vários ensaios, é dividida em três partes, nas quais o autor se ocupa
de contrastar diferentes recortes semânticos, analisar algumas interpretações da teoria da
história e da historiografia e, por fim, de conceitos linguísticos e antropológicos (p. 17/18).
Friedrich von Raumer relata uma situação na qual mentiu para um oficial que queria
aumentar a impressão de papel-moeda para pagar as dívidas da Prússia. Raumer afirma
que já Tucídides advertira para o mal que se seguira em Atenas após a adoção de
medida semelhante (p. 41).
Raumer sabia que os antigos jamais conheceram o papel-moeda, mas recorre a tal
mentira para dissuadir o oficial de seu intento, seguro de que o oficial estava apegado ao
topos da história como mestra da vida (p. 41).
Durante aproximadamente 2 mil anos a história foi vista como uma escola, na qual se
podia aprender com o passado a não cometer os erros já cometidos anteriormente (p. 42).
O episódio narrado por Raumer confirma essa visão que se tinha da história, como um
saber apto a fornecer lições e que não deveria ser contestado (p. 42).
O topos da história como mestra da vida perdurou durante muito tempo, porém começou
a se desfazer com o advento da modernidade (p. 42/43).
I.
A expressão historia magistra vitae foi cunhada por Cícero, com base em ideais do
helenismo. Tal ideia de história tem por base a prática, que se exerce através da oratória,
com o objetivo de instruir os ouvintes (p. 43/44).
A influência de Cícero perdurou até o advento da historiografia cristã. Mesmo assim, sua
obra foi mantida em muitos mosteiros e utilizadas por diversos sábios da Igreja, tais como
Isidoro de Sevilha e Beda (p. 44).
O final da Idade Média e início do Renascimento trouxe consigo uma revitalização dos
clássicos, tal como a levada a cabo por Maquiavel, que afirmava que os antigos deveriam
ser admirados e imitados. O topos da história como mestra da vida é então amplamente
revisitado e reproduzido até o Iluminismo tardio (p. 44/45).
Foi importante o papel instrutivo da história no início da Idade Moderna. Tanto no plano
intelectual quanto político, a história cumpria um função de fornecer exemplos que
deveriam ser comparados com o presente para o aperfeiçoamento do futuro (p. 45/46).
Tais vozes dissonantes, no entanto, não foram capazes de, às suas épocas, enfraquecer
a ideia de história como mestra da vida ou, ao menos, como fonte de sabedoria para
aqueles que sobre ela se debruçavam (p. 47).
II.
O pensador Alex de Tocqueville, cuja obra é permeada pela atenção dispensada à ruptura
que o advento da modernidade provoca com a temporalidade anterior, afirma que o
espírito humano adentra as trevas quando o passado não ilumina o futuro (p. 47/48).
O processo de esvaziamento de sentido do topos que vem sendo tratado se deu através
da chamada história dos conceitos (p. 48).
A própria diferenciação que se estabelece, na língua alemã, entre os vocábulos Historie e
Geschichte concorre para o esvaziamento do topos da história como mestra da vida (p.
48).