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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E ARTES


Filosofia, Política e Relações internacionais
Filosofia da linguagem e comunicação

Filosofia da linguagem: uma introdução contemporânea- William G. Lycan

Docente: José Sanches


Discente: Victor dos Reis
Introdução
O livro " Filosofia da linguagem: uma introdução contemporânea " é escrito por William Lycan,
um filósofo americano conhecido por sua contribuição na área da filosofia da mente, lógica e
linguagem. Ele é professor emérito da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Este
livro fornece uma introdução abrangente às principais questões e teorias na filosofia da
linguagem, incluindo a representação de significado, a natureza da referência, a estrutura da
sentença, a relação entre mente e linguagem, e a relação entre linguagem e realidade. Ele também
discute aplicações da filosofia da linguagem para outras áreas, como filosofia da mente, lógica e
epistemologia.
Lycan é conhecido por sua teoria da "comunicação-condicional" e "condições de adequação da
verdade" e ele argumenta que a comunicação é possível quando as condições de adequação são
atendidas, e essas condições variam dependendo do contexto da comunicação. Ele contribuiu de
forma significativa para a compreensão da filosofia da linguagem como um campo
interdisciplinar.
Descrições definidas
Para Lycan a teoria atual de definições descritivas propõe que o significado de uma
palavra ou expressão é composto por significados genéricos e não por um significado
específico. A verdade de uma sentença é determinada pela verdade de suas palavras
individuais. No entanto, essa abordagem gera controvérsias, como a questão da
verdade independente da realidade e a importância do contexto na determinação do
significado. A crítica de Lycan à teoria Russell-Fregeana argumenta que simplificam
demais o processo de significação e sugere o uso de um referencialismo contextual
para abordar essa questão. As definições descritivas são especialmente relevantes para
termos singulares, como nomes próprios e pronomes, pois não podem ser consideradas
verdadeiras por convenção.
Gotllob Frege (1848- 1925) e Bertrand Russell (1872-1970), como afirma Lycan,
formularam problemas sobre termos singulares:

O problema da referência aparente a não-existentes afirma que não é possível ter uma sentença
significativa, se o termo subjetivo falhar em se apegar ou denotar algo que existe. Esta teoria é
problemática, pois afirma que não existem coisas não-existentes, mas a sentença seria significante
em virtude de se apegar a uma coisa e atribuir propriedade a essa coisa. Esta proposição significa
que as sentenças não significativas são significativas devido à sua relação com algo não existente,
mas ainda assim, a sentença seria significativa. A inconsistência desta teoria vem do fato de que se
não existem coisas não existentes, então não há como a sentença ter significado, pois não há nada
para se apegar a ela. Logo, a teoria da referência aparente a não-existentes é inconsistente e
logicamente contraditória.
A Substitutividade é um conceito complexo que se refere à capacidade de um termo
ser substituído por seu sinônimo sem que haja mudança no significado da frase. Por
exemplo, na frase “alguém acredita que outra pessoa foi algo”, o termo "outra pessoa"
pode ser substituído por seu sinônimo “outrem”, e o significado da frase permanecerá
o mesmo. No entanto, é importante notar que, ainda que os termos sinônimos sejam
usados para expressar o mesmo significado, as pessoas que não entendem o significado
relacionado podem interpretar a frase de forma diferente. Dessa forma, é possível que
uma frase seja considerada verdadeira por algumas pessoas, enquanto outras
consideram que ela é falsa.

A teoria das descrições de Russell ousa atribuir significância até mesmo a artigos
definidos como “o” e “a”, como uma definição descritiva simples como “a coisa é
algo”. “A”, nesta conceção, serve como termo definidor de três significados
intrínsecos: no mínimo uma coisa é algo; no máximo uma coisa é algo; qualquer que
seja a coisa, ela é algo.
Nomes próprios: A teoria descritiva
Os nomes próprios são diferentes de palavras comuns, eles são considerados simples e não
compostos. No entanto, a análise dos problemas relacionados aos nomes próprios gera várias
interpretações. Frege tentou resolver esses problemas sugerindo que os nomes próprios não apenas
se referem a algo, mas também têm um significado ou sentido. De acordo com ele, um nome não se
refere a algo, mas sim expressa um sentido que é, o exemplo específico de um sujeito e um atributo.
Russell discordou dessa perspetiva, argumentando que os nomes próprios são simplesmente
descrições abreviadas, e que a solução para esses problemas é simplesmente usar a descrição
completa em vez do nome próprio. Ele afirma que uma frase que contém um nome próprio envolve
automaticamente partes que juntas formam uma frase específica. Realça que, naturalmente, quando
mencionamos um nome de alguém desconhecido, começamos um processo de esclarecimento que
inclui descrevendo quem é essa pessoa.
Nomes próprios: referência direta e a teoria
descritiva
A ideia de nomes próprios está relacionada com a noção de mundos possíveis. Esta
perspetiva sugere que existem verdades que não estão ligadas à realidade conhecida.
Uma frase pode ter sido verdadeira no passado ou pode ser verdadeira no futuro. Cada
uma dessas possibilidades alternativas pode ser potencialmente considerada verdadeira
sem qualquer relação com a realidade atual. Assim, há uma diferença entre um
designador fraco, que muda de mundo para mundo, e um designador forte, que é único
universalmente. Os nomes próprios têm uma certa fixação que os coloca na categoria de
designador forte, normalmente por manter o mesmo significado de referência entre
universos alternativos, sem, contudo, serem equivalentes descritivamente. No entanto,
existem exceções, como quando objetos são mencionados para se referir a uma de suas
características e não a eles mesmos.
Teoria do significado
Fatos significantes são base para a teoria do significado. Ademais, a significância de
objetos físicos, as expressões distintas que se definem por um significado comum, as
sentenças singulares que podem ter significados plurais, são tópicos de extrema
relevância para a avaliação de uma teoria do significado.
O significado está ligado à ideia de individualidade de coisas. Ele não é apenas uma
ideia na mente de alguém, mas algo semelhante a uma ideia abstrata. A lógica e a
linguística permitem formalizar o significado em uma plataforma ainda mais abstrata.
A significância, a univocidade dos sinônimos e a equivocidade dos termos ambíguos,
a abreviatura e a implicação são elementos naturais do conceito. Lycan afirma que é
importante evitar a formalização excessiva do conceito de significado, pois isso pode
desnaturalizar a realidade do significado.
Teorias tradicionais do significado
Qualquer teoria do significado deve levar em conta os fatos relevantes: Alguns objetos físicos têm significado,
diferentes expressões podem ter o mesmo significado, uma única expressão pode ter mais de um significado e
que o significado de uma expressão pode estar contido no de outra. Pensa-se que os significados sejam ideias
particulares na mente das pessoas, porém não. Os significados devem ser mais abstratos, os tipos de ideias que
podem estar ocorrendo na mente de algum indivíduo em algum lugar.
Significados e objetos abstratos às vezes são chamados de proposições.
“A neve é branca” frase que significa que a neve é branca. Ao mesmo tempo expressa a proposição de que “a
neve é branca”. Outras frases em outras línguas dizem a mesma coisa e são, portanto, sinônimos. A proposição
é, de fato, outra palavra de significado e, portanto, a teoria da proposição se ajusta bem aos fatos sobre os
significados. Certas sequências de signos, sons são apenas sequências de signos ou sons, enquanto outras, como
enunciados inteiros, são dotadas de significado.
As vezes é dito que duas expressões diferentes são sinônimos. As vezes se diz que determinada expressão é
ambígua, ou seja, tem mais de um significado
Teorias de uso
O filósofo Wittgenstein e o lógico Austin argumentaram que as palavras e sentenças não
são objetos abstratos, mas dependem do papel que desempenham no comportamento
social humano. De acordo com eles, a teoria de Russell de que o significado de uma
expressão pode ser estabelecido ao examinar a proposição como um objeto e tentar
compreender sua estrutura desconhece a realidade das entidades linguísticas. Na verdade,
as entidades linguísticas são melhor entendidas como um comportamento, mais
especificamente uma prática social. Quando recitamos uma afirmação, nós estamos
realizando uma atividade que foi regulada por regras sociais. Portanto, aquilo que
consideramos a verdade sobre os significados das expressões depende das práticas sociais
presentes na comunidade. Para um indivíduo, pronunciar uma afirmação significa fazer
algo e, portanto, um comportamento que se tornou uma prática social regida por regras.
Verificacionismo
De acordo com a teoria da verificação (décadas de 1930-40), uma afirmação é
dotada de significado apenas se sua veracidade produzir alguma diferença com
relação ao curso da experiência futura. Uma declaração não verificável ou
declaração entre aspas não tem significado. O sentido de um enunciado é dado por
sua condição de verificação, pelo conjunto de experiências possíveis de um sujeito
que tenderiam a mostrar que aquele enunciado é verdadeiro. Ao contrário de
outras teorias, a verificacionista teve muitos efeitos satisfatórios e ruins na prática
da ciência. Isso levou à corrente positivista que implementou outras disciplinas,
como poesia e ciência. Se algo é considerado significativo, então deve fazer
alguma diferença para o pensamento e a ação. Relevante para experiências futuras.
Teorias verdadeiros-condicionais: o programa
de Davidson
Segundo Davidson, substituir a noção de condição de verificação pela de
verdade daria uma melhor teoria do significado. Condição sob a qual a
afirmação é realmente verdadeira ou seria verdadeira, em vez de um estado de
coisas que serviria meramente como evidência em favor da veracidade da
afirmação. Davidson propõe a tese da composicionalidade para explicar como
entendemos sentenças longas e novas: decompomos sintaticamente sentenças
em elementos significativos menores e usamos as regras de composição
(gramática/sintaxe) para combinar palavras que geram os significados de
expressões mais complexas. Além da capacidade de entender sentenças novas e
longas, também temos a capacidade de determinar o valor de verdade dessas
sentenças se não conhecermos um certo número de fatos.
Considerações finais
Este livro fornece uma introdução abrangente às principais questões e teorias na filosofia da
linguagem, incluindo a representação de significado, a natureza da referência, a estrutura da
sentença, a relação entre mente e linguagem, e a relação entre linguagem e realidade. Ele também
discute aplicações da filosofia da linguagem para outras áreas, como filosofia da mente, lógica e
epistemologia.

"A filosofia da linguagem é, em última análise, a tentativa de compreender como a mente humana
pode se relacionar com o mundo à sua volta através da linguagem."
Referência bibliográfica
Lycan, William G. Filosofia da Linguagem: Uma Introdução Contemporânea. 3ª ed.
tradução de Desiderio Murcho. Edições 70, 2019. Lisboa.

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