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14/02/2011

1. Oposição de duas perspectivas: Frege: Preocupação sobre a fundamentação do


próprio sentido (1º na Aritmética; 2º Linguagens Naturais); Husserl: As operações
fundamentais da constituição da linguagem (e também os juízos aritméticos) são
sintéticas e não analíticas (recupera Kant nega Frege); Mesmo os enunciados
tautológicos (a é a) são JSAP1.

2. Funktion und Begriff (Função e Conceito): 1) Desactivação da ideia de perspectiva


cognitiva ou subjectiva; Frege procura anular a ideia de pdv que envolve a compreensão
de uma verdade de natureza aritmética; Em Kant os juízos Aritméticos são
possibilitados por uma faculdade que produz sínteses, que realiza operações de juízo
(entendimento); 2) O que está em causa em Frege é a negação da verdade matemática
ser possibilitada pelo entendimento da perspectiva cognitiva e ser, na verdade, válido
por si mesmo, sendo que, a nossa validação ou assentimento subjectivos dessas
verdades se dá por INSTINKT (instinto), e tanto faz à validade lógica em si da
Aritmética que a validemos cognitivamente ou não. A verdade 12 como predicado do
sujeito 7+5 é analítica porque está compreendida no conceito do sujeito, segundo Frege.
Mas podemos perguntar se esta relação é bivalente, isto é, se no predicado 12 temos
analiticamente contido o conceito de 7+5, porque nesse caso haveria de ser necessário
que os números contivessem neles mesmos modelos aritméticos de operação. Negar o
predicado 12 de 7+5 não é produzir uma contradição de evidenciação mas sim de
natureza lógica. Não interessa se assentimos ou não ao predicado 12. Ele está certo. 3)
Fundamental é perceber a natureza da predicação, isto é, o ser do “é” que serve de
cópula. Qual é a natureza da conexão entre um sujeito e um predicativo do sujeito, posto
que se anula por completo a perspectiva cognitiva, e dando abertura total à compreensão
das verdades aritméticas como verdades puramente universais válidas em si mesmas?

4. Em causa está a compreensão da natureza dos conjuntos. Quais os elementos


simples? A operação (+, -, etc.) e a predicação (= ou cópula). Em boa verdade, segundo
Frege, num enunciado como 7+5=12 no conceito de 12 encerra-se a compreensão dos
conceitos de 7, 5, + e =; Isto é, analiticamente estão contidos nos conceitos aritméticos

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Juízo cujo conceito do predicado não está contido no conceito do sujeito mas cuja validade é
universal e necessária
as suas possíveis operações e resultados analíticos (universais e válidos necessariamente
por pertença ao próprio conceito). Com a formulação simétrica a própria estrutura
gramatical anula-se. O sujeito pode passar a ser o predicativo do sujeito e vice-versa.
Visto que são iguais. Há ainda a compreensão do nexo entre um predicativo do sujeito e
o sujeito gramaticais como não sendo de igualdade e portanto de simetria (quando todo
o x é y, todo o y é x), mas como sendo de cópula. Ex: O quadro é branco. Não há
igualdade/simetria nesta função de predicação, ou seja, o quadro não é igual ao branco
(relação assimétrica), mas sim cópula, isto é, uma das qualidades do quadro é a sua
matiz branca. Agora, Frege considera que a função pensa a ideia de igualdade, e
portanto com ela imputa determinada operação a F (+ p. ex.), e determinados x a certos
argumentos (7,5 p. ex.) o que produz certo resultado (12). O sentido é produzido por
esta ideia de função. Mas é totalmente? E quanto à cópula? Pode uma função instanciar
a totalidade dos argumentos de todos os objectos (significações traduzindo-se como
Michael Dummet)?

5. Nenhuma significação (Bedeutung) pode ser função, visto que são sujeitos oracionais.
Não quer dizer que a função não possa ser ou não ser predicativa do sujeito. Bedeutung
é o ὑποκειμένων aristotélico. Aquilo do qual se predica algo numa oração. Por um lado o
sujeito, ὑποκειμένων, Bedeutung, objecto, significação, e por outro a função de
predicação com a qual se aplica o dizer desse sujeito alguma coisa de algum modo, isto
é, por alguma operação.

6. Um objecto ou significação pode ser visado por referentes de sentido diferentes, isto
é, por conceitos diferentes e, em certo sentido, intransponíveis um para o outro. Como o
triângulo enquanto triângulo ser visado pelo conceito de triângulo ou pelo conceito de
trilátero. Ou simplesmente que o mesmo objecto ou significação seja visado por
designações diferentes: Nietzsche ou homem dos bigodes. Colher ou spoon.

7. Frege constitui a ideia de sentido como sendo reduzida a propriedades lógicas


elementares. Reflexividade (a é a), simetria (a é igual a b, b é igual a a), e transitividade
(a é maior que b, b é maior que c, portanto a é maior que c). E as formas negativas
destas leis lógicas. 1. O sentido é interpretado por uma redução ao campo das verdades
lógicas; 2. A metafísica é morta (aparentemente). 3. A função enquanto pensando a
igualdade pensa-a como podendo ser reciprocidade (simetria), reflexividade,
transitividade e formas lógicas negativas delas.

8. Determinação de valor de verdade depende da verdade dos argumentos de um


enunciado. Só é verdadeiro quando P e Q são verdadeiros. Quanto ao resto deriva-se
falsidade. E não da relação entre uma coisa e o próprio entendimento – pois aí operaria
a representação cognitiva (pathema? aristótelico, intellectus medieval). O que está em
causa? Pensar a relação entre os elementos de um enunciado e quanto ao valor de
verdade da oração, os valores de verdade dos argumentos da oração. O que está em
causa também é a compreensão da operação: se ao invés de conjunção a oração for
constituída no seu sentido operacional por disjunção exclusiva, inclusiva ou implicação
teremos de aplicar diferentes tábuas de valor de verdade.

9. A lógica é o mundo. Independentemente do sujeito.

10. Relação entre elementos e conjuntos. Quantificadores existencial (existe pelo menos
um x que é f; é contraditório dizer que nenhum x é f) e universal (qualquer que seja o x,
x é f; ou todo o x é f; é mentira então que há f que não seja x;). A linguagem natural
pensa com estas estruturas formais. Pensamos predicação (sentido de função de
igualdade nas suas diversas acepções e cópula) e existência – na linguagem natural. O
que é que isto significa? Que as estruturas formais da linguagem são elas mesmas a
priori, segundo Frege. A expressão da realidade da experiência mundana ou da
metafísica são rejeitadas – envolvem representação cognitiva e não são a lógica
enquanto tal. O que se pensa ao pensar a lógica é a própria realidade. A lógica é a única
realidade com direito de cidadania na filosofia analítica de Frege, ao pensar-se a
linguagem. Toda a verdade é analítica e a realidade não é real. Reais são a lógica e a
aritmética enquanto analíticas.

11. Pode dar-se que um mesmo referido, significado, uma mesma significação
(Bedeutung) possua referências distintas, isto é, expressões de o referirem que são
diversas, e que até, por isso, não se perceba que o referente é o mesmo. Contudo,
aquando da compreensão que o referente é o mesmo dá-se que analiticamente o
significado era o mesmo só que tinha referências diferentes (e portanto apresenta-se
como uma síntese de denominações). Ou seja, a realidade em si não se altera pelo modo
como nós nos referimos a ela, isto é, se nós compreendemos ou não o que refere
exactamente uma referência ou não. O que nós colamos são referências particulares e
não a totalidade das referências. Daí este problema de síntese de designações
relativamente a uma mesma Bedeutung.

12. A proposição é a unidade mínima de sentido. O que constitui o sentido é a ideia


de função (de pensar igualdades e cópulas relativamente a um sujeito oracional). A
função produz e implica valor de verdade.

13. A função = é o pensar a conexão “é”, ou seja, nesta operação estão contidas as
verdades analíticas a priori e que constituem a possibilidade do sentido (leis de
reflexividade, reciprocidade e transitividade e suas formas negativas). Daqui deriva o
mundo empírico, ou melhor, a possibilidade de falar dele com sentido, e portanto, de
falar de todo em todo, de existir sequer mundo empírico.

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