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RA: 236201
Existem outros princípios gerais deste tipo. Eles também nos permitem fazer
inferências a partir das sensações e estão na base de nossos raciocínios. O uso destes
princípios é tão básico no cotidiano, que nos servimos deles até mesmo sem perceber. De
acordo com Russell, eles são despercebidos por causa de sua obviedade, e por isso são
assuntos estudados pelos filósofos, que investigam os fundamentos de nosso conhecimento.
Nossa compreensão destes outros princípios começa com suas aplicações particulares,
até percebermos uma generalidade que serve para todas ocasiões do mesmo gênero.
Naturalmente, aprendemos que “dois mais dois são quatro” por meio de particularidades
experimentadas, por exemplo: juntando duas laranjas com outras duas, obteremos quatro
laranjas. Porém, a partir do momento que abstraímos as ideias de “dois”, “quatro” e “soma”,
compreendemos a existência duma lei geral da aritmética do tipo “2 + 2 = 4”. Desta maneira,
não precisamos analisar inúmeros casos para constituir nossa certeza de que a lei funciona
para quaisquer dois pares somados. O mesmo vale para leis da geometria como: “num espaço
plano, a menor distância entre dois pontos é sempre uma reta”. Assim, as experiências
individuais nos revelam as leis gerais, que por sua vez, explicam os casos particulares.
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justifica o princípio, mas apenas provoca a percepção de sua generalidade). Este princípio
lógico, chamado de “Modus Ponens”, é útil para fazer inferências a partir de determinadas
crenças.
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proposições gerais do tipo “2 + 2 = 4”, com certeza de que elas possuem aplicabilidade
universal, se jamais poderemos examinar todos casos particulares?
O primeiro a abordar este tipo de problema na história da filosofia, foi Immanuel Kant.
Em sua época, todo juízo a priori era considerado analítico, isto é, o predicado da sentença
que expressa o juízo pode ser encontrado a partir da análise de seu sujeito; ademais, quando
são negados apresentam uma contradição. “Uma biblioteca contém livros” é um juízo
analítico, pois o predicado “contém livros” está implícito no conceito de “biblioteca”; e a sua
negação “uma biblioteca não contém livros” é uma contradição.
Ele pensava que as coisas experimentadas eram uma interação entre sujeito e “coisa-
em-si" (semelhante ao objeto físico de Russell), cujo produto era denominado de “fenômeno”.
Até este ponto, a teoria do conhecimento de Russell concorda. Elas se divergem pelo papel
atribuído à nossa contribuição nesta interação. Para Kant, quando experimentamos a
realidade, nosso intelecto fornece a organização, temporal e espacial, e qualquer relação
derivada da comparação de dados dos sentidos. Sua razão para isto era que: espaço, tempo,
semelhança e causalidade, eram características conhecidas a priori; não eram propriedades do
mundo, mas sim intuições impostas, por nossa própria natureza intelectual, às percepções que
temos do mundo. Este posicionamento é chamado de “idealismo transcendental”.
Se o fenômeno é produto da interação entre nós e a coisa-em-si, então ele é algo que
possui estas características de nossa natureza, e, portanto, se conformaria com nosso
conhecimento matemático a priori. Tanto a aritmética, que trata de “sucessões” donde segue
nossa noção de tempo, quanto a geometria, que lida com as relações espaciais, seriam
fornecidas por nosso intelecto ao interagir com as coisas-em-si, impondo ordem [espacial e
temporal] a toda experiência - o que explicaria a sua aplicabilidade universal. Com isto,
considerando as leis matemáticas como características constitutivas de nossa natureza
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intelectual, Kant diz que o conhecimento a priori existe, mas não poderia ser aplicado fora da
experiência e nada saberíamos sobre as coisas-em-si.
Russell não concorda com este argumento e levanta objeções. Dizer que aritmética e
geometria são contribuições de nossa natureza, não explica a questão da matemática pura ser a
priori. Pois, se elas forem de nossa natureza, que é suscetível de mudanças, então elas também
estarão sujeitas a impermanência como qualquer outro fato do mundo. Por conseguinte,
possíveis mudanças na aritmética, como “2 + 2 = 5”, destruiria a universalidade das
proposições matemáticas e abalaria nossas certezas mais fundamentais.
Por conseguinte, ele pensa que a natureza a priori da matemática (e lógica) não pode
ser imanente ao intelecto e sua fonte tem de ser outra, que também não pode depender da
matéria. Assim, Russell aponta que estes conhecimentos a priori são possíveis devido a
existência dos universais e suas relações, visto que não são entidades físicas e nem mentais, e
se aplicam a tudo que existe e pode ser pensado; tema abordado nos capítulos seguintes.
Referência Bibliográfica