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John Stuart Mill.

Sistema de Lógica Dedutiva e Indutiva.


Exposição dos Princípios da Prova e dos Métodos de Investigação Científica. 18431.
(Seleção)

LIVRO III

DA INDUÇÃO

"Segundo a doutrina aqui estabelecida, o objetivo mais alto, ou melhor, o único objetivo próprio da física é constatar as conjunções
constantes de eventos sucessivos, que constituem a ordem do universo; registrar os seus fenômenos oferecidos às nossas observações,
ou revelados aos nossos experimentos; e referir esses fenômenos a suas leis gerais".
D. Stewart. Elements of the Philosophy of the Human Mind <Elementos de Filosofia da Mente Humana>.

"Em tais casos, pode-se dizer que os métodos indutivo e dedutivo andam de mãos dadas, um verificando as conclusões deduzidas pelo
outro; e a conjunção de experimento e teoria, que assim pode vir a suceder nesses casos, forma uma máquina de descoberta
infinitamente mais poderosa que os dois tomados separadamente. Essa situação de qualquer ramo da ciência é, talvez, a mais
importante de todas. e a que mais promete para a pesquisa".
Sir J. Herschel. Discourse on the Study of Natural Philosophy <Discurso sobre o Estudo da Filosofia Natural>.

CAPÍTULO I - Observações preliminares sobre a indução em geral

1. A importância de uma lógica indutiva

A parte que vamos abordar agora pode ser considerada a principal, tanto pelo fato de superar em complexidade
todas as outras, como porque diz respeito a um procedimento (que foi mostrado no livro precedente) que
constitui essencialmente a investigação da natureza. Descobrimos que toda inferência, consequentemente toda
prova, e toda descoberta de verdades não-evidentes em si mesmas, consiste em induções e na interpretação de
induções; que todo o nosso conhecimento não-intuitivo provém exclusivamente dessa fonte. O que é a indução,
portanto, e que condições a tornam legítima devem ser consideradas a principal questão da ciência da lógica - a
questão que inclui todas as outras. ( ... )

2. A lógica da ciência é também a da vida humana e da prática

Para os propósitos do presente ensaio, pode-se definir a indução como: a operação de descobrir e provar
proposições gerais. É verdade que, como já vimos, o procedimento de constatar indiretamente fatos individuais
é tão verdadeiramente indutivo quanto aquele pelo qual estabelecemos verdades gerais. Mas não é uma espécie
diferente de indução e sim uma forma do mesmo procedimento, já que, de um lado, o geral é apenas coleção de
particulares, definidos em espécie, mas indefinidos em número, e, por outro lado, sempre que a evidência
resultante da observação de casos conhecidos nos permitisse tirar uma inferência até de um caso desconhecido,
deveríamos, sobre a mesma evidência, poder tirar uma inferência semelhante com respeito a toda uma classe de
casos. Ou a inferência não vale de maneira nenhuma, ou então vale para todos os casos de uma determinada
espécie, em todos os casos que, em determinados aspectos definíveis, se assemelham àqueles que
observáramos.
Se estas observações estão corretas, se os princípios e regras de inferência são os mesmos para as proposições
gerais e os fatos particulares, segue-se que uma lógica completa das ciências deveria ser também uma lógica da
ação prática e da vida ordinária. Desde que não há nenhum caso de inferência legítima a partir da experiência
em que a conclusão não possa ser legitimamente uma proposição geral, uma análise do procedimento pelo qual
se alcançam verdades gerais é virtualmente uma análise de toda e qualquer indução. Quer se trate de um
princípio científico ou um fato particular, e quer procedamos por experimentação ou por raciocínio, cada passo
na sucessão de inferências é essencialmente indutivo, e a legitimidade da indução depende, em ambos os casos,
das mesmas condições. ( ... )

1 Extraído de: https://filosofia.com.br/figuras/livros_inteiros/259.txt


CAPÍTULO II - Das induções assim impropriamente chamadas

1. As induções são distintas das transformações verbais


(...)
Proposição geral é aquela na qual o predicado é afirmado ou negado de um número ilimitado de indivíduos, isto
é, todos, poucos ou muitos, existentes ou possíveis, os que possuam as propriedades conotadas pelo sujeito da
proposição. "Todos os homens são mortais" não significa todos os que vivem agora, mas todos os homens
passados, presentes e futuros. Quando a significação do termo é tão limitada que o torna um nome não para
qualquer um e para todo indivíduo que se encaixa numa determinada descrição geral, mas apenas para um
número determinado de indivíduos designados como tais e enumerados um a um, a proposição, embora geral
pela expressão, não é uma proposição geral, mas somente o total de proposições singulares escritas de forma
abreviada. A operação pode ser muito útil, como a maioria das formas de notações abreviadas o são, mas não
faz parte da investigação da verdade, embora muitas vezes represente importante papel na preparação de
materiais para essa investigação.
Assim como podemos resumir um número definido de proposições singulares em uma proposição que será
aparentemente, mas não realmente, geral, da mesma maneira podemos resumir um número definido de
proposições gerais em uma proposição que será aparentemente, mas não realmente, mais geral. Se, através de
uma indução isolada aplicada a cada espécie distinta de animais, estabeleceu-se que cada uma possui um
sistema nervoso, e afirmamos por isso que todos os animais têm um sistema nervoso, isso aparenta ser uma
generalização; embora, como a conclusão afirma de todos o que já fora afirmado de cada um, pareça que nos
informa apenas o que já conhecíamos antes. Deve-se fazer, todavia, uma distinção. Se, concluindo que todos os
animais têm um sistema nervoso, o que queremos dizer não é nada mais do que se disséssemos "Todos os
animais conhecidos", a proposição não é geral, e o procedimento pelo qual é alcançada não é uma indução.
Mas, se o que queremos dizer é que as observações feitas das diversas espécies de animais nos revelaram uma
lei da natureza animal, e podemos dizer que um sistema nervoso se encontrará mesmo em animais ainda não
descobertos, isto na verdade é uma indução; mas, neste caso, a proposição geral contém mais do que a soma das
proposições especiais das quais é inferida. Essa distinção parece ainda mais necessária quando consideramos
que, se essa generalização real é absolutamente legítima, sua legitimidade provavelmente não requer que
devêssemos ter examinado todas as espécies conhecidas sem exceção. É o número e a natureza dos fatos - e não
o conjunto de todos aqueles que por acaso são conhecidos - que tornam os indícios suficientes para provar uma
lei geral; ao passo que a afirmação mais limitada, que se detém em todos os animais conhecidos, não pode ser
feita sem que a tenhamos constatado rigorosamente em todas as espécies. ( ... )

CAPÍTULO III - Do fundamento da indução

1. Axioma da uniformidade do curso da natureza

A indução propriamente dita - enquanto distinta das operações mentais, muitas vezes designadas, embora
impropriamente, por esse nome, que tentei caracterizar no capítulo precedente - pode, pois, ser resumidamente
definida como generalização da experiência. Consiste em inferir, de alguns casos particulares em que um
fenômeno é observado, que ocorrerá em todos os casos de uma determinada classe, isto é, em todos os casos
que se assemelham aos primeiros enquanto são consideradas suas circunstâncias essenciais.
De que maneira as circunstâncias essenciais se distinguem das que não o são, ou por que algumas das
circunstâncias são essenciais e outras não, ainda não estamos preparados para explicar. Devemos primeiro
observar que há um princípio implicado na própria afirmação do que é uma indução; uma suposição com
respeito ao curso da natureza e à ordem do universo, a saber, que há na natureza coisas tais como casos
paralelos; que o que acontece uma vez deverá, sob um grau suficiente de similaridade de circunstâncias,
acontecer novamente, mas tantas vezes quantas as mesmas circunstâncias tornarem a suceder. E, se
consultarmos o curso atual da natureza, aí encontraremos sua garantia. O universo, tanto quanto o conhecemos,
é constituído de maneira tal que tudo o que é verdadeiro em um caso de determinada natureza é também
verdadeiro para todos os casos da mesma natureza; a única dificuldade é descobrir qual é esta natureza.
Este fato universal, que é nossa garantia para todas as inferências da experiência, foi descrito pelos filósofos
com diferentes termos: uns dizem que o curso da natureza é uniforme; outros, que o universo é governado por
leis gerais; e outras expressões semelhantes. ( ... )
Qualquer que seja a maneira mais apropriada de expressá-la, a proposição de que o curso da natureza é
uniforme é o princípio fundamental, o axioma geral da indução. Porém, seria um grave erro apresentar essa
vasta generalização como uma explicação do procedimento indutivo. Pelo contrário, considero-o como um
exemplo de indução, e não é das mais fáceis e evidentes. Longe de ser a primeira indução que fazemos, é uma
das últimas, ou, em todo caso, uma das últimas a atingir a estrita exatidão filosófica. Como máxima geral, na
verdade, só entra nas mentes dos filósofos; nem mesmo estes, como teremos muitas oportunidades de observar,
conceberam com muita exatidão sua extensão e limites. A verdade é que esta vasta generalização é ela própria
fundada em generalizações anteriores. E é através dela que as leis mais obscuras da natureza foram descobertas,
mas que sendo mais óbvias devem ter sido compreendidas e reconhecidas como verdades gerais antes que se
tivesse notícia dela.
Nunca teríamos pensado em afirmar que todos os fenômenos ocorrem de acordo com leis gerais se não
tivéssemos primeiro chegado, no caso de uma grande quantidade de fenômenos, a algum conhecimento das
próprias leis, o que só se poderia fazer através da indução. Em que sentido, pois, pode um princípio, que está
tão longe de ser nossa primeira indução, ser considerado como nossa garantia para todos os demais? No único
sentido em que, como já vimos, as proposições gerais colocadas no topo de nossos raciocínios quando
formulados como silogismos sempre contribuem realmente para sua validade.
Como o arcebispo Whately observa, toda indução é um silogismo cuja premissa maior é suprimida; ou (como
preferiria dizer), toda indução pode ser colocada na forma silogística introduzindo-se a premissa maior. Se isto
realmente for feito, o princípio em questão - o da uniformidade do curso da natureza - aparecerá como a última
premissa maior de todas as induções e, portanto, terá, com todas as induções, a mesma relação que, como tão
longamente tem sido mostrado, a premissa maior de um silogismo sempre terá com a conclusão, não
contribuindo em absoluto para prová-la, mas sendo condição necessária para que seja provada, já que não se
prova nenhuma conclusão se não se .acha uma premissa maior verdadeira para fundá-la.
Pode-se pensar que a afirmação de que a uniformidade do curso da natureza é a última premissa maior em todos
os casos de indução exige alguma explicação. Certamente ela não é a premissa maior imediata em todo
argumento indutivo. Nisto, a explicação do arcebispo Whately deve ser considerada correta. A indução "João,
Pedro, etc., são mortais, portanto todos os homens são mortais" pode, como ele diz justamente, ser
transformada em um silogismo antepondo-se como uma premissa maior (o que é, de resto, uma condição
necessária da validade do argumento) que o que é verdadeiro de João, Pedro, etc., é verdadeiro de todos os
homens.
Mas de onde nos vem essa premissa maior? Ela não é evidente em si mesma; e, além disso, em todos os casos
de generalização não garantida, não é verdadeira. Como, então, é obtida? Necessariamente, ou pela indução, ou
pelo raciocínio; e se por indução, o procedimento, como todos os demais argumentos indutivos, deve ser
colocado em forma silogística. É necessário, portanto, construir esse silogismo preliminar. A prova real de que o
que é verdadeiro de João, Pedro, etc. é verdadeiro de todos os homens só pode ser o fato de que uma suposição
diferente seria incompatível com a uniformidade conhecida do curso da natureza. Saber se essa
incompatibilidade existe ou não pode ser um assunto de longa e delicada pesquisa; mas se não existisse, não
teríamos fundamento suficiente para a premissa maior do silogismo indutivo. Daí conclui-se que, se
desenvolvermos um argumento indutivo em uma série de silogismos, deveremos chegar, em maior ou menor
número de passos, a um último silogismo cuja premissa maior será o princípio ou axioma da uniformidade do
curso da natureza.
(Embora a uniformidade do curso da natureza seja condição da validade de toda indução, não é condição
necessária que a uniformidade permeie toda a natureza. É suficiente que penetre na classe particular de
fenômenos à qual a indução se refere. Uma indução relativa aos movimentos dos planetas ou das propriedades
do ímã não será invalidada pela suposição de que o vento e a chuva sejam frutos do acaso, desde que se aceite
que os fenômenos astronômicos e magnéticos estão sob o domínio de leis gerais. Sem isto, as experiências mais
antigas da humanidade estariam apoiadas num fundamento muito fraco, pois na infância da ciência não se podia
saber que todos os fenômenos têm um curso regular.) ( ... )

CAPÍTULO IV - Das leis da natureza

1. A regularidade geral da natureza é um tecido de regularidades parciais chamadas leis

Considerando essa uniformidade no curso da natureza que é suposta em toda inferência a partir da experiência,
uma das primeiras observações que se apresentam é a de que a uniformidade em questão não é propriamente
uniformidade, mas uniformidades. A regularidade geral resulta da coexistência de regularidades parciais. O
curso da natureza em geral é constante porque o curso de cada um dos diversos fenômenos que a compõem o é.
Um determinado fato ocorre invariavelmente sempre que determinadas circunstâncias estão presentes e não
ocorre quando estão ausentes; o mesmo é verdadeiro de um outro fato; e assim por diante. (...)
O primeiro ponto, portanto, a notar com respeito ao que é chamado a uniformidade do curso da natureza, é que
ela própria é um fato complexo, composto de todas as uniformidades separadas de cada fenômeno. A essas
diversas uniformidades, quando constatadas por aquilo que se considera uma suficiente indução, chamamos, na
linguagem comum, leis da natureza. (...)
Substituindo os exemplos simbólicos por exemplos reais, eis três uniformidades, ou leis da natureza: a lei de
que o ar tem peso, a lei de que a pressão de um fluido se propaga igualmente em todas as direções, e a lei de
que a pressão em uma direção, não contrabalançada por uma pressão igual na direção contrária, produz um
movimento que dura até que o equilíbrio seja restabelecido. A partir dessas três uniformidades, deveríamos ser
capazes de predizer uma outra uniformidade, a saber, a ascensão do mercúrio no tubo de Torricelli. Esta, no uso
mais estrito da expressão, não é uma lei da natureza. É o resultado de leis da natureza. É um caso de cada uma e
de todas as três leis, e é apenas a ocorrência onde todas poderiam se realizar. (...)
Se soubéssemos, portanto, as três simples leis, mas nunca tivéssemos tentado a experiência de Torricelli,
poderíamos deduzir seu resultado dessas três leis. O peso conhecido do ar, combinado com a posição do
instrumento, colocaria o mercúrio na primeira das três induções; a primeira indução o levaria à segunda, e a
segunda à terceira, da maneira que caracterizamos quando tratamos do raciocínio. Chegaríamos assim a
conhecer a uniformidade mais complexa, independentemente da experimentação específica, através do nosso
conhecimento das uniformidades mais simples, de que ela é o resultado, embora, por razões que aparecerão
depois, a verificação por uma experiência ad hoc fosse ainda desejável e talvez indispensável. (...)
Num outro modo de expressão, a pergunta: "Quais são as leis da natureza?" Pode ser assim colocada: "Quais
são as suposições menos numerosas e mais simples que, sendo aceitas, delas resultaria toda a ordem existente
da natureza?" Um outro modo de exprimi-la seria: "Quais são as proposições gerais menos numerosas a partir
das quais todas as uniformidades da natureza poderiam ser inferidas dedutivamente?" ( ... )

2. A indução científica deve ser fundada em induções prévias espontâneas

Ao pretender constatar a ordem geral da natureza constatando a ordem particular de ocorrência de cada um dos
fenômenos da natureza, o procedimento mais científico não pode ser senão uma forma aperfeiçoada daquele
que primitivamente foi seguido pelo entendimento humano ainda não dirigido pela ciência. (...) Nenhuma
ciência precisou ensinar que o alimento nutre, que a água mata a sede, que o sol dá luz e calor, que os corpos
caem no solo. Os primeiros pesquisadores científicos admitiram estes fatos e outros semelhantes como verdades
conhecidas e partiram delas para descobrir novas; não estavam errados ao proceder assim, sujeitos, todavia,
como depois começaram a perceber, a uma revisão posterior dessas próprias generalizações espontâneas quando
o progresso do conhecimento estabeleceu limites a elas ou lhes mostrou que sua verdade dependia de alguma
circunstância originalmente não observada. A sequência de nossa pesquisa mostrará, penso, que não há nenhum
vício lógico nesse modo de proceder; mas já podemos ver que qualquer outro modo é rigorosamente
impraticável, já que é impossível instituir um método científico de indução, ou um meio de garantir a validade
das induções, a não ser na hipótese de que algumas induções dignas de crédito já foram feitas.
Voltemos ao exemplo já citado, e consideremos por que, com exatamente a mesma soma de provas, negativas e
positivas, não rejeitamos a afirmação de que há cisnes pretos enquanto recusaríamos crédito a qualquer
testemunho que afirmasse haver homens com a cabeça abaixo dos ombros. A primeira asserção era mais crível
que a última. Mas por que mais crível? Se nenhum dos dois fenômenos realmente fora testemunhado, que razão
havia para achar um mais difícil de acreditar que o outro? Aparentemente porque há menos constância na cor
dos animais do que em sua estrutura geral anatômica. Como sabemos isto? Sem dúvida, pela experiência. É
claro, pois, que necessitamos da experiência para informar-nos em que grau, e em quais casos, ou espécies de
casos, pode-se contar com a experiência. É preciso consultar a experiência para saber dela em que
circunstâncias os argumentos fundados em seu testemunho são válidos. Não temos nenhum critério ulterior para
a experiência em geral: ela é seu próprio critério para si mesma. A experiência atesta que, entre as
uniformidades que exibe ou parece exibir, algumas são mais admissíveis que outras; e a uniformidade, portanto,
pode ser presumida de um número dado de exemplos com um grau de certeza tanto maior quanto os fatos
pertençam a uma classe em que as uniformidades até então foram consideradas mais constantes.
Essa maneira de retificar uma generalização por meio de outra, uma generalização mais restrita por uma mais
ampla, que o senso comum sugere e adota na prática, é o tipo real de indução científica. Tudo o que essa arte
pode fazer é apenas dar exatidão e precisão a esse procedimento e adaptá-lo a todas as variedades de casos sem
qualquer alteração essencial nos seus princípios. (...)
3. Há induções próprias para servir de critério para todas as demais?
(...)
Pode-se afirmar, como princípio geral, que todas as induções, sólidas ou frágeis, que podem ser unidas pelo
raciocínio se confirmam mutuamente, enquanto as que levam dedutivamente a consequências inconciliáveis
tornam-se reciprocamente um índice certo de que uma ou outra deve ser abandonada ou, ao menos, expressa
com mais reserva. No caso de induções que confirmam mutuamente, a que se torna conclusão silogística
alcança pelo menos o nível de certeza da mais fraca das de que é deduzida, enquanto, em geral, a certeza de
todas aumenta mais ou menos. Assim, a experiência de Torricelli, embora um simples caso de três leis mais
gerais, não apenas reforçou grandemente a prova dessas leis, mas converteu uma delas (o peso do ar) de uma
generalização ainda duvidosa em uma doutrina completamente demonstrada.
Se, pois, um levantamento das uniformidades cuja existência foi reconhecida na natureza deveria estabelecer
algumas que, tanto quanto qualquer objetivo humano exige certeza, pudessem ser consideradas absolutamente
certas e universais, então, por meio dessas uniformidades, seremos capazes de elevar inúmeras outras induções
a este grau de autoridade. Se, com efeito, podemos demonstrar, com respeito a qualquer inferência indutiva, que
ou ela deve ser verdadeira ou uma dessas induções certas e universais deve admitir uma exceção, esta indução
atingirá a certeza e, em seus limites, a indefectibilidade, que são atributos das outras. Provar-se-á que ela é uma
lei e, se não um resultado de outras leis mais simples, será uma lei da natureza.
Ora, há tais induções certas e universais; e é porque as há que é possível uma lógica da indução.

(...)

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