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“Aquele que ama a prática sem teoria é como o navegante que embarca em
um navio sem um remo e uma bússola e nunca sabe aonde vai parar.” –
Leonardo da Vinci
É importante distinguir teoria no sentido científico e no popular. No popular,
chama-se de teoria (ou tiuria, em carioquês, rs) qualquer idéia para a qual não
se tem evidências concretas. Geralmente a palavra teoria é usada
popularmente com uma conotação negativa para se referir a especulação.
Quando se diz teoria com uma conotação positiva, o conceito popular tem
mais a ver com o conceito científico de hipótese. Contudo, na ciência, teoria é
algo muito mais amplo.
Podemos supor que essa ave seja primariamente frugívora. Ou seja, ela é
especializada em se alimentar de frutos. Para testar uma suposição como
essa, criada a partir de uma observação concreta, seria necessário fazer
deduções e previsões e correr atrás de mais evidências para, ao final,
contrastar expectativa contra realidade. Por exemplo, poderíamos examinar o
aparelho digestivo da ave, a fim de testar se sua morfologia condiz com uma
dieta frugívora especializada.
Caso uma tese continue se mantendo válida após vários testes, sendo capaz
de explicar a maioria dos casos observados, ela passa a ser chamada
de regra. Pode-se chamar também de regra um fato que se repete com muita
freqüência (por exemplo, a Regra de Bergmann). Uma regra que praticamente
não tem exceções pode vir a ser chamada de lei (por exemplo, a Lei da
Relação Espécies-Área ou a Lei da Seleção Natural).
Leis são mais fáceis de serem descobertas nas ciências que lidam com
sistemas mais elementares, como a Física e a Química, do que nas ciências
que lidam com sistemas altamente complexos, como a Biologia e a Psicologia.
Chegando a este ponto, cabe dizer que há uma diferença entre teoria no
sentido estrito e teoria no sentido de arcabouço conceitual.
Por um lado, quando estamos falando de um conjunto de conhecimentos que
relacionam-se entre si apenas por estarem ligados a um mesmo problema de
interesse, contudo sem contarem com um espinha dorsal conceitual que lhes
dê coerência, trata-se de um arcabouço.
Por outro lado, caso estejamos falando de um conjunto de conhecimentos,
cuja coerência interna é mantida por uma espinha dorsal composta por
postulados e parâmetros, isso sim é uma teoria no sentido estrito.
A teoria mais importante na biologia é a Teoria da Evolução, que serve de
pano de fundo para todas as demais teorias. Ela é uma teoria tão ampla, que
engloba até mesmo outras teorias, como a Teoria da Seleção Natural e
a Teoria da Hereditariedade, formando um campo conceitual gigantesco,
conhecido como Síntese Evolutiva.
Na verdade, a Seleção Natural pode ser considerada uma das únicas leis
conhecidas na Biologia. Isso porque sua estrutura lógica é a de um
argumento dedutivo: ou seja, caso as três premissas mencionadas sejam
atendidas, o resultado necessariamente é um processo de seleção natural na
evolução do grupo de organismos estudado.
Dessa maneira, somente trabalhando dentro do contexto de uma teoria é
possível entender o sentido dos fatos que observamos na natureza. Trabalhos
descritivos, ou seja, sem hipóteses, também têm sua importância, porque
ajudam a formar o arcabouço de evidências empíricas que podem ser usadas
para examinar a veracidade das teorias. Porém, eles são importantes como
um primeiro passo dentro de um processo de construção do conhecimento.
“A teoria sem evidência é vazia, a evidência sem teoria é cega” – Immanuel
Kant
Por fim, vale a pena ressaltar que o argumento ridículo dos neo-criacionistas,
desenho-inteligentistas e pseudocientistas em geral, que dizem que a
evolução não deve ser levada a sério porque “é apenas uma teoria”, mostra o
quanto eles são ignorantes sobre ciência, filosofia da ciência, seus métodos e
sua terminologia. Menosprezar a evolução porque ela é “apenas uma teoria” é
uma atitude tão estúpida quanto pular de um prédio e confiar que você vai
sobreviver, porque a gravidade “é apenas uma teoria”.
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Fonte: Em: https://marcoarmello.wordpress.com/2012/03/13/teoria/, pg. Acasso em
10.03.2019