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Journal of Optometry (2017) 10, 203---204
www.journalofoptometry.org
EDITORIAL
Ciência, pseudociência, prática baseada em evidências
e pós-verdade
Ciência, pseudociência, prática baseada na evidência y posverdad
José M. González-Méijome
Escola de Ciências da Universidade do Minho, Laboratório de Investigação em Optometria Clínica e Experimental (CEORLab),
Departamento e Centro de Física, 4710-057, Portugal
Vivemos uma época em que é mais fácil questionar o valor das estatinas
para combater o colesterol ou a eficácia da vacinação e substituir esses
tratamentos por substâncias homeopáticas sem efeito terapêutico
demonstrado, promovendo o BILIEF à categoria de PSEUDO-CIÊNCIA,
do que confiar em evidências fatos baseados no MÉTODO CIENTÍFICO.
Estes são tempos desafiadores para os clínicos e precisamos estar
atentos aos ''cantos da sereia'', questionar a VERDADE fácil mesmo
quando parece EVIDENTE e a recente chamada PÓS-VERDADE onde
as crenças parecem ser mais fortes que os FATOS, e encontrar o caminho
para uma PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS. Este breve parágrafo
contém vários termos e construções que frequentemente usamos,
ouvimos ou lemos, mas cujas definições requerem uma reflexão mais
cuidadosa, objetivo deste editorial.
Paradoxalmente, estes são tempos grandes e difíceis para a ciência.
Por um lado, estamos testemunhando a mais alta atividade de pesquisa
que já conhecemos em optometria e ciência da visão e em todas as
disciplinas em geral. Infelizmente, isso também está se mostrando um
meio de cultura perfeito para a prática clínica que está longe de ser
apoiado por boas pesquisas. Tal prática sempre existiu, mas presumiu-se
que o aumento da atividade de pesquisa forneceria provas para isso ou
a aboliria completamente. Em vez disso, em alguns casos, nenhuma
dessas duas opções ocorre e essa prática encontrou um ecossistema
para prosperar e é até coberta com um verniz de credibilidade ao ser
publicada aqui e ali.
Não devemos confundir pensamentos “evidentes” com fatos apoiados
por “evidências”. Evidente às vezes é usado
E-mail: jgmeijome@fisica.uminho.pt
http://dx.doi.org/10.1016/j.optom.2017.08.001 1888-4296/
˜
© 2017 Publicado por Elsevier Espana, SLU em nome do Conselho Geral Espanhol de Optometria. Este é um artigo de acesso aberto sob a licença CC BY-NC-
ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
sinônimo de "óbvio", algo que pode ser visto.
No entanto, uma definição melhor seria que a palavra ''evidente'' se refere
a algo ''claramente entendido''. No entanto, pensamentos pessoais
podem ser evidentes simplesmente porque fazem sentido de acordo com
alguns fatos tendenciosos ou porque coincidem com crenças gerais.
Evidência, no entanto, é definida como “o corpo disponível de fatos ou
informações que indicam se uma crença ou proposição é verdadeira ou
válida”. Portanto, não devemos confundir crenças com evidências e
devemos sempre buscar observações confirmatórias (fatos), devidamente
coletadas e analisadas. Em última análise, as evidências podem confirmar
nossas crenças, mas não o contrário.
O papel proeminente dos fatos mencionados acima nos leva a outro
conceito relevante --- ''pós-verdade''. O termo está cada vez mais presente
na mídia e em 2016 foi declarado a palavra do ano pelo Dicionário
Oxford . e crenças pessoais'' ou, de acordo com o Cambridge Dictionary ,
''uma situação na qual as pessoas são mais propensas a aceitar um
argumento baseado em suas emoções e crenças, em vez de um baseado
em fatos''. Curiosamente, até o final deste ano --- 2017 --- sua tradução
para o espanhol ''posverdad'' será indexada no Dicionário Oficial da
Língua pela Royal Academy of Language (Real Academia de la Lengua).
De alguma forma, definir a própria “verdade” nos ajudará a entender o
conceito de pós-verdade. ''Verdade'', um substantivo, é definido como a
qualidade de ser verdadeiro, enquanto ''verdadeiro'' é um adjetivo que
significa ''de acordo com o fato ou a realidade''.
Outra definição é "ser preciso ou exato". Ambas as definições são muito
importantes do ponto de vista científico, pois implicam que antes de
atribuirmos essa qualidade a algo
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precisamos garantir que seja preciso e factual, portanto,
devem ser verificáveis usando os métodos apropriados. De
perspectiva filosófica e de acordo com o neoclássico
Teoria da Correspondência Uma crença é verdadeira se existe uma
entidade apropriada --- um fato --- ao qual corresponde como
descrito na Enciclopédia Stanford.2
Em conjunto, essas definições nos dizem que a verdade deve ser
não deve ser baseada em crenças pessoais, mas deve ser confirmada
com fatos. No entanto, no campo científico, os fatos
não são facilmente aceitos sem questionamento e múltiplos
verificações. Uma forma de obter tal confirmação é
através do Método Científico ''que consiste em
observação, medição e experimento, e formulação, teste e modificação
de hipóteses”. Quando o
método científico vai além da observação e é complementado com
medições precisas, de preferência com
outra coisa que não nossos olhos, indissociavelmente ligados a
"experiências" anteriores de nosso cérebro, nos permite fazer
julgamentos. De fato, como o astrofísico Neil deGrasse
Tyson escreve em seu livro recente, tal experiência "é mais
muitas vezes uma mochila ou ideias preconcebidas, noções pós-
concebidas e parcialidade total''.3
A confusão acima mencionada entre crenças e fatos
nos leva a outro conceito destacado neste editorial,
pseudociência. Para entender melhor o conceito completo de
''pseudociência'', em vez de fazer uma
interpretação como ''falsa ciência'', é uma boa idéia primeiro
definir a própria ciência. A ciência é a "compreensão do
mecanismos que governam nosso mundo, desde as leis fundamentais
do universo até os processos biológicos do
organismos vivos mais simples para a complexidade do ser humano
corpo''. A ciência é, em última análise, uma maneira (talvez a melhor maneira) de
adquirir conhecimento. Pode ser a melhor maneira porque
não trabalhar com crenças pré-concebidas em busca de confirmação.
Em vez disso, a ciência trabalha com hipóteses para explicar fatos e
quanto mais hipóteses a ciência rejeita, mais próximo o cientista
chega a uma explicação científica. Outra consequência importante
decorrente do exposto é que não devemos confundir
''causalidade'' com ''acidente''. Uma associação entre dois
parâmetros não significa necessariamente que um é a causa
do outro. Devemos primeiro considerar a possibilidade de um
combinação casual e fazer qualquer esforço para rejeitar tal relação com
outro viés potencial e excluir qualquer outro
justificativa para nossos achados antes de aceitarmos a explicação e
atribuirmos a causalidade de um dado evento. Apenas quando
não temos justificativa adicional para os achados
aceitamos a relação causal.
Existem, no entanto, muitas outras fontes de conhecimento
incluindo crenças tradicionais e opinião de especialistas que
não deve ignorar. É aqui que devemos reintroduzir a
definição de pseudociência de acordo com o Dicionário Oxford como
"uma coleção de crenças ou práticas erroneamente
considerados como sendo baseados no método científico''.2 Portanto, a
pseudociência surge quando essas fontes de conhecimento
assumir o papel da própria ciência. O leitor pode achar
útil reconhecer a pseudociência por algumas de suas características
segundo alguns autores: costumava ser contraditória,
faz afirmações exageradas ou improváveis, baseia-se no viés de
confirmação em vez de tentativas rigorosas de refutação,
falta de abertura à avaliação por outros especialistas, e
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ausência de práticas sistemáticas no desenvolvimento de teorias.
Mídias sociais e meios de divulgação de todos os tipos, inclusive
blogs, fóruns, grupos de discussão etc. também fornecem combustível
que essas abordagens ganhem atenção exagerada, promovendo tais
formas de conhecimento à categoria de ciência e
promovendo o surgimento da pseudociência.
Essas considerações me levam a conclusões que podem
ser relevante para todos os envolvidos em pesquisa, prática clínica ou
ambos. Primeiro, nem todas as abordagens de tratamento
que seguimos hoje são baseados em princípios científicos. Na verdade,
existem vários exemplos de tratamentos que provaram
ser benéfico, mas cujas bases científicas ainda não são
totalmente compreendido. Segundo, mesmo quando não temos uma
abordagem baseada na ciência para entender completamente seu modo de ação,
podemos nos sentir compelidos a usá-los não porque obscuros
interesses nos motivam, mas porque conseguimos
confirmar seus resultados em sucessivas observações sistemáticas
em experimentos de pesquisa bem projetados que não são tendenciosos
por nossas crenças ou preconceitos. Em terceiro lugar, a exigência de
prática baseada em evidências deve nos fazer buscar provas robustas de
comportamentos sistemáticos. Isso geralmente é fornecido pela clínica
ensaios que minimizam o risco de viés escolhendo estatisticamente
tamanhos amostrais significativos, usando grupos de controle, randomizando
os sujeitos de tratamento e controle e sempre que possível, eliminando
o potencial efeito placebo mascarando
sujeitos e/ou investigadores. Em quarto lugar, devemos usar o
métodos de medição mais objetivos e repetíveis que
podemos para minimizar o impacto de nossas crenças e
viés de observação sobre o resultado final que estamos testando.
Quinto, nunca devemos aceitar como verdade, baseada na ciência ou
prática baseada em evidências aquilo que de fato pode ser opiniões
pessoais, relatos de casos isolados, casos não sistemáticos
série, ou relatórios "científicos" severamente tendenciosos. Em última análise
isso não significa que essas formas de conhecimento não sejam
relevantes para o avanço da prática clínica e da ciência
em si, mas não devem ser supervalorizados ou tomados como dados
sem mais questionamentos e validação por testes
(voltar ao Terceiro).
Como profissionais de saúde, devemos estar prontos para
aceitar que nossas crenças não são mais importantes que fatos.
Além disso, quanto mais ampla nossa experiência, mais poderosa nossa
crenças podem ser. E quer sejamos mais clinicamente orientados ou
orientados para a pesquisa, precisamos ter em mente que
a ciência não faz nenhum esforço para confirmar crenças ou hipóteses.
Em vez disso, tenta rejeitar qualquer explicação potencial até que
há um que não pode ser rejeitado e, portanto, pode ser
ligada à observação que fizemos. Isso deve confirmar
o poder da ciência a serviço da prática clínica.
Referências
1. Dicionários Oxford. Disponível no: https://pt.
oxforddictionaries.com/definition/pseudoscience em Acessado
21.07.17.
2. Enciclopédia de filosofia de Stanford. Disponível em: https:
//plato.stanford.edu/entries/truth/ Acesso em 21.07.17.
3. de Grasse Tyson N. Astrofísica para pessoas com pressa. WW Nem
ton & Co, Inc.; 2017.