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Ciência, Análise do Comportamento e a Prática Baseada em Evidências em


Psicologia

Article in Perspectivas em Análise do Comportamento · March 2023


DOI: 10.18761/PACCha0a1

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Jan Luiz Leonardi


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ISSN 2177-3548

Ciência, Análise do Comportamento e a Prática Baseada em


Evidências em Psicologia
Science, Behavior Analysis and Evidence-Based Practice in Psychology
Jan Luiz Leonardi1,2, Thiago Mácimo2, André Demambre Bacchi3, Dan Josua1,2

[1] Instituto de Psicologia Baseada em Evidências (InPBE) [2] Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE) [3] Universidade Federal de
Rondonópolis | Título abreviado: Análise do Comportamento e Prática Baseada em Evidências | Endereço para correspondência: Rua Rio Grande do Norte, 1435,
sala 708, Savassi, Belo Horizonte | Email: janleonardi@gmail.com | doi: org/10.18761/PACCha0a1

Resumo: O paradigma da Prática Baseada em Evidências (PBE) surgiu na década de 1990


na medicina e, gradualmente, passou a ser incorporado por outras áreas da saúde, incluindo
a psicologia. A PBE é definida como o processo individualizado de tomada de decisão clíni-
ca que ocorre por meio da integração da melhor evidência disponível com a perícia clínica
no contexto das características individuais do paciente. A concepção de uma psicoterapia
pautada em evidências parece estar em perfeita harmonia com a ideologia da Análise do
Comportamento (AC), que, desde a sua origem, apresenta um forte comprometimento com
a sustentação empírica de seus procedimentos terapêuticos. Porém, debates recentes sobre a
relação entre AC e PBE, tanto em instâncias formais quanto informais, têm revelado incom-
preensões e discordâncias quanto a alguns tópicos cruciais, a saber: (1) a função da teoria e da
pesquisa básica para a prática clínica; (2) a necessidade de padronização da intervenção; (3) a
mensuração de desfechos clínicos e o uso do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais; e (4) a relevância das evidências oriundas de ensaios clínicos randomizados. O pre-
sente artigo dedica-se a explorar com profundidade cada um desses tópicos, contrastando
proposições conceituais, metodológicas e aplicadas, em vistas a um melhor diálogo entre a
PBE e a AC. Espera-se, assim, que este trabalho contribua para o desenvolvimento científico
da psicoterapia.
Palavras-chave: prática baseada em evidências; análise do comportamento; terapia compor-
tamental; terapia analítico-comportamental; psicologia.

Revista Perspectivas 2023 vol. 14 n ° 01 pp. 097-119 97 www.revistaperspectivas.org


Abstract: The Evidence-Based Practice (EBP) paradigm emerged in the 1990s in medicine
and was gradually incorporated by other areas of health, such as psychology. EBP is defined
as the individualized clinical decision-making process that occurs through the integration of
the best available evidence with clinical expertise in the context of the individual characteris-
tics of the patient. The concept of an evidence-based approach to psychotherapy seems to be
in perfect harmony with the ideology of Behavior Analysis (BA), which, since its origin, has
been strongly committed to the empirical support of its therapeutic procedures. However, re-
cent debates on the relationship between BA and EBP, both in formal and informal instances,
have revealed misunderstandings and disagreements regarding some crucial topics, namely:
(1) the role of theory and basic research for clinical practice; (2) the need for standardization
of the intervention; (3) the measurement of clinical outcomes and the use of the Diagnostic
and Statistical Manual of Mental Disorders; and (4) the relevance of evidence from random-
ized clinical trials. This article explores each of these topics in depth, contrasting conceptual,
methodological and applied propositions, in pursuit of a better dialogue between EBP and
BA. It is hoped, therefore, that it contributes to the scientific development of psychotherapy.
Keywords: evidence-based practice; behavior analysis; behavior therapy; clinical behavior
analysis; psychology.

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A Prática Baseada em Evidências (PBE) pressu- nal que segue um método explícito e sistemático de
põe a individualização do conhecimento científico investigação, não sendo subordinada a dogmas ou
no contexto clínico. Porém, caracterizar o conhe- tradições não testáveis. Por meio do que chamou de
cimento científico, ou mesmo a própria Ciência, realismo científico, o filósofo defende a existência de
não é algo simples. Ao longo da história, diversos leis universais da natureza, que existem à despeito
pensadores se debruçaram (e continuam se debru- da nossa capacidade de observá-las ou interpretá-
çando) sobre esse tema, nem sempre de maneira -las. Nesse sentido, a existência desse mundo real
consonante. Isso torna desafiador, mesmo nos dias pode ser conhecida gradativamente por meio do
de hoje, demarcar o que é Ciência ou não (Pigliucci conhecimento científico, que aos poucos melhora a
& Boudry, 2013). nitidez com a qual percebemos a realidade.
A herança deixada por Popper (1975) a respeito Independentemente de divergências filosóficas,
da falseabilidade (que afirma que para um conheci- entende-se que a Ciência se propõe a lançar um
mento ser considerado científico é necessário que, olhar mais objetivo sobre um mundo que geral-
ao menos, ele possa ser confrontado por dados de mente é percebido de maneira altamente subjetiva
uma realidade empírica) e do método hipotético- por seus habitantes. Essa objetividade é frequente-
-dedutivo (no qual o conhecimento científico se- mente interpretada como um olhar livre de julga-
ria obtido pela elaboração de uma hipótese a ser mentos e vieses, e que seria “neutro”, sobre a reali-
confrontada por meio de pesquisas sistemáticas, dade. Todavia, essa é uma visão ingênua. A Ciência
objetivas e controladas) foi um dos alicerces sobre é conduzida por seres humanos que são influen-
os quais construímos nossa forma de definir aquilo ciados por suas próprias crenças, valores, interes-
que é Ciência. ses e preconceitos. Além disso, a Ciência também
Embora o critério da falseabilidade tenha con- é influenciada pelo contexto social, econômico e
tribuído significativamente para a demarcação da- político em que é conduzida. Portanto, os resulta-
quilo que é considerado científico, filósofos con- dos científicos podem refletir, em certa medida, as
temporâneos, como Sven Ove Hansson e Mario perspectivas dos pesquisadores e, às vezes, da socie-
Bunge, não consideram os critérios Popperianos dade em geral. Tentar descolar totalmente a Ciência
suficientes para definir algo tão complexo – a desse contexto, forçando a sua “despolitização”, a
Ciência. Para Hansson (2021), limitar a definição tornaria mais autoritária. Não por acaso, nazistas
de Ciência a este único critério é reducionista. Isso afirmaram torná-la “neutra”, apenas como uma for-
ocorre porque nem toda teoria científica é passível ma de eliminar a possibilidade de um debate social/
de ser completamente falseada (como a Teoria da político e qualquer controvérsia sobre temas que
Evolução), assim como muitas teorias que podem atendiam à ideologia alemã vigente (mostrando,
ser falseadas, como astrologia, não são cientifica- novamente, a ausência da neutralidade científica)
mente relevantes. (Proctor, 1988).
Nesse sentido, para Hansson (2021), os crité- Sendo assim, a objetividade na Ciência possui
rios para a definição do que é Ciência devem ser uma relação mais próxima com uma tentativa (nem
mais sofisticados, flexíveis e contextuais (incluin- sempre bem-sucedida) de trazer maior precisão
do o contexto social e político no qual a teoria foi para a forma com a qual enxergamos uma realida-
desenvolvida e testada) e levar em consideração a de incerta. Obviamente, a ideia de que seja possí-
capacidade de explicar um conjunto de fenômenos vel se aproximar de “verdades objetivas universais”
de forma coerente e sistemática. De forma análoga, é alvo de intensa crítica, pois, mesmo com o uso
Bunge (1960) considera que os critérios para se de- do método científico, não é possível oferecer garan-
finir o que é científico são multifacetados e contex- tias ou nos livrarmos totalmente de crenças, vieses
tualizados. Embora também considere o contexto e preconceitos que estão estruturalmente inseridos
político e social no qual a prática científica ocorre, na sociedade da qual fazemos parte. Porém, muitas
o autor enfatiza a definição de Ciência pautada em críticas à Ciência e seus métodos são conduzidas
critérios epistemológicos e metodológicos. Sendo por uma visão reducionista daqueles que a criticam.
assim, a Ciência seria um empreendimento racio- Afinal, seria contraditório imaginar que a Ciência

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geraria verdades absolutas, uma vez que a sua prin- (Long et al., 2017), pedagogia (Pring & Thomas,
cipal característica é justamente o pressuposto da 2004) e psicologia (Goodheart et al., 2006; Norcross
falibilidade dos seus conhecimentos, que estão et al., 2006).
constantemente abertos à revisão e contestação. O advento da PBE foi influenciado por um con-
Enquanto as ideias de “objetivismo” e de “neu- junto de fatores científicos, sociais, econômicos e
tralidade” receberam críticas válidas por aproxi- políticos, tais como interesse de pesquisadores,
marem inadequadamente a Ciência de um caráter clínicos e associações profissionais em comprovar
absoluto, o seu combate extremo e a qualquer custo os resultados dos serviços prestados pela categoria,
conduziu a uma forma de pensar oposta e dicotô- demanda dos consumidores em assegurar a quali-
mica: se é impossível chegarmos a verdades uni- dade dos serviços recebidos, empenho das agências
versais, disto se depreenderia que cada indivíduo governamentais em proteger os direitos dos consu-
enxerga a sua própria verdade (embora, paradoxal- midores, interesse dos planos de saúde em maximi-
mente, afirmar que cada um enxergue uma verdade zar o custo-benefício dos tratamentos, entre outros
diferente seja uma tentativa de definir uma verdade (Beutler, 1998).
universal sobre verdades relativas individuais). Esse Após um longo embate entre as diversas pers-
relativismo pode levar à noção de que todas as for- pectivas teóricas, conceituais, metodológicas e
mas de conhecimento são igualmente válidas e, por práticas (cf. Leonardi & Meyer, 2015), a American
conseguinte, que não é possível construir conheci- Psychological Association (APA) definiu PBE em
mento científico (Harding, 1992). psicologia como “o processo individualizado de to-
Diante da incerteza da realidade, da ausência de mada de decisão clínica que ocorre por meio da in-
neutralidade científica e da ineficácia do relativis- tegração da melhor evidência disponível com a pe-
mo em resolver essas questões, o caminho que po- rícia clínica no contexto das características, cultura
demos percorrer é utilizar o método científico para e preferências do paciente” (APA, 2006, p. 273). A
nos ajudar a enxergar o mundo de maneira proba- Figura 1 ilustra o paradigma da PBE.
bilística, reduzindo incertezas de modo a orientar O que é evidência? Para um perito forense, im-
objetivamente decisões pragmáticas no campo pro- pressões digitais podem ser evidências de autoria
fissional. Essa objetividade científica, contudo – e de um crime. Para um médico, exames de sangue
ao contrário do que se afirma – é contexto-depen-
dente (Gaukroger, 2012), ou seja, não se descola do
ambiente sociocultural no qual estamos inseridos.
Assim, é possível conceber uma Ciência que está
sempre em evolução, de modo que não há uma úni-
ca teoria científica ou explicação que esteja defini-
tivamente correta – as explicações científicas são
sempre provisórias e estão sujeitas à revisão. É nesta
concepção de Ciência que se fundamenta a PBE.

A prática baseada em evidências


(PBE)
O paradigma da PBE foi desenvolvido original-
mente na década de 1990 na medicina (Guyatt et
al., 1992) e, gradualmente, passou a ser incorpora-
do por outras áreas, tais como enfermagem (Craig
& Smyth, 2011), fisioterapia (Herbert et al., 2022), Figura 1. Representação Visual da Prática Baseada em E
odontologia (Chiappelli, 2019), educação física Figura 1. Representação Visual da Prática Baseada
(Arnold & Schilling, 2016), terapia ocupacional em Evidências

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podem constituir evidência de problemas fisioló- considerar os resultados que são replicados em
gicos que merecem cuidado. Já o asfalto molhado estudos e que usaram metodologias que abor-
pela manhã pode servir como evidência de que a dam ameaças à validade dos resultados (por
madrugada foi chuvosa para a pessoa que está sain- exemplo, validade interna, validade externa,
do de casa para trabalhar. capacidade de generalização, transferibilidade).
Evidências científicas são obtidas por meio da Assim, os psicólogos devem considerar a me-
observação sistemática e controlada, podendo in- lhor evidência disponível no topo da hierarquia
cluir dados quantitativos e qualitativos. Elas são de evidências de pesquisa. Evidências inferiores
utilizadas para validar ou refutar hipóteses e são na hierarquia devem ser consideradas apenas
essenciais para a tomada de decisões na prática clí- quando não existem melhores evidências de
nica. É importante lembrar que as evidências são pesquisa ou se houver fatores claros que atenu-
oriundas de processos humanos de inquirição, aná- am o uso das melhores evidências. (Dozois et
lise e investigação, o que significa que são produto al., 2014, p. 156)
de um processo de interpretação que faz conexões
com um conhecimento de fundo. Isto implica que É fato que os dados de pesquisa podem ser con-
as evidências a favor de uma conclusão podem ser flitantes ou incompletos. Cabe ao terapeuta desen-
revertidas em razão do surgimento de outras que volver as habilidades necessárias para o consumo
apontam para outra direção. Assim, mais do que crítico das evidências, analisando sua relevância,
discutir o que é evidência, a proposta da PBE é a de validade, importância e aplicabilidade para aquele
questionar qual evidência permite qual conclusão. paciente que está dando início à sua terapia. Deve-
Nesse sentido, a expressão melhor evidência dis- se buscar o uso da melhor evidência disponível sob
ponível contida na definição de PBE sugere a exis- a premissa de que pouca evidência, se bem utiliza-
tência de dados empíricos com diferentes níveis de da, é melhor do que nenhuma evidência (Spencer
credibilidade. Por que? Porque evidências científi- et al., 2012). Assim, é preciso tomar cuidado com
cas podem ter maior ou menor grau de confiabili- certo ceticismo radical que, por vezes, substitui um
dade a depender dos riscos de viés das diferentes conhecimento incompleto por nenhum conheci-
pesquisas, a validade e confiabilidade das medidas mento – o campo das exigências absolutas é cam-
escolhidas para avaliar o paciente, a precisão da po comum de práticas pseudocientíficas (Boudry,
descrição dos procedimentos, como as condições 2011). Como afirmado anteriormente, um dos
experimental e controle foram arranjadas para per- pilares da Ciência é a aceitação de verdades em
mitir comparações entre elas, o método de análise construção. Em outras palavras, ainda que críti-
dos dados, a consistência dos resultados das dife- cas possam e devam ser feitas sobre problemas na
rentes pesquisas, a magnitude de benefício encon- construção de evidências de eficácia clínica – cha-
trado, etc. Assim, é possível elaborar uma hierar- ma a atenção, por exemplo, a presença de contro-
quia de níveis de evidência, cuja força e relevância les de baixa qualidade em pesquisas em psicologia
das mesmas variam de fraca a forte. Os níveis mais (Wampold & Imel, 2015) – faz-se necessário ter a
fracos de evidência acerca da eficácia de uma inter- prudência de não descartar a PBE como um todo
venção são aqueles oriundos de experiência clínica por conta de elementos insatisfatórios em seu esta-
ou da opinião de especialistas, enquanto evidên- do atual que podem e devem melhorar.
cias mais fortes provêm de revisões sistemáticas de A perícia clínica contida na definição de PBE
pesquisas clínicas (Dozois et al., 2014; Reed et al., diz respeito ao repertório especializado do tera-
2006). Um documento publicado pela Canadian peuta, construído em sua formação acadêmica,
Psychological Association traz um direcionamento treinamentos, supervisão, experiência clínica e
bastante claro nesta direção: estudo da literatura teórica e empírica, incluindo
competências como formulação de caso, mensura-
Embora todas as metodologias de pesquisa te- ção de resultados, planejamento de intervenções,
nham algum potencial para fornecer evidên- habilidades interpessoais, desenvolvimento de uma
cias relevantes, os psicólogos devem primeiro boa relação terapêutica, execução de técnicas, com-

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petências multiculturais, comunicação com ou- clarecida). Concordar incondicionalmente com as


tros profissionais envolvidos no caso, entre outras escolhas do paciente, no lugar de o informar so-
(APA, 2006; Reed et al., 2006; Spencer et al., 2012). bre o conhecimento de mecanismos psicológicos e
É importante observar que um componente funda- das evidências de pesquisa, pode ser irresponsável.
mental da perícia clínica diz respeito à capacidade Assim, incorporar as idiossincrasias do paciente
de encontrar e de avaliar criticamente as evidên- não envolve necessariamente concordar ou seguir
cias existentes na literatura e sua pertinência para com a preferência inicial dele, mas o informar e o
o paciente em questão. A Canadian Psychological auxiliar em uma tomada de decisão que aumente
Association, por exemplo, aponta que é necessário a probabilidade de que seu tratamento seja bem
que o profissional sucedido. Cabe ao terapeuta, portanto, fundamen-
tado nas evidências, descrever os procedimentos a
esforce-se para fornecer e/ou obter o melhor serem empregados, listar seus potenciais benefícios
serviço razoavelmente acessível para aqueles e riscos e informar sobre intervenções alternativas.
que procuram serviços psicológicos. Isso pode A escolha final em realizar ou não determinado
incluir, e não é limitado a, selecionar ferramen- processo terapêutico é do paciente (Spencer et al.,
tas de avaliação, métodos, intervenções e moda- 2012; Spring, 2007).
lidades de comunicação que são: (a) relevantes Conforme explicado anteriormente, a PBE é
e adaptadas para necessidades, características caracterizada como um processo individualizado
e contextos do paciente; e (b) baseadas na me- de tomada de decisão clínica que ocorre por meio
lhor evidência disponível à luz daquelas neces- da integração da melhor evidência científica com
sidades, características e contextos. (Canadian a perícia clínica e as idiossincrasias do paciente.
Psychological Association, 2017, p. 21) Na prática, esse modelo costuma ser operaciona-
lizado em cinco passos, a saber: (1) levantamento
O contexto das características, cultura e prefe- de questões clínicas relevantes. Quem é o paciente
rências do paciente na definição de PBE refere-se (idade, sexo, cultura, etc.), qual é sua demanda e
às idiossincrasias do indivíduo, tais como seus qual é seu estado clínico? Quais intervenções estão
objetivos, valores, crenças, preferências, contexto sendo consideradas? Quais alternativas existem?
sociocultural e estado clínico (APA, 2006). A ra- Quais resultados o terapeuta pretende obter?; (2)
cional deste componente é explicitamente reco- busca pelas melhores evidências, tais como as dire-
nhecer a necessidade inexorável de individualiza- trizes clínicas, que são recomendações desenvolvi-
ção da conduta clínica como elemento crucial para das por especialistas de determinada área da saúde
o sucesso de qualquer intervenção. A adequação que visam auxiliar o profissional a oferecer a me-
da terapia a características do paciente, tais como lhor intervenção disponível com base nas evidên-
religião/orientação espiritual, identidade de gê- cias de pesquisa, bem como revisões sistemáticas
nero, identidade étnica/racial, orientação sexual, de ensaios clínicos randomizados e de experimen-
condição econômica, estilo de apego, entre outras, tos de caso único; (3) análise crítica da qualidade
tem demonstrado aumentar a efetividade da inter- das evidências encontradas, que deve abarcar, por
venção bem como reduzir o abandono da terapia exemplo, os riscos de viés das pesquisas, se o pro-
(Norcross & Wampold, 2018). Assim, é fundamen- cedimento é replicável, se os desfechos escolhidos
tal, na perspectiva da PBE, que haja participação fazem sentido, se a análise dos dados empregou
ativa do paciente na tomada de decisão clínica so- testes estatísticos apropriados, se os resultados têm
bre sua própria saúde e bem-estar. Isso não significa significância clínica, etc.; (4) implementação da in-
que o terapeuta deva aceitar incondicionalmente os tervenção, cujos procedimentos precisam ser domi-
desejos do paciente, o que poderia acarretar em re- nados pelo terapeuta para que este possa executá-
sultados insatisfatórios e até mesmo culminar em -las e adaptá-las às particularidades do paciente; (5)
erros e contravenções éticas, mas sim em construir avaliação do estado do paciente antes, durante e de-
um plano terapêutico em parceria com o paciente pois do processo terapêutico, em vistas a mensurar
(e garantir que este seja capaz de uma escolha es- os resultados da intervenção, o que pode ser feito

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por meio de instrumentos padronizados, observa- Certification Board (2010), organização que regula
ção comportamental direta, entre outros (Norcross a certificação profissional de analistas do compor-
et al., 2016). tamento em diversos países, afirma que a prestação
Por fim, deve ficar claro que a PBE não diz res- de serviços deve estar embasada na melhor evidên-
peito a uma modalidade específica de terapia ou a cia disponível, como ilustram os trechos a seguir:
algum protocolo de intervenção, mas sim ao com-
portamento de tomada de decisão clínica por parte 1.01 Respaldo no Conhecimento Científico.
do terapeuta. Assim, usar a expressão no plural – Analistas do comportamento se baseiam em
“práticas baseadas em evidências” – é um equívoco conhecimentos derivados cientifica e profissio-
conceitual, conforme explicita a seguinte citação nalmente ao fazer juízos científicos ou profis-
retirada do relatório da força-tarefa da APA: sionais na prestação de serviços humanos ou
quando engajados em atividades acadêmicas
É importante esclarecer a relação entre PBEP ou profissionais. (p. 1)
[prática baseada em evidências em psicologia] e 2.10 Eficácia do Tratamento. (a) O analista do
tratamentos empiricamente sustentados (TESs). comportamento sempre tem a responsabilidade
PBEP é o conceito mais abrangente. Os TESs de recomendar os mais eficazes procedimentos
começam com um tratamento e investigam de tratamento cientificamente sustentados. Os
se ele funciona ou não para certo transtorno procedimentos de tratamento eficazes são aque-
ou problema sob circunstâncias específicas. A les que foram validados como tendo benefícios
PBEP começa com o paciente e investiga qual tanto de longo prazo quanto de curto prazo
evidência de pesquisa (incluindo resultados para os pacientes e para a sociedade. (b) Os pa-
relevantes de ECRs [ensaios clínicos randomi- cientes têm direito a um tratamento eficaz (i.e.,
zados] auxiliará o psicólogo na obtenção do baseado na literatura de pesquisa e adaptado
melhor resultado. Além disso, TESs são trata- para o paciente individual). (p. 6)
mentos psicológicos específicos que se mostra-
ram eficazes em ensaios clínicos controlados, Ainda que a AC tenha como pressuposto a ne-
ao passo que a PBEP abrange um espectro mais cessidade de sustentação empírica de seus procedi-
amplo de atividades clínicas (por exemplo, ava-mentos, debates recentes sobre a relação entre AC e
PBE, tanto em instâncias formais (e.g., Cândido &
liação psicológica, formulação de caso, relações
terapêuticas). Assim, a PBEP articula um pro- Ferreira, 2022; Corchs, 2021; Leonardi, 2017, 2021;
cesso de tomada de decisão justamente por in- Leonardi & Meyer, 2016; Oshiro, 2022) quanto in-
tegrar múltiplos tipos de evidência de pesquisaformais (posts de Instagram, discussões em grupos
– incluindo, mas não se limitando a ECRs – no de Facebook, etc.) têm revelado incompreensões e
processo de intervenção. (APA, 2006, p. 273) discordâncias quanto a alguns tópicos cruciais para
o campo da psicoterapia, a saber: (1) a função da
teoria e da pesquisa básica para a prática clínica;
Análise do comportamento (AC) e (2) a necessidade de padronização da intervenção;
a prática baseada em evidências (3) a mensuração de desfechos clínicos e o uso do
(PBE) Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM); e (4) a relevância das evidências
A concepção de uma prática clínica pautada em oriundas de ensaios clínicos randomizados (ECRs).
evidências parece estar em perfeita harmonia com O presente artigo aborda com profundidade
a ideologia da Análise do Comportamento (AC), cada um desses tópicos, contrastando proposições
que, desde a sua origem, apresenta um forte com- conceituais, metodológicas e aplicadas, em vistas a
prometimento com a sustentação empírica de seus um melhor diálogo entre a PBE e a AC.
procedimentos terapêuticos (cf. Kazdin, 1978). As
Diretrizes para Atuação Responsável de Analistas do
Comportamento elaboradas pela Behavior Analyst

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Ciência, Análise do Comportamento e a Prática Baseada em Evidências em Psicologia 169-183

(1) A função da teoria e da pesquisa básica ples e nem direta – eles precisam ser formulados de
para a prática clínica forma replicável para, então, serem testados em ex-
Visto que uma teoria oferece meios de organizar, perimentos no âmbito da pesquisa aplicada. Alguns
analisar, sintetizar, interpretar e relacionar dife- terapeutas parecem entender que, por conhecerem
rentes descobertas, é esperado e incentivado que o em profundidade os processos comportamentais
psicólogo adote uma abordagem particular – o que, básicos, automaticamente são capazes de intervir
geralmente, inclui uma visão específica de ser hu- de maneira eficiente com os seus pacientes. Isso até
mano e de mundo, pressupostos filosóficos, bases pode ser verdade em alguns casos, mas não há da-
epistemológicas e um corpo de conceitos, métodos dos empíricos sólidos que sustentem essa crença. Ao
e técnicas. contrário, essa é uma prática que Critchfield (2014),
Dentre as muitas perspectivas teóricas que exis- um analista do comportamento, chamou de “exces-
tem na psicologia, uma das que têm grande expres- so de confiança translacional” – a crença de que os
são – e que indubitavelmente tem compromisso dados da pesquisa básica são suficientes para fun-
com Ciência – é a AC. Posto de forma sucinta, a damentar procedimentos de intervenção. Excesso
AC é uma ciência básica e aplicada que, orientada de confiança translacional acontece toda vez que
pelos pressupostos filosóficos do behaviorismo ra- alguém acredita que o conhecimento bem estabe-
dical, tem por objetivo descrever, explicar, prever, lecido no laboratório se traduz imediatamente para
controlar e interpretar o comportamento humano a clínica. Pense, por exemplo, no conceito de refor-
(Skinner, 1974/1976). çamento. Conhecer de reforçamento no ambiente
A AC costuma ser dividida didaticamente em do laboratório, seja com ratos, pombos ou huma-
três subáreas indissociáveis: o behaviorismo radical, nos, não garante que, ao interagir com um adulto
uma filosofia voltada ao caráter epistemológico, his- em uma sala no consultório, o terapeuta saiba como
tórico e metacientífico da ciência do comportamen- reforçar de forma efetiva as respostas do paciente
to; a análise experimental do comportamento, uma (isto é, consiga de fato aumentar a frequência das
ciência básica encarregada de produzir evidências respostas no futuro) e saiba o que é preciso reforçar
empíricas sobre os processos comportamentais; a para obter as mudanças clinicamente relevantes. A
análise do comportamento aplicada, um termo que intervenção deveria se espelhar nas pesquisas clí-
costuma significar duas coisas diferentes, a saber: nicas de alta qualidade metodológica (que, claro,
(1) a aplicação de processos comportamentais para podem ter procedimentos construídos a partir do
produzir conhecimento novo acerca de problemas conhecimento da pesquisa básica), que visam isolar
socialmente relevantes; (2) uma forma de presta- e controlar variáveis no contexto de terapia.
ção de serviços na qual o profissional visa auxiliar Ora, mas e as pesquisas aplicadas? Há um
seu paciente a resolver problemas geralmente atri- periódico inteiro – o Journal of Applied Behavior
buídos à psicologia enquanto profissão (Leonardi Analysis (JABA) – dedicado a elas, que conta com
& Velasco, 2018). Ao longo de décadas, a AC des- centenas de publicações. Infelizmente, o status atual
cobriu leis gerais do comportamento, organizados da pesquisa aplicada em AC contribui pouco para a
em princípios teórico-conceituais (reforçamento, clínica analítico-comportamental. Por que? Porque,
controle de estímulos, operações motivadoras, etc.) conforme apontam alguns analistas do comporta-
e procedimentos de intervenção (modelagem, mo- mento (e.g., Normand & Kohn, 2013; Poling, 2010),
delação, regras, etc.), cuja compreensão é essencial a pesquisa em análise do comportamento aplicada
para a prática do analista do comportamento em se tornou sinônimo de tratamento para autismo. Já
qualquer âmbito profissional, sobretudo na clínica em 1998, Plaud, Eifert e Wolpe alertaram para o
(cf. Borges & Cassas, 2009). fato de que:
Porém, a vasta sustentação empírica dos princí-
pios básicos da AC não é suficiente para garantir a Pesquisadores em terapia comportamental pre-
eficácia e a efetividade de uma prática clínica neles cisarão prestar mais atenção à maneira pela
sustentada. Na verdade, a transformação de ciência qual o conhecimento científico é traduzido em
básica em procedimentos de intervenção não é sim- algo que possa ser utilizado ou aplicado pelo

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praticante. Como a teoria da aprendizagem a época de Hipócrates. Não existiu, por séculos, o
apenas fornece analogias para o delineamento conhecimento acerca dos processos envolvidos nes-
de tratamento, os princípios básicos da teoria se fenômeno (inibir a produção de prostaglandinas
devem ser traduzidos no trabalho clínico em ao inibir a enzima ciclooxigenase). Isso jamais im-
um conjunto secundário de princípios a partir pediu o uso da casca de salgueiro para benefício das
dos quais o tratamento pode ser derivado. O pessoas que sofriam com dor. O exemplo é banal,
processo pelo qual um clínico pode fazer trans- mas pretende ilustrar um raciocínio simples, toda-
formações da teoria para prática da forma mais via importante: discernir entre os procedimentos
efetiva é um processo importante, complexo e provavelmente eficazes num contexto X, daqueles
mal compreendido e, portanto, um tópico dig- menos eficazes, daqueles que são deletérios, já re-
no de estudo mais detalhado. (p. 329) presenta um avanço tremendo.
Com base no parágrafo anterior, o leitor pode
De modo semelhante, em The Evidence-Based concluir que teoria é irrelevante para a PBE. E, cla-
Practice of Applied Behavior Analysis, artigo pu- ro, esse não é o caso. Como argumenta Lilienfeld
blicado pela The Behavior Analyst, Slocum et al. (2011), “para separarmos o joio do trigo no campo
(2014) explicam que: da psicoterapia, não podemos avaliar pesquisa de
processo ou de resultado no vácuo” (p. 110). O en-
Princípios do comportamento são afirmações tendimento dos princípios teóricos que explicam os
amplamente generalizadas que descrevem rela- efeitos de uma intervenção é essencial para o apri-
ções comportamentais. Sua base empírica é ex- moramento da PBE, por diversos motivos. A com-
tremamente vasta e diversificada, incluindo par- preensão dos princípios teóricos permite descrever
ticipantes humanos e não humanos em diversos a etiologia dos fenômenos clínicos, identificar os
contextos, comportamentos e consequências. processos necessários para a melhora do paciente,
Embora os princípios do comportamento sejam adaptar os achados empíricos a cada caso individu-
baseados em uma literatura de pesquisa extre- al, desenvolver novas técnicas terapêuticas e otimi-
mamente ampla, eles também são afirmados em zar a qualidade de intervenção por meio da ativação
nível amplo. Como resultado, o julgamento do dos mecanismos de ação (processos) responsáveis
analista do comportamento tem um papel fun- pela mudança. Além disso, o entendimento da teo-
damental na aplicação dos princípios para pro- ria subjacente à prática torna possível a exclusão de
blemas particulares, e uma tentativa particular terapêuticas pseudocientíficas do rol de opções, so-
de aplicar um princípio para resolver um pro- bretudo porque elas geralmente contêm alguns dos
blema pode não ser bem-sucedida. Portanto, fatores comuns (e.g., empatia do terapeuta, crenças
embora os princípios comportamentais sejam e expectativas do paciente, etc.) que podem levar a
sustentados por evidências, intervenções recém- algumas mudanças no paciente e, assim, se mostra-
-construídas baseadas nesses princípios ainda rem mais eficazes do que nenhum tratamento. Por
não foram avaliadas. Essas intervenções devem exemplo, em razão dos fatores comuns, uma terapia
ser consideradas menos certeiras ou validadas de energização poderia se mostrar superior a um
do que pacotes de tratamento ou elementos grupo controle sem nenhum tratamento em um
que tiveram sua efetividade demonstrada para ensaio clínico randomizado (ECR), embora tenha
problemas, populações e contextos específicos. como premissa a suposição de que os problemas
(p. 49-50; grifos nossos) psicológicos seriam causados por bloqueios em
campos de energia invisíveis, cuja existência nun-
Além disso, é sabido que existe na psicologia e ca foi comprovada e é cientificamente implausível
em outras ciências da saúde tratamentos que são (Lilienfeld, 2011).
efetivos e que, até o presente momento, os cientistas Dada a relevância da teoria para a produ-
não conseguiram explicar por meio de quais me- ção de conhecimento científico em psicoterapia,
canismos ou processos eles funcionam. Seres hu- é possível concluir que o acúmulo de evidências
manos usam ácido salicílico para tratar dor desde empíricas sobre a eficácia de diferentes terapêu-

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ticas é insuficiente se não for acompanhado dos do argumento de autoridade – em geral centraliza-
princípios teóricos que as fundamentam, posição do na figura de um autor ou conjunto de autores – a
defendida por diversos autores da PBE (e.g., David partir dos quais novidades no campo investigativo
& Montgomery, 2011; Kihlstrom, 2006; Lilienfeld, devem ser avaliadas” (p. 1). Hunziker (2017) reco-
2011, Lohr, 2011). Como adverte Kihlstrom (2006), nhece que “dogmas (asserções mantidas com base
a psicoterapia deve estar embasada no entendimen- no argumento de autoridade) são assumidos pelos
to científico dos processos psicológicos assim como analistas do comportamento com maior frequên-
os tratamentos médicos são baseados no entendi- cia do que gostamos de admitir” (p. 97). Esses são
mento da anatomia e da fisiologia. Portanto, jun- apenas alguns exemplos ilustrativos, e considera-
tamente com a identificação de procedimentos de ções semelhantes podem ser encontradas também
intervenção eficazes, devem caminhar pesquisas na literatura internacional de AC (e.g., Augustson,
(básicas, translacionais e teóricas) que promovam 2002; Axelrod, 2017; Critchfield & Reed, 2017;
o entendimento acerca dos processos envolvidos na Critchfield, 2014; Friman, 2017; Glenn, 1993).
eficácia terapêutica, para, tomara, extrairmos deles Nenhum desses autores deixou de ser analis-
material para o refinamento de uma epistemologia ta do comportamento por tecer essas críticas – ao
empiricamente informada. contrário, é esperado que elas sejam usadas para
A AC caminhou muito no sentido de desvendar aumentar a robustez do campo e reverter compor-
os processos comportamentais básicos capazes de tamentos da comunidade que estão desalinhados
explicar, predizer e influenciar o comportamento com a premissa da Ciência de estar sempre em evo-
humano, contribuiu para a investigação empírica e lução. Assim, críticas a determinadas práticas de te-
interpretativa de diversos fenômenos psicológicos, rapeutas comportamentais sob a ótica da PBE (e.g.,
como escolha, memória, cognição, linguagem, re- Leonardi, 2017) não devem ser entendidas como
solução de problemas, motivação, consciência e au- tentativas de destruir a área, mas, sim, de fomentar
toconhecimento, e levou à construção de diversas o compromisso com os princípios científicos que
intervenções terapêuticas. Entretanto, é importante pautam (ou deveriam pautar) a prática do analista
lembrar que a AC não representa a única comuni- do comportamento e a atuação do psicólogo clíni-
dade de cientistas e terapeutas envolvida com so- co.
frimento psicológico. Ao que tudo indica, também
não é a única capaz de estudá-lo cientificamente e (2) A necessidade de padronização da
de promover mudanças. terapia
Inclusive, alguns dos analistas do comporta- É fundamental que haja uma descrição precisa, de-
mento mais respeitados do Brasil afirmam que a talhada e replicável dos componentes envolvidos
área tem assumido uma postura de dogmatismo em uma determinada terapia. É somente dessa for-
e autossuficiência. Por exemplo, Maria Amalia ma que um cientista, na pesquisa, ou um terapeuta,
Andery, em uma entrevista sobre as interfaces e os na prática clínica, consegue saber o que determina-
diálogos da AC com outras áreas do conhecimen- da intervenção incluiu, quais são seus ingredientes
to, afirma que “somos uma comunidade científica ativos, o que se faz, como se faz, quando se faz. Sem
pequena, que fala de si/para si e que não conversa tal padronização, é impossível replicar a interven-
com quase mais ninguém. Além disso, acha que ção. Sem replicabilidade, é impossível construir
não precisa conversar com mais ninguém” (Pessôa uma ciência aplicada.
& Leonardi, 2012, p. 23). Todorov (2016) explica Na farmacologia, por exemplo, a padronização
que “o isolamento continua sendo o DNA da análi- é razoavelmente simples com a tecnologia atual.
se do comportamento” (p. 197) e defende, já no tí- Basta que um determinado laboratório fabrique
tulo de seu artigo, que “agora temos que correr para milhares de comprimidos idênticos em tamanho,
recuperar o tempo perdido” (p. 195). Benventui e peso, cheiro, aparência e, em especial, com a mesma
Baia (2022) defendem que existe atualmente um exata quantidade do componente ativo. Em psico-
“afastamento do compromisso da área com a ciên- terapia, tal padronização é uma tarefa extremamen-
cia de modo geral, levando ao dogmatismo e ao uso te complexa, e a solução que pesquisadores encon-

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traram foi a elaboração de manuais de intervenção. o desenvolvimento da relação terapêutica, ignora-


Conforme explicam Areán e Kraemer (2013): ria as diferenças individuais, ameaçaria a indepen-
dência do terapeuta e retardaria o desenvolvimen-
Estudos de psicoterapia diferem de outros en- to de novas estratégias clínicas (Addis et al., 1999).
saios clínicos porque dependem significativa- Entretanto, é importante observar que defensores
mente de manuais de tratamento que detalham do uso de manuais propõem que os terapeutas se-
como a intervenção é feita; por conta dos méto- jam flexíveis ao implementá-los, considerando as
dos utilizados para treinar terapeutas na inter- necessidades e idiossincrasias de cada paciente – é
venção (tanto experimental quanto controle); e o que Kendall e Beidas (2007) denominam flexibi-
por conta dos métodos para medir quão bem lidade dentro da fidelidade.
os terapeutas do estudo realizaram as interven-
ções com qualidade elevada e da forma prevista. Vários manuais de tratamento modernos per-
. . . A finalidade do manual é garantir que os mitem que o terapeuta atenda às circunstâncias
terapeutas da pesquisa forneçam o tratamento específicas de cada paciente, necessidades clí-
conforme pretendido, para assegurar que os te- nicas, preocupações e diagnósticos comórbidos
rapeutas administrem o mesmo tratamento e, sem desviar das estratégias essenciais do trata-
se provado que o tratamento foi bem-sucedido, mento detalhadas no manual. O objetivo é in-
para permitir que outros profissionais da área cluir provisões para a implementação padroni-
repliquem as técnicas terapêuticas. (p. 37) zada da terapia ao usar uma formulação de caso
personalizada (...). É importante ressaltar que o
Grosso modo, um manual de terapia é um livro uso de manuais de tratamento não elimina os
que explica a etiologia e os métodos de avaliação potenciais efeitos diferenciais do terapeuta. Os
necessários para compreender o quadro clínico pesquisadores examinam as variáveis do tera-
em questão; descreve a estrutura das sessões; apre- peuta no contexto de tratamentos manualizados
senta as técnicas utilizadas com exemplos; aborda (por exemplo, comportamentos de construção
as adaptações culturais necessárias; etc. Assim, de relação terapêutica, flexibilidade, acolhimen-
a finalidade do manual é garantir que os psicólo- to) que podem estar relacionados ao resultado
gos consigam replicar a intervenção nos contex- do tratamento. (Kendall, et al., 2013, p. 47)
tos de pesquisa, ensino e prática clínica (Areán &
Kraemer, 2013; Newland et al., 2003; Sanderson & Raramente um protocolo é seguido à risca.
Woody, 1995). Em suma, como explicam Horner e Em geral, é necessário fazer adaptações e desvios.
Kratochwill (2012): Seguir um manual de maneira rígida e inflexível
provavelmente traz mais problemas do que bene-
O ponto principal é que qualquer esforço para fícios. Entretanto, para adaptar o protocolo, o te-
definir uma prática como “baseada em evidên- rapeuta precisa ter um domínio profundo sobre
cias” deve começar com uma definição rigorosa ele, incluindo seu impacto e valor individual, bem
da prática. Práticas que são definidas de forma como suas limitações, para o paciente que está na
ambígua não podem ser documentadas como sua frente. Além disso, desviar do protocolo requer
baseadas em evidências. Esses critérios opera- conhecimento das alternativas e amplo repertório
cionais deveriam, então, ser aplicados à pes- de competências clínicas (aquelas descritas ante-
quisa sendo conduzida (e.g., ensaios clínicos riormente no componente perícia clínica no para-
randomizados e/ou investigações com delinea- digma da PBE).
mento de caso único), assim como a prática na Com base na distinção entre modelos de terapia
qual a pesquisa está sendo generalizada para o que possuem um grau maior ou menor de forma-
problema ou questão em consideração. (p. 268) lização, Cândido e Ferreira (2022) defendem que
a Terapia Analítico-Comportamental (TAC), uma
Alguns terapeutas temem que utilizar um ma- modalidade de análise do comportamento aplica-
nual levaria a intervenções inflexíveis, atrapalharia da à clínica amplamente praticada no Brasil, possui

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“uma sistematização historicamente construída e TAC incluem: O que necessariamente precisa con-
devidamente documentada em manuais clínicos de ter para que uma intervenção seja TAC? O que ne-
relevância para a comunidade terapêutica” (p. 150) cessariamente descaracterizaria a TAC? Dado que
e que ela “acumula, ao longo dos anos, experiência muitos analistas do comportamento também traba-
de sistematização e produção de evidências clínicas lham com outras modalidades de terapia influen-
relevantes” (p. 151), citando anais das reuniões da ciadas pela AC (psicoterapia analítica funcional –
Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto de 1971 a FAP; terapia de aceitação e compromisso – ACT;
1990, capítulos da coleção Sobre Comportamento e terapia comportamental dialética – DBT), talvez
Cognição, publicações da Associação de Modificação seja importante se perguntar se elementos dessas
do Comportamento de 1974-1984 e publicações da terapias fazem parte da TAC. Se sim, quais? Todos
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e ou só alguns deles? Com base em quais critérios?
Cognitiva (RBTCC). Avaliado por quem? O que é TAC? O que pode ou
Entretanto, uma análise mais aprofundada de não ser integrado a ela?
tais publicações revela que o grau de sistematiza- Argumentar a favor da padronização da TAC
ção da TAC não é suficiente para que um leitor pode causar pavor em alguns analistas do compor-
treinado em AC seja capaz de replicá-la. Leonardi tamento; afinal, sua essência reside na análise fun-
(2016) conduziu uma revisão sistemática da litera- cional1 que, por definição, é estritamente peculiar
tura sobre a TAC em 14 bases de dados (incluin- a cada caso, uma vez que cada pessoa possui uma
do as coleções Sobre Comportamento e Cognição história genética e ambiental totalmente únicas
e Comportamento em Foco, o Banco de Dados de (Meyer et al., 2010). Entretanto, ainda que a indi-
Dissertações e Teses em Análise do Comportamento vidualização da terapia seja inevitável sob a ótica
no Brasil, Banco de Teses e Dissertações da CAPES, dos fundamentos da AC (e também para a PBE!),
bibliotecas digitais de teses e dissertações das alguma base para generalização certamente é su-
universidades que possuem programas de pós- perior a nenhuma. Logo, o fato de cada indivíduo
-graduação em AC ou com linha de pesquisa na ser único não impossibilita depreender inferências
área, Biblioteca Virtual em Saúde, além de bases de probabilísticas de ECRs para pacientes individuais.
dados internacionais, como PsycINFO, PubMed, Dados probabilísticos são uma métrica imperfeita,
Web of Knowledge, PSICODOC, Scopus, etc.). As mas são muito melhores do que excesso de con-
descrições dos procedimentos de intervenção que fiança translacional ou intuição clínica. Nessa dire-
Leonardi encontrou foram, por exemplo: “treino ção, Neno (2005), que fez uma aprofundada análise
de habilidades sociais”, “uso de técnicas de resolu- acerca da compatibilidade de intervenções padro-
ção de problemas”, “dar estímulos discriminativos nizadas em manuais com a TAC, explica que
para o paciente se aproximar da família”, “dar es-
tímulos discriminativos explícitos para o paciente o lugar reservado à individualização não torna
discriminar as emoções”, “análise das regras que o tratamento uma intervenção avessa ao co-
controlavam os comportamentos-problema” ou nhecimento científico sobre o que funciona,
“questionamento de regras”, “levar a paciente a em quais contextos. A rigor, uma intervenção
perceber que o registro diário favorece o processo absolutamente individualizada seria uma inter-
de reeducação alimentar”, etc. Esse grau de forma- venção que não usufrui do conhecimento acu-
lização não parece suficiente para compreender as
ações que o terapeuta realizou a ponto de replicá- 1 O termo análise funcional tem sido utilizado em pesqui-
-las na prática cotidiana. sas em que há manipulação direta das variáveis ambientais
Assim, do ponto de vista de produção de co- e rigoroso controle experimental, enquanto o termo análise
nhecimento científico que leve à construção de de contingências tem sido empregado para a identificação de
tecnologia de intervenção, parece fundamental relações funcionais no contexto de terapia, que é essencial-
mente interpretativa (Meyer et al., 2010). Entretanto, análise
que a TAC passe por uma descrição meticulosa de funcional e análise de contingências costumam ser utilizados
seus componentes. Algumas questões que podem de forma intercambiável, sobretudo porque o termo análise
ser importantes na construção de um manual de funcional é mais conhecido pela comunidade de terapeutas.

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mulado sobre o tratamento para problemáticas portamento têm advogado por uma via distinta:
específicas, o que é difícil de sustentar no con- a pesquisa e a prestação de serviços devem estar
texto de uma abordagem psicológica fortemen- comprometidas com aquilo que o indivíduo faz, e
te comprometida com a ciência. (p. 199) não com o que ele relata fazer, sendo necessária a
mensuração precisa das propriedades do comporta-
Conforme explicado anteriormente, um ma- mento-alvo de interesse, como frequência, duração,
nual de terapia deve ser seguido com flexibilidade. latência e magnitude. Nesta perspectiva, o uso de
Ele é apenas uma referência para garantir que todas medidas de autorrelato diminuiria a confiabilidade
as etapas essenciais da terapia sejam abordadas e, de qualquer conclusão sobre a efetividade de uma
nunca, implica menosprezar as necessidades espe- intervenção e deveria, desse modo, ser perempto-
cíficas de cada paciente. Vale observar, inclusive, riamente abandonado. Tal atitude possui raízes no
que muitos manuais de intervenção já são, na ori- artigo seminal de Baer, Wolf e Risley, publicado em
gem, pouco lineares. É o caso, por exemplo, da DBT 1968 no primeiro volume do JABA, que demarca as
e da ACT. Caso um dia a TAC venha a ser sistema- dimensões que a pesquisa em AC deveria atender
tizada no formato de um manual, é esperado que para responder a problemas socialmente relevantes.
este preveja uma intervenção flexível e totalmente Ao definir a dimensão comportamental, os autores
adaptada às idiossincrasias do paciente. afirmam que:

(3) A mensuração de desfechos clínicos e A pesquisa aplicada é eminentemente pragmá-


o uso do DSM tica; ela indaga como é possível fazer com que
O debate acerca da eficácia e da efetividade das in- um indivíduo faça alguma coisa com eficiência.
tervenções psicológicas depende da capacidade de Dessa maneira, ela geralmente estuda o que os
se identificar mudanças em desfechos clínicos de sujeitos podem ser levados a fazer, em vez do
interesse. Assim, faz-se necessário algum tipo de que eles podem ser levados a dizer; a menos,
medida que represente o estado do paciente antes é claro, que uma resposta verbal seja o com-
e depois do processo terapêutico, tanto no âmbi- portamento de interesse. Consequentemente,
to da pesquisa quanto no da prestação de serviços a descrição verbal de um sujeito, a respeito do
(Ogles et al., 2002). Inicialmente, é importante ob- seu próprio comportamento não-verbal, ge-
servar que existe consenso entre terapeutas e pes- ralmente não seria aceita como medida de seu
quisadores que, ao quantificar comportamentos, comportamento de fato, a não ser que fosse in-
pensamentos e sentimentos, obtém-se apenas uma dependentemente comprovada (p. 93).
representação limitada da realidade (Ogles, 2013).
Diversas modalidades de mensuração de resul- Tomadas ao pé da letra, essas declarações parecem
tado podem ser utilizadas na pesquisa e na prática lançar uma sombra de dúvidas sobre qualquer de-
em psicoterapia: questionários padronizados de senho de estudo que avalie mudança de desfechos
autorrelato, instrumentos individualizados de au- clínicos por qualquer meio que não seja a obser-
torrelato, relatos de terceiros, observações compor- vação direta de comportamentos-alvo, de modo
tamentais, produtos de comportamentos e eventos que a observação indireta do comportamento de
fisiológicos. Cada uma delas tem suas respectivas interesse seja não apenas um método não-com-
vantagens e desvantagens, mas expô-las aqui está portamental, mas também não-científico2. Assim,
além do escopo deste artigo. Porém, a grande va- a dimensão comportamental definida por Baer et
riedade de instrumentos padronizados e a enorme al. (1968) também sugere uma cisão radical, em
quantidade de características que podem ser avalia- termos de qualidade e confiabilidade, entre a pro-
das por eles tornaram o autorrelato por meio de in-
ventários, questionários e escalas a ferramenta mais
2 Vale dizer que, em última instância, a decorrência lógica
comum de mensuração de resultados na pesquisa da adesão estrita à proposta de Bear et al. (1968) seria o aban-
em psicoterapia (Salekin et al., 2013). dono completo de qualquer prestação de serviços em AC em
De maneira contrastante, analistas do com- contextos que dependem do autorrelato.

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dução analítico-comportamental e toda a pesquisa ela de fato faz? Embora a apreensão dos autores
realizada fora de seus parâmetros, como é o caso de pareça justificada, a adesão inconteste à dimensão
uma quantidade substancial de estudos realizados comportamental de Baer et al. (1968) parece trazer
em conexão com a PBE (que foram instrumentais estagnação e/ou retrocesso à área, como atesta a ex-
para o surgimento dos tratamentos psicológicos periência de Friman (2017):
empiricamente sustentados).
Uma preocupação que emerge é a de que a AC Como editor do JABA (2004-2007), um dos
pode estar se furtando tanto de usufruir de evidên- meus trabalhos era recrutar submissões. E por
cias quanto de contribuir com pesquisas de extre- 3 anos eu discuti com meu conselho editorial
ma relevância clínica com base em suspeitas sobre sobre suas práticas de revisão altamente restri-
a adequação de dados que podem ser, em muitos tivas. Se os artigos não estivessem em confor-
casos, infundadas. Nessa direção, Critchfield e Reed midade religiosa com as especificações de BWR
(2017) asseveram que uma adesão muito estrita aos [Baer et al. (1968)], eles eram frequentemente
critérios propostos por Baer et al. (1968) inadverti- rejeitados. Eu implorei ao conselho para ser um
damente produziu um aprisionamento metodológi- pouco mais flexível com as submissões a fim de
co que comprometeu o envolvimento da pesquisa fornecer reforços para investigadores juniores,
analítico-comportamental com uma série de tópi- para pesquisadores novos na área, para diversi-
cos relevantes. Se admitirmos à estrita definição de ficar as investigações e para novos métodos de
Baer et al. (1968) do que é uma mensuração cien- pesquisa. Eu fiz pouco progresso. (p. 175)
tífica adequada, então o uso de dados de prontu-
ários médicos, exames toxicológicos, relatos sobre O impasse sobre usar ou não instrumentos de
desempenho sexual, relatos de pais e equipes de autorrelato não deveria ser resolvido apenas de ma-
saúde sobre a ocorrência de acidentes domésticos neira teórica, mas fundamentalmente de maneira
envolvendo crianças, por exemplo, deveriam ser empírica. Por exemplo, Hawes e Dadds (2006) in-
substituídos pela medição dos “eventos físicos que vestigaram a validade e a utilidade clínica de um
compõem o comportamento”, sob pena de o dado questionário feito para avaliar práticas parentais e
obtido não ser informativo. Especialmente na pes- sua associação com comportamentos opositores em
quisa clínica, essa parece ser uma proposta arrisca- crianças. Os pesquisadores compararam os dados
da, já que parte considerável do sofrimento psico- obtidos por meio de relato com aqueles obtidos por
lógico ocorre em condições nas quais a observação meio de observações diretas em ambientes natura-
direta do comportamento de interesse é impossível lísticos, tanto dos comportamentos dos pais quan-
ou antiética. É precisamente por essas razões que to de seus filhos, e descobriram que mudanças nos
membros da comunidade analítico-comportamen- escores do questionário prediziam mudanças no
tal têm recomendado uma mudança na cultura de repertório paterno e na diminuição de comporta-
pesquisa da área, como faz Axelrod (2017) ao ar- mentos-problema por parte das crianças. Na avalia-
gumentar que é a relevância da questão posta sob ção dos autores, a descoberta da validade preditiva
investigação, e não um método de mensuração pre- do questionário é relevante na medida em que “en-
estabelecido, o critério basilar que deve decidir o quanto os métodos observacionais são considera-
engajamento de analistas do comportamento com dos o padrão-ouro na avaliação da parentalidade, a
qualquer pesquisa que se debruce sobre problemas complexidade e o custo associados a esses métodos
humanos. geralmente impedem seu uso em ambientes clíni-
Apesar disso, o compromisso de Baer et al. cos. Medidas de autorrelato representam uma alter-
(1968) com aquilo que o indivíduo faz e não com o nativa mais viável” (Hawes & Dadds, 2006, p. 556).
que ele relata fazer parece direcionado a uma pre- Outro exemplo é o ECR conduzido por
ocupação absolutamente legítima: como podemos Rothbaum et al. (2006), no qual pacientes com
ter certeza de que relato do comportamento de uma medo de voar foram submetidos a duas modalida-
pessoa feito por ela própria ou por um terceiro é des de terapia de exposição, uma in-vivo e outra
uma representação minimamente acurada do que realizada por meio de realidade virtual. Os partici-

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pantes tiveram a melhora avaliada por medidas de o próprio comportamento. Na esmagadora maioria
autorrelato, mas também foram convidados a par- dos casos, a análise funcional realizada por um te-
ticipar de uma experiência de voo real ao fim do rapeuta analítico-comportamental no consultório é
tratamento. O estudo encontrou diferenças signifi- construída com base no relato do paciente (cf. de-
cativas nos escores dos participantes submetidos ao -Farias, 2010; de-Farias et al., 2018; Meyer et al.,
tratamento em relação àqueles que permaneceram 2015). Então, a pergunta é: por que analistas do
numa lista de espera para receber a intervenção. comportamento que trabalham com clínica deve-
Essa diferença se refletiu de maneira relevante na riam recusar esses dados se advindo de instrumen-
adesão dos pacientes ao experimento comporta- tos, mas não quando vindo da fala de seus pacien-
mental: enquanto apenas 20% dos participantes do tes? Outra pergunta, de natureza empírica, é: onde
grupo controle aceitaram participar de um voo real, há maior probabilidade de distorção por parte do
76% daqueles submetidos à terapia de exposição paciente – no relato direto para o terapeuta ou no
efetivamente voaram. relato para o instrumento padronizado? Algumas
Esses exemplos ilustram, conforme dito antes, pesquisas (e.g., Hannan et al., 2005) sugerem que
que a solução para o impasse sobre a confiabilida- a avaliação do clínico é mais sujeita a erros do que
de de instrumentos de autorrelato deveria ser re- o uso de (bons) instrumentos padronizados. Outro
solvido por meio de pesquisas empíricas. Assim, ponto pertinente é: parte do sofrimento psicológico
o primeiro passo antes de abominar o uso desses não é passível de observação direta: dor, sentimen-
instrumentos deveria ser o de avaliar a maneira tos de tristeza, culpa e fracasso, vontade de mor-
como o autorrelato reflete ou não comportamen- rer e medo de perder o controle são apenas alguns
to posterior no contexto em questão. Vimos com exemplos. Ora, o terapeuta não poderia observar
Rothbaum et al. (2006) que, no que diz respeito à o comportamento correlato a isso? Nem sempre.
disposição de voar de avião após tratamento psico- Há quem sinta vontade de morrer e não age para
lógico, o autorrelato costuma coincidir, sim, com tirar a própria vida. Há quem está deprimido, mas
o comportamento posterior. Outras pesquisas po- segue trabalhando, cuidando dos filhos e forçando
dem mostrar que o autorrelato não costuma coin- o sorriso.
cidir com o comportamento posterior. É provável Enfim, a posição da PBE em relação ao uso de
que existam instâncias em que a associação entre instrumentos padronizados de autorrelato é um
autorrelato e comportamento seja verdadeira, par- balanço que leva em conta um conjunto de fato-
cialmente verdadeiras e falsas, mas, de novo, elas res. Primeiro, das evidências – é fundamental que
deveriam ser atestadas empiricamente. Além dis- saibamos em que medida o autorrelato consegue
so, vale salientar o quanto uma medida pode ser prever comportamento futuro. Depois, pragmá-
adequada, ainda que imperfeita, especialmente tico: caso se abandone medidas de autorrelato, o
quando a observação direta não é viável. Sabemos, que pode vir a substituí-las? Esses substitutos são
por exemplo, que declarações de intenção de sui- superiores às medidas de autorrelato? Estão dispo-
cídio preveem comportamento suicida posterior níveis para clínicos e pesquisadores? Atualmente,
(O’Connor & Nock, 2014). Ainda que a associação para muitos dos fenômenos clínicos relevantes,
não seja integral, estamos dispostos a abandonar sabemos que medidas de autorrelato preveem em
o tratamento de pessoas que relatam esse tipo de alguma medida comportamento futuro e que são,
sofrimento simplesmente porque desconfiamos do hoje, superiores a qualquer alternativa. A posição
autorrelato? A questão, então, sob a ótica da PBE é: da PBE, nesse sentido, é muito clara. Se em algum
qual é a melhor forma de mensurar o desfecho X, momento algo de melhor qualidade substituir os
considerando validade, confiabilidade, relevância, instrumentos padronizados, é função do campo se
logística e ética? adaptar a essa nova realidade.
Em última instância, é difícil imaginar que um Ainda dentro da temática sobre a mensuração
clínico trabalhando com um adulto com desenvol- de desfechos clínicos, algumas das críticas dire-
vimento típico em consultório não esteja confian- cionadas à PBE citam a aproximação do modelo
do, em algum grau, no relato de uma pessoa sobre diagnóstico do DSM como uma falha inerente a

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ela. Para muitos analistas do comportamento (e.g., forma alguma, sugere que as evidências atuais já
Banaco et al., 2010), os diagnósticos psiquiátricos resolveram todos os vários e complexos problemas
são pouco profícuos para a avaliação e intervenção em saúde mental. Enfim, as questões sob a ótica da
em terapia, sobretudo por conceberem o compor- PBE são: (1) qual é a melhor forma de organizar
tamento como manifestação ou sintoma de uma os comportamentos, pensamentos e emoções que
estrutura interna (deixando de tratar o comporta- levam um paciente a procurar terapia e (2) qual é
mento como um objeto de estudo legítimo em si a melhor forma de mensurá-los? Essa são questões
mesmo), descreverem apenas a topografia dos com- empíricas e, pelo menos em algumas situações, o
portamentos (desconhecendo suas funções) e cria- DSM e os instrumentos de autorrelato têm se mos-
rem uma falsa dicotomia entre normal e patológico trado úteis.
a partir de médias populacionais (ferindo, a um só
tempo, o modelo causal de seleção por consequ- (4) A relevância das evidências oriundas de
ências e o modelo de sujeito único). Então, dada ensaios clínicos randomizados (ECRs)
a incongruência do DSM com a maneira de fazer É comum ouvir de analistas do comportamento
ciência em AC e dada a aproximação da PBE com que o delineamento de ECR seria infrutífero para a
o DSM, toda a PBE deveria ser descartada porque produção de evidências acerca da eficácia das psi-
se sustentaria em uma base pouco sólida. coterapias. Entre as diversas críticas estão o uso de
A realidade da PBE, entretanto, se afasta bas- protocolos de intervenção manualizados, a mensu-
tante dessa crítica de que a PBE teria em sua origem ração de desfechos clínicos por meio de autorrelato
uma falha essencial por um suposto casamento e o uso de categorias diagnósticas do DSM, tópicos
incindível com o DSM. Primeiro, porque críticas que já foram abordados anteriormente neste artigo.
ao modelo diagnóstico do DSM são comuns en- Contudo, uma questão permanece: resultados obti-
tre expoentes da PBE (e.g., Lilienfeld et al., 2013) dos em amostras de pacientes de ECRs podem ser
e modelos alternativos vem sendo pensados e de- generalizados para aquele paciente X que é atendi-
batidos (e.g., Frank & Davidson, 2014; Hofmann do pelo terapeuta Y em seu consultório?
et al., 2023). Segundo, porque existem inúmeros Uma das críticas da AC, amparada no clássi-
ECRs que avaliaram desfechos afastados do mode- co Tactics of Scientific Research de Sidman (1960),
lo diagnóstico. Em uma lista não exaustiva, pode- é a de que pesquisas envolvendo grupos de parti-
mos citar: insônia e bem-estar psicológico (Espie cipantes obscureceriam as idiossincrasias de cada
et al., 2019), perda de peso e qualidade de vida paciente por ocuparem-se do cálculo de médias e
(Cooney et al., 2018), tentativas de suicídio, dias de chegarem a conclusões por meio de inferências es-
internação psiquiátrica e autolesões (McCauley et tatísticas. Disto derivaria o fato de que os resultados
al., 2018). Terceiro, porque muitas das categorias de ECRs não seriam generalizáveis para o paciente
do DSM tem validade de constructo (Lilienfeld & individual no contexto da prestação de serviços.
Treadway, 2016). Pior, a ênfase nas evidências de ECRs poderia levar
Sem nos alongarmos em uma discussão sobre o a uma abordagem excessivamente padronizada e
modelo diagnóstico, a questão aqui é esclarecer que pouco individualizada por parte do terapeuta.
críticas ao DSM não se configuram como críticas Em primeiro lugar, constitui um equívoco redu-
à PBE. Ao contrário, as críticas ao DSM são bem- cionista imaginar que a utilização de ECRs seja uma
-vindas, desde que devidamente fundamentadas, forma de ignorar a individualidade dos pacientes.
como um caminho de avanço para a PBE. Inclusive, A função de um ECR é controlar um grande con-
a própria área produz essas críticas – como seria de junto de vieses e fatores de confusão, obtendo re-
se esperar em uma empreitada científica (McIntyre, sultados que podem ser extrapolados para a popu-
2019). Mais ainda, críticas dessa natureza ignoram lação, dentro de um intervalo de confiança. Assim,
a ideia básica por detrás da expressão “melhor evi- as evidências dos ECRs são importantes porque
dência disponível” contida no paradigma da PBE, fornecem informações sobre a eficácia e a seguran-
que convoca o terapeuta a usar a melhor evidência ça das intervenções terapêuticas, e podem auxiliar
disponível em determinado momento, mas que, de os clínicos a tomarem decisões informadas sobre

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quais intervenções são as mais adequadas para um portamento – curiosamente aquela que mais conse-
determinado paciente em um dado contexto. Em guiu ser fiel aos critérios de Baer et al. (1968) – não
outras palavras, individualizar um tratamento não está vinculada a ideia de que ECRs são incompatí-
significa ignorar as evidências dos ECRs (Fletcher, veis com a AC ou, então, que eles são inúteis.
2021). Imagine alguns exemplos: (1) um ECR que Outra crítica, que não é exclusiva da AC e está
mostre que TAC é mais eficaz que um tratamento presente em inúmeros debates da própria PBE,
medicamentoso; (2) um ECR que demonstre que a nasce da constatação de que a validade externa de
TAC para um transtorno de ansiedade é superior ECRs depende da representatividade da amostra
em pessoas com comorbidades do que em pesso- desses estudos para a população como um todo.
as sem comorbidades; (3) um ECR que revele que DeRubeis e Stirman (2006) avaliaram se os pa-
uma intervenção psicoterápica foi superior para pa- cientes incluídos em ECRs de psicoterapia são
cientes sem crenças religiosas em relação aos que representativos daqueles que recebem tratamento
tinham uma crença. O que estes exemplos possuem no contexto real da prestação de serviços. Em pri-
em comum é que, embora sejam resultados obtidos meiro lugar, os autores indicam que parte signifi-
por meio de um delineamento de grupo e não pos- cativa da desconfiança acerca da validade externa
sam ser transpostos arbitraria e diretamente para de ECRs tem origem na constatação de que, em
um paciente específico na clínica, os dados oriun- média, dois terços dos candidatos que se apresen-
dos desses estudos hipotéticos poderiam ser usados tam como voluntários para uma pesquisa clínica
para orientar intervenções com maior probabilida- ficam de fora em virtude de cumprirem algum re-
de de sucesso. Enfim, ao avaliar as evidências da quisito de exclusão, o que parece sugerir que tais
literatura à luz das características individuais do participantes diferem substancialmente da popu-
seu paciente, o terapeuta pode determinar se uma lação clínica natural. Todavia, ao confrontarem
intervenção é ou não apropriada, bem como pon- as características de pacientes incluídos em ECRs
derar sobre os possíveis benefícios e riscos para o com aqueles encontrados nos serviços de saúde
seu paciente. mental, os autores não encontraram diferenças
Em segundo lugar, uma vez que determinadas significativas em termos de gravidade e tipos de
intervenções se mostraram eficazes (i.e., apresen- problemas enfrentados (cf. Stirman et al., 2003,
taram resultados positivos nas condições rigorosa- 2005). Em segundo lugar, os dados revelam que
mente controladas de um ECR), é possível realizar uma porção relevante dos candidatos tipicamen-
pesquisas clínicas para verificar se elas são efetivas te excluídos na fase de recrutamento de um ECR
(i.e., se apresentam resultados positivos no contexto também não possui demandas mais complexas ou
real da prestação de serviços), o que é chamado de mais graves do que aqueles admitidos nesse tipo
pesquisa de efetividade (Reed et al., 2006). Enquanto de pesquisa (Stirman et al., 2003, 2005), o que su-
a eficácia detectada em ECRs diz mais a respeito da gere que a desconfiança quanto à capacidade de
capacidade da intervenção em trazer benefício tera- um ECR representar as condições da clínica “real”
pêutico, a pesquisa de efetividade relaciona-se mais não é justificada.
com o impacto dessa intervenção na prática coti- Além disso, outra questão de extrema perti-
diana. Porém, ao tentar avaliar a efetividade de uma nência para o debate sobre a representatividade
intervenção sem assegurar previamente que ela é dos ECRs está relacionada aos atributos dos parti-
eficaz, corremos o risco de inverter o ônus da prova. cipantes tipicamente recrutados para as pesquisas.
Em terceiro lugar, vale observar que existem Arnett (2008) sugere boas razões para um pessimis-
ECRs de análise do comportamento aplicada ao mo quanto à capacidade de generalização dos acha-
transtorno do espectro autista (e.g., Fisher et al., dos da psicologia como um todo: mais da metade
2020; Mohammadzaheri et al., 2015; Peterson et al., das amostras utilizadas em publicações ligadas à
2019; Sanders et al., 2020; Scheithauer et al., 2021), American Psychological Association são eminen-
que é exatamente a área de atuação profissional em temente compostas por norte-americanos, menos
que a AC foi mais bem-sucedida. Isso revela que de 5% da população mundial, muito embora suas
uma parcela da comunidade de analistas do com- conclusões pretendam se transladar globalmente.

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Henrich et al. (2010) utilizaram o acrônimo tífico que muito contribuiu para o conhecimento
WEIRD (Western, Educated, Industrialized, Rich até o presente momento.
and Democratic) para descrever a amostra de par-
ticipantes relativamente pequena e não representa-
tiva da diversidade humana que é frequentemente Considerações finais
usada em estudos psicológicos – em português,
ocidentais, escolarizados, originários de socieda- O objetivo deste artigo foi contribuir para o debate
des industrializadas, ricas e democráticas. O foco acerca da relação entre a PBE e a AC. Os principais
de pesquisa em indivíduos WEIRD parece ser re- argumentos apresentados foram que (1) o conheci-
sultado tanto de métodos de amostragem por con- mento dos princípios básicos da AC não garante a
veniência quanto da hegemônica participação de eficácia de procedimentos de intervenção; (2) é fun-
pesquisadores de países de língua inglesa, compro- damental que uma terapia seja padronizada para
metendo a produção científica nos mais diversos investigar sua eficácia e implementá-la na prática
campos. Assim, é digna de inquietação a possibili- cotidiana, o que não impede a individualização da
dade de que esses problemas também tenham afe- intervenção; (3) terapias manualizadas não se limi-
tado a pesquisa em psicoterapia e que, dessa forma, tam a pacientes com patologias descritas no DSM,
resultados de ECRs sejam pouco informativos – ou ainda que estas possam ser úteis no cuidado de pes-
talvez relevantes para apenas 5% da população. soas com sofrimento psicológico; (4) a rejeição aos
Pesquisadores de várias partes do mundo têm instrumentos de autorrelato precisa ser reavaliada
se empenhado para superar os problemas ineren- para que a AC permaneça relevante para o campo
tes em dedicar-se apenas à população WEIRD. da psicoterapia; (5) as críticas aos ECRs menospre-
Felizmente, cada vez mais ECRs têm investigado zam as virtudes desse tipo de estudo (controle de
a eficácia da psicoterapia para grupos minoritá- vieses e de confundidores) – embora seja impor-
rios, como pessoas LGBTQ+ (e.g., Burinkul et al., tante aperfeiçoá-los, não há justificativa epistêmica
2021; Sevelius et al., 2022), pessoas de baixa renda para ignorar os resultados dos ECRs realizados ao
(e.g., Siddique et al., 2012; Thorn et al., 2018), pes- longo de décadas. Em conclusão, um diálogo mais
soas pertencentes a minorias étnicas e raciais (e.g, salutar e uma melhor integração entre a PBE e a
Hooper et al., 2018), entre outros. AC podem ser fundamentais para a descoberta de
Por fim, é importante explicitar que o delinea- novas soluções para um problema de extrema com-
mento de ECR contém em si próprio elementos para plexidade – o sofrimento humano. Espera-se que
aprimorar a capacidade de generalização dos resulta- este artigo tenha dado um passo nessa direção.
dos de amostras para a clínica cotidiana, tais como:
definir cuidadosamente a população de interesse;
incluir indivíduos de grupos minoritários; incluir
participantes com comorbidades e problemas clíni-
cos que independem de diagnóstico; realizar análises
de subgrupos; etc. Tal melhoria na validade externa
de ECRs permitiria que os resultados deles fossem
individualizados para uma ampla gama de pacientes.
Em conclusão, os ECRs fornecem evidências
que podem ajudar o terapeuta a tomar decisões,
mas, naturalmente, a pesquisa de eficácia em psi-
coterapia deve continuar evoluindo. Pesquisadores
e terapeutas devem trabalhar juntos para preen-
cher, cada vez mais, as lacunas que existem entre a
pesquisa clínica e a prática cotidiana. Tal objetivo
requer o constante refinamento dos procedimentos
de pesquisa, e não o abandono de um método cien-

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