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RA:236201
Podemos obter conhecimento de algo que nunca tivemos contato sensorial? Segundo
Russell, isto é possível, pois além de sermos capazes de conhecer algo diretamente pela
experiência, também conseguimos saber, por outros meios, que algo é verdade sem nenhuma
experiência direta com tal coisa. Por exemplo: lendo um livro, posso saber que a Torre Eiffel
está em Paris sem nunca ter ido para lá e até mesmo sem nunca ter visto a torre. Isto é o que
modo, quando vamos até Paris e tocamos a Torre Eiffel, temos um conhecimento direto do
outras palavras, podemos “saber que” algo é verdade e também podemos “conhecer a coisa”
em questão diretamente. Assim notamos uma diferença entre “saber que a Torre Eiffel está
englobando aquilo que está posto aos nossos sentidos e à nossa mente sem intermediações, ou
seja, aquilo de que somos conscientes diretamente, como as variadas cores de um objeto
importante saber que todo conhecimento se baseia no conhecimento por acquaintance e isto
resulta em um princípio. Por agora vamos analisar cada uma destas espécies de conhecimento.
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Começaremos elaborando um inventário com quatro itens, que segundo Russell, são
extensões ou objetos do conhecimento por acquaintance, são eles: os dados dos sentidos, a
Primeiramente, temos os dados dos sentidos que é tudo aquilo no qual experienciamos
através de nossos órgãos dos sentidos e dos quais tomamos consciência imediata como cores e
sons; também chamados de dados dos sentidos externos. No entanto nosso conhecimento não
pode ser restrito apenas à esta categoria pois se assim fosse, não teríamos conhecimento do
A memória armazena dados que em alguma experiência de nossas vidas estiveram presentes
sentimento etc., dos quais acessamos em nossas mentes sem intermediações. São as
lembranças que nos permitem fazer inferências sobre o passado, possibilitando conhecê-lo.
nossas experiências. Posso ter a sensação de dor que é a consciência de dados dos sentidos e
posso ter a consciência dessa sensação. Por referir-se à consciência da consciência de algo,
Russell também nomeia esta categoria de acquaintance como autoconsciência. Esta, por sua
conteúdos que estão em nossas mentes, como pensamentos e sentimentos (sentido interior).
O último dos objetos dos quais conhecemos por acquaintance são os universais. Estes
se diferenciam dos outros itens listados como particulares pois são ideias gerais e podemos
compreendê-los como propriedades que se aplicam às coisas, por exemplo: o azulado, o doce
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e a sabedoria. Podemos imaginar muitas coisas nas quais essas propriedades se aplicam, como
o pássaro azulado, o alimento doce ou o velho sábio. Quando aplicamos essas propriedades a
algum de seus diversos proprietários, na verdade estamos usando conceitos. Com estes
conceitos somos capazes de formar proposições, pois toda sentença, verdadeira ou falsa,
que nem todo conhecimento por acquaintance é algo particular como os dados dos sentidos, a
memória ou a introspecção.
Os itens da acquaintance foram expostos e nosso inventário está completo, mas isso
ainda não é suficiente para incluir tudo o que sabemos e podemos conhecer, pois é claro que
conhecemos muitas coisas além daquelas que estão ao nosso redor, como: curiosidades
históricas, fatos de outros países e até a estrutura do sistema solar. De modo contrário,
também há coisas próximas de nós das quais não conseguimos conhecer por acquaintance,
como a natureza intrínseca da matéria ou as mentes de outras pessoas. Assim, o que expande
nosso modo de conhecer além daquilo que vivemos cotidianamente em nossas experiências
privadas e ao mesmo tempo permite saber que existem coisas mais profundas no nosso
descrição.
Mas como podemos conhecer algo por descrição? O primeiro passo é entender o que é
uma descrição definida e como ela se aplica a algo da realidade. Uma descrição definida é
uma proposição que se aplica a uma única coisa existente, e isso revela as duas condições para
que a descrição seja funcional. A primeira, é capturar apenas um objeto correspondente com
Brasil” é uma descrição que corresponde somente a um objeto existente, a saber, a cidade de
São Paulo. Assim, se eu repassar esta informação para alguém que nunca esteve no Brasil,
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este individuo estará adquirindo conhecimento por descrição, pois São Paulo existe e tem,
exclusivamente, a propriedade de ser a cidade mais populosa do Brasil, logo o sujeito sabe,
indiretamente, de uma verdade sobre esse local. É por isso que o conhecimento por descrição
sempre implica um conhecimento de verdades que nos são dadas por alguns universais como
“existência” e “unicidade”.
Deste exemplo, também podemos extrair que nomes próprios são descrições
abreviadas. Mas assim como “São Paulo” descreve “a cidade mais populosa do Brasil”, o
termo também abrevia outras proposições, como por exemplo “a cidade em que moro”,
dependendo do grau de contato entre sujeito e objeto descrito. As duas descrições evidenciam
um distanciamento sobre o conhecimento dos sujeitos que conhecem o mesmo objeto por
proposições diferentes. Além disso, nem sempre estas descrições servirão para o mesmo
indivíduo ou para todos, isso quer dizer que uma descrição particular não define a verdade ou
falsidade de uma proposição. Se imaginarmos que no futuro São Paulo deixará de existir
fisicamente, então uma pessoa conhecerá apenas fatos históricos dela, algo como “a cidade
que mais produziu laranja no século XXI”, estando num grau ainda mais distante dum
Nos três casos, para conhecer uma descrição sobre São Paulo, os sujeitos necessitam
da referência - que varia conforme a pessoa que faz a descrição ou a época - de itens
particulares conhecidos por acquaintance junto com alguns universais. Isso significa que
Um habitante de São Paulo pode descrever a cidade a partir de seus dados dos sentidos
particulares e de sua localização, que se baseia nesses dados e em alguns universais que
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possibilitam estabelecer coordenadas, como metro e distância. Ou seja, para entender uma
descrição que envolva a entidade “cidade”, precisamos de algum conhecimento prévio por
acquaintance de elementos constituintes de uma cidade e esses podem ser dados dos sentidos
que remetem às ruas, casas, pessoas etc. somados às relações espaciais; no caso histórico
fictício, também precisamos duma relação temporal. Isto demonstra que descrições se
Portanto, de acordo com Russell, a condição para conhecermos qualquer descrição definida
pode ser resumida em um princípio fundamental: toda proposição que podemos entender é
formada completamente, em uma última análise, de objetos dos quais conhecemos por
acquaintance.
Referência Bibliográfica