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RA:236201
Uma das questões mais difíceis que podemos fazer é: será que existe algum tipo de
conhecimento tão certo que ninguém possa duvidar? Geralmente, em nossas rotinas diárias,
não damos uma devida atenção cuidadosa para as coisas ao nosso redor e grande parte daquilo
que percebemos tomamos como certas por causa duma preguiça conceitual. No entanto, do
ponto de vista filosófico, muitas contradições podem surgir dessa questão ao investigarmos
profundamente que tipo de conhecimento pode ser tão certo assim. A busca por este saber
pode começar a partir de nossas experiências, mas temos que tomar cuidado, pois elas podem
nos enganar de certa forma. Para Russell até o conhecimento de coisas simples como uma
mesa de madeira pode ser colocado em dúvida e exige um método cuidadoso para concluir
algo sobre a sua verdadeira realidade. Isso porque há uma diferença entre a aparência e a
Por exemplo, ao tentarmos definir a cor exata de uma mesa, as dificuldades começam
ocorrer, pois as diferentes partes de sua superfície podem apresentar cores diversas e
dependendo da luz no ambiente que reflete sobre a mesa, sua cor pode mudar completamente
de marrom para branco, além disso, o reflexo varia conforme a posição de quem está
observando. Logo, cada ponto de vista aparenta diferentes arranjos de cores para a mesa. Qual
destas cores é a realidade da mesa? Nenhuma! A única coisa que concluímos disso é que as
cores apresentadas nas variadas perspectivas não podem ser uma verdade sobre a realidade da
mesa, mas apenas sobre sua aparência, ou seja, ela não é exatamente o que percebemos.
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Experimentos parecidos, envolvendo os outros quatro sentidos, podem nos apresentar
Cada elemento que a mesa apresenta aos nossos sentidos, tais como cores, dureza,
cheiro, são denominados por Russell como dados dos sentidos e quando temos consciência
captamos da mesa, não são propriedades inatas dela, logo não nos revelam aspectos de sua
realidade intrínseca. Diferentemente, os dados dos sentidos são sinais de algo que talvez possa
nos causar tais sensações. Portanto, mesmo que a mesa real, possa ser completamente
diferente dos dados dos sentidos, isto é, da mesa aparente, podemos considerar essa realidade
oculta como causa desses dados dos sentidos. Vale lembrar que até os idealistas que negam a
matéria como algo oposto à mente (diferente de Russell), concordam que dados dos sentidos
necessário um ponto de partida para tratar desta questão. Assim como Descartes fez da
sentença “penso, logo existo” o seu tijolo para a construção do seu castelo epistemológico,
Russell também busca bases consistentes para edificar o conhecimento, no entanto, por vias
permanente em xeque. Assim, a certeza primária adquirida é que uma percepção ocorre, já
que o contato com nossa mesa de madeira pressupõe somente que ‘algo está sendo percebido’,
quer dizer, podemos duvidar da existência da mesa real como também dum Eu permanente - o
observador -, mas não dos dados dos sentidos particulares que aparentam a mesa. Portanto, o
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ponto de partida de Russell na busca do que podemos conhecer com certeza são nossos
simplicidade ou da melhor explicação que se apoia na maneira mais fácil de explicar aquilo
que está em questão. Este tipo de argumento é indutivo, isso significa que as premissas não
implicam diretamente a conclusão, mas são plausíveis para acreditarmos nela. Por exemplo:
um local para outro, é mais fácil acreditar na sua existência física independente de nós e assim
explicar o seu deslocamento como uma sucessão de movimentos ponto a ponto, do que
acreditarmos que ele seja apenas um conjunto de dados dos sentidos, e supor que o gato
quando voltamos a percebe-lo. A segunda explicação exige maior esforço para sustentar-se e
explicar os fatos, por isso é mais complexa. Esta escolha pela simplificação da explicação de
algo pode parecer estranha ou injusta, mas é muito comum na ciência, por exemplo, quando
os físicos tratam a luz como onda para explicar fenômenos ópticos e consideram a mesma
substância como partícula para a explicação de outros fenômenos, tal como o efeito
Desta reflexão sobre a diferença entre aparência e realidade da mesa e a existência real
dela, nasce em nós uma crença instintiva, que pela razão de melhor explicar os eventos do
nosso mundo, nos garante a suposição de que existe uma correspondência entre os objetos
independente de nós.
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A mesma distinção entre aparência e realidade se aplica ao espaço. O espaço aparente
é aquele onde está situado nossos dados dos sentidos e por isso é particular, enquanto o
espaço real é aquele que contém os objetos reais independentes de nossa percepção, vamos
chama-lo de espaço físico. Por exemplo: a forma real de uma moeda pode ser classificada
como circular, e essa forma circular é o que está no espaço físico; enquanto da perspectiva dos
espaços privados, a moeda pode parecer oval, essa forma oval está contida no nosso espaço
privado ou aparente. Agora imagine duas moedas deitadas e vistas de cima, e também que
uma está parcialmente sobre a outra. Nossos dados dos sentidos apresentarão a ordem ou a
posição relativa das moedas em nosso espaço privado na mesma ordem em que ela, de fato,
está no espaço físico. Para confirmar isso, basta ver que parte dos dados visuais da moeda que
está por baixo estão sendo barrados e também ao aproximarmos nosso dedo em direção a
moeda que achamos estar por cima, verificaremos pelo tato que ela realmente está.
Então, podemos supor que a relação espacial das moedas reais no espaço físico
corresponde à relação espacial dos nossos dados dos sentidos no espaço privado. Por meio
desta correspondência podemos conhecer somente os atributos das relações que mantém essa
correspondência entre objetos no espaço físico e dados dos sentidos no espaço privado. Ou
seja, podemos saber a ordem em que as moedas estão, que estão mais próximas entre si e mais
distantes de nós, caso estejamos afastados delas, mas nada podemos saber sobre o espaço
físico ou a distância em si, dos quais atribuímos tais relações. Portanto, as relações dos
objetos reais possuem propriedades que podem ser certamente conhecidas, das quais resultam
de sua correspondência com as relações dos dados dos sentidos. Se uma moeda parece
prateada e outra dourada, então presumimos uma ‘diferença correspondente’ entre elas, se
ambas aparentam ser circulares, então presumimos uma ‘correspondência similar’. Também
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dos eventos, por exemplo: se soltarmos as moedas de nossas mãos de uma determinada altura
e em tempos diferentes, perceberemos que os sons de impacto ocorrente quando elas tocam o
chão correspondem à ordem em que as moedas foram soltas, assim, mesmo não conhecendo a
realidade intrínseca das moedas físicas, ainda conhecemos a relação de ordem temporal entre
o som inicial da primeira moeda que foi solta e o som mais tardio da segunda moeda. No
entanto, a natureza intrínseca dos objetos físicos permanece desconhecida enquanto não puder
Referência Bibliográfica