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A REALIDADE DE CADA UM

QUEM, REVENDO O ANTIGO, APRENDE


O NOVO, PODE SER CONSIDERADO UM
MESTRE".
CONFUCIO

1 976 - 3328

T E M A 0. 0 5 7

Na palestra O QUE É REAL fizemos uma série de indagações em torno do sentido de


realidade e concluímos que praticamente não existe realidade absoluta para nós porque tudo
aquilo que se nos apresenta como sendo real é apenas conseqüência das nossas limitações
sensoriais e da incapacidade que de evidenciar muitas das transformações que se processam
constantemente na intimidade das coisas.
Vamos analisar aqui uma situação teórica para ilustrar essa concepção. Se fôssemos
seres que tivessem um ritmo biológico extremamente lento, suponhamos que todas as nossas
ações fossem mais lentas segundo um fator de um bilhão, se tudo aquilo que fizéssemos fosse
um bilhão de vezes mais lento, então cada batida de uma tecla que estamos determinando neste
teclado demoraria tanto que a máquina não serviria para escrever, pois entre o bater de uma
letra e outra ela própria já teria naturalmente se desagregado em função do seu tempo útil de
vida. Não poderíamos naquela situação aceitá-la como sendo uma máquina de escrever,
contudo ela continuaria sendo isto para alguém com um ciclo vital comum.
Evidentemente não estamos afirmando que existam ritmos de vida tão lentos assim,
mas usamos essa analogia para dizer que realmente aquilo que impropriamente chamam de
fluir do tempo é algo relativo, pois ele não "flui" da mesma maneira para todos os seres. Isto
tem significação quando queremos precisar a realidade de alguma coisa.
Quando se estuda as transformações que ocorrem nos átomos, os acontecimentos
naquele nível se processam em ritmo alucinante, a ponto da nossa vida em comparação com
aquelas partículas fluir muito lentamente, fluir segundo um fator de retardamento, talvez, bem
maior do que o bilhão do exemplo anterior.
Tudo aquilo que julgamos constituir uma realidade, tudo aquilo que julgamos ser
verdadeiramente alguma coisa, se apresenta segundo as limitações da nossa capacidade de
perceber. O que se apresenta como algo estável, como algo real, em essência assim o é porque
as suas transformações são tão lentas, ou são tão rápidas, que tornam impossíveis quaisquer
percepções conscientes das mutações ocorridas.
Os nossos sentidos deformam e limitam muitas as coisas. Vamos o SOL; Ele se nos
apresenta como um disco pequeno, mas sabemos que na realidade Ele é algo extremamente
grande, muitíssimo maior que a própria terra.
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Se situarmos num eixo representado por uma semi-reta as transformações que


constantemente estão ocorrendo em qualquer coisa considerada, teremos o gráfico da fig. 1.

Fig.1

xxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxx


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Faixa A Faixa B Faixa C

FAIXA A:

Situam-se nesta faixa as transformações que ocorrem num ritmo aquém do limiar das
percepções, portanto representa eventos que ocorrem tão lentamente que para a consciência é
como se eles não ocorressem. Aqui a coisa parece estática e seu formato parece real embora
tudo esteja mudando nele a cada intervalo de tempo.

FAIXA B:

Situam-se as transformações que são perceptíveis, aquela para as quais os nossos


órgãos sensoriais detectam mudanças que podem ser conscientizadas e nesta situação a coisa é
tido como mutável.

FAIXA C:

Situam-se os eventos cujas transformações ocorrem num ritmo tão rápido que se
tornam imperceptíveis. É o oposto da Faixa A.
No Universo tudo aquilo que julgamos ser estático, ser estável, em um sentido
absoluto não o são. Se assim eles se nos apresentam é porque são eventos correspondentes às
faixas A e C. enquanto as coisas mutáveis pertencentes à faixa B em que as alterações são
passíveis de serem percebidas pela consciência objetiva.
Para a consciência tudo aquilo que se situa nas faixas A e C é tido como cosia real,
permanente, imutável, enquanto na B é mutável e sem realidade permanente.
Se indagássemos a alguém que estivesse observando algo na faixa B: O que vedes? -
Qual o estado daquilo que observas? - A resposta possivelmente seria: Não sei, pois isto está
sempre mudando.
A divisão que fizemos e representamos na fig.1 tem apenas um valor didático. A
separação entre as faixas na realidade existe em função dos níveis de percepções sensoriais
porque verdadeiramente há uma continuidade entre aquelas faixas, as separações não existem.
O que determina as separações são os diferentes níveis de acuidade sensorial. O limite começa
onde a transformação sofrida por algo começa a deixar de ser detectada. Qualquer uma das
faixas pode ser mais longa, ou menos longa, tudo vai depender da capacidade de percepção
maior ou menor do observador,
Finalmente, tudo aquilo que achamos estável, todas as coisas que julgamos reais,
apenas o são em decorrência das nossas limitações. Num sentido absoluto nada é real para
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quem admite como real o estável. O real para a consciência objetiva é aquilo que ela
aparentemente julga sê-lo.
Vivemos num mundo de ilusões objetivas, onde aceitamos duas faixas de situações
como sendo estáveis e uma outra como estável. Se o mutável é ilusório as duas faixas também
o são por serem elas igualmente mutáveis, apenas as suas transformações correm num nível
sensorialmente indetectável. Portanto, essencialmente, todas as coisas são ilusórias. Mas
mesmo sendo ilusórias as aceitamos como reais e isto nos satisfaz plenamente porque tudo
aquilo que exigimos de algo é que ele seja imutável para a nossa consciência; bastando para
isto que satisfaça as limitações da nossa percepção, pois situamos todas as nossas atividades,
todas as nossas realizações dentro dos limites daquelas faixas.
Aquilo que não conscientizamos, direto ou indiretamente, não nos afeta psiquicamente.
Algo que acontece num ritmo que não conscientizamos os eventos diretos ou indiretamente é
como se ele inexistisse, e como tal o consideramos uma ilusão. Ao contrário, as coisas que
sentimos aceitamos como imutáveis.
Aquela parte detectável que aparentemente não sofre transformações aceitamo-la como
estável e real, e a que não é detectável, como ilusão ou fantasia.
Somente as coisas que percebemos objetivamente, mesmo que elas sejam limitadas
pelos sentidos físicos, é que são realidades para a consciência, assim como aquelas cujas
transformações são imperceptíveis.
Disto advém uma conclusão interessante. Para que algo seja considerado real pela
consciência é necessário que esteja situado dentro de certos limites impostos pelos sentidos
físicos, tudo o mais que extrapolar esse limite é tido como irreal.
Seria preciso uma percepção absoluta, uma percepção capaz de registrar todos os
níveis de alterações possíveis, capaz de evidenciar as mudanças mesmo que infinitesimais que
normalmente estão ocorrendo na intimidade das coisas, somente assim ter-se-ia a realidade.
Se as mudanças que ocorrem em algo impossibilita a sua realidade como algo definido,
então só para uma forma de consciência absoluta, capaz de registrar todas as transformações e
detalhes, é que existe a realidade.
Como as coisas que mudam não podem ser tido como reais, se a imutabilidade é que
caracteriza a realidade de algo, então, todas as coisas são apenas aparências daquilo que
essencialmente elas são.
Para que algo possa ser considerado uma realidade é preciso ele preencha uma série de
condições que o tornem estável para a consciência.
Tomemos como analogia o seguinte exemplo: Para que o ferro exista como tal para a
consciência não é necessário que aquele elemento seja estático em um sentido absoluto, mas
apenas que o seja dentro dos níveis de percepção do observador. Que as transformações
ocorram dentro de limites que não sejam notados. Assim sendo são as limitações que fazem
com que vejamos um bloco de ferro hoje e o reconheçamos como tal no futuro, mas isto sã
acontece assim porque todas as transformações ocorridas na intimidade do metal se
processaram em níveis indetetáveis sensorialmente. A alteração não sendo conscientizadas, o
bloco parece que não mudou, por isto julga-se que ele é o mesmo. Num certo sentido isto é
verdade, porém em outro não o é porque o bloco já se alterou completamente, por isto não se
pode dizer que ele seja o mesmo de uma forma absoluta.

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Diante do que dissemos pode-se sentir que o importante para se ter algo como real é a
conscientização ser a mesma nas observações sucessivas, que transformações só ocorram em
níveis sensorialmente indetectáveis.
Pelo que foi dito temos que admitir que somente para pessoas que registram as coisas
de idêntica maneira é que algo é uma realidade, se as percepções forem diferentes a realidade
necessariamente será diferente para cada um. A realidade se aproxima muito entre pessoas que
têm idênticas limitações sensoriais. Quando olhamos uma mesa, por exemplo, as limitações dos
nossos sentidos é que dão idéia de densidade, de forma, de cor, etc. Todas as pessoas que
tiverem as mesmas limitações evidentemente caracterizarão uma mesa, mas um ser hipotético
dotado de outros órgãos sensoriais diferentes a observar conscientizaria outra coisa diferente.
Este poderia até dizer que era uma mesa, afirmar por convenção, mas a sensação íntima de
percepção seria totalmente diferente.
Quando uma pessoa olha para algo colorido, por exemplo, para algo verde, ela afirma
ser essa a cor do objeto observado por ele porque desde a infância sempre que sentiu aquela
sensação lhe foi ensinado que o nome dela era verde. Igualmente uma outra pessoa também
dirá que é verde porque de idêntica maneira aquela sensação pessoal lhe foi dito se chamar
verde. Mas o que não se sabe de forma alguma é se a sensação que os dois chamam de verde
seja a mesma. É a bem possível que a sensação íntima de um seja totalmente diferente da do
outro, que a sensação que um tem para o verde corresponda exatamente a que o outro tem para
o amarelo. Se ambos chamam de verde aquele objeto é porque houve uma convenção que
assim determinou que aquela sensação fosse denominada assim.

Uma realidade só é comum para seres com níveis comuns de percepções.

A partir deste raciocínio podemos dizer: O nosso mundo objetivo, este mundo que
constitui a certeza de todos, que julgamos ser real, pois que para a nossa consciência existe
realmente, somente o é para seres com idênticas recepções. Ele é real para todos os seres
humanos porque todos têm mais ou menos a mesma acuidade sensorial. Grosso modo o mundo
objetivo é mais ou menos comum para todos os seres humanos, portanto conscientizado mais
ou menos de idêntico modo. Só por isto ele é uma realidade comum, mas para um ser que não
o detecte de igual maneira aquele forma é por certo irreal desde que ele não pode ser de tal
forma conscientizado.
Para diferente seres o mundo não é conscientizada de uma maneira igual, cada espécie
conscientiza-o de uma forma própria, portanto para cada espécie há uma realidade no que diz
respeito ao mundo. Mas não é só entre espécies diferentes que isto acontece porque cada ser
individual apresenta pequenas diferenças de níveis de percepção que determina
conseqüentemente pequenas diferenças na realidade do mundo individual transformando-o em
algo pessoal.
Se cada ser tem a sua realidade objetiva é preferível admitir que não existe um modelo
único e permanente para a Criação.
Mas, mesmo havendo uma realidade para cada um, não é lícito dizer que o mundo inexiste.
Vivemos, num mundo de realidades relativas, porque o real é aquilo que se aceita segundo a
sua aparência, é aquilo que devido às imperfeições sensoriais é aceito como imutável e estável.

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Ainda devemos nos referir ao grau de cultura individual. Nas realidades objetivas o
grau de cultura de uma pessoa é capaz de fazer variar a percepção. Aquilo que um erudito pode
perceber, um simplório pode não perceber, e vice-versa, e isto faz variar a realidade para cada
um deles.
Não somente os órgãos físicos, como também as faculdades intelectuais podem
determinar diferenças na realidade de cada um.
Conhecer o sentido exato de realidade é muito importante para quem estuda as coisas
subjetivas. É importantíssimo também para quem pratica exercícios místico-espirituais porque
em tais condições a pessoa normalmente se vê diante de situações que se apresentam como
realidades bem nítidas, mas que ao mesmo tempo são coisas muitas vezes totalmente opostas às
realidades do plano físico. Como não podem existir realidades diferentes de uma mesma coisa
conseqüentemente a compreensão do buscador fica sujeito a sofrer algum tipo de perturbação
ou, o que é mais comum, a deixar de entender aquilo que deveria ser entendido. A pessoa
muitas vezes num processo místico fica diante de outras realidades que se opõem totalmente
àquilo que a razão comum determina como realidade. Como a realidade muda em função dos
níveis de percepção se o discípulo não estiver devidamente preparado acaba diante de uma
situação que já não sabe em que acreditar como sendo a realidade e isto está sujeito a provocar
algum dano à integridade psíquica. Por isto é que tantos "aventureiros da senda" acabam se
fanatizando, ou duvidando de tudo, ou apresentando intensos desvios de conduta. Isto é muito
comum àquelas pessoas que se utilizam drogas psicoativas. Diante de duas situações diferentes
que uma pessoa julguem-nas certas, se elas forem opostas haverá grande probabilidade da
pessoa ter dificuldades sérias em lidar com elas por não saber como entender aquilo, por muitas
vezes se ver diante de situações opostas e que até mesmo podem contrair a razão se esta estiver
presa àqueles conceitos falsos de realidade tal como é aceito no plano material. A pessoa não
entendendo devidamente diante do que está fica sujeito a ver a sua razão falhar, e isto não é
bom. Vejam como deve se sentir alguém que num determinado momento se ver diante de
realidades que são aceitas por ela como cartas, mas que a sua lógica não as aceita.
Desde que seja entendido o que estudamos nesta palestra o discípulo encontrará mais
facilidades para compreender os Mistérios da Natureza, os grandes enigmas da Natureza.
Igualmente terá mais facilidade para lidar com as coisas da matéria, e até mesmo para
compreender melhor às outras pessoas por aceitar que cada pessoa tem uma forma tanto ou
quanto própria de entender as coisas. Entende as coisas segundo a sua capacidade de perceber
por isto não se pode uniformizar o conhecimento, nem fixar as verdades como coisas estáticas.
Concluímos desta palestra afirmando que só existe uma realidade absoluta e esta é
inacessível ao homem. Para este apenas restam as realidades relativas, ou melhor, resta A
REALIDADE DE UM.

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