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II - Sobre teatro:
Eles também faziam uma distinção entre duas memórias que nós temos:
a memória psíquica e a memória espiritual. A memória espiritual é o que
Aristóteles chama de Intelecto Possível. Já o Intelecto Agente, é ativo.
Quando você capta — abstrai — uma ideia, quem faz esse papel é o
Intelecto Agente. Ele atualiza essa ideia no Intelecto Possível. Ou seja, o
Intelecto Possível tem, em potência, todas as ideias. De certa forma, ele é
uma participação na inteligência divina, mas em potência. E é isso que
eu estou chamando aqui de memória espiritual. Quando você entendeu
uma coisa e ela se imprimiu no seu intelecto — se tornou uma verdade
evidente para você —, essa seria uma memória espiritual. Quando você
capta uma idéia, na inteligência essa idéia não está desconectada de
todas as outras idéias que já estão atualizadas no Intelecto Possível. Ela
se integra no sistema de idéias, na matriz. Na inteligência você tem um
universo espiritual. Quando você capta uma idéia, ela se integra nesse
universo espiritual. E uma idéia que é atualizada no Intelecto Possível
sempre pode ser aprofundada, ela é como se fosse uma idéia
esquemática que você está preenchendo com novas impressões
intelectuais. De maneira que aquilo vai ficando mais complexo e mais
próximo da realidade concreta, que nunca é puramente abstrata,
puramente ideal. Você nunca capta a idéia de uma coisa em toda a sua
complexidade. Você pode criar analogias para te lembrar coisas, por
exemplo, da própria morte, que é uma realidade que seguidamente sai
do nosso horizonte de consciência. O fato de você, na meditação,
imprimir na sua memória psíquica imagens que te recordam da morte, é
uma maneira de você fazer a ponte com essa intelecção mais profunda
que você tem. Nós não ficamos no plano da inteligência pura. Os santos
relatam experiências de êxtase em que eles saem de corpo e psiquismo e
têm visões sem imagem. Mas nem eles ficam lá muito tempo. Eles
retornam ao dia a dia, mesmo guardando a lembrança desse momento.
Diz São Bernardo que, quando ele retorna à vida humana, isto se reveste
de imagem (já psíquica) e se imprime na memória psíquica. A música
litúrgica deveria funcionar assim. Você está fazendo outra coisa e,
quando percebe, tem uma melodia, algo, em você, está cantando.
Imagem não é só visual, é tudo aquilo que está na nossa memória
psíquica, tudo aquilo que passou pelos sentidos imprimiu-se na nossa
memória.
(B) Outros, por este motivo, reduziram todos os atos da vontade aos
corpos celestes, colocando ser a mesma coisa em nós o sentido e o
intelecto e, por conseguinte, serem corporais todas as virtudes da
alma, estando as mesmas, deste modo, submetidas às ações dos
corpos celestes. Esta posição, no entanto, foi destruída pelo Filósofo
no III De Anima, mostrando que o intelecto é uma virtude imaterial
e que a sua ação não é corporal mas, conforme encontra-se escrito
no XVI De Animalibus, "os princípios dos quais as ações são sem o
corpo, os próprios princípios são sem o corpo", de onde que não é
possível que as ações do intelecto e da vontade, consideradas em si
mesmas, sejam reduzidas a princípios materiais.
VI - Sobre a Fé