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Como nós não estamos no grau espiritual de Moisés, não temos como tirar
as sandálias, as sandálias estão como que coladas nos nossos pés.
Consequentemente, a primeira reação nossa à uma aparição celeste ou de
uma manifestação divina vai ser temor.
Aluno: - Medo.
Gugu: Exatamente.
É por isso tantas vezes na Bíblia, Deus é terrível. É para lembrar isso, e é
por isso também que no Novo Testamento se insiste tanto no fato de Deus
ter se revestido de homem. É uma espécie de ocultação desse carácter
terrível. Se pegar nos evangelhos, se fala mais no Filho do homem, do que
no Filho de Deus, porque se trata de uma manifestação Divina que tem que
minimizar esse aspecto terrível. Então, reconhecer uma aparição celeste
implica nisso, a aparição celeste é sempre transcendente ao indivíduo como
tal. Veja bem, uma aparição celeste não quer dizer apenas as visões
místicas. Também pode ser assim; um sujeito está preocupado com algum
problema, ele abre a bíblia pra procurar a solução para quele problema,
encontra e lê uma frase (versículo), e mesmo neste caso pode se dar uma
manifestação celeste. Qual a primeira coisa que ele vai perceber? A primeira
coisa que ele vai perceber é a descontinuidade dele enquanto indivíduo e
aquela manifestação. Já aconteceu muitas vezes comigo, de as pessoas me
perguntarem - " eu estava desesperado, li a bíblia e não ter nada a ver com
o meu problema" -, tá meu filho, meu filho, você não sabe é ler a bíblia.
Uma das manifestações da descontinuidade é justamente isso, o sujeito não
entendeu nada do que está ali, e, em outra ocasião ele poderia até entender
aquilo, mas naquela ele não entende. É muito comum entre nós a noção de
Deus como um velhinho bonzinho, qualquer coisa que falarmos com ele, ele
vai aceitar...um velhinho gagá e bonzinho, mais ou menos uma espécie de
Papai Noel caduco.
Deus não é assim, Deus é indiferente a você porque você é realmente nada
para ele, porque esse é o único sentimento natural e apropriado, único
sentimento justo e adequado de um ser como Deus para um ser como nós.
É isso que o Cristo quer dizer quando ele fala: "O Pai não vê, senão o filho."
Por isso ele diz para os Apóstolos: " Sejam um em mim, como sou um com
o Pai, e então vocês serão um N'Ele." Já podemos distinguir duas dimensões
no conceito de Deus; Uma dimensão é Deus considerado em si mesmo, e
para Deus ser considerado em si mesmo, nós somos nada efetivamente.
Outra coisa, é Deus em relação à essas coisas que são nada; é Deus como
principio imediato delas. Veja bem, quando a bíblia fala que Deus criou as
coisas do nada, o que significa esse nada? significa que o nada era alguma
coisa? é um tipo de substancia? onde existia o nada, antes de Deus criar as
coisas?
O nada era apenas um conceito na mente divina, o nada não têm, o nada
não é, o nada não existe, o nada só existe conceitualmente. Quando fala,
Deus criou as coisas do 'nada', está falando justamente que em relação a
Deus você é nada. Porque é nesse conceito que Ele concebeu você. Para
ele por você, te fazer existir a partir do nada conceitual dele, o que é
preciso?
É preciso que Ele pense você, conceba você N'Ele mesmo, conceba você no
nada, e aí junta uma coisa com a outra. O nada é um conceito totalmente
infrutífero, e você não pode extrair nenhum conceito a partir do conceito
nada. Primeiro ele concebeu o nada e depois Ele se concebeu no nada, e
esse conceber a si mesmo no 'nada' são as inúmeras possibilidades das
coisas. Quando Deus se concebe no nada ele olha e concebe o sistema
solar, ora concebe uma espécie de mal, ora concebe você ou eu. Esse
conceito divino D'ele no nada é o Verbo Divino, "o Pai dá tudo para o Filho,
o Pai entrega tudo para o Filho, o que é do Pai é do Filho." Deus se pensa
como se ele fosse nada e se ele fosse nada, o que eu seria? Daí ele vê
inúmeras possibilidades de ele não ser ele mesmo. De onde Deus tira o
conceito de nada? de onde você tira o conceito de nada? é simples, você
olha todas as coisas e você tira todas elas. Quais são todas as coisas antes
da criação do mundo? Era o próprio Deus. Qual a única coisa para ele
conceber o 'nada'? Para Deus o 'nada' é o não EU, o que não é EU é 'nada'.
Não tem outro conceito de 'nada' para Deus.
Gugu: Não! como 'nada'. Se não fosse assim, e a partir do momento que a
coisa criada, ela passa na mente divina a ser mais do que 'nada' ela não
precisa de nenhum fenômeno salvífico, ela é o próprio deus. A necessidade
de salvação deriva disso, entre nós e Deus, existe o 'nada'.
Aluno: Isso não é apenas uma convenção daquilo que Deus chama de
'nada?
Aluno: Para nós isso é muito difícil essa aceitação de que não somos 'nada',
nós somos muito vaidosos para aceitar esse conceito.
Gugu: Se EU não fosse EU, o que EU poderia ser exatamente? Daí Deus
concebeu todas as coisas reais e possíveis.
Gugu: Como todas essas coisas é Não Ele, em relação a Ele todas coisas
são nada. Não é que a gente não é nada, é que na mente divina a gente é
'nada'. Metafisicamente, em última análise, a mente divina é a referência
fundamental, então, em última análise nós somos 'nada mesmo. Mas isso
não muda o fato de sermos algumas coisas neste mundo. Então Deus se
concebeu de não Ele de inúmeras maneiras e essa concepção D'Ele é o
conteúdo do Verbo Divino, o Verbo Divino é isso.
Se Deus fosse uma outra coisa não existira esperança de salvação, se Deus
fosse uma outra coisa toda e qualquer ligação entre o indivíduo humano e
Deus seria acidental, como a ligação de uma coisa e outra coisa. Se existem
duas coisas elas podem se separar, e se podem se separar elas vão se
separar. Pois é, com Deus não é assim. Você pode se separar até de você
mesmo, como já falei, o sujeito pode morrer e perder todas as referências
de tudo que ele era. Ele perde aquilo, mas o fundamento da realidade ele
não tem como perder. Porque o fundamento dele na realidade não é uma
coisa que ele tem é o que tem ele na realidade.
(1:02:08) Para o verbo Divino cada ser é precioso e uma vez que ele
concebe o mundo que seja este mesmo mundo uma imagem total da
própria divindade, ele imagina neste mundo uma possibilidade que seja
uma imagem total do mundo enquanto imagem total e da divindade. Toda e
qualquer comparação aqui dificulta, pois, a gente consegue entender o que
conhecemos.
Uma pintura; você conhece uma pessoa e você a representa numa pintura,
a pintura é uma representação da pessoa, é uma imagem da pessoa. Na
nossa analogia a pessoa é Deus e a imagem é o mundo. A ideia de imagem
na sua mente, veja bem, para você traduzir de pessoa para pintura, você
teve que conceber uma transposição. Ora, uma pessoa não é uma pintura,
uma pessoa é totalmente diferente de uma pintura - a pintura de duas
dimensões, não fala, não é viva- nisso a comparação não é muito boa,
embora o mundo seja uma imagem total da divindade ele é uma coisa
totalmente diferente da divindade. Tão diferente da divindade quanto uma
pintura é diferente de uma pessoa, no entanto, olhando uma pintura você
pode reconhecer a pessoa desde que a ideia na mente do pintor tenha sido
suficientemente adequada. Desde que a capacidade do pintor em traduzir a
pessoa em pintura seja suficiente. Pois bem, essa mente do pintor é o
Verbo Divino.
Aluno: Inadiável
Gugu: Mais para diante vamos ver que a terminologia pode variar muito de
uma tradução para outra, mas as ideias centrais, as ideias nucleares são
sempre as mesmas. Mais para diante vamos fazer esse mesmo
raciocino usando a terminologia Zen-Budista, Pensamento Zen-Budista.
Mais para diante vamos ver essa diferença, da perspectiva judaico-cristã. O
importante é captar isso aí. Primeiro você concebe, você tem duas ordens;
Deus e não Deus, não Deus é apenas uma ideia na mente divina e essa
ideia contém tudo o que pode não ser Deus e que não é impossível. Essa
ideia é o conteúdo do Verbo Divino. Segundo, você tem essa ideia
isoladamente, isolar cada um dos aspectos dessa ideia e isso é a própria
criação. Terceiro é conceber essa ideia que expresse todas essas ideias, a
ideia original de Deus, Ele mesmo, e a segunda ideia de que tudo que não é
Deus. No ser humano você vai encontrar uma síntese de todos os graus da
realidade. No universo dos seres, o que são essas ordens da existência, a
hierarquia da existência criada vocês vão perceber que o mundo criado tem
basicamente três graus que são espirito, alma e corpo na linguagem cristã.
cada um desses mundos ou ordens da criação é simplesmente um modo de
algo não ser Deus, um modo de diferença em relação a Deus, uma
categoria de diferença em relação ao ilimitado. Vocês vão perceber que o
ser humano, contém, no seu ato de ser todos esses modos de ser. Nele não
há um predomínio de um sobre o outro. O que a gente queria hoje era
localizar o homem na existência e explicar isso; o homem não é o mundo,
não é criatura nem criador é uma outra categoria. Ele é justamente a maior
teofania, o ser humano é o maior ponto de encontro dessas duas
dimensões, entre criador e criatura, e, por refletir não só o criador, mas
também a criatura. Veja bem, todas as criaturas são imagens do criador,
mas nenhuma dela é uma imagem de todas as outras coisas.
Aluna: Isso não é muita vaidade do ser humano? ser semelhante a Deus,
então o melhor de todos.
Aluna: inaudível
Qual o passo daqui para diante? O passo daqui para diante é a gente
entender essa estrutura ternária no ser humano e entender que a estrutura
humana é uma imagem do criador e da criatura simultaneamente. Sem
entender isso aí, não dá para entender porque tem religiões, não dá pra
entender o que são as religiões e principalmente, não dá para entender
porque as religiões são diferentes umas das outras. Quem não entende isso
não sabe o porquê tem várias religiões. Parece incoerente.
Mas a raiz disso está na própria estrutura do que é o ser humano e essa
diversidade das religiões só podem ser resolvidas numa área, num
ambiente não terrestre. Deu pra entender o que é uma criatura? Uma
criatura é um pensamento do Verbo Divino isolado dos outros pensamentos,
isolados pela própria inteligência divina. Quando falamos isso, estamos
comparando pensamento divino com o nosso e nosso pensamento não é
nada, eu penso aqui e nada acontece, nada mesmo. Pois é, mas o
pensamento de Deus é a realidade das coisas, é a própria realidade das
coisas. Deus é espirito, não tem mãos para fazer uma máquina de onde sai
as criaturas. Tudo sai da inteligência dele. Entre ele pensar aquela ideia, de
modo isolado, e a coisa existir não há um salto, “ele pensa aí ele existe”,
não, ao pensar ela é existir. A gente não, nós pensamos uma coisa aí temos
que fazer. Pois bem, Deus não é assim. Em Deus pensar e ser é o mesmo.
Pensar uma coisa é existir e a existência dela é esse pensamento, não é
uma outra coisa. As Escrituras são sintéticas, elas sintetizam em poucas
palavras vários aspectos da realidade. É isso que quer dizer quando Deus
fala: "Deus criou tudo do nada". Quando você pensa em alguma coisa, para
você fazer, você precisa de um coadjuvante para o pensamento. Fazer
alguma coisa que você pensou significa que a coisa não sai do seu ser, ela
sai do seu ser em conjunção com outro ser que não é o seu ser. Deus não,
esse pensamento é o ser da coisa. Não precisa de mais nada, não precisa
do fator coadjuvante. Por exemplo, a diferença do artista e a pintura na
nossa comparação. O artista pensou a pintura e agora precisa de tinta e
tela, pinceis etc. A pintura só pode existir quando ele conjuga o pensamento
da coisa com os instrumentos ou os meios. A diferença entre a criatura e
Deus é essa aí. Em Deus, pensar é a coisa existir. Não é necessário nenhum
auxilio posterior. O nada significa isso, pensou e nada mais acontece para
coisa passar a existir.
Isso é muito importante porque a gente pensa, muitas vezes, que Deus está
o tempo todo se decidindo com vai ser amanhã, decidindo o que ele vai
fazer, planejando o que ele vai fazer. Mas Deus não planeja o que ele vai
fazer, ele não pensa o mundo e depois ele faz. Quando se fala que Deus
criou o mundo livremente, simplesmente quer dizer, que não há nada fora
dele que determine qual a realidade do mundo. Quer dizer também que ele
poderia não fazer o mundo. Como há inúmeros mundos que ele não fez. O
mundo, portanto, é consequência num certo sentido, a consistência do
mundo, é uma atividade intelectual livre e espontânea ao mesmo tempo. Aí
de novo vale a comparação com a arte, com o exercício de uma arte. O
exercício de uma arte é simultaneamente livre e regrado, ele é o livre
exercício de determinadas regras que são assimiladas a tal ponto que a
aplicação delas já é espontânea. Aí você exerce aquela arte livremente, mas
nunca fora das regras. Pois bem, a criação do mundo é assim também. Há
certas regras, certos princípios metafísicos que determinam isso, e Deus
exerce essa arte livremente.
É importante lembrar que, quando Deus cria o mundo livremente não quer
dizer que é uma atividade arbitrária. Não se pode confundir liberdade com
arbitrariedade. Arbitrariedade é o seguinte; quero pintar uma pessoa, mas
não sei como se pinta, não sei as regras para traduzir a imagem da pessoa
na tela e eu simplesmente eu jogo tinta lá e mecho. Isso não é liberdade. O
sujeito que não sabe as regras da pintura, ele não é livre para pintar o
outro. Agora vou decidir: " Agora vou pintar direito e vai aparecer a pessoa
ali." A ausência de normas e regras não é liberdade, é ausência total de
liberdade. Isso é uma das coisas que vamos ter que entender nesse curso.
Entender as normas fundamentais do mundo, é saber que Deus não vai
violar essas normas só porque você quer. A gente quer todo dia, mas Ele
não vai fazer. Assim como o artista não vai pintar mau, porque o patrono
quer, porque isso seria não pintar. Então, isso é tudo que sei hoje.