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JOEL S.

GOLDSMITH

A UNIÃO
CONSCIENTE
COM DEUS
O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS

UNIVERSALISMO
Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam.

SALMO 127

A Iluminação dissolve todos os laços materiais e vincula os homens às cadeias


douradas do entendimento espiritual; ela reconhece somente a liderança do
Cristo; não existe ritual ou regra senão o impessoal, universal, Amor divino; não
existe outro culto senão o da chama interior que está sempre acesa no relicário
do Espírito. Esta união é o estado livre da irmandade espiritual. A única restrição
é a disciplina da Alma; por conseguinte, conhecemos a liberdade sem a
licenciosidade; somos um universo unido sem limites físicos; um serviço divino
a Deus sem cerimônia ou credo. O iluminado caminha sem medo — pela graça.

O CAMINHO INFINITO
Sumário
Introdução

Capítulo 1 — A Base da Cura Espiritual

Capítulo 2 — Mestre, Discípulo e Ensino

Capítulo 3 — Estados e Estágios da Consciência

Capítulo 4 — A Natureza do Erro

Capítulo 5 — Meditação

Capítulo 6 — Ensinando a Mensagem

Capítulo 7 — Como Conseguir o Ajustamento

Capítulo 8 — Perguntas e Respostas

Capítulo 9 — O Argumento ou Tratamento

Capítulo 10 — A Missão do Messias

Capítulo 11 — Procure a Resposta Interior

Capítulo 12 — Abrindo a Consciência à Verdade

Capítulo 13 — Misticismo
Introdução
Pregar sem prática é um dos maiores pecados mortais. Por exemplo, o trecho
das Escrituras, tão fundamental para o ensinamento espiritual, que diz: “Se o
Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”1 é uma bonita
citação, mas permanece apenas uma pregação até que, e a menos que, seja
entendida e praticada.

1. Nota do autor: A matéria contida em União consciente com Deus originariamente foi dada
como aula para um número restrito de pessoas em São Francisco, Califórnia, em 1947, e foi
amplamente divulgada em manuscrito sob o título Metaphysical Notes. Esta é uma versão revista
desse material. 1 Salmos 127:1.

Se eu tentasse ensinar humanamente a verdade por intermédio de livros, aulas


ou mensagens gravadas, isso resultaria apenas em fracasso. Além do mais, se
você pensa que há alguma nova verdade a ser humanamente aprendida, ficará
desapontado porque não há uma única verdade nova no mundo inteiro. A
verdade revelada neste livro não é a minha verdade ou a minha mensagem, mas
a palavra de Deus que se tem dividido com a consciência universal durante todo
o tempo. Essa palavra de Deus já está incorporada à sua consciência, e essa
verdade, que já é a sua consciência, está agora sendo revelada para você dentro
de você.

A menos que Deus seja minha consciência, não haverá verdade que esteja se
expressando através dela, ou de mim e, além disso, a menos que Deus seja a
sua consciência, você não entenderá a verdade que está sendo apresentada.
Mas, já que Deus é consciência universal e ao mesmo tempo é a minha
consciência, a verdade está se expressando como este livro — Deus
expressando-Se e revelando-Se.2

2. Na literatura espiritual do mundo, os conceitos variáveis de Deus estão indicados pelo uso de
palavras tais como “Pai”, “Mãe”, “Alma”, “Espírito”. “Princípio”. “Amor” e “Vida”. Portanto, neste
livro, o autor usou os pronomes “Ele”, “Si”, “Se”, “Ele próprio” e “Si próprio” intercambiavelmente
nas referências a Deus.

Além disso, já que Deus é a sua consciência, Deus estará Se revelando a Si


próprio. A consciência estará expressando Sua verdade para Si próprio. A
verdade não passará de mim para você, e não passará de Deus para você: toda
a atividade da verdade acontecerá na única Consciência, a consciência de mim
que é a consciência de você.
O propósito deste livro é trazer à luz a verdade do ser, mas ninguém a pode pôr
em prática para você senão você mesmo, e o progresso que você fizer
dependerá do que você absorver daquilo que é desenvolvido e revelado nestas
páginas. Por isso, em certa medida, você precisa começar a usar o que lhe é
oferecido, capítulo por capítulo, a fim de assimilar as lições mais adiantadas.

Isto não é diferente de receber lições de piano ou qualquer outra espécie de


lição. Você vai ao seu professor e recebe uma aula, mas se não a praticar, não
receberá o benefício da próxima lição no dia seguinte. Da mesma maneira, seu
desenvolvimento, entendimento e progresso na verdade estarão no grau em que
você puser cada uma e todas essas lições em prática.

Esta mensagem não tem nada a ver com uma pessoa humana chamada mestre,
mas somente com um ensinamento ou revelação. Seu objetivo principal não é
curar corpos físicos, nem acrescentar dez ou cem dólares por semana à renda
de quem quer que seja. O principal objetivo do Caminho Infinito não diz respeito
a melhorias temporais ou humanas: seu interesse é com a missão do Cristo, que
é torná-lo livre, torná-lo livre espiritualmente — livre da sua crença na servidão a
pessoas, lugares, coisas, circunstâncias ou condições.
CAPÍTULO 1

A Base da Cura
Espiritual
A cura espiritual é conseguida através da realização do Cristo na consciência
individual. Deus, a Consciência individual deste universo, é a consciência única
e exclusiva. Todavia, já que Deus é a consciência de mim e já que Deus é a
consciência de você, e porque há somente uma única consciência, a verdade se
torna efetiva na consciência de qualquer pessoa que sintonize com ela. Portanto,
qualquer verdade que se revele dentro de nossa consciência revela-se
instantaneamente à pessoa que aparece como nossa paciente.

Algumas vezes, pessoas que não estão ligadas a nós de algum modo, como
amigos, parentes, estudantes ou pacientes — alguém que esteja num hospital,
numa prisão ou numa ilha deserta, alguém que esteja buscando este conceito
mais alto de Deus — podem ser curadas ainda que não nos conheçam e nós
não as conheçamos; ou, ainda que elas nos conheçam, podem não saber que
estamos nesta trilha e, por isso, não saberiam por que foram curadas.

Há somente uma Vida, uma Consciência, uma Alma; mas Esta é a sua
consciência, é a minha consciência. É por isso que não temos de tentar alcançar
pessoa alguma. Quando estamos nessa união consciente, tanto nos tornamos
uma parte um do outro que o que um está pensando a respeito da Verdade, ou
de Deus, o outro está ouvindo; mas não há transferência de pensamento e isso
não deve ser interpretado dessa maneira. Nós não somos únicos em nossa
humanidade: nós somos únicos no Cristo, e tudo o que está sendo
proporcionado é a idéia divina que flui na consciência.

Por esta razão, aqueles que estão conscientes do princípio do poder único
jamais precisam preocupar-se em suportar os pensamentos de outra pessoa.
Todo o sofrimento da Terra, não importando sua forma ou natureza, é um
produto da crença universal em dois poderes; portanto, a harmonia universal só
será restaurada quando Deus for revelado como Onipotência. Há apenas uma
mente e esta é o instrumento do Espírito Único, ou Deus. O pensamento
humano, que é o produto de uma mente inconsciente de sua função própria
como instrumento de Deus, jamais se eleva mais alto do que a pessoa em cuja
mente ele está ocorrendo.
Por exemplo, se alguém estivesse sentado aqui repetindo “Duas vezes dois,
cinco”, nosso senso matemático nos protegeria e não aceitaríamos essa
afirmação incorreta. Ele poderia dizer: “Você está morto!”, mas o nosso senso
de vida seria uma proteção e não nos perturbaríamos por causa desse
pensamento errôneo.

Em certas formas de prática mental, têm sido feitos experimentos provando que
um indivíduo não pode ser induzido a fazer alguma coisa que violente sua própria
integridade, salvo se for por sua própria escolha consciente. Nenhum
pensamento humano conscientemente dirigido a uma pessoa pode jamais fazer
com que alguém violente sua própria integridade; e, em consequência, quando
alguém comete um erro, é porque essa pessoa está conscientemente
violentando seu próprio senso do que é certo. Tudo isso é inerente ao próprio
ser.

Liberdade Espiritual
Os discípulos pouco entenderam da missão de Jesus. Nos três anos que
estiveram com Jesus, apesar de terem contato quase diário com ele e com seu
pensamento e trabalho, poucos foram os que evidenciaram estar profundamente
tocados por sua mensagem. Ele não conseguiu provocar muita espiritualidade
em Judas e não teve grande sucesso com Pedro, e menos ainda com a maioria
dos demais discípulos. João, naturalmente, captou a mensagem plena e
completa.

A chegada do Messias havia sido profetizada há séculos, mas os hebreus não


tinham o conceito do Messias como um ensinamento ou uma idéia divina.
Pensavam que o Messias, quando chegasse, seria um homem que os conduziria
à liberdade. Liberdade do quê? Liberdade da servidão a César, de serem
escravos de César; liberdade, provavelmente, de algumas das práticas impostas
por sua religião, porque os povos da época de Jesus estavam procurando uma
liberdade física, uma liberdade temporal, e provavelmente pensavam que o
Messias poderia vir como um rei para dar-lhes essa liberdade. Nisso ficaram
desapontados. Não compreendiam que a missão de Jesus não era deste mundo.

Jesus veio com a idéia divina da liberdade espiritual. Esperava que, colocando
os povos de sua época livres em sua consciência — livres de escravidão a
pessoas e coisas — eles estariam de fato livres. Mas os hebreus estavam
procurando um emancipador humano, que os tornaria livres de condições
intoleráveis, e não conseguiram compreender a missão do Cristo. Por essa
razão, poucos deles captaram a visão e se beneficiaram com ela.

Que ninguém cometa hoje o mesmo engano a respeito da missão do Caminho


Infinito. Seu propósito é a compreensão e a revelação do ser espiritual, a
manifestação harmoniosa e eterna de Deus, do Bem. Ela não procura mudar,
corrigir ou reformar pessoa alguma. Por isso, nosso trabalho está dentro de
nosso próprio ser e consiste em alcançar aquela consciência espiritual em que
não há tentação para aceitar o universo e o ser individual como outro que não
Deus aparecendo como o universo e como ser individual.

No sentido comumente aceito da prática metafísica de cura, a saúde é


habitualmente procurada como o oposto ou como a ausência de doença; a
bondade e a moralidade como o oposto ou a ausência de maldade e imoralidade;
porém, nesta exposição, não tentamos curar o corpo, eliminar a doença ou
reformar os pecadores. Não procuramos saúde no que Jesus chamou “este
mundo” porque o “Meu reino não é deste mundo”,1 isto é, o trabalho de Cristo
não está no reino dos conceitos humanos. Entendemos que a saúde é a
qualidade e a atividade da Alma, sempre expressa como um corpo perfeito e
imortal. Até mesmo um corpo humano harmonioso não expressa
necessariamente a saúde, porque esta é mais do que a ausência de doença: É
uma disposição eterna do ser espiritual. Além disso, a bondade humana não é
senão o oposto da maldade humana, e não é a disposição espiritual do ser que
precisamos compreender e conseguir em nossa abordagem à vida.
1. João 18:36.

Conquanto esta mensagem não diga respeito à saúde ou à doença humana, à


riqueza material ou à pobreza, à bondade ou à maldade pessoal, mesmo assim
a consecução da consciência de Deus que aparece como um ser individual
resulta naquilo que ao sentido humano aparece como saúde, riqueza e bondade.
Estas coisas, entretanto, representam os conceitos finitos daquela harmonia
espiritual que na realidade está sempre presente.

Quando não estivermos mais sujeitos à crença de que somos escravos de


alguma pessoa ou circunstância, e quando não formos mais escravos de contas
a pagar, estaremos verdadeiramente livres para sempre. Então, não nos fará
diferença que espécie de sistema político ou econômico existe em nosso mundo.
Seremos abundantemente providos por qualquer que seja a forma de suprimento
necessário, seja qual for a forma de governo em que estejamos vivendo. E se
estivéssemos na prisão, ainda assim estaríamos livres. Seríamos como aquelas
pessoas de outrora que diziam: “Aprisionar-me, você não pode! Meu corpo, você
pode pôr na prisão — mas não a mim!”

A mente, ou a consciência, não pode ser confinada a uma sala ou cadeira. A


mente pode vagar à vontade por aí e ser treinada de modo a elevar-se acima do
sentido corpóreo, como o de estar realmente fora deste mundo com a sensação
de estar livre do corpo, sem que deixemos o corpo. Não é possível deixar nosso
corpo porque somos uma só coisa, mas podemos deixar o sentido corpóreo dele
e ficar tão livres espiritualmente que não seremos limitados nem pelo tempo nem
pelo espaço. É o que acontece quando conquistamos nossa liberdade espiritual.
Nessa liberdade espiritual, sobrepujamos todo o sentido de limitação. Por
exemplo, não cessamos de usar o dinheiro, mas não nos preocupamos com ele.
O dinheiro virá, e ainda que continuemos a usá-lo, não estaremos mais limitados
ou aprisionados ao conceito de que o dinheiro é um suprimento.

Enquanto pensarmos no dinheiro como suprimento, não demonstraremos


liberdade espiritual no que se relaciona com o suprimento. Mesmo que nossa
renda fosse dobrada, não nos regozijaríamos por ter feito uma demonstração,
se ainda acreditarmos que dinheiro é suprimento! Dinheiro não é suprimento. Eu
sou suprimento: a Consciência é suprimento. Esta Essência indefinível,
chamada Espírito, que somos, é suprimento, e é onipresente, onipotente e
onisciente.

Entendimento da Natureza de Deus


Toda a nossa vida espiritual depende de nossa capacidade de compreender
Deus e, a menos que compreendamos a onipresença e onipotência de Deus,
não progrediremos nesta tarefa.

Através dos tempos, muitos nomes foram dados a Deus: Abraão conheceu Deus
como Amigo. Nas antigas Escrituras dos hindus, que remontam a milhares de
anos e abrangem um pouco da mais primitiva literatura dada ao mundo sobre o
assunto de Deus, este é mencionado como “Mãe” e às vezes como “Pai”. O
grande místico hindu moderno, Ramakrishna, conheceu Deus como a Mãe Kali;
mas, frequentemente, alguns termos como “Mestre”, “Princípio”, “Alma”, “Luz”,
“Espírito”, “Amor” e outros sinônimos bem-conhecidos de Deus também serão
encontrados nas Escrituras hindus. Entretanto, porque era da natureza dos
hindus primitivos, assim como dos hebreus primitivos, personalizar, eles
trouxeram Deus para mais perto de si da maneira que melhor entendiam — como
uma Mãe amorosa e, ocasionalmente, como um Pai.

No século XIX, as pessoas versadas em sânscrito traduziram muitos dos


grandes clássicos hindus para o alemão e o inglês, de modo que pela primeira
vez o Ocidente teve a oportunidade de familiarizar-se com a terminologia hindu.
O resultado foi que muitos de seus conceitos a respeito de Deus se infiltraram
na literatura do século XIX. O termo “Pai-Mãe”, como sinônimo de Deus, obteve
ampla aceitação por sua incorporação ao ensino da Ciência Cristã de Mary Baker
Eddy. Com a utilização do termo na literatura da Ciência Cristã, ele mais tarde
foi incorporado em muitos outros ensinamentos metafísicos. E, assim, Deus tem
sido conhecido como Mãe, algumas vezes como Pai e, também, como Pai-Mãe.
Nenhum desses termos procurou indicar um gênero, nem significar que Deus
era masculino ou feminino. Em vez disso, esses termos carinhosos conotam as
qualidades suaves, amorosas e protetoras de uma mãe, e as qualidades
severas, legisladoras, de proteção, de apoio e de defesa de um pai.
Por isso, quando Deus vem à sua consciência individual, Ele chega de uma
maneira tão suave que você pode ainda usar o termo Pai ou Mãe. Cada vez
mais, no entanto, as pessoas estão começando a pensar em Deus como Luz e
Vida; e, quando Deus é compreendido na consciência individual como Vida ou
como Luz, não há sentido de masculino ou feminino, apenas um sentido de Deus
como a vida universal que permeia a forma que você tem — a vida que permeia
a forma da árvore, do animal e da flor, impessoal mas, mesmo assim, vida.

Deus é Espírito, e Espírito é a substância e a essência da qual todas as coisas


são formadas — tudo o que está na Terra e no Céu, no ar e na água. A criação
espiritual é formada dessa indestrutível e indivisível Substância, ou Espírito,
denominado Deus.

A Consciência Espiritual Revela a Realidade


Você pode, então, questionar: por que há coisas como árvores apodrecendo e
vulcões em erupção? Eles também são a essência de Deus? Não; eles
representam o nosso conceito daquilo que realmente está lá. No reino de Deus
não há jamais uma árvore apodrecendo, nem existem forças destrutivas ou
arrasadoras em ação. O místico alemão Jacob Boheme via a realidade através
das árvores e da relva. Para todos os místicos é como se o mundo se abrisse e
eles vissem o mundo como Deus o fez.

Deus é a substância e a realidade subjacentes a toda forma; mas o que vemos,


ouvimos, degustamos, tocamos ou cheiramos é o produto da mente humana, do
sentido mortal, material, finito. A soma total dos seres humanos no mundo, sob
o que se chama lei material — médica, teológica ou econômica — estabeleceu
esse sentido finito do universo, que eles vêem, ouvem, degustam, tocam ou
cheiram.

Nada é aquilo que parece ser. Todos nós poderíamos olhar o mesmo objeto e
cada um de nós poderia vê-lo diferentemente. Por quê? Porque cada um de nós
o interpreta à luz da educação, do ambiente e dos antecedentes de nossa
experiência individual. Compreender que aquilo que vemos representa apenas
o nosso conceito do que na realidade existe é importante, porque sobre este
ponto criamos ou perdemos nossa consciência curativa. Deus criou tudo o que
foi criado e tudo o que Ele criou é bom. Por isso, todo este mundo, quer visto
como seres humanos, ou como animais e plantas, é Deus manifesto. Mas
quando o vemos, não o vemos como é: vemos somente nosso conceito finito
dele.

Isto é muito importante porque é nessa premissa que se baseia toda a cura
espiritual, e a falta de reconhecimento deste ponto responde por noventa e cinco
por cento das falhas na cura espiritual. Muitos metafísicos estão procurando
curar o corpo físico, e este não pode ser curado porque nada existe que um
metafísico possa fazer a um corpo físico; mas quando ele muda seu conceito de
corpo, este passa a corresponder àquele conceito mais elevado. Então o
paciente diz: “Fui curado!” Ele não foi curado: ele era perfeito no começo. O que
estava errado não se achava no corpo, mas em seu falso conceito de si mesmo
e de seu corpo.2

2. Para uma explicação mais completa deste ponto, ver o capitulo “The True Sense of the
Universe”, em Spiritual Interpretation of Scripture, deste autor (San Gabriel, Calif.: Willing
Publishing Company, 1947), pp. 203-14.

Se você apreender esta idéia, isso poderá poupá-lo de cometer o engano fatal
na tentativa de curar alguém ou o corpo de alguém. Quando vejo seu corpo
através do sentido espiritual, considero você como Deus o fez, e você declarará
que foi curado. A criação de Deus está intacta; está perfeita e harmoniosa, e
essa criação perfeita e harmoniosa está bem aqui e agora. Porém, isso não pode
ser visto com os olhos do corpo. Somente pode ser discernido através da visão
espiritual, do sentido espiritual — através da consciência espiritual, ou do que é
chamado consciência de Cristo.

Não tente reformar o mundo exterior. Quando você encontra roubalheira,


embriaguez, ou qualquer outra forma de degradação, não olhe para essas
coisas, mas através delas. Feche os olhos, ou então vire-se de costas. Olhe
através do indivíduo, considerando com o seu sentido espiritual a realidade do
ser dele, e você proporcionará o que o mundo chama de cura. Com o seu sentido
espiritual interior, dado por, Deus, olhe dentro do coração de cada homem e veja
o Cristo, e lá você encontrará a mais maravilhosa força curativa que existe no
mundo. Depois, deixe que seu sentimento o guie. Procure obter o sentimento ou
a sensação do Cristo presente bem no centro de cada ser, e quando você
alcançar esse Cristo terá uma cura instantânea.

Para conseguir uma cura de pecado ou moléstia não se preocupe com o ser ou
com o corpo humano. Recolha-se ao silêncio interior: sinta a presença de Deus,
o Sentimento divino ou interior, e então você não será tentado a pensar em
pessoa alguma. Não é necessário pensar no nome da pessoa que recorreu a
você em busca de auxílio, nem em sua forma nem em sua moléstia. A
Inteligência onisciente sabe e, por isso, quando você percebe um sentimento de
Alma que a empolga, terá testemunhado uma cura.

A Conduta de um Método de Cura


Desenvolvendo o seu método de cura, tenha o cuidado de não repetir
presunçosamente declarações de verdade a seus pacientes, de não lhes dar
bonitas citações da Escritura nem de escritos metafísicos, salvo se você próprio
teve uma dimensão consciente dessa verdade. Lembre-se: é muito melhor não
dizer coisa alguma a seus pacientes além de “Deixe isso comigo”, ou “Eu o
ajudarei”, ou “Eu estarei com você”, ou “Chame outra vez pela manhã” — é muito
melhor não lhes transmitir qualquer declaração de verdade, mas apenas a sua
garantia de que, com o seu entendimento da presença de Deus, você está
conscientemente com eles em prece e realização.

Quando sua consciência está imbuída do espírito da verdade — não apenas da


letra da verdade, mas do espírito da verdade — ocorrerá a cura. Então você pode
explicar a seus pacientes o que é a verdade, transmitindo-lhes declarações da
verdade que você provou ou demonstrou, e que se tornaram parte de sua
consciência. Eles, então, não apenas ficarão contentes por ouvir essas
declarações, como também sentirão a sua verdade. Fazer a seus pacientes ou
estudantes citações e declarações de verdade das quais você próprio não tem
consciência, é como dar-lhes pedra quando eles pedem pão. Preferivelmente,
faça-lhes uma declaração simples, uma que você já tenha demonstrado
repetidamente e que, portanto, sabe que é verdadeira. A menos que você possa
fazer isso, dê-lhes o silêncio que cura. Nada diga, mas sinta dentro de seu ser
esse Cristo que cura.

Lembre-se disto: você não é chamado para curar uma pessoa; você não é
chamado para eliminar uma moléstia terrível; você não é chamado para mudar
a atividade de um corpo humano. Tudo o que você é chamado a fazer é
compreender a natureza espiritual do Deus onipresente e a criação perfeita de
Deus. Você é chamado para sentir uma Presença vivente, para sentir esta
Presença vivente no centro do seu ser.

Em cada caso para o qual você é chamado, o verdadeiro chamado é para a sua
compreensão de Deus como a vida do homem, Deus como a mente, a alma, a
lei, a substância e a causa. Declarar estas coisas, no entanto, não constitui uma
cura espiritual. Você tem de senti-las; trata-se de uma verdadeira percepção
espiritual dentro do seu próprio ser.

Não tente alcançar o seu paciente. Não tente transmitir o seu pensamento a um
paciente. Esteja apenas certo de que dentro de seu próprio ser você sente a
verdade, você sente a exatidão, você percebe o sentido espiritual de ser. Então
o seu paciente corresponderá. Não leve o paciente para o seu pensamento —
não tome nota de seu nome, nem da natureza de sua moléstia, nem de qual é a
sua aparência — e, acima de tudo, jamais pense que você tem de transmitir ou
de transferir algum pensamento para ele.

Não importa qual seja a alegação ou o problema. Quando o Cristo de você toca
o Cristo do seu paciente, acontece a cura. Não tente curar humanamente pessoa
alguma, seja mental ou fisicamente. Procure ficar calado no centro do seu ser e
sinta o Cristo, sabendo que tudo isso está ocorrendo no Coração único, no
coração de Deus, que é o seu coração. Você tem de sentir uma unidade
consciente com Deus. Deus inclui tudo e, já que é assim, você e eu precisamos
estar incluídos nesse ser-Deus, de modo que quando você é um com Deus, você
é um comigo. Minha união consciente com Deus constitui minha unidade com
você, e com cada ser espiritual, e com cada atividade de Deus que está incluída
na minha vida. Todas estas são idéias divinas, cuja forma traduzimos em termos
de nossas necessidades humanas.

Assim como o seu corpo é um corpo espiritual em Deus, nem masculino, nem
feminino, quando você está em contato com o seu Cristo, no centro do seu ser,
que é o Cristo de cada indivíduo, há somente amor puro, Espírito puro.
Entretanto, por causa do sentimento humano, as qualidades de Deus são
interpretadas como masculinas e femininas, indiferentemente.

Da mesma maneira, a idéia de transporte pode ser traduzida num jumento, num
avião, num bonde, ou num automóvel. Estes representam somente os conceitos
humanos da idéia divina de transporte. A verdade sobre transporte é encontrada
em uma palavra: instantaneidade — Eu3 estou em todos os lugares — aqui, lá,
e em todos os lugares! Esta é a verdade a respeito do transporte espiritual. É por
isso que é tão fácil a um clínico de São Francisco curar alguém na China como
curar alguém que esteja fisicamente presente.

3. Todas as vezes que “Eu” aparece em grifo, a referência é a Deus.

A Percepção de Deus é Necessária


Em The Infinite Way há um capítulo sobre “Meditação”4 que delineia um curso
sobre o que poderia ser chamado de preparação espiritual. A primeira parte
dessa preparação é a prática de despertar pela manhã na compreensão
consciente de sua unidade com Deus. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão
trabalham os que a edificam”5 Se você não trouxer conscientemente Deus para
a sua experiência em seu primeiro momento de vigília, você pode ter perdido a
oportunidade de ter Deus com você em cada ocasião durante todo o dia.
4. Do autor (San Gabriel, Calif.: Willing Publishing Company, 1947), pp. 94-103.

5. Salmos 127:1

Talvez, à medida que você lê isto, possa pensar: “Ó, Deus é onipresente; Deus
está sempre comigo!” Não acredite nisso, porque não é absolutamente verdade!
Este é um daqueles lugares-comuns, uma daquelas citações!

É verdade que Deus é onipresente. É verdade que Deus está exatamente onde
você está. Mas se é verdade que Deus é onipresente, então Deus deve ter
estado presente quando todos os nossos rapazes foram mortos na frente de
batalha, ou quando os antigos cristãos foram atirados aos leões, ou quando nas
últimas décadas milhares de pessoas inocentes foram massacradas em campos
de concentração. O que Deus estava fazendo enquanto aconteciam esses
horrores? Ele estava lá? Então, por que Ele não estava ajudando? Certamente
Deus estava lá, mas Deus não é uma pessoa e Deus não pode olhar você aqui
embaixo e dizer que sente o sofrimento que você está suportando. Deus está
onipresente nos hospitais, nas prisões, na frente de batalha. Deus é onipresente!
Mas de que serve isso para alguém? De que serve isso para você? Somente
isto: Deus está disponível em cada caso, na medida da sua percepção
consciente da presença de Deus.

Deus está presente! Sem dúvida. A eletricidade estava presente através das eras
quando as pessoas estavam usando óleo de baleia e querosene. Mas que
benefício a eletricidade representava para elas? Nenhum, porque não havia
compreensão consciente da presença da eletricidade.

Jesus também poderia estar viajando ao redor da Terra Santa em um aeroplano.


E o que dizer dos hebreus em sua longa caminhada cruzando os areais? Hoje
isso leva quarenta minutos! As leis da aerodinâmica estavam presentes e a seu
dispor, mas não havia percepção consciente delas, embora essas leis pudessem
ter sido implementadas se houvesse qualquer conhecimento de sua existência.

A eletricidade está presente hoje como sempre esteve, mas agora, por causa de
uma percepção consciente de suas leis, ela nos dá luz, calor e força. Deus está
presente aqui e agora, mas é preciso haver uma percepção e compreensão
conscientes — na realidade, mais do que isso; um sentimento consciente da
presença de Deus para que você possa recorrer a essa Presença e Poder.
Conversa lisonjeira, citações e lugares-comuns metafísicos não devem ser
confundidos com essa percepção e compreensão conscientes, através das quais
Deus se torna uma realidade vivente para você. Concordar com os lugares-
comuns metafísicos é tão inútil quanto seria para alguém que, vivendo nos
tempos antigos, dissesse: “Você sabe, a eletricidade está disponível.” Sim, é
claro que estava — se soubessem como fazer uso dela.

Essa conversa a respeito de Deus tem acontecido há milhares de anos, e ainda


há muitas pessoas religiosas nas igrejas que estão falando sobre Deus e mesmo
assim estão passando por todas as vicissitudes da experiência humana. Não é
a conversa, no entanto, mas a compreensão consciente da presença de Deus
que é o segredo do viver espiritual.

Qualquer pessoa que tenha tido o sentimento real ou a compreensão da


presença de Deus já não está mais só no mundo, já não está mais resolvendo
sozinha seus problemas, já não é mais dependente de qualquer espécie de
auxílio humano. O Divino está sempre lá. A Presença que caminha à sua frente
está sempre a seu lado e segue-a como uma retaguarda; mas, apesar de haver
tal Presença, é preciso haver uma compreensão consciente dela.

A respeito do desenvolvimento desse estado de consciência, há certas práticas


que constituem passos ao longo do caminho. A mais importante delas é treinar
a fim de realizar um esforço consciente para compreender a presença de Deus
ao despertar pela manhã. Se você não pode sentir imediatamente a presença de
Deus, pode pelo menos aprender a reconhecer a onipresença, a onipotência e a
consciência de Deus; você pode, pelo menos, tentar compreender:

Assim como a onda é uma com o oceano, do mesmo modo eu sou um com Deus.
Assim como o raio de sol é um com o Sol, do mesmo modo eu sou um com Deus.

Se você tomar um, dois ou três minutos para fazer isto perceberá, ao sair da
cama e colocar os pés no chão, que está com uma disposição mental bem
diferente. Quando você aprender a não sair da cama enquanto não tiver
estabelecido sua unidade consciente com Deus, seu dia começará bem.

Quando acordo pela manhã, tenho o hábito de estabelecer esta compreensão


consciente da presença de Deus. Considero essa a parte mais importante do
meu trabalho diário, porque depois que fiz isso não tenho muito a fazer durante
o resto do dia, a não ser olhar sobre meus ombros e ver Deus trabalhando.

A cada dia você deve seguir religiosamente as instruções dos capítulos


“Meditação” e “Prece” em The Infinite Way.6 Por exemplo, quando você sai de
casa de manhã, não passe pela porta sem compreender conscientemente que a
Presença foi à sua frente e que a Presença permanece atrás de você para
abençoar os que passam por aquele caminho. Não saia sem fazer isso
conscientemente, porque seu esforço consciente determina a sua revelação.
6. Op. cit., pp. 94-113.

Da mesma maneira, quando você senta-se à mesa, não coma até que tenha pelo
menos piscado seus olhos e dito silenciosamente: “Obrigado, Pai!” Isto não é
dito em qualquer sentido ortodoxo de ação de graças, mas em um sentido
metafísico muito moderno de ação de graças. É um reconhecimento de Deus
como a fonte do seu suprimento, um reconhecimento de que não foi o seu próprio
esforço humano que lhe trouxe o alimento, e que por si só você nada pode fazer;
o Pai dentro de você colocou esse alimento à sua frente.

Não há maneira de saltar do ser humano para ser um ente espiritual, mas pouco
a pouco precisamos começar a espiritualizar nosso pensamento até que nos
encontremos no reino do céu. Precisamos aprender que, não importa o que
estejamos fazendo durante o dia, é somente por causa da presença de Deus
que o estamos fazendo. Jesus disse: “Não posso por mim mesmo fazer coisa
alguma7 ...O Pai que está em mim é quem faz as obras.”8 E Paulo disse: “E vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim.”9

7. João 5:30.

8. João 14:10.

9. Gálatas 2:20.
Você precisa ver que cada pedacinho de bem que você faz ou vivencia é o Cristo
atuando dentro e através de você; é o Espírito de Deus ativando você. A
atividade de cura é a atividade da Consciência divina, a atividade do Cristo do
seu próprio ser, que ocorre dentro de você.
CAPÍTULO 2

Mestre, Discípulo
e Ensino
O relacionamento entre mestre e discípulo é muito sagrado e não depende de
qualquer grau de aprendizagem humana que um mestre possa possuir.
Qualquer que seja o conhecimento que um mestre espiritual possa ter adquirido,
este será de muito pouco benefício para o seu discípulo, porque o que ele
transmite ao discípulo é sua integridade espiritual e consciência elevada. Sem
isso, ele nada tem a dar. As bibliotecas estão repletas de livros contendo o
conhecimento acumulado das eras, e se os livros fossem um meio suficiente de
instrução, não haveria necessidade de mestres. Mas na maior parte das vezes,
as pessoas que procuram conhecimento e inspiração constatam que existe algo
que os livros não podem transmitir, algo que somente pode ser comunicado de
pessoa para pessoa. Esse algo intangível é a consciência espiritual.

Portanto, é de responsabilidade do mestre ou do praticante manter a sua


integridade espiritual a fim de cumprir essa missão no mais alto sentido de seu
próprio ensino e entendimento. Ninguém pode viver em um plano mais alto do
que o seu próprio entendimento, mas é possível cair abaixo do nível desse
entendimento. É possível a uma pessoa violar sua própria integridade, conhecer
a verdade espiritual e não vivê-la; mas nesse caso, ainda que um mestre esteja
pregando a mais profunda das verdades não obterá êxito em ensiná-las. Por
outro lado, se estiver vivendo de acordo com o seu mais alto sentido de
integridade espiritual, e se jamais disse uma única palavra a seu discípulo ou
paciente, mesmo assim essa pessoa, se estiver espiritualmente pronta, receberá
iluminação. Essa é a lei espiritual.

Um mestre precisa sentir sempre a obrigação de apoiar e ajudar espiritualmente


o discípulo enquanto houver qualquer necessidade de apoio espiritual. Deve
haver disposição e presteza em procurar alcançar e dar auxílio ao discípulo
através de uma entrevista, de uma chamada telefônica, de uma carta ou de
qualquer outra forma; mas o discípulo ou paciente também tem a
responsabilidade de não se tornar um aborrecimento e de manter suas
necessidades e demandas num plano razoável.
Enquanto o mestre mantiver sua integridade espiritual, o discípulo deve apoiá-
lo. Se ele deixar de ser dotado pela graça, o discípulo deve ficar ao seu lado e
erguê-lo, até que se torne evidente que o mestre não deseja mais ser erguido.
Então, o discípulo deve encontrar o seu próprio caminho e deixar que seja
revelada a sua própria trilha para o céu. Se um discípulo deixar de ser dotado
pela graça, o mestre também deve ficar ao seu lado até que ele torne claro que
não deseja mais o auxílio e não tem a intenção de mudar de atitude. Quando
acontece isso, o mestre deve sentir-se livre para romper o relacionamento.

Em todas as ocasiões, o mestre deve tornar claro que o objeto do ensino


espiritual é libertar o discípulo, libertá-lo até do próprio mestre, libertá-lo em sua
própria Cristandade. Por isso ele precisa ter o cuidado de não encorajar o
discípulo a viver a seus pés e, dessa forma, tornar-se dependente dele, embora
o discípulo jamais deva hesitar em recorrer ao mestre para que este o erga para
um lugar em que ele se torne independente e seja capaz de caminhar sobre a
água. A menos que o discípulo se liberte, há uma repetição do que aconteceu
com Jesus e seus apóstolos quando o Mestre finalmente teve de dizer-lhes: “Se
eu não for, o Consolador não virá a vós.”1
1. João 16:7.

A Sabedoria Antiga
O ensinamento do Caminho Infinito é tão antigo quanto a própria história. Aqui,
ele é apresentado como tendo sido dado por Cristo Jesus, e representa o meu
entendimento da lei e da verdade espirituais conforme foi revelado por Jesus de
Nazaré a seu amado discípulo João. Porém, somente os que estão neste nível
de consciência serão atraídos para esta mensagem: “As minhas ovelhas ouvem
a minha voz.”2
2. João 10:27.

O fundamento deste ensinamento é a unidade, a unidade de Deus e do homem,


segundo a expressão de Jesus, quando disse: “Eu e o Pai somos um.”3 A
mensagem baseia-se literalmente na verdade revelada no Primeiro
Mandamento, que não há senão um poder, uma presença, uma vida, uma
consciência, uma Alma ou Espírito; e esta verdade é o princípio do ser individual.
3. João 10:30.

Deus é a única substância da criação, a lei e a substância de todas as formas.


O que percebemos com os cinco sentidos físicos é apenas o conceito humano e
limitado daquilo que existe na realidade. Mesmo uma aparência boa ou saudável
nada mais é que um falso senso de realidade. Jamais podemos ver ou ouvir a
criação de Deus com os sentidos materiais; mas com o sentido espiritual
podemos discernir o homem e o universo da revelação de Deus, de Seu próprio
ser, que é interpretado como criação.
O mundo não aceita a revelação ou a verdade de um poder único. O mundo dá
poder a clima, germes, alimentos, estrelas e outras coisas incontáveis, mas
nenhuma coisa por si só é ou tem poder. A consciência — vida e verdade —é o
poder em cada coisa.

O ensinamento de um único Deus nunca contou com grande popularidade e,


assim, através dos séculos, a idéia de um único poder surge e se afasta
alternadamente na consciência humana. Abraão, que deve ter vivido entre 1550
e 1450 a.C., e que se tornou conhecido como o pai dos hebreus, ensinou o culto
ao Deus único e esta mesma revelação de Deus como Presença única e Poder
único chegou, via Índia, ao Rei Amenófis IV do Egito, o qual aboliu o politeísmo
de seu povo e o substituiu pelo culto a um único Deus. Com a deposição de
Amenófis, os muitos deuses de seu povo foram restaurados. Depois, em algum
momento, entre os anos 200 e 800 d.C., esse ensinamento de unidade
reapareceu em sua plenitude e simplicidade como o ensinamento advaíta da
Índia. Neste, o grande místico Shankara revelou a natureza ilusória do mundo
dos sentidos e da natureza de Deus como o Eu ou Eu Sou, a unidade de Deus
e do homem que ele resume como Eu Sou Isso.

A demonstração completa por Jesus de Nazaré da unidade veio com esta


mensagem sublime: “Eu e o Pai somos um.4 ...Filho, tu estás sempre comigo, e
todas as minhas coisas são tuas”5 — tudo o que Deus é, eu sou. Jesus provou
que o mal não é real curando os doentes, ressuscitando mortos, alimentando as
multidões e, finalmente, em sua própria elevação acima do testemunho de todos
os sentidos para a revelação da vida eterna.

4. João 10:30.

5. Lucas 15:31.

Mais uma vez, esta era revela essa mesma sabedoria antiga. O fundamento
deste ensinamento é que cada pessoa individualiza todas as qualidades e
atividades de Deus — toda a inteligência e vida eterna, todo o amor e toda a
verdade. Nenhuma qualidade está faltando a nenhum indivíduo. A própria
unidade do indivíduo com o Universal invisível constitui a unidade do indivíduo
com cada ser e idéia no mundo criado por Deus.

Uma outra fase do ensinamento é a da natureza do erro, a qual considero tão


importante quanto o entendimento da natureza de Deus porque, a não ser que
percebamos a natureza irreal do que para nós parece pecado, doença, carência
e guerra, não podemos obter sucesso no trato desses problemas e, assim,
inverter as situações que eles apresentam. A falha em compreender a natureza
do erro pode resultar em cura através de uma crença cega, que amiúde não é
permanente.

Se não houvesse alguma coisa provocando um problema em nossa vivência, ele


não existiria. Podemos dizer: “O problema não é real. Eu sei que não é real.” Mas
que bem nos fará saber que o problema não é real, se ainda irá nos perturbar
como se o fosse? Precisamos atingir um estágio de consciência em que
saibamos o que fazer com esta nulidade chamada mal, como sobrepujá-la,
dissipá-la e livrarmo-nos dela. Ela é nada. Essa é a verdade. A revelação
espiritual da natureza do erro é verdadeira: Ela é nada — mas continua sendo
um problema até que tenhamos, verdadeiramente, chegado à percepção que a
torna nula em nossa vivência.

Portanto, digamos que o ensino é constituído da letra da verdade e do espírito


da verdade. A letra da verdade consiste em duas partes: primeira, a natureza de
Deus e o relacionamento de Deus e do homem; e, segunda, a natureza do erro
e o que fazer a seu respeito. Isso é tudo o que existe para este ensinamento no
que se refere à letra da verdade. Não há observâncias de qualquer espécie —
nem ritos, nem ritual, nem dogmas, nem fórmulas — nada mais nem menos do
que o entendimento da natureza de Deus e da natureza do erro, e a aplicação
individual desse entendimento.

A letra da verdade é uma parte importante desse ensinamento e é necessário o


seu conhecimento a fim de prevenir o discípulo para não cair numa fé cega e
numa crença de que, em algum lugar, de algum modo, há um Deus pronto e
disposto a fazer alguma coisa por ele.

A parte mais importante deste trabalho é conquistar o espírito da verdade, da


consciência real de Deus como sempre presente, quer O entendamos como um
Pai, Lei, Guia ou Apoio. A maneira como interpretamos Deus depende de nossos
antecedentes e de nosso temperamento individual. Deus está sempre presente,
porém, embora sejamos a individualização de tudo o que é Deus, não obstante,
como seres humanos, este Ser-Deus parece ser algo separado e à parte de nós,
até que Ele Se faça conhecido dentro de nossa consciência como a realidade de
nosso próprio ser.

O Ensinamento de Jesus
O Caminho Infinito fundamenta-se no ensinamento de Jesus, que é minha
autoridade e, mesmo sendo verdade que grande parte desse ensinamento pode
ser encontrada em algumas das Escrituras orientais que remontam a três ou
quatro mil anos da era cristã, em nenhum momento ele foi tão claramente
afirmado ou tão claramente demonstrado como o foi por Jesus. Portanto, embora
eu goste de ler as antigas Escrituras, não há outra abordagem senão a de Jesus,
que é tão definitiva, completa ou fácil para a aceitação dos discípulos do mundo
ocidental, porque o ensinamento de Jesus é realmente parte de nossa
consciência ocidental. A autoridade para praticamente tudo que O Caminho
Infinito ensina é encontrada no Novo Testamento, particularmente no Evangelho
de João e nos escritos de Paulo.
Os três ensinamentos absolutos mais conhecidos no mundo são os de Buda, os
de Shankara e os de Jesus. O ensinamento real de Buda quase se perdeu
completamente na religião que agora se chama Budismo. Na verdade, seria tão
difícil encontrar o ensinamento original de Buda na maior parte do Budismo de
hoje como o seria encontrar o ensinamento de Jesus em algumas igrejas cristãs.
Em muitas igrejas há uma negação real e aberta do ensinamento do Cristo.
Pense por um momento em quantas igrejas é encontrada a prática de orar pelo
inimigo? Em que igreja, durante a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, houve
orações pelo inimigo? Que igreja ensinou os soldados a rezarem diariamente
pelos que os perseguiam? Quem ensinou os membros das congregações que
os que vivem pela espada devem morrer pela espada? Quem revelou o
significado espiritual da recusa de Jesus em permitir que Pedro o vingasse
cortando a orelha? Quem ensinou o Mandamento: “Não matarás”?6

6. Êxodo 20:13.

Lembre-se, portanto, que, ao discutir o ensinamento de Jesus, não é o


ensinamento de Jesus como é apresentado por meio de qualquer igreja que está
sendo discutido, mas o ensinamento com base no Novo Testamento, sem a
opinião ou interpretação de pessoa alguma, apenas o ensinamento de Jesus
conforme se acha literalmente estabelecido por seus seguidores. Somente
através do desenvolvimento da consciência espiritual, exemplificada por Jesus,
é que todas as nações serão finalmente capacitadas a pôr de lado suas espadas
e a transformá-las em relhas de arado.

Você talvez questione se alguém pode ou não cumprir um ensinamento tão


exigente quanto este, mas isso é possível — individual e coletivamente. Você
pode começar agora a seguir o ensinamento do Mestre perdoando seu inimigo
e orando pelos que o perseguem; e se você, como indivíduo, pode fazer isso, o
mundo também pode fazê-lo.

Uma das maiores leis da Bíblia é a lei do perdão, de orar pelos seus inimigos.
Mas o perdão não significa olhar um ser humano, lembrar a terrível ofensa que
ele cometeu contra você e perdoá-lo por isso. Não há virtude nisso. O verdadeiro
perdão é a capacidade de ver, através de sua aparência humana, a Divindade
de seu ser, e compreender que na Divindade do seu ser nunca houve, como
agora não há, erro de qualquer natureza. É como se essa pessoa lhe pedisse
ajuda e, ajudando-a, você a visse como ela realmente é, como um ser espiritual
puro.

A cada dia somos chamados a olhar todos aqueles contra os quais temos
qualquer sentimento negativo como seres espirituais e praticar esse ato de
perdão. Isso significa voltarmo-nos para o Cristo de nosso próprio ser e saber
que lá não existe outra coisa além do amor. Nunca houve um ser mortal, e tudo
o que se parece com um mortal não é senão o Próprio Cristo visto erroneamente.
Assim como perdoar, orar por nossos inimigos é uma das grandes leis da vida e
da Bíblia. Isto não quer dizer que estamos desamparados perante o inimigo: isso
realmente significa que somos capazes de compreender Deus como a vida e a
mente do homem individual e saber que não existe outra mente além dela. As
aparências nada têm a ver com isso. Não estamos lidando com aparências.
Estamos lidando com a realidade do ser.

Unidade, o tom Fundamental


O ensinamento mostra que você precisa contatar Deus individualmente. Deus
precisa tornar-se real e vivo para você em sua vivência, e o propósito deste
trabalho é elevar a consciência a esse ponto. “E eu, quando for levantado da
Terra, todos atrairei a mim.”7 No momento em que entro em contato e sinto a
presença de Deus, nesse momento, todos os que estão na faixa de minha
consciência precisam sentir isso e ser elevados. Por fim, eles são elevados para
aquela altura onde eles próprios farão o contato e terão a compreensão de si
próprios. Se houver qualquer mistério neste ensinamento, este é o grau em que
você pode abrir sua consciência para o influxo da presença de Deus, para a
percepção de Deus ou do Cristo; nesse nível você pratica e finalmente
demonstra isso.

7. João 12:32.

O Caminho Infinito não é mais uma abordagem metafísica destinada a eliminar


a moléstia, a demonstrar um automóvel ou a saúde, ou adquirir qualquer coisa
material. Seguir essa trilha envolve uma disposição de não se preocupar por sua
vida, pelas coisas que você come ou bebe, ou com o que estará vestido. É uma
tentativa de procurar a consciência de Deus e querer que essas coisas sejam
acrescentadas. Não é possível ter a consciência de Deus e qualquer espécie de
falta, a consciência do Infinito e a ausência de alguma coisa. Assim, na
consecução da consciência da presença de Deus, do mesmo modo você
consegue todas as coisas juntas — todas as coisas que estão em Deus e são
de Deus.

A mais alta demonstração foi expressa por Jesus quando ele disse: “Eu não
posso de mim mesmo fazer coisa alguma...8 O Pai que está em mim é quem faz
as obras.”9 Estou certo de que Jesus não queria dizer que havia duas pessoas,
Jesus e o Pai. Quando usou o termo “Pai”, quis dizer a essência divina, a
presença ou lei do Infinito. Isso foi o que ele quis significar pelo uso da palavra
Pai, e esse é também o nosso significado.

8. João 5:30.

9. João 14:10.
Ao reconhecermos Deus, ou um Pai divino, não estamos reconhecendo alguma
Pessoa nem mesmo algum Ser ou Poder fora de nós. Isso seria dualidade. Isso
seria dualidade e seria fatal. Nós reconhecemos:

Eu sou o único. “Eu e meu Pai somos um” e eu sou esse um. Isto que eu sinto
correndo através de mim é o Pai, e Ele é maior do que eu, maior do que minha
condição humana.

“E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.” Quando Paulo fez essa
declaração, ele não estava pensando em um homem chamado Jesus, nem em
alguma espécie de ser separado dentro dele. Ele compreendia e sabia que
significava o Cristo, o Messias, o Salvador, a Essência, o Poder, a Lei, a
Presença.

Em verdade, Ele tem o vigor, o poder e o domínio de um pai, o amor e o carinho


de uma mãe e a compreensão de um amigo. Porém, mais do que isso, Ele é a
Presença que não pode ser definida. Eis onde reside a dificuldade — tentar
expressar em palavras o Indefinível. Lao-tsé disse: “Se você pode definir, não se
trata de Deus.” Se você pudesse alguma vez descrever essa Coisa, você não
estaria descrevendo Deus, porque Deus é infinito, eternidade, imortalidade, e
ninguém pode descrever isso. Você pode senti-Lo, tornar-se consciente dEle,
percebê-Lo — mas não pode descrevê-Lo.

Poder Único, um Princípio Básico


Um outro ponto fundamental neste ensinamento, que pode ser difícil de ser
apreendido em sua plenitude, mas que é muito simples, uma vez que seu
significado seja absorvido, é o ensinamento do poder único. O Primeiro
Mandamento é a base sobre a qual estamos: Não terás outros poderes senão a
Mim; não existe outro poder senão Deus — não há pecado a vencer, nem morte,
nem falta, nem limitação, nem tentação. O Poder único, a Presença única, é
Deus. A verdade não é usada para vencer o erro; o poder de Deus não é usado
para vencer o mal, e quando a crença universal, sob a forma de pecado, doença,
morte, carência e limitação, grita para nós: “Eu tenho poder para crucificar-te”,
respondemos como o fez Jesus: “Nenhum poder terias contra mim, se não te
houvesse sido dado do alto.”10

10. João 19:11.

Esse tratamento que Jesus deu a Pilatos foi uma declaração de verdade
absoluta, e ele a demonstrou. Todo o poder de Pilatos de pregá-lo à cruz provou
ser nada porque ele não podia tocar a vida de Jesus. E assim é conosco. Nós
permanecemos no Primeiro Mandamento. Estude o capítulo, “A Lei”, que trata
dos Dez Mandamentos, e veja como a luz do poder único é revelada claramente.
Abandone a idéia de que a verdade dissipa o erro. O erro não é uma realidade
e não tem de ser destruído. Meramente tem de ser reconhecido pelo nada que
é. Deus, Verdade, é o poder único. Nós não O usamos: nós somos Ele. Aquilo
que estou procurando, eu sou.

Há muitos anos, no início de minha prática, recebi um chamado para ajudar uma
mulher artrítica, cujo mestre, bem como muitos práticos tinham sido incapazes
de fazer alguma coisa por ela. Em três semanas eu não havia feito mais
progresso com o caso do que todos os demais — não havia melhora de espécie
alguma. Seus práticos estavam convencidos de que o caso não podia ser
resolvido porque a mulher tinha uma personalidade dominadora e acreditavam
que ela não podia ser curada, salvo se mudasse de modo de pensar, ou pelo
menos mudasse certas qualidades de seu pensamento. Assim fiquei sabendo
que o caso teria de ser resolvido de outra maneira.

Um dia, recebi dela um chamado telefônico dizendo-me que a dor era terrível e
que alguma coisa precisava ser feita imediatamente. Entusiasmado, eu disse a
mim mesmo: “Farei vigília a noite inteira e acabarei com isto!” Meu hábito, então,
era ler um pouco, a fim de encontrar alguma coisa para dar impulso ao
pensamento, meditar, dormir um pouco e depois levantar-me e tentar
novamente.

Às duas horas da manhã, o pensamento veio a mim: “Existe uma verdade, e se


eu pudesse apenas apanhar essa verdade, ela solucionaria este problema. Tudo
o que preciso é apenas uma verdade única, e ela está em algum lugar por aqui!
Se eu puder ao menos alcançá-la!”

Depois, voltei a dormir e quinze minutos depois despertei ouvindo uma Voz:
“Aquilo que estou procurando, eu sou!”

“Mas como pode ser isso?” perguntei. “Eu não sou a verdade.”

Então lembrei que Jesus havia dito: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida.”11
E compreendi: “Esta verdade que estou procurando, eu sou. Isso torna a coisa
muito simples, porque a verdade é universal, e se eu sou a verdade, esta
paciente também é a verdade. Não adianta fazer vigília por mais tempo.”

11. João 14:6.

Pela manhã, chegou um aviso de que o caso havia sido resolvido e até hoje não
houve sinal de qualquer recaída. Não há recaída quando conhecemos a verdade,
quando não usamos a verdade para vencer o erro. Quando tentamos sobrepujar
o erro com a verdade, estamos reconhecendo o poder do erro e ele pode voltar
com força redobrada e nos surpreender. A partir daquele dia até hoje, jamais
procurei tentar curar qualquer pessoa aqui ou sobrepujar algum erro, porque
Deus é o poder único e Deus é a substância e a lei de toda a forma.
Lembre-se: a verdade em si nada faz por você! É a sua consciência da verdade
que a faz funcionar. A verdade é sempre verdade, quer você o saiba ou não, mas
ela se manifesta a você somente em proporção à sua percepção consciente dela.
É como a conta do banco a cujo respeito você nada sabe. Somente a conta do
banco que você conhece é que lhe pode servir. Eu mesmo passei por um período
quando até mesmo uma pequena quantia teria sido muito bem-vinda. Nessa
ocasião particular eu não sabia que tinha qualquer dinheiro e então, mais tarde,
descobri duas contas em um banco da Cidade de Nova York que estavam lá há
vinte anos, mas que eu tinha esquecido completamente. Houve muitas ocasiões
em que eu teria sido muito grato por aquele dinheiro. Assim como a conta
bancária que você não sabe que possui não tem valor para você, do mesmo
modo esta verdade da totalidade de Deus de nada lhe adianta, exceto na medida
em que você a conhece e a percebe conscientemente.

Esta é uma das coisas mais importantes que você será alguma vez chamado a
compreender. Somente na medida em que você vir que a doença não é um poder
sobre o qual pode fazer alguma coisa é que você pode atender à aparência
chamada doença. Este é o ponto que quero frisar: há somente um único Poder,
uma única Presença. Nosso bem deve vir através Disso, a partir do interior, não
através de qualquer tentativa humana de arrancá-lo do mundo exterior.

O Tratamento é Sempre no Plano de Deus


Nesse ensinamento permanecemos no princípio da Vida única, do Espirito único
permeando tudo. A aparência chamada morte não é morte, e a aparência
chamada nascimento jamais poderia ser o começo da Vida. A vida não tem
começo nem fim. Esta Vida que é Deus é Autogerida e Auto-sustentada e não
tem antagonismo nem oposição. Não há poder à parte da Vida única, que é a
sua vida e a minha vida, e essa Vida é eterna.

No momento em que tocamos o Centro, a essência divina do Ser dentro do


nosso próprio ser, constatamos não só Deus, mas a vida do homem individual,
a vida daquele que se chama, no momento, um paciente. O tratamento, então,
está na capacidade de contatar essa Vida única, a nossa própria Alma — essa
Essência única, esse Ser único que está dentro do nosso ser — e, por isso, em
nossa forma de tratamento não é necessário enviar qualquer pensamento a uma
pessoa. Pelo contrário, isso só serve para impedir ou atrasar a cura e, em alguns
casos, torná-la impossível.

O tratamento correto a partir do ponto de vista do Espírito, ou Alma, é penetrar


o interior, tocar o Centro do próprio ser de uma pessoa. Jamais leve lá o nome
do paciente; jamais faça qualquer alegação, seja esta de desemprego,
insanidade ou doença: não diga nada que não seja Deus, e Deus já se encontra
lá. Encontre Deus! E quando esse sentimento de liberação chega, você em breve
obtém do próprio paciente a palavra de que ele está curado.
Esta é a minha palavra para você, após anos e anos de prática: não leve o nome,
ou a identidade, ou o quadro, ou o pensamento do seu paciente para o seu
tratamento. Deixe-os completamente de fora. Você nada tem a ver com eles.
Para começar, eles são ilusórios e, se você os levar em consideração,
obviamente não está acreditando que são ilusões, mas pensa que são alguma
coisa e que você tem de fazer algo a seu respeito. Às vezes, talvez possa ser
verdade que, porque você tem um paciente, acredite por um momento que há
uma presença e um poder à parte de Deus. Por isso você penetra no interior
para a iluminação, para a luz que dissipará a ilusão.

Quando você se voltar para o interior, deixe o problema de fora! O problema não
deve preocupá-lo, seja ele mental, físico, moral ou financeiro. Ele nada tem a ver
com você porque você não atende a um problema no nível do problema. O
problema aparece como carência, limitação, desemprego, desamparo, pecado,
doença ou morte, mas no momento em que você começa a fazer alguma coisa
nesse nível, você é incapaz de atendê-lo. Onde quer que o problema esteja, está
a resposta; e se o problema está em seu pensamento, a resposta também está
lá. Eles nunca estão separados um do outro. Eles sempre são uma só coisa. Não
há problema aqui e uma resposta em algum outro lugar.

Por isso, quando lhe é apresentado um problema, deixe-o e volte-se para dentro
de si até conseguir aquele centro de consciência em que você sente o alívio e,
então, o problema todo desaparece. Se você trabalha no problema, se você
trabalha para realizar alguma coisa nesse momento você derrotou o seu
propósito.

Então, como é que você encontra o centro do seu ser? Antes de mais nada,
afaste-se do problema. Esqueça-o. Feche os olhos e leve alguma citação para o
seu pensamento, preferivelmente uma bem curta como: “Eu e o Pai somos
um”12 — ou “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.”13 Enquanto você se apóia
nessa citação e os seus pensamentos começam a vagar, ponderando sobre o
que tem para o almoço ou o que fazer amanhã, não lhes dê atenção; deixe-os
vir e deixe-os ir.

12. João 10:30.

13. Salmos 46:10.

Mantenha a sua atenção em: “Eu e o Pai somos um” — ou em qualquer outra
citação curta apropriada da Escritura ou da sabedoria espiritual. Quando você
perder o fio, suavemente volte a ele e reconheça que, ainda que sua mente tenha
vagado, “Eu e o Pai so mos um”. Traga sua atenção de volta outra e outra vez
e, tantas vezes quantas você perder esse fio, traga-o suavemente de volta. Não
há por que ter pressa. Apenas volte suavemente para “Eu e o Pai somos um”.

Depois que você tiver isso por alguns minutos, se sentirá mais apaziguado.
Então, se for possível, nesse momento de quietude, lembre-se de que está
escutando “aquela pequena voz silenciosa”. Mantenha seus ouvidos abertos
como se lá fora houvesse uma mensagem esperando para entrar.

Você agora está desenvolvendo um estado de receptividade para “aquela


pequena voz silenciosa”. Assim, enquanto você mantém a sua mente em “Eu e
o Pai somos um..., Eu e o Pai somos um”, o tempo todo o ouvido está ouvindo e
um sentimento de paz está se estabelecendo em você.

O tratamento do Caminho Infinito diz respeito somente ao seu relacionamento


com Deus, e quando você se torna um com Deus, você sente o alívio. Quando
esse alívio e essa sensação de paz chegam, o problema foi resolvido, seja o seu,
seja o de outra pessoa. O seu paciente sentirá o alívio, porque foi levado para a
sua consciência e, desde que Deus é a consciência do prático, Deus também é
a consciência do paciente. Não há transferência de pensamento do prático para
o paciente — não há necessidade disso.

Jamais seja culpado de uma tentativa de dar um tratamento a um paciente. Não


cometa o engano de pensar que um paciente vai a um prático que vai a Deus, e
que Deus, então, por seu turno, vai ao paciente a fim de produzir o alívio; ou que
o paciente vai ao prático e que este envia alguma coisa ao paciente. Nada disso
acontece.

Deus, o prático e o paciente são realmente uma coisa só. Não há três e não há
dois: há somente um. Quanto mais claramente você reconhece que EU SOU é
Deus, e que EU SOU é a vida, a Alma e o Espírito de cada indivíduo, logo
compreenderá que não está lidando com pessoas, mas com Deus, infinita e
individualmente expresso como pessoas — mas ainda Deus, somente Deus.

Deus Como Princípio Causativo


Deus é tudo. Deus constitui o ser e o corpo individuais. Mas surge a questão: “O
que é Deus?” Um de nossos maiores problemas é encontrar uma resposta
satisfatória para essa pergunta. Existem, talvez, diversas centenas de sinônimos
para a palavra Deus, e se pudéssemos citar todas elas ainda não teríamos
encontrado uma resposta para a pergunta. Mesmo assim, continuamos a
levantar a questão de tempos imemoriais: “O que é Deus?” — Talvez isso
aconteça porque há um reconhecimento íntimo, do qual talvez nem estejamos
conscientes, de que, quando encontramos Deus, encontramos a nós mesmos, e
de que, quando encontramos a nós mesmos, encontramos Deus.

Com certeza, todos podemos concordar que Deus é o princípio causativo do


Universo. Não podemos dizer, no entanto, que Deus criou o Universo porque
isso significaria que, em um dado momento, havia Deus e não havia um universo
e que então, subitamente, havia Deus e um universo. Deus não é um criador
mais do que o é o princípio da matemática. O princípio da matemática não criou
duas vezes dois, quatro; não criou o quatro e o ligou a duas vezes dois. Duas
vezes dois, inclui quatro, e logo que duas vezes dois passou a existir, o quatro
já estava lá. O princípio da matemática não o colocou lá; Deus não o colocou lá
— Ele não podia. O quatro estava lá. Nunca tinha sido separado de duas vezes
dois.

Mas quando pensamos em Deus como um Princípio criativo — infinito, eterno,


onipresente, sem começo e sem fim — então podemos ver que uma causa tem
de ser uma causa de alguma coisa e que a esta alguma coisa chamamos de
efeito. Causa e efeito são um, co-existentes, co-eternos e da mesma substância.
Então chegamos à verdade de que Deus, como Princípio criativo, é a causa de
Seu ser manifesto que aparece como efeito, causa e efeito vinculados, como
duas vezes dois é quatro, inseparáveis um do outro, mas sempre num mesmo
lugar.

Pense sobre a questão: O que é Deus? Somente na compreensão do que é


Deus é que podemos saber aquilo para o que Deus é Deus. Tudo o que
sabemos, sabemo-lo porque somos um estado de consciência. Anule-se a
atividade da consciência e não teríamos percepção nem conhecimento. Não
saberíamos que existimos.

Foi Descartes quem disse: “Penso, logo existo.” Do mesmo modo, apenas
porque estou consciente, porque sou a consciência em si é que sei que existo e
que há um universo existente. Se pudermos de algum modo nos entender e
entender Deus como Consciência, poderemos entender este universo, incluindo
o nosso corpo, como uma formação da Consciência — incorpórea, espiritual,
eterna, co-existente, Autogerida e Auto-sustentada; de fato, Autogerida e Auto-
sustentada da mesma maneira pela qual duas vezes dois é quatro se mantém
pela eternidade.

Quando podemos ver que a Consciência é a realidade de nosso ser, que Ela é
o princípio causativo, então podemos ver formas dessa Consciência, ou Ela se
torna evidente para nós como uma variedade infinita de formas e, portanto, tão
eterna como nós. À medida que compreendemos que nossa consciência é o
princípio causativo de nosso universo, então saberemos que, não importa o que
façamos, a Consciência universal está sempre produzindo e reproduzindo.

Não importa o que façamos com o mundo dos efeitos, a Consciência, que é o
seu princípio causativo, substância e lei, está sempre produzindo e
reproduzindo. Ela não está criando. Está apenas se desenrolando, como um rolo
de filme cinematográfico, desenrolando o quadro todo. O quadro já está lá no
rolo e está apenas se desenrolando diante de nossa vista.

A Consciência está sempre Se desenrolando e Se revelando para nós sob forma


infinita, de maneira infinita e em variedade infinita. Nunca deveria haver lamentos
sobre nossas vidas passadas, sobre o que perdemos no passado. O passado
nada tem a ver com o presente. Não dependemos do maná de ontem; não
dependemos de coisa alguma ou de alguém. Não faz diferença o que aconteceu
ou o que acontece com a nossa sorte ou com os nossos bens. É hoje que a
nossa consciência está nos revelando sua nova criação, revelando a cada dia
suas novas formações. Hoje a nossa consciência está se desenrolando e se
revelando de novas maneiras, de novas formas — sempre crescendo
abundantemente.

Personagens Bíblicos Como Estágios da


Revelação Individual
O assunto de Deus é infinito. É a parte mais importante de nosso trabalho e, por
isso, voltaremos repetidamente a ela, porque sem um conhecimento de Deus
não podemos ter conhecimento do efeito de Deus. Um estudo íntimo da Bíblia
ajuda a nos revelar Deus e como Ele governou a vida dos personagens bíblicos.

No livro Spiritual Interpretation of Scripture, foi revelado que os homens e


mulheres da Bíblia representam qualidades de nosso pensamento. Por exemplo,
podemos pensar em Moisés e desejar saber que qualidade ele representa em
nosso pensamento. Você estará lembrando de que ele levou os hebreus para
fora de suas trevas religiosas e econômicas, para um sentido mais amplo de vida
humana, para um maior sentido de liberdade religiosa e econômica e para uma
maior expansão territorial. Portanto, Moisés tem de representar um tipo mais
elevado de condição humana.

Quando pela primeira vez nos voltamos para a verdade metafísica, quase
sempre é com o propósito de encontrar um maior sentido de liberdade religiosa
ou econômica, ou liberdade no sentido de saúde — e habitualmente nossas
primeiras demonstrações consistem exatamente na melhoria dessas condições
humanas. Elas não são realmente a experiência do Cristo. Na verdade, falamos
em termos do Cristo e pensamos que estamos demonstrando o Cristo, mas na
maioria dos casos não estamos realmente recebendo qualquer visão espiritual.
Aumentamos nossa renda de cinquenta para setenta e cinco dólares por
semana, ou mudamos um coração doente para um saudável, ou um pulmão
doente para um saudável, e não há dúvida de que desfrutamos de um maior grau
de liberdade em nossa experiência humana.

Existe, então, em nosso pensamento, aquela qualidade de Moisés que nos leva
à verdade e, por fim, a um maior sentido de liberdade em nossa experiência
humana. Do mesmo modo, também, o pensamento da qualidade de Jesus em
nossa consciência é aquela que nos levará do nosso bem humano para o bem
espiritual. É isso que nos leva de um melhor estado de condição humana, com
uma renda aumentada ou melhorada, para a compreensão de nossa condição
de Ser espiritual.
O Salvador, ou Cristo, está em nossa própria consciência. A mente que estava
em Cristo Jesus está na nossa mente. Quando Jesus nos disse: “Antes que
Abraão existisse, eu sou”,14 e “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos”15 ele não estava se referindo à sua condição humana,
porque essa não estava lá antes de Abraão e não está aqui hoje. Mas sabia que
o Eu do qual falava, o Eu que é o Cristo, estava na consciência humana antes
de Abraão e está em nossa consciência neste instante.
14. João 8:58.

15. Mateus 28:20.

Assim, a própria qualidade que chamamos Jesus, que é a presença do Cristo —


o Cristo que cura ou salva — é a qualidade de nossa consciência neste momento
e está operando enquanto estamos acordados ou dormindo. O Cristo é
realmente a influência que cura. É o que na língua aramaica se conhecia como
o Messias, o que os gregos conheciam como Salvador e o que conhecemos
como o Cristo. O Cristo não é um homem de dois mil anos atrás, mas uma
qualidade de nossa própria consciência neste mesmo momento. Por isso cada
personagem da Bíblia está representado em nossa consciência como alguma
qualidade ou atividade.

Foi para mim uma grande revelação quando compreendi que a experiência de
José16 — aparentemente levado para o Egito por seus irmãos — não fora
realmente má, mas era o Próprio Deus levando José para o Egito onde ele podia
cumprir sua missão. Se você pudesse ter ouvido algumas das coisas que ouvi
das pessoas, sobre as condições adversas que vivenciaram para serem levados
à compreensão do que lhes era necessário saber, você compreenderia melhor
como, através de toda a experiência de José, Deus estava aparecendo como
sua consciência individual, levando-o à realização.
16. Ver. do autor, Spiritual Interpretation of Scripture, cit., pp. 69-77.

Deus sempre aparece como consciência individual. Deus, em Sua infinitude, é a


nossa consciência individual e é a nossa consciência que contém todo o
universo; é a nossa consciência que se torna a lei em nosso mundo. No mesmo
momento em que sentimos e percebemos conscientemente a presença do
Cristo, conquistamos essa qualidade de ser que, de acordo com nosso
entendimento, aniquila toda forma e crença de pecado ou condições errôneas
em nossa experiência. Os capítulos “Desvelando o Cristo”17 e “Purificando o
Templo”18 em Spiritual Interpretation of Scripture, ampliará esse ponto.

17. Spiritual Interpretation of Scripture, cit., pp. 189-202.

18. Ibid., pp. 181-88.

Quanto mais alto estivermos em consciência espiritual, tanto mais fácil será
discernir espiritualmente o que lemos. Por isso, é importante ser elevado para
uma consciência mais alta e de lá fazermos nossa leitura e reflexão. Dessa
maneira, revelações mais elevadas podem nos ser transmitidas.
CAPÍTULO 3

Estados e Estágios
da Consciência
Apesar de há muitos anos o mundo metafísico acreditar que cura mental e
espiritual são sinônimos, na realidade elas estão tão longe uma da outra quanto
a cura material e a cura espiritual. A cura mental e a material são em grande
parte a mesma coisa, exceto que operam em diferentes níveis de consciência. A
mental é um pouco superior e mais fina do que a material, mas essencialmente
elas são dois momentos da mesma crença.

Por outro lado, usar os termos “mentalmente espiritual” ou “espiritualmente


mental” é o mesmo que dizer “um diabo religioso”. O espiritual e o mental são
diametralmente opostos, o que não quer dizer que um seja certo e o outro errado,
mas funcionam em níveis tão diferentes de consciência que estão tão separados
quanto os pólos da Terra.

A atual mistura do espiritual e do mental deriva da clínica mental moderna, que


teve sua origem no último quartel do século XVIII, na Alemanha, com Franz
Anton Mesmer, um médico reputado e culto, que chamou sua descoberta de
magnetismo animal. Foi ele quem descobriu a existência de um fluido vital —
invisível e mental — que passa do clínico para o paciente e que atua
hipnoticamente através de sugestão.

Um dos discípulos de Mesmer, o francês Charles Poyen, que praticava o


mesmerismo, emigrou para Portland, Maine, e lá encontrou um discípulo muito
capaz chamado Phineas P. Quimby, a quem ensinou o mesmerismo, então
conhecido como hipnotismo ou magnetismo animal e, durante algum tempo, os
dois se empenharam nessa atividade, principalmente como uma forma de
diversão.

Quimby, mais tarde conhecido como Dr. Quimby, no entanto, tinha um jovem
paciente, ou discípulo, que trabalhava como seu assistente e que desenvolveu
a faculdade, sob hipnose, de discernir as causas mentais de moléstias físicas de
pessoas que iam até ele no palco. O Dr. Quimby, então, reconhecendo a falta de
poder do pensamento mental, eliminava a doença. Como resultados de algumas
curas notáveis que ocorreram, ele abandonou a fase de diversão de seu trabalho
e se tornou um conhecido curandeiro. As pessoas iam até ele em bandos, de
todos os lugares do país, e hoje existem relatórios de curas surpreendentes.

O Dr. Quimby era um homem muito bom — um homem religioso, no sentido


eclesiástico — e desde cedo começou a introduzir as palavras Deus e Cristo na
terminologia de seu trabalho. Pouco a pouco, esses termos religiosos passaram
a constituir uma parte do que no começo era puramente uma clínica mental. Na
verdade, acredito que foi o Dr. Quimby quem primeiramente fez a distinção entre
Jesus e o Cristo — Jesus, o homem, e Cristo, o Espírito que o animava. Até
aquela época, no mundo teológico, Jesus e o Cristo tinham sido imaginados
como uma coisa só. Em linguagem metafísica, no entanto, Jesus hoje é
entendido como sendo o homem, e o Cristo, o poder ou presença, ou Espírito de
Deus que animava o homem Jesus.

De todos os discípulos do Dr. Quimby, o que se tornou mais conhecido foi Mary
Baker Eddy, que viajou durante três anos fazendo conferências para ele sobre a
ciência do quimbyismo, que ele mais tarde chamou de Ciência de Cristo ou
Ciência Cristã. Por causa de sua formação religiosa anterior, a Sra. Eddy
conhecia profundamente a Bíblia e o pensamento religioso de sua época e,
portanto, utilizou todos os termos religiosos que o Dr. Quimby havia introduzido
em sua clínica mental.

Mas não nos iludamos: era uma medicina mental, tão mental que, quando se
empenhavam em trabalhos de cura, a Sra. Eddy muitas vezes tinha de pedir ao
Dr. Quimby que a ajudasse, porque ela havia apanhado a doença do paciente
que estava tratando. As primeiras cartas entre a Sra. Eddy e o Dr. Quimby
mostram que a prática em que estavam engajados era mental, ainda que
usassem termos tais como o Cristo. Era uma mente sobre outra mente, ou uma
mente sobre a matéria, ou uma mente entendendo que a doença não é um
poder. Era principalmente sugestão — a transferência dos pensamentos de uma
mente para outra.

À medida que o tempo passava, mais e mais pessoas começavam a interessar-


se pela cura metafísica, procurando desenvolver o trabalho através de muitas
outras vias. Julius A. Dresser começou o movimento do Novo Pensamento em
1892, dois anos antes de ter sido construída a Igreja-Mãe em Boston. Mesmo
sendo verdade que a maioria dos discípulos e práticos aderia de perto à
abordagem mental, outros eram de um temperamento mais espiritual e faziam
progresso neste campo.

Assim, no que toca ao metafísico, existem dois ramos distintos — o mental e o


espiritual, embora muito poucas pessoas estejam dispostas a reconhecer que
isso é verdade. Em nenhuma passagem do Novo Testamento, entretanto, pode
ser encontrada sustentação para a maior parte do que atualmente é conhecido
como prática mental, mesmo que essa prática mental ainda faça uso do nome
do Cristo.
“Preocupar-se” não é Cura Espiritual
Jesus ensinou: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de
comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis
de vestir”1 e, todavia, quantos de nossos práticos mentais hoje em dia estão
prontos e dispostos a uma tentativa para fazer uma demonstração* de oferta de
uma casa ou de um automóvel? Quantos pacientes pedem a seus práticos para
“demonstrarem” um apartamento ou uma casa para viverem, para conseguirem
um marido ou livrar-se de um. Não existe um prático de qualquer experiência
que não tenha tido, às vezes, a bem triste experiência de pessoas que chegam
a ele pedindo ajuda para obter um lar, um automóvel, um marido ou uma esposa
— toda a espécie de “demonstração” concebível.

1. Mateus 6:25.

* No entender do Autor, demonstrar ou manifestar alguma coisa, fazer uma demonstração ou


manifestação de alguma coisa é tornar realidade ou dar forma a uma “atividade consciente da
consciência” (The Master Speaks, p. 224)

Até mesmo o mais alto nível desse tipo de prática é contra o ensinamento do
Cristo. O ensinamento do Cristo é não cuidar de sua vida, de seu suprimento ou
de seu vestuário. Jesus dá uma longa lista do que não pedir, diz por que a
encerra com esta promessa: “Mas vosso Pai sabe que haveis mister delas... [e]
porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.”2 Logo, ir para Deus com algum
problema finito seria ir contra os ensinamentos do Mestre.

2. Lucas 12:30,32.

Em Lucas, Jesus também disse: “E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar
um côvado à sua estatura?”3 Quando você se sentar para “pensar” a fim de
acrescentar alguma coisa a seu suprimento ou à sua saúde, você falhará. Além
do mais, a Bíblia declara: “Porque os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos.”4 E, no entanto,
pense em todos os metafísicos do mundo que acreditam que, se eles apenas
pensarem direito — mantiverem ou enviarem o pensamento certo —, este fará
qualquer coisa por eles ou por seus pacientes, embora ao praticarem esta
doutrina de “pensamento certo” estejam violando o próprio ensinamento que
alegam estar seguindo.
3. Lucas 12:25.

4. Isaías 55:8.

A transferência de pensamento de um indivíduo para outro é a atividade da


mente humana. Embora isso muitas vezes resulte no que chamamos de cura ou
melhora, na melhor das hipóteses, algumas vezes, isto é temporário, porque se
o prático mental tem sucesso hoje, ele precisa trabalhar duas vezes mais na
semana seguinte. Qual pode ser o fim de toda esta prática mental senão uma
dor de cabeça! As pessoas que se tornam adeptas do trabalho mental começam
a ficar constrangidas porque estão trabalhando sob pressão — pressão mental.
Alguns de vocês podem ter observado a reação dos que dão ou recebem
tratamentos mentais; vocês podem ter visto práticos que executaram seu
trabalho sob terrível pressão mental e testemunhado a confusão que isso
acarretou.

Durante meus dezesseis anos na prática da Ciência Cristã, observei que a


prática mental era ali tão predominante como em outros movimentos metafísicos.
Na realidade, há exatamente tanta autoridade nos escritos da Sra. Eddy para a
prática mental como para a prática espiritual. Ambas as coisas são ensinadas e
podem ser facilmente encontradas em seus escritos, e qualquer pessoa pode
fazer a sua escolha, dependendo de qual ensinamento a atrai mais. Embora eu
nunca tenha sido capaz de fazer concessões à prática mental, tenho visto os
resultados dos que se deixaram submeter ao tratamento mental de outra pessoa,
tornando-os “apreensivos”, dominando-os e às vezes quase controlando-os.

Os que trabalham sem esse processo ativo de contínua formulação de


pensamento, permanecem relaxados. Em lugar de tentarem ser uma força ou
poder, apenas se tornam o veículo através do qual o Espírito trabalha; e,
portanto, raramente há qualquer nervosismo ou irritabilidade, porque o Espírito
está sempre renovando e reconstruindo. O Espírito está fazendo o trabalho e
não “formulando pensamentos”.

Sob o domínio do Espírito, dessa mente que estava em Cristo Jesus, seria
impossível a quem quer que fosse violar sua integridade espiritual. Ninguém
poderia enganar, fraudar ou ser infiel em seu dever para com um paciente,
porque o Espírito não lhe permitiria — Ele não lhe daria tal pensamento ou
impulso. Além disso, quando um prático fica sob o domínio dessa mente que
também estava em Cristo Jesus, ele cura sem esforço mental ou pessoal, quer
o paciente esteja acordado ou dormindo — e até mesmo quando o prático está
dormindo.

Quando uma pessoa está trabalhando mentalmente, ela tem a escolha de ser
boa ou má, sem que haja um poder controlador para impedi-la de fazer o que ela
quer, exceto o seu próprio bom-senso. Isso não significa que os que trabalham
com base nessa linha mentalista sejam pessoas más; contudo, se são boas, isso
ocorre exatamente por serem boas, não porque ficaram sob a influência daquela
mente que estava em Cristo Jesus, que não lhes permitiria serem não menos do
que Deus em ação.

Não há Causa Mental Para a Doença


Quantas vezes você soube de alguém que estava convencido de que tinha
artrite, ou câncer, ou tuberculose e que depois foi curado tão depressa que mais
tarde convenceu-se de que não poderia ter tido uma doença tão séria?
Provavelmente, a doença não existia, mas o ponto a ressaltar é: suponhamos
que um prático aceite o diagnóstico como este lhe foi apresentado e comece a
trabalhar no caso. Nove vezes em dez ele estaria trabalhando para curar a
doença errada. Ainda que seu paciente lhe trouxesse o diagnóstico de um
médico, este ainda poderia estar cinquenta e cinco por cento errado. Em seu
próprio levantamento, o Massachusetts General Hospital ficou sabendo que
apenas quarenta e cinco por cento dos diagnósticos feitos no próprio hospital
estavam corretos, e isto até mesmo com radiografias, exames de sangue,
exames de urina e todos os outros testes criados pela medicina moderna.

Você pode notar que, mesmo que um prático recebesse o diagnóstico médico
de um caso, este tanto poderia estar certo como errado; e se ele não tivesse o
diagnóstico médico e aceitasse apenas a palavra do seu paciente, ele poderia
estar entre setenta e cinco a noventa por cento errado. Portanto, qual a eficácia
de um tratamento aplicado a um caso específico? Se o paciente ficar curado,
isso poderia ter acontecido mesmo sem o tratamento.

Além disso, visto que a doença é irreal, e desde que se acredite que ela não
pode ser verdadeiramente localizada, toda essa manipulação mental — essa
sondagem para encontrar uma causa mental correspondente a um estado ou
doença — é falta de bom-senso. Em toda a minha vida nunca encontrei alguém
com ódio suficiente para causar algo tão violento quanto o câncer; ou com luxúria
suficiente para causar definhamento ou tuberculose. Uma pessoa com tanto ódio
ou luxúria assim, estaria trancada num hospício. As pessoas não são assim tão
más — deve haver outra razão para isso.

Há algum tempo, li um artigo sobre uma mulher com pés chatos. Um prático, ao
analisar seu pensamento, descobriu que ela sentira tanta tristeza pela morte de
um filho na guerra a ponto de haver perdido a lucidez. Resultado: pés chatos.
Outra mulher tinha pé-de-atleta e não podia ser curada. Ao examiná-la, um
prático descobriu que ela desejava apenas mais afeto humano. Meu comentário
na ocasião foi que, se aquilo era verdadeiro, os práticos iriam ficar muito
ocupados com pés-de-atleta, desde que há tão grande carência de afeto no
mundo.

Se houve ocasião em que alguma cura foi realizada através de tratamentos de


causas mentais, podem acreditar que foram curas de “crença”; uma crença na
cura de doença causada pela crença numa causa e numa cura, uma crença
agindo sob influência de outra crença. Li o Nova Testamento até desgastar o
livro, e em nenhum lugar encontrei qualquer palavra de Jesus acerca do ódio,
luxúria ou desejo de afeição como causadores de doença. Pelo contrário, ele
disse que nem mesmo o pecado faria com que o homem nascesse cego.

Chocou-me saber que o erro não é o resultado do pensamento de uma pessoa,


porque sempre me foi ensinado que o mal é causado pelo pensamento errado,
porém descobri, no primeiro ano de minha prática, que isso não é verdade. Como
poderia um bebê sofrer porque seus pais tiveram pensamentos iníquos? Não,
ele sofre por causa de crenças comuns a todos, as quais seus pais não sabem
como abandonar. As pessoas não contraem resfriados, gripes ou pólio nos seus
surtos por causa de seu modo de pensar errôneo: essa é uma crença universal
que elas não sabem como combater, e se elas se aferram a esse negócio de
Deus-é-amor, sem saberem como enfrentar aquelas crenças, ficarão tão
extremamente deslocadas como se nunca tivessem descoberto que Deus é
amor.

A fragilidade da prática metafísica está no fato de que a maioria dos metafísicos


gosta de falar no quanto Deus é maravilhoso, mas detesta dizer a qualquer
pessoa o que fazer quanto à manifestação do pecado e da doença. Haveria
alguém no mundo que sentisse luxúria, animalidade, medo ou ansiedade se
soubesse como evitar isso? Há uma lei de Deus que anula isso, mas você
precisa saber que lei é essa. Dizer apenas “Deus é amor” não anula nada, já que
temos muito disso no mundo — até mesmo entre as pessoas que têm a certeza
de que Deus é amor.

Nunca se esqueça que toda circunstância prejudicial à sua vida pode ser evitada.
Ninguém é vítima de alguma coisa, senão pela ignorância das leis da vida. Deus
nunca teve a intenção de que alguém sofresse de decrepitude; Deus nunca teve
a intenção de que existissem aleijados, alcoólatras ou viciados em drogas, e não
há razão no mundo pela qual eles existam, exceto que o mundo jamais aprendeu
a enfrentar estes problemas, fazendo com que eles deixem de fazer parte do
modo de pensar da humanidade.

O mal não existe como algo criado por Deus. Deus não pune as pessoas, ainda
que a antiga lei hebraica ensinasse que os pecados dos pais recairiam sobre os
filhos. Mas quando os hebreus viram como essa lei era injusta, eles a repeliram
duzentos anos mais tarde: “...eles nunca mais dirão, os pais comeram uvas
verdes e os dentes dos filhos se embotaram”.5 Sim, eles aprenderam há três ou
quatro mil anos a não aceitarem uma idéia tão cruel como essa, de que os
pecados dos pais recaem sobre os filhos, e certamente deveríamos estar pelo
menos tão adiantados como eles. Mesmo assim, aceitamos as leis da
hereditariedade, que nos vinculam à crença de que as doenças dos pais recaem
sobre os filhos, netos e tataranetos. Precisamos nos elevar mais alto que isso,
começando por entender que existe uma lei de Deus agindo no ser individual e
coletivo, em indivíduos, em grupos, nas raças e nações.
5. Jeremias 31:29.

Pensamento não é Poder


Existe uma lei de Deus, mas temos de começar a pô-la em prática,
primeiramente abandonando nossas crenças egoístas de que qualquer
pensamento que possamos ter é um poder, ou que tomando uma afirmação e
fazendo-a penetrar em nossa mente, faremos afinal com que ela se torne
verdade. Talvez ela se torne verdade. Mas isso é trabalho árduo; não é
permanente nem espiritual; e, além disso, permite que outros dominem nossos
pensamentos, e também nos tira a compreensão do único Poder que existe, que
é Deus, cujo reino está dentro de nós.

Repetir que duas vezes dois são quatro não fará com que seja assim, uma vez
que isso apenas nos ajuda a lembrar que é assim.

A repetição de uma afirmação ajudará a nos impressionar com a sua verdade,


mas seria muito melhor ouvir ou ler uma verdade, e, melhor ainda, ter a Verdade
revelada no íntimo de nosso ser e deixar que ela entre em ação, já que Verdade
é realmente um sinônimo de Deus. Por que depender da manipulação da
Verdade? Por que não deixar a Verdade fazer isso por si só?

Quantas pessoas acreditam, realmente, que existe um Deus? Ó, sim, elas


aceitam Deus e falam a Seu respeito. Mas quantos dos que dizem acreditar em
Deus ao mesmo tempo se agarram a um remédio ou a um pensamento? Nem o
remédio nem o pensamento podem ser Deus. Deus não é pensamento.
Pensamento não é poder-de-Deus: Pensamento é uma via de percepção. Esta
é uma afirmação que você deveria memorizar, não para torná-la verdadeira; mas
se você alguma vez se sentir tentado a manipular pensamentos, lembre-se desta
afirmação e compreenderá nitidamente que nenhum pensamento é poder.

Quando entendi a verdade de que pensamento não é poder, mas apenas uma
via de percepção, fiquei espantado por um momento. Depois percebi que,
através de meu pensamento — através da via do pensamento — eu podia
conscientizar-me das pessoas ao meu redor e saber se estavam vestidas de
marrom, de verde ou de preto, porém nenhum pensamento meu podia mudar o
marrom para verde, nem o verde para preto. Nem meu pensamento, nem todo o
pensamento do mundo poderia mudar isso. Daí por diante, o pensamento tornou-
se para mim uma via de percepção.

Através do pensamento você pode conscientizar-se da grande verdade de que


você é o Cristo de Deus. Eis o que você é e tem sido desde o início dos tempos.
Isso sempre foi verdade: “Em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse,
eu sou”6 — e o pensamento de ninguém pode tornar isso verdadeiro. Isso é
verdadeiro porque é uma lei de Deus: “E eis que eu estou convosco todos os
dias”7 — mesmo até o fim dessa crença humana nas coisas. Esse Eu estará
com você e esse Eu é o Cristo, a mente que estava em Cristo Jesus, a Alma ou
Espírito de Deus.
6. João 8:58.

7. Mateus 28:20.
Uma parcela mínima do Cristo faz milagres quando deixada a agir sem
manipulação mental, sem o desejo mental de lançar-se em busca da
consciência, nem da mente, ou do pensamento do indivíduo que está procurando
ajuda. Quantas vezes você teve a experiência de estar no consultório de um
prático de consciência espiritual altamente desenvolvida e sentir algum efeito
benéfico, uma sensação de elevação ou de paz? Mas você acredita que é
necessário estar na mesma sala ou na presença real do prático para ter essa
experiência? O corpo ou o cérebro tem alguma coisa a ver com isso? Não, você
poderia estar sentado em sua casa, na China, e receber o mesmo impulso divino
de qualquer indivíduo em quem a mente do Cristo estivesse em supremacia
mesmo que de forma pequena.

A Avaliação da Mente que Estava


em Cristo Jesus
Precisamos ir além da ciência da mente e da cura mental, precisamos chegar
àquele lugar onde trabalhamos de acordo com a revelação ou ensinamento do
Cristo Jesus. Jesus viveu “não por força nem por violência, mas pelo meu
espírito”.8 Existe maneira melhor de curar do que essa, ou qualquer maneira que
deixe seu paciente mais livre para agir normalmente, sem a influência indevida
de outros seres humanos? “Não pelo poder, nem pela força, mas pelo meu
espírito”, por Meu Espírito, o Espírito de Deus, por aquela mente que também
estava no Cristo Jesus, que é não só a mente do Cristo, mas a sua mente, a
minha mente.

8. Zacarias 4:6.

A mente que estava em Cristo Jesus está tão disponível para você, hoje, como
se Jesus estivesse sentado nesta sala. Se você não acredita que isso seja
verdadeiro, tente esta experiência: alguma vez, quando você estiver se sentindo
cansado ou doente e tiver a oportunidade de ficar só, feche os olhos e pergunte
a si mesmo se a mente que estava em Cristo Jesus estava dentro do cérebro ou
do corpo dele, ou se ele estava declarando uma verdade profunda quando disse:
“Antes que Abraão existisse eu sou.9 ...E eis que eu estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos.10 ...Porque se eu não for, o Consolador
não virá a vós.”11

9. João 8:58.

10. Mateus 28:20.

11. João 16:7.

Se você acreditar que essas palavras são a verdade, você se aquietará com este
pensamento: “muito bem! Mente de Cristo Jesus, Pai interior, o Cristo! Enquanto
estiverdes comigo, posso recostar-me e descansar em paz!” Então descanse
nessa paz e veja se não sente uma cura instantânea sem “recorrer à formulação
de pensamento”.

De início você pode não estar curado de seus problemas mais sérios, porque a
maioria de nós ainda está naquele lugar onde poderíamos não ser capazes de
aceitar tais curas sem pensar que presenciamos um “milagre”. Mas comece de
maneira simples com problemas menores. Descanse na mente que estava em
Cristo Jesus e veja se ela não está tão disponível para você aqui e agora como
se Jesus estivesse na sala.

Não importando onde o prático esteja, você não vai procurá-lo como uma
pessoa, mas como a mente que estava em Cristo Jesus, que é a mente do
prático. Você jamais deve limitar-se à mente humana de qualquer pessoa. A
mente do Cristo Jesus compreendida é a mente de você e de mim, ao alcance
de todos, esteja próxima ou distante. Esse é o segredo de viver na consciência
de Cristo, o segredo do Caminho Infinito. A declaração de Paulo “E vivo, não
mais eu, mas Cristo vive em mim”,12 é verdadeira, e cada vez que alguém busca
uma pessoa que tenha compreendido a consciência de Cristo, ele está buscando
o Cristo, que está vivendo através dessa pessoa e como essa pessoa.
12. Gálatas 2:20.

Seja grato pelo fato de que toda verdade é uma verdade universal, não apenas
a respeito de Jesus Cristo, mas também a respeito de todos os que no mundo
abrem sua consciência e aceitam essa verdade — aceitam-na não sobre um ser
humano, porque um ser humano é limitado por sua mente humana, educada, ou
por sua experiência, personalidade e nascimento, mas a aceitam a respeito de
qualquer indivíduo que abrir sua consciência e reconhecer: “Sim, qualquer coisa
que foi verdadeira para Moisés, Elias, Eliseu, Jesus, João, ou Paulo, é
verdadeira para mim. Do contrário, não seria verdadeira, mas apenas teria um
significado pessoal.”

Por isso, se você quer ter essa mente que estava em Cristo Jesus
continuamente, abra a sua consciência. Você não precisa exercer um poder
mental; você não tem de dirigir o seu pensamento a uma certa parte do corpo,
nem a uma certa causa da doença ou para qualquer pessoa, porque o erro não
está no corpo ou no pensamento de quem quer que seja.

No minuto em que você começa a perceber que a mente que estava no Cristo
Jesus é a sua mente, desse momento em diante ela está fazendo alguma coisa
para o seu corpo, os seus negócios, a sua renda e seus relacionamentos
humanos. Isso pode parecer lento, no começo, salvo se você vivenciar uma
inclusa luz tal como Saulo quando ele se tornou Paulo. Nesse caso, isso poderia
acontecer rapidamente; porém, mesmo com Saulo, isso levou nove anos depois
de ele ter tido sua grande experiência antes de tornar-se Paulo e sair em sua
primeira missão. Levou todo esse tempo para que a verdade fosse absorvida, se
desenrolasse e surgisse.

Assim é conosco. Algumas vezes captamos uma inclusa luz, mas podemos não
compreender todo o seu significado até algum tempo depois. Percebi isso nos
primeiros dias de minha prática de cura quando estava enviando uma carta
semanal. Apesar de saber da verdade que havia escrito, foi apenas relendo
essas cartas dois anos mais tarde que compreendi certas declarações e senti
uma convicção interior, ou a compreensão delas.

Você pode constatar que esta é também a sua experiência, porque muitas
verdades com as quais hoje você concorda intelectualmente só poderão
enraizar-se em você um ou dois anos, a partir de agora. Muitas vezes leva tempo
para ascender do nível do sentido egoísta para uma consciência mais elevada.
Se você estivesse em um ponto suficientemente alto de consciência espiritual, o
que leu até agora neste livro teria elevado você até o céu? Mas o fato é que uma
declaração é enraizada numa pessoa aqui, e alguma outra declaração em outra
pessoa lá. Essas palavras estão vindo através do Espírito, mas é necessário um
grau de percepção espiritual para ser capaz de digeri-las e apreendê-las.
Frequentemente constato que muitas declarações que fiz em ocasiões diferentes
me surpreendem quando as ouço de novo e me pergunto onde as arranjei.

Como Viver no “Meu Reino”


Uma declaração de Jesus: “O meu reino não é deste mundo”13 tem sido a minha
vida, o meu sangue, os meus ossos há muitos anos. Depois que foi dito que o
“Meu reino não é deste mundo”, o que você pensaria de mim, se eu começasse
a fazer algum trabalho mental para garantir o aluguel do próximo mês? O que
você pensaria de uma pessoa que, depois de lhe terem dito que o reino de Cristo
nada tem a ver com este mundo, saísse por aí preocupando-se em ser casada
ou solteira? Se essas coisas não são uma parte deste mundo, eu não sei quais
serão! É verdade que, em certo sentido, sempre estamos no mundo, mas não
porque temos qualquer preocupação com ele: deixamos que ele se manifeste —
suas pessoas e coisas — e se torne uma parte de nosso ser, de um modo
normal, e natural.

13. João 18:36.

Para dar um exemplo: você está lendo este livro e, no entanto, talvez na própria
sala em que você está sentado, existe um rádio ou uma televisão, apenas
esperando o virar de um botão para levar-lhe todas as formas de entretenimento
— comédia leve ou drama sentimental, rock and roll ou sinfonia. Mas você está
lendo um livro sobre a vida espiritual! Pergunte a dezenas ou a milhares de
pessoas se alguma coisa no mundo poderia ser mais maçante, sem graça ou
desinteressante do que tal leitura.
Então por que você gosta dela? Por que você passa seu tempo fazendo isso?
Porque você já está vivendo em um mundo diferente do mundo habitual da
maioria das pessoas, e não foi necessário que você morresse para chegar lá.
Uma citação espiritual, um pensamento espiritual lhe dão mais prazer do que o
filme de cinema mais espetacular. Por quê? Porque você já não está mais em
um mundo onde isso é a medida do seu prazer. Você deixou esse mundo — não
através do ato de morrer ou de fazer qualquer coisa ridícula como parar de comer
ou abolir o uso de roupas, nem através de atitudes excêntricas. E, no entanto,
você deixou este mundo.

Vejamos um outro exemplo: quantas novelas policiais e de terror, de preço


ínfimo, você imagina que são vendidas hoje em nosso país? E, no entanto, você
aqui está: em vez de pagar um preço baixo por uma daquelas novelas, você
compra este livro, muito mais caro! O que há de errado com você? Nada! Você
está simplesmente vivendo em um mundo diferente. Você deixou aquele outro
mundo.

Outra coisa: quantas pessoas acreditam, verdadeiramente, que não podem viver
de maneira honesta, sem usar de tapeação, de fraude ou de influência política?
Entretanto, você aprendeu que há um princípio que age no seu interior e que lhe
permite viver plenamente de acordo com a lei de Cristo Jesus, com a lei
estabelecida no preceito áureo do Evangelho, e você pode adotar para si um
princípio como este, a ser provido com abundância — e repito, com abundância
— se você quiser fazer um esforço para se beneficiar dele.

Isso é o que quero dizer com a expressão “viver em um outro mundo”. Existem
os que nunca poderiam concordar que a inventiva humana, a força física, a
compulsão mental e o capital ilimitado não são necessários. Mas você sabe que,
pela aplicação de princípios espirituais, você pode viver uma vida normal e
harmoniosa, atraindo para si tudo que faz parte de sua totalidade. Você pode
vivenciar essa plenitude, não através de afirmações, mas compreendendo:

Minha união com Deus constitui a minha união com cada idéia espiritual, e essa
idéia espiritual se expressará como lar, amigo, discípulo, paciente, livro, ou
mestre — qualquer coisa da qual eu tenha necessidade.

Você não tem de sair por aí demonstrando coisas. Você precisa apenas
demonstrar sua unidade com Deus, abrindo sua consciência para essa verdade,
aceitando-a e deixando que ela se torne parte de sua consciência. Depois, essa
verdade faz o trabalho.

No momento em que você começar a se preocupar com qualquer coisa que no


mundo possa ser conhecida através das sensações físicas, você estará se
preocupando com este mundo e o “Meu reino não é deste mundo”. Ao lidar com
os problemas de sua vida pessoal, você estará pensando numa atividade, em
negócios, no suprimento, na companhia ou no casamento adequados — e
durante todo o tempo estaria pensando num lugar determinado onde isso poderia
ocorrer. Embora, nesse exato momento, a demonstração de tudo isso pudesse
estar na África; no entanto, ao pensar em como e de que maneira você gostaria
que sua vida se desenrolasse, você dirigiu todo o seu pensamento para o lugar
onde essa realização se encontra, pois a África talvez nem tenha passado pela
sua imaginação.

Se, entretanto, em vez de ficar se preocupando com algo que se relacione com
uma pessoa, lugar ou coisa, seu trabalho todo tiver sido para a compreensão
consciente da mente que também estava em Cristo Jesus, então é possível que
ouça isso ser proclamado em seu interior, ou é possível que receba uma carta
dizendo-lhe que estava esperando por você na África, na China, ou em qualquer
outro lugar.

Em outras palavras, é um pecado limitar. É um pecado impor qualquer espécie


de limitação mental à sua manifestação. Como você sabe onde vai ser, quando
ou com quem? Se há um Deus governando o Seu próprio universo, como
podemos, você e eu, ter a presunção de limitar ou de delinear essa
manifestação? A verdade é que não temos o direito de limitar. Temos apenas o
direito de cumprir o princípio da vida espiritual que é não estar apreensivo pela
nossa vida.

O Corpo é Vida Formada


A campainha do telefone soa e uma voz grita: “Trabalho para viver; eu estou
morrendo” — mas a Bíblia diz: “Não estejais apreensivos pela vossa vida.”14
Portanto, minha resposta ao chamado é: “Sim, eu trabalharei para realizar Deus.”
— A vida é um sinônimo de Deus. Você não vê que se fizer qualquer trabalho
mental pela vida, provavelmente estará pensando em termos de vida como o
oposto de morte; mas, já que Deus é apenas vida, a vida não tem um oposto?
14. Lucas 12:22.

Um prático disse certa vez a um paciente: “Não há vida em seu corpo”; mas o
paciente, naturalmente, queria manifestar a vida mais abundantemente, senão
dentro dele, pelo menos como um corpo. Muitos de nós estamos tentando nos
livrar de nosso corpo, negando-o. Você pode visualizar o que pareceríamos sem
um corpo? Não negue o corpo nem o jogue fora; é muito bom possuí-lo. Você
tem um corpo e Deus o deu a você — não os seus pais. Nenhum de vocês que
seja pai ou mãe sabe o suficiente para fazer um corpo. Deus forma o corpo, não
os pais, ou como eu disse numa ocasião a uma mãe: “Na melhor das hipóteses,
você foi o forno no qual foi feito o seu filho.”

Deus é Espírito e Se expressa de um modo infinito e individual, e tem Sua própria


maneira de produzir Sua imagem e semelhança. Isto que vemos é apenas o
nosso conceito de uma atividade divina. A ascendência humana, ou a assim
chamada criação, não é espiritual; não é de Deus. Se o fosse, todos seriam bem
proporcionados e normais, e não existiriam crianças doentes ou deformadas.
Somente porque deixamos Deus fora disso é que temos tais condições.

A maioria das pessoas considera a experiência do nascimento humano como se


fosse apenas um ato animal. Essa é uma interpretação falsa. O nascimento não
é animal: em si próprio, é divino e maravilhoso. Nós é que o tornamos algo de
natureza animal. Precisamos aprender a reinterpretá-lo, e quando aprendermos
a fazer isso, haverá mais casamentos felizes e menos divórcios.

A única razão para o divórcio é que um homem e uma mulher se vêem apenas
como homem e mulher. É uma coisa difícil para um homem e uma mulher
viverem juntos por muitos anos, salvo se houver um terreno comum de encontro
e, o que é mais importante ainda, uma ligação espiritual. Se ao menos, muito
antes do casamento, eles pudessem compreender que não estão buscando um
casamento, um lar ou uma companhia, mas estão realmente procurando a
presença de Deus em forma visível, haveria mais casamentos felizes e cada
criança nascida dessa união seria, então, Deus manifesto.

Imortalidade, não Longevidade


Assim, chegamos à seguinte questão: Qual o motivo do seu estudo? Disso
depende o futuro de vocês neste trabalho. Não quero dizer que aqueles de vocês
que não compreenderem o que estou dizendo não devam voltar ao nível mental.
Se for necessário, é o que terão de fazer, até serem capazes de atingir o nível
espiritual. Mas, para aqueles de vocês que vislumbrarem um lampejo do
significado da vida espiritual, todo o seu futuro irá depender de poderem ou não
se decidir a procurar apenas a consciência da presença de Deus e ficarem
satisfeitos em deixar que as demais coisas lhes venham por acréscimo. A
extensão em que forem capazes de fazer isso será a medida da sua
demonstração.

O motivo para este estudo é apenas converter doença em saúde, solidão em


companhia, desamparo em lar? Ou vocês estão prontos, neste momento, para
cessar de se preocupar com coisas deste mundo, que não pertencem ao reino
espiritual, e rezar honestamente:

Tudo o que eu quero é o reino de Deus na Terra. Tudo o que eu desejo é o reino
de Deus em minha experiência individual, o governo de Deus em meus afazeres
individuais.

Quando atingimos esse ponto, estamos procurando o reino de Deus e sua


integridade; não o nosso senso de integridade — mais dinheiro, mais companhia,
mais saúde — mas a Sua integridade, o sentido espiritual do bem. Se
entendêssemos o sentido espiritual de suprimento, constataríamos que ele é
muito diferente do que julgamos ser atualmente, da mesma forma que o sentido
espiritual de saúde é muito diferente daquele do padrão humano que define
sessenta ou setenta anos como o período normal de vida. Mas a Sua integridade
— o Seu padrão de suprimento, o Seu padrão de saúde — nos permitirá viver
abundantemente na Terra por quanto tempo desejarmos ou até que nos
sintamos solitários pela falta daqueles que se foram antes de nós.

Existem pessoas vivendo atualmente na Terra que, dizem, têm duzentos anos
de idade, inclusive um homem que teria seiscentos anos. Essas idades
avançadas são possíveis se o desejo de vida as manifestar através do sentido
espiritual de Deus, de saúde e de imortalidade — não apenas pelo sentido físico
de saúde, vida ou longevidade.

Acaso a imortalidade é apenas viver um longo período? Apenas longevidade?


Não: imortalidade é vida eterna sem começo nem fim. Nenhum daqueles que
buscam o espírito acreditaria que sua consciência pode chegar a um fim, embora
ele creia que é inevitável que seu corpo desapareça. Mas esse é um pensamento
que deve ser corrigido imediatamente. Seu corpo não desaparece nem
envelhece, a menos que você o permita. É você quem precisa tomar a decisão
consciente de que a vida é eterna e de que seu corpo, o templo do Deus vivo,
está sob a jurisdição dessa vida.

Já que a vida é eterna e a vida é consciência, como pode a consciência estar


morta? A continuidade da vida pode ser compreendida quando você percebe
que, através da sua própria consciência de ser, você existiu e existirá
eternamente. Em sua iluminação interior, você pode continuar existindo sem
esse momento de passagem, sem essa transferência, que o mundo chama de
morte, mas que é apenas transição. Quando você consegue efetuar a transição
para fora do mundo das crenças mortais, você realizou a transição “deste
mundo” para o mundo da realidade espiritual no qual você vive sem apreensão.

Como Viver Pelo “Meu Espírito”


Não deixe ninguém acreditar que viver sem preocupações tem alguma coisa a
ver com assumir um vazio mental. Pelo contrário, no momento em que você
aprende a viver sem cuidados, você será a pessoa mentalmente mais ativa da
comunidade, porque então você não é mais governado pelo sentido limitado do
que é a mente. A mente que estava em Cristo Jesus começa a funcionar como
você: se você quer escrever, será um escritor; se quer pintar, será um pintor,
porque não haverá mais limitação.

Você não assume um vazio mental e não vive em um vácuo, mas está tão
animado por essa consciência espiritual que, mesmo quando está dormindo,
está pensando. Você não está apreensivo, o que é uma coisa bem diferente,
mas está recebendo impulsos divinos através da mente, sua via de percepção,
e está sempre consciente de uma experiência que se expande de modo infinito.
Nunca acredite que viver sem apreensão conduzirá à ociosidade de qualquer
espécie. Pelo contrário, isso traz à vida tal atividade, que o admirável é que você,
mesmo assim, possa dormir. Não há fim para a atividade que se manifesta na
pessoa cujo ser está animado pela mente de Cristo. Quando essa mente de
Cristo se apossa de sua experiência, pensamentos criativos e inspiradores, os
pensamentos de Deus — os pensamentos de Deus extravasando-se como
homem — estão fluindo através de você, em lugar de você estar buscando em
seu cérebro velhos pensamentos ou verdades frias.

E o que é uma verdade fria? Uma verdade fria é algo que você recorda como
uma citação, alguma coisa que lhe vem do armazém da memória. Quando um
pensamento chega a essa consciência que é receptiva e aberta, ela surge como
uma verdade quente, uma verdade viva, e traz em si a cura, ou traz em si novas
idéias. Isso é o que acontece quando recebemos uma comunicação direta da
Consciência divina.

Uma pessoa pode procurar em todos os velhos livros de eras passadas — e


essas verdades remontam realmente a longo tempo — mas as verdades
encontradas neles não terão valor até que encontrem acolhida em uma
consciência aberta, quando então se tornam vivas. Portanto, o aspecto mais
importante deste ensinamento é não oferecer conhecimento ou dar declarações
de verdade, porque cada declaração que estou fazendo a você agora já era
conhecida através dos tempos.

O verdadeiro valor deste ensinamento é desenvolver em você um estado de


receptividade espiritual, de modo que possa ser receptivo à mente de Cristo;
abrir sua consciência para que você possa receber estas verdades; abrir sua
consciência ao influxo do Cristo, de modo que sua consciência aberta se torne o
Cristo vivo e, dessa forma, a luz do mundo.

Muitas pessoas acreditam que em breve haverá uma outra vinda do Cristo, mas
estou convencido de que eu e você somos essa vinda, na proporção em que o
Cristo é despertado em nós. Cada um de nós está agora chegando a esse estado
de consciência onde podemos aceitar a declaração de Jesus de que o
Consolador virá a nós quando cessarmos de confiar nas pessoas e nas formas
e meios humanos. Quando você pode abrir sua consciência para o Cristo total
infinito, então Cristo, o Cristo da segunda vinda, virá para você e para mim.
Todavia, não posso acreditar, nem por um minuto, que uma segunda vinda do
Cristo será vivenciada pela pessoa que não empregou seu tempo em aprender
a conhecer o Cristo.

Precisamos vivenciar o Cristo, não por ouvir dizer, mas por demonstração real,
por contato real. Alguns discípulos sabem que essa experiência é possível e, ao
trabalhar com pessoas de pensamento receptivo, observei que posso elevá-las
até onde elas podem ter a mesma visão que tenho — não através da
transferência de pensamento, mas através de seu próprio desenvolvimento
individual. Eles ouviram “a pequena voz silenciosa” e receberam revelações,
através do desenvolvimento de sua capacidade de meditar.

Veja a presença de Deus abrir sua consciência para o influxo do bem. Não pense
na forma como ele aparecerá, através de quem ou com quem, ou onde ou
quando. Abra sua consciência para Deus e deixe que Ele se torne evidente ou
manifesto — não com trabalho mental, não por repetição ou afirmação, “não pelo
prestígio, nem pelo poder, mas por meu espírito”.
CAPÍTULO 4

A Natureza do Erro
Deus é tudo, mas, mesmo assim, todos os dias e quase todas as horas,
deparamos de algum modo com o erro, e para que estejamos livres desses erros
é necessário que compreendamos a natureza do erro. Por fim, em nossa
meditação, nós nos tornaremos tão conscientemente um com Deus que o erro
jamais chegará perto de nós; ele desaparecerá, automaticamente, ainda que nos
aproximemos dele. Entretanto, até esse momento não hesitemos nem temamos
falar sobre a natureza do erro e sobre o que fazer a seu respeito quando virmos
suas evidências.

Todas as pessoas, não importando qual o ramo da metafísica que tenham


estudado, aceitaram, ainda que apenas intelectualmente, a natureza artificial do
erro. Por isso, na solução de problemas, é necessário obter tanto entendimento
quanto possível da natureza artificial do erro, de modo que ele possa ser
enfrentado e dissolvido instantaneamente.

O Erro Nunca é Uma Pessoa, Lugar,


Coisa ou Circunstância
Sempre que o erro nos aparece, é como uma pessoa, um lugar, uma coisa ou
uma circunstância. Pode aparecer como doença, isto é, como alguma espécie
de circunstância localizada, e é isso que nos faz de tolos. Pomo-nos a trabalhar
com essa circunstância e, dessa forma, tornamo-la uma realidade. O erro nunca
aparece como erro: ele sempre aparece sob alguma forma que fará o descuidado
cair na armadilha. Se o erro sempre aparecesse como erro, todos estaríamos
livres. Se ele apenas nos dissesse “roube um anel de diamante”, ou “cometa
adultério”, estaríamos seguros quanto a ele, porque jamais sucumbiríamos a
essas tentações. Mas o erro nunca surge dessa maneira. Ele sempre aparece
como um diamante brilhante que nos atrai, como um homem forte e de boa
aparência, ou como uma mulher bonita e atraente que nos tenta. E não
compreendemos que essa forma aparentemente desejável é um erro. Tudo
quanto vemos é a forma bonita que o erro assumiu, o que o erro parece ser, o
modo como esse erro aparece.

Entretanto, o metafisico que é sábio e está alerta não só reconhecerá que o erro
sempre aparece como pessoa, lugar, coisa ou circunstância, como também que
o bem aparece como pessoa, lugar, coisa ou circunstância; e cada vez que ele
vê qualquer forma de bem — uma boa pessoa generosa, bondosa ou filantrópica
— ele reconhece instantaneamente: “Trata-se de Deus. Estas são as qualidades
de Deus que aparecem na pessoa ou através dela.” Se o metafísico é capaz de
reinterpretar ou traduzir até mesmo as boas formas, ele não se deixará enredar
pela personalidade. Ele não estará tão ligado a qualquer pessoa que a perda
desta possa deixá-lo quase maluco, ou que a perda das boas graças por parte
de qualquer pessoa possa desapontá-lo a ponto de deixá-lo com o coração
partido.

Mesmo quando apreciamos uma boa pessoa, precisamos olhar por trás da forma
e reconhecer que se trata de Deus aparecendo como alguma forma de bem.
Trata-se realmente da expressão da presença do Amor. Não expressamos isto
verbalmente, mas essa é a consciência em que precisamos viver.

Quando olho para uma platéia, sei que tudo o que realmente está lá é Deus,
porém Deus aparecendo como pessoas, Deus aparecendo como cooperação,
amor, júbilo, paz e domínio. Tudo isso é Deus aparecendo como — Deus
aparecendo como pessoa, como amigo, como mestre, como discípulo; Deus
aparecendo como luz, verdade e amor em todas as Suas formas infinitas e
individuais. Tudo o que de bom nos aparece deve imediatamente ser traduzido
da seguinte maneira: “Eu te reconheço, sei quem tu és. És a própria presença
de Deus aparecendo para mim como bem.”

Mas, por outro lado, precisamos estar alerta quando o erro aparece. O erro não
é uma pessoa. O erro nunca é uma pessoa, e trabalhar com uma pessoa má ou
desagradável é ficar tão envolvido na cena humana que poderemos ter
dificuldade em obter uma cura. Da mesma maneira, o erro nunca é uma pessoa
doente, embora pareça que sim. Portanto, se trabalharmos com a doença ou
com a pessoa, constataremos que nosso trabalho de cura não é satisfatório.

Diante de uma pessoa ou situação maléfica, ou de uma pessoa doente,


precisamos aprender a interpretar essa pessoa ou condição como um erro
impessoal, assim como aprendemos a traduzir a pessoa boa como Deus.

Tome como exemplo a junção em perspectiva dos trilhos do bonde: você vê os


trilhos se juntarem, mas porque sabe que os trilhos do bonde não se juntam, mas
apenas parece que o fazem, você consegue imediatamente identificar essa
aparência como ilusão. Você sabe que não existe tal condição; você sabe que o
que está vendo é apenas uma ilusão de óptica; e assim você consegue,
imediatamente, eliminar qualquer medo acerca da condição errada dos trilhos ou
de qualquer sentido de perigo que pudesse existir.
Todo Erro é Hipnose
Permita-me recordá-lo do exemplo do hipnotizador em um ato cômico, cujo
sujeito foi induzido a acreditar que está sendo seguido por um poodle branco.
Como membro da platéia, você sabe que, se tentasse ajudar o sujeito a livrar-se
do poodle branco, você estaria no mesmo estado de mesmerismo que ele. Mas,
como você não está hipnotizado, sabe que não há lá um poodle branco. A
alegação não é um poodle branco; é hipnotismo. No momento que você souber
disto, o homem está livre. Por que está livre? Porque o erro foi desvendado; ele
foi visto, foi reconhecido, por ser nada. O hipnotismo não pode produzir um
poodle branco. Pode apenas produzir uma aparência ilusória desse tipo de
cachorro.

Assim como o hipnotizador no palco faz o sujeito acreditar na presença de um


poodle branco ou de algum objeto fantástico, do mesmo modo o hipnotismo
“neste mundo” faria com que todos nós acreditássemos e aceitássemos a
aparência de pessoas, lugares, ou circunstâncias maléficas. Mas, se na
realidade existe semelhante situação, esteja seguro de que lá não está Deus.

Nunca acredite que há um poder infinito chamado Amor divino e que, ao mesmo
tempo, existe pecado ou moléstia no mundo. Você não pode ter as duas coisas.
Você tem de fazer a sua escolha. Ou você compreende a existência de um Deus,
um Princípio do universo, ou então combaterá o pecado, a doença e a morte
durante toda a sua vida. Mas quando você vir que Deus é a substância, a lei e a
forma de todos os seres, então terá de acreditar que o pecado, a doença, a
morte, a carência, a limitação, o desemprego e a falta de lar — tudo isso — são
ilusões.

Através dos séculos, o sentido humano construiu o que se pode chamar de


crenças de matéria médica, crenças teológicas e outras crenças materialistas
que se tornaram tão fortes que agem sobre as pessoas mais ou menos da
mesma forma que o hipnotismo age sobre o incauto. Em outras palavras, você
sai ao vento ou se expõe a uma corrente de ar e apanha um resfriado. Por quê?
O vento ou a corrente de ar não podem provocar resfriados. Um médico admitiu,
depois de ter pensado a respeito, que o corpo não sabe se está exposto a céu
aberto, em um quarto hermeticamente fechado, ou se o ar é uma corrente que
vem através de uma janela ou porta. Se o corpo não está consciente disso, ele
tem de contrair um resfriado porque, de certo modo, a mente aceitou essa
espécie de lei.

Mas você pode argumentar que um recém-nascido exposto a uma corrente de


ar pode contrair um resfriado. Isso quer dizer que o recém-nascido tem o
pensamento de um resfriado, ou quer dizer que esse pensamento é tão universal
e poderoso a ponto de ser quase mesmérico, impondo-se ao bebê quase a partir
do momento em que ele nasce, e que dessa forma o bebê se torna vítima daquilo
que nem ao menos conhece.

Por essa razão, neste trabalho, usamos palavras que, embora inadequadas,
estão à altura deste estágio de nosso entendimento, as únicas que conheço que
descrevem a natureza do erro — palavras tais como “hipnotismo”, “mesmerismo”
ou “sugestão”. A partir de agora, quando você vir uma pessoa má ou doente,
eleve depressa seu pensamento para esta verdade: “Não posso ser enganado
por isto. Isto é a aparência; porém, na verdade, nada mais é que uma sugestão
hipnótica, uma sugestão mesmérica, ou uma crença universal que aparece
diante de mim como uma pessoa doente ou má.” Se você puder fazer isso, terá
uma cura instantânea ou, pelo menos, rápida.

Quando, em sua experiência, você encontra o erro — e você o está encontrando


diariamente, seja em seu próprio corpo ou negócio, seja através de seus
pacientes — você poderia muito bem saber o que está encontrando, de modo a
saber como lidar com ele, embora, quando você atinge a unidade com a
consciência de Cristo, você pode estar apto para eliminar de seu pensamento
qualquer conhecimento que possa ter tido da natureza do erro. O conhecimento
da natureza do erro é relativamente sem importância quando você alcança o
ponto onde você é completamente um com aquela mente que também estava
em Cristo Jesus, e pode ser que alguns de vocês estejam, neste momento, em
tão alto nível espiritual que, quando fecham os olhos, vão para o centro do seu
ser, e vêem que são um com Deus, todas as fases do erro e do desentendimento
desaparecem sem que a palavra “erro” jamais ocorra ao seu pensamento.

Você Nunca Trata da Pessoa


Via de regra, porém, quando pela primeira vez me defronto com uma forma de
erro, isto é, quando um paciente escreve ou telefona ou vem ao meu consultório,
tenho constatado que é útil compreender rapidamente que não estou lidando
com uma pessoa ou com uma condição: estou tratando com uma sugestão que
encontrou acolhida em minha consciência e me obrigou a tomar alguma
providência a respeito. Uma vez feito isso, fiz tudo o que é necessário como
tratamento. Depois, posso sentar-me, encontrar minha paz no centro da
consciência de Deus e prosseguir a partir daí.

Mas, a menos que o erro seja de início reconhecido como hipnotismo, é provável
que surja a tentação: “Esta é uma situação bem complicada! Que é que vou fazer
em relação a uma doença séria como esta? O que vou fazer com uma pessoa
que avançou tanto no pecado? E com essa pessoa tão próxima da morte?”

Esta última tentação parece ser particularmente forte quando estão envolvidas
pessoas de idade, porque a tentação do mundo todo é pensar: “Ó, o que é que
você pode esperar!” É nesse momento que é necessário estar alerta para
compreender que no reino de Deus não existe algo como um bebê recém-
nascido ou uma pessoa de idade avançada. Desde o bebê recém-nascido até o
indivíduo mais velho da Terra, na realidade não há nada além da presença de
Deus que aparece a você no tempo e no espaço. Não há nada senão a plenitude
de Deus se expressando, e cada um de nós deve expressar essa plenitude. Tudo
quanto o Pai tem é nosso! “Filho, tu estás sempre comigo, e todas as minhas
coisas são tuas.”1 Isto foi dito a uma pessoa de uma determinada idade? Não,
isso foi dito a você e a mim. Por isso, quando lhe apresentam casos de fetos ou
de crianças recém-nascidas, de pessoas de meia-idade ou velhos, lembre-se de
que você não está lidando com pessoas, lugares ou coisas. Do lado positivo,
você está lidando com Deus, que aparece como um ser individual, e Deus é tanto
Deus aos cem anos de idade como aos dez ou vinte. Do lado negativo, porém,
você está lidando com a aparência, com a mortalidade, com a sugestão de um
ser separado de Deus.
1. Lucas 15:31.

Assim, não se deixe prender na armadilha de tratar uma pessoa ou uma doença,
ou na crença de que você está lidando com pessoas doentes ou pecadoras.
Abandone essa prática errônea e presencie o milagre. Lembre-se: esta é uma
verdade universal, e eia precisa dar provas de si na sua prática.

No reino de Deus não existe o erro e, por isso, é inútil até mesmo tentar
responder por ele. Pelo contrário, admita que esse erro é apenas uma aparência
que vem a você; é apenas uma tentação de acreditar em um ser separado de
Deus. Não faz diferença se você escolhe dizer: “Ó, bem, isto é apenas uma
sugestão”; ou “Isto é hipnotismo sugerindo o que parece ser um poodle branco”;
ou “Isto é uma tentação para crer em um ser separado de Deus”; ou seja lá como
você prefira dizer desde que compreenda a essência desta verdade e entenda
que jamais será chamado para curar uma pessoa doente ou pecadora porque
não existe tal coisa no reino de Deus.

Identificação Certa e Reinterpretação


Nunca esqueça que esta sua vida é Deus, e se ela lhe parece jovem ou velha,
doente ou sadia, boa ou má, isso é apenas Deus aparecendo para você, porém
interpretado de forma incorreta por você, que é quem deve reinterpretar a cena.
De nada adianta sair por aí dizendo: “Ó, eu sei que não existe velhice, doença,
ou mal no Céu; mas o que dizer da Terra?” Céu e Terra não são dois lugares
diferentes; Céu e Terra são uma única e a mesma coisa. A Terra é o nosso
conceito mortal do Céu, e Céu é a nossa percepção real da Terra. Em outras
palavras, o Céu é a Terra compreendida em sua verdadeira dimensão.

Agora acompanhe cuidadosamente estes dois pontos importantes: identificação


certa, que significa Deus aparecendo como vida individual, o Um aparecendo
como muitos, ou Deus, Vida, aparecendo como ser individual; e reinterpretação,
que significa olhar o doente, o pecador, a humanidade que está morrendo, e
traduzindo essa aparência pela compreensão de que, desde que Deus é tudo,
isso é parte da totalidade de Deus que está sendo mal-apreciada, vindo como
uma sugestão falsa, que precisa ser reinterpretada.

Estes dois pontos importantes precisam acompanhá-lo desde a manhã até a


noite e da noite até a manhã — identificação certa e reinterpretação. Reinterprete
tudo o que você vir, ouvir, degustar, tocar e cheirar. Reinterprete! Traduza-o para
seu estado original, que é Divindade. Pratique a identificação certa. Saiba que
tudo quanto lhe aparece é Deus aparecendo — Deus aparecendo em cada
homem, mulher ou criança; Deus aparecendo como planta, animal ou colheita.

O que o olhar humano vê é a concepção errônea daquela idéia divina. O que o


olho humano vê, ou o que o ouvido ouve, é o quadro falso apresentado por esta
coisa chamada hipnotismo ou sugestão, a mesma ilusão que faz com que os
trilhos se juntem na distância ou que o céu repouse sobre as montanhas. Não
faz diferença que nome ou termo você use para designar o erro. Apenas se
assegure de que não está tentando ser tão absoluto a ponto de estar disposto a
reinterpretar o que aparece para você na cena humana.

Para o discípulo sério, o capítulo mais importante de O caminho infinito é “O


Novo Horizonte”,2 porque nele pode ser encontrada a explicação da
reinterpretação daquilo que você vê. Em outras palavras, esse capítulo explica
claramente que toda a cena humana é uma sugestão mesmérica, e é esta
sugestão de um ser separado de Deus que você é solicitado a reinterpretar.

2. Do autor (San Gabriel, Calif.: Willing Publishing Company, 1956), pp. 193-97.

Depois de você ter praticado isso durante algum tempo, tal coisa se torna
automática para você: ver pessoas e eventos, traduzi-los e reinterpretá-los, e vê-
los como realmente são, sem qualquer circunvolução mental.

Essa é uma razão pela qual é necessário tão pouco tratamento neste trabalho.
No mesmo momento que uma pessoa, lugar ou condição se apresenta a você,
imediatamente deve vir a compreensão: “Eu conheço você! Você é Deus
aparecendo!” E, se se tratar de uma aparência pecaminosa, você pode
reinterpretá-la lembrando-se: “Isso não é senão um sentido falso de Deus
aparecendo. Isto é sugestão, o sentido humano das coisas, e é puramente
ilusório.” Dessa forma, você aprende a não lutar ou batalhar, mas gradualmente
você aprende a entrar em unidade com a Realidade.

É Preciso Conquistar a Consciência da


Não-existência do Erro
A natureza do erro jamais foi um assunto agradável para se ensinar em
metafísica. Muitos discípulos da verdade não gostam de ouvir falar a esse
respeito. Preferivelmente eles despenderiam de seu tempo falando a respeito de
Deus e de toda a Sua amorosidade. Posso garantir que eu também sou um
daqueles que preferem aderir ao tema principal do Cristo com exclusão deste
outro aspecto, mas aprendi o perigo de agir assim. Existem muitas pessoas no
mundo metafísico que estão perfeitamente dispostas a falar a respeito da
totalidade de Deus no mesmo momento em que o erro as está engolindo.

Existe muita gente no mundo metafísico que está alimentando várias formas de
erro. Elas se justificam dizendo: “Bem, isto não tem poder algum”. Mesmo assim,
estão sendo indulgentes; portanto, obviamente, o erro deve ter algum poder. Não
obstante, elas olham você diretamente no rosto e dizem: “Bem, isso não tem
poder. Do que é que você está com medo?” Mas, ao mesmo tempo em que estão
alegando que o erro não tem poder e que não o temem, ele ainda tem poder
suficiente para atraí-las.

Quando você chega ao lugar onde pode olhar cada sugestão que se apresenta,
e quando você alcançou esse alto estado de consciência espiritual de que cada
erro que lhe chega é imediatamente descartado, então você já não precisa mais
levar em consideração a natureza do erro. A maioria de nós, porém, tem um
longo caminho a seguir antes que essa meta seja alcançada.

Na realidade, provavelmente a maioria dos práticos, isto é, os espiritualmente


esclarecidos, em alguma ocasião ou outra, são tão elevados em consciência
que, quando as pessoas vão a eles, o erro desaparece sem que eles pensem
conscientemente a respeito. Alguns de vocês talvez tenham ouvido falar do
homem com um tumor visível, que visitou uma prática durante a Feira Mundial
de Chicago, em 1933, e pediu a ela para falar-lhe de Deus. Ele não pediu
tratamento específico, mas ela fez como ele solicitou — passou duas horas
falando acerca de Deus. Pela manhã a esposa do homem telefonou dizendo que
o tumor tinha desaparecido por completo.

Naquelas duas horas, essa senhora tinha se elevado a um tal estado de


consciência espiritual que já não estava mais consciente da condição que aquele
homem estava lhe apresentando. Nesse estado purificado de consciência ela
não tinha de declarar: “Isto é sugestão!” porque para a consciência dela estava
claramente evidente que era apenas uma sugestão.

Nem sempre é necessário que você faça a declaração: “Ó, isto é sugestão!”, ou
“Isto é hipnotismo, e não é pessoa, lugar ou coisa!” Eu não quero dizer isso,
absolutamente. Quero dizer que é necessário chegar a esse estado de
consciência em que qualquer forma de erro é instantaneamente reconhecida
como simples sugestão e parar de tratar de pessoas ou de situações. Treine
para saber que você nunca está lidando com uma pessoa doente ou pecadora;
você nunca está lidando com uma doença: você está lidando apenas com
crenças universais.
Meu avô foi uma vítima exatamente dessa crença universal. Ficou muito doente
quando tinha sessenta e nove anos e durante algum tempo a família pensou que
ele não fosse sobreviver, mas ele lhes assegurou: “Por favor, não temam por
meu falecimento agora. Não vou morrer agora porque a Bíblia me prometeu
sessenta anos mais dez e eu vou viver até alcançar essa idade.” E assim o fez.

Reconheça a Natureza do Erro e


Adquira Maestria
A maioria das pessoas aceita essas crenças universais na sua forma aparente,
e depois sua experiência de vida é influenciada por elas. Nós, entretanto,
precisamos treinar para não aceitar as crenças do mundo: não aceite essa
sugestão de sessenta anos mais dez; não aceite a sugestão de que uma
moléstia é perigosa ou séria. Lembre-se, trata-se apenas de uma sugestão.

Qualquer crença pode ser posta de lado, mas o mesmo não pode acontecer com
uma lei de Deus. A lei de Deus é vida eterna. A lei de Deus é: “Tudo o que eu
tenho é teu” — toda a eternidade, toda a imortalidade. Isso não pode ser posto
de lado, mas tornando-se uma lei dentro do seu próprio ser através da
compreensão de que o seu é um domínio dado por Deus, a crença de que você
tem de morrer em qualquer ocasião específica pode ser posta de lado — quer
seja um médico que diga isso, quer seja a Bíblia com seus sessenta anos mais
dez, quer sejam as estrelas que o digam. Deus deu ao homem o domínio sobre
as coisas da Terra, sobre as águas, sobre as estrelas, sobre os céus. Deus deu
a você, que é o Seu próprio ser individualizado, o domínio, mas você precisa
exercer conscientemente esse domínio e não ficar quieto e deixar que as crenças
universais atuem sobre você.

Lembre-se de que essas crenças, essas crenças universais — sejam médicas


ou teológicas — agem realmente sobre você, até que sua consciência as ponha
de lado. Em outras palavras, a cada dia do ano você está ficando mais velho e,
a menos que esteja conscientemente tratando dessa crença e percebendo que
“Minha vida é Deus e, portanto, não tem idade”, você passa a ser influenciado
por essa crença humana acerca da idade e chegará ao lugar que é conhecido
como mudança de vida, e por fim você mostrará sinais de idade, porque passará
através de todas as várias fases da vida de acordo com as crenças da medicina,
até que você mesmo, conscientemente, tome posse de sua vida através do
domínio que lhe foi dado por Deus e compreenda: “Não! Minha vida é Deus!
Idade e mudança são apenas crenças ou sugestões médicas e não têm de agir
sobre a minha consciência ou através dela.”

Milhares podem tombar à sua esquerda e dezenas de milhares à sua direita —


se não se ativerem a esta verdade universal. Todos têm o direito, seja por
escolha, seja por ignorância, de passar pela vida à sua própria maneira. Você
tem o direito de ater-se à sua própria existência e determinar o seu curso e o faz
desta maneira: Quando surgir qualquer forma de erro, esteja seguro de que o
reconhece pelo que ele é, de modo que ele não o engane. Não deixe que o erro
faça você aceitar uma pessoa doente ou pecadora e depois tentar reformá-la ou
curá-la. Se você fizer isso, será um cego guiando outro cego.

A única diferença entre um prático e um paciente é que o prático não pode ser
hipnotizado para acreditar que seu paciente é um ser humano. O prático sabe
que, apesar das aparências, seu paciente é Deus aparecendo como ser
individual, e o prático não aceitará outra coisa além disso. Da mesma maneira,
o prático não aceitará uma pessoa doente, uma pessoa mentalmente perturbada
ou pecadora como paciente. Sua resposta sempre será: “Para trás, Satanás!”3
Você é apenas um falso sentido tentando fazer com que eu o aceite como
realidade. Eu o conheço; portanto, pode tirar a sua máscara.

3. Mateus 16:23.

Pela reinterpretação e pela identificação certa, você pode verdadeiramente


chegar a um estado de consciência em que a vida se torna, não um processo
mental, mas um olhar para fora e uma visão de Deus, uma visão de que tudo
está bem com o mundo.
CAPÍTULO 5

Meditação 1

À medida que uma pessoa vive cada vez mais no Espírito, sem dúvida a
meditação desempenha um papel cada vez mais importante em sua vida, porque
seus períodos de meditação são o seu ponto de contato com Deus.

1. Para uma exposição completa deste assunto, ver, do autor, The Art of Meditation (Nova York:
Harper and Brothers, 1956; Londres: George Allen and Unwin, 1957).

No instante que a pessoa desperta pela manhã e compreende: “Eu e meu Pai
somos um”, ela está meditando, voltando-se para dentro e compreendendo a
realidade interior do ser. Ainda que ela declare isto somente uma vez, com os
olhos fechados, ela meditou sobre essa idéia em particular. Se ela se senta
calmamente, ponderando: “Assim como a onda é uma com o oceano, assim
como um raio de sol não é algo separado e à parte do Sol, mas realmente uma
emanação do próprio Sol, assim sou um com Deus”, ela está meditando.

Não há nada de natureza secreta ou oculta sobre a meditação — nada estranho


ou misterioso acerca do processo, nem há qualquer coisa misteriosa ou
escondida sobre a postura a ser assumida na meditação. De fato, a única razão
pela qual o assunto da postura entra em discussão ao se tratar da meditação é
pela necessidade natural de se estar confortável.

Consegue-se mais facilmente a meditação quando o corpo está em tal posição


que ele não interfere com o pensamento. No Oriente, poucas pessoas se sentam
em cadeiras; por isso, sentar-se no chão com as pernas cruzadas ou com os pés
sob o corpo é natural para elas. Se eu me sento numa cadeira de espaldar reto,
com os pés firmados sobre o solo, as costas retas, como se supõe que a coluna
deva estar, e as mãos repousando em meu colo — não apoiando o meu peso
sobre a cadeira, onde em poucos minutos eu poderia começar a sentir a pressão
da madeira, mas sobre meu colo — estou numa posição em que meu corpo não
interfere com meus pensamentos. Eu devo ser capaz de manter essa posição
durante cinco, seis, dez ou vinte minutos, sem nunca pensar a respeito do corpo,
porque essa é uma posição perfeitamente normal e natural no mundo ocidental.
A naturalidade da postura está relacionada principalmente com os costumes que
prevalecem no país em que acontece de a pessoa estar vivendo.
A meditação é uma prática que pode estender-se durante um período de cinco
minutos a cinco horas, ou ser apenas uma questão de segundos. Portanto, não
planejo nem penso sobre qualquer limite de tempo para meditar — quer se trate
de cinco, vinte ou sessenta minutos. O elemento tempo é completamente
aleatório porque, se você pensar na extensão de tempo, talvez comece a pensar
no fim do período da meditação, em lugar de deixá-lo fluir e permitir que ela
acabe por si só. Para você pode ser necessário meditar apenas por dois, três ou
quatro minutos. Por outro lado, pode levar seis, sete ou oito minutos para que
você obtenha aquele sentimento de paz que marca o fim da meditação.

A meditação contemplativa nada mais é que a reflexão sobre alguma idéia de


verdade universal, que leva à realização ou estabelecimento consciente de sua
unidade com Deus. Portanto, não leve seus problemas para a sua meditação,
mas comece com alguma declaração de verdade que lhe seja atrativa, ou com
alguma declaração que você queira entender melhor, uma declaração da
escritura ou da metafísica, e veja o que acontece.

Sentando-se numa posição normal, natural, incorpore a idéia de que “Eu e meu
Pai somos um”. Você pode repetir isso diversas vezes: “Eu e meu Pai somos
um. Eu e meu Pai somos um.” Depois pode vir o pensamento: “Eu — se existe
apenas um único Eu, esse Eu é Deus. Eu e o Pai somos um, e o meu ser um
com o Pai faz a totalidade do Pai ser um comigo, e isso me faz um com a
totalidade do Pai.”

O que você está fazendo é, simplesmente, refletindo sobre essa idéia e seu
significado, porque não quer formar o hábito indesejável de usar qualquer
declaração como uma citação. Dizer apenas “Eu e o Pai somos um” não fará
coisa alguma por você; mas, uma vez que a idéia se desenvolva em sua
consciência, uma vez que você tenha captado o significado importante de “Eu e
meu Pai somos um”, você conseguiu imortalidade, eternidade, saúde e riqueza.

Não Considere os Pensamentos que


vêm na Meditação
Sua meditação tem o propósito de chegar ao significado real, ao significado
interior da declaração, “Eu e meu Pai somos um”. Mas, como principiante, você
não pode manter isso por muito tempo. Você perde rapidamente o fio da meada
e se surpreende pensando que está perdendo sua entrevista no escritório, ou
que vai perder o ônibus ou o trem. A primeira coisa que percebe é que seus
pensamentos estão vagando.

Nesse ponto, traga suavemente de volta seu pensamento para “Eu e meu Pai
somos um”. Não fique impaciente, não se condene e não pense que não há
esperança para você. Não dê atenção a esses passeios da mente, mas
suavemente traga seu pensamento ou atenção de volta e comece novamente,
refletindo sobre esta idéia, ou até mesmo poderá surgir, nessa ocasião, outra
idéia, provavelmente bem melhor para o momento. Quantas vezes seu
pensamento fugir da idéia, retorne a ela novamente, sem impaciência, sem
crítica ou autojulgamento.

Neste estado inicial, não só os seus pensamentos vagam, mas se mantêm


viajando para dentro e para fora — toda espécie de pensamentos indesejáveis.
Você pode pensar que eles são seus pensamentos. Mas não são. Eles estão
apenas tocando em você, procurando perturbá-lo, distraí-lo; portanto, não os
combata, não tente parar de pensar no que está pensando porque você não terá
êxito, e saber disso pode poupar-lhe uma enorme quantidade de problemas.
Você nunca terá êxito parando de pensar; portanto, deixe que esses
pensamentos entrem e saiam e faça o que desejam fazer. Não se preocupe com
eles. Apenas retorne ao seu centro, para o assunto específico de sua meditação.

Chegará um momento, à medida que você avançar nesta prática, quando não
surgirão pensamentos estranhos, porque você os terá eliminado por desatenção,
você terá se tornado tão sem receptividade para eles, não os combatendo, que
eles não retornarão. Mas se você os combater, eles estarão lá para sempre,
porque seu combate contra eles é exatamente o que os mantém vivos. “Concilia-
te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele.”2 Todos
esses pensamentos errados que sempre surgem não são perigosos nem
nocivos; ninguém saberá deles; e eles não lhe causarão nenhum mal. Deixe que
venham; deixe que se vão; mas não lhes dê atenção.

2. Mateus 5:25.

Lembre-se sempre de que você está em meditação apenas com um propósito


— compreender Deus. E, assim, você reflete sobre essas verdades das
escrituras: “Eu e meu Pai somos um.3 ...Meu reino não é deste mundo.4
...Conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti.”5 Escolha uma que
lhe seja própria, ou você pode chegar a um ponto onde alguma coisa de que
necessite para esse determinado dia virá a você, e você refletirá sobre ela.

3. João 10:30.

4. João 18:36.

5. Isaías 26:3.

O que eu estou salientando é que você leve algum pensamento central ou uma
citação inspiradora para a meditação, não com o propósito de repeti-lo, mas para
descobrir seu significado real ou interior, de modo que nunca o empregue ou
pense nele como uma citação.

Posso lembrar-me por quantos meses vivi com esta declaração: “Não pela força,
nem pela violência, mas pelo meu espírito.”6 Finalmente, cheguei ao lugar onde
isso traduziu-se para mim nestas palavras: “Não pela força física, nem pela
violência mental, mas pelo Meu Espírito — pela realidade de meu próprio ser.”
Pratiquei isto durante oito meses, cinco, seis, oito vezes por dia, antes de chegar
ao lugar onde houvesse um segundo de paz e sossego dentro de mim.
6. Zacarias 4:6.

Mas você jamais terá de passar pelos vários estágios do desenvolvimento de


quem quer que seja. Você nunca terá de dirigir Fords Modelo T. Você nunca terá
de iluminar sua casa com lampiões de querosene. Você nunca terá de passar
por aqueles dias atribulados em que teve de se submeter a tratamentos mentais,
preocupando-se com as influências maléficas que estão agindo sobre você.
Você pode começar com o mais alto ponto de desenvolvimento alcançado até
este momento; você pode começar no mais alto nível revelado à consciência,
porque todas as pessoas que passaram por estas coisas aplainaram o caminho
para você.

Assim é com a meditação. Você constatará muito cedo que as idéias ou citações
originais virão a você — uso a palavra “originais” no sentido de que essas idéias
não foram dadas a você por qualquer pessoa, mas que elas lhe ocorreram
diretamente — e você consegue ficar em paz por um minuto, dois, três ou quatro.

A Meditação é um Estado de
Receptividade e de Alerta
À medida que você está refletindo sobre alguma citação e desconsiderando
completamente os pensamentos humanos que chegam e vão, faça mais uma
coisa: mantenha seu ouvido alerta como se estivesse ouvindo alguma coisa. Não
porque você possa realmente ouvir alguma coisa na meditação, ou que você
necessariamente tenha de ouvir o que quer que seja. Significa apenas que o
ouvido é o conceito finito de ouvir e representa para nós “o ouvido que escuta”.

O ouvido que escuta não é um instrumento físico no sentido da palavra. Jesus


disse: “Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis”?7 Essa declaração
nada tem a ver com o olho físico, nem com o ouvido físico. Portanto, quando eu
falo em manter esse “ouvido” aberto, não faz diferença se uma voz é ouvida ou
não. Trata-se apenas de um conceito humano da idéia espiritual de
receptividade.
7. Marcos 8:18.

Assim, enquanto estiver meditando sobre uma determinada idéia, você estará
mantendo seu ouvido aberto, alerta e receptivo, porque a meditação nada tem a
ver com descansar ou adormecer. Pelo contrário, ela é o mais agudo estado de
alerta. Uma pessoa que sabe como meditar nunca adormecerá. Na verdade,
dois, três ou quatro minutos de meditação bastam para dissipar qualquer
cansaço que uma pessoa possa sentir depois de todo um dia de trabalho. A
meditação está deixando entrar o Espírito divino, Deus, e isso dissipa toda ilusão
de sentido.

Uma das razões pelas quais aconselho os discípulos a não colocar um limite de
tempo na meditação é porque esta nunca deve se tornar um esforço mental. No
mesmo instante em que ela começa a ser um aborrecimento ou um esforço, deve
ser interrompida. Nunca permita que ela se torne um esforço. Não crie tensões.
Você não vai entrar no reino de Deus pela força; você nunca será levado ao céu
por qualquer poder mental ou físico. Se sua meditação tiver sido de apenas um
minuto e meio, fique satisfeito porque, se mantiver a idéia de Deus por apenas
meio minuto, você estará abrindo a sua consciência — você deu início a um
influxo. Talvez não receba uma resposta imediata, embora possa obtê-la doze
horas depois ou então doze dias mais tarde; mas o importante é que você abriu
a consciência para o influxo da verdade.

Para começar, medite três vezes por dia, ou pelo menos duas vezes — de
manhã e à noite. Não existe pessoa que não possa fazer isso, porque todos se
levantam e todos se deitam, de modo que todos podem poupar dois minutos
extras pela manhã e outros dois à noite, ainda que não possam dispor sequer de
um outro minuto durante o dia. À medida que continuarem esta prática, alguns
constatarão que, entre levantar pela manhã e deitar-se à noite, há um outro
intervalo de dois ou três minutos a ser dedicado à meditação.

Assim, para começar, se você dedicar a este processo dois, três ou quatro
minutos, duas ou três vezes por dia, ele por si só se estenderá por períodos mais
longos. E depois, o que acontece é por conta do indivíduo. Você pode chegar
àquele ponto em que pode sentar-se em meditação durante quatro horas e ao
fim deste tempo sentir: “Ora, como estes dez minutos passaram depressa!” Esta
é uma experiência individual. Há pessoas que nunca realizam isso porque não
têm o temperamento adequado, mas todos podem praticar a meditação num
certo grau, ainda que apenas por três, quatro ou cinco minutos.

Depois que isso se tornar parte de sua rotina diária, pouco a pouco você irá
constatar que pode meditar a qualquer hora do dia ou da noite — algumas vezes
por meio segundo e outras por vários minutos, mesmo quando estiver dirigindo
o seu carro, fazendo o trabalho de casa ou sentando-se e conversando com
alguém.

Você pode aprender a abrir sua consciência por apenas esse segundo e
encontrar-se num estado de receptividade e, uma vez que essa linha esteja
aberta, uma vez que você tenha conseguido um estado de receptividade, sua
orientação, condução, direção e auxílio fluem continuamente através de você. É
como se você tivesse aberto uma linha de contato com Deus, e a partir desse
momento, isso flui e surge da maneira que você precisa. Se você necessita de
orientação, isso lhe dirá: “Não siga por este caminho”, ou “Siga por este
caminho”. Se você precisa de dinheiro, ele aparece; se você precisa de um
espaço para estacionamento, ele aparece — mas não porque você esteja
demonstrando coisas.

Por exemplo: talvez não houvesse as Cataratas do Niágara sem um Lago Erie.
Ou devemos colocar isso de outra maneira? Você não pode demonstrar as
Cataratas do Niágara, mas tendo a consciência de um Lago Erie, pode haver
Cataratas do Niágara. Mas seria insensato sair tentando demonstrar as
Cataratas do Niágara separadas do Lago Erie. Uma vez que você tenha um Lago
Erie, terá as Cataratas do Niágara, uma do lado americano e outra do lado
canadense; mas você precisa estar certo de que tem a consciência do Lago Erie,
e então as Cataratas do Niágara seguem naturalmente.

Como Viver Pela Palavra


Nunca viole este mandamento “Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”8 A meditação não é um
método para adquirir coisas, mas um momento com a fonte divina do Ser.
8. Mateus 6:33.

Permitam-me explicar desta maneira: como seres humanos, parecemos ter


tantos centímetros de altura e tantos quilos de peso. Vivemos pelo pão: o
alimento que comemos, a água que bebemos, o ar que respiramos — estas
coisas, na realidade, fazem de nós seres humanos. Mas para que vivamos a vida
espiritual, dizem-nos para não vivermos apenas de pão. Então, com o que
vivemos? “...De toda a palavra que sai da boca de Deus”9 não por citações, nem
por afirmações ou negações, mas por cada idéia de inteligência e amor, por cada
atividade de consciência. É disso que vivemos.

9. Mateus 4:4.

Como seres humanos, não possuímos a Palavra. Somente quando nos abrimos
para este contato com a infinitude do Ser — com o oceano de Conhecimento,
com o oceano de Amor — é que flui essa inspiração divina, o vinho do qual Jesus
falou, a água e o pão. A partir desse momento, nem “só de pão vivemos”. Ó, sim,
vivemos de pão e de bolo também; mas nem só de pão vivemos.

Você se lembra como o povo disse a Jesus que Moisés tinha dado a seus pais
“pão do céu para comer”,10 mas que Jesus replicou, “Moisés não vos deu o pão
do céu; mas meu Pai vos deu o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é
aquele que desce do céu e dá vida ao mundo... Eu sou o pão da vida; aquele
que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.”11 O pão
que Moisés deu era pão para a fome deles; mas se você comer do pão espiritual,
nunca terá fome e se beber dessa água espiritual nunca terá sede.
10. João 6:31.

11. João 6:32, 33, 35.


Moisés deu-lhes água também — água que fez brotar das rochas. Mas essa não
era uma água espiritual: era somente uma humanidade melhorada. Foi como se
eu me sentasse aqui e demonstrasse mais vinte e cinco ou cinquenta dólares de
renda semanal para você. Seria como a demonstração de Moisés, um acréscimo
de bens. Mas, se posso mostrar a você como abrir a sua consciência para o
influxo de Deus, então, qualquer que seja o acréscimo de bens que lhe venha,
não será um acréscimo da condição humana: o Divino, Ele próprio, e Seu fluxo
não cessa jamais. É por isso que você nunca terá fome, uma vez que esse pão
vem até você.

Lembro-me de quando pela primeira vez comecei um trabalho de cura, segui o


procedimento da maioria dos práticos que eu conhecia, registrando em um livro
todos os tratamentos: à distância, junto ao doente ou no consultório; depois, no
fim do mês, eu calculava tudo meticulosamente e cobrava as consultas mediante
os recibos que eu tinha mandado imprimir. E assim continuou até que
compreendi que isso não era viver com a ajuda de Deus — era viver dos Smiths
e Browns que estavam me pagando suas contas. E o que me aconteceria se
eles não pagassem? Essa era uma pergunta embaraçosa, porque então eu
estaria em má situação. A partir dessa ocasião parei com tudo isso. Comecei a
compreender que se eu pudesse demonstrar, apenas pelo amor de Deus,
minhas contas seriam pagas num mês qualquer e eu estaria seguro para toda a
vida. O Amor de Deus nunca me poderia ser tirado e aquele fluxo jamais cessaria
uma vez que tivesse sido estabelecido.

Esse é o segredo. Uma vez que você toque este Cristo, uma vez que você toque
este centro da Consciência, uma vez que você abra a sua consciência para o
influxo da saúde de Deus, de suprimento espiritual, nunca mais você terá fome;
você nunca terá de fazer demonstrações de suprimento. Nos relacionamentos
de família, igualmente, uma vez que você tenha atingido a idéia do amor que
vem de Deus, você o encontrará na esposa, no marido ou nos filhos.

É através da meditação que se faz esse contato e é por isso que a meditação é
tão importante — não é apenas sentar-se por alguns momentos, porque eu sei
que virá o dia em que você estará dirigindo o seu carro e meditando, estará
dormindo à noite e meditando, porque você estará dormindo na consciência de
Deus e não num cérebro em estado de coma.

Na meditação você receberá idéias de verdade, idéias que se exteriorizam no


que é reconhecido como forma tangível, como pão na mesa, como cura ou como
verdade que dissipa o erro. A meditação revela até a verdadeira natureza do erro
como ilusão que é. Apenas não tente fazer nenhum esforço mental: “Não é pela
violência, nem pela força” — é pelo Espírito gentil.
CAPÍTULO 6

Ensinando a Mensagem
Em benefício daqueles que estão recebendo pacientes ou discípulos e que estão
não apenas tentando curá-los, mas ao mesmo tempo procurando introduzi-los
no assunto da verdade espiritual, permitam-me dizer que uma das primeiras
coisas que precisam ser ensinadas à pessoa que teve pouca ou nenhuma
experiência em metafísica, ou para aquela que está vindo de alguma outra
escola de metafísica para O Caminho Infinito, é o significado de termos como
Alma, Consciência e Cristo.

Raramente você encontra uma pessoa leiga nesse trabalho — não estou me
referindo aos práticos, estou me referindo ao paciente ou ao estudante médio —
que captou a visão do mundo, a “Alma”. Esta é uma das palavras mais mal-
entendidas da metafísica e é tão importante que, sem entendê-la, a visão
espiritual desta mensagem não pode ser percebida.

As Faculdades da Alma e a Consciência


Alma, ou Consciência, é a base das faculdades que interpretamos como órgãos
e funções físicas e faculdades ou sentidos físicos. Dia virá em que você saberá
o suficiente a respeito da Consciência e, então, poderá deixar tudo o mais de
lado, porque na palavra “Consciência” e em seu entendimento espiritual está
contido todo o conhecimento que se deve ter acerca de Deus, do homem e do
Universo. Na verdade, os cinco sentidos — visão, audição, paladar, tato e olfato
— algumas vezes chamados metafisicamente de “sentidos irreais”, não passam
de uma interpretação errônea da Consciência.

Por exemplo, se eu vejo você, estou consciente de sua presença através da


faculdade da visão; se ouço você, estou consciente de sua presença através dos
órgãos da audição; e, naturalmente, também posso tornar-me consciente de
você através de meu sentido do olfato ou do paladar. Mas o que está
acontecendo é que estou consciente de você. Por isso, os cinco sentidos são
realmente cinco facetas diferentes da atividade da Consciência, que é a única
faculdade real e é espiritual; os sentidos nada mais são do que o sentido finito
dessa única atividade espiritual, a Consciência.
Uma vez que não negamos o corpo e não negamos os sentidos, temos de
responder por eles; e, como foi explicado anteriormente, é através da
reinterpretação e identificação certa que constatamos que existem realmente
essas atividades da Consciência chamada visão, audição, paladar, tato e olfato
— só que em lugar de cinco, existem sete.

Existe a faculdade da intuição e existe também a faculdade da Consciência que


independe de qualquer processo de pensamento ou de qualquer processo
exterior — é, na verdade, um silêncio. Nesse silêncio, que é o máximo, estamos
vivos em Deus, vivenciando apenas Deus através de tudo, ou como indivíduo,
você e eu.

Todavia, a atividade da consciência pode ser chamada de sentido da Alma, em


contraposição aos cinco sentidos físicos. Sem olhos é possível ver, e tenho feito
isto repetidamente através da visão interior; mas essa visão interior acarreta o
desenvolvimento do sentido da Alma. Por exemplo, há anos, experimentando o
desenvolvimento desse sentido, descobri que havia chegado a ocasião em que
eu podia estar numa sala escura no campo, à meia-noite, sem qualquer luz, com
os olhos vendados, e em poucos minutos eu podia ver cada detalhe da sala e
até mesmo fora da sala. Isso acontecia porque a consciência estava atuando
sem a limitação dos olhos físicos.

Ver sem os olhos é semelhante a ouvir “a pequena voz silenciosa”, que é apenas
uma outra face da mesma moeda. Se você ceticamente duvida ou nega a
possibilidade dessa experiência, da próxima vez que ouvir “a pequena voz
silenciosa” terá de negá-la também, porque você estará ouvindo sem ouvidos,
isto é, sem usar os órgãos da audição.

Eu sei que isso é possível por causa da experiência de um membro da minha


família que era músico e, em consequência de uma doença, ficou
completamente surdo. No exame foi descoberto que os tímpanos dessa pessoa
estavam perfurados e disseram-lhe que ela nunca mais iria ouvir. Um de seus
parentes que estava se interessando pela cura espiritual pediu-lhe para
submeter-se a tratamento, e, como resultado dessa insistência, ele teve um
único tratamento, e a partir desse dia, até hoje, sua audição tem estado perfeita
— mas ele continua sem os tímpanos. Em consequência de seu trabalho — ele
já não é mais músico, mas engenheiro — teve de submeter-se a muitos exames
físicos, especialmente durante a guerra. Todas as vezes o médico declarou que
era impossível que ele ouvisse — mas ele ouve, e sem qualquer aparelho
auditivo. Sem dúvida, o prático que abriu para ele o sentido da Alma da audição
deve ter atingido um estado excepcionalmente alto de consciência para efetuar
essa cura.
A Vida Como Consciência
Um outro exemplo de vida como Consciência é o de Brown Landone que, em
1931, com cerca de oitenta anos, teve um colapso no The Pennsylvania Hotel
da cidade de Nova York. Os médicos que foram chamados enquanto ele ainda
estava inconsciente disseram que ele não podia viver mais do que duas horas.
Quando foram feitas as radiografias, o diagnóstico foi que ninguém poderia viver
por alguns minutos, e certamente não mais que duas horas com o coração nas
condições em que se encontrava.

Quando o Sr. Landone recuperou a consciência, disseram-lhe que teria pouco


tempo de vida e que deveria pôr os seus afazeres em ordem o mais rapidamente
possível. A isto ele replicou: “Se tenho somente duas horas, vou passá-las em
minha escrivaninha terminando um trabalho importante.”

Com isso ele se levantou, e no dia seguinte ainda continuava em sua


escrivaninha, trabalhando. Diversas vezes os médicos foram examiná-lo, e a
cada vez diziam que era um milagre, mas certamente ele não poderia prosseguir
por mais duas horas. Contudo, apesar da previsão dos médicos, ele viveu e
continuou a trabalhar durante cerca de mais vinte anos, não tendo conhecido de
novo um momento de doença. O seu caso foi o de um homem que viveu e
trabalhou sem o que se conhece como um coração normal.

Ele havia alcançado o lugar onde sabia que Deus é vida e que a vida de Deus
nada tem a ver com o que é chamado forma física. Quando Brown Landone
deixou esta vida, não foi por doença nem por acidente, mas apenas porque
sentiu que tinha chegado a ocasião e ele tinha sido chamado para fazer algum
outro trabalho. Ele se voltou para a secretária e disse: “Estou deixando você” e,
sem jamais ter tido um momento de doença, sentou-se e partiu. Ele tinha, então,
mais de noventa e sete anos de idade.

Essas coisas são possíveis se, em sua consciência, a vida foi elevada acima do
plano físico; mas não pense por um minuto que um prático pode dar um
tratamento e fazer uma pessoa ouvir sem ouvidos ou viver sem um coração.
Nenhum prático, assim como nenhum médico pode fazer isso. Mas se o prático
capta este momento fugaz de vida como Deus, então já não há mais qualquer
viver em um corpo ou através de um corpo. O corpo é, então, somente o veículo.
A vida está dentro, ou como consciência, e isso independe por completo do
estado físico.

Se você não está inclinado a aceitar as duas experiências mencionadas como


possíveis, ou se você é do tipo de pessoa que acredita apenas no que pode
perceber com os seus sentidos físicos, isto é, se você nega a validade de
experiências espirituais, então tem de aceitar a teoria de que a vida e a
consciência terminam no túmulo, porque se a consciência e a vida não podem
continuar separadas e à parte do que é conhecido como forma física, então,
naturalmente, elas se extinguem no túmulo. O que você quiser acreditar depende
da sua escolha. Você pode fazer essa escolha mas, a menos que possa aceitar
o que estou lhe dizendo, sua crença na imortalidade será fortemente abalada.

O Cristo
Para o metafísico típico, o Cristo ainda é um fator desconhecido. A maioria das
pessoas pensa no Cristo mais como uma pessoa do que como o que Ele
realmente é. O Cristo, real e verdadeiramente é a identidade individual de
alguém, o ser real de alguém. O Cristo é a consciência individual depois que ela
foi purgada de todo amor, medo ou ódio de erro de qualquer natureza. Quando
você deixou de amar, de temer ou de odiar o erro sob qualquer forma, você é a
consciência de Cristo. Muita gente acredita que Cristo, ou a consciência de
Cristo, é algo separado e à parte de seu próprio ser — alguma coisa que não é
parte integrante do seu ser, mas que talvez possa ser conseguida.

Na verdade, a consciência de Cristo pode ser alcançada, mas somente de uma


maneira, isto é, através de nosso reconhecimento da natureza do erro que nos
faz perder nosso amor, nosso ódio ou nosso medo dele. Assim como temos de
chegar a um entendimento de Deus aparecendo como homem, também temos
de compreender Cristo como imanente, como o Cristo de nosso próprio ser, o
Cristo de nossa própria consciência. Do contrário, haverá um paciente ou
discípulo e um Deus separado e à parte, ou um paciente ou discípulo separado
e à parte do Cristo.

A Diferença Entre Prece e Tratamento


Outro aspecto importante do Caminho Infinito, que os discípulos devem ser
levados a entender, é a diferença entre prece e tratamento. Em Spiritual
Interpretation of Scripture, ficou claro que não se trata de sinônimos: o tratamento
consiste em declarações de verdade que podemos fazer com o propósito de nos
lembrarmos da verdade do ser e para conseguir uma compreensão consciente
da verdade do ser, seja através da palavra falada, seja através da meditação ou
da reflexão. A prece, por outro lado, só começa quando terminamos com a
reflexão, com as declarações ou após a revisão de pensa mentos ou idéias.

A prece é aquilo que ocorre quando chegamos ao fim do tratamento e nos


ajustamos com aquele ouvido que escuta e recebemos comunicações,
recebemos uma mensagem ou um sentimento, uma percepção que vem de
dentro. A prece é a palavra de Deus, mas Ele a pronuncia para a nossa
consciência individual ou dentro de nossa consciência individual. Por isso, os
que desenvolveram o ouvido que escuta, a atitude de receptividade, são os que
recebem a palavra de Deus chamada prece, e que resulta em cura e
regeneração — em qualquer mudança necessária no quadro exterior.
A Melhora vem Através da Introdução
do Cristo na Consciência
Lembre-se de que não há mudança na cena exterior até que haja uma mudança
em nosso estado de consciência. E que mudança pode haver a menos que
alguma coisa elevada entre em nós para nos mudar? E de onde vem isso? De
nossa mente pensante? Não; temos de recorrer a algo mais elevado do que a
mente pensante.

A humanidade não melhorará a humanidade. É necessário algo mais elevado,


porque é somente através do sentido espiritual, ou do Cristo, que uma pessoa
pode ser melhorada. Ainda que você pudesse fazer de uma pessoa um ser
humano melhor, você nada teria feito no sentido de espiritualizá-la. Nunca se
esqueça disso. Um ser humano melhor é um ser humano melhor, nem mais nem
menos: ele não é a consciência espiritual.

Por isso, se você disser a uma pessoa: “Ó, se ao menos você tivesse uma
disposição melhor! Se você pudesse ao menos vencer a impaciência, então você
obteria a cura! Se você ao menos se livrasse do ciúme, se você ao menos se
livrasse do ódio!” Ela poderia muito bem responder “Sim, eu simplesmente
gostaria de livrar-me de todas essas coisas, mas como fazer isso?” Digam-me,
como é que uma pessoa vence o ciúme, o ódio e a impaciência, ou se livra da
intolerância ou da injustiça? Como se torna mais grata? Ela não o faz, se estiver
esperando que sua condição humana faça isso por ela, porque se isso fosse
possível, ela o teria feito há muito tempo.

Não existe maneira humana de vencer características pessoais indesejáveis,


exceto pela força da vontade; e quando você faz isso, arrisca-se a contê-las em
algum lugar apenas para vê-las surgir novamente, em forma pior, em outra
ocasião e em outro lugar. Somente a introdução do Cristo na consciência
individual destruirá o ciúme, o ódio, a inimizade, a injustiça, a desonestidade, a
imoralidade e a sensualidade. Algumas vezes, isso é realizado através da leitura
de literatura metafísica ou de textos escriturais. Outras vezes, basta que uma
declaração fique registrada na consciência de uma pessoa para fazer dela um
novo homem. Outras vezes — e esta foi a minha experiência em 1928 — isso
pode ser ocasionado pelo encontro de uma pessoa de consciência tão elevada
que quando esta toca a sua, todo o seu passado humano é apagado — aquela
parte que você desejava ver apagada ou que precisava ser apagada.

Isso acontece repetidamente quando as pessoas se dirigem a um prático que se


encontra num estado espiritual elevado, ou possui uma elevada consciência
espiritual. Automaticamente, elas sentem que seus temores desaparecem, ou
sentem que seu antagonismo, seu ódio, sua inimizade, sua desonestidade, sua
sensualidade vão se apagando. Isso porque elas foram tocadas pelo Cristo da
pessoa conhecida como prático, mestre ou conferencista.
Às vezes, a pessoa pode fazer isso para si próprio através da leitura de literatura
espiritual que, súbita ou gradualmente, causa uma mudança em toda a sua
natureza, porque está introduzindo o Cristo na consciência humana. Qualquer
maneira pela qual um indivíduo seja levado à presença consciente do Cristo
serve como uma via através da qual ocorre essa melhora humana.

Nosso primeiro trabalho com o discípulo jovem é trazê-lo à luz da verdade de


que Deus é a mente do indivíduo; Deus é a vida, a Alma, o Espírito, e até a
substância do corpo da pessoa que aparece no momento como paciente ou
discípulo. Em outras palavras, em nosso trabalho, o ponto principal é que não há
Deus e homem. Provavelmente esta é a única abordagem possível. Você não
pode proporcionar um tratamento a nenhum homem porque nesta abordagem o
homem não está separado, isolado de Deus, mas Deus aparece como um
homem.

Portanto, seria impossível que um prático fizesse o tratamento num homem,


numa mulher ou numa criança se entendeu claramente que tudo o que está
aparecendo como homem, mulher ou criança é Deus, a Vida única, a Alma e
Espírito únicos, e que até mesmo o corpo desse indivíduo é o templo do Deus
vivo e a mente é o Seu instrumento.

A Integridade Espiritual é Vital


O erro, como assunto, deve ser tocado ligeiramente como o discípulo jovem, não
o tratando em seus aspectos mais profundos até que ele esteja bem preparado
para isso. Não se trata de um tema fácil e, certamente, não pode ser ensinado a
ninguém até que o prático ou o mestre o tenha realmente dominado.

O ensino espiritual não é uma transferência de pensamento de um indivíduo para


outro. É a adoção da consciência que vem de Deus, e nessa elevação de
consciência é recebido todo o conhecimento necessário.

O mestre precisa ter o cuidado de jamais passar a um paciente ou discípulo


citações ou declarações que poderiam ser consideradas chavões, até que ele
tenha demonstrado em certa medida a sua verdade. Não há nada pior neste
trabalho do que frases e citações ocas. Em seu entusiasmo, muitos práticos
tendem a responder com eloquência a qualquer pergunta que lhes façam: “Ó,
você sabe que isso não é real!” Naturalmente, uma pessoa ao pedir ajuda não
sabe que não se trata de uma coisa real e, além disso, se o prático tivesse sabido
que aquilo sobre o que estava falando não era real, o paciente teria sido curado
naquele momento e o prático jamais teria se expressado assim.

A maioria de nós faz muitas citações bíblicas ou metafísicas a nossos pacientes


e discípulos, muitas das quais nós próprios ainda não dominamos. Na verdade,
a autoridade para nossas citações pode ser Jesus, algum mestre ou escritor
metafísico, mas ainda assim, antes de o citarmos, nós próprios devemos
compreendê-lo um pouco. Então, essas declarações saem de nossa consciência
e nosso paciente ou discípulo as entende e aceita prontamente. Do contrário, ele
tem muita probabilidade de rejeitar qualquer declaração que façamos e que não
demonstramos adequadamente.

Foi Emerson que disse: “Vocês são... trovões, de modo que não posso ouvir o
que dizem.” E essa é a verdade sobre nós. O que somos dentro de nosso próprio
ser é tanto uma parte de nossa consciência que, se tentarmos expressar
qualquer coisa que não seja realmente parte de nós, ninguém acreditará em nós.

Suponhamos que eu declare como uma verdade espiritual: “Há somente um Eu;
há somente uma vida” e, no entanto, diante de uma situação qualquer, eu minta
ou fraude um pouco. Para quem estou mentindo e a quem estou fraudando, já
que existe apenas um Eu? A quem estou enganando, já que existe somente uma
mente e uma vida?

Um ser humano bom poderia passar pela vida sem jamais fraudar alguém num
único níquel, mas isso não seria integridade espiritual. Seria apenas bondade
humana. A integridade espiritual está à altura do entendimento que uma pessoa
pode ter da verdade espiritual ao viver o ideal de Cristo. Isso não significa apenas
viver uma boa vida humana ou ser uma boa pessoa. O que quero dizer por
integridade espiritual não é o bem humano, porque uma pessoa poderia ser
humanamente perfeita e não estar à altura do padrão de integridade espiritual.

Integridade espiritual é a compreensão do Eu único como o Eu de mim e o Eu


de todos os homens, da única mente e da única vida como a vida e a mente de
mim mesmo e de todos os homens; portanto, o interesse de um é o interesse de
todos. Isso é estar à altura da integridade espiritual, porque é fazer o pensamento
e a ação se conformarem ao nosso entendimento da unidade.

Suponhamos que eu aceite espiritualmente o ensinamento de que tudo o que o


Pai tem é meu, e depois tenha inveja de uma pessoa pelo que ela possui. Neste
caso, estou violando minha própria integridade espiritual. Não estou causando
mal à pessoa que invejo; ela não é absolutamente afetada por isso; mas estou
violando minha própria convicção de que tudo o que o Pai tem é meu porque não
estou agindo sob minha convicção. Eu sou um hipócrita.

Em uma palavra: “A Vida é única”, mas, ao mesmo tempo, estou subdividindo —


a mim mesmo e a pessoa que invejo, engano ou fraudo.

Em outras palavras, integridade espiritual significa viver de acordo com o Sermão


da Montanha: “Portanto, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o
também vós.”1 Mas a razão para viver o Sermão da Montanha não está no
interesse de ser um bom ser humano, mas porque você compreende que o outro
Eu é você, e que você é o outro Eu.
1. Mateus 7:12.
Se você mantiver essa unidade continuamente em sua consciência, vivendo
dela, você estará mantendo sua integridade espiritual. Se você nunca disse uma
palavra a ninguém, se você nunca pregou um sermão sobre a honestidade, a
integridade ou a lealdade, todos os que estiverem tocando sua consciência
sentirão essas qualidades emanando de você, porque esse é o seu estado de
consciência, isso é o que você é.

Nunca se permita pensamentos ou atos que violem o ensinamento do Eu único.


Que dizer sobre criticar, julgar ou condenar outra pessoa? Quando você faz isso,
apenas está fazendo para você mesmo e isso provavelmente se voltará contra
você mesmo. Nunca acredite que os seus erros não se voltarão contra você.
Eles se voltarão. Ao julgar ou condenar alguém ou alguma coisa, você está
violando o seu próprio entendimento de que existe somente Um e, na realidade,
está julgando e condenando seu próprio ser.

Quando você aceita o ensinamento espiritual da unidade — do Eu único, da


mente única, como a mente de cada indivíduo, da Vida única, da Alma única, do
Espírito único — e o vive, você estará ajudando a introduzir o milênio, revelando
a ocasião em que ninguém possivelmente poderia agir, pensar ou fazer a outrem
aquilo que essa pessoa não faria para seu próprio ser, porque ela então saberia
que o Eu da outra pessoa é o Eu do seu próprio ser.

Ordenação
Dou-lhes duas declarações do Mestre: “Meu reino não é deste mundo...”2 e “Eu
venci o mundo”.3
2. João 18:36.

3. João 16:33.

Três homens que tiveram a revelação completa do segredo da vida foram Lao-
tsé, na China, cerca de 600 a.C.; Buda, na Índia, cerca de 550 a.C.; e Jesus de
Nazaré. Através de Jesus a revelação plena veio para o amado discípulo João,
na Ilha de Patmos.

Foi de Jesus que eu também recebi essa mesma revelação através do que
afirma a Bíblia, “Meu reino não é deste mundo”. Esta declaração, juntamente
com “Eu venci o mundo”, tornaram-se o objeto de minha meditação durante
muitos meses. Eu não as escolhi; elas se apegaram a mim e, finalmente, veio a
compreensão do seu significado. Nunca soube que isso tenha sido ensinado
desde que foi recebido por João, exceto em seus próprios escritos ocultos.
Portanto, se você pode receber e aceitar este ensinamento, Deus com efeito
abençoou você além de todos os homens e mulheres.

Vencer o mundo significa sobrepujar ou elevar-se acima de todo o desejo dos


sentidos, estar livre da atração do mundo, viver no mundo mas não ser sua
propriedade, conseguir libertar-se da servidão ao ego pessoal e entender o
mundo espiritual e, assim, libertar-se do falso sentido do universo de Deus. Na
medida em que vemos este mundo, sob a ótica humana estamos vendo o céu
de Deus, mas vendo-o “por espelho em enigma”.4 Vencer este mundo significa
elevar-se acima do sentido humano, finito, errôneo do mundo, e vê-lo como ele
é.
4. Coríntios 13:12.

Foi João quem nos disse: “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a
ele; porque assim como é o veremos.”5 Nesta consciência esclarecida, veremos
Deus face a face, apesar de que será Deus aparecendo como você ou como eu,
Deus aparecendo como homem ou mulher.

5. João 3:2.

Estas palavras projetam claramente a consciência mais elevada da vida, mas


somente quando você puder ser convencido no seu íntimo e puder abrir
espiritualmente a sua consciência, é que poderá ter a verdadeira percepção
delas. Isso é o batismo espiritual, a experiência Pentecostal de receber o Espírito
Santo. Dele vocês emergirão como homens e mulheres que viram através da
miragem dos sentidos o testemunho da realidade subjacente em que vocês, na
verdade, vivem, se movem e têm o seu ser.

Esta vida que vocês vivem é Deus, visto “por espelho em enigma”, mas agora,
neste instante, vocês o vêem face a face. Agora vocês podem desfrutar
amizades, companhias, casamento, associações empresariais, mas tudo sem
ligação intensa. Os grandes sucessos de seus amigos ou familiares não os
deixarão indevidamente alegres, e seus fracassos não os perturbarão demais.

Você usará o dinheiro como um meio de troca, mas nunca mais você, que
venceu este mundo, o odiará, o temerá ou o amará. Você tratará o dinheiro como
trata os passes de ônibus — parafernália necessária e desejável na vida
cotidiana. Você sempre terá mais do que necessita, sem qualquer apreensão.
Mesmo a ausência temporária de dinheiro não o embaraçará ou perturbará,
porque nada em seu mundo depende dele. Tudo o que você precisa vem a você
pela graça e como presente de Deus.

Ao vencer este mundo, você vence as crenças que constituem este mundo,
inclusive a crença de que o homem tem de ganhar a vida pelo suor de seu rosto.
Você é co-herdeiro, com Cristo, em Deus, de todas as riquezas celestiais, de
cada idéia da Sabedoria infinita.

Ao vencer este mundo, você perde o seu medo do corpo, libertando-o dessa
forma para viver sob a lei de Deus. Você vence as crenças do mundo a respeito
do corpo — que ele é finito ou material, que ele vive somente do pão ou dos
assim chamados alimentos materiais, ou que ele tem de ser provido de qualquer
maneira. Banhe-o, mantenha-o limpo, por dentro e por fora, mas descarte toda
preocupação com ele. Ele está sob a guarda eterna de Deus. Ele está vivendo e
movendo-se e tendo o seu ser na consciência de Deus. Não se preocupe com o
seu corpo, porque é do interesse de Deus preservar e manter a imortalidade de
Seu próprio universo, inclusive do Seu corpo, que é o único corpo.

O que você vê fisicamente como seu corpo representa o seu conceito de corpo;
mas há somente um corpo, o corpo de Deus, e este é o segredo dos segredos.

A saúde de Deus é a sua saúde. A riqueza de Deus é a sua riqueza. Sua família
é o domicílio de Deus; sua consciência, o ser individual, infinito, de Deus. Há
somente um único Ser, e esse Ser é Deus, e cada pessoa que você encontra
representa o seu conceito desse ser Único, expresso individualmente.

Sua liberdade espiritual significa a sua libertação das crenças falsas e universais
sobre o seu corpo, seus afazeres e seus relacionamentos. Então você já não
está mais sob a lei da crença universal: você se torna livre em Cristo, isto é, você
sobrepujou ou se elevou acima das crenças errôneas a respeito do mundo de
Deus e, por isso, venceu este mundo, o sentido falso do mundo. Você agora vê
o mundo como ele realmente é e não como “este mundo”.

“Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz; não vo-la dou como o mundo dá.”6 A
paz espiritual Eu dou a você, a paz que transcende compreensão, a paz que não
depende de pessoas ou condição exterior. Agora, nada neste mundo pode afetar
você, que está livre em Cristo, em consciência espiritual. Você caminhará de um
lado para outro no mundo, indo e vindo livremente, e nenhuma das crenças do
mundo se acenderá em você. As chamas não lhe causarão dano; as águas não
o afogarão. Eu coloquei meu selo sobre você, e você está livre. Caminhe para
cima e para baixo, para dentro e para fora. A lei espiritual mantém o seu ser, o
seu corpo, o seu negócio.
6. João 14:27.

Não diga a nenhum homem o que você viu e ouviu. Não explique nem conte às
pessoas a respeito de sua libertação “deste mundo”. Movimente-se de um lado
para o outro entre os homens, como um dom, como uma bênção, como a luz do
mundo. Deixe esta vida e esta mente estarem em você como o estavam em
Cristo Jesus. Seja receptivo. Seja expectante. Esteja sempre alerta para receber
orientação, direção e apoio interiores. Mantenha-se sintonizado com o seu
mundo interior, mas ainda assim cumpra todos os seus deveres externos.
Cumpra todas as suas obrigações externas, mas mantenha-se alerta
interiormente.

Existem aqueles entre vocês que foram chamados para o trabalho de Deus. Será
transmitido a você o que fazer e quando. Eu coloquei o Meu Espírito em você.
Esse Espírito será visto e sentido pelos homens. Não será você, mas o Espírito
que eles discernirão, embora pensem Nele como você.
Meu Espírito trabalhará por você e através de você e como você. Ele trabalhará
para realizar o Meu propósito. Você será a Minha presença na Terra. Eu não
deixarei você, nem o abandonarei. Sob qualquer aparência, Eu ainda estarei com
você. Não tema nada deste mundo. Meu Espírito orientador está sempre com
você.

De Lao-Tsé diz-se que quando tinha 1.200 anos de idade tornou-se cauteloso
porque o mundo não podia concordar em libertar-se da moenda desta vida
mortal. Ele decidiu deixar a cidade, mas antes de passar pela porta, o porteiro,
suspeitando que ele nunca mais retornaria, pediu-lhe para escrever seu
ensinamento, o que ele fez numa mensagem curta. Depois, saiu para as terras
selvagens da China e nunca mais foi visto.

De Buda, diz-se que ele ensinou seus discípulos, mas constatou que eles não
podiam compreender plenamente a importância da mensagem. Por isso, um dia,
mandou chamá-los, despediu-se e deixou este plano humano.

Jesus perguntou: “Então, nem uma hora pudeste velar comigo?”7 Ele também
disse: “Se eu não for, o Consolador [o espírito da Verdade] não virá a vós”8 —
significando que os discípulos não tinham apreendido o significado de sua
mensagem.

7. Mateus 26:40.

8. João 16:7.

Uma vez mais, agora, a Mensagem é repetida sobre a Terra para você. Você
também dormirá?
CAPÍTULO 7

Como Conseguir o
Ajustamento
Os leitores deste livro representam naturalmente estados e estágios variados de
consciência. Alguns podem ter larga experiência em trabalho metafísico do ponto
de vista da Ciência Cristã ou da Unidade, alguns do ponto de vista de outras
abordagens metafísicas, enquanto outros podem ser praticamente principiantes
e nada saberem da abordagem espiritual à vida.

Por isso, é difícil atingir esses diferentes padrões de pensamento e esperar que
todos compreendam as mesmas coisas da mesma maneira. Por essa razão, este
capítulo é dedicado a proporcionar o entendimento da linguagem usada no
Caminho Infinito. Mesmo que eu não alegue que a verdade expressada no
Caminho Infinito não tenha, uma vez ou outra, sido incluída nos ensinamentos
dos grandes sábios e videntes, é preciso reconhecer que essa abordagem
particular — o significado particular da verdade ou o propósito deste
ensinamento — provavelmente é diferente de quase qualquer outro
ensinamento.

O Caminho Infinito apóia-se total e completamente na revelação de Jesus, dada


no Evangelho, segundo João. Não há o mínimo desvio do ensinamento de Jesus,
nem estamos, ao explicá-lo ou elucidá-lo, adicionando-lhe ou subtraindo-lhe
qualquer coisa. Ele está absolutamente de acordo com o que está na revelação
de Jesus:

Eu sou a vida eterna; Eu sou o caminho, a verdade e a luz. Eu sou a ressurreição


— e não, Eu serei ressuscitado, e não que existe alguma espécie de lei de Deus
que vá atuar sobre mim, mas Eu sou a ressurreição. Eu sou o pão — e não, eu
serei suprido de pão, mas Eu sou o pão; Eu sou a água; Eu sou o vinho.

Quando você se apóia nisso, está se apoiando na revelação de que você é uma
consciência espiritual infinita, a própria vida espiritual infinita e, sendo infinita,
inteiramente abrangente e incluindo dentro do seu próprio ser cada atividade do
Ser.
Deus Aparece Como ser Individual
Aqueles de vocês, que estão familiarizados com os ensinamentos metafísicos,
precisam compreender que o Caminho Infinito está em contraposição à maioria
dos atuais movimentos metafísicos. Ele ensina que ninguém pode ajudar você a
demonstrar qualquer coisa. Neste ensinamento, você precisa compreender a
natureza infinita do seu próprio ser e deixar que todas as coisas sejam
acrescentadas a você. Isso estabelece para você uma abordagem
completamente nova e diferente em relação à vida. Tira você do reino de ser
uma idéia, uma reflexão, uma expressão ou uma imagem, e de ter de demonstrar
alguma coisa do Pai.

Assim, apenas neste sentido, esta é uma divergência radical, porque você está
agindo a partir do seguinte ponto de vista: Eu e o Pai somos um. Por isso, eu
incluo tudo o que o Pai tem e tudo o que o Pai é. E desse modo você comete um
pecado sempre que permite que seu pensamento saia para o reino do “Eu
desejo”, do “Eu quero”, ou do “Eu temo.”

Eu e o Pai somos um, e tudo o que o Pai tem é meu. Eu incluo todas as
qualidades e atividades da Divindade. Eu sou a incorporação de tudo o que o
Pai é, não porque eu o mereça, mas porque isso é meu por graça: é a dádiva de
Deus à própria criação de Deus.

Na verdade, causa alegria saber que nem mesmo Deus pode tirar qualquer bem
de nós. Deus é todo o poder, mas não é assim tão poderoso! Ele não pode tirar
o bem de nós porque estaria tirando-o de Seu próprio Eu. Nós não somos dois:
nós somos um!

Se algum de nós fosse privado de uma só coisa boa na Terra, Deus estaria Se
privando. Obviamente, isso é impossível: “Eu e meu Pai somos um.”1 ...“Filho,
tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas”2 não por virtude de
qualquer bondade humana, mas por direito divino.

1. João 10:30.

2. Lacas 15:31.

O mesmo espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
E se somos filhos, logo somos herdeiros de Deus e com ele padecemos,
para que também com ele sejamos glorificados.

Romanos 8:16,7

E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos


séculos.

Mateus 28:20
Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.
Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando passares pelos
rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te
queimarás, nem a chama arderá em ti.

Isaías 43:1,2

Todas essas são promessas divinas, mas o fato de sermos bons seres humanos
não nos traz essas bênçãos espirituais, embora a compreensão da bênção
espiritual, sempre concedida ao amado filho de Deus, nos tornará bons seres
humanos. Todo o bem humano que pudermos fazer no mundo não nos angariará
uma só porção da graça de Deus, mas a graça de Deus fará de você e de mim
a melhor espécie de seres humanos do mundo. Este é o mistério da
religiosidade.

“Não Andeis Cuidadosos”


A abordagem do Caminho Infinito é, também, muito radical em seu seguimento
do ensino do Mestre: “Não andeis cuidadosos quanto a vossa vida, pelo que
haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo
que haveis de vestir.”3 Precisamos penetrar nesta compreensão: “Meu Pai
celestial, que é a minha consciência infinita, sabe de que coisas tenho
necessidade e tem gosto em dar-me o reino.”

3. Mateus 6:25.

Você precisa entender que este ensinamento não visa a dar-lhe um método para
demonstrar uma vida melhor ou mais durável, nem tampouco é um ensinamento
de como usar sua mente para obter as coisas, ou para dar-lhe um pouco do
poder chamado Deus para lhe proporcionar bens ou melhores condições de vida.

Este é um ensinamento que visa a tirar você da sua condição humana e levá-lo
para a percepção da sua identidade espiritual. Este é um modo de vida que lhe
ensina como estar no mundo, sem pertencer a ele; é um modo de vida que
ensina que, desde o início dos tempos, desde antes de Abraão existir, Eu Sou,
e que Eu estarei aqui até o fim do mundo.

Portanto, o propósito deste ensinamento é formar um estado de consciência em


que você jamais se preocupe com pessoas, lugares ou coisas deste mundo e,
mesmo assim, esteja se movendo dentro dele e entre ele, com e através de
pessoas, lugares e coisas — “em verdes pastos... em águas tranquilas”.4 O
pensamento consciente não faz isso; o tratamento não faz isso: a lei de Deus,
que você é no mais íntimo de seu ser, é que faz isso, você só tem de ser grato
por toda a gente amorosa, boa e generosa com quem você entrará em contato,
por toda a beleza que lhe será permitido ver e por todas as experiências
prazerosas que tiver.
Isso é desenvolver o estado de consciência de um observador, de uma
testemunha do trabalho de Deus. Isso é tudo. Você é um espectador que olha o
Jogo divino, que olha o fluxo divino da Vida, através de você, em você e como
você. Você vive e se movimenta e tem o seu ser em Deus. Esse poder de Deus
age sobre você — não realmente sobre você, mas como você. Você é Ele em
ação.
4. Salmos 23:2.

“Eu venci o mundo.”5 Como alguém pode fazer tal declaração, “Eu venci o
mundo”, enquanto sentir qualquer ansiedade sobre alguma coisa que se
encontre entre o fundo do oceano e o topo das estrelas? Você não pode dizer: “
“‘Eu venci o mundo’, mas tenho medo de uma bala ou de uma bomba atômica!”
Você não pode sequer dizer que venceu o mundo se teme ou acredita que a
morte é algo possível ou inevitável ou que você será diferente do que é neste
minuto, depois de ter sentido o que o mundo chama de morte.

5. João 16:33.

“Eu venci o mundo” significa que a crença na separação, na carência, na


limitação, no pecado, na doença, no desejo, no medo, na inveja, no ódio, no
ciúme e na malícia foi sobrepujada. Para você, isso pode parecer como o milênio.
E é — no que tange a você e a mim. Para nós é o milênio, porque nos
aproximamos daquele lugar em que a morte não existe mais como uma
realidade, onde a carência e a limitação, onde o pecado e o medo não existem
mais.

Ao fazer uma transição de tal magnitude, é natural que haja uma reviravolta no
pensamento, uma certa quantidade de dúvidas, pela simples razão de que você
está sendo lançado para fora de sua condição humana. Este ensinamento, se
nada mais fizer, elevará você forçosamente para um grau muito mais elevado de
humanidade. Por certo, não o deixará onde o encontrou! Ou você notará que foi
despertado de uma letargia, ou se verá livre da pressão que nasce das tentativas
de demonstrar, por meios mentais, ou livre da compulsão de ter de demonstrar
saúde, suprimento, isto ou aquilo a cada dia do ano. De repente, você constata
que sua mente já não está mais sendo usada para qualquer propósito dessa
espécie. Isso, por si só, é perturbador.

É, de fato, uma experiência perturbadora parar de pensar, sentar e apenas


descansar em Deus. De início, isso faz com que você fique com medo, e deseje
saber se despertará amanhã caso não estude a “lição diária”. Neste trabalho,
conheci pessoas que abandonaram “a lição diária”, e outras que se sentiram
impelidas a abandonar suas afirmações e negações, e observei como algumas
delas se admiravam de que o céu não tivesse entrado em colapso e caído sobre
elas por terem abandonado essas rotinas e rituais. Isso não aconteceu e não-
acontecerá! Existe um Deus.
Existe um Deus, mas você sabe muito bem que não são muitos de nós que
acreditam nisso. Acreditamos que nossas afirmações e negações ou que nosso
tratamento são Deus, que faz tudo certo. E isso não é Deus, absolutamente. Eu
Sou é Deus — e cada vez que você diz “Eu sou”, está declarando a presença e
o poder de Deus em sua experiência.

Você poderia passar o resto de sua vida sem um tratamento, sem uma lição ou
sem ler um livro, e encontrar mais harmonia, mais paz e mais saúde do que
jamais conheceu — apenas através da compreensão simples da expressão:
“Obrigado, Pai; Eu sou.” Basta isso. Esse é o reconhecimento da Deidade; este
é o reconhecimento de uma Presença e Poder invisíveis infinitos, que constituem
a realidade do nosso próprio ser. Isto é tudo aquilo de que qualquer pessoa
precisa. Todos os livros que você lê, todas as notas que você toma, todas as
palestras e conferências a que você comparece e todas as suas meditações —
tudo isso não tem senão o propósito de levá-lo à compreensão consciente deste:
“Eu já sou,”

Estranho, não é? Todos estes anos e só agora estamos despertando para o fato
de que Eu já sou. Seu estudo não revelará Deus. Seu estudo não tornará o erro
menos erro do que o nada que ele já é. Seu estudo e suas meditações visam
apenas a penetrar na compreensão de que aquilo que foi desde antes de Abraão,
ainda é e sempre será, de fato e verdadeiramente, a sua vida.

Demonstrabilidade e Praticabilidade;
a Autoridade
Inevitavelmente, surge a pergunta “Quem e o que é a autoridade para tal
declaração?” Essa pergunta pode ser respondida retornando aos ensinamentos
do Mestre, Cristo Jesus, conforme se acham registrados no Novo Testamento;
porém, a autoridade para qualquer ensinamento está em seus resultados, no
que ele realizou e no que está realizando para os que vivem por ele. Em outras
palavras, a prova do pudim está em comê-lo — não em quem criou a receita.

Apesar de Jesus realmente ter revelado esta verdade ao mundo, com certeza
não foi ele o seu criador. Através de toda a sua existência humana ele deu crédito
aos profetas e legisladores hebreus. Os que estudam religião comparativa ou as
diversas filosofias do mundo, que antecedem Jesus em milhares de anos,
encontrarão cada declaração que Jesus fez quase à mesma maneira, ou, se de
outra forma, praticamente com a mesma essência.

Por isso, não é necessário procurar um homem ou uma mulher como autoridade.
A verdadeira autoridade, para qualquer ensinamento, é a sua demonstrabilidade
e praticabilidade. No mesmo momento em que você começa a tomar em relação
à vida a atitude de que há um poder benéfico, um Ser onisciente, onipresente,
onipotente, e deixa de fazer seu esforço pessoal, você constata que esse
princípio funciona. Pela sua própria demonstração desse princípio, você mesmo
se torna uma autoridade quanto à sua autenticidade.

Ao abordar o trabalho de cura, você precisa reconhecer diante de você mesmo


que, embora o fim e o objetivo da cura sejam levar as pessoas à vida espiritual,
a prova de que este é o caminho para essa vida está na cura que isso leva à
vida das pessoas. O fim e o objetivo, nós os conhecemos e aceitamos; mas é
importante que ninguém fuja ao trabalho de cura. Não tente fugir à
responsabilidade do trabalho de cura, dizendo desdenhosamente: “Ó, não
estamos preocupados nem interessados em curar ninguém!” Mas nós estamos!
Estamos muito interessados porque hoje, como nos dias de Jesus, proporcionar
harmonia para a mente, o corpo e a carteira é a prova da verdade da mensagem.

Quando João, o Batista, estava na prisão, evidentemente, ficou um pouco


assustado e duvidou que Jesus fosse tudo o que ele, João, pensava que fosse;
por isso, enviou-lhe uma mensagem perguntando: “És tu aquele que há devir”?6
Em outras palavras: “És esse Cristo? És aquele que temos esperado?” Jesus
não responde, “Sim, eu sou”; tampouco mostrou a João um certificado de
qualquer escola de rabinos. Mas disse “Ide, e anunciai novamente a João essas
coisas que ouvis e que vedes. Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos
são limpos; e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é
anunciado o evangelho.”7
6. Mateus 11:3.

7. Mateus 11:4,5.

Se existe outra prova da correção da verdade espiritual, se existe qualquer outro


padrão de medida, para isso você tem de sair do ensinamento da Cristandade.
Na Cristandade existe somente um padrão de medida: “Ide, e anunciai a João.”
Através desta verdade, os doentes são curados. Jesus nunca se sentiu tão
superior que não estivesse disposto a curar e a prover as multidões. Ele não se
colocou num pedestal. Ele permaneceu lá mesmo com o seu povo, onde este se
encontrava, atendendo às suas necessidades. Ele até fez cessar uma tormenta
no mar.

Um homem chamado Jesus fez isso através do poder do Cristo nele. Muitos de
vocês viram este mesmo poder atuar nestes tempos modernos: vocês viram o
Cristo realmente fazendo cessar tormentas no mar e no ar e dissipando os
nevoeiros nas estradas. Isso vocês viram várias vezes para duvidarem que o
Cristo atende aos seus problemas exatamente onde vocês se encontram. Ele
não faz isto porque vocês estão apreensivos, mas porque Ele é o Consolador
divino, a Presença infinita dentro de suas próprias consciências.

O exemplo de Jesus deve bastar a você, de modo que cada vez que você for
chamado para curar, fará tudo o que puder para que isso aconteça. Isso nada
tem a ver com o fato de uma pessoa merecer ou não a cura. Nada tem a ver com
você gostar ou não da pessoa, ou se ela está vivendo uma vida que você aprova
ou desaprova. Se ela vier a você para uma cura, faça o máximo que puder. Use
o mais alto entendimento que tem para que ela ocorra.

Isso não significa deixar algumas pessoas consumirem o seu tempo e energia
sentando-se perto de você, argumentando sobre a verdade ou os prós e os
contras da cura espiritual. Essas pessoas também merecem ser curadas e, com
o tempo, podem vencer a tendência a argumentar; mas para essas pessoas
deixe que seu trabalho seja um tratamento à distância.

Aqueles a quem você dedica o seu tempo, e a quem permite que tomem o seu
tempo, devem ser os que você julga que estão nessa trilha porque querem saber
a verdade do ser e estão ávidos disso. Se você tem o pão e a água e o vinho
para dar-lhes, não fará diferença alguma se permanece em vigília a noite toda
ou se se levanta para um chamado no meio da noite, ou o que quer que faça. É
para isso que você está aqui; essa é a razão pela qual você está neste trabalho.
Mas não deixe que o seu tempo seja consumido por pessoas que só querem
sentar-se por perto e argumentar sobre alguma filosofia de vida, ou provar como
você está errado, ou como é impossível a cura espiritual, ou como é melhor
algum outro sistema. Se elas querem ajuda para cura ou para suprimento, deixe
que elas telefonem para você e depois dê-lhes uma ajuda à distância; dedique,
porém, seu tempo e atenção aos que humildemente dizem: “Dê-me algo para
beber; dê-me esta pérola de grande valor.”

Qualquer Caso Pode ser Atendido


Você precisa assumir plena responsabilidade neste trabalho quando surgirem
pedidos de ajuda. Você não deve supor que o paciente está deixando de fazer
algo que deveria estar fazendo, nem que ele não é grato ou sincero. Faça o que
puder. Esteja certo de que você está sendo grato e sincero e não se preocupe
quanto à gratidão e sinceridade do paciente. Se ele for ingrato ou insincero, ele
sofrerá o seu próprio castigo, de alguma maneira. É bem possível que ele
obtenha a cura, apesar de seu procedimento e pensamento iníquos; portanto,
não o critique. Você assume a responsabilidade e, se não lograr êxito, se não
curar todos os casos, então seja suficientemente honesto para reconhecer:
“Bem, acho que não me elevei o quanto era necessário. Se eu tivesse me
elevado mais em consciência, o caso teria sido atendido.”

Após trinta anos na prática da cura espiritual, posso dizer que isto é verdade:
não há um único caso no mundo que não possa ser atendido. Se um prático não
puder atendê-lo, algum outro pode. Você e eu, no entanto, nem sempre
conseguimos atender todos os casos que nos chegam, porque alguns deles
demandam um estado de consciência um pouco mais elevado do que temos no
momento. Isso não quer dizer que o caso seja incurável, ou que não possa ser
atendido. Significa apenas que determinado prático não se elevou o suficiente
em um determinado caso para atendê-lo. Isso não quer dizer que você e eu não
faremos amanhã a cura de um outro caso mais difícil, mas significa que talvez
não nos tenhamos elevado o suficiente para atender aquele caso específico.

Logo, se você não pode atender a um caso, esteja disposto a deixar que o
paciente se vá e encontre alguma outra pessoa, alguém que possa atender o
seu problema. Mas jamais acredite que existe algum caso que não possa ser
atendido e não admita em sua consciência qualquer medo acerca dos casos que
chegam até você.

Uma das maiores dificuldades neste trabalho é a eliminação de crenças


anteriores sobre a prática e a verdade metafísicas. Um dos maiores problemas
é reconhecer que muitas práticas e crenças anteriores fundamentaram-se na
superstição, na lealdade pessoal ou na convicção pessoal, e não na verdade
divina do ser.

Impessoalização do Bem e do Mal


Tem havido pessoas, em todas as eras, que sabiam que havia um Deus e que
estavam próximas de Deus, porém jamais realizaram uma demonstração
pessoal de saúde ou de harmonia. O que estou para lhe dizer agora é de vital
importância, e até mais importante do que apenas sentir uma sensação de
proximidade com Deus e saber que você é espiritual.

Um número demasiado grande de pessoas do mundo metafísico ainda está


tentando reformar homens e mulheres, bem como curar e eliminar doenças. Aí
é onde se encontra a dificuldade. Elas não aprenderam que não pode haver
Deus, pecado ou moléstia. Qualquer pessoa que acredite nisso ainda está
mergulhada no velho ensinamento teológico de Deus e do diabo. O Caminho
Infinito ensina que não há Deus e diabo; não há Deus e pecado, doença e morte,
não há Deus e homem. O que existe apenas é Deus aparecendo como um ser
individual. O Caminho Infinito revela que Deus é a sua vida e a sua mente, e que
tudo o que aparece como pecado ou doença não é senão uma crença universal
que continua a martelar o seu pensamento e que, de início, você aceita e depois
tenta livrar-se dela; mas essa crença não é pessoal para você ou para quem
quer que seja.

A primeira parte de nosso trabalho consiste na identificação certa, isto é, em


compreender nossa identidade espiritual e a infinidade de nosso próprio ser. A
segunda parte tem a ver com a impessoalização do erro — não localizar o mal
numa pessoa para depois tentar eliminá-lo. Lembre-se de que o problema é que
alguém está hipnotizado e, em seu estado de hipnose, está lhe pedindo para
eliminar o poodle branco. Não se apresse em fazer isto, porque então você terá
uma indicação clara de que você também está hipnotizado e isso seria o mesmo
que um cego guiando outro cego.
A única maneira pela qual você pode ajudar é mantendo-se desipnotizado e
compreendendo: “Obrigado, Pai; eu sei que não há nenhum poodle a ser
eliminado.” É como a estória encontrada na antiga Escritura: se você estivesse
num pequeno bote no rio, e um outro bote chegasse, sem ninguém dentro dele,
e colidisse com o seu, você não se zangaria. Você compreenderia que tinha
ocorrido um acidente e faria alguma coisa para resolver a situação. Isso seria o
fim de tudo. Mas, suponhamos que você pense que havia um homem no bote.
Então poderia ficar zangado porque ele tinha colidido com você e o culparia por
isso, por quase tê-lo machucado e por ter tomado o seu tempo, mas quando
você olhou pela segunda vez, descobriu que havia apenas um bote vazio. Como
é que você poderia expressar a sua raiva contra um bote vazio?

Esse é o ponto: uma pessoa chega e lhe diz que está doente e, de imediato,
você procura fazer alguma coisa por ela; mas o erro não é uma pessoa,
absolutamente. É apenas uma crença, um erro impessoal; nada tem de pessoal
para o indivíduo.

Por isso, em sua experiência cotidiana, se um pequeno bote começar a vir em


sua direção, não fique zangado nem perturbado. Ao contrário, faça um ajuste
através de sua compreensão de que isso não é nada. Quando uma pessoa lhe
diz que está doente, que está pecando ou que se sente temerosa, procure
visualizar aquele bote vazio em que não há ninguém. Da mesma maneira, não
há ninguém doente, pecando ou temeroso; portanto, de nada adianta
argumentar com uma pessoa, tentando corrigi-la, curá-la ou repreendê-la.

Não se deixe hipnotizar pela aparência de um “poodle branco”. Não há nenhum


“poodle branco”. Não se deixe hipnotizar por uma aparência chamada doença
ou pecado. Isso não existe! É sempre uma aparência. Você precisa aprender a
ser rápido em sua compreensão de que se trata de uma aparência e que você
não pode fazer nada com um “poodle branco” que não existe, assim como não
poderia fazer nada contra um bote vazio.

Quanto mais depressa você aprender a tratar cada problema que lhe chega,
dessa maneira, tanto melhor será o trabalho de cura que você fará. Uma das
razões pelas quais não está havendo um número maior de curas no campo
metafísico é porque se está dando muita atenção à cura, ao mudar, ao corrigir
ou ao melhorar as pessoas, a eliminar o pecado ou a doença. Todo o mundo
metafísico ficou mesmerizado com a aparência, em lugar de desenvolver ou
ensinar os práticos a não serem enganados peia aparência.

Acabe com o envio de pensamentos às pessoas, porque tudo o que você está
fazendo é manipular a mente humana. Não faça isso. Se você tem de tratar
alguém, trate-se antes. Trate-se contra a crença de que Deus alguma vez criou
um mortal, em qualquer ponto da Terra, para estar doente ou cometer pecado.
E se Deus não criou nenhum mortal, não existem mortais. Então, esse quadro
todo que lhe está sendo apresentado é como aquele “poodle branco” — ilusão.
A menos que você faça uso de ambas as partes de determinada revelação — a
identificação certa e a impessoalização do bem e do mal — você não está
seguindo este ensinamento. Não procure estabelecer paralelos com qualquer
outro ensinamento. Procure aceitar isso como realmente é, e faça-o funcionar,
ou, se verificar que não consegue, então admita: “Bem, acho que eu estava no
caminho errado”; ou, “Não era para mim”. Mas não procure “enquadrar esse
ensinamento”. Não procure ver como ele se enquadra em qualquer outro
ensinamento metafísico que você possa ter estudado. Isso não funcionará. Há
muitas coisas nos outros ensinamentos que apenas tornariam obscuro o
assunto.

À medida que você aprende e pratica os princípios básicos do Caminho Infinito,


você verá que este ensinamento é prático em sua experiência. Antes de tudo,
lembre-se da natureza infinita do seu próprio ser como o próprio Eu Sou de Deus;
e, em segundo lugar, lembre-se do nada absoluto do pecado, da doença e da
morte, compreendido pela sua capacidade de impessoalizar estes erros e ver
que eles não existem como pessoas, condições ou lugares, mas somente como
ilusão ou sugestão.

O segredo da harmonia, seja de saúde ou de riqueza, é a impessoalização do


bem e a impessoalização do mal.8

8. Para uma exposição completa da cura espiritual ver, do autor, The Art of SpirituaI Healing
(Nova York: Harper and Brothers, 1959).
CAPÍTULO 8

Perguntas e Respostas
Pergunta: Existe alguma maneira de julgar quando um prático deve aceitar um
caso ou fazer com que a pessoa se dirija a outrem?

Resposta: A partir do momento em que o prático toma conta de um caso, algo


começa a acontecer. Dentro de vinte e quatro horas ele sabe, e o paciente sabe,
se há algum sentimento funcionando. Se não houver e o paciente sentir qualquer
necessidade de mudar de prático, deixe-o ir; ou se o próprio prático percebe,
depois de um, dois ou três dias, qualquer sinal de que o paciente gostaria de
fazer uma mudança, ele deve encorajá-lo a fazê-la. A coisa mais sábia no mundo
é que o prático jamais acredite que um paciente lhe pertence, ou, em outras
palavras, que ele, o prático, tem “um paciente”.

Nenhum paciente é meu além do instante em que ele me chamou. Cinco minutos
mais tarde ele está livre para dirigir-se a qualquer outra pessoa sem qualquer
ressentimento de minha parte. Não acredito que deva haver sentimentos
pessoais no relacionamento entre prático e paciente. A pessoa que pode ser um
paciente neste instante e solicita auxílio não é obrigada a voltar amanhã para
explicar que quer outro prático. Ela não está obrigada a ficar comigo um único
momento além do instante em que pediu um tratamento. Se ela voltar no dia
seguinte, virá por sua própria vontade; mas não tenho absolutamente qualquer
direito sobre ela e não desejo tê-lo.

Algumas vezes tenho tido casos que parecem não se resolver imediatamente,
mas o paciente diz: “Eu quero que você prossiga com o trabalho.” Em um caso
assim, esteja certo de que ele está sentindo alguma coisa, ou então não iria
querer que o trabalho continuasse. A cura pode não ter ocorrido mas, mesmo
assim, há alguma coisa que faz o paciente dizer: “Não; eu quero você.” Há um
certo vínculo. Enquanto ele quiser a sua ajuda, continue o trabalho; mas ao
primeiro indício de que você não está fazendo nenhum progresso, e ele o
perceber, faça-o saber que ele está liberado e livre e que não deve sentir
qualquer apego ou obrigação para com você. Neste trabalho, tudo está de
acordo com a resposta interior que você sente.

Pergunta: Até que ponto você acompanha os pacientes caso eles queiram a
ajuda da matéria medica ou desejem recorrer à medicina?
Resposta: Esta é uma pergunta que tem de ser respondida em cada caso
individual. Por exemplo, pela minha formação, eu naturalmente não creio que
devamos misturar medicina e metafísica. Por outro lado, é evidente que muitos
casos e situações não estão sendo resolvidos através da ajuda espiritual. Muitos
metafísicos usam óculos, o que por certo é uma prova de confiança na matéria
medica. Isto é um “é melhor que seja assim agora” com eles, porque sem dúvida
é preferível usar óculos a andar por aí meio cego esperando até que a
demonstração seja feita. Todavia, ainda que os óculos continuem a ser usados,
ninguém deveria sentir-se satisfeito em aceitar tal condição; a pessoa deve
sempre continuar seus esforços para livrar-se deles.

Igualmente, existem pessoas que, logo que ingressam na metafísica, vindo da


matéria medica, podem estar tomando calmantes para dormir, ou dependendo
de digitalis ou de insulina que, de acordo com a matéria medica, “os está
mantendo vivos”. Se eles são novos no trabalho, eu costumo não perturbá-los,
mas fazer meu trabalho e libertá-los dessas dependências materiais. Mas, se eu
não os libertar rapidamente e vir que eles continuarão agarrados a essas
dependências, então deixo-os ir embora.

Se chega alguém com câncer ou numa situação que, a menos que haja cirurgia,
resulte em morte, de acordo com a crença médica; ou quando pode haver um
osso fraturado e o paciente o quer solidificado, em minha opinião é muito melhor
que o paciente recorra à cirurgia, que sare e volte para o caminho, do que morrer
por causa de uma crença supersticiosa de que é preferível perder a vida a ser
submetido a uma cirurgia.

Entretanto, cada vez que você volta à matéria medica, está falhando em sua
demonstração. Como já disse, quando eu não consigo resolver um caso, sou
suficientemente honesto para reconhecer que, nesse caso particular, eu não me
elevei o bastante. Não apresento álibis. Qualquer que seja o caso, estou certo
de que Jesus o teria resolvido, e isso indica que qualquer pessoa com a plenitude
da mente do Cristo poderia ter feito o mesmo. De nada adianta fugir ao assunto.
Por isso, eu admito livremente: “Bem, eu não me elevei o suficiente, mas vou
continuar neste trabalho e tentar fazer melhor da próxima vez.”

Assim, se chega alguém com um medo tão grande que julgue ser necessário
submeter-se a uma cirurgia, ou como frequentemente acontece, pode não
desejá-la, mas pode ter uma esposa, um marido, uma mãe, um filho ou uma filha
que insistam no tratamento médico e que julguem, honestamente: “Não, não
vamos deixar você correr esse risco; você tem de recorrer à medicina”, então
fique ao lado dessas pessoas, pois mais do que nunca elas precisam de seu
auxílio.

Se alguém que você conhece neste trabalho falhou em fazer a sua


demonstração e teve de ir para um hospital, fique a seu lado. Seu auxílio
espiritual poderá reabilitá-lo no que o hospital e a cirurgia falharam. Nunca exclua
ninguém. Sempre se lembre disto, repetidamente, Jesus é meu poder: “Portanto,
tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles.”1 Se você
mesmo tivesse chegado a um ponto em que não pudesse subir um degrau e
julgasse necessitar de auxílio médico e fosse para um hospital, você gostaria
que o seu prático se recusasse a ajudá-lo? Você gostaria que ele dissesse:
“Você está em um hospital; portanto, lavo as minhas mãos?”
1. Mateus 7:12.

Atém do mais, suponha que alguém que você conhece desmereceu a graça,
cometendo algum crime e sendo preso. O que é que você faria? Diria: “Ora, ora!
Não tenho nada a fazer com você!” Não! Essa é a ocasião em que ele precisa
de você mais do que nunca — quando ele está enfrentando um grave problema.
Jesus disse: “Adoeci, e fostes me visitar; estive na prisão, e fostes me ver.”2
2. Mateus 25:36.

Minha atitude é muito diferente quando as pessoas se tornam cronicamente


dependentes da matéria medica. Se habitualmente elas estão tomando calmante
para dormir, tranquilizantes e outros remédios para um corpo doente, elas não
estão no caminho, porque estão procurando somente os “pães e os peixes”.
Lembre-se de como as pessoas voltaram no dia seguinte, após terem sido
alimentadas por Jesus com pão e peixes, procurando ser alimentadas
novamente. Foi então, em resumo, que ele disse: “O que vocês estão
procurando? Por certo, não a verdade. Vocês viram o milagre dos pães e dos
peixes e querem um pouco mais da mesma coisa.”

Nenhum trabalhador do Caminho Infinito deve suprir as pessoas que querem


experimentar um pouco de matéria medica e um pouco de cura espiritual. Como
essas pessoas podem ser auxiliadas? Mas, com aquelas que são principiantes,
fique alerta e tenha paciência, até que demonstrem sua liberdade. Lembre-se:
não é um crime ou um fracasso imperdoável ser incapaz de fazer uma
demonstração. O que temos de fazer é começar de novo. Muitos de nós temos
de repetir um ano na escola, e isso é o que algumas vezes acontece neste
trabalho. Vamos em frente e pensamos que estamos fazendo um progresso
notável e, de repente, surge alguma coisa e lá estão os nossos pés de barro.
Mas esse é o momento em que mais precisamos de nossos amigos no Caminho
espiritual.

Portanto, esta é a minha atitude. Não satisfaça o pensamento médico e não siga
indefinidamente com pessoas que estão procurando sempre beneficiar-se tanto
com a matéria medica quanto com a ajuda espiritual. Mas, por outro lado, não
rejeite uma pessoa porque ela está falhando em uma demonstração. Pelo
contrário, fique alerta e ajude-a a retomar o caminho, porque o amor é o princípio
desse trabalho.
Pergunta: Se Deus é mente, ou mesmo se Ele é consciência, Sua atividade não
é mental?

Resposta: Não, a atividade mental é um raciocínio e uma atividade de


pensamento. A consciência não é uma atividade mental; a consciência não
raciocina ou pensa: ela apenas percebe.

Duas vezes dois, quatro. Deus, Consciência infinita, não utiliza um processo
mental para chegar a essa resposta. Trata-se apenas de um estado óbvio. Nunca
houve uma ocasião que isso fosse diferente, nem tampouco houve uma época
na criação quando duas vezes dois tornou-se quatro. Não existe um processo
para tornar duas vezes dois, quatro; por conseguinte, não há necessidade de
atividade mental para estabelecer esse fato. Duas vezes dois sempre existiu
como quatro, e a única atividade mental envolvida neste conceito é a atividade
da percepção.

Quando declarei que não trabalhamos no plano mental, o que quis dizer foi que
a única atividade da mente é a da percepção. Tornamo-nos conscientes de que
somos espirituais, que somos um ser divino, que o pecado, a doença e a morte
são ilusões — nada mais que nada ou apenas uma sugestão mesmérica — mas
não passamos por nenhum processo mental para que seja assim.

Não nos entregamos a nenhuma espécie de processo mental com a idéia de


tornar são um homem doente, ou tornar rico um homem pobre, ou de empregar
um desempregado. Se houver algum processo, este é o da percepção, o
processo de conscientização daquilo que já é divino, e esse não é um processo
mental.

Do ponto de vista humano, não podemos olhar uma pessoa doente e afirmar
mentalmente: “Você está bem.” Isso é hipocrisia e ignorância e, obviamente, uma
inverdade. Somente com o discernimento espiritual é que podemos olhar através
da aparência humana e ver a realidade divina subjacente a ela. Por isso, não é
através do processo mental que nos conscientizamos da perfeição, e nosso
trabalho consiste em nos conscientizarmos da perfeição. Isso não pode ser feito
pelo homem com a mente humana, porque nada que a mente humana conheça
será perfeito. Só quando a mente humana não está trabalhando, quando, na
verdadeira quietude de nosso ser mais íntimo, os sentidos de nossa Alma e da
consciência espiritual são despertados, é que vemos o homem perfeito.

É por esse motivo que a cura espiritual não é um processo mental. Nada do seu
ou do meu pensamento trará saúde a você ou a mim. Uma vez mais voltamos a
Jesus: “E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um
côvado à sua estatura?”3 Quem por preocupação pode tornar “um cabelo branco
em preto?”4 “Não estejais apreensivos por vossa vida...”5 Em outras palavras,
um processo mental nada tem a ver com a verdade espiritual, e esse é realmente
o ponto mais importante desta apresentação total de verdade. A atividade mental
humana nada tem a ver com esta abordagem particular. Nenhuma quantidade
de conhecimento da verdade o ajudará, nenhuma quantidade de declaração da
verdade. Nenhum processo mental/humano entra nessa apresentação.
3. Mateus 6:27.

4. Mateus 5:36.

5. Lucas 12:22.

O Caminho Infinito diz respeito primeiro, e antes de mais nada, ao


desenvolvimento do sentido da Alma. Quando estamos quietos, sentados com
aquele “ouvido que escuta”, quando estamos em meditação, dando o que
chamamos um tratamento, a Essência íntima vem para a vida e nos mostra a
perfeição espiritual interior, aquilo que de fora é interpretado como um ser
humano saudável, são ou rico.

Exatamente aqui estão a carne e a substância do Caminho Infinito. Não nos


entregamos a nenhum processo mental para a autocura, e é aí que nos
afastamos de todo o campo metafísico. Trata-se de desenvolver nosso sentido
espiritual de modo que, por fim, cheguemos à consciência de um Cristo Jesus
que pôde olhar o aleijado e dizer: “Levanta-te e anda!”6
6. Lucas 5:23.

O que você acha que capacitaria um homem a dizer isso? Você acredita que
qualquer processo mental que alguém pudesse empregar levantaria,
instantaneamente, um homem aleijado, de modo que ele pudesse andar? Não;
somente o Fogo divino interior, somente o próprio Espírito de Deus poderia fazer
isso.

Talvez fosse possível dar a uma pessoa um tratamento de um ano e,


gradativamente, transformá-lo de um aleijado num homem saudável através da
manipulação mental — martelando-o, martelando-o, martelando-o mentalmente.
Porém nenhum ser humano poderia fazer isso instantaneamente — só a
inspiração de Deus que existe nele.

Eis por que precisamos fazer do amor a influência dominante em nossa


experiência. Todas as qualidades divinas do Cristo precisam tornar-se ativas em
nós; todos os desejos pessoais — todo ódio, inveja, crítica e condenação —
precisam ser abandonados. Não pode haver complacência com essas
qualidades humanas. Precisamos deixar de temê-las, porque então estamos
perdendo a oportunidade de trazer à luz as qualidades divinas do Cristo. Por que
deveríamos estar por aí cedendo a estas coisas humanas a expensas de nos
enganarmos de que temos a mente que estava em Cristo Jesus?

A mente que estava em Cristo Jesus não se empenha em qualquer processo de


raciocínio ou de pensamento. Ao paralítico ela diz: “Levanta-te, e toma o teu leito
e anda”7 e poderia ter acrescentado “O que há para impedi-lo? Existe algum
poder fora de Deus?” Esta mente de Cristo Jesus é percepção sem um processo.
7. Marcos 2:9.

A verdade é que não existe poder fora de Deus, mas poderíamos repetir isso mil
vezes, e nada aconteceria. De fato, o mestre metafísico pode sentar-se e repetir
estas verdades desde agora até o dia do juízo e não obter, como resultado,
qualquer manifestação de espiritualidade em sua aura; um clérigo pode pregar
sermões encantadores e, ainda assim, os membros de sua congregação
continuarem sendo a mesma espécie de seres humanos, entra ano, sai ano,
exatamente com as mesmas doenças, os mesmos crimes, as mesmas fraudes
nos negócios, a mesma corrupção na política. Por que as congregações nessas
igrejas e centros não progridem espiritualmente? Pela simples razão de que
algumas vezes estão ouvindo somente uma apresentação intelectual da verdade
e, apesar de muitas vezes esta vir de um ser humano muito bom, se essa pessoa
não desenvolveu a consciência de Cristo, ou o sentido espiritual, ela não pode
estimular as mentes e os corações de seus seguidores.

O que é mais importante é não criticar as falhas humanas, mas antes elevar as
pessoas até o lugar onde não sejam mais humanas. Você não pode fazer isso
por meio da razão humana. Você pode dizer a uma pessoa para não roubar;
pode dizer para não mentir e não enganar; pode dizer-lhe qualquer coisa que
queira, e muitos de vocês provavelmente já o fizeram, mas usualmente isso não
teve e não tem qualquer efeito sobre a conduta dessa pessoa.

A melhora da conduta só é ocasionada se se alcançar o indivíduo através do


Espírito. Você precisa conseguir tal grau de espiritualidade que um pecador, ao
ser tocado pela sua consciência, perde todo o desejo de pecar. Quando isso
acontece, você está atuando como um mestre espiritual. Então, você não está
ensinando novas verdades e novos processos mentais: você está projetando a
verdade de tempos imemoriais que foi experimentada e considerada eficiente —
por Eliseu, Elias e Isaías, por Jesus e João.

A verdade é tão simples que toda ela pode ser resumida em menos de mil
palavras, mas é apenas através do desenvolvimento de nossas qualidades
espirituais que a espiritualidade pode ser levada às pessoas com quem nos
encontramos.

Pergunta: Por que Deus nos leva para o “Egito”?

Resposta: Deus não é uma pessoa que está por aí manipulando o mundo: Deus
é a nossa verdadeira consciência. Deus está sempre comunicando Sua verdade
e Sua orientação para nós, mas porque nem sempre estamos escutando somos,
algumas vezes, compelidos a tomar um caminho indireto, para alcançar nossa
meta.
O responsável por isso não é Deus, mas a nossa obtusidade. Deus está sempre
onde estamos, comunicando os Seus impulsos até que finalmente alcancemos
a meta. Não houve um Deus que fez os irmãos de José venderem-no como
escravo, mas sem dúvida havia um em José um estado de consciência, que, por
fim, ele foi destinado a ser o braço direito do rei e, de certo modo, teve de ser
levado ao lugar adequado para exercer sua função. Igualmente, as
circunstâncias que definimos como o nosso “Egito” mais tarde podem vir a ser
responsáveis por nos tornarmos um “príncipe”. Em outras palavras, se não
tivéssemos tido alguma experiência particularmente atribulada, não teríamos
aprendido a lição necessária, nem ouvido a Voz, nem colocado nossos pés no
Caminho.

Você pode reunir tudo o que até agora leu neste livro e começar a colocá-lo em
prática e, gradualmente, através dessa compreensão, chegar à harmonia
perfeita; ou, por outro lado, você pode dizer: “Está bem, eu praticarei tanto
quanto puder, mas hoje preciso me permitir este bocadinho de humanidade, ou
preciso me permitir a isso.” Na verdade, você chega por fim ao seu próprio lugar,
porém, muitas vezes, somente depois de muito sofrimento.

Por exemplo, no momento você poderia firmar-se nesta verdade: “Tudo o que é
do Pai é meu, e nunca mais terei de ficar preocupado com suprimento.” Você
poderia assumir essa posição agora mesmo e demonstrá-la, porém a maioria
não faz isso. A maioria ficará um pouco apreensiva quanto às contas que vencem
no próximo mês e continuará a preocupar-se com isso, com aquilo e com outras
coisas; e, na medida em que você fica apreensivo, estará violando seu
entendimento. Haverá, então, um período de sofrimento; até que, finalmente,
você chegará à sua meta.

Foi isso o que aconteceu com José. Se ele estivesse suficientemente


sintonizado, poderia ter dito: “Creio que eu me mudarei para o Egito.” Mas não;
em lugar disso, talvez tivesse pensado que iria ficar para sempre com o pai e os
irmãos e, por isso, teve de ser apanhado e forçado para o lugar certo — o Egito.

Depois, quando estava na casa do Faraó, poderia muito bem ter dito a si mesmo:
“Vou viver como um puro ser espiritual e nunca deixar que a mortalidade entre
em meu pensamento.” Mas não o fez. Teve que ir para a prisão e lá aprender
que a condescendência com qualquer forma de mortalidade não pode ocorrer na
experiência de um ser espiritual. Quando na prisão, ele teve tempo de pensar, e
foi quando finalmente chegou a esta compreensão: “Bem, se sou um ser
espiritual, creio que é melhor agir como tal.” Algumas vezes é necessário chegar
ao mais profundo da experiência humana para termos a percepção de onde
estamos desejando que brilhe a luz espiritual.

Pergunta: Eu fui chamado para o leito de um homem muito doente e comecei


com o primeiro capítulo da Gênese, explicando-lhe a perfeição da criação de
Deus. Depois, perguntei-lhe se podia aceitar o que eu tinha dito e ele respondeu
afirmativamente. O homem que me levara até lá havia me pedido para trabalhar
para ele durante dois dias, o que fiz. Como você explica a cura em tal situação?

Resposta: Eu diria que isso tinha a ver com a receptividade dele à verdade, que
é a mais alta forma de tratamento que existe; mas quando começamos a
trabalhar mentalmente e depois chamamos isso de cura de Deus é ridículo.
Porém, quando alcançamos um estado de receptividade, diante de qualquer
caso, o ouvido está aberto e a revelação chega como um relâmpago, dizendo-
nos como trabalhar ou que verdade revelar; então, isso é cura de Deus.

Pergunta: Então você pensa que isso foi cura de Deus?

Resposta: Não há dúvida a esse respeito, porque isso veio a você sem qualquer
processo de pensamento; não foi um pensamento consciente. Foi um estado de
receptividade que revelou essa verdade a você. A isso eu chamo ser conduzido
divinamente, porque não se resumiu no ato de sentar-se e tratar de uma doença
ou situação. Eu não acredito nessa espécie de tratamento. Volte-se para Deus
e deixe que Deus lhe mostre a necessidade do momento.

Você pode imaginar o que um homem preso por engano sentiria se eu lhe
dissesse que não há injustiça, que o homem é perfeito? Ele atiraria essas
palavras de volta contra mim. Mas quando uma pessoa é levada a contar-lhe a
estória de José e de seus irmãos, então ele poderia começar a compreender o
sentido espiritual do perdão. O mais alto sentido de perdão é olhar através do
ser humano e de sua atividade e ver que lá no centro de seu ser está Deus, que
no momento está sendo mal-interpretado.

Em todo tratamento nunca me permito ter um pensamento, fazer uma negação


ou afirmar uma verdade. Assumo a atitude: “Fala, Senhor, porque o teu servo
ouve...8 Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.”9
8. Samuel 3:9.

9. Salmos 46: 10.

Assuma a atitude de que este é o universo de Deus; deixe Deus fazer alguma
coisa a esse respeito; seja uma testemunha de Deus em ação. Assim, você é
levado a dizer a coisa certa, a pensar a coisa certa, ou a fazer a coisa certa.

Foi assim que o livro The Letters veio à luz. Todas as vezes que chegavam cartas
de pacientes de fora da cidade pedindo ajuda não importando qual fosse o
problema, eu me sentava, voltava-me para o interior de mim mesmo e deixava
Deus falar. Depois eu escrevia uma carta ao paciente sobre o problema, mas
sempre exemplificava um ponto particular do que chamamos verdade. Quanto
mais você vive nesse estado de receptividade, quanto mais você vive e
desenvolve esse ouvido receptivo, tanto mais a Voz divina falará a você em cada
ocasião e a cada chamado, embora nem sempre com palavras.
As palavras de Jesus são literalmente verdadeiras: “Eu não posso de mim
mesmo fazer coisa alguma... Se eu testemunho de mim mesmo, o meu
testemunho não é verdadeiro.10... A minha doutrina não é minha, mas daquele
que me enviou.”11 Essa é a nossa atitude. Como seres humanos, não temos
poder suficiente sequer para curar um simples resfriado. O poder é aquele
Impulso divino, aquela Coisa que chamamos Deus, ou o Cristo.
10. João 5:30,31.

11. João 2:16.

A única maneira pela qual podemos fazer Cristo influenciar em um caso é colocar
de lado o nosso pensamento humano e permitir que nos tornemos o veículo para
a atividade do Cristo. Então as palavras certas, os pensamentos certos, os
sentimentos certos chegam.

Durante muitos anos, tenho observado várias espécies de casos diferentes, nos
quais, se eu pudesse ter sido suficientemente receptivo, a resposta viria com o
primeiro pedido de ajuda e os resultados teriam sido imediatos. Mas em outros
casos talvez fosse necessário um segundo ou um terceiro chamado. Algumas
vezes isso pode levar dois ou três anos. Tudo depende da situação. Tive casos
que se arrastaram por muito tempo e que exigiram uma grande dose de
paciência e longas horas de trabalho. Houve casos em que, no início, tive dez,
quinze ou vinte chamados telefônicos em um período de vinte e quatro horas —
chamados incessantes. Depois eu vi esses chamados diminuírem gradualmente
de dez para cinco, para dois e depois para um, dia sim, dia não, e assim por
diante.

O processo era sempre o mesmo, sempre deixando o Cristo fazer o trabalho,


deixando essa Coisa interior infinita que chamamos o Cristo — o Consolador, o
Espírito Santo, o Espirito da verdade — fazer o trabalho e não tentando fazer de
mim mesmo um trabalhador mental usando processos ou tratamentos mentais.
Mesmo que a abordagem mental possa funcionar para certas pessoas em
determinados níveis de consciência, essa não é a abordagem do Caminho
Infinito.

Nada do que eu disse teve qualquer espírito de crítica, de condenação ou de


julgamento; eu me limito a falar do ponto de vista de que a atividade mental nada
tem a ver com a abordagem particular à verdade como foi ensinada no Caminho
Infinito. E, naturalmente, eu acredito mesmo que esta abordagem trará a maior
recompensa. A razão pela qual este trabalho cresceu e se disseminou tão
rapidamente é porque os resultados realmente aparecem, e aparecem porque
essa Coisa infinita dissipa a ilusão.

Pergunta: Todos podemos desenvolver essa receptividade?


Resposta: Sim, todos nós podemos desenvolvê-la, de acordo com o grau de
fidelidade aos princípios. No entanto, trata-se de um grande trabalho ao qual
devemos devotar nossas vidas, abandonando tudo o que tiver uma natureza
dispersiva, tudo o que tiver uma natureza material e tudo o que tiver uma
natureza de oposição. Você tem de colocar toda a sua vida nisso. Não se trata
de algo que possa ser realizado pelo simples desejo de realizá-lo. A intenção
deste livro não é deixar você sentado confortavelmente desfrutando por algumas
horas de um estudo interessante, mas sacudi-lo da cabeça aos pés, para fora de
sua paz humana, impelindo-o a uma atividade que torna bem-vindo esse sacudir.
Se isso acontecer, a partir de então, isso é realmente um trabalho.

Isso significa renunciar ao tempo e ao dinheiro. É algo em que você põe tudo,
para que seja digno de alguma coisa. É chegar àquele lugar onde Cristo vive em
você e, se isso é o que você deseja, terá de trabalhar para isso.

Passar de um ser humano a um ser espiritual não é possível de um salto. Até


Saulo de Tarso teve de procurar a verdade durante anos sob a tutela de um
mestre hebreu. Ele estava procurando Deus, seu coração estava certo, e porque
seu propósito era encontrar a verdade, não importando se o seu caminho estava
errado, por fim sua vida foi transformada num raio ofuscante e ele viu o Cristo.

Assim é conosco. Não importa o caminho que estejamos seguindo. O que


realmente vale é o grau de fervor com que procuramos a verdade. Podemos
concordar que não estamos mais buscando uma demonstração de coisas, mas
que estamos buscando a consciência da presença de Deus e a disposição de
deixar que as coisas nos sejam dadas por acréscimo?

Nesse fervor desenvolveremos a consciência espiritual. Eis por que enfatizei


que, além dos seus períodos de meditação, há três coisas essenciais neste
caminho: uma é um mestre que tenha captado uma certa dimensão do Cristo e
que possa ficar ouvindo e ouvindo, guiando e guiando; a segunda é estudar livros
inspiradores, metafísicos ou escriturais, que lhe sejam atraentes e satisfaçam a
sua necessidade, e não o estudo que é bom para alguma outra pessoa; e,
terceira, agarrar cada oportunidade de reunir grupos de pessoas que, sem
qualquer interesse, se juntem com o propósito de aprender mais a respeito de
Deus.

Cada vez que você comparece a uma reunião metafísica ou a uma reunião de
uma igreja, você está na companhia de pessoas cujo propósito principal na vida
é procurar Deus, não importando que caminho possam seguir. É possível
meditar e experimentar uma sensação daquela paz de Cristo em qualquer igreja
e ser feliz com grupos de pessoas de qualquer fé. O importante é estar entre
pessoas que amam a Deus e a verdade e estão procurando Deus e a verdade
de algum modo. Se você deseja chegar a Deus, você encontrará Deus!
CAPÍTULO 9

O Argumento ou
Tratamento
Se o mestre da sabedoria espiritual pudesse sentar-se e ouvir em silêncio e
depois deixar a Consciência divina conceder a verdade a seus discípulos,
haveria pouca possibilidade de qualquer mal-entendido; mas como as palavras
encobrem o significado real, é necessário que o discípulo desvende o significado
das entrelinhas.

Como você sabe, eu mesmo não recorro a afirmações e negações, e desaprovo


o seu uso neste trabalho. Coisas como repetir qualquer declaração, vinte e cinco
ou cem vezes, por mais científica que possa parecer; repetir o Pai Nosso dez
vezes, ou afirmar: “Todos os dias o êxito está me fazendo rico”, decididamente,
não fazem parte do Caminho Infinito. Todavia, essa afirmação precisa de
esclarecimento, porque o argumento é usado neste trabalho, e é essa parte do
trabalho que eu chamo de tratamento. Na maior parte do tempo você pode usar
muito pouco tratamento; mas, por outro lado, há ocasiões em que você pode
usar uma grande dose de tratamento.

Normalmente, durante o dia, quando chega algum pedido de ajuda por telefone
ou por carta, o tratamento deve ser muito pouco necessário, porque o estado de
consciência em que o prático ou o mestre vive ou mantém deve ser suficiente
para satisfazer a todas as necessidades. É preciso compreender que o pedido
de ajuda nada tem a ver com uma pessoa; é apenas uma sugestão. A maioria
das curas é ocasionada por nada mais nada menos do que alguma declaração
como: “Eu estarei com você”, ou, “eu tomarei conta disso”, ou “eu estou alerta”,
mas por trás dessas declarações está a consciência da verdade, expressa ou
não expressa.

Naturalmente, é preciso compreender que Eu significa Deus. Quando um prático


assegura a um paciente: “Eu estou alerta”, ele quer dizer que Deus está alerta
e, por isso, seu paciente está nas melhores mãos do mundo. Mas seria muito
perigoso se o prático fizesse tal declaração apenas como um ser humano,
porque, na condição de ser humano ele nada pode fazer por seu paciente, e
qualquer prático dedicado está bem consciente disso.
Até Jesus, o Cristo, disse: “Eu não posso, de mim mesmo, fazer coisa alguma1...
o Pai que está em mim é quem faz as obras.”2 Este estado de consciência,
entendido do ponto de vista divino, desenvolvido durante horas e horas de
estudo, de meditação, de prece e de vida acima do testemunho do sentido, é
que faz o trabalho.

1. João 5:30.

2. João 14:10.

Atenda aos Chamados no Instante do Contato


A maioria dos trabalhos de cura, de que tenho sido o instrumento, tem sido
realizada no mesmo momento do pedido de ajuda. Todo pedido de ajuda precisa
ser atendido no instante do chamado; por isso, nunca diga a ninguém que você
lhe dará um tratamento esta noite ou dentro de uma hora. Esta noite pode não
chegar. Atenda os seus casos e atenda-os agora.

E você tanto pode dar o tratamento numa sala repleta como quando você está
sozinho em casa. Você pode dar um tratamento viajando num ônibus, ou sentado
em sua escrivaninha, conversando com um paciente, enquanto cuida de outro
paciente. A razão para isso é que você não tem que dirigir qualquer pensamento
a ninguém, e você não tem de “reter” ou de enviar quaisquer pensamentos
certos.

Tudo o que você precisa fazer é ficar quieto e compreender no íntimo do seu ser:
“Estou sendo enganado pelas aparências? Acredito que haja um poder fora de
Deus? Há mais de uma vida? Não é esta a única vida, Deus? Não se trata
apenas de uma crença universal que vem a mim, tentando fazer-me crer que é
uma pessoa ou circunstância, quando durante o tempo todo se trata de
hipnotismo, de sugestão hipnótica? É aquele ‘poodle branco’ que não existe,
assim como não existem nem a doença nem a pessoa, porque tudo o que existe
é a vida divina que aparece como pessoa.”

Os pedidos de ajuda precisam ser atendidos à medida que chegam até você. Se
vinte, trinta minutos mais tarde, uma hora, ou duas, ou seis horas depois, o
paciente volta ao seu pensamento, com ou sem qualquer mensagem dele, ou
porque ele fez um contato por telefone ou por telegrama, uma vez mais, de
alguma maneira, você terá de enfrentar esta situação. Enquanto essa pessoa ou
seu problema continuarem a vir à sua mente, você terá de atendê-la. Você pode
atender no espaço ilimitado sem palavras ou pensamento, se estiver num estado
de consciência suficientemente elevado; ou se não estiver satisfeito quanto a ter
ocorrido a cura, você talvez tenha de fechar a porta de seu consultório, sentar-
se lá sozinho e meditar. Você talvez tenha de alcançar o centro de seu ser e
chamar: “Pai, Pai, revela-Te! Deixa-me sentir a realidade de Ser.”
Assim, você continua nessa meditação ou naquele silêncio com a sua mente em
Deus — não no paciente ou em sua queixa — meditando sobre Deus até que
venha uma resposta, até que alguma coisa em seu interior responda: “Está feito!”
Essa resposta talvez não venha necessariamente em palavras, mas você tem o
sentimento de que tudo está completo, uma sensação de cura, uma sensação
de liberdade tão completa da pessoa e do problema que mesmo que ela
chamasse dez minutos mais tarde para contar de novo suas preocupações, você
não daria atenção a isso porque já teve a sua resposta. Essa pessoa pode levar
dez minutos ou dez horas até perceber que foi curada mas, no que toca a você,
você está livre de qualquer preocupação ulterior com esse caso, porque a cura
ocorreu no momento que essa coisa se concretizou dentro de você.

Já aconteceu comigo ter de me sentar a noite inteira, meditando e refletindo


sobre alguma declaração de verdade, deitando-me e adormecendo por quinze
ou vinte minutos, levantando-me novamente e depois refletindo, estudando ou
meditando por duas horas, e às vezes começando tudo de novo, até surgir a
resposta.

Alguns práticos e mestres têm seu trabalho tão organizado que todas as
semanas podem sair por dois ou três dias e sentarem-se no topo de uma
montanha com Deus, exatamente como Jesus se afastou por quarenta dias. Mas
alguns de nós ainda não conseguiram organizar suas atividades de modo a
tornar isso possível. Talvez tenhamos de fazer esse tipo de experiência sentados
em nossos lares ou consultórios, ou à noite, enquanto o mundo dorme. O fato de
não se tirar essas experiências é uma das razões pelas quais, ocasionalmente,
surgem problemas que nos apanham espiritualmente despreparados, e a
resposta não vem tão rapidamente como deveria.

Quando lhe chega um chamado depois de dias e dias de estudo intensivo,


inspirador e elevador da Alma, ou o diálogo com outros sobre o Caminho — dias
que o elevaram para um estado de consciência — você verá que, dificilmente,
ficará sabendo se os casos que lhe foram apresentados são difíceis ou não: eles
simplesmente se dissolveram.

Mas, muitas vezes, quando estamos na rotina de nosso trabalho particular, nem
sempre nos encontramos nesse lugar elevado e por isso, o erro se torna
aparente para nós como se fosse um horrível demônio. Nessas ocasiões é que
é difícil compreender a inexistência do mal, mas é então que temos de nos ater
à verdade.

Exemplo de Tratamento
Suponhamos que me seja apresentado um caso de natureza aparentemente
séria. Imediatamente, eu poderia pensar sobre a vida e sobre Deus: eu
compreenderia que existe somente uma vida, e que essa vida é Deus, e porque
é a única vida, a vida deve ser eterna, deve ser infinita, deve ser onipresente, e
essa vida deve ser a vida de cada indivíduo. Por isso, em nenhum lugar do Céu
ou da Terra poderia haver uma vida prejudicada, uma vida doente, uma vida
inerte, uma vida estagnada, ou uma vida cheia de pecados. Somente a sugestão
mesmérica pode atestar o erro, e isso se altera no caso do entendimento da
Consciência única. Assim, o pensamento passaria de uma verdade para outra e
depois, finalmente, cessaria, e restaria apenas uma percepção da vida como
Deus. Esse é um exemplo de tratamento ou do uso de um argumento.

Eu não trataria a pessoa; eu não trataria as circunstâncias: eu trataria a mim


mesmo. Eu poderia até conversar comigo mesmo: “Ora, que coisa é esta que
está me tocando? Isto não é nada mais do que uma sugestão que me vem de
um estado de ser separado de Deus. Isto é, nada mais nada menos, do que o
hipnotizador tentando fazer-me acreditar que há um ‘poodle branco’, quando eu
sei em meu coração e em minha alma que não existe tal coisa. Por que, dentre
todas as pessoas, deveria eu acreditar que existe isso de mortalidade ou medo?
Por que deveria eu acreditar que existe uma mente separada de Deus?”

Então, eu me sentaria e aguardaria até que se tivesse o contato. É exatamente


como se ocorresse um pequeno estalo, um sopro e, quando capto alguma coisa
semelhante a isso, tenho uma sensação completa de liberação e posso levantar-
me e sentir-me seguro de que tudo está bem com o paciente. E normalmente
está.

Em muitos casos, o uso do argumento é necessário e é legítimo que você o


empregue sempre que uma aparência de erro chegue a você. Está certo que
você se sente e analise: “O que é isto que está vindo para mim? Não será a visão
que tenho dos trilhos de bonde que vai me fazer acreditar que eles se juntam?
Eu não tenho de aceitar isso! Existe alguém dizendo-me que há um ‘poodle
branco’ ou preto, ou cor-de-rosa? Eu não tenho de aceitar isso! Isto é nada mais
nada menos do que a presença de Deus, aparecendo como sentido material e
suas formações, e cabe a mim reinterpretá-la. Não há nada além da presença
de Deus — Deus, infinito e tudo. Nada mais existe!”

Esse poderia ser o fim do tratamento, mas o seu trabalho não está concluído. O
tratamento, ou o argumento, eleva você para onde você pode apreender ou
captar a palavra de Deus como ela vem à consciência. Tudo o que você fez no
tratamento foi reassegurar-se mentalmente de que a aparência não é real, mas
você ainda não orou, ainda não sentiu o Cristo. O que você está interessado em
realizar é a compreensão do Pai interior, do Cristo que vive em você, a
verdadeira percepção da presença e do poder de Deus, que dissipa a ilusão do
sentido.
Hipnotismo, a Substância das
Aparências Humanas
Todo erro é hipnotismo querendo operar como o seu próprio pensamento. Logo
que você compreende que o erro não está em seu pensamento, ou no
pensamento do seu paciente, você se separa da sugestão e fica livre. A
libertação consiste em reconhecer o erro, não importando sua forma, como um
hipnotismo universal ou uma sugestão mesmérica, que procura atuar como seu
próprio pensamento ou reflexão. Enquanto o erro não for reconhecido como
sugestão ou hipnotismo imposto a você, você permanecerá em pecado, doença,
carência ou limitação. Toda vez que aparece pecado ou doença, carência ou
morte não é senão o hipnotismo querendo agir como o seu pensamento. A
compreensão desta verdade é o seu remédio.

Cada alegação ou sugestão de mortalidade, mesmo que boa, precisa ser tratada
desta maneira. Essas aparências humanas, que são a atividade do mesmerismo,
precisam ser entendidas como o sentido finito ou não iluminado da mente e das
formações da mente. Essa inversão e essa reinterpretação do quadro
completam o tratamento e revelam harmonia divina onde parecia estar o erro.

Para ser um prático ou mestre é preciso que, em certa medida, a pessoa tenha
se libertado desse hipnotismo universal, de modo que possa voltar pura o mundo
real, como ele era, e “ver” com a mente não hipnotizada. Para esta consciência
iluminada, mesmerismo não é poder. Nunca foi poder real, mas operou como
presença e poder até que foi detectado e posto de lado pela compreensão do Eu
único como todo o poder.

Lembre-se de que o hipnotismo sempre aparece como pessoa, lugar, coisa,


circunstância ou condição. Por isso, novamente repito, nunca dê um tratamento
a um paciente ou a uma condição. Dê a você mesmo um tratamento a fim de
reinterpretar a aparência.

Como Manter Sua Integridade Espiritual


Muitos de vocês, no entanto, podem achar que não é necessário usar esse tipo
de tratamento em seu trabalho de cura. Alguns podem dar um passo maior,
sentando-se em silêncio com aquele ouvido de expectativa, deixando vir a
resposta. Quando um problema de qualquer espécie se apresenta a você, sente-
se e encontre o centro de seu próprio ser. Você pode apanhar a palavra Deus,
Cristo, ou Verdade e mantê-la em seu pensamento, sempre trazendo seu
pensamento de volta para ela e prosseguindo até que venha a percepção.

Esta é uma forma de tratamento superior à que faz uso do argumento, e você
pode eliminar o argumento, se se mantiver num estado espiritual suficientemente
elevado. Mas você não pode fazer isso se estiver continuamente descendo para
o nível mortal da vida, assistindo a filmes sensacionais, lendo romances lúgubres
e permitindo-se todas as experiências de sentido material com que a maioria das
pessoas ocupa o tempo e a mente. Não pense que você pode dedicar parte do
seu tempo a essa vida material e, ao mesmo tempo, estar em estado de
consciência espiritual no qual você não precisa usar o argumento para fazer um
tratamento. Isso não pode ser feito. Você tem de viver em um plano mais elevado
do que esse.

Isso não quer dizer que você tenha de se ausentar do mundo. Você pode
prosseguir em seu negócio ou em seu mundo social, e ainda viver num nível
espiritual; mas você não pode ocupar sua mente com filmes baratos, novelas
cheias de horror, reportagens sensacionais dos jornais, comédias degradantes
e ainda querer manter uma atitude espiritual. Para manter uma atitude espiritual,
você tem de lembrar: “Conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti.”3
Você precisa aprender tanto quanto possível a viver na atmosfera do Cristo.
3. Isaías 26:3.

Se você está nesse caminho, está no mundo mas não é dele; e mesmo que seja
natural e certo desejar ser um bom cidadão e decidir quem gostaria de ver eleito
e votar nessa pessoa, não se deixe perturbar se ela não for eleita. Esse não é
problema seu, absolutamente. Se você está dependendo da consciência
espiritual para a sua segurança, você estará seguro, não importa quem esteja
na chefia do governo. Sua responsabilidade é compreender continuamente a
verdadeira natureza de Deus, quer ele apareça como dirigentes do governo,
parentes, vizinhos, amigos ou inimigos.

O seu problema é você — e isso não é ser egoísta. A razão pela qual você é
importante e a razão peia qual é necessário que você mantenha a sua
integridade espiritual é porque a pessoa que segue por este Caminho pode
proporcionar segurança e força para milhares. Mantendo sua mente longe dos
problemas humanos do mundo e fundado em valores espirituais, ela pode atingir
dezenas de milhares de pessoas, possivelmente não da maneira que você pensa
que serão atingidas, mas, enfim, na direção certa. Não importa o quanto você
avance nesse caminho, seu julgamento humano em definir a direção que quer
tomar ainda pode estar errado. Você apenas não o deve definir para você mesmo
ou para outra pessoa, mas também não deve permitir que ninguém o faça por
você.

A Mente do Prático é a Mente do Paciente


Você não tem o direito de permitir que alguém manipule os seus pensamentos,
que trate dos seus pensamentos, ou que lhe envie pensamentos. Nunca! Não
deixe ninguém se apossar de sua mente; nunca entregue sua mente a ninguém.
Jesus nos disse há anos e anos para não temermos aquilo que poderia matar o
corpo, mas somente aquilo que pudesse destruir a Alma. E ninguém pode
destruí-la mais fácil e rapidamente do que se apossando de sua mente e
manipulando-a.

Se você me pedisse ajuda, eu nunca me permitiria ser tentado a enviar-lhe um


pensamento. Eu nunca seria culpado de semelhante ação. Mas eu me sentaria
e sentiria esta coisa interior através da qual entro em contato com o Cristo. Mas
eu só posso entrar em contato com o Cristo dirigindo-me primeiro a Deus, e
então meu contato será estabelecido. Depois disso, posso descansar em júbilo,
paz e harmonia.

É como tentar entrar em contato com alguém pelo telefone. Ninguém pode ser
contatado sem antes passar pela central. Depois de fazer esse contato, eu me
limito a permanecer no Escritório Central com Deus, e Deus, sendo a Sabedoria
onisciente, a Inteligência onipotente, sabe de onde vem o chamado, e Ele sabe
o suficiente para fazer o contato com a pessoa apropriada. Eu não faço isso;
Deus o faz. Tudo o que faço é ir até o Centro de meu ser, que é Deus.

Há uma única mente: por conseguinte, a mente que é minha e a sua mente.
Assim, quando vou até o centro de meu próprio ser, não há duas pessoas para
enviar pensamentos uma a outra. Há somente uma Pessoa infinita, chamada
Deus, em comunhão com Seus filhos infinitos. Essa Inteligência infinita sabe
exatamente quem fez vibrar o diapasão e por que e para quê, e a resposta é
enviada.

Quando me dirijo ao Cristo, nunca me permito pensar em um ser humano, nem


ao menos nos que solicitaram ajuda. O mero fato de alguém ter pedido ajuda ou
me ter procurado para obter auxílio significa que esse alguém está em sintonia
com o Escritório Central. Minha ida a Deus é como ir à Central e por isso,
provavelmente, o que acontece é que nos encontramos lá. Então, sempre que
Deus se revela para mim, Deus se revela para o paciente. Eu não tenho nada a
ver com tudo isso, exceto pelo fato de ser aquele que se dirige a Deus, ao centro
do meu ser. Lá, nós, como indivíduos, nos encontramos e é lá que o trabalho é
feito. Mas esse trabalho é feito por Deus, pelo Amor Divino.

É legítimo usar o argumento na cura, mas o seu propósito não é estabelecer


alguma coisa aqui; é apenas estabelecer a percepção da realidade exterior
dentro de você. Em geral, quando alguma pessoa faz afirmações, o faz com a
finalidade de curar uma pessoa doente. Quando uma pessoa toma uma
afirmação e a repete uma centena de vezes, ela o faz por estar convencida de
que há um pecado, ou uma doença, e que essa repetição de certo modo irá curar
o que está errado. Mas não é esse o nosso trabalho.

Entretanto, isso não quer dizer que não tenham havido boas curas através desse
método de trabalho; porém, pessoalmente, eu não tenho muita confiança na
permanência dessas curas, porque normalmente elas não são curas espirituais.
Conheci alguns dos primitivos trabalhadores metafísicos que de fato
trabalhavam duro mentalmente, e muitas vezes ocorriam curas; mas isso, em
geral, era ocasionado por uma mente que sobrepujava a outra por algum tempo.
Não nos permitimos esse tipo de trabalho.

Nosso trabalho é a compreensão de que tudo quanto existe é Deus que aparece
como indivíduo — você e eu. O tratamento não é destinado a mudar ou a
melhorar alguém ou alguma coisa. Ele visa a trazer para a nossa consciência a
garantia e a percepção da perfeição já existente. O prático sábio é capaz de ver
por trás da aparência falsa, finita, porque ele vê a mente nua, que é o instrumento
de Deus.

O sentido que apresenta situações de discórdia e desarmonia, de doença e


morte, é o mesmerismo universal que produz todo o sonho da existência
humana. É preciso compreender que não há mais realidade para a existência
humana harmoniosa do que as condições adversas do mundo. É preciso
compreender que toda a cena humana é sugestão mesmérica e que precisamos
nos elevar acima do desejo até para as boas ações humanas.4

4. Do autor, The Infinite Way (San Gabriel, Calif.: Willing Publishing Company, 1956), p. 193.
CAPÍTULO 10

A Missão do Messias
Durante séculos os hebreus aguardaram avidamente a chegada do Messias
prometido. Naturalmente, eles eram escravos de César e não se sentiam muito
felizes com a administração de sua Igreja, que os mantinha sob um vínculo muito
forte, de modo que viviam esquadrinhando os céus durante anos à procura desse
novo Messias. Eles pensavam que com a sua vinda ficariam livres de muitos dos
dízimos que a Igreja exigia deles e dos impostos que estavam pagando a César,
porque a voragem financeira sobre eles tinha crescido, tornando-se um problema
sério.

Portanto, a expectativa era de que, quando o Messias chegasse, ele certamente


destronaria César e lhes daria a Terra Santa para viver como um povo livre.
Provavelmente, a liberdade política era o centro de suas preocupações, porque
então a Palestina se tornaria uma entidade política, livre do domínio de Roma, e
eles seriam um povo livre econômica, política e nacionalmente.

Existem todos os indícios de que era isso o que estavam esperando do Messias;
mas quando Jesus veio, ele não lhes deu a liberdade material que esperavam.
Em resposta a todos os pedidos e demandas sobre quando essa tão esperada
liberdade lhes seria concedida, ele respondeu: “Meu reino não é deste mundo.”1

1. João 18:36.

Libertar os hebreus política, econômica ou nacionalmente não era a sua missão


e talvez seja essa a razão pela qual eles o rejeitaram. Se Jesus tivesse oferecido
liderar um exército contra César, eles provavelmente o teriam aceitado como o
seu Messias, o seu rei. Mas isso era impossível, porque esta não era a natureza
de sua missão. Seu ministério era espiritual, e o que ele estava lhes oferecendo
era a liberdade espiritual, a liberdade de toda espécie de materialidade. Se os
hebreus tivessem sido capazes de aceitar isto, teriam sido libertados de César e
de todos os outros vínculos, porque quando as pessoas estão espiritualmente
livres elas também estão física e mentalmente livres; porém, a visão do povo
hebreu não ia tão longe assim. Eles não podiam aceitar um Messias com esse
tipo de mensagem; por isso o rejeitaram.
A Necessidade Humana Impele as
Pessoas Para o Cristo
Nosso ministério espiritual de hoje é semelhante, no sentido de que as pessoas
que se voltam para ele estão, na sua maior parte, procurando alívio de algum
tipo de servidão humana. Se disséssemos aos nossos pacientes e discípulos:
“Vejamos se eu posso demonstrar um lar melhor para vocês viverem, um
emprego melhor, uma esposa melhor ou um marido melhor, filhos melhores, uma
renda maior, ou talvez estabelecer uma colônia em algum lugar para que se
livrem da bomba atômica, ou de um enorme exército para estarem certos de que
os comunistas não vão ganhar o controle do mundo.” Assim, não seria difícil
atrair multidões.

É fácil atrair multidões com promessas extravagantes de natureza material, não


importando quão irrealistas elas possam ser. As pessoas gostam de ouvir tais
coisas porque esta é a única espécie de melhoria que a maioria das pessoas
parece ser capaz de entender.

Contudo, o que sempre acontece é que apenas alguns poucos que captam a
visão mais elevada; mas apenas uns poucos; e desses poucos, um ou dois
captam o suficiente da visão para se elevarem diretamente às alturas. É uma
coisa estranha este trabalho. As pessoas, forçadas principalmente por alguma
necessidade, vêm para este ensinamento de Cristo, e quando lançam um rápido
olhar sobre ele, é como se tivessem recebido um sopro de ar fresco, e então
julgam que isso é o que sempre esperaram e onde desejam estar. E querem
dizer isso, pelo menos pensam que querem.

Mas este caminho tem uma maneira de satisfazer as necessidades humanas


das pessoas, de proporcionar-lhes rapidamente o montante de renda que elas
consideram adequado e o grau de saúde que julgam ser satisfatório. E é aí que
elas estacionam. Elas param aí, e algumas vezes até se afastam da verdade, ou
descansam nesse nível, satisfeitas por terem ido tão longe e por se manterem
aí.

Nos casos de centenas e centenas de pessoas com quem tenho trabalhado —


centenas e centenas que percorreram um pouco do caminho ao longo da trilha
—, vi uma parar quando conseguiu uma renda de cinquenta dólares por semana;
outra quando conseguiu cento e cinquenta, outra quando conseguiu duzentos e
cinquenta, e outra ainda que atingiu o estágio em que já não sentia mais dor.
Algumas pararam quando encontraram uma esposa ou um marido, ou passaram
a frequentar um círculo social mais desejável. Tenho visto repetidamente como
existem poucas pessoas que persistem realmente e estão alertas esperando por
aquela “última hora”, pelo mais alto grau de desenvolvimento possível de ser
obtido.
É por isso que o ministério de Cristo, que é oferecido ao mundo a cada dia da
semana, é rejeitado. Cada vez que alguém abre a Bíblia e lê: “Mas buscai
primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas”2 — está recebendo a oferta desse mesmo ministério espiritual
que foi oferecido há dois mil anos e que as pessoas de outros tempos rejeitaram.
Será preciso que eu diga quantas vezes as pessoas hoje rejeitam este mesmo
ministério do Cristo a favor de demonstrar coisas ou pessoas? Por que isso?
Será, talvez, porque estas pessoas ainda estão vinculadas ao seu sentido
material da vida?

2. Mateus 6:33.

A Vida Espiritual, Uma Vida Jubilosa


Se o mundo ao menos soubesse! Há prazeres no reino espiritual que
transcendem de muito os prazeres, as alegrias e a harmonia humanas; existem
amizades que transcendem qualquer tipo de relacionamento humano conhecido.
Vale a pena não se desviar deste caminho; vale a pena lançar velas por mares
nunca antes navegados, para o largo horizonte, para os lugares que o homem
comum jamais encontrará, para aquelas coisas pelas quais ele não abandonará
confortos materiais, para as quais não renunciará sua dependência humana e o
apego pela vida em família.

“Não só de pão viverá o homem.”3 No mesmo momento em que alguém atinge


esse reino interior, a consciência espiritual, ele não vive só de alimento, nem só
de sono. Isso não quer dizer que ele não goste de alimento ou de coisas
agradáveis. Nunca vi ninguém que tenha captado esta visão e se tenha tornado
ascético ou desequilibrado de alguma maneira.

3. Mateus 4:4.

Viver a vida espiritual não significa tornar-se santo e não significa viver com a
ração diária de um copo de leite ou alguns grãos de arroz. Ao contrário, tenho
constatado, não apenas comigo mas com muitos outros que tocaram esta
consciência mais elevada, que eles desfrutam a escolha das coisas da vida —
lugares interessantes, companhias estimulantes, alimento bem preparado e
casas bem mobiliadas. A verdade é que a percepção desta Presença e Poder
espirituais atrai as coisas mais elevadas e, mesmo assim, não torna a pessoa
apegada ou escravizada a elas. É um grande passo à frente saber que não
vivemos só de pão, que nossa vida interior é alimentada mais por nosso contato
espiritual do que por qualquer das atividades humanas da vida. Portanto,
cuidemos para não estabelecer nossos objetivos num ministério que nos
prometerá apenas uma vida material melhor e mais confortável.
Como Vivera Vida Cristã
Esta verdade não serve para tornar sadias as pessoas doentes nem ricas as
pessoas pobres, mas para despertar as pessoas, mesmo as saudáveis e ricas,
para uma confiança no poder espiritual, na segurança espiritual e na liberdade
espiritual, que não dependem do sucesso da pesquisa médica, nem de qualquer
ideologia política, nem do sistema econômico sob o qual estamos vivendo. Esta
é a espécie de liberdade que Jesus procurou dar aos hebreus, em contraposição
à liberdade da servidão física, que Moisés havia proporcionado ao seu povo.
Todos ainda permanecem sob a lei de Moisés, porém no sentido de que eles
estão agarrados à segurança econômica e política, e na medida em que ainda
não tenham encontrado a segurança espiritual que os manteria seguros, sem
importar sob que forma de governo ou onde estejam vivendo.

Ser um cristão significa mais do que a filiação a uma organização cristã ou à


cidadania de um país cristão. Significa viver o princípio de Cristo, que quer dizer
literalmente orar por nossos inimigos, orar por aqueles que nos perseguem ou
que maldosamente nos usam; isso implica fazer um esforço sincero para perdoar
nossos devedores até setenta vezes sete e dar amor em troca do ódio. A vida
de Cristo nos obriga a “embainhar a espada” e, por isso, a não usar a força
humana mesmo em nossa própria defesa.

A vida cristã, no entanto, é individual e nunca se sobrepõe a qualquer outra. Não


ditamos nosso desejo ao nosso vizinho; “damos a César o que é de César”;4 e
se nosso país nos convocar em tempo de guerra para o serviço militar ou com o
objetivo de comandar na guerra, cumprimos cada exigência que nos é feita,
embora sem maldade, ódio ou medo, e sem a convicção de que a força é um
poder real.

4. Mateus 22:21.

São cristãos todos os que aceitam a lei e a realidade do poder espiritual, quer
pertençam ou não a uma igreja. Os verdadeiros cristãos não têm por que confiar
nos meios e métodos humanos, já que têm a Presença interior para guiar, dirigir,
governar, curar, manter e proteger. Eles têm “comida para comer, que vós não
conheceis”,5 isto é, uma substância, força e poder não visíveis para o mundo —
uma confiança interior.
5. João 4:32.

Mas o fato é que a maioria dos cristãos é mais hebraica do que cristã. Eles
acreditam nos ensinamentos judaicos e, habitualmente, têm mais conhecimento
e fé no que está no Velho Testamento do que no que está no Novo. Quando se
diz a um cristão que não ouse dirigir uma ofensa contra o seu vizinho, não
importando qual tenha sido a agressão que sofreu, ele considera isso
transcendental, em vez de considerá-lo um ensinamento real de Jesus Cristo.
Quando alguns cristãos são lembrados de orar por seus inimigos, eles não
parecem saber que isso está na Bíblia e que os que aceitam o ensinamento de
Cristo devem agir de acordo com essas leis. Os cristãos nem sempre são
cristãos. Eles lêem a história do Bom Samaritano e, no entanto, frequentemente
recusam-se, por razões pessoais, a ajudar alguém — talvez porque a pessoa
seja alemã, japonesa, russa, católica, judia ou negra. Mas como quer que seja,
eles não estão cumprindo o ensinamento do Mestre, Cristo Jesus. Seus
ensinamentos desvelam e revelam o ser espiritual, a identidade espiritual e a
existência espiritual.

O que você espera e o que você quer do seu Messias? Lembre-se de que o seu
Messias é o Cristo do seu próprio ser. A questão é se você chegou ou não àquele
ponto em que pode rejeitar a tentação de manifestar pessoas e coisas e voltar-
se para o Cristo, para o Reino interior, conquistando a sua liberdade espiritual.
Ao passar para a vida espiritual, você está procurando esse Reino interior, esse
Cristo que está dentro de você, essa Presença divina, uma liberdade espiritual
que significa liberdade das leis materiais, da atividade material, das forças
materiais, quer a força seja de infecção ou de contágio, quer a força seja dos
astros ou de qualquer coisa que alegue ter poder.

Há uma razão pela qual você está nesse caminho. Alguma coisa o atraiu para
esse caminho, para esse ensinamento; alguma coisa o atraiu para o estudo
deste livro. Você não foi atraído por seu conhecimento ou amizade comigo, nem
por causa da grande reputação que eu tenho como escritor. Não, não foi por
nenhuma destas razões. Foi porque alguma coisa indefinível, uma comunhão
invisível, uniu leitor e escritor no nível interior e espiritual.

É o que o Mestre, Cristo Jesus, mencionou quando disse: “As minhas ovelhas
ouvem a minha voz.”6 É o que o místico hindu quer dizer quando olha uma
pessoa com este reconhecimento “Você é meu discípulo”, e o discípulo olha e
replica “Eu o tenho procurado há anos!”
6. João 10:27.

É isso o que ocorre! Você alguma vez pensou que o Cântico de Salomão e outras
mensagens espirituais são escritas na linguagem do amor porque todo o
relacionamento entre o mestre e o discípulo é um relacionamento de amor? Esse
relacionamento sagrado não pode e não vem através da mente que raciocina.
Quando você encontra o mestre ou o ensinamento que é realmente seu, você o
reconhece imediatamente, talvez por causa de sua comunhão interior. De
qualquer forma, trata-se de um reconhecimento — quase como se você
encontrasse uma pessoa pela primeira vez, a olhasse nos olhos e dissesse:
“Creio que iremos ser amigos para sempre.” É uma comunhão em um nível
interior.
Em outras palavras, todos os dias da semana você encontrará essas pessoas,
circunstâncias e lugares que são levados até você e sem os quais você não
poderia prosseguir, nem eles sem você. Você se sentirá atraído para esses
lugares onde poderá ser muito útil e exatamente no momento certo. Você está
em sintonia com um sistema infinito de telefonia espiritual e é a Central que está
enviando ou fazendo os contatos para você. Você não os faz; a Central os envia
e os faz para você. Quando você está vivendo essa vida, sempre constata que
esse Escritório Central, Deus, a sua Consciência interior, é a influência realmente
dominante em sua vida. E já não há pensamento que vise a querer ou merecer
alguma coisa. De fato, você não se preocupa com nada; você apenas segue as
direções que lhe são dadas e entra em contato com as pessoas necessárias
para o seu desenvolvimento.

Este é, verdadeiramente, o primeiro passo da vida espiritual. Você deu o primeiro


passo ao ser levado a ler este livro. Daqui por diante, verá que as pessoas são
levadas a você e que você é levado às outras pessoas. Você se verá sendo
conduzido a lugares e lugares, levando você até as pessoas. E dirá: “Essa é
justamente a coisa que eu gostaria de ter — se tivesse pensado sobre isso.” Mas
é sempre alguma coisa maior do que você poderia ter pensado por si mesmo.

Nosso objetivo não é apenas obter um pouco de conhecimento para poder curar
algumas dores ou alterar as datas de algumas lápides tumulares. O que
queremos é aprender como viver a vida que Jesus veio nos mostrar. Ele não
veio apenas para curar as pessoas doentes ou para ressuscitar os mortos. Isso
foi somente a prova de que sua mensagem era verdadeira. A importância de sua
mensagem foi que no reino espiritual somos “co-herdeiros com Cristo” em Deus,
nós fazemos parte da casa de Deus, somos cidadãos conterrâneos dos santos.

Em outras palavras, trata-se de uma vida totalmente diferente da que vivemos


no plano interior — uma vida jubilosa. Na verdade, somos parte do mundo
exterior, mas temos uma atividade interior. Não importa onde possamos estar,
no meio de qualquer multidão, grande ou pequena, se nos encontrássemos
haveríamos de trocar um pequeno sorriso. Temos alguns pequenos segredos;
aprendemos algumas pequenas coisas sobre o mundo e sobre nós; e, por isso,
não importa onde nos encontremos — dois ou vinte de nós — haverá apenas
esse pequeno sorriso, querendo dizer: “Nós sabemos alguma coisa, não
sabemos?”

Sim, realmente sabemos alguma coisa! Sabemos um pouco mais a respeito do


Cristo; sabemos um pouco mais a respeito da vida interior; sabemos um pouco
mais a respeito daquele Reino que não é deste mundo; e sabemos muito mais
sobre como vencer o mundo. Sabemos que, vencendo o mundo, estamos
vencendo as crenças que este mundo apresenta, crenças em infecção e
contágio, em discórdia, pobreza e em coisas que estão fora e à parte do nosso
próprio ser.
Estamos aprendendo mais do que isso. Estamos aprendendo que o Cristo não
era um homem. O Cristo é o sentido do Amor divino que flui entre nós e, se o
mundo O deixar, Ele deve fluir de homem para homem e de mulher para mulher,
inundando a Terra. Então nunca haveria um homem desejando a propriedade do
outro ou a sua esposa; nunca haveria um país desejando dominar outro, ou a
sua mão-de-obra, ou seus recursos naturais.

Deus, a Estação Central


Há um sentimento que flui através do mundo como está fluindo através daqueles
dentre nós que não têm outro pensamento exceto o de estar na presença de
Deus, e que podem começar a sentir esse divino relacionamento interior, esse
fio que corre entre os dedicados peregrinos espirituais do mundo, e no centro de
tudo, Deus, O Escritório Central, de onde saem as linhas que nos tornam um em
Cristo Jesus.

Você começa a ver o que significa ser um em Cristo Jesus? Nós todos somos
um no Amor; nós todos somos um na Inteligência infinita; nós todos somos um
no interesse; nós todos somos um. Tudo o que eu tenho é seu e tudo o que você
tem é meu. Por quê? Porque todos nós temos acesso à mesma Infinitude, somos
todos “co-herdeiros com Cristo” em Deus. Isso é uma camaradagem em Cristo,
um parentesco em Cristo. Há um laço invisível entre nós, porque provamos e
tocamos — pelo menos em certa medida — essa comunhão interior. No
momento em que captamos a mais diminuta visão da consciência de Cristo,
temos carne, água e pão; temos suprimento; temos amizade, companhia e
saúde.

“Tenho para comer um alimento que vós não conheceis.”7 Tenho uma
substância da qual nada sabeis. Nada fora de mim pode esgotar-se porque estou
sendo continuamente abastecido por este Armazém interno infinito.
7. João 4:32.

Eu tenho alguma coisa que “este mundo” desconhece por completo. Aquilo que
me reabastece continuamente está reabastecendo todos, tornando todos
independentes de tudo o que o mundo exterior pensa e faz. Eu tenho carne; eu
tenho e não dependo de pessoas, lugares, circunstâncias ou condições. Não
dependo de nada, a não ser da natureza infinita do meu próprio ser.

Se conseguirmos captar um pequeno momento dessa visão, e se, por alguma


razão, despertássemos amanhã cedo sem uma única moeda de dez centavos,
ainda assim nosso desjejum, nosso almoço, nosso aluguel e tudo o mais de que
necessitamos nos seria oferecido, desde que tivéssemos recebido o nosso
batismo, desde que o Espírito Santo tenha descido sobre nós, dando-nos a visão
espiritual para discernirmos a natureza invisível do suprimento.
Você pode dizer: “Essas são palavras bonitas!” E eu concordarei com você que
elas não são mais do que palavras — até que você próprio capte o fogo que
existe nelas, até que você capte o seu sentimento: “É isso!” Se isso lhe
acontecer, se isso estalar dentro de você e você sentir: “Ah, estou em casa!”
você realmente saberá que tem uma fonte de suprimento da qual o mundo nada
sabe.

Então você pode verdadeiramente dizer como o fez Jesus: “Eu venci o mundo”,8
significando “Eu venci a necessidade das fontes e recursos do mundo. Eu venci
a necessidade de qualquer coisa do reino exterior, porque estou sendo
alimentado interiormente. Eu tenho uma comida que não conheceis. Eu tenho
uma fonte de suprimento da qual o mundo nada sabe.”

8. João 16:33.

Tendo consciência desse fato você poderá tirar água de um poço sem um balde.
Se você não tivesse uma corda suficientemente longa para ir até o fundo do
poço, esta consciência de Cristo poderia fazer brotar água dos seus próprios
dedos. “E eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a mim.”9 E se eu for
levantado, doarei e concederei a todos os que estão e são de minha consciência,
alguma coisa desse Armazém infinito, sem esgotar o meu próprio ser. Jesus,
com a consciência do “alimento que não conheceis”, alimentou milhares, e ainda
tinha doze cestas cheias que sobraram. Assim é conosco. Podemos ficar
distribuindo e distribuindo esses bens, sem nunca, jamais, ficarmos
empobrecidos ou exauridos.

9. João 12:32.

“Tenho para comer um alimento que vós não conheceis”10 — Eu tenho uma
Presença interior, um Poder interior, que atende a qualquer situação da
experiência humana, seja para mim mesmo ou para cinco mil outros. Não se
trata de nada que eu possua pessoalmente, no sentido de que posso recusá-La
a alguém. Não se trata de nada sobre que eu tenha o poder para dizer: “Eu posso
dá-La a você ou recusá-La”, nem mesmo tenho o poder para vendê-La. Ela é
minha somente no sentido de que Eu sou o fio especial pelo qual Ela está
correndo no momento. Eu sou o veículo especial por cujo meio Ela está se
expressando — não através da qual, mas como esta Coisa infinita está
aparecendo.
10. João 4:32.

Os que são cidadãos conterrâneos da casa de Deus se tornaram parte de uma


rede telefônica infinita, uma rede telefónica espiritual. Eles sempre estarão uns
com os outros e sempre se sentirão livres para chamar um ao outro, sabendo
que são um em Cristo Jesus, que o interesse de um é o interesse de todos, e
porque têm essa comida que o mundo não conhece, comida em quantidade
infinita e em forma de variedades infinitas, eles a podem dividir livremente entre
si. Não há razão para recusá-la. Ela é sempre de uma natureza santa, no sentido
de que não é pessoal.

Os que fazem parte da morada de Deus jamais iniciam demandas pessoais uns
contra outros, ou solicitam sacrifícios pessoais. A única demanda que existe é
espiritual:

O Pai está em mim, e Eu estou no Pai, e você está em mim e Eu estou em você.

Eu tenho uma força interior que nunca vacila. Eu tenho vida eterna — Eu sou
vida eterna. Eu sou a própria presença de Deus e estou abençoando o mundo
através de minha compreensão de que isto é verdadeiro, não somente quanto a
mim, mas em relação a cada indivíduo no mundo; e se ele despertou ou não
para esta verdade, esta é a verdade do seu ser.

Uma vez que você tenha atingido a condição de Cristo, terá alcançado a sua
liberdade espiritual. Você então estará livre de toda queixa de mortalidade —
pecado, doença, carência e limitação.
CAPÍTULO 11

Procure a Resposta
Interior
Quando você trabalha e estuda, e, acima de tudo, quando você medita, constata
que as respostas para a maioria das perguntas que podem surgir em sua mente
lhe são reveladas na meditação. Muito diferente do conhecimento obtido através
de livros é o conhecimento que vem através do esclarecimento ou da revelação.

Pode-se dizer que uma pessoa a quem foi revelada alguma verdade espiritual
conhece essa verdade específica, pelo menos no que se refere a esse
esclarecimento particular; mas quando ela tenta contar a outra pessoa sobre
isso, seu relato carece da autoridade da revelação inicial, exceto se for relatado
por uma consciência iluminada, caso em que há convicção.

Possivelmente não se trata de uma declaração de larga amplitude dizer que a


maioria das pessoas do mundo não sabe quase nada a respeito do significado
dessas evidências intangíveis, como Deus, Cristo, Verdade, Luz ou Graça. O
pouco que pode ser encontrado nos dicionários e livros de consulta, para a maior
parte, é apenas um pequeno esboço de um assunto muito mais profundo.

Suponhamos que conhecemos pouco ou nada a respeito do Cristo. Contudo,


sabemos que o Cristo não é um homem; sabemos que o Cristo não é uma figura
histórica. Sabemos que o Cristo não nasceu numa ocasião particular, num
determinado país, ou ligado a uma religião específica. Sabemos que “antes que
Abraão existisse, Eu sou”.1 Antes de Abraão, o Cristo é. Mesmo até a
consumação dos séculos, o Cristo é.
1. João 8:58.

O Cristo não é uma pessoa, mas uma presença. Porém, se alguém tentasse
curar uma pessoa através dessa explicação, muito provavelmente fracassaria,
porque este conhecimento do Cristo estaria limitado apenas ao reino do intelecto.
Muita coisa da verdade é conhecida intelectualmente; mas muito pouco tem sido
apreendido e esta é a razão de tantos fracassos no exercício da cura.

Nosso estudo metafísico nos convenceu a muitos de nós, intelectualmente, de


que este é um universo espiritual e de que toda a estrutura física — boa ou má,
saudável ou doentia — não é senão um sentido ilusório da realidade harmoniosa
sempre presente.

Algumas vezes surge como uma surpresa que o nosso “conhecimento” ou


“afirmação” desta verdade não produz imediatamente uma cura, mas é preciso
compreender que não se produz qualquer mudança no universo visível apenas
através da verdade percebida intelectualmente. Enquanto a verdade não se
tornar um estado de consciência compreendido através da iluminação interior,
não ocorrerá qualquer mudança na situação exterior.

A cura espiritual é uma atividade da consciência, não do intelecto. É a percepção


espiritual daquilo que aos olhos aparece materialmente. O que aparece
exteriormente como uma condição física, boa ou má, precisa ser reinterpretado
através da percepção espiritual, até que a realidade seja compreendida na
consciência.2

2. Para uma discussão ulterior deste assunto, ver o capítulo “O Novo Horizonte”, de The Infinite
Way, pp. 193-97.

Toda questão e problema da experiência humana precisam ser levados para as


profundezas da consciência em meditação, até que o sentido intuitivo tenha sido
despertado, revelando-nos a verdade do ser sobre o que até agora tivemos
apenas um sentido ilusório, um conceito finito.

Para ajudá-lo a desenvolver um verdadeiro conhecimento do Cristo, leve o


termo, o Cristo, à sua meditação, começando por uma declaração muito humilde:
“Eu conheço tão pouco a esse respeito, Pai; revele-o para mim.” Feche os olhos
e mantenha a atenção centrada no Cristo. Cada vez que sua mente tentar vagar,
traga-a suavemente de volta; traga de volta o seu pensamento; traga de volta a
sua atenção. Ao mesmo tempo, o seu ouvido está aberto, e enquanto o seu
ouvido está em sintonia e escutando, sua atenção está centrada no Cristo. Se
você fizer isso, quer isso aconteça na primeira, na segunda, na terceira ou na
décima nona vez, por fim você captará o significado real do Cristo, um significado
que você jamais será capaz de explicar a qualquer outra pessoa. Mas você
mesmo o saberá, porque o Cristo será uma presença real em sua consciência.
Será um poder, uma influência, um ser e ainda assim Ele será alguma coisa que
você não pode definir.

Você se lembra que Lao-tsé disse que se você pode defini-lo, Ele não é isso.
Assim acontece com o Cristo. Não importa o que você possa dizer a respeito do
Cristo; o que você disser não será completamente Ele. E, assim, o restante do
conhecimento de que você necessitaria teria de brotar de dentro de você.

O mesmo se pode dizer quanto à palavra Deus. Se você tem de fato alguma
idéia a respeito do que é Deus, pense sobre isso e provavelmente descobrirá
que, na verdade, você não sabe o que é Deus. De fato, você pode, algumas
vezes, ter alguns vislumbres, mas o esclarecimento pleno e completo, ou a
revelação, deve vir de dentro, e quando vier você estará vivendo um mundo
inteiramente diferente daquele em que se encontra no momento.

Veja um outro termo: a “luz”. Através dos tempos, existiram muitas almas
dedicadas, que podiam ser chamadas ou mencionadas como a luz do mundo —
Elias, Isaías, Jesus, João, Paulo, e muitos outros mais recentes. Por mais que
você pense saber quanto ao significado da expressão “a luz do mundo”, ainda
há muito mais a saber, e isso virá a você quando você levar a palavra “luz” para
a sua meditação.

Um dos mistérios mais profundos da sabedoria espiritual é a Alma. Falamos da


Alma como sendo Deus, e quando falamos da sua alma e da minha alma, apenas
uns poucos sabem o que a palavra Alma significa realmente. Por isso, tome a
palavra “Alma” e volte-se humildemente para o Pai: “Revele-a para mim. Dê-me
luz sobre a Alma.” Então, com o ouvido que escuta, esse estado de
receptividade, mais cedo ou mais tarde, um dia, uma semana, um mês, um ano
— você começará a receber revelações, ou a percepção espiritual sobre o
assunto da Alma.

Consciência Iluminada e Consciência


Não-iluminada
O propósito dessa meditação é alcançar a consciência iluminada. Primeiro,
permitam-me explicar que a consciência que pensa em Deus como algo
separado e à parte do seu próprio ser, a consciência que não teve qualquer
ensinamento em termos espirituais, é o que poderíamos denominar consciência
não-iluminada. Esta é a sua consciência ou a minha consciência antes de
receber um ensinamento espiritual. Porém, depois que tivermos estudado a
sabedoria espiritual durante um, dois ou três anos, aprenderemos que Deus é a
realidade do ser, e então tiramos Deus do céu e O identificamos como nós
mesmos.

Em nosso estado de consciência não-iluminado, pensamos em Jesus como o


Cristo, mas através da iluminação compreendemos o Cristo como o Espírito de
Deus, não só do homem, Jesus, mas de você e de mim. Eis que Jesus disse:
“Antes que Abraão existisse, Eu sou.3 ...E eis que eu estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos.”4 Se aceitarmos o ensinamento de Jesus,
isso fará do Cristo uma possibilidade para cada um de nós.

3. João 8:58.

4. Mateus 28:20.

Em nossos primeiros anos de estudo metafísico aprendemos que a prece não é


pedir a Deus que nos dê um clima ensolarado no dia em que desejamos fazer
um piquenique, nem é pedir a Deus que afaste nossos pecados ou nossas
doenças. Quando aprendemos o suficiente para saber que a prece é uma
compreensão interior de nossa atual perfeição espiritual, nós nos tornamos uma
consciência iluminada, ou pelo menos obtemos algum grau de consciência
iluminada.

Então, chegamos ao ponto em que aprendemos a levar para a nossa meditação


qualquer palavra ou termo a cujo respeito estamos procurando luz ou
conhecimento. Aprendemos que não temos de ir a um mestre, que não temos
de ir a uma igreja. Tudo o que temos a fazer é levar alguma palavra, termo ou
idéia para a nossa consciência e lá, em um estado de expectativa, aguardar que
a luz brilhe sobre ela e nos revele o seu significado.

Nossos amigos podem dizer: “Aconteceu alguma coisa com você. Você tem uma
expressão diferente em seu olhar” ou: “Você parece mais saudável.” Mas essa
é a única mudança que eles notam. Segundo todos os indícios, somos a mesma
pessoa. Parecemos a mesma pessoa, sentimos que somos a mesma pessoa,
mas não somos. O estado não-iluminado de consciência está sendo substituído
por um estado iluminado de consciência. Ao mesmo tempo, nada mudou no
mundo. Ele não se tornou um mundo melhor, mas nosso sentido do mundo
melhorou. Este mundo é o mundo de Deus, e sempre foi espiritual e perfeito. A
iluminação que nos veio não melhora o mundo: apenas melhora o nosso conceito
do mundo, a nossa visão do mundo, de modo que começamos a vê-lo mais
atentamente como ele de fato é.

Em resumo, esta é a diferença entre uma consciência iluminada e uma


consciência não-iluminada. Sobre isso não há qualquer coisa de natureza
misteriosa. Uma consciência iluminada é a sua consciência quando ela perdeu
um pouco de seus ensinamentos errôneos, religiosos ou mentais, e você chegou
ao ponto onde pode contem piar o mundo e dizer: “Ora, ele é bonito! E agora
compreendo que sempre foi bonito. A luz está dentro da minha própria visão. Por
isso, consigo ver o mundo através da consciência dotada de luz, através da
consciência iluminada que eu agora sou.”

Essa consciência iluminada é a mente que estava em Cristo Jesus. Esta mente
não é outra senão a sua mente. É a sua própria mente, mas depois que ela
perdeu o amor pelo erro, o ódio do erro e o medo do erro. Não há nada de
misterioso que você contacte ou se “sintonize” com: Trata-se da sua própria
mente depois que ela recebeu um grau de iluminação, isto é, depois que você
aprendeu que não existe poder fora do seu próprio ser e, porque Deus é o seu
próprio ser, não existe um poder mau.

A mente que estava em Cristo Jesus é aquela mente única, universal, espiritual,
infinita e eterna. Quando você, individualmente, recebe a iluminação, aquilo que
chamamos de “ignorância” é dissipado, e a mente que estava em Cristo Jesus
agora é revelada como a sua mente.
Habitue-se a um Estado de Receptividade
Quando se lhe apresenta um problema — seu ou de um paciente ou amigo —
volte-se para dentro: “Pai, este problema ou pessoa veio a mim. Dê-me luz.”
Esqueça a pessoa, esqueça o problema e lembre-se de que você não está
procurando uma solução para o problema, mas apenas voltando-se para o Pai a
fim de obter luz sobre esse assunto. O problema não está por aí no mundo: O
problema é uma crença que está no seu pensamento, uma ignorância do que
Deus é, ou do que o Cristo é.

Em sua meditação, você não está buscando a boa saúde de alguém, mas está
buscando a verdade a respeito da saúde, da harmonia, da paz e do júbilo.
Lembre-se: não se demore em um problema como se fosse trabalhar nele. O
problema lhe foi apresentado, mas agora descarte-o. Quando você fecha os
olhos e se interioriza, não leve pessoa ou o problema com você; não leve a sua
ignorância para a sua meditação. Mantenha o seu pensamento sobre a luz, ou
sobre a verdade, e deixe que a luz chegue. Logo você sente uma agitação,
aquele “estalo”, ou então receberá uma resposta específica e saberá que a coisa
foi feita.

Permitam-me, por um momento, voltar ao meu exemplo do Lago Erie. Enquanto


eu acreditar que SOLE as Cataratas do Niágara e que isso é tudo o que existe
para mim, continuo recorrendo a elas, usando-as, vivendo-as, e através das
Cataratas do Niágara, permaneço totalmente inconsciente da abundância do
Lago Erie que está atrás de mim. Através de minha consciência iluminada,
porém, aprendo agora que o Lago Erie é realmente a substância, a totalidade e
a infinitude das Cataratas do Niágara.

Da mesma maneira, antes que a luz da verdade descesse, eu acreditava que o


eu visível era tudo o que existia para mim e que eu recorria aos meus próprios
poderes mentais, à minha própria experiência e educação. Para minha força,
recorria aos meus músculos, ao meu sono e ao alimento que ingeria; e procurava
não empregar mais força além do que havia absorvido em calorias e vitaminas.
Mas, depois de despertar para a minha verdadeira identidade, eu sei que isso na
realidade não é tudo de mim; é pelo menos uma parte de mim. Atrás de mim há
um Oceano infinito chamado Deus. Eu estou dentro e faço parte desse tremendo
Oceano — na verdade, eu sou esse lugar por onde todo esse Oceano flui como
Oceano.

Cada vez que fechamos nossos olhos em meditação — ou os mantemos abertos


— e abrimos nossos ouvidos para ouvir a “pequena voz silenciosa”, nós nos
colocamos em um estado de receptividade. Cada vez que fazemos isso, estamos
reconhecendo que há todo um oceano de Inteligência, todo um oceano de Vida,
de Amor e de Verdade, e estamos abrindo nossa consciência para esse influxo.
Só abrindo nosso ouvido é que podemos ouvir a plena voz de Deus. Abrindo
nossa consciência temos a orientação e a direção de Deus ao nosso alcance;
temos toda a saúde, o vigor, a longevidade, a imortalidade, a eternidade, a paz,
o júbilo, o poder e o domínio — tudo o que pertence a Deus agora nos pertence,
porque abrimos nossa consciência para o Seu influxo.

Nossa existência precisa ser como um estado de receptividade, continuamente


abrindo a consciência e mantendo-a aberta para que Ele entre. Você não O
limita; você não O torna finito; você não pensa que Ele veio como uma pessoa
perfeita ou através de um certo livro ou de um ensinamento particular. Ele pode
aparecer a você como uma pessoa ou como um livro, mas se você estiver
mantendo sua mente ilimitada e sua consciência aberta, o livro que atende hoje
a cada uma de suas necessidades, pode estar fora de moda amanhã, no dia
seguinte, ou no ano seguinte, e você pode estar pronto para um livro inteiramente
novo. Se você apenas mantiver a sua consciência aberta, haverá uma nova
mensagem, um novo fluxo, continuamente.

Isto é verdadeiro não apenas quanto aos livros, mas também quanto ao corpo.
Não existe razão para que o corpo jamais deva perder sua vitalidade e vigor. Se
ele realmente decair, é pela mesma razão que as Cataratas do Niágara secariam
se não houvesse um Lago Erie por trás delas. Se as Cataratas do Niágara não
recebessem a água do Lago Erie, não poderiam durar muito tempo. Assim,
também, se você e eu começássemos a usar todo o nosso conhecimento e toda
a nossa força física recorrendo à nossa Fonte, em breve estaríamos
completamente exauridos.

Deve haver uma ocasião em que reconhecemos a verdade da declaração de


Jesus: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca
de Deus.”5 A Palavra é para todo o sempre e saindo sempre da boca de Deus,
mas nós estamos escutando, ou lendo um livro para ver o que este diz em uma
determinada página? Fazemos isso repetidamente. Limitamo-nos às páginas de
um livro, mesmo de um livro que abrange tudo, como a Bíblia, porque até mesmo
a Bíblia não disse tudo — pelo menos não o disse de tantas maneiras como
poderia ter feito, porque Deus, sendo infinito, precisa ser infinito em sua
expressão e, sendo eterno, precisa estar eternamente se revelando.
5. Mateus 4:4.

Não limite a infinitude de Deus, nem a eternidade de Deus, nem a onipresença


de Deus. Deus está com você infinitamente, eternamente, onipresente. A única
coisa que pode afastá-lo Dele é você fechar sua consciência a Ele.

Um Tratamento Iluminado Jamais Cessa


Há muitos anos escrevi que um tratamento, um tratamento iluminado, uma vez
dado, atua durante o resto do tempo até que seu trabalho esteja feito. Não existe
isso de um tratamento que termina, porque um tratamento correto é a palavra de
Deus. Se você alguma vez ouvir a palavra de Deus, fique certo de que essa
palavra de Deus continuará atuando até que a sua cura ocorra, quer você receba
a cura nesse minuto, no próximo dia ou no ano seguinte.

Você não precisa de um novo tratamento todos os dias. A única razão pela qual
você necessita de um tratamento diferente, novo ou especial todos os dias é
porque você considerou que o tratamento não era realmente um tratamento. Na
verdade, era a sua idéia muito estreita de tratamento, provavelmente apenas
uma declaração de verdade, e isso, absolutamente, não constitui um tratamento.

Um tratamento só está completo quando você terminou sua parte nele, escutou
a “pequena voz silenciosa” e recebeu uma resposta. Esse é um tratamento pleno
e completo; essa é a palavra de Deus tornada carne. Não existe isso de palavra
de Deus suspensa no ar. A palavra de Deus precisa tornar-se carne; Ele precisa
permanecer entre nós. Ao receber um “estalo” como resposta, esse tratamento
atuará em sua consciência até romper a ignorância e revelar um sentido
iluminado do ser.

O que o Deteve?
A cura espiritual só é realizada quando não há resistência no pensamento de
quem está curando, com relação às circunstâncias ou à pessoa: “Concilia-te
depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho.”6 Em
grande parte do trabalho de cura, quando se faz uso de negações e de
afirmações, imediatamente é estabelecida uma resistência ao erro. Lembre-se
de que o erro não é uma coisa, nem uma condição, nem é uma pessoa. Portanto,
ao estabelecer essa resistência, você quase está criando a coisa a que está
resistindo.
6. Mateus 5:25.

Na cura espiritual, reconheça que o erro não existe como uma realidade, não
importando sob que forma apareça — pecado, doença, carência ou limitação.
Quando o problema lhe é apresentado, não lhe oponha resistência, não o negue
nem o afirme, mas assuma a atitude de “não-resistência”, uma “indiferença
divina” — não erguendo uma muralha mental contra ele, não tentando sobrepujá-
lo, não tentando negá-lo. Deixe que sua atitude seja de liberdade em relação ao
medo, compreendendo que você não tem de resistir a uma miragem, que você
não está indo separar os trilhos nem erguer o céu para além da montanha.

É como se Jesus estivesse diante de um homem com um braço atrofiado e


dissesse: “Estende a tua mão.”7 O que fazia com que fosse possível para ele
dizer a um homem com o braço atrofiado ou para o aleijado: “Levanta-te e
anda!”?8 Isso só podia ser dito porque toda a vida dele tinha sido um
reconhecimento contínuo de que não havia nada que pudesse deter aquele
homem; não havia presença ou poder no braço, na perna ou nas costas, que
tivesse alguma coisa a ver com o fato de ele se levantar, se refazer e sair
andando.
7. Mateus 12:13.

8. Mateus 9:5.

Agora, quando alguém lhe pede ajuda, em vez de reagir dizendo: “O que é que
eu penso a este respeito? O que é que eu sei? Isso não é verdadeiro; isso não
é real” — procure compreender o que quero significar quando eu lhe digo para
sorrir, porque você sabe que o que lhe está sendo apresentado é uma miragem
e tudo o que você tem a fazei é reconhecer que se trata de uma miragem. A
consciência de Cristo não resiste ao erro; Ele não reconhece o erro como um
poder. Jesus disse a Pilatos: “Nenhum poder terias contra mim, se não te fosse
dado do alto.”9 Você se lembra que, quando caminhou sobre a água, Jesus não
aceitou a lei da física que declara que um corpo de maior densidade do que a
água tem de afundar.
9. João 19:11.

A consciência espiritual não concorda em pensar na crença de qualquer erro que


exista como uma presença ou como um poder. Ela aparece em qualquer fase ou
forma de erro como se você estivesse assistindo a um filme sabendo muito bem,
quando o filme termina, que o homem que acaba de receber um tiro vai se
levantar, sacudir a poeira e aprontar-se para interpretar outra cena. Você fica
sentado, tranquilo, sabendo o tempo todo que é apenas um “filme”, e que você
está assistindo ao desenrolar de um trecho de ficção.

Em sua experiência humana, você assume muito essa mesma atitude, não
criticando, julgando, condenando, sentindo-se triste por quem está por baixo, ou
por uma pessoa doente ou pecadora, não elogiando aqueles que você julga
bons, mas reconhecendo, como proveniente de Deus, todo o bem que não tem
mais realidade ou poder para fazer qualquer coisa do que a fita na tela ou a
miragem no deserto.

Quando você alcança esse estado de consciência, em que cada pedido de ajuda
desperta em você apenas uma resposta: “O que é que eu posso fazer com uma
miragem?” você começará a sentir a verdadeira cura espiritual, a cura de Cristo,
o mesmo tipo de cura realizada por Jesus e pelos apóstolos, curando sem
apreensões e sem o uso do poder para vencer qualquer mal. Quando esse
estado de consciência é alcançado, você está no lugar onde todos os pedidos
de ajuda despertam em você nada mais nada menos do que um “O que é que
eu posso fazer com uma miragem?”
O Poder do Silêncio
À medida que penetramos nas revelações mais elevadas do Mestre, veremos
que não é necessário expressar pensamentos, usar o poder mental ou físico.
Aprendemos que há dentro de nós uma Presença divina, um Poder infinito, que
faz muito mais por nós do que nós mesmos e que opera mais efetivamente em
silêncio. Quando um prático pode chegar, em sua própria consciência, a um lugar
de silêncio absoluto, a um lugar onde ele é completamente um ouvido que
escuta, nesse instante — que não precisa durar mais que um piscar de olhos —
o que quer que alguma vez esteve errado na Terra pode ser curado.

O silêncio, o pensamento não-manifestado, o verdadeiro poder, essa tremenda


energia, está nessa Coisa que chamamos o Cristo. Nós vemos o Seu efeito, mas
nunca Ele em Si. Ninguém pode jamais ver, ouvir, provar, tocar ou cheirar esse
Cristo infinito, mas nós vemos os Seus efeitos.

Aqueles dentre vocês que são jardineiros sabem que, quando plantam uma
semente no solo, não podem ver o poder que atua através dessa semente: vocês
podem ver um efeito; podem ver a semente abrir-se; podem até ver a parte
interna da semente pouco a pouco formar raiz e podem ver alguma coisa surgir
do chão, mas nunca vêem o poder invisível que produz essas mudanças. Isso
nunca foi visto: tudo o que vocês vêem é um efeito.

O próprio poder que atua no silêncio da semente é o poder que opera no silêncio
de nossa consciência e, quando atingimos esse grau de silêncio, atingimos a
iluminação. À medida que aprendemos a depender do Invisível Infinito,
constatamos que estão acontecendo coisas em nossa existência que não
havíamos planejado — coisas bonitas, harmoniosas e saudáveis — e quando
nos conscientizamos dessas experiências, instintivamente nós as reconhecemos
como o resultado desse Poder, desse Invisível Infinito que chamamos o Cristo,
a presença de Deus.

Sabemos que Aquilo está operando em nós, através de nós e por nós, embora
de início seja difícil confiar plenamente Nisso. É como aquela primeira vez
quando tentamos realizar uma cura sem confiar em um pensamento “certo” ou
em um pensamento “bom”. Esse primeiro momento, quando esperamos ver
alguma coisa acontecer sem nos preocuparmos, é semelhante a cair no espaço
sem nada para nos sustentar, porque não existe um pensamento a que
possamos nos agarrar.

Mas nesse momento vem a primeira prova palpável de que lá embaixo estão os
“braços eternos”. Quando você já não confia mais em uma pessoa ou em um
pensamento, subitamente você começa a sentir alguma coisa tão palpável como
os “braços eternos”.
Fico imaginando se você sabe que os “braços eternos” são uma realidade, que
isso existe realmente e que, embora não possa ser visto nem ouvido, pode ser
sentido em sua invisibilidade.

Em linguagem bíblica, suponho que uma confiança completa no Infinito Invisível


seja chamada de fé; mas na maioria dos casos a fé muitas vezes é uma
confiança em algo que uma pessoa ainda não sabe que existe. O que estou
descrevendo não é esse tipo de coisa. É mais parecido com o que você sentiria
se estivesse na água com nadadeiras e então dissesse: “Eu tenho fé.” Você tem
fé porque na realidade sente aquelas nadadeiras e o efeito que produzem.

Essa fé — este entendimento, esta confiança — só acontece quando você sente


esses “braços eternos”. Não é nada que você aceita antes de tê-la sentido. É
somente uma fé de que isso poderia ser, ou deveria ser, ou tinha que ser, ou
talvez seja na realidade. O que quero dizer é que, uma vez que você tenha tido
a primeira experiência de ficar sem a ajuda de uma pessoa ou de um
pensamento, e você sentiu Alguma Coisa apanhá-lo, a partir de então, cada vez
mais você se apóia nesse Infinito Invisível.

O Poder de A tração do Espírito


No Infinito Invisível existem laços entre nós. Há um laço entre Deus, a Vida e o
Ser universais e sua expressão individual, que chamamos de homem e mulher
individuais. À medida que nos conscientizamos dessa vida universal,
começamos a encontrar os que fazem parte de nossa demonstração espiritual;
começamos a encontrar os que estão em nosso nível de consciência. Nós os
encontramos, embora eles possam nunca ter ouvido a respeito da verdade sob
qualquer forma, o que pode ser necessário à nossa demonstração do momento.
Em outras palavras, há uma Força invisível que atua no plano interior, atraindo
para nós as pessoas e as experiências necessárias para o nosso
esclarecimento. E tudo isso acontece sem que nos preocupemos, sem termos
planejado dessa maneira.

Entramos em contato com o Infinito Invisível quando tocamos esse lugar de


nossa consciência que chamamos Deus, ou o Cristo. Mesmo sem qualquer
preocupação com o amanhã ou com as coisas de amanhã, tocamos o Centro
que em sua maneira infinita e invisível é realmente a consciência de toda a
espécie humana. Esse Centro atua sobre aquele nível invisível, a fim de atrair
para nós as harmonias da existência, seja em forma de pessoas, de lugares, de
coisas, de circunstâncias ou de condições.

Esta atividade no plano invisível é completamente diferente do trabalho no plano


visível. Por exemplo: todos sabemos como sair e colocar um anúncio no jornal
e, assim, atrair para nós as pessoas que precisam do que queremos vender.
Saberíamos como sair entre nossos amigos e dizer-lhes a respeito de alguma
coisa de que precisamos. Sabemos como viver e nos movimentar nesse plano
exterior com uma boa margem de sucesso.

Mas o que vamos aprender agora é como parar de nos preocupar pelas coisas
da vida, como viver nesse Infinito Invisível e compreender que, como o escritório
central da companhia telefônica, Ele pode ligar-nos com qualquer coisa em
qualquer lugar do mundo, necessária a nosso esclarecimento. A única diferença
neste caso é que não precisamos saber o número que queremos. Tudo o que
temos a fazer é estar em contato com Deus, o Centro do nosso ser: Ele sabe,
Ele atrai e Ele contacta — e de maneiras que parecem quase milagrosas. Se
pelo menos você pudesse ver a atuação desse Infinito Invisível! Algumas vezes
ela pode ser vista na meditação e, se você persistir, chegará a ocasião em que
verá todo o segredo da vida — tudo o que está subjacente à natureza, todas as
forças do Universo.

Preexistência
Existem pessoas que estão no caminho espiritual e que chegam a um lugar
onde, por alguma razão, parece-lhes preferível abandonar esse plano e partir.
Mas porque estiveram nesse caminho, sabem bem mais; contudo, no momento
pode haver um problema que, aparentemente, não conseguem vencer e, por
isso, consentem em prosseguir. Essas pessoas, porém, estão em uma escala
ascendente e seu desaparecimento tem muita probabilidade de ser uma
libertação em relação à materialidade porque, nesse desaparecimento, elas
podem ter realizado a última coisa que não podiam conseguir completamente
aqui e, dessa maneira, serem completamente livres.

Esta foi a experiência de uma pessoa que conheci e que durante vinte anos ou
mais estudara a metafísica e sofria de um problema de saúde que parecia ser
maior do que ela podia resolver. Ela não podia resolvê-lo, nem o problema podia
ser resolvido para ela — ou pelo menos não o foi. No entanto, ela aqui estava —
vinte anos no caminho ascendente, provavelmente conhecendo mais metafísica
do que a maioria das pessoas; mesmo assim, ela não era bastante capaz de
fazer sua demonstração. Finalmente, aceitou a idéia de desaparecer, porém
poucas horas depois de ter-se ido, ela percebeu o ocorrido. Tanta materialidade
havia sido eliminada que ela viu a plenitude da luz e conseguiu retornar à vida.
Neste caso, o desaparecimento foi, na verdade, um passo progressivo. De fato,
a vida não está realmente “aqui” ou “lá”: a Vida é onipresente.

Quando chegamos naquele ponto em que o Infinito Invisível se torna uma parte
real de nossa existência, quando chegamos àquele ponto em que realmente O
vemos atuando em nossa experiência — não a Sua atuação, mas o efeito de
Sua atuação — quando, a cada dia, temos alguma prova do que está se
passando em nossa experiência e que não podemos explicar humanamente —
algo dotado de uma boa natureza — e quando chegamos ao ponto em que
podemos nos voltar para o Infinito Invisível em busca de orientação, de direção,
de conselho, de saúde e de força, então entramos num estado de consciência
que transcende as limitações do tempo e do espaço.

Se você acredita que a vida é imortal e que a sua vida é eterna, você tem de
acreditar que se, mesmo por alguma razão, você tivesse a experiência da morte
ou do passamento, isso nada mais seria que um lapso momentâneo da
consciência. Você imediatamente se restabeleceria e prosseguiria, porque a
consciência não pode terminar; a consciência não pára no túmulo. A vida não
termina no túmulo: a vida é eterna, e essa vida se manifesta eternamente como
aquilo que chamamos de nossa experiência individual.

Se você aceita isso como verdadeiro, você também terá de aceitar a verdade de
que a vida nunca teve um começo. Você pode pensar que a sua vida individual
começou em 1900, em 1890 ou em 1880, mas isso nunca aconteceu. Na
verdade, pode ser que você a tenha percebido nessa ocasião particular, e essa
percepção constitui a sua experiência atual. Mas como agora você medita, você
vai aprender o verdadeiro significado da imortalidade; você vai aprender que
muito antes de adquirir a percepção deste mundo, você estava vivo, vivendo de
um modo produtivo e harmonioso, exatamente como você viverá de um modo
eterno e imortal após o que chamamos de “desaparecimento” deste plano da
existência.

Este conhecimento ou convicção tem um valor profundo e tremendo para nós,


porque explica muitas das experiências humanas que estamos vivendo. Ele nos
revela as leis espirituais que regem a experiência humana, leis que não
começaram a atuar a partir de nossa data de nascimento, e leis que
compreendemos como continuarão a atuar em nossa experiência, se alguma vez
consentiremos na experiência da passagem ou do desaparecimento.

Tudo isso está subordinado ao tema da preexistência. Se nossa vida de trabalho


tivesse apenas a ver com o aprendizado de um simples método para curar as
pessoas, ou para alterar a data de suas lápides tumulares, ninguém deste mundo
teria muita importância. Nós simplesmente nos ocuparíamos em aprender como
fazer os tratamentos e, dessa forma, conseguir algumas curas.

Aqueles dentre vocês que foram levados à leitura deste livro e encontraram sua
vida para o Caminho Infinito, já começaram a deixar o estado de consciência em
que toda a sua atenção está centrada no fato de vocês terem ou não um pouco
mais de dinheiro ou de vocês terem alguns dias a mais ou a menos de dor: ela
está centrada onde o seu interesse reside nas leis de Deus. Para compreender
completamente essas leis, você tem de começar pelo entendimento de que,
porque você é essas leis e a própria atividade dessas leis, você nunca teve início
e nunca terá fim. Através desse entendimento, você encontrará seu lugar
espiritual, justo.
Por intermédio do Infinito Invisível, todas as experiências, pessoas, livros,
entendimento e conhecimento necessários a seu esclarecimento serão levados
até você. Para seu esclarecimento humano, você talvez devesse considerar as
ações humanas; mas porque seu esclarecimento daqui por diante será espiritual,
mesmo que externamente pareça humano, você terá de encontrar a resposta
para isso na lei espiritual.

A única razão pela qual estou discutindo imortalidade e preexistência é para que,
quando você entrar em meditação, não se limite a nada que já compreenda
humanamente. Volte-se para dentro e peça uma revelação das leis de Deus —
as leis que existiam antes de Abraão e que existirão até a consumação dos
séculos. Então, você começará a se entender e a entender o seu lugar no plano
de Deus.

Algum de vocês acredita que veio para a Terra apenas para ir à escola, casar-
se, constituir família e morrer? Tal programa deixa de lado toda a idéia de Deus.
Não importando o quanto harmoniosa e feliz possa ser sua experiência humana,
poderia ser realmente esse o plano de Deus para a Sua criação? Isso não é
realmente muito insignificante para creditar a Deus? Não, volte-se para dentro e
medite sobre o seu lugar individual no plano de Deus.

Qual é o plano de Deus para o universo espiritual? Qual é o plano de Deus para
este mundo? A única resposta legítima pode vir de dentro do seu próprio ser,
porque diz respeito ao seu lugar nesse esquema; diz respeito ao seu lugar na
vida. Ninguém neste mundo exterior encontrará o seu lugar espiritual, salvo se
ele lhe for revelado de dentro, salvo se a pessoa receber de dentro o impulso
que gradualmente o leva a esse lugar.
CAPÍTULO 12

Abrindo a Consciência
à Verdade
A cura espiritual é um trabalho consciente e não pode ser realizado por uma
pessoa que se senta serenamente e diz: “Bem, que Deus o faça.” Na verdade,
chega uma ocasião quando você pode legitimamente usar essa expressão, mas
se a usasse durante os primeiros estágios do seu esclarecimento,
provavelmente estaria pensando num Deus separado e à parte do seu próprio
ser, de alguma coisa de fora, que poderia fazer algo por você. Essa atitude
poderia fazer com que você perdesse o seu caminho na trilha espiritual, devido
a uma fé cega.

No trabalho de cura, abra a sua consciência e assuma a atitude de Samuel:


“Fala, Senhor, porque o teu servo o escuta”1 “Tranquilizai-vos e sabei que eu
sou Deus”2 — sabei que o Eu está Se derramando como o você individual.

1. Samuel 3:9.

2. Salmos 46:10.

Você pode visualizar isso lembrando-se uma vez mais do exemplo das Cataratas
do Niágara e do Lago Erie. Suponhamos que você seja as Cataratas do Niágara
e que dentro de você mesmo e a partir de você mesmo, você esteja
continuamente se consumindo, de modo que por fim não sobre nada. Mas se
você compreendesse que por trás das Cataratas do Niágara há o Lago Erie e
que, na realidade, não há Cataratas do Niágara — este é apenas um nome dado
ao Lago Erie em um lugar onde ele se lança sobre um precipício — não haveria
sentido de limitação ou de esgotamento.

Assim é conosco. Nós nos chamamos de homens mas na realidade não o


somos: nós somos esse lugar onde Deus está para sempre Se derramando,
individualizado com um você ou como um eu. Na realidade, não existe um lugar
onde Deus começa e o homem termina. Aquilo que é visível de nós é Deus —
nós somos Deus tornado visível. Somos aquele ponto onde Deus se focaliza em
um indivíduo, mas ainda assim de uma maneira infinita. Não existe um lugar
onde o homem e Deus possam ser separados, e você pode dizer que onde existe
um homem lá está Deus, assim como não pode dizer que até um certo ponto
existe o Lago Erie e a partir desse ponto as Cataratas do Niágara. As Cataratas
do Niágara e o Lago Erie são uma coisa só, e tudo o que o Lago Erie é, as
Cataratas do Niágara são: tudo o que o Lago Erie tem, as Cataratas têm; mas o
Lago Erie está continuamente se escoando como as Cataratas do Niágara. Não
existe nenhum lugar, até a linha divisória das águas, onde você possa separar
uma coisa da outra.

Já que é verdade que a Divindade está fluindo individualizada como você e eu,
a única razão para qualquer privação em nossa experiência — quer seja de
saúde, de riqueza, de oportunidade, ou privação sob qualquer forma — é que
passamos a acreditar que o que vemos que ali existe somos nós, que esta forma
visível é o nosso ser; em lugar disso, nós apenas somos o lugar através do qual
Deus está se derramando.

Para corrigir esse engano e vencer essa crença de separação, uma coisa, e uma
única coisa, se faz necessária: nossa consciência precisa se conservar aberta o
tempo todo para esse fluxo, para Deus fluir como você ou como eu.

A consciência aberta é a compreensão de que Deus está Se derramando como


você e como eu, e que não existe lugar onde Deus termine e você ou eu
comecemos. Tudo é um fluxo interminável, mas esse fluxo tem de ser mantido
como uma coisa contínua.

Manhã, tarde e noite — especialmente depois que vamos para a cama à noite e
que nos levantamos pela manhã, e depois, tantas horas do dia quantas sejam
possíveis — devemos nos lembrar: “Eu e meu pai somos um”,3 e este Pai está
Se derramando como um ser individual. Ainda que não nos sentemos para
meditar, devemos, por um segundo ou por um minuto, abrir nossa consciência à
compreensão do relacionamento entre Deus, o Infinito Invisível, e nós, a
manifestação visível desse Infinito Invisível.
3. João 10:30.

“Conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti”,4 e a partir de agora
até o resto do tempo vamos manter nossa consciência em Deus, abrindo a cada
hora nossos ouvidos ou apenas olhando para o alto em direção aos céus. Este
será o nosso reconhecimento da infinitude de Deus Se derramando como ser
individual. Depois de um mês dessa prática, podemos olhar no espelho e não
nos reconhecer.

4. Isaías 26:3.

Quando você estiver sentado em meditação, notará uma mudança ocorrendo em


seu organismo: sua respiração se torna mais lenta; seus pensamentos correm
cada vez mais devagar e, finalmente, param; e você descobrirá que o seu
diafragma se retrairá e seu peito se expandirá porque esta é, provavelmente, a
posição natural do corpo; mas, quer seja assim ou não, isso traz em si uma bela
sensação de paz.

O ritmo do universo está se apossando de você. Você pode não se mover, mas
sente que está em sintonia, sente um ritmo, sente que há uma harmonia de ser
e uma paz mental. Mas é mais do que uma paz mental: é uma paz espiritual que
pousa sobre você, e você pode ficar sentado por muitos, muitos minutos nessa
atitude. Você se recosta em paz e harmonia, mas ao mesmo tempo se torna
receptivo à comunicação que vem de dentro. Você encontrará muitos trechos na
Bíblia que descrevem essa bonita paz que vem quando você sente que está
amparado nos “braços eternos”, quando a Alma está em repouso e os sentidos
da Alma estão quietos.

Mas não deixe que esta se torne uma atitude de ociosidade mental, de
estagnação, ou de relaxamento, porque o que estou descrevendo é diretamente
oposto a isso. O que estou descrevendo é um estado de alerta em que você não
pensa. É um estado de alerta que se apressa, não obstante leve em si a
sensação da “paz que vai além do entendimento”, o júbilo de existir, sem
qualquer razão aparente ou externa para esse júbilo. Trata-se de uma sintonia
interior.

“Não Resista ao mal”


Por fim, todo o seu trabalho de cura será feito dessa maneira, e você virá para o
lugar onde não terá um único pensamento quando se sentar para ajudar alguém,
ou mesmo para ajudar a si mesmo. Você se recostará e ficará em paz; você pode
se lembrar de que não há nenhum lugar onde o Lago Erie termina e as Cataratas
do Niágara começam, isto é, nenhum lugar onde Deus termina e o homem
começa. Toda a Divindade está se despejando como você; tudo o que o Pai tem
é seu; toda a sabedoria, todo o conhecimento, tudo o que você precisa saber
está onipresente como a sua verdadeira consciência.

Com alguns pequenos lembretes, tais como: “‘Fala Senhor: porque teu servo te
escuta’; aqui estou esperando pela ‘pequena voz silenciosa’”, você permanece
nessa paz até que ocorra o “estalo”, e então o tratamento está completo. Você
saberá que o paciente teve uma cura ou sentiu uma grande sensação de alívio
ou de liberdade, ou que a situação de alguma maneira foi satisfeita.

Se você julgar necessário repetir o tratamento diversas vezes, adote o mesmo


procedimento: encontrar o centro do seu ser, encontrar sua unidade com o
Eterno, sentir o ritmo completo desse universo e manter-se em consonância com
ele. Existe uma lei espiritual subjacente a essa meditação, em que não ocorre
pensamento, nem argumento, nem tratamento, mas apenas a percepção
consciente da presença de Deus e aquela sensação de paz. Sua base está na
seguinte lei: “Não resista ao mal” — uma das leis mais poderosas encontrada na
Bíblia. O que isso está realmente significando é que o erro não é real e, se você
resistir a ele, você o tornará real, e tem início o conflito.

Estão sempre nos dizendo para nos protegermos do mal, o que fazer a seu
respeito quando o encontrarmos, enquanto o tempo todo isso não passa de uma
imagem mental: “Não resista ao mal.” Quando alguém pedir ajuda, não erga uma
barreira mental e recuse o mal. Diante de qualquer situação errônea ou adversa,
em vez de negá-la, em vez de dizer que isso não é real, quando sob todas as
aparências isso está realmente ocorrendo no quadro externo, não argumente,
não combata, não resista absolutamente, mas apenas sente-se e diga: “Eu
gostaria de saber quão real você pode ser...”

Em vez de negar o erro, deixe que o seu sentido espiritual reinterprete a situação.
Deixe que Deus reinterprete qualquer que seja a situação que se apresenta
diante de você:

Já que eu sou a Consciência infinita, já que, incluído em meu próprio ser, está o
universo todo, através de minha consciência desta verdade eu me torno a lei
neste universo. Eu aceito em minha consciência a revelação de que o mal é irreal
e, portanto, não tem de ser rechaçado ou combatido; eu me torno uma lei em
meu universo através de minha compreensão consciente das leis espirituais da
vida.

Vejo toda a injustiça, toda a falta de integridade, toda a desarmonia, toda a


discórdia, toda a falta de ação cooperativa como apenas a interpretação finita
Daquilo que é real e, portanto, não os combato: sento-me calmamente em paz.
“Não resisto ao mal” e, dessa forma, me torno a lei para essa situação e vejo-a
dissolver-se automaticamente.

Então, e somente então, você pode dizer: “O mal não é mesmo real, e vi sua
irrealidade demonstrada e a realidade tornar-se manifesta.”

Se você combater o mal, acaba fazendo dele uma realidade conferindo-lhe um


poder que pode fazer com que seja impossível para você vencê-lo. Se você
resistir a alguém que lhe causa um mal, você estabelece um antagonismo dentro
da sua consciência e, ainda que essa determinada pessoa não lhe tivesse
causado nenhum dano, poderia surgir alguma outra coisa, porque você tornou
esse antagonismo tão real que ele agora tem de ser combatido e vencido.

Se você permanece em seus direitos humanos, mesmo em seus direitos legais,


poderá ver-se empenhado numa batalha. Sua missão não é travar batalhas, mas
permanecer quieto e ver a salvação representada pela verdade de que qualquer
circunstância ou situação que apareça é uma manifestação de Deus. Até que
você aprenda a fazer isso, o que quer que você enfrente, mesmo quando for algo
de bom, representa o seu sentido finito daquilo que realmente é. Portanto,
lembre-se que a lei: “não resista ao mal” — é o auge da cura espiritual. Isso
permitirá que você enfrente qualquer situação no mundo com um desdenhoso:
“E daí?”

Deixe que Deus Interprete a Situação


Na cura espiritual não existe ação mental, não existe preocupação consciente,
não existe afirmação ou negação consciente. Ao contrário, existe a convicção de
que, enquanto a realidade do quadro que lhe é apresentado está em Deus e é
de Deus, você irá deixar que Ele o interprete para você.

Mesmo quando você está lendo um livro, lendo a Bíblia ou ouvindo uma
conferência ou um mestre, sente-se novamente com a seguinte sensação: “Eu
não estou tão interessado nas palavras que estou lendo ou ouvindo, mas no
modo como Deus vai interpretá-las para mim.” Deixe seu estado de receptividade
absorver o que está sendo dito ou lido; deixe que o Infinito dentro de você lhe
traduza o que está sendo dito ou lido.

É tolice alguém sentar-se e olhar para uma pessoa pecadora ou doente e dizer:
“Você é a imagem perfeita de Deus.” Isso é realmente levar as coisas um pouco
longe demais! Mas é bem diferente voltar-se para o interior e pedir a Deus: “Que
tal interpretar isto para mim e deixar que eu veja o fato como ele é?”

Ao pedir a Deus para interpretar a situação para você, não há resistência, não
há o reconhecimento de que existe um erro a ser vencido, não há o
reconhecimento de que existe um pecador a ser reformado, não há o
reconhecimento de que existe uma carência ou uma limitação que precisa de
atendimento — existe apenas a convicção de que há alguma coisa que você não
entende mais do que entenderia se alguém estivesse falando em sânscrito e
você não pudesse compreender o significado da confusão que está sendo
despejada sobre a sua consciência, a não ser por meio de um intérprete versado
nesta língua. Assim, você deve deixar que Deus interprete a situação que lhe
está sendo apresentada, na linguagem do Espírito.

Desde que nossa premissa é a de que toda a ação é ação da mente, e que essa
mente é o instrumento de Deus, tudo o que aparece para nós é a atividade de
Deus. Por isso, o que estamos fazendo agora não é sobrepujar o erro, mas
interpretar o quadro que está diante de nós. O mal não é uma coisa, nem uma
pessoa: é uma interpretação errônea de alguma atividade de Deus, porque Deus
é literalmente tudo. Visto que não há ação fora da ação da mente, e visto que
não há atividade fora da vida eterna, mesmo olhando aquilo que o mundo chama
de morte, na realidade estamos testemunhando a vida eterna em ação.

Esta é a única razão pela qual Jesus pôde ressuscitar alguém dentre os mortos.
Esta é a única maneira pela qual um prático pode trazer um moribundo de volta
à vida, não dizendo: “Você está morrendo, e eu o estou trazendo de volta à vida”,
mas reconhecendo que não está se passando nada além da atividade de Deus
que se interpreta através da mente. O prático precisa sentar-se em paz e
sossego até que Deus, o Intérprete interior do seu ser, interprete a cena para
ele. O prático nunca faz a interpretação.

Evite o Uso de Chavões Metafísicos


A resposta de alguns trabalhadores metafísicos às vezes é muito aborrecida para
o discípulo ávido de sabedoria espiritual. Por que alguém às vezes diz: “Isso não
é verdade”, ou “Isso não é real”? Tudo isso é insensatez. Por que uma pessoa
diz isso se acredita que não se trata de coisa verdadeira? O fato é que ela
acredita que é verdadeira, ou então não estaria dizendo que não é.

Nunca vi um milionário que andasse por aí dizendo: “Eu sou rico e sei disso!”
Isso habitualmente é feito pela pessoa que não é rica e que está tentando
hipnotizar-se com a crença de que o é. Você não encontra muitas pessoas
saudáveis por aí dizendo: “Eu estou bem; eu sou o filho perfeito de Deus”; e você
não encontra pessoas satisfatoriamente empregadas dizendo: “Deus é o meu
empregador.” Não, elas têm tal consciência de suprimento e de saúde que não
lhes é necessário andar por aí resguardando o seu moral por meio de
declarações que esperam se tornem verdadeiras.

Quando você enfrenta o que para os seus sentidos pode ser o mal, seja honesto
a esse respeito e reconheça que se trata de uma situação de aparência má, da
qual você não gosta. Você constata que, quando tem muito respeito por si
próprio, quando faz declarações em que acredita, em vez de fazer rodeios com
negações vazias nas quais, no fundo da sua mente, você não acredita, mas
apenas desejava que fossem verdadeiras. Este hábito de fazer declarações,
afirmando e negando, tem servido a muitos como degraus; mas para alguns têm
sido degraus para o túmulo, para uma instituição ou para um acidente. Para os
que foram suficientemente sábios para ver que se tratava apenas de um estágio
temporário do qual emergiriam, isso foi realmente um degrau para uma
consciência mais elevada.

Neste campo, como em tudo o mais, estamos face a face com o fato de que em
geral as pessoas não são pensadores independentes. Essas pessoas têm muito
mais probabilidade de ser como um pedaço de mata-borrão, desejando absorver
tudo o que se diz ou se escreve. Per essa razão, você ouvirá discípulos fazendo
toda espécie de declarações ridículas, algumas das quais ouviram de outras
pessoas e algumas que leram em alguma parte.

Pelo menos, sejamos honestos: “Eu não sairei mais por aí dizendo que sou rico
se estiver com fome, ou que estou bem se estiver doente. A partir de agora,
admitirei abertamente que me sinto péssimo e com fome, mas sei muito bem que
há uma interpretação certa para isso. Há uma resposta correta, e eu vou me
sentar, meditar e deixar que Deus me ponha de volta no caminho certo.”
Se você captar a idéia de que até mesmo o que está aparecendo como conflito
é parte da totalidade de Deus, porque a atividade de Deus é tudo quanto existe,
é perfeitamente correto você se assegurar e se reassegurar com um: “Espere!
Eu não tenho de acreditar no que estou vendo, já que eu sei que na natureza da
Realidade tudo é bom. Portanto, deixem-me sentar e compreender isto. Deixem-
me receber a comunicação divina que dissipará esta ilusão.”

Contemple o Mundo Através dos


Sentidos da Alma
Permitam que eu lhes diga uma grande verdade: Nenhuma quantidade de
trabalho mental irá curar a sua doença ou a sua carência. Você poderia muito
bem resolver aqui e agora que o poder mental não é o poder de Cristo. O poder
de Cristo é suavidade e paz, uma confiança e um entendimento oniscientes.
Nada tem a ver com luta. Não há necessidade de toda essa batalha mental.

Você que está lendo este livro, o está lendo talvez porque se acha pronto para
abandonar pelo menos um pouco de sua confiança nos processos mentais.
Algum impulso divino no interior de seu próprio ser trouxe-lhe essa mensagem e
você não a estaria lendo se não estivesse pronto. Mesmo enquanto você está
relendo trechos e encontrando declarações úteis para mantê-lo à tona
ocasionalmente, lembre-se de que eles são apenas substitutos temporários, que
lhe servem de lembrete para se sentar e deixar que Deus, a Inteligência infinita
do seu ser, interprete qualquer coisa que precise de interpretação.

A Terra é realmente o céu, mas o céu visto através de um sentido finito, “através
de um espelho em enigma” e, uma vez que você, com os seus olhos, nunca o
verá de outra maneira, por que não reconhecer isso e tornar a sentar-se com os
olhos fechados, deixando que o seu sentido espiritual lhe revele a harmonia do
ser?

A declaração de que Deus é tudo não é o que ocasiona uma demonstração. É


preciso que haja o desenvolvimento do sentido espiritual, o que chamo de
sentido da Alma, de modo que você perceba aquilo que não é visível nem
tangível para os sentidos físicos. Você o percebe por meio do seu sentido interior
da Alma. Você capta um vislumbre disso depois de ter desenvolvido a faculdade
de discernimento. Por exemplo, em sua leitura, você não terá dificuldade, então,
de reconhecer a diferença entre uma declaração que vem de uma consciência
da verdade e uma que é a opinião humana de alguém, sem consciência da
verdade que está por trás disso. Alguma coisa dentro de você faz isso, e essa
coisa é o seu sentido da Alma.

Lembre-se de que os sentidos da audição, da visão, do paladar, do tato e do


olfato são os nossos conceitos da atividade espiritual da Consciência e, portanto,
os cinco sentidos físicos representam o nosso conceito das verdadeiras
faculdades da Alma. Se não tivéssemos um pouco da faculdade da Alma
desenvolvida, nenhum de nós despenderia tempo em assuntos espirituais,
porque para o sentido material isso pareceria uma perda de tempo. Para nós não
é uma perda de tempo, é um investimento! É a nossa medida de sentido
espiritual que nos possibilita seguir o estudo da sabedoria espiritual com
inquebrantável devoção. Nosso intelecto se rebelaria com isso; portanto, uma
certa medida de desenvolvimento espiritual é um requisito para que uma pessoa
seja capaz de prender a sua atenção em assuntos espirituais durante qualquer
extensão de tempo. A medida de nosso sentido da Alma, ou sentido espiritual,
precisa ser aumentada, e isso pode ser feito deixando que Deus traduza
qualquer aparência em seu significado espiritual.

Como Lidar com as Premonições


Quando, como algumas vezes acontece, temos uma antevisão, ou somos
capazes de captar um vislumbre de alguma cena ou evento que não aconteceu,
mas que acontecerá no dia ou no mês seguinte, sabemos que desde que
estejamos reconhecendo Deus como a única atividade, o que está vindo para
nós é a interpretação errônea da atividade da Sabedoria divina, e então
precisamos compreender que isso é somente o sentido humano, finito, de
alguma atividade espiritual. Depois, adquirida essa compreensão, podemos
deixar a mente divina reinterpretar essa visão.

Houve uma ocasião em que eu não sabia como fazer isso e tive algumas
experiências muito desagradáveis. Quando eu era apenas um jovem, meu pai
era caixeiro-viajante na Europa e passava muito tempo no exterior. Um dia, me
dirigi à minha mãe e disse: “Mamãe, alguma coisa está errada na Europa;
alguma coisa está errada com Papai!” Não havia nada que pudéssemos fazer a
respeito desta premonição porque sabíamos que ele havia acabado de
desembarcar na Inglaterra. Mas no dia seguinte, recebemos um cabograma dele
de que, quando ele estava a caminho para tomar o expresso de Nottingham, pela
primeira vez em cem viagens, havia perdido o trem. Esse foi justamente o dia
em que o expresso de Nottingham sofreu um acidente em que todos os
passageiros morreram — 101 pessoas. Entretanto, minha premonição nada
tinha a ver com o fato de que meu pai tinha perdido o trem, porque eu ainda não
tinha aprendido o que fazer com esses avisos.

Houve outras experiências de avisos de perigo iminente como, por exemplo,


quando deixei minha mãe pasmada contando-lhe a respeito de um acidente
ferroviário em Connecticut, embora nenhum de nós tivesse qualquer meio de
saber se aquilo havia acontecido ou não, até que o verificamos no jornal naquela
noite. Posteriormente, muitas vezes eu captava um certo sinal quando alguém
que eu conhecia, alguém da família ou um amigo íntimo, estava para morrer. Eu
nunca soube ou compreendi essas experiências, nem o que fazer com elas.
Mais tarde, aprendi como reinterpretar essas coisas e, dessa forma, invertê-las,
evitando um acontecimento, quando recebia algum sinal. Isto ocorreu uma vez
no Centro-Oeste, quando, numa loja de departamentos, uma mulher chegou até
o comprador com quem eu estava conversando e pediu para me ser
apresentada. Ela me disse que uma pessoa de minha família deveria morrer
naquela semana, de moléstia cardíaca ou de acidente de automóvel.

Naquele tempo eu era estudante da Ciência Cristã, de modo que me ocupei


naquele mesmo instante em compreender que Deus era a única presença e o
único poder, e que a única atividade que podia ocorrer era a atividade da mente,
e que essa profecia não era diferente de qualquer aparência negativa de pecado
ou de doença, o contrário do que estava realmente acontecendo.

Alguns dias mais tarde, uma pessoa de minha família estava num automóvel que
ficou sobre duas rodas e depois voltou a andar normalmente. E foi esse o
desfecho. Dessa vez não houve morte.

Pouco depois, eu estava numa atividade de cura e descobri que cada vez que
um paciente estava em perigo eu recebia o mesmo sinal; mas então eu já havia
aprendido a reinterpretar essas premonições. Eu sabia que todas essas imagens
eram interpretações errôneas da atividade divina. Você precisa igualmente
compreender que nenhuma imagem aparece à sua frente, exceto aquela que é
trazida pela mão de Deus, e que essa imagem é sempre boa. Qualquer situação
que esteja aparecendo é apenas a interpretação errônea dessa atividade divina.
Continue o seu trabalho até obter o sentimento que surge quando ocorre uma
cura.

Reinterprete Cada Situação Humana


Lide com uma situação boa da mesma maneira. Você quer apenas a Divindade
em Si mesma. Do contrário, se você fosse um prático, tudo o que iria querer seria
que seu paciente ficasse bom. A saúde física não é o objeto do nosso trabalho.
Quando um paciente diz: “Estou sem febre”, ou “Meu corpo parece estar bem”
— ainda assim nosso trabalho está em compreender que a aparência de saúde
física é somente uma interpretação errônea da saúde divina, que é vida eterna.
Toda situação humana é uma sugestão mesmérica; cada situação humana é
uma apresentação finita do Infinito — até mesmo boa. Toda situação humana!

O fim e objeto de nosso trabalho não é tornar sadias as pessoas doentes através
de qualquer tipo de processo. O fim e o objeto do nosso trabalho é inverter toda
situação humana de modo que possamos vê-la como ela o é divinamente —
eterna e imortal. Qualquer que seja o quadro que se apresente à visão, bom ou
mau, imediata mente deve haver o reconhecimento de que Deus é o Autor e o
Criador, que Ele é infinitamente bom, que qualquer coisa que esteja aparecendo
finitamente não é mais do que a interpretação falsa desse quadro bonito, infinito,
que não pode ser visto pelos olhos do corpo, mas que pode ser percebido pelos
sentidos do espírito.

Isto é muito importante, porque neste ponto o Caminho Infinito vai muito além da
maioria das práticas metafísicas: vai além, simplesmente dando emprego aos
desempregados, demonstrando dinheiro para eles, ou demonstrando-lhes um
coração perfeito. Vai para o reino que produz a iluminação ao eu espiritual do
indivíduo, que é imutável e imortal.

O que estou tentando dizer é para você não acreditar no que os seus olhos vêem,
ainda que o que vêem seja bom. Seja como for, trata-se sempre e apenas de
uma interpretação finita do infinito real que está esperando para ser
espiritualmente discernido e compreendido com os sentidos do espírito.

Não devemos nos satisfazer nem mesmo com uma boa situação humana porque
“Meu reino não é deste mundo”.5 Não devemos nos satisfazer com
materialidades — saúde física, riqueza material ou companhia humana — mas
devemos imediatamente traduzir e reinterpretar cada situação que se nos
apresente.

5. João 18:36.

Se estamos continuamente invertendo a situação, qualquer que seja ela — boa,


má ou indiferente — sabendo que todo o bem é o bem infinito de Deus, que se
individualiza em nossa experiência, então nada temos a temer, e os seres
humanos em quem confiamos como amigos não se voltarão contra nós e nos
retribuirão.

A essência do ensinamento do Caminho Infinito é que não devemos ficar


satisfeitos com os bons seres humanos nem com a bondade humana. Não nos
empenhamos num ministério para tornar boas as pessoas doentes, nem ricas as
pessoas pobres. Escolhemos fazer nosso trabalho num plano mais elevado do
que esse: “Não me escolhestes vós a mim, mas fui eu que vos escolhi.”6
6. João 15:16.

A Consciência se estendeu para nós e disse: “Você está pronto para o passo
mais elevado.”
CAPÍTULO 13

Misticismo
O verdadeiro significado de misticismo é qualquer filosofia ou religião que ensine
a união com Deus. O misticismo revela a possibilidade de receber comunicação
ou orientação diretamente de Deus, de comungar com Deus, de estar consciente
dessa união com Deus e de receber o bem de Deus sem qualquer intermediário.
Por isso, o ensinamento do Caminho Infinito é místico porque, acima de tudo,
seu propósito é realizar a união com Deus.

Uma das mais elevadas declarações místicas de que tenho algum


conhecimento, uma que lhe proporciona uma chave para o céu, uma chave para
a harmonia da mente, do corpo e dos negócios, da saúde e da riqueza e de todas
as outras coisas é a seguinte: sua união com Deus constitui a sua união com
todos os seres e coisas espirituais.

Você encontrará isso em meus escritos, mas também constatará que isso não
foi levado muito a sério pela maioria dos que os leram. Excetuando alguns casos,
essa afirmação não foi reconhecida como uma das sabedorias supremas do
mundo, possivelmente porque, em primeiro lugar, não está declarada em
linguagem críptica ou mística, mas em linguagem simples; e, em segundo lugar,
porque a maioria das pessoas não adquiriu o hábito de analisar declarações.

União com Deus Aparece Como Forma


Minha união com Deus constitui minha união com todos os seres e coisas
espirituais. Volte ao exemplo do telefone. Você não consegue nenhuma ligação
por telefone, em lugar algum do mundo, sem primeiramente passar pela central
telefônica, porém, uma vez que você tenha tido contato com essa central, poderá
se comunicar com qualquer lugar na face do globo que tenha um telefone. Assim,
se você entra em contato com Deus, se tem uma compreensão consciente de
Deus, se conscientemente se tornou um com Deus, então automática e
instantaneamente você é um com o universo inteiro do ser e da idéia espirituais.

Tudo o que você vê, ouve, prova, toca ou cheira é apenas um conceito finito de
uma idéia divina. Por exemplo, um automóvel é um veículo para transporte que
você desgasta ou se tornará obsoleto e haverá necessidade de um outro
investimento para substituí-lo. Mas, por trás da idéia ou do objeto automóvel,
está a idéia divina de transporte e o transporte é realmente uma atividade
espiritual; é uma atividade da mente que se comunica como idéia para o ser
individual. Por isso, se você uma vez entra em contato com Deus, ou com o
Espírito, entra em contato com a lei espiritual de transporte; e se sua
necessidade de um automóvel for real, você ficará surpreso com a rapidez com
que o conseguirá. Um lugar em um avião, uma passagem marítima ou qualquer
coisa relacionada com transporte estaria imediatamente ao seu alcance por
causa de sua unidade com a Fonte infinita de todo o bem.

Isso não significa que qualquer pessoa deva tentar demonstrar um automóvel.
Mas, suponhamos que eu esteja em San Francisco e que meu lar seja em Los
Angeles e que, no sentido humano, preciso encurtar esta distância de
aproximadamente seiscentos quilômetros. Preciso de transporte e,
aparentemente, não há solução imediata para o problema. Então eu me sento e
compreendo a minha união com Deus. Compreendo minha união em maneiras
tão diferentes quantas possa: talvez pense na onda que é uma coisa só com o
oceano, ou no raio de sol que é uma coisa só com o Sol, ou no eu que é uma
coisa só com Deus. De qualquer maneira que possa, eu me relaciono com Deus,
até que, finalmente, chegue à com preensão.

Tudo o que o Pai tem é meu porque nós somos um. Não existe separação entre
Deus e o homem; Deus e o homem são um. E eu e o Pai somos um; tudo o que
o Pai tem está justamente aqui onde estou.

Se posso conseguir esta compreensão, se posso obter esse sentimento interior


de paz que nós chamamos de “estalo”, bem depressa constato que meu
transporte para Los Angeles aparece. Pode ser um convite para viajar com
alguém; pode ser uma passagem de estrada de ferro; pode ser alguém de lá
mandando me buscar. Isso poderia aparecer de qualquer maneira, mas em
nenhuma ocasião eu teria de pensar a respeito de transporte: eu teria apenas de
pensar em minha união com Deus e a respeito da disponibilidade imediata de
Deus em todas as formas.

Coisa parecida pode acontecer se houver a necessidade de um lar, quer você


esteja em sua comunidade ou em outra qualquer. Uma vez mais, você não usa
esta verdade para demonstrar uma casa ou um lugar onde viver; mas se essa
verdade não traz, ou não puder trazer satisfação e harmonia, não seria a verdade
de ser, porque Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com
abundância”1— Eu vim para que vocês possam ser satisfeitos. Certamente um
lar e uma companhia fazem parte de sua satisfação.

1. João 10:10.

Tendo chegado a um lugar onde você sabe que tem necessidade de um lar,
esqueça o lar, volte-se para dentro de si mesmo e compreenda Deus.
Compreenda que o único lar que existe está na sua própria consciência;
compreenda que você vive e se movimenta e tem o seu ser em Deus, na
Consciência verdadeira. A Consciência verdadeira está onipresente como o seu
próprio ser. Quando você compreende a verdadeira natureza do lar, natureza
que abrange todas as qualidades espirituais de Deus, tais como proteção, amor,
júbilo, beleza, cooperação, segurança e previdência, seu lar aparecerá. A união
consciente com Deus é que fará a manifestação desse lar — sem que seja
preciso sair de você mesmo.

Lembre-se sempre de que a base do nosso trabalho é: “Mas buscai primeiro o


reino de Deus.”2 Uma das maneiras de buscar primeiro o reino de Deus é essa
compreensão da união porque quando você demonstrou sua consciência da
união com Deus, todas as coisas lhe serão dadas por acréscimo. Logo, a união
com Deus constitui a união com cada ser e idéia espirituais.

2. Mateus 6:33.

Pode acontecer que seja necessário que alguma pessoa ocasione o ajuste feliz
dos seus afazeres — o corretor imobiliário certo, o banqueiro certo, o conselheiro
de investimento certo ou o professor de metafísica certo. O certo não deve ser
contatado por simplesmente se desejar o certo, mas compreendendo
conscientemente sua união com Deus.

Sua Consciência Comunicada Como Verdade


É o mesmo quando uma pessoa está procurando a verdade. O que tal pessoa
quer é a mais alta comunicação que existe para o seu particular estado de
consciência, a comunicação que atenderá às suas necessidades particulares.
Cada um de nós pode usar um caminho diferente para chegar a essa meta;
porém, para a maioria dos que buscam, as bibliotecas públicas com seus
milhares de livros oferecem a maneira mais fácil, mais rápida e mais acessível
de investigar abordagens diferentes da verdade.

Mas você poderia ler todos esses livros e, com exceção de apenas um, não
encontrar o que está procurando, e todo esse tempo gasto em leitura poderia ser
um tempo desperdiçado. E seria tão fácil dirigir-se ao centro do seu próprio ser
e lá compreender que Deus e Verdade são sinônimos; e já que você é um com
Deus, você é um com a Verdade e, portanto, toda a Verdade do Universo está
ao seu alcance agora — não ao seu alcance amanhã, mas agora — ao seu
alcance exatamente aqui onde você está. Não existe ocasião, lugar ou espaço
que possa separar você da Verdade, de toda a Verdade do Universo, porque
você não pode ser separado de Deus.

À medida que você medita dessa maneira, dia após dia, você será levado ao
único livro que realmente abriria as comportas para você. A partir desse
momento, você seria levado de livro para livro, de mestre para mestre, mas
somente para aqueles que estivessem de acordo com a sua consciência ou para
aqueles que atendessem à sua necessidade particular. Não é necessário ler
todos os livros do mundo para encontrar a verdade de que você necessita. Você
pode ser levado aos autores e professores e às Escrituras que estejam em
harmonia com o seu estado de consciência particular.

Algumas vezes, eu gostaria que os mestres espirituais do Mundo Ocidental


pudessem seguir a prática dos swamis (mestres) hindus, cujos discípulos
chegam a viver com eles durante três anos. Então, às três horas da manhã, se
o swami sente o clarão do Espírito, ele manda chamá-los para virem
imediatamente. Quando se encontram, o swami fala e fala — talvez até as cinco
horas — e depois eles voltam para a cama. Se, às sete horas, o swami sente
que está pronto para falar outra vez, lá vêm os discípulos novamente. Eles nunca
sabem a que horas do dia ou da noite serão convocados à presença do mestre
para ouvir as pérolas da sabedoria divina que fluem de Deus através dele.

Existem momentos na experiência de cada mestre espiritual em que a verdadeira


sabedoria se revela. Foi em um desses momentos, quando eu parecia estar em
sintonia com o Espírito, que esta lição de misticismo me foi revelada: desde que
eu seja conscientemente um com Deus, eu tenho de ser conscientemente um
com a consciência individual de cada pessoa. Com certeza, todos aqueles que
são uma parte da minha consciência têm de estar recebendo a mesma
mensagem que eu. À medida que esta verdade se revela através de mim,
continuamente, eu anseio ser capaz de partilhá-la com meus discípulos no
mundo todo, e essa revelação foi tão poderosa que eu não teria me surpreendido
se alguns deles tivessem escrito comunicando que receberam a mesma
mensagem ao mesmo tempo.

Aqueles de nós que seguem a trilha mística aprenderão, por fim, que não é
realmente necessário usar palavras para revelar a sabedoria espiritual. Todos
nós podemos receber as mensagens e comunicações necessárias à nossa
compreensão da Sabedoria divina interior, porque elas não dependem do
contato humano.

Atividade, a Comunicação da Idéia Divina


Na abordagem mística, você compreende que, seja ela ensino ou cura
metafísica, venda de refrigeradores ou de imóveis, ou invenção de uma nova
batedeira de ovos, ou um novo processo de refinar petróleo, cada atividade
correta da experiência humana é a comunicação da idéia divina. É realmente a
atividade e a operação da Inteligência universal que faz tudo isso. Ela ocorre
como a atividade dessa Inteligência e Sabedoria divinas, que Se interpretam
através do instrumento da mente. Porque essa Inteligência é a sua inteligência
e a minha, Ela automaticamente está Se interpretando através da mente de
todos os interessados, ao mesmo tempo. Isso elimina a necessidade de anunciar
um produto ou um ensinamento, porque no mesmo momento em que uma idéia
é implantada no que chamo de meu ser individual, ela é automaticamente
implantada em sua consciência; mas se você não foi treinado para fazê-la vir
para fora de sua consciência, você talvez tenha de ler livros, estudar, ou dirigir-
se a um mestre para que ela seja revelada para você.

Você precisa saber que o que está lendo neste livro já é uma parte da sua
consciência. Se não fosse, você não poderia entender porque seria como se eu
estivesse escrevendo em sânscrito. Porém, se você estivesse no nível de
consciência onde o sânscrito fosse uma necessidade, você seria levado à
pessoa que o pudesse ensinar a você.

Ninguém lhe pode dar nada que já não seja uma parte da sua consciência. Por
isso, o escritor não lhe está dando coisa alguma: Ele está apenas revelando para
você. Tudo está dentro da sua consciência e, se você não tivesse encontrado
este livro, teria encontrado um outro, teria ouvido a seu respeito durante o sono
ou até quando estivesse andando na rua. Em outras palavras, se esta
mensagem dependesse de uma pessoa ou de um livro, onde estaria Deus nesse
quadro? Não, todas as pessoas deste mundo que estão prontas para esta
mensagem a estão recebendo neste minuto.

União Consciente com Deus é União com


Todo ser e Idéia Espirituais
Este é o milagre do misticismo. A sua união consciente com Deus torna tudo
disponível neste mundo no momento em que você sente a necessidade. E
ninguém pode afastar isso de você; de modo algum — ninguém. Mas isto só é
verdade se você estiver seguindo a trilha espiritual. Unidade consciente com
Deus é misticismo. A união consciente com Deus constitui a sua unidade com
todo o ser espiritual e com cada idéia espiritual.

Por exemplo, o dinheiro é apenas um conceito humano, mas é um conceito


humano de uma idéia divina, representando amor, gratidão, partilha e
cooperação; é uma idéia espiritual, que não pode vir a você porque ela já é uma
idéia incorporada e uma atividade de sua consciência. Quando você se sente
pressionado pelo dinheiro, uma das razões é que você o está procurando de
alguma fonte fora de você, quando durante o tempo todo ele está oculto dentro
da sua consciência. Ele já está dentro de você, mas você o está procurando em
uma pessoa, lugar ou coisa.

Nas muitas estórias contadas sobre a procura do Santo Graal, aquela taça de
ouro onde se supõe que Jesus tenha bebido no ato da Crucificação, os que o
foram procurar sempre voltaram para casa empobrecidos e doentes, caindo
cansados e desanimados à sua própria porta. Em cada versão é contada a
estória da pessoa que dá toda a sua vida e fortuna para a busca no mundo
exterior, apenas para descobrir, em seu retorno ao lar, o tesouro procurado há
tanto tempo: ela o encontra em seu jardim, talvez pendurado no ramo de uma
árvore; ela estende a mão em sua própria mesa, e ele aparece.

A história do Santo Graal simboliza o tesouro oculto dentro da nossa própria


consciência, dentro do nosso próprio ser, em virtude da nossa união com Deus.
Esta é apenas uma outra maneira de declarar: Minha união com Deus constitui
minha união com todo ser espiritual e com toda idéia ou coisa espiritual. Para
mim isso representa uma das mais altas declarações da verdade espiritual. Isso
está em meus escritos exatamente nessa linguagem simples, tão simples e
direta que algumas vezes as pessoas não a reconhecem como “a pérola de
grande valor”. Esta declaração: “Minha união com Deus constitui minha união
com todo ser espiritual e com cada idéia ou coisa espirituais”, está colocada
como uma das mais altas declarações da verdade, declaração que o levará mais
perto do Céu na Terra do que qualquer outra.

A Compreensão no Plano Interior Aparece


Como Satisfação no Plano Exterior
A mais alta declaração mística da verdade que conheço é: “O meu reino não é
deste mundo.”3 Duvido que Jesus alguma vez tenha dito qualquer coisa de
natureza mais mística do que isso. Ele pôde dizer mais tarde: “Eu venci o
mundo”4 por sua compreensão de que “O meu reino não é deste mundo”. Essa
declaração nos liberta imediatamente do desejo de pessoa, lugares, coisas,
circunstâncias ou condições. Ela nos torna livres do mundo de efeitos e nos
possibilita viver em união consciente com a Causa, com Deus.
3. João 18:36.

4. João 16:33.

Se fôssemos demonstrar efeitos aos milhões, ainda estaríamos lidando com algo
que poderia tornar-se pó em nossas mãos. Mas uma vez que consigamos a
união consciente com a Causa, ou com Deus, então não temos mais interesse
pelas coisas deste mundo, exceto desfrutá-las quando chegam. Então, ainda
estamos no mundo mas não somos do mundo. Eu mesmo encontro prazer em
muitas das coisas bonitas e desfrutáveis deste mundo, mas já não existe mais
um apego exagerado por elas.

Não existe isso de tempo ou lugar onde teríamos menos do que a plenitude do
reino, se uma vez conseguimos a consciência de que “Meu reino não é deste
mundo”. Mas precisamos estar sempre alerta para não ficarmos vinculados às
coisas do mundo. Não se preocupe com “este mundo” — este é o caminho
místico. Não se preocupe com a carne — este é o caminho do Espírito. Não se
preocupe demais com a solução de qualquer problema — o problema é apenas
temporário.
Preocupe-se com o plano interior do ser. É no plano interior que fazemos contato
com Deus. No plano exterior, contemplamos o resultado do trabalho no plano
interior. Naturalmente, é possível que uma pessoa faça seu contato com Deus
no plano interior, como o fazem muitos ascetas, muitos que se retiram do mundo
e vivem em mosteiros e conventos; é possível fazer esse contato no plano
interior, descartando de modo absoluto todo o mundo exterior e tendo uma vida
interior feliz. Mas para a maioria de nós do Mundo Ocidental isso não parece
muito natural ou certo, exceto para os poucos que conseguem alcançar esse
plano interior e que podem fazer mais pela humanidade dessa maneira do que
sendo parte do mundo.

Entretanto, para a maioria de nós, o que aprendemos no plano interior pode


revelar-se a maior bênção para os que estão no mundo exterior. Por isso,
enquanto não vem o chamado para deixar o mundo, devemos viver nele.
Devemos partilhar com os que vivem neste mundo todas as profundidades que
estão sendo sondadas em nossa vida interior.

É no plano interior, isto é, dentro do nosso próprio ser, que tocamos Deus, que
tocamos a identidade espiritual de tudo o que aparece como pessoa, lugar ou
coisa. Tocar a Realidade no seu íntimo faz com que ela se manifeste para nós
no exterior — como família, amigos, discípulos, pacientes, atividades, ou até
mesmo como livros para ler. É estranho que cada vez que toco uma nova nota
íntima, alguém me dá um livro ou me recomenda um que me leva mais um passo
adiante ou confirma algum ponto que já descobri no plano interior. Atém disso,
cada vez que alcanço um novo sentido interno, ele aparece externamente como
um novo amigo, um novo auxiliar ou uma nova atividade.

Não importando a atividade particular em que você possa estar empenhado,


entre em contato com Deus em seu interior e confie que esse contato lhe trará
tudo o que é necessário para o seu desabrochar. Isso pode não acontecer no
dia que você espera. Na verdade, isso pode ter de percorrer todo um longo
caminho. Dê-lhe uma oportunidade de chegar até você. Além do mais, a pessoa
necessária para a solução do seu problema pode não estar exatamente no
momento preciso numa posição favorável para se tornar parte da demonstração.

Não estabeleça limites de tempo para essa demonstração. Encontre o reino de


Deus dentro do seu próprio ser, faça o contato e compreenda que agora você
está dependendo de sua expressão exterior para a sua demonstração interior.
Em primeiro lugar, você precisa fazer isso no plano interior e, depois, o plano
exterior se encarregará do resto.

Continuo repetindo que a vida mística é aquela em que você é completamente


independente de pessoas, de coisas ou de atividades no nível humano. Não
obstante, é uma vida em que você nunca está separado de pessoas, de lugares,
de coisas ou de atividades, mas onde toda a solução é consumada dentro do
seu próprio ser, através do seu contato com Deus e, depois, é tornada visível
como se houvesse uma mão invisível manipulando todas as cordas.

Os discípulos do Caminho Infinito não são apenas metafísicos que tenham


encontrado alguma verdade que, como acreditam, lhes permite induzir Deus a
fazer o que desejam, nem mesmo encontraram algum meio secreto de obter de
Deus o que não pôde ser conseguido de qualquer outra maneira. Eles não estão
despendendo seu tempo fazendo afirmações ou negações, mas vivendo na
compreensão consciente de Deus, tornando Deus uma parte tão consciente de
sua vida como o fez Jesus, desde que o possam.

A Senda Mística Exige o Sacrifício do eu


Existem exigências espirituais para cada um de nós. Por exemplo, há uma
exigência espiritual que me obriga a viver de modo a apresentar uma consciência
clara e limpa para o mundo, sem interesse próprio ou fraude, sem qualquer coisa
que separe essa mensagem de sua Fonte. Deus tanto é o criador como o mestre
dessa mensagem, e todos aqueles a quem Ele a confiou têm a obrigação e a
responsabilidade de apresentar essa mensagem em sua pureza e totalidade.

É necessário um pensamento claro e uma vida limpa para ser o tipo certo do
mestre: isso exige honestidade de propósitos; exige dedicação; exige mais do
que um mero conhecimento intelectual da verdade. É verdade que a letra dessa
mensagem já foi impressa em muitos livros e, portanto, qualquer pessoa pode
tentar ensiná-la. Mas duvido muito que qualquer estudante se beneficie com tal
ensino, salvo se por trás disso haja uma integridade espiritual. Por si próprias,
as palavras não elevam a consciência de ninguém. Por si próprias, as palavras
não transmitirão o espírito da verdade. As páginas não passarão de mais letras
impressas para as bibliotecas do mundo.

É preciso a consciência de um indivíduo inspirado, ardendo de amor por Deus,


para comunicar a verdade espiritual. O ensino espiritual não só exige um mestre
dedicado, mas também, discípulos, pessoas que estejam dispostas a sacrificar
tempo, dinheiro ou prazer em busca da verdade, pessoas que estejam ávidas
para se sentarem aos pés do Mestre.

E o que é o Mestre? O Mestre não é um homem! O Mestre é essa mensagem


divina, essa verdade. Eis aí o Mestre! E sentar-se a Seus pés significa realmente
purificar a consciência de toda vontade própria, de todo desejo pessoal, deixando
realmente tudo o que é seu no altar desta Verdade: “Tudo o que tenho de
natureza material — tudo isso em conjunto — não vale sequer uma gota de
verdade espiritual.” Nesse estado de consciência purificada, você conseguirá
receber, assimilar e responder à verdade do ser.

Quantas vezes Jesus nos disse que precisamos deixar tudo pelo Cristo?
Quantas vezes ele apontou a infinidade de desculpas dadas: uma pessoa tem
de enterrar o sogro; outra tem de se casar; e outra tem de tirar o jumento que
caiu numa valeta. Quantos foram convidados para a festa — e não puderam ir?
Tantas outras coisas a fazer! Tantas outras obrigações! Mas receber a Luz divina
significa oferecer a si próprio no altar da verdade espiritual. Significa sacrificar
todo o sentido do eu — todo o sentido egoísta ou desejo de ganho pessoal.

Na verdade, não há necessidade de lutar pelo ganho pessoal porque a verdade


espiritual abençoa a um e a todos do mesmo modo. Quanto mais você dá, mais
você tem. E assim é, quer no momento a pessoa esteja ensinando e
comunicando a verdade espiritual, quer seja temporariamente o discípulo;
quanto mais ela der, tanto mais receberá. Eu nunca pronunciei ou escrevi uma
palavra que não me elevasse, porque o que falo ou escrevo não vem do meu
intelecto humano. Não é alguma coisa que eu tenha feito. É uma comunicação
que me vem no momento em que falo e tem tanto significado para mim quanto
para os que me ouvem, talvez mais, porque posso apreciá-la melhor,
conhecendo as profundezas de onde vem. Eu conheço as noites de vigília e a
dor muitas vezes necessárias para expor a verdade profunda.

Provações na Senda Espiritual


Preciso dizer-lhes isto também: a trilha espiritual não é de rosas sem espinhos.
Quando você decide fazer a transição para a vida mística, verá que é necessário
abandonar muitos de seus conceitos anteriores de corpo, negócios e prazer.
Você encontrará novas experiências à sua espera, e, nesse período de
transição, nem tudo é harmonia, “porque estreita é a porta, e apertado o caminho
que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.5 Essa vida não é fácil em seus
primeiros estágios. De fato, aprender estas lições pode ser muito doloroso
porque muitas delas só chegam através de um profundo sofrimento. É estranho,
mas sem esse sofrimento talvez não as aprendamos, porque quando tudo está
bem e estamos em paz com o mundo, não fazemos realmente o esforço nem
realmente tentamos nos aprofundar dentro de nós mesmos.

5. Mateus 7:14.

Frequentemente, seguimos pensando como tudo está indo bem — mas, de fato,
não há progresso. É a profundidade de nossas provações e atribulações que nos
força para cima, e muitas vezes a pessoa que sofreu mais é a que mais consegue
— não porque isso seja necessário, ou que haja algum Deus que o decrete, mas
por causa da inércia, por causa do nosso desejo de continuarmos ao longo do
caminho que estamos seguindo, porque gostamos de saber que cada dia será
seguido por um outro dia sem dor, sem carências e sem limitações.

Tenho lido as vidas de muitos que foram longe na trilha espiritual e até agora
não encontrei ninguém que não tenha tido o seu Gethsêmane. Essas grandes
verdades não são de fácil consecução. Se as provações não chegam sob uma
forma, chegam sob outra. Jesus enfrentou provações, muitas delas, conquanto
seja verdade que não temos de passar por acusações e suportar a condenação
pública, teremos de vivenciar um pouco de luta pessoal. Pode ser dentro de
nossa família. Pode ser dentro de nossa comunidade. Em algum lugar, de algum
modo, se temos de sondar as profundezas da sabedoria espiritual, cada um de
nós deve passar por um período de transição.

Uma das maiores provações pode acontecer quando você pára de depender das
pessoas ou quando cessa de enviar contas a seus pacientes e decide que vai
depender unicamente do Cristo. Esse primeiro mês em que está ocorrendo esse
ajuste e você não pode pedir dinheiro a ninguém, nem pode mandar uma conta,
é um período em que você algumas vezes treme um pouco e pondera se essa
dependência do Cristo irá funcionar. Depois, quando você chega àquele grande
estágio de cura em que não precisa usar palavras ou pensamentos no
tratamento, nunca duvide de que você teve uma provação, um “Rio Jordão” a
cruzar. Primeiro vem a tentação: “Acho que não estou fazendo justiça a meus
pacientes; acho que não estou trabalhando bastante arduamente”; e depois vem
a segunda tentação, após terem ocorrido algumas bonitas curas, depois de os
pacientes terem sido muito generosos, e você sente: “Não posso receber este
dinheiro; eu realmente não trabalhei para isto; não fiz o suficiente para ganhar
isto.”

Existe toda espécie de provações que chegam com esta vida. Quando você
alcança o estágio em que sua resposta a um pedido de ajuda é tão simples como:
“Eu realmente acredito que Deus é a vida de todo o ser; e, portanto, qualquer
aparência de erro não pode ser, nem mais nem menos, do que alucinação, uma
tentação que me vem para me fazer crer num eu à parte de Deus. Eu me recuso
a acreditar nisso” — e fico satisfeito por deixar que esse seja o tratamento;
depois, quando você se lembra das primeiras formas de tratamento que usou,
surge um período de hesitação e de dúvida. Esse período de transição não é
fácil. Chega uma ocasião em que os membros de sua família começam a dizer
que você deve ter ficado louco, e os membros de sua igreja lhe dizem: “Bem,
você agora com certeza saiu dos eixos.”

De um modo ou de outro as provações chegam até nós através de nós mesmos,


através de nossa família ou de nossos pacientes. Pode até surgir uma ocasião
de problemas sérios de saúde e suprimento — nossos ou de nossos pacientes
— mas temos de aprender a permanecer firmes, temos de aprender a fazer
vigília com eles. Também temos de aprender a nos afastar por “quarenta dias”,
ainda que não sejam realmente quarenta dias, mas em sentido figurado. É nos
afastarmos para dentro do “armário”, em nosso esconderijo, e apenas orar até
cansar o nosso velho coração: “Afasta de mim este cálice — todavia, não seja
como eu quero, mas como tu queres.”

Todas estas coisas nos vêm neste caminho — estreito e apertado. À medida que
você abandona a sua confiança em todos os meios humanos de salvação, à
medida que você escolhe este caminho, você verá como ele é estreito e
apertado. Você verá como são poucos os que o percorrem e, durante algum
tempo, parecerá que você está afastado de seus amigos; parecerá que ninguém
no mundo o entende e que você jamais encontrará alguém que o entenda. Eu
sei, porque durante muitos anos não só não tive a oportunidade de falar desta
maneira em público como também não tive sequer a oportunidade de falar destas
coisas em particular. Tive de ficar quieto, porque no momento que eu tentasse
expressar quaisquer destas idéias, as pessoas entenderiam mal.

Se nossa confiança está no plano interior, se a sua confiança está em seu


contato com Deus, e você julga que não depende de meios humanos para
demonstrar o seu bem, surge uma ocasião em que você tem de permanecer
quieta e secretamente dentro do seu próprio ser. Você tem de resolver isso sem
falar a esse respeito ao mundo exterior. Tem de prová-lo e, depois de ter feito
isso, a evidência é tão grande que você não precisa mais contar, exceto quando
estiver ensinando. Você nunca terá de contar a ninguém que encontrou “a pérola
de grande valor”. Em primeiro lugar, se você contasse, isso seria quase que a
prova positiva de que não a tinha encontrado. Não é necessário falar disso,
porque toda a sua vida, toda a sua atitude e todo o seu ser são evidências
suficientes. Tudo indica que você a encontrou, e então o mundo a quer — ou
quer pelo menos os seus frutos.

Surge um outro período difícil, quando você realmente acredita que o mundo
reconheceu que você encontrou “a pérola”, e ele a quer e você deseja expô-la.
Depois que você fez isso durante diversos anos — anos de profundo sofrimento
— você descobre que o mundo não a queria, absolutamente: apenas queria os
frutos que viu você desfrutar. Eis por que, quando alguém vem a você, alegando
que quer a verdade, você se movimenta com calma — você nem sempre tem a
certeza de que a pessoa está sendo verdadeiramente sincera. Talvez ela queira
apenas os efeitos ou os resultados. Você logo descobre o que é e qual é o
propósito real dela porque, se ela realmente o quiser, haverá indicações de que
todas as outras coisas foram postas de lado e por suas ações ela prova que nada
lhe é tão importante quanto a verdade. Então você não ouvirá: “Bem, quinta-feira
à noite, não pode ser, mas eu virei na terça-feira de tarde. Se você não puder
me ver, então eu não posso vê-lo!”

Quando um discípulo quer realmente a verdade, ele virá à meia-noite ou a


qualquer hora do dia ou da noite, bastando que você o diga. Você sabe que
Brown Landone mantinha o horário do consultório durante a noite toda? Quando
você marcava uma entrevista, tinha de perguntar se era antes ou depois do meio-
dia. Tive entrevistas com ele às três da manhã, que duraram até as seis.

Quando você se torna atuante neste trabalho, constata que não há isso de
manter o horário do consultório. Antes ou depois do meio-dia não significa
absolutamente nada para você, exceto para manter o registro certo, e a devoção
e a dedicação dos que vão a você, podem, num certo sentido, ser medidas por
seu interesse quanto ao fato de a entrevista com você ser antes ou depois do
meio-dia, na terça, na sexta ou no domingo; porque se essas pessoas estão
preocupadas com essas trivialidades, então seus corações estão longe — e este
caminho não visa aos corações, almas e mentes que não estejam em Deus.

Se há uma idéia em sua mente de que a verdade é algo que pode ser usado,
que é algo ou coisa para obter ganho pessoal, para obter felicidade ou saúde
pessoal, nem comece o seu estudo porque você encontrará só
desapontamentos e corações dilacerados. Há uma infinidade de métodos
metafísicos que podem ser usados com a finalidade de proporcionar felicidade
pessoal ou ganhos pessoais temporários. Mas o Caminho Infinito não pode ser
usado para tais propósitos: o Caminho Infinito pode proporcionar somente
imortalidade e eternidade e todo o bem que Deus conhece. Mas isso em um nível
completamente diferente do que o do bem humano, assim como a liberdade
espiritual não deve ser confundida com liberdade humana.

A liberdade espiritual, a paz que ultrapassa o entendimento, não depende de


nada no mundo exterior. Depende do seu relacionamento com o Cristo, com
Deus. Quando isso se torna real, quando Ele se incorpora em você, quando Ele
o inflama e essa vida se torna seu tudo em tudo, você se vê vivendo em dois
mundos: o mundo interior, que é o importante, e o mundo exterior, com sua cota
de satisfações, que não deve ser tomado muito a sério e não deve tomar muito
tempo e esforço porque a impaciência para voltar ao Centro é muito grande.

Poder Espiritual nos Assuntos do Mundo


Quando Deus se torna uma realidade e nos tornamos conscientemente um com
Ele, Ele guia cada passo de nossa experiência; Ele nos supre; Ele atrai para nós
tudo aquilo de que precisamos no mundo — amizades certas, relações familiares
certas, suprimento certo, atividade certa, livros certos, associações certas, tudo
quanto é necessário para avançar nosso bem-estar cultural e espiritual e nos
prover com maior oportunidade para sermos úteis ao mundo. Tenho uma
profunda convicção de que, pela primeira vez na história do mundo, o poder
espiritual vai desempenhar um papel importante nos assuntos humanos.

Até o momento, Deus realmente tomou parte na história do homem ou existe


qualquer evidência de que Deus Se preocupou com os problemas do homem?
Se Deus tivesse tomado parte na história do homem, eu não acredito que o
mundo teria passado por milhares e milhares de anos de guerras, furacões,
terremotos, fomes e epidemias. Se Deus estivesse presente nos assuntos
humanos, tais coisas não poderiam ter acontecido. Então, onde é que Deus tem
estado durante todos esses anos?
A verdade é que Deus sempre está presente na consciência daqueles que estão
conscientes de Sua presença. Mas quantas pessoas tiveram essa consciência?
Os poucos que viveram em mosteiros, os poucos que viveram em ashrams, os
poucos discípulos espirituais do mundo, os poucos que tentaram fundar
organizações religiosas e falharam. Eles conheciam Deus e tinham tido a bênção
da presença de Deus e do poder de Deus em sua experiência individual.

Essa bênção, entretanto, não desceu até o nível das massas. De fato, a verdade
espiritual nunca foi dada ao mundo em geral até os três últimos quartéis do
século. Antes dessa época, todo o conhecimento religioso do mundo era
zelosamente guardado pelos filósofos, padres e rabinos. Tudo o que o povo —
as massas — alguma vez recebeu foram formas, cerimônias, rituais e credos.
Será que os mestres hindus alguma vez ensinaram os que estavam abaixo do
nível do brâmane espiritual? Exceto durante um breve período na Europa — o
período dos místicos ocidentais, durante uns poucos séculos, mais ou menos
entre 1200 e 1700 — as massas receberam alguma vez ensinamentos sobre a
verdade espiritual? Quantas pessoas Jesus foi capaz de alcançar? No máximo
umas poucas centenas, praticamente nada em comparação com a população do
mundo. Quando é que a consciência espiritual alguma vez alcançou a
consciência da massa humana?

Mas ocorreu uma mudança nos anos em que a Ciência Cristã, a Unidade, e o
Novo Pensamento começaram a ser transmitidos ao mundo. As pessoas foram
encorajadas a meditar, a refletir, a estudar diariamente lições espirituais, a ir à
igreja na quarta-feira ou no domingo, e depois a ir à igreja em outras ocasiões
para servir em grupos de trabalho, ou para os serviços religiosos cotidianos da
tarde. Durante muitos anos, através da Ciência Cristã, Unidade e o Novo
Pensamento, a verdade espiritual foi transmitida às pessoas, a um grande
número delas, a qualquer um que a aceitasse.

Tudo isso atuou como um fermento, de modo que as pessoas que nem ao menos
conhecem o significado da palavra “metafísica” usam a expressão “passagem”,
em lugar de morte. Muitas pessoas que não conhecem o significado da
metafísica admitem que existe um poder espiritual, ou que as doenças têm sido
curadas e o suprimento tem sido recebido através de meios espirituais. Os
médicos admitem a eficácia da cura espiritual, porque viram casos e casos
curados nos hospitais. Na verdade, os clínicos médicos psicossomáticos
colheram experiências dos primitivos ensinamentos metafísicos, e alguns deles
agora acreditam numa forma já ultrapassada da metafísica, que ensina que há
cura mental para doença física.

A verdade é que não há doença no reino de Deus. Você não pode ter Deus e
doença ao mesmo tempo. Existe um único Poder, e esse é Deus. Qualquer outra
coisa é crença ou ilusão. Mas, no início, apesar de o ensinamento de uma causa
mental para uma doença física ser errônea, isso significava um passo à frente
no que eu vinha fazendo antes. Foi empregada a terminologia da religião, e Deus
foi levado para as artes da cura.

Tudo isso teve um efeito importante: levou as pessoas ao assunto de Deus em


qualquer dia da semana que não fosse no domingo, e levou-as ao lugar onde
fizeram de Deus uma parte de sua experiência cotidiana como um meio de
vencer os seus problemas. Não faz diferença o quanto rudimentar tenha sido o
começo; houve resultados satisfatórios e bons efeitos. Isso espalhou a palavra
de que o mundo de Deus não é apenas uma experiência domingueira, ou uma
experiência apenas para o ministro, para o padre ou para o rabino, mas que
Deus é uma experiência para você e para mim, e que podemos alcançar a união
consciente com Deus ainda que não sejamos ministros, padres ou rabinos.

Se você não fez parte dessa revolução religiosa, ou se você pelo menos não a
observou de perto, não pode compreender as mudanças que ocorreram quando
Deus foi levado à consciência do homem da rua. Provavelmente, este foi um dos
maiores eventos já ocorridos na história do mundo. E agora, faz setenta e cinco
anos que isso tem sido disseminado e até mesmo em pequenas bibliotecas
metafísicas, em centros de verdade ou em salas de Estudo da Ciência Cristã,
provavelmente duzentas ou trezentas pessoas vão diariamente meditar, estudar
e procurar conhecer mais sobre Deus. Pense nos muitos lares que são afetados
pelo trabalho que é levado a efeito nos centros de Unidade, nos centros do Novo
Pensamento, nos centros independentes, nas Igrejas e Salas de Estudo da
Ciência Cristã. Procure multiplicar isso pelo mundo todo.

Como é que o efeito de milhões de exemplares vendidos de In Tune with the


Infinite, de Ralph Waldo Trine, pode ser avaliado? Você sabe o que poderia
significar para dois milhões de pessoas ter pensado a respeito de Deus antes
desta era?

Com esta percepção de Deus na consciência humana — e lembre-se de que um


pequeno grão de Deus pode fazer milagres — pense como essa consciência de
Deus deve estar fermentando o pensamento, influenciando nossos dirigentes
públicos e nossas relações internacionais! Se ainda não houve qualquer
influência significante, haverá, e em grau sempre crescente. A consciência de
Deus neste mundo algum dia dominará e controlará a consciência toda do
mundo — político, econômico, social e religioso. Isso acontecerá porque, pela
primeira vez, as massas estão aprendendo a levar Deus à sua experiência, não
apenas sete dias por semana, mas estão aprendendo a “orar sem cessar”. Estão
aprendendo a levar Deus à sua consciência, mesmo quando se sentam para um
simples desjejum ou almoço.

O pensamento do mundo está sendo fermentado; o pensamento do mundo está


sendo alcançado com essa consciência de Deus. Não faz diferença qual dos
movimentos metafísicos você citar. Cada um deles está levando a palavra, Deus,
a expressão consciência de Deus e a idéia de Deus imanente na experiência
individual do mundo. Por isso, cada qual está agindo como uma bênção; cada
qual é uma luz para o mundo.

Chegará o dia em que cada prático metafísico deverá estar tão imbuído do Cristo
que ele poderá curar e, depois se você for a um prático do Novo Pensamento,
da Unidade e da Ciência Cristã, você alcançará a cura.

Sejamos honestos a este respeito: o ensino em si nada tem a ver com a cura. O
ensino só serve para abrir sua consciência à receptividade do Cristo; e essa
receptividade do Cristo é o que faz a cura. Todos os livros — milhares e milhares
— não curarão uma simples dor de cabeça, mesmo que você pudesse
memorizar todos eles. Somente o Cristo cura. Há, na Bíblia, verdade suficiente
para abrir a consciência para o Cristo mesmo que não houvesse um único livro
metafísico na Terra. Há verdade suficiente em qualquer livro metafísico honesto
para abrir a consciência para o Cristo. Por pouca que seja a verdade existente
em alguns deles, ainda há o suficiente — verdade suficiente para levá-lo ao
Cristo, e essa é a influência fermentadora, não a palavra escrita.

A cura será ocasionada somente quando o Cristo é introduzido na consciência.


Você pode ir a qualquer pessoa que cure em qualquer dos movimentos
metafísicos, e se você encontrar uma que esteja imbuída do espírito da verdade
e do Cristo, ela será capaz de efetuar uma cura para você, ainda que ela seja
parte de um movimento em que o ensino não ocorra num nível muito espiritual.
Dia virá em que cada prático, não importando seu antecedente metafísico, estará
tão imbuído do Cristo que, quando houver um chamado, o Cristo deve responder
e ocasionar a cura.

Deveria haver lugares — e existem alguns — que abrissem suas portas às


pessoas de todas as igrejas, ou que não tenham igreja, a todas as organizações
ou a nenhuma organização, possibilitando que as pessoas se encontrem no nível
comum da Cristandade, não estar muito preocupadas acerca do ensinamento
particular que está sendo seguido, porque repetidamente nos dizem que “a letra
mata e o espírito vivifica”.6 Não estou muito preocupado com os livros que as
pessoas lêem, mas estou preocupado com as pessoas que os lêem. Estou
preocupado quanto ao fato de elas encontrarem ou não nesses livros alguma
medida do Cristo, o suficiente para lhes dar o desejo de vivê-Lo e levarem o
pensamento de Deus à sua experiência humana.

6. II Coríntios 3:6.

Lembre-se de que foi prometido que, se houvesse dez homens justos na cidade,
esta seria salva. Há uma profunda lei espiritual amparando esta declaração. Se
existirem algumas dezenas de pessoas justas, de pessoas conscientes de Deus,
de pessoas contagiadas por Deus, talvez elas salvem a cidade, a nação ou o
mundo. Isso poderia muito bem acontecer, sem dúvida. Pode ser que o
pensamento justo de apenas alguns, no plano interior, toque e alcance a
consciência do mundo.

Conhecemos civilizações que foram eliminadas, civilizações que eram tão


adiantadas quanto a nossa e algumas que eram ainda mais adiantadas. Em
nossa complacência, provavelmente pensamos que temos o maior grau de
civilização alcançado pelo homem. Na verdade, talvez sejamos a maior geração
de cientistas, engenheiros mecânicos e fazedores de “bugigangas”, mas não
somos a maior geração, a mais civilizada. Essa honra foi reservada a outras
civilizações, e elas foram eliminadas. Também não houve Deus que impedisse
esse holocausto. E nunca haverá até que Deus se torne o nível da consciência
individual e da massa. Então Deus trabalhará em nossos assuntos humanos.
Você precisa reconhecer a validade desta declaração, porque, assim como Deus
não trabalhou muito em nossos assuntos humanos até que você conseguisse
um lampejo do Cristo e, a partir de então, Deus passou a governar todos os seus
assuntos humanos, da mesma forma, Deus não trabalhará nos assuntos
humanos enquanto ele não se tornar a consciência real de milhares e milhares
de pessoas. Então você verá essa mesma consciência de Deus influenciando
assuntos materiais e internacionais.

A força de Cristo é tão imensa que, quando se torna viva, Ela vem com um
propósito universal, não apenas com a finalidade de resolver alguns de nossos
problemas pessoais humanos. O Cristo é um bem universal, não um bem
pessoal. Qualquer verdade individual é também uma verdade universal. Por isso,
cada vez que há uma demonstração individual da presença do Cristo, há uma
demonstração universal. Ele apenas precisa ser reconhecido numa escala mais
ampla para ser atuante nos assuntos do mundo.

Provavelmente, é por isso que a Bíblia diz que se houver dez homens justos —
não apenas um ou dois, mas dez — se houver dez homens com espiritualidade
suficiente, fermentando a consciência, eles influenciarão os outros. Isso não
significa que há necessidade de números: significa que pessoas suficientes
precisam estar dispostas a passar à influência do domínio espiritual, porque não
podemos, com toda a nossa espiritualidade, levar nem mesmo os membros de
nossa família para o céu, se eles não quiserem ir. É preciso numa consciência
permeável, um fermento, de modo que pessoas suficientes terão realmente o
desejo de abandonar sua dependência em relação aos meios humanos.

A Batalha não é sua


“Não resista ao mal.” Não importando o nome ou a natureza de seu problema
particular, pare de combater o erro tanto quanto possível; procure não combatê-
lo demasiado arduamente. Convença-se de que a batalha não é sua; depois,
sossegue e veja a salvação do Senhor. Você não precisa batalhar: tudo o que
você tem a fazer é reconhecer que tudo o que está acontecendo é para a glória
de Deus. Veja se você não pode ficar mais tranquilo acerca deste trabalho de
cura e agir como se estivesse realmente convencido de que o mal não é um
grande poder.

Suponhamos agora mesmo que você teve o poder pessoal de ser capaz de curar
uma doença. Isso não o assustaria? Deveria assustá-lo! Deveria! Mas você não
tem tal poder. O Cristo, o Invisível Infinito, é a única agência de cura que existe
no mundo. Ele dissipa a ilusão dos sentidos e isso é tudo quanto é necessário.

O grande segredo é: “Eu não posso, de mim mesmo, fazer coisa alguma.7 ...E
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.”8 O grande segredo não é quanto
poder pessoal você pode desenvolver como pessoa que cura, mas o quanto você
se torna um bom veículo para o Cristo, o quão clara é a sua transparência, que
grau de consciência de Cristo você desenvolve. Em outras palavras, qual é o
grau de amor ao erro, ou de ódio ao erro, ou de temor ao erro que está dentro
ou fora de sua consciência? Quanto você teme realmente o erro? Quanto você
realmente ama o erro? Quanto você odeia o erro? Isso determina o quanto você
é transparente para o Cristo. Não se trata de quanto poder pessoal você tem,
mas de quão esclarecido você esteja sobre a grande verdade de que Deus é
amor e de que Deus não faz acepção às pessoas. Nele não há pecado nem
doença, e vivemos, nos movimentamos e temos o nosso ser na consciência do
Cristo.
7. João 5:30.

8. Gálatas 2:20.

Para todos vocês que estão ativamente empenhados no trabalho de cura,


quando surge um chamado, vejam até que ponto podem parar de estabelecer
uma resistência ou negação, apressando-se com um: “Isso não é verdade! Isso
não é verdade!” Vejam se podem deixar de fazer isso e acreditar que não se
trata de verdade. Se vocês realmente acreditam que não se trata de uma
verdade, não precisam dizê-lo ou declará-lo: Vocês podem contentar-se em
sorrir, porque são capazes de ver de outra maneira.

Algumas vezes vocês terão de manter isto durante muito tempo. A tenacidade
do erro é tão forte nos pensamentos de certas pessoas que é necessário persistir
nesta prática. Ainda não chegamos ao ponto de onde possamos saber, com
alguma certeza, por que uma pessoa pode ser curada num minuto e por que a
cura leva dois anos para outra. Talvez alguns julguem, como eu, que isso tem a
ver com a preexistência; tem a ver com o ciclo de vida do indivíduo antes que
ele fizesse seu aparecimento no plano desta Terra. Eu, pessoalmente, creio
nisso. Acredito que, se a vida é eterna, sempre temos vivido, e desde que
sempre temos vivido, devemos ter vivido dentro ou fora de algum determinado
estado de consciência, motivo pelo qual algumas pessoas são muito mais
desenvolvidas do que outras.
Por exemplo, você — que alcançou pelo menos um estado suficientemente alto
de consciência para estar lendo e estudando a verdade — suponha que neste
momento estivesse passando (morrendo). Você não teria de vivenciar todas as
coisas pelas quais passou antes de ter vindo para esta dimensão espiritual. Muito
provavelmente, você começaria no plano seguinte em que você está neste
minuto como uma Alma espiritualmente desenvolvida — em alguns casos até
bem mais adiante, porque muitas vezes o ato de transição é liberador.

Mas nosso interesse particular neste momento não é especular os motivos pelos
quais uma pessoa é curada rapidamente, não acontecendo o mesmo com uma
outra. Nosso problema particular é o desenvolvimento de uma certa medida da
consciência do Cristo esse Amor universal divino, esse sentido de perdão e
gratidão desenvolvimento de nossa consciência até o ponto em que não
tememos, não odiamos, nem amamos o erro.

Não se esqueça de que o mandamento do Mestre foi: “Amarás o teu próximo


como a ti mesmo.”9 Este não foi somente um mandamento para amar Deus, mas
para amar o próximo, para amar o próximo como a você mesmo. Algumas vezes,
alguns de nós se tornam tão absolutos acerca de nosso amor por Deus que nos
esquecemos do próximo. Mas não podemos fazer isso neste trabalho. Queremos
a plena medida do Cristo; e, por isso, devemos não só amar Deus com todo o
nosso coração, como também precisamos amar o próximo; e esse amor precisa
ser mostrado em compaixão, paciência, justiça, bondade, clemência e júbilo —
uma disposição para partilhar todo o bem que Deus nos deu.

9. Mateus 22:39.

Acima de tudo, precisamos abandonar nossa crença egoísta de que temos


poderes pessoais como práticos. Nossas curas estarão na proporção em que
compreendermos que todo o poder nos é dado através de Deus, através do
Cristo que nos fortalece. E essa é a única Fonte de nosso poder.

Esta mesma idéia de que não há poder pessoal é da máxima importância para
uma vida espiritual ou mística, na qual não há dependência de pessoa, lugar ou
coisa, e não há confiança em contatos humanos — apenas dependência e
confiança no plano interior, em nosso contato interior com Deus.

Se existe algum método de demonstração, é por meio deste contato com o Pai
interior. Conquiste a compreensão consciente da presença e do poder de Deus
dentro do seu próprio ser. Não importando o nome e a natureza do problema ou
necessidade, não procure resolvê-lo no nível do problema. Não tente resolver o
suprimento como suprimento; não tente resolver relacionamentos de família
como relacionamentos de família. Descarte todo o pensamento dessas coisas.
Caminhe para o seu íntimo, até encontrar realmente aquele lugar no interior do
seu ser que lhe dá a resposta de Deus. Então seus problemas serão resolvidos.
À medida que você tocar o Cristo dentro do seu próprio ser, você tocará a
nascente de vida mais abundante.

União consciente com Deus! Esta constitui a união consciente com todo ser
espiritual e com toda idéia espiritual.

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