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RESUMO
O corpo é algo limitado, divisível, quase que não precisa da alma ou mente,
mas sem elas e sem o cogito o homem não passa de um animal-máquina, um ser
que existe mas sem possuir a capacidade de distinguir as coisas verdadeiras das
falsas, isto é, não possui uma razão para orientá-lo. Ao receber a alma que é
imposta por Deus, ele passa a ser um homem-máquina que vive em harmonia com
as leis do mundo, mas como uma coisa que pensa, possuinte de razão.
INTRODUÇÃO
O cogito, cujo qual Descartes possui uma noção de verdade das coisas. Ele
é o ponto central para o entendimento do homem. Sendo aquele que faz a união
entre corpo e alma. Não significa que realizará só, mas é o marco central de sua
filosofia.
O ponto em questão é a via de acesso ao cogito. Mostra-se através da
dúvida que por sua vez leva-o para uma reflexão. Descartes começa uma busca do
que ele realmente é. E pela busca, chega a uma indagação: o que seria realmente o
homem? Ele utiliza uma das respostas dos filósofos clássicos, mas logo
desconsidera essa concepção pois, se aprofundasse, entraria no campo de
interpretações muito complexas.
Sem dificuldade, pensei que era um homem. Mas que é um homem? Direi
que é um animal racional? Certamente não: pois seria necessário em
seguida pesquisar o que é animal e o que é racional e assim, de uma só
questão cairíamos insensivelmente numa infinidade. (Descartes, 1991, p.
174).
Por corpo entendo tudo o que pode ser limitado por alguma figura; que pode
ser compreendido em qualquer lugar e preencher um espaço de tal sorte
que todo outro corpo dele seja excluído; que pode ser sentido ou pelo tato,
ou pela visão ou pela audição, ou pelo olfato; que pode ser movido de
muitas maneiras, não por si mesmo, mas por algo de alheio pelo qual seja
tocado e do qual receba a impressão. (DESCARTES,1991. p. 175)
O algo que move o corpo não está em nenhum atributo em mim, mas está
além, o espírito, algo que é capaz de fazê-lo mover o corpo, de pensar, sentir. Como
não encontrou nenhum atribuo que possuísse passou a analisar a alma. Para
Descartes, ela é capaz de caminhar, alimentar, sentir o corpo, mas não possui
nenhum corpo. O pensamento é um outro predicado atribuído ao homem que não
pode ser separado, é pertencente a ele, “Eu sou, eu existo” (DESCARTES, 1991, p.
176, grifo do autor).
A verdade defendida por René é a res cogitans, que quando o homem pensa
e de forma que é capaz de intuir é expressada como a res extensa. Pois, tudo aquilo
que cogita no cogito é representado pela res extensa, a representação da cogitação.
Tomemos, por exemplo, este pedaço de cera que acaba de ser tirado da
colmeia: ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda
algo do odor das flores de que foi recolhido [...] Enfim, todas as coisas que
podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste.
Mas sei que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de
sabor exala-va, o odor se esvai sua cor se modifica [...] A mesma cera
permanece a mesma? [...] Certamente não pode ser nada de tudo o que
notei nela por intermédio dos sentidos, posto que todas as coisas que se
apresentavam ao paladar, ao olfato, ou a visão, ou ao tato, ou a audição,
encontram-se mudadas e, no entanto, a mesma cera permanece.
(DESCARTES, 1991 p. 178)
Segundo, o conteúdo da res extensa só pode ser uma ideia que já foi
pensada anteriormente e além de todas as dúvidas. Não pode ser representada pela
forma, nem pela imagem para conhecer a natureza. Essas, por sua vez, adquirem
inúmeras impossibilidades por imaginar a quantidade de formas que podem ser
demonstradas, ou seja, os seus acidentes. Deixando os acidentes de lado,
compreendendo a sua natureza, tem apenas uma coisa certa, “eu penso”. Com essa
afirmação, que penso, não são os acidentes, nem as sensações provenientes dos
sentidos que me levam ao conhecimento verdadeiro.
Por fim, como diz Descartes, só se torna possível conhecer o corpo pela
capacidade entender em nós os existentes, desconsiderando os sentidos, a
imaginação. Mas somente através da capacidade do intuir, aquela intuição que mira
não os acidentes, mas busca o que está por trás deles, pode se dizer “purificado”,
pois foi por meio da res cogitans. Sendo assim, o espírito se torna mais fácil de ser
conhecido do que o corpo, ao ponto que tenho logo o conhecimento de sua
existência, de sua natureza, distintamente do corpo humano que, para existir, tinha
que perpassar pelo pensamento, o “cogitar”.
De acordo com o que é afirmado pela Meditação, pode-se dizer que ao ser
excluída toda a percepção intelectual da mente em relação ao corpo e tudo o que se
refere à percepção intelectual do corpo em relação a mente. Pode-se perceber que
está sendo afirmada uma percepção intuitiva sobre a mente e o corpo, como duas
naturezas mutuamente excludentes.
O corpo, formado de matérias e formas, é algo que pode ser dividido, pois
está contido na natureza ou na essência da extensão. Por exemplo, se pegar uma
pedra e quebrá-la, tem-se duas pedras. Sendo assim, o corpo é algo divisível. A
alma pode ser compreendida como algo indivisível, pois se fosse divisível teríamos
duas mentes. Se pudesse haver dois “eus” pensantes existiriam duas mentes, por
conseguinte haveria dois “eus mesmos”, o que é inaceitável. Conclui-se que o corpo
é naturalmente divisível, já a alma (mente) não se pode dividir, estão em suas
essências.
Há grande diferença entre espírito e corpo, pelo fato de ser o corpo, por sua
própria natureza, sempre divisível e o espírito inteiramente indivisível. Pois,
com efeito, quando considero meu espírito, isto é, eu mesmo, na medida em
que sou apenas uma coisa que pensa, não posso aí distinguir partes
algumas, mas me concebo como uma coisa única e inteira. E, conquanto, o
espírito todo pareça estar unido ao corpo todo, todavia um é, um braço ou
qualquer outra parte estando separada do meu corpo, é certo que nem por
isso haverá aí algo de subtraído a meu espírito. E as faculdades de querer,
sentir, conceber, [...], não podem propriamente ser chamadas de suas
partes: pois o mesmo espírito emprega-se todo em querer e também todo
em sentir, em conceber, etc. Mas ocorre exatamente o contrário com as
coisas corpóreas ou extensas: pois não há uma sequer que eu não faça
facilmente em pedaços por meu pensamento, (DESCARTES, 1991)
Conclui-se que a relação alma (mente) e corpo é algo distinto, mas que a
união entre si se dá de maneira que uma completa a outra. A existência de certos
modos de sensações como por exemplo, sede, dor, fome, existe por de traz uma
natureza que é capaz de possui-los. Por isso, como temos a existência de uma
natureza que é capaz de duvidar, pensar que é a mente, precisamente se faz
necessário algo que é capaz de senti-los por meio dos sentidos, como a existência
de modos da sensação e dos movimentos o corpo. Segundo Descartes, essa união
é algo que faz surgir uma coisa que constitua por si mesma uma natureza
verdadeira e imutável.
1
O escrito original o Tratado do Homem ou O homem era o VIII capitulo do livro O Homem ou o
Tratado da Luz (Le Monde ou Traité de La Mundo)
Descartes, logo no primeiro parágrafo, nos mostra qual assunto irá tratar,
lembrando que esse livro foi escrito antes do Discurso do Método e das Meditações.
O que o filósofo nos apresenta é:
[...] não supus nenhum órgão e nenhum mecanismo que não sejam tais que
se possa muito facilmente convencer a todos que haja nela [na maquina]
tudo semelhante, tanto em nós, como em diversos animais desprovidos de
razão. (DESCARTES. 1991, p. 139)
Os dois meios pelo qual René nos fala são: primeiramente a incapacidade
das máquinas em pensar e proferir as palavras, assim como nós, seres humanos
fizemos em nosso cogitar; segundo, ao realizar as ações não são provenientes de
pensamentos, sendo assim, seus efeitos serão falhos, visto que cada ação requer
uma ação particular, ou seja, ausência da razão impossibilita o discernimento. A
existência da alma ao corpo humano conjectura a razão oferecida pela vontade da
criação Divina.
O corpo, ao ser estudado, demonstra uma autonomia sobre a alma, mas ela
o preenche. A alma é composta ao corpo, nele o movimento é autônomo,
determinado somente pelos objetos exteriores, mas quando a máquina-homem,
recebe-a não se movimenta mais pelas coisas externas, passa a ter um comando
racional sobre si, e a partir desse comando, passa a mover-se por si mesmo.
[...] a alma que estiver na máquina que descrevo poderá alegrar-se com
uma música que seguirá as mesmas regras que a nossa e como ela poderá
torna-la muito mais perfeita, se se considera, ao menos que não são
absolutamente as coisas mais doces que são as mais agradáveis aos
sentidos [...] (DESCARTES, 1991. p. 164)
Conclui-se que o homem é uma máquina que está em sintonia com o mundo
e com suas leis naturais, mas só se torna algo possuinte de razão após possuir uma
alma imposta por um intermédio divino. Ao recebe-la ele não é mais comparado
como um animal-máquina, mas sim passa a ser um homem-máquina, pois suas
ações não estão mais nos sentidos mais sim está agindo racionalmente na medida e
no ordenamento de seus pensamentos.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
DESCARTES, René. Discurso sobre o Método. Tradução de Alan Neil Ditchfield. Petrópolis:
Vozes, 2008. (Coleção de textos filosóficos).
___________. Meditações. Tradução J. Guinsburg e Bento Prado Junior. São Paulo: Nova
Cultural 1991. – (Os pensadores).
___________. Tratado do Homem. Tradução de Jordino Marques. São Paulo: Loyola, 1993. –
(Coleção filosofia; V. 25).
MARQUES, Jordino. Descartes e sua concepção de homem. São Paulo: Loyola 1993.
SKYRRY, Justin. Compreender Descartes. Tradução de Marcus Penchel. Petrópolis: Vozes
2010 – (Série Compreender).