Você está na página 1de 2

Meditação Segunda de Descartes

Inicia Descartes sua segunda meditação pondo todas as coisas existentes


como falsas, desde suas concepões mais abstratas, até aquelas alcançadas
pelos sentidos; tudo a Descartes nesta segunda meditação ou se é falso
desordenadamente, ou se lhe é imputado na memória ardilosamente por um
Ser muito poderoso, que atribui ao filósofo as equivocadas impressões.
Deste modo, nada pode ser comprovadamente verdadeiro, e todas as
formas e expressões da nossa consciência seriam meros acasos, sonhos
infundados, opiniões e suposições acerca de algo que de nós se externa (se
é que existe um "eu") que, potencialmente, não existe com fundamento.

Sendo tudo pura enganação, nada poderia fundamentar-se como certo,


contínuo e verdadeiro; nada teria, desta forma, substancialidade. Porém,
prosseguindo nesta meditação, Descartes percebeu que, por mais que tudo
que ele toca e observa seja uma ilusão criada por um gênio maligno, ainda
sim, há algo de verdadeiro: A sua existência permanece na medida em que
se pensa sobre qualquer coisa. Desta meditação surge o cogito, onde
Descartes conclui a existência de si na medida em que ele pensa; se pensa,
existe.

A conclusão do cogito esvazia a dúvida de que nada poderia ser concebido


com substancialidade, porém, apenas esta mediatação não explicaria a
existência das coisas extensas, a saber: aquelas coisas que seriam
percebidas pelos sentidos. Todas essas coisas poderiam ser concebidas na
mente por um gênio maligno, portanto, não haveria motivos, ainda
primariamente, para concebê-los com substancialidade, como conclui
Descartes.

Ainda partindo do princípio de que poderia ser enganado (exceto pela


certeza de que pensa e existe) Descartes se dedica a compreender se há
fundamento nas tais coisas extensas, que ele denonima como sendo
qualquer coisa materialmente formada que é limitado por alguma figura; a
estas coisas, denomina-se o corpo.

A compreensão desta meditação se dedica em perceber se há

1
substancialidade naquilo que se denominou coisa extensa: pensou
Descartes sobre um pedaço de cera recém extraido de uma colméia, cujas
proporcionalidades e propriedades como aroma, gosto e cor esvaem-se e
transmutam-se e geram uma forma completamente diferente da primeira
cera que teve contato; Descartes observa que, mesmo tendo mudado de
forma, ainda permanecia cera. Dessa forma, não poderia concluir que a
substancialidade de alguma coisa extensa estaria em suas propriedades
percebidas pela experiência, e sim pela ideia, isto é, as formas de identidade
desta coisa extensa, percebidas não como excludente e individualizado no
mundo, mas sim, pela inspeção do espírito daquele que pensa.

Desta forma, a conclusão de Descartes nesta segunda meditação é a de que


seu espírito só poderia tomar como certo e verdadeiro a si na medida que é
algo que pensa; poderia, mesmo sendo induzido a pensar erroneamente
sobre tudo que vê, conlcuir que, para ao menos se iludir, é necessário
pensar sobre isto, onde conclui-se que existe.

Da existência do pensamento, a princípio, não poderia se fundamentar a


existência do que se está para além do próprio pensamento, na medida em
que estas demais coisas também poderiam ser fruto de um gênio ardiloso;
nada há nesta meditação que comprove que as coisas extensas poderiam
existir com substancialidade, a não ser que estas subexistem no pensamento
como ideia e, dessa forma, obtém identidade na medida em que a inspeção
do espírito pelo pensamento lhe imputa esta medida.

Você também pode gostar