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-- Outros que foi uma tentativa de colocar de novo a ética no domínio da razão que Hume
tinha reduzido às emoções.
-- Ainda outros acreditam que o fez para salvar a Metafísica que Hume reduzira a uma
análise da mente.
O que é consensual é que Hume foi a sua fonte inspiradora. O próprio Kant o admite.
Nas próximas duas tarefas vamos abordar a solução de Kant para o problema da indução
de Hume.
1. Crítica ao racionalismo
2. Crítica ao empirismo
3. Juízos sintéticos a priori
Reparem que as antinomias não são sofismas, ao contrário do que pensava Hume. A razão
julga estar a fazer um uso legítimo dos seus princípios. Mas, se usando estes princípios, ela
demonstra ideias contraditórias (Antinomias), há algo de errado nela.
1. Crítica ao empirismo
Aparentemente é simples:
Se os empiristas estiverem corretos, não existem juízos sintéticos a priori. (ver 3.)
Não se compreende bem o ponto 2 sem se esclarecer o que são juízos sintéticos a priori.
A teoria da tábua rasa não permitiu a Hume admitir a existência de juízos sobre a
experiência, ou sobre a realidade, que fossem a priori (a mente não seria à nascença
vazia). Assim, os juízos ou são meras convenções a priori ou são a posteriori (o seu valor
de verdade depende da experiência).
Esta posição foi objeto de muita polémica no tempo de Hume. Sobretudo no que respeita
aos juízos da Geometria. Kant considera que os juízos da Matemática são sintéticos e não
analíticos.
ANALÍTICOS
“corpo” e “extenso” designam para nós a mesma coisa. Um corpo é algo que ocupa espaço
SINTÉTICOS A POSTERIORI
“corpo” e “peso” não são sinónimos, nem a sua relação é dada a priori. Esta relação tem que
ser procurada na experiência
SINTÉTICOS A PRIORI
A grande questão não é a de saber se eles são possíveis, mas como são possíveis
“Há juízos sintéticos a posteriori, cuja origem é empírica; mas também os há que são certos
a priori e provêm do puro entendimento e da razão” (KANT, Prol, AA04: 267. 25-27).
[...] não temos de procurar aqui a possibilidade de tais proposições, isto é, de nos
interrogarmos se elas são possíveis. Pois, há bastantes e são dadas realmente com uma
certeza indiscutível e, visto que o método, que agora seguimos, deve ser analítico, o nosso
ponto de partida será que este conhecimento racional sintético, mas puro, é real [...]. (KANT,
Prol, AA04: 275. 01- 05)
Para Kant há uma realidade fora de nós. Sabemos que ela existe porque é a causa das
nossas sensações. Kant chama-lhe “coisa em si”. (Alguns autores consideraram que esta
hipótese é metafísica, mas não Kant). Não sabemos como ela é, porque não temos uma
intuição que o permita. Sabemos apenas que é.
Possuímos ainda sentidos (a intuição sensível). Os sentidos, afetados pela coisa em si,
produzem sensações. Mas desde há muito que se acredita que as sensações não são
propriedades dos objetos (fora de nós) , mas a forma como o sujeito é afetado. Esta é a
nossa única ligação com o REAL. Todo o resto está no sujeito.
Seria impossível dar sentido às sensações se no sujeito não houvesse os mecanismos que
as interpretam e as transformam em objetos. Para isso temos duas intuições puras: o
espaço e o tempo.
Desde Aristóteles que se suspeitava que o tempo era uma convenção humana para
compreender o movimento, mas o mesmo não se passava com o espaço – espaço e
realidade física chegaram mesmo a ser considerados sinónimos, como é o caso da res
extensa de Descartes.
“Imaginem que são uma máquina fotográfica, das antigas, de película. Têm um sentido que
vos põe em contacto com o mundo: a objetiva por onde passa a luz e uma pelicula que é
afetada pela luz. O que vai ficar na película é determinado pela própria luz, o que vos pode
levar a crer que não foram autores de nada do que lá está. A fotografia seria assim a cópia
dos objetos, tão mais fiel quanto menos interferência da vossa parte houver. Mas
esqueceram-se da película. Sem a película seria impossível ter uma imagem. Podem agora
colocar a questão: a película determinou em alguma coisa a imagem que eu tenho?
Descobrem que a vossa imagem vos diz que o mundo é bidimensional. Mas porquê? Porque
receberam essa informação de fora ou porque a própria película impôs essa
bidimensionalidade? Se a resposta a esta última questão for positiva, não podem
representar objetos não bidimensionais (embora os possam pensar) e então, o espaço
(bidimensional) é uma condição a priori da vossa representação do mundo”
SENSIBILIDADE E ENTENDIMENTO
O nome remete para Aristóteles que as entendeu como propriedades dos objetos. Para
Kant, não são propriedades dos objetos, mas esquemas do tempo (tipos pré-definidos
sobre a forma como os fenómenos nos podem ser dados no tempo).
Para os curiosos a página seguinte contém a Tábua das Categorias. Para o assunto em
causa só nos interessa a categoria da “causalidade e dependência” porque é ela que está
na base dos juízos causais.
Reparem que, sobre as relações causais, nem Kant nem Hume são objetivistas (as relações
causais são determinadas pelos próprios objetos): Hume é subjetivista e Kant
intersubjetivista.
Outra diferença relevante é que, embora não possamos dizer que os juízos causais são
verdadeiros no mundo como ele é em si (coisa em si), eles são verdadeiros para o mundo
tal como ele é para nós (fenómenos).
Mas a metafísica vai além da experiência porque os seus objetos não são dados na
intuição sensível (fenómenos) mas são um produto da razão. Os juízos daí resultantes não
possuem um critério de verdade mas são ficções. O seguinte texto de Kant é esclarecedor.
Kant chama “númenos” aos objetos da Metafísica. Será uma atividade legítima? Kant
pensa que sim, que a razão nos impele a saber algo mais do que o que nos é dado na
experiência, numa espécie de busca pela coisa em si. Mas atenção, não temos uma
intuição intelectual (intuição não mediada do mundo como ele é) porque não somos Deus.
Portanto, a Metafísica só é legítima se não se assumir como conhecimento.
Sim no que se refere à irracionalidade das leis causais. Não se o objetivo era estabelecer a
verdade como plena adequação do sujeito ao objeto. Avaliar esta adequação é impossível,
tanto em Kant como em Hume, porque há um termo da comparação que nos ultrapassa, a
coisa em si.
QUESTÃO EM ABERTO
Existe um sujeito anterior à experiência. Ele não é uma tábua rasa, mas algo que possui
em si conhecimentos acerca do mundo para si. Kant chama-lhe sujeito transcendental.
Mas qual a origem do sujeito transcendental? Deus?! Se assim for, voltamos a Descartes.