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Junho de 2014
A natureza sempre afirmará seus direitos e prevalecerá, ao
final, sabre qualquer espécie de raciono abstrato.
David Hume, Investigações sobre o Entendimento Humano e
Sobre os Princípios da Moral.
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Relativo a ideia de introdução à aprendizagem, ou estudo preliminar de uma ciência ou disciplina.
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I – ESBOÇO DOS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA FILOSOFIA DE
DAVID HUME
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assim o fosse, nem mesmo seriamos capazes de concebê-las em nossa consciência. No
entanto, faz-se necessário ressaltar o fato do filósofo escocês fundamentar a sua reflexão
sobre o entendimento a partir da análise das questões de fato, em detrimento das relações de
ideias.
Nesse momento, ainda é necessário aprofundarmos mais a nossa reflexão, por isso,
destacamos, inspirados em Hume (2004), a tendência das questões de fato expressarem-se a
partir de relações de causa e efeito, as quais representam a única maneira do nosso raciocínio
transcender os campos da memória e da sensibilidade humana. Por exemplo, caso um homem
ou uma mulher estejam presos em uma ilha deserta e acabem encontrando um relógio de
pulso, provavelmente chegariam a conclusão de que outro ser humano habitou a ilha antes
deles, tendo em vista o fato da reflexão e medição do tempo através de máquinas e
instrumentos ser uma especificidade humana. Desse modo, podemos afirmar, tal como
ressalta Hume (2004), que há uma conexão entre o acontecimento presente (lê-se estar preso
na ilha) e as ideias, as quais emanam dele (lê-se a dedução da existência passada e talvez a
suposição da presença atual de vida humana nessa ilha). A importância desse exemplo está
justamente no questionamento produzido por ele, isto é, o que interliga a prisão na ilha com as
ideias que surgem a partir da descoberta do relógio de pulso perdido? A resposta é clara, são
as relações de causa e efeito.
Entretanto, isso não é o suficiente, por isso Hume (2004) completa: “Arrisco-me a afirmar
(…) que o conhecimento dessa relação não é, em nenhum caso, alcançado por meio de
raciocínios a priori2, mas provém inteiramente da experiência…” (p. 55). Na realidade,
segundo o empirista escocês, qualquer homem ou mulher, por mais perfeitas que sejam
consideradas as suas capacidades cognitivas e intuitivas (lê-se de raciocínio e de percepção),
caso precisem analisar um objeto nunca anteriormente visto por eles, ainda que levem a cabo
um exame rigoroso e metódico (por meio de suas qualidades sensíveis), ainda assim, não
seriam capazes de extrair desse objeto novo, qualquer tipo de relações de causa e efeito.
Portanto, a filosofia humeana oblitera qualquer possibilidade do raciocínio a priori engendrar
relações de causalidade, tais como: a água pode causar asfixia, a chama pode machucar, o
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Segundo o próprio Kant (2011), a priori são todas aquelas conclusões extraídas independentemente da
experiência humana, portanto, são o extremo oposto daqueles princípios provenientes do conhecimento
empírico, os quais rebem no nome de a posteriori. Evidentemente o iluminista alemão amplia a reflexão sobre as
noções apriorísticas muito além dessa nossa pequena ilustração, mas a título de curiosidade, essa pontuação é
mais do que o suficiente para introduzirmos nossa discussão.
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choque entre corpos pode gerar movimento, entre outros processos, cuja dedução somente é
possível por meio da experiência, ou melhor dizendo:
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pronunciar, sem consulta à observação passada, sobre o efeito que
dele resultará, de que maneira, eu pergunto, deveria a mente
proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar algum
resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é obvio que essa
invenção terá de ser inteiramente arbitrária. ” (HUME, 2004. pp. 57
– 8).
Em outras palavras, o movimento das bolas de bilhar após o choque é totalmente distinto
dos movimentos delas antes deste e, de fato, não existe nenhum sinal que possa indicar-nos,
com certeza, quais serão os respectivos movimentos das bolas de bilhar no final do
experimento. Nesse sentido, por mais que pareça-nos óbvio supor a necessidade do
movimento da primeira bola de bilhar resultar, justamente, no movimento da segunda, não
seria perfeitamente plausível pensar em inúmeros outros efeitos provenientes dessa mesma
causa? As duas bolas de bilhar poderiam chocar-se e, em seguida, entrarem em absoluto
repouso; ou, a segunda bola de bilhar poderia manter-se em repouso e repelir a primeira;
enfim, são infinitas as possibilidades e todas são possíveis. Por que, então, deveríamos dar
preferência a uma das possibilidades negando, em consequência, todas as outras, tendo em
vista o fato de todas possuírem a mesma credibilidade? Enfim, na perspectiva de Hume
(2004): “Todos os nossos raciocínios a priori serão para sempre incapazes de nos mostrar
qualquer fundamento para essa preferência.” (p. 58 – 59).
Todavia, evidencia-se agora, mais do que nunca, a necessidade de refletirmos sobre qual
seria a força responsável pela conexão dos objetos dentro de uma relação de causalidade,
levando em consideração que nenhum conhecimento apriorístico consegue apresentar uma
resposta satisfatória para essa pergunta. Com efeito, estamos em busca de um elo e, a partir da
visão de Hume (2004), percebemos que caminhávamos para o desbravamento do princípio do
hábito, o qual manifesta-se quando repetimos, tanto e sempre do mesmo modo, determinadas
operações, ao ponto destas acontecerem sem a necessidade da interferência do nosso
raciocínio especulativo. Portanto, a forma pela qual nós nos conhecemos e compreendemos o
mundo ao nosso redor (lê-se a consistência do entendimento humano) acaba estando sujeita
profundamente aos ditames do “costume”, entendido como uma espécie de tendência
universal do comportamento humano. Assim sendo:
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é incapaz de variar dessa forma; as conclusões que ela retira da
consideração de um único círculo são as mesmas que formaria após
inspecionar todos os círculos do universo. Mas nenhum homem,
tendo visto apenas um único corpo mover-se após ter sido impelido
por outro, poderia inferir que todos os outros mover-se-iam após
impulso semelhante. Todas as inferências da experiência são, pois,
efeitos do hábito, não do raciocínio. ” (HUME, 2004. p. 75).
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“Tomemos, então, essa doutrina em toda sua extensão, admitindo
que o sentimento de crença nada mais é que uma concepção mais
intensa e constante do que a que acompanha as meras ficções da
imaginação, e que essa maneira de conceber provém de uma
habitual conjunção do objeto com algo presente à memória ou aos
sentidos.” (HUME, 2004. p. 83).
Enfim, chegamos ao último intuito da primeira parte do nosso ensaio, isto é, a reflexão
sobre os três princípios de ligação e operação do entendimento humano. Segundo a filosofia
empirista humeana, são estes: A semelhança, a contiguidade e a causação. Naquilo que diz
respeito ao primeiro princípio, invocamos, a título de elucidação, o exemplo do retrato de um
amigo há tempos não visto, por meio do qual (através da atividade da semelhança) acabamos
representando-o em nossa mente, relembrando os sentimentos que o convívio com ele
produzia (sejam esses quais forem) para, enfim, constituir uma ideia vívida e consistente
acerca dele (lê-se crença) em nosso entendimento. Refletindo agora sobre o segundo princípio
culminamos na evidente constatação de que ao pensar em algum objeto cria uma
representação contínua (lê-se aproximada) dele, mas somente a presença concreta desse
objeto transmite à mente uma ideia mais viva acerca dele. Por exemplo, quando estamos a
poucos passos de chegar em nossas casas, após um dia longo de trabalho, a ideia construída
por nós do nosso lar torna-se cada vez mais clara, se comparada com a ideia formulada ao sair
do serviço. O terceiro princípio, ou seja, a causação (lê-se causalidade) relaciona-se
profundamente com os conceitos de semelhança e da contiguidade, tendo em vista que, por
exemplo, a influência exercida pelo quadro do velho amigo em nossa mente, necessariamente,
pressupõe a existência dele, do mesmo modo que, a nossa proximidade com relação ao lar
precisa supor a existência desse para, em seguida, estabelecer uma ligação entre ele e a nossa
mente. A mesma coisa acontece quando lançamos lenha na fogueira e pressupomos que nossa
ação aumentará as chamas e, não o contrário. Portanto, encerremos esse tópico com um
veredito do empirista escocês:
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II – A EPIFANIA DE IMMANUEL KANT E A CRÍTICA DO PENSAMENTO
METAFÍSICO
3
LEBRUN, G. Sobre Kant. São Paulo: Iluminuras, 2010. p. 8.
4
LEBRUN, G. Op., cit., p. 7.
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de descartar completamente esse seu escopo de inspiração filosófica. Desse modo, terminou
por levar a cabo um processo muito significativo de crítica ao pensamento metafísico, que foi
denominado por ele mesmo como exercício propedêutico e necessário a toda metafísica, o
qual não seria responsável pela sua obliteração (tal como Hume desejava), mas, antes disso,
frisava a erradicação dos seus limites e da sua propensão ao erro. Somente dessa forma, o
iluminista alemão acreditava ser possível contribuir para a metafísica alcançar o patamar
seguro da ciência. Portanto, nossa discussão agora almeja elucidar a consistência dessa
epifania que Hume causou em Kant e como ela foi capaz de impulsionar a construção do
primeiro sistema filosófico crítico ao pensamento metafísico.
Antes de lançarmo-nos sobre a análise da crítica kantiana do pensamento metafísico,
precisamos termos claro em nossa reflexão aquilo que o iluminista alemão vai denominar de:
caminho seguro da ciência. Nesse sentido, é elucidativo tomarmos como exemplo a questão
da Lógica, a qual, na ótica de Kant (2001), desde Aristóteles manteve-se segura e sem nunca
ter regredido, a não ser pelo fato de sofrer alguns aperfeiçoamentos singelos, realizados muito
mais por elegância do que em benefício da certeza científica. Com efeito, “é digno de nota
que” ela “não tenha até hoje progredido, parecendo, por conseguinte, acabada e perfeita, tanto
quanto se nos pode figurar5”. No entanto, a lógica, tal como evidencia Kant (2001), é uma
ciência especial, haja vista que, ela é uma espécie de propedêutica crucial para todos os tipos
de conhecimento científico, além de bastar-se por si mesma, abstraindo-se da reflexão acerca
dos objetos das demais ciências. Mesmo assim, ela não deixa de ser muito importante para
nós, não somente, porque fundamenta todas as formar de análise científica, mas também,
devido ao fato de proporcionar um caminho seguro e almejável para todo o pensamento que
sonha conquistar a qualidade de ciência, embora, para a metafísica essa trilha talvez ainda
esteja, segundo Kant (2001), demasiadamente tortuosa e muito parecida com um tateio
obscuro no vazio. Então, depois de erigir à lógica enquanto princípio norteador da reflexão
científica, o iluminista alemão procura elaborar um passeio sobre a história do pensamento
ocidental a fim de destacar todos aqueles fenômenos históricos, os quais podem ser
considerados como verdadeiras revoluções do modo de pensar humano, pois, são
responsáveis pela sintonização da Razão no horizonte conciso da ciência.
A reflexão kantiana mergulha inicialmente sob a Matemática, de forma a, em um
primeiro momento, observar quanto ela manteve-se demasiadamente tateante enquanto atuava
como um instrumento de cálculo criado pelos egípcios. Em seguida, Kant (2001) avança
5
KANT, I. Prefácio da segunda edição (1787). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p. BVIII.
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alguns milênios, chegando na Grécia Antiga, onde a reflexão matemática adquiriu uma
significativa atualização, manifesta por meio do advento do triângulo isósceles (fenômeno, o
qual finalmente conseguiu encarrilhá-la nos trilhos seguros da ciência). Isso aconteceu,
porque; pela primeira vez na história da humanidade; foi possível conhecer as propriedades de
um objeto sem a necessidade prévia de uma densa e rigorosa descrição a seu respeito. Ao
invés disso, era possível construí-lo por meio da sua representação a priori em nosso
pensamento, haja vista que, a definição: polígono com três lados que se unem, sendo dois
deles congruentes, representa uma concepção abstrata (lê-se apriorística) proveniente
puramente do nosso próprio entendimento. Portanto, a primeira grande contribuição para o
desenvolvimento da Razão, na ótica kantiana, aconteceu durante o período grego da
Antiguidade e representou uma revolução significativa no modo de pensar, o qual agora
passou a desbravar os limites apriorísticos do seu próprio entendimento.
O próximo grande movimento da Razão aconteceu no âmbito da Física e, segundo
Kant (2001), manifestou-se através das contribuições das obras teóricas e experiências dos
grandes filósofos e físicos, tais como: Francis Bacon, Galileu Galilei, Evangelista Torricelli,
entre outros, os quais constataram o fato da Razão possuir princípios e leis, dotados de juízos
específico que, por sua vez, são fundamentados por ditames constantes e necessários, sempre
responsáveis por obrigar a natureza a agir de a acordo com a sua ordem e, nunca o contrário.
Logo, a revolução do modo de pensar a natureza (levada a cabo por esses pensadores)
consistia em entender a relação dessa com a Razão, não como uma relação entre aluno 6 e
mestre, mas, ao invés disso, na qualidade de uma relação entre juiz e réu, na qual o segundo
está totalmente a mercê das interrogações levadas a cabo pelo primeiro. Nas próprias palavras
do iluminista alemão:
Entretanto, segundo Kant (2001), a deusa da fortuna não foi tão generosa a ponte de
permitir à metafísica introduzir-se nos trilhos da ciência, tendo em vista o fato do
6
No sentido grego da palavra representa “o sem luz” o” desprovido de luz”, o qual será iluminado pelo
professor (lê-se aquele que é detentor da luz e da iluminação).
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conhecimento produzido por ela ser puramente especulativo, ou seja, a razão transcende
quaisquer informações provenientes da experiência e, acaba encerrando-se em seus próprios
conceitos, bastando-se por si mesma. Nesse sentido, aquilo que é racional e está contido no
pensamento metafísico tem extremas dificuldades para conceber suas leis a priori, em
contrapartida, a experiência não enfrenta os mesmos problemas para fundamentar e edificar
seus postulados. Debruçando-se sobre esse dilema, o filósofo alemão chega à seguinte
conclusão acerca da metafísica:
Não há dúvida, pois, que até hoje o seu método tem sido um mero
tateio e, o que é pior, um tateio apenas entre simples conceitos. (…)
Mais ainda: quão poucos motivos teremos para confiar na nossa
razão se, num dos pontos mais importante do nosso desejo de saber,
não só nos abandona como nos ludibria com miragens, acabando por
nos enganar! (KANT, 2001. p. BXV)
7
Essa representação do planeta Terra, a qual mais parece descrever um “grande rei em seu tono
egocêntrico”, pode ser intendia quando levarmos em consideração a visão de mundo medieval, na qual o império
romano era visto como o centro do mundo e, a perspectiva de entendimento da realidade, a qual passava pelo
escopo cristão católico imperava como a única possibilidade de compreensão daquilo que seria bom, belo e
verdadeiro.
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cosmológica8 em vigor no seu período histórico (por isso acabou precisando retratar-se para a
inquisição católica, posteriormente), ou seja, começou a atribuir o movimento rotativo ao
espectador, olhando agora para os astros como imóveis. Portanto, exclamará Kant (2001),
podemos “virar a mesa”, invertendo tudo aquilo que foi dito erroneamente pela nossa
metafísica até aqui, questionando-nos sobre a possibilidade de não ser a intuição proveniente
da observação da natureza a responsável por gerar conclusões e postulados científicos, mas,
muito pelo contrário, talvez estes sejam guiados, antes de tudo (lê-se antes da própria
experiência), pelas faculdades do entendimento humano, as quais possuem uma existência a
priori. Além do mais, a própria experiência (entendida como um método de conhecimento)
necessita do auxílio prévio do nosso próprio entendimento (o qual trabalha somente com
noções apriorísticas), logo, não é de se espantar a possibilidade de muito dos seus conceitos e
ditames precisarem se reportarem a conceitos a priori, antes de dedicarem-se ao estudo dos
objetos específicos do mundo sensível. Nas próprias palavras do iluminista alemão:
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Relativo a noção de cosmos, ou seja, das leis e princípios que organizam o universo, naquele dado
período histórico.
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(entretanto, essa é uma discussão para um ensaio posterior, mesmo assim, não podemos
deixar de mencioná-la, tendo em vista que essa tendência dualística é parte essencial da
fundamentação da filosofia kantiana).
Outro aspecto de grande importância para o embasamento da crítica de Kant à
metafísica consiste na descoberta do incognoscível. Em outras palavras, a metafísica precisou
“dar um passo atrás” (para encarrilhar-se nos trilhos da ciência), percebendo a tendência dos
seres humanos em compreenderem as leis naturais e objetos da experiência apenas, porque
anteriormente realizaram um mergulho sobre os seus respectivos fundamentos apriorísticos.
Faz-se necessário ressaltar, que Kant (2001) tinha claro em sua mente o fato disso ser
impossível de ser concluído no estágio atual de desenvolvimento da metafísica. Entretanto, é
justamente nessa condição limitada do pensamento metafísico que podemos extrair o método
necessário para levar a cabo a sua superação. Dessa forma, devido à tendência da metafísica
sempre expressar-se em oposição aos argumentos da experiência; cuja essência nos direciona
ao conhecimento dos objetos naquilo que eles representavam em si mesmos chegando na ideia
de coisa em si; acabamos culminando uma contradição racional eminente, pois, as coisas em
si são incognoscíveis para o nosso entendimento. Portanto, precisamos ter em mente o fato de
até podermos pensar na coisa em si, embora, nunca seremos capazes de concebê-la. Nas
próprias palavras do iluminista alemão:
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KANT, I. Op., cit., p. BXXXI.
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Portanto, o ilustre professor da cidade de Königsberg, nunca pretendeu fundar uma outra
ciência a partir da crítica do pensamento metafísico, muito pelo contrário, sua discussão
orbitou sobre uma questão de método, ou seja, almejava compreender os limites da razão
pura, bem como, desbravar toda a sua estrutura interna. Nesse sentido, o sistema filosófico
construído por Kant, pode ser compreendido como um excelente e necessário exercício
propedêutico, cujo intuito era a fomentação da cientificidade que o pensamento metafísico
tanto precisava. Em resumo, visava “preparar o campo” para a metafísica tornar-se
verdadeiramente uma ciência, ou melhor, como ele mesmo disse:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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conhecimento humano, tal como o empirismo de David Hume foi muito bem capaz de
realizar.
Na verdade, não só reconhecemos o intuito demasiado introdutório e pouco profundo
do nosso esboço sobre a história da filosofia, bem como, podemos encontrar nela uma
qualidade eminentemente digna e devemos isso, sem dúvidas, a leitura de Immanuel Kant.
Em suma, se existe uma ideia que nós conseguimos explorar; senão em toda a sua
profundidade, ao menos o suficiente para acalentar nossa reflexão filosófica; foi a importância
da análise propedêutica. Por exemplo; compreendemos a magnitude de um mergulho prévio
na piscina antes do acontecimento do campeonato propriamente deito; ou, da necessidade da
preparação do solo antes de começarmos a levar a cabo uma grandiosa ou audaciosa
plantação.
Portanto, se há alguma ideia que pode ser afirmada com consistência e precisão nesse
trabalho, é que a obra kantiana pretendeu antes de qualquer outra ambição, ser um estudo
preliminar de metafísica, o qual almejava torná-la uma verdadeira ciência, desejando
representar a revolução do modo de pensar, o qual o pensamento metafísico necessitava.
Embora, essa grandiosa contribuição de Kant tenha se originado da maneira mais
contraditória possível, ou seja, através da leitura do filósofo mais cético que o século XVII foi
capaz de produzir. No entanto, é justamente nesse sentido que se expressa a importância da
propedêutica, tendo em vista o fato dela ser responsável por esclarecer-nos, o máximo
possível, facilitando o caminho trilhado pela reflexão filosófica, a fim de limpá-lo das rochas
e pedregulhos (ou “limá-los como diria Kant), as quais impedem-nos de chegarmos a essência
daquilo que estamos discutindo. Enfim, se ao menos esse trabalho consiga florescer, nas
mentes e nos corações inquietos daqueles que aqui dedicaram o seu tempo, uma espécie de
inspiração pelo saber (ainda que seja da forma mais incipiente possível), já estaremos
plenamente satisfeitos em termos elaborado tamanha empreitada.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KANT, I. Prefácio da segunda edição (1787). In: ______. Crítica da razão pura. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p. BVII – BXLIV.
______. Introdução. In: ______. Crítica da razão pura. São Paulo: Ícone, 2011. p. 5 – 19.
______. A antinomia da razão pura: Sistemas das ideias cosmológicas e Antitética da razão
pura. In: ______. Crítica da razão pura. São Paulo: Ícone, 2011, Livro Segundo – Primeira
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______. Resposta à pergunta: Que é Iluminismo? (1784). In: ______. A paz perpétua e
outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1990. p. 11-19.
LEBRUN, G. Hume e a astúcia de Kant e, Do erro à alienação. In: ______. Sobre Kant. São
Paulo: Iluminuras, 2010. p. 7 – 22.
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