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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO I
COLEGIADO DE FILOSOFIA

LIMITES DO ESPAÇO DE POSSIBILIDADE DO CONHECER LEGITIMO


HUMANO A PARTIR DA CRENÇA CAUSAL EM DAVID HUME

Projeto de Pesquisa

PAULO VICTOR SILVA ARIZE SANTOS

SALVADOR – BA
2021

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Paulo Victor Silva Arize Santos

LIMITES DO ESPAÇO DE POSSIBILIDADE DO CONHECER LEGITIMO


HUMANO A PARTIR DA CRENÇA CAUSAL EM DAVID HUME

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Colegiado de Filosofia da UNEB.

Orientador: Valério Hillesheim

Salvador – BA
2021
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SUMÁRIO

1. OBJETO

2. OBJETIVO GERAL

3. OBJETIVO ESPECIFICO

4. JUSTIFICATIVA

5. METODOLOGIA

6. CRONOGRAMA

7. PROPOSTA DE SUMARIO

8. REFERÊNCIAS

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1. OBJETO
O objeto de estudo são os limites epistemológicos que é dado pela crença causal
presentes na obra investigações sobre o entendimento humano de David Hume (1711-1776).
Na Investigação acerca do entendimento humano (1748) Hume, traz uma análise crítica sobre
os processos e capacidades humanas responsáveis pela produção de conhecimento. E é nesse
sistema que pretendemos sinalizar o espaço de possibilidade do conhecer.
Para entender o que se refere ao dizer espaço de possibilidade de conhecimento
legítimo, sendo legítima a ideia possível de ser redirecionada à impressões, imagine que todos
os fenômenos do mundo são jujubas, existindo jujubas de todas as cores, formatos e sabores e
dessas bilhões e bilhões de jujubas serão apontadas aquelas selecionadas por Hume para tratar
da causalidade, a partir daí, pegaremos uma bacia assim como fez Kant na Crítica da razão
pura e colocaremos dentro só as passiveis de se conhecer, deixando de fora as que não são.
Depois de restringir o objeto de estudo, sinalizaremos as explicações de Hume se tratando de
o porquê existem jujubas que podem estar dentro da bacia e outras que devem estar fora. É
simples o movimento que buscamos realizar.
2. OBJETIVO GERAL
Compreender e traçar limites do espaço de possibilidade do conhecer legítimo humano
a partir da crença causal, utilizando o texto investigações do entendimento humano do David
Hume.
3. OBJETIVO ESPECIFICO
Buscar objetivamente compreender e explanar como a interações das partes da crença
causal iluminam quais fenômenos são capazes de conhecer e porquê.
Explanar os sistemas, os processos e capacidades utilizados na confecção da crença;
Apontar um espaço de possibilidade para a produção do conhecimento legítimo.

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4. JUSTIFICATIVA
O entendimento da importância dos estudos de Hume para a filosofia é tão evidente
que parece ser um fator comum entre os seus estudiosos e tentam traduzir isso em palavras
como exemplo do professor João paulo monteiro no livro Hume e a epistemologia (2009) e na
abertura da edição da coleção os pensadores do livro investigações acerca do entendimento
humano (1996):
Mais de duzentos anos passados desde a morte de David Hume, em 1776, ainda não
é fácil avaliar toda a amplitude de sua importância para a Filosofia, a História, a
Teoria Econômica e política, a Crítica da Religião. Na Filosofia do século XVIII, só
a figura de Kant pode ser comparada à dele. E todo estudante sabe, pelo menos, que
o grande filósofo alemão só desvencilhou-se da submissão à metafísica tradicional a
partir do momento em que a leitura das obras de Hume o despertou desse “sono
dogmático”. Hume tem assim a honrosa responsabilidade de duas grandes filosofias:
a sua própria e essa outra que ajudou a despertar. Para não mencionar sua persistente
influência, sob formas diversas, na filosofia francesa de seu século e de parte do
seguinte, assim como na filosofia de língua inglesa até nossos dias. (Hume, 1996,
p.15)
É evidente como Hume para além todas as suas inúmeras contribuições, como as das
áreas de História, a Teoria Econômica e política, a Crítica da Religião, foi também no século
XVIII a condição de possibilidade para o despertar do sono dogmático de Kant, dando
condições para a existência do Kant tal como o conhecemos:
Desempenhou papel relevante dentro da história do pensamento ao levar às últimas
consequências a tradição intelectual originada e desenvolvida principalmente na
Inglaterra, desde os nominalistas da escola de Oxford, no século XIII, passando por
Francis Bacon (1561-1626), até sua formulação mais completa com John Locke.
Como consequência, despertou Kant (1724-1804) de seu sono dogmático” e o fez
criar a filosofia crítica, a partir da devastadora análise do conceito de causalidade.
Foi fator essencial na formulação do positivismo de Augusto Comte (1798- 1857),
no utilitarismo de Jeremy Bentham (1748-1832) e influiu ainda mais profundamente
no pensamento de John Stuart Mill (1806 – 1873). No século XX, os positivistas
lógicos devem muito aos fundamentos que Hume lançou para o desenvolvimento de
uma teoria da significação. (Hume, 1996, p.12)
Assim, vemos como a influência das produções de Hume fluem em diversas áreas e
possibilitou o desenvolvimento de inúmeras investigações, porque Hume não deu a filosofia
só narrativa e descrição, mas também nos deu condições de pensar nossos próprios problemas.
E não parece ser professor João Paulo o único a ter notado, o professor André Campos
mesquita na versão da Lafonte do livro de Hume investigações sobre o entendimento humano:
“Sua obra exerceu grande influência nos iluministas franceses e alemães. Basta
recordar a dívida que Kant diz ter contraído com ceticismo de Hume, identificou seu
famoso “acordar do sonho dogmático. [...] Exerceu bastante influxo em estados
unidos. A verdadeira aceitação histórica de Hume, no entanto, começou no final do
século XIX, com a revalorização do tratado, cujas teses influíram diretamente no
neopositivismo.” (Hume, 2017, p.175)

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Mesquita também nos enfatiza que sem Hume a filosofia não teria Kant e suas
contribuições e muito menos os filósofos que dele sofreram por sua vez influência.
David Hume é um filósofo fundamental para os que buscam estudar a teoria do
conhecimento e filosofia da ciência, pois ele traz contribuições importantíssimas seja na
crítica a filosofia metafísica seja a suas contribuições ao movimento empirista.
A monografia busca contribuir aos estudos da epistemologia com a divulgação de
parte das investigações de Hume e de seus comentadores acerca da conexão causal, entretanto
nosso trabalho empenha-se em aprofundar somente na possibilidade de conhecer
justificadamente; racionalmente, possibilidade esta investigada que por sua vez estará restrita
somente acerca da conexão de causa-efeito.
As condições de possibilidade do trabalho foram fecundadas pelo movimento feito por
Kant na Crítica da razão pura (1781) e por Wittgenstein no Tratado lógico filosófico (2017).
Kant na Crítica convida o leitor emergir num processo reflexivo acerca das condições
necessárias para o conhecimento, nos dando premissas para concluir que não somos capazes
de conhecer deus, o ser em si, o infinito, o mundo como plenitude. Delimitando então o que é
possível ou não conhecer justificadamente.
Já Wittgenstein, faz no tratado um movimento terapêutico da linguagem enquanto
instrumento daqueles que buscam compartilhar conhecimentos de forma fundamentada.
Wittgenstein desenvolve no seu livro como esse instrumento pode ser mal usado e criar
equívocos; enfeitiçamentos da linguagem, esse enfeitiçamento se dando não só pela
ambiguidade, mas também por tentarmos buscar conhecer fora do espaço lógico e linguístico.
Graças as contribuições deles fomos capazes de usar suas lentes e ver a causação
enquanto instrumento daqueles que buscam não só conhecer, mas também explanar,
fundamentar e legislar. A partir de suas lentes enxergar como o mal uso e entendimento dessa
ferramenta nos ilumina uma fronteira entre cognoscível e seu oposto.
Claro que tirar o próprio Hume da equação seria injusto, pois aquilo realizado por
Kant e Wittgenstein nada mais é que iluminar o que já se encontra presente nas Investigações
acerca do entendimento humano. Hume nos mostra como é mal utilizado pela metafísica a
inferência causal, onde se ignora a experiência, fazendo assim seu calcanhar de sustentação
não ideias legitimas, mas confusões que não podiam ser endereçadas as percepções como
aponta Ian Nascimento Ferreira na sua tese de mestrado:
(...) para Hume, qualquer ideia legítima pode ser traçada às impressões originais. Se
isso não for possível, é porque aquilo que julgamos ser uma ideia não passa de

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confusão, uma palavra vazia sem nenhuma representação mental que a suporte.
(Nascimento, 2009, p.45) (corpo do texto)
E não parando por aí, Hume alerta para o apontamento metafísico acerca da equação
da conexão causal com o tempo. Já que para eles a causa sempre precede o seu efeito no
tempo, fazendo com que anterior ao surgimento do efeito o objeto a ser denominado enquanto
causa só possa ser entendido já na relação, antes da presença do efeito ele é um evento
estranho ao que ainda vai vim a ser, sendo assim causa e efeito só existem em relação.
Os erros gerados por essa equação não param por aí, passando despercebido para os
metafísicos que deve haver um intervalo razoável entre dois eventos para que um seja
considerado causa do outro. Exemplo: Ao se fazer um download de aplicativo que contém
vírus cibernético e só após anos de uso e de vários downloads subsequentes se faz perceptível
na navegação pop-up’s maliciosos surgindo pra todos os lados vários outros sintomas da
existência desse vírus no seu computador, nossa mente após tanto tempo não seria
condicionada deduzir uma narrativa onde aquele primeiro aplicativo teria sido causa, nossa
tendência narrativa é vincular eventos próximos, provavelmente culparíamos os nossos
últimos downloads, pois como Hume sugere, deve haver uma contiguidade no tempo. Não só
intervalos de tempo muito longos causariam isso, eventos que se manifestam simultaneamente
a nossa percepção também não seriam enquadrados um enquanto causa do outro. Como por
exemplo uma descoberta simultânea do surgimento de duas anomalias espaciais distantes,
nossa pré-disposição não seria inferir que uma é causa da outra, e sim buscar uma causa
oculta que seria causa delas ou uma causa para cada uma.
De acordo com Hume há três coisas negligenciadas pelos metafísicos que
impossibilitam o conhecer, frustrando a curiosidade e o nosso hábito de fazer previsões, que
seriam: o condicionamento, o poder oculto e o princípio de uniformidade na natureza. Não é
que não possamos na vida cotidiana fazer previsões a partir de formulas deduzidas de
situações para que um sorvete derreta, somos capazes de deduzir que deixá-lo ao ar livre em
um dia quente e ensolarado o levará a virar algo entristecedor, formulando que o calor é causa
do derretimento de sovertes e que caso queiramos ter como resultado o derretimento do
sorvete, devemos buscar o calor para se ter a causa desejada, mas não é isso que está em jogo.
Hume entende que o hábito é importante na vida do homem para a partir de conexões causais
já conhecidas, se repita suas causas em busca de se ter o mesmo efeito. Ele jamais tira do
hábito seu papel de guia na vida do homem. Como mostra no trecho:

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Sem a influência do costume, ignoraríamos completamente toda questão de fato que
está fora do alcance dos dados imediatos da memória e dos sentidos. Nunca
poderíamos saber como ajustar os meios em função dos fins, nem como empregar
nossas faculdades naturais para a produção de um efeito. Seria, ao mesmo tempo, o
fim de toda ação como também de quase toda especulação. (Hume, 2017, p.55)
Mas para Hume nós os filósofos ou cientistas, não deveríamos nos dar ao luxo de errar
ao tomar as predições e conexões dadas pelo hábito como o que não é, um argumento dado
pela razão. Mesmo que a razão participe em algum grau e momento da confecção do discurso
de inferência causal, não é dela que advém esse salto que após vermos a repetição do
surgimento de um fenômeno após o outro, afirmamos só com isso a existência de uma
conexão necessária entre esses dois eventos, enquadrando um enquanto causa do outro como
efeito, Hume dirá que esse salto é feito pelo espírito associando ideias. Esse movimento feito
pelo espírito perante a repetição na experiência, fica mais claro enquanto salto lógico porque
mesmo se tentássemos chegar ao mesmo tipo de reposta através da razão não conseguiríamos.
Primeiro essa conexão não apreende nela todas as condições, ao tomar um único
evento enquanto causa do evento a se seguir, pois se há no primeiro evento tudo o que é
necessário para se gerar o segundo por que só agora o gerou? E se um evento é capaz de criar
outro sozinho, seria o efeito causa de si mesmo através do tempo?
Segundo ele o homem faz predição baseado na petição de princípio, ao afirmar que no
futuro um evento ocasionará outro, pois atualmente é assim e no passado também se deu
dessa maneira, logo, se ocorreu assim, então ocorrerá dessa forma. E esse entendimento de
que a natureza sempre será constante, Hume chama de princípio da uniformidade na natureza,
a crença que a natureza sempre se dará da forma que sempre se deu, formando uma petição de
princípio, pois, a justificativa do princípio é que se sempre se deu dessa forma, então logo se
dará dessa forma, pois sempre se deu dessa forma. Mostrando que para além dessa falácia o
homem não possui conhecimento que garanta que natureza será igual a si mesmo através do
tempo e nem temos como alcançar uma resposta melhor que essa. Como o próprio Hume nos
mostra na IAEH:
É impossível, portanto, que qualquer argumento da experiência possa demonstrar
essa semelhança do passado com o futuro, visto que todos os argumentos estão
fundados sobre a suposição daquela semelhança. Aceita-se que o curso da natureza
até agora foi muito regular; isso, por si só, sem algum novo argumento ou
inferência, não demonstra que no futuro o seguirá sendo. Em vão se pretende
conhecer a natureza dos corpos a partir da experiência passada. Sua natureza secreta
e, consequentemente, todos os seus efeitos e influxos, podem mudar sem que se
produza alteração alguma em suas qualidades sensíveis. Isso ocorre em algumas
ocasiões e com alguns objetos: por que não pode ocorrer sempre e com todos eles?
Que lógica, que processo de argumentação assegura a um contra esta suposição?
(Hume, 1996, p. 49)
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Terceiro: o poder oculto, outra impossibilidade de conhecer apontada por Hume, já
que não temos como produzir ideias legitimas que não advenham das impressões, sendo as
impressões, percepções dadas pelo o que conseguimos capitar com os nossos sentidos das
nossa relação enquanto corpo com os fenômenos, logo como conseguiríamos ter ideias
legitimas para ter uma certeza fundamentada dos poderes internos desses fenômenos, quando
a única coisa que deles temos acesso são o que nossos sentidos conseguem acessar do
sensível?
Saltamos ao afirmar a conexão causal, pois afirmamos algo que não advém do que de
fato somos capazes de apreender dos eventos, mas ainda assim concluímos inferindo
conexões necessárias, poderes ocultos e previsões sem nem mesmo possuirmos de fato
premissas que a sustentem. Essas são uma das várias impossibilidades impostas ao
conhecimento que nos são iluminadas através da crença causal.

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5. METODOLOGIA
Somos guiados na pesquisa por forte influência dos sujeitos avoados que viveram e
vivem a buscar conhecimentos, em uma busca obsessiva e metódica deixando enquanto
herança mais do que apenas conhecimento, foi nos deixado paixão, para que a usássemos
como combustível nesse maquinário curioso que apelidamos de mente ou espírito.
Como já dizia Descartes, não é suficiente ter o espírito bom, o mais importante é
aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores
virtudes, e aqueles que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se seguirem
sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam. (2005, p.13)
Descartes aqui alerta que o método deve visar acima de tudo a direção; precisão, e
nesses termos me sinto à vontade para pegar emprestado também a analogia de Gottlob Frege
(1849-1925) onde diz que com o olho a linguagem natural paga o preço da imprecisão; como
o microscópio, a linguagem artificial da lógica compensa suas limitações por sua acuidade.
Desejamos justamente isso na pesquisa, o microscópio, não dá conta de todo o Hume e de
todos os seus comentadores, seria impossível mesmo se tentássemos. O que apaixonadamente
buscamos nessa monografia é se utilizar da mesma humildade e sobriedade que guiou tais
filósofos e o próprio Hume, uma busca bem delimitada, focada em um único ponto para que
possamos ir mais longe indo reto em sua direção do que correndo solto a tatear sua amplitude
em busca de respostas.
Mas só esse conselho de Descartes e Frege, não é o suficiente então devíamos escolher
um método específico, partimos para o projeto enquanto meros discípulos do autor e de seus
comentadores, visando apresentar a filosofia de Hume em seus fundamentos e estruturas
internas, para entender seu funcionamento. O método estruturalista surgiu pelas boas razões
que encontramos na concepção de qual seria melhor método para abordar a filosofia,
apresentado ou defendido seja por Sandro dos Santos Nogueira, Gueroult ou por
Goldschmidt.
Podemos até começar dizendo que o método estrutural faz oposição ao método
genético que busca no tempo cronológico as causas externas às obras de um autor e sua
filosofia. em contrapartida o estrutural almeja encontrar as razões de uma corrente filosófica
no tempo lógico, assim enxergando no seu desenvolvimento o pensamento do autor e os
passos dados dentro da própria, pois o método estrutural concebe como possível e necessário

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partir da obra para encontrar a elaboração do pensamento, como é mostrado no livro Platão e
a religião:
De um modo mais geral, repor os sistemas num tempo lógico é compreender sua
independência, relativa talvez, mas essencial, em relação aos outros tempos em que
as pesquisas genéticas os encadeiam. (Goldschimidt, 1970, p.144)
Essa concepção de determinado grau de independência do autor dado pelo método
estruturalista é caro a nós, por uma questão de competência e de interesse, já que no método
genético partimos do momento histórico para apontar nele as condições dadas para aquele
pensamento e no dogmático tomaríamos o pensamento como dogma buscando o seu valor de
verdade, dividido em dois momentos, no primeiro momento tomando tudo como verdade e
em um segundo o refutando enquanto falso. E não é bem por aí que temos capacidades ou
interesse de partir, não somos historiadores, acabaríamos sendo desastrados como crianças
brincando com ferramentas que não sabem utilizar.
Já o método dogmático tem uma ambição linda, mas que não é a nossa, trazendo
consigo um obstáculo, já que só para saber o que é verdade necessitaria de um trabalho
próprio, e mesmo que nos déssemos esse trabalho e encontrássemos uma resposta dogmática
do que é verdade, e com isso fossemos capazes de apontar para toda a produção
epistemológica humeneana e concluir que de fato ela é falsa ou errada, nos restaria as
perguntas “ e daí que é falso?”, “só se aprende com a verdade?”, ”o falso não tem nada a nos
ensinar?”, “é necessário que um pensamento seja verdadeiro para que tenha valor?”, “após
desvalidar Hume, sabemos mais?”. São perguntas que não temos as repostas e nem
pretendemos ter, afinal, escolhemos outro método, um que percorreremos ao lado de Hume
como discípulos, pois esse método é consonante com a nossa ambição, compreende o produto
da atividade filosófica, enquanto produto por um maquinário mental singular possuidor de um
esqueleto fabricado sobre medida pelo autor para que nele caísse de forma justa a sua lógica,
razões, problemática e sistema. Nada melhor que o método estrutural que parte da
compreensão de filosofia como é abordado na religião de Platão:
A filosofia é explicitação e discurso. Ela se explicita em movimentos sucessivos, no
curso dos quais produz, abandona e ultrapassa teses ligadas umas às outras numa
ordem por razões. A progressão (método) desses movimentos dá à obra escrita sua
estrutura e efetua-se num tempo lógico. A intepretação consistirá em reaprender,
conforme à intenção do autor, essa ordem por razões e em jamais separar as teses
dos movimentos que as produziram. (Goldschimidt, 1970, p.140)
Conclui-se então, que cada filosofia é fechada em si mesma, isto é, sua estrutura e
seus conceitos lhe são próprios. Por isso, todas elas possuem em comum um
discurso implícito ou explicito de seu método. (Nogueira, 2010, p.3)

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Esse método, dá a possibilidade ao filósofo de exercer a sua competência, ao buscar
entender e explicar um autor sem adentrar em outras áreas ou julgá-la e sentenciá-la, buscar
entender a filosofia a partir de instrumentos filosóficos como a lógica e conceitos, procurando
apenas entender a filosofia como fruto da atividade filosófica, como o próprio Sandro
Nogueira(2010, p.4) diz “um sistema filosófico somente pode ser apreendido na medida em
que analisamos a sua estrutura constitutiva formada pelos seguintes elementos: Problema,
teoria, sistema lógica e arquitetônica com algum tipo de teoria do conhecimento”. Onde as
razões e movimentos dados pelo autor são encontrados dentro do próprio organismo, dono de
razões, lógica e estrutura que norteiam e movem a si próprio. Como no discurso do método de
Descartes, onde pode-se explicar o processo que o levou ao ceticismo absoluto e ao desenrolar
da dúvida metódica até a certeza de sua existência dentro da própria obra. O método escolhido
também nos ilumina como proceder, como pode ser visto no artigo Sandro Nogueira (2010,
p.2) que afirma a partir de Gueroult (1976) que diz:
em regra, a filosofia teria dois momentos para ser consolidada[..] primeiro momento
se destaca a reforma do entendimento por meio da qual um filósofo levanta uma
universidade, organizando os problemas, propõe uma teoria pautada na exigência de
suas ideias numa sistematização dos conceitos centrais utilizando-se de um discurso
pautado nos ditames da lógica, que são os princípios racionais. [...]Segundo
momento, que é denominado de funcionamento de novas estruturas Gueroult segue
afirmando que é a partir dele que todo filósofo busca instaura seu movimento por
intermédio dos seus conceitos e das conexões com as áreas da filosofia que pretende
estabelecer domínio através de uma adaptação progressiva das noções, obedecendo a
um princípio de totalidade.
Seguiremos os passos de Gueroult na leitura, em um 1° momento buscaremos entender
a partir de quais movimentos racionais Hume pretende trazer algo de novo, como sua
universalidade, problemas, lógica e sistema. Já em um 2° momento aprender como
progressivamente ele buscará instaurar e sustentar sua filosofia.
Faremos uma pesquisa bibliográfica, utilizando nela leitura, encontros para discussão
dos textos e fichamento dos livros e artigos sobre Investigações acerca do entendimento
humano e dos outros textos de David Hume e de comentadores da sua filosofia, disponíveis
em língua portuguesa e inglesa.
O trabalho que executaremos partindo desse método é bem simples, ler o livro
investigações sobre o entendimento humano de Hume, demarcar na obra o que mais importa
para se desenvolver o trabalho, posteriormente a isso buscar enxergar e distinguir o sistema,
ferramentas, objetos, capacidades, condições e discursos a respeito da conexão de causa-
efeito. Um método bem cartesiano, no qual distingue-se as partes que compõe a investigação

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e só a partir daí desenvolver como elas interagem entre si e o que essa interação nos revela.
Claro que buscando sempre a compreensão e a exposição das revelações dessa interação a
partir dos estudiosos de Hume.
A produção da pesquisa está dividida na busca de seis eixos de compreensão e
explanação: 1°. Contextualizar as condições responsáveis pela investigação da crença; 2°.
Apontar as capacidades, condições e processos que possibilitam o conhecer; 3°. Organizar e
apresentar o sistema e os conceitos necessários para a compreensão da crença causal em
Hume; 4°. Analisar e incorporar ao nosso entendimento as diferentes contribuições filosóficas
a respeito da análise da conexão causal no livro investigações acerca do entendimento
humano; 5°. Refletir sobre os possíveis enquadramentos de fenômenos do mundo nos
conceitos de Hume; 6°. Buscar sinalizar o espaço de possibilidade do conhecer legitimo a
partir da ideia de conexão causal encontrada no livro investigações acerca do entendimento
humano.

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6. CRONOGRAMA
Nosso cronograma é dividido em passos:
passo I: Conhecer - Levantamento bibliográfico e referencial;
passo II: Delimitar - Seleção de bibliografia;
passo III: Aprofundamento – da literatura principal;
Passo IV: Fichamento;
Passo V: Levantamento de questões;
Passo VI: Discussão com o orientador;
passo VII: Análise e Interpretação do objeto de estudo;
passo VIII: Retorno a obra;
passo IX: Aprofundamento - da literatura secundaria;
passo X: Fichamento;
passo XI: Levantamento de questões;
passo XII: Discussão com o orientador;
passo XIII: redação;
passo XIV: Revisão de conteúdo;
passo XV: redação;
passo XVI: Revisão geral;
passo XVII: defesa.

julh agost setembr novembr dezembr janeir fevereir


passos outubro
o o o o o o o

Passo I x

Passo II x

Passo III x

Passo IV x

Passo V x

Passo VI x

14
Passo VII x

Passo VIII x

Passo IX x x x

Passo X x x x

Passo XI x x x

Passo XII x x x x x x x

Passo XIII x x x x

Passo XIV x x

x x x
Passo XV
Pass x
o XVI
Pass x
o XVII

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7. PROPOSTA DE SUMARIO
1. INTRODUÇÃO
2. O ANIMAL DO COSTUME
2.1. Capacidades humanas
2.2. o hábito
2.3. A crença
3. O ESPAÇO DE POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO EM HUME
3.1. Princípio da uniformidade da natureza
3.2. Poder oculto
3.3. tempo
3.4. relações de ideias
4. CONCLUSÃO
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

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8. REFERÊNCIAS
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