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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

Paulo Victor Silva Arize Santos

O conhecer causal em David Hume


Anteprojeto de Pesquisa de Mestrado em Filosofia, apresentado ao Programa de Pós-Graduação
em Filosofia da Universidade Federal da Bahia
Linha de Pesquisa: FILOSOFIA E EPISTEMOLOGIA
Provável Orientadora: João Carlos Salles Pires da Silva
Abel Lassalle Casanave
Waldomiro José da Silva Filho
Jarlee Oliveira Silva Salviano
Mariana de Almeida Campos
Objeto da pesquisa:

Nosso objeto de estudo é o conhecer causal, o que podemos ou não podemos conhecer
acerca da causalidade, a partir de quais mecanismos e faculdades o conhecemos e o que
isso nos revela sobre o nosso conhecer. É um estudo epistemológico a partir da filosofia
de David Hume, que nos é disponibilizado na sua investigação daquilo que ele irá
chamar de crença causal, presentes na sua obra Investigações Sobre o Entendimento
Humano (1711-1776).

Nesta obra (1748) Hume, nos traz uma análise crítica sobretudo ao empirismo, os
processos e capacidades humanas que serão usados como motor na confecção desse
saber empírico, assim se apropriando dos saberes quanto a confecção da crença e
acrescendo crítica de como estes movimentos de confecção poderiam nos levar a
equívocos, que ele chamará de desvios do pensamento.

O objeto “conhecer”, será focado em um tipo especifico de conhecer, o conhecer que


possibilita fazer ciência, o conhecer prático e ordinário é posto em xeque em Hume, mas
não é por ele em momento algum desqualificado, pois precário ou não em seu
fundamento, permite a vida humana. Já por outro lado o saber que nos permitiria o fazer
da ciência em sua época, era visto por ele como carente de reflexão e critica cerca de
sua estrutura, caindo muitas vezes em vícios como falácias de petição de princípios ou
que se entende como principio da uniformidade da natureza, no qual a intuição humana
esperaria que a natureza fosse sempre igual a si mesma e se comportando sempre da
mesma forma pela eternidade.

Objetivos geral:

Identificar quais seriam as condições de possibilidade de um conhecer cientifico na


relação causal.

Objetivos específicos: A partir de estudos da obra de David Hume : 1. Entender o que


conhecer; 2. Apontar as capacidades, condições e processos que possibilitam o
conhecer; 3. Tentar delimitar na obra de Hume o que seria apresentado como
possibilidade se fazer um conhecer, digno da ciência.

Justificativa:

Muito se discuti durante toda história até os dias atuais quais ações ou acontecimentos
foram causas ou consequências de outros, foi a crise econômica que deu a origem ao
bolsonarismo ou foram os algoritmos das redes sociais? O que deu poder as grandes big
techs de interferir intencionalmente nas políticas de estado, foi falta de regulamentação
das novas tecnologias ou foi um modelo econômico que prioriza o lucro acima de tudo?
O que causou o 8 de setembro; a invasão dos três poderes no Brasil? Mesmo que não
pretenda adentrar e nem responder nenhuma dessas perguntas acredito que essa
monografia pode ser importante nas investigações de causa ou as de efeito, pois
compreender a engenhosidade humana por traz das inferências de causais, nos permitirá
ter ferramentas para criticar a forma de elaborações de inferências causais de toda sorte,
criticando sua forma. E nos colocando sobre constante vigilância para que impeça que
ou por descuido ou ignorância, venhamos a cometer os mesmos erros dos que
antecederam a investigações de Hume, Assim com esse trabalho pretendemos oferecer a
essas investigações que debruçam sobre inferências causais, essa pesquisa, apontando as
lacunas do empirismo anterior a Hume.

Mas não só o estudo das condições de possibilidade do conhecer na relação de causal é


de extrema importância. como também o estudo do Filosofo Hume. Os estudos de
Hume para a filosofia são de tamanho relevância que parece ser um fator comum entre
os seus estudiosos que tentam traduzir isso em palavras como por exemplo do professor
João Paulo Monteiro no livro Hume e a epistemologia (2009) e na abertura da edição da
coleção os pensadores do livro Investigações Acerca do Entendimento Humano (1996):

“Mais de duzentos anos passados desde a morte de David Hume, em


1776, ainda não é fácil avaliar toda a amplitude de sua importância para a
Filosofia, a História, a Teoria Econômica e política, a Crítica da Religião. Na
Filosofia do século XVIII, só a figura de Kant pode ser comparada à dele. E
todo estudante sabe, pelo menos, que o grande filósofo alemão só
desvencilhou-se da submissão à metafísica tradicional a partir do momento
em que a leitura das obras de Hume o despertou desse “sono dogmático”.
Hume tem assim a honrosa responsabilidade de duas grandes filosofias: a sua
própria e essa outra que ajudou a despertar. Para não mencionar sua
persistente influência, sob formas diversas, na filosofia francesa de seu século
e de parte do seguinte, assim como na filosofia de língua inglesa até nossos
dias.” (IAHE, p.15)

Aqui Fica evidente como o Hume para além todas as suas outras inúmeras
contribuições que seriam difíceis de citar, mas que para além de suas próprias
contribuições também foi importante para a formação de pensamento para a teoria do
conhecimento de seus contemporâneos e dos filósofos que depois o seguiram como foi
o caso de Kant:
“Desempenhou papel relevante dentro da história do pensamento ao
levar às últimas consequências a tradição intelectual originada e desenvolvida
principalmente na Inglaterra, desde os nominalistas da escola de Oxford, no
século XIII, passando por Francis Bacon (1561-1626), até sua formulação
mais completa com John Locke.

Como consequência, despertou Kant (1724-1804) de seu sono


dogmático” e o fez criar a filosofia crítica, a partir da devastadora análise do
conceito de causalidade. Foi fator essencial na formulação do positivismo de
Augusto Comte (1798- 1857), no utilitarismo de Jeremy Bentham (1748-
1832) e influiu ainda mais profundamente no pensamento de John Stuart Mill
(1806 – 1873). No século XX, os positivistas lógicos devem muito aos
fundamentos que Hume lançou para o desenvolvimento de uma teoria da
significação.” (IAEH, p.12)

Aqui vemos como a influência das produções de Hume fluem em diversas áreas
e possibilitou o desenvolvimento de inúmeras investigações, porque Hume não deu a
filosofia só narrativa e descrição, mas também nos deu ferramentas para pensar e
investigar nossos próprios problemas. E não parece ser só professor João Paulo
Monteiro o único a ter notado, o professor André Campos Mesquita na versão da
Lafonte do livro de Hume investigações sobre o entendimento humano, também:
“Sua obra exerceu grande influência nos iluministas franceses e
alemães. Basta recordar a dívida que Kant diz ter contraído com ceticismo de
Hume, identificou seu famoso “acordar do sonho dogmático. [...] Exerceu
bastante influxo em estados unidos. A verdadeira aceitação histórica de
Hume, no entanto, começou no final do século XIX, com a revalorização do
tratado, cujas teses influíram diretamente no neopositivismo.” (ISEH, p.175)

Metodologia:

Utilizaremos na pesquisa leitura e fichamento das obras de David Hume e de


comentadores, disponíveis em língua portuguesa, com ênfase em Investigação Acerca
da Natureza Humana e Tratado da Natureza Humana. A pesquisa está dividida em três
eixos: 1. Os tipos de saberes identificados pelo autor, dano foco no saber cientifico; 2.
Buscar identificar e compreender as faculdades, condições e mecanismos que usamos
para inferir e conhecer a relação de causa e efeito; 3. Buscar refletir sobre qual caminho
possível para o fazer do conhecimento científico.

Pretendo nessa pesquisa seguir uma premissa simples e antiga, que é precisão acima de
amplitude, buscar o conhecimento de um objeto relativamente pequeno comparado a
tudo o que podemos conhecer e o que se dar pra conhecer dentro dele, e somente ele,
para que usássemos como combustível nesse maquinário curioso que apelidamos de
mente ou espirito esse método como guia, assim como o fez Descartes.

NÃO É SUFICIENTE TER O ESPÍRITO BOM, O MAIS

IMPORTANTE É APLICA-LO BEM. AS MAIORES ALMAS SÃO

CAPAZES DOS MAIORES VÍCIOS, COMO TAMBÉM DAS MAIORES

VIRTUDES, E AQUELES QUE SÓ ANDAM MUITO DEVAGAR PODEM

AVANÇAR BEM MAIS, SE SEGUIREM SEMPRE PELO CAMINHO

RETO, DO QUE AQUELES QUE CORREM E DELE SE AFASTAM.

(DESCARTES, DM, P.13)

Descartes aqui alerta que o método deve visar acima de tudo a sua direção; precisão,
não tão diferente como Frege, como demonstra em sua analogia analogia de Gottlob
Frege (1849-1925) com o olho, onde diz que com o olho a linguagem natural paga o
preço da imprecisão; como o microscópio, a linguagem artificial da lógica compensa
suas limitações por sua acuidade. É justamente isso que buscamos como método, o
microscópio, não dar conta de todo o Hume, nem de todo os espaços de conhecimento,
nem mesmo de todos os aspectos da relação causal, seria impossível e ineficaz mesmo
se tentássemos. O tipo de fazer que nos orientará nessa monografia é se utilizar da
mesma humildade e sobriedade que guiou esses filósofos e o próprio Hume, uma busca
bem delimitada, focada em um único ponto para que possamos ir mais longe indo reto
em sua direção do que correndo solto ao tatear a amplitude de tudo o que nos estar
disposto a cerca do estudo.

faremos uma pesquisa bibliográfica (utilizando nela a leitura, encontros para discussão
dos textos, fichamento dos livros e artigos pertinentes a pesquisa, como principal deles
sendo a investigação do entendimento humano).

O processo que buscamos utilizar é bem simples, ler o livro investigações sobre o
entendimento humano de Hume, demarcar na obra o somente o que for imprescindível
para desenvolver o a investigação, posteriormente a isso buscar o que David Hume
entende por conhecer, então depois disso catalogar os sistema, ferramentas,
capacidades, e condições a respeito da conexão de causa-efeito, e por último a partir do
conceito de conhecer e tendo conhecimento de como conhecemos vamos delimitar o
que seria possível ou não conhecer na relação causal. Um método cartesiano,
conceituação do objeto que estudaremos, separação das faculdades e mecanismos que
nos dão acesso a esse objeto e só a partir daí desenvolver como elas interagem entre si e
o que essa interação nos revela a partir dos estudiosos de Hume e dele próprio.

Também por nos entendido o processo do projeto enquanto passos:

passo I: Conhecer - Levantamento bibliográfico e referencial;

passo II: Delimitar - Seleção de bibliografia;

passo III: Aprofundamento – da literatura principal;

Passo IV: Fichamento;

Passo V: Levantamento de questões;

Passo VI: Discussão com o orientador;

passo VII: Análise e Interpretação do objeto de estudo;

passo VIII: Retorno a obra;

passo IX: Aprofundamento - da literatura secundaria;

passo X: Fichamento;

passo XI: Levantamento de questões;

passo XII: Discussão com o orientador;

passo XIII: redação;

passo XIV: Revisão de conteúdo;

passo XV: redação;

passo XVI: Revisão geral;

passo XVII: defesa


Cronograma 2022.2 – escrita da introdução; revisão final e defesa da dissertação.

2024.1 – Créditos (UFBA); leitura e fichamento de autores em língua portuguesa.

2024.2 – Créditos (UFBA); participação e comunicação de pesquisa em eventos


acadêmicos; escrita dos dois primeiros capítulos.

2025.1 – Publicação de artigo; escrita do terceiro capítulo e da conclusão. referências

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