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Universidade Federal de Minas Gerais


Disciplina/Turno: Tópicos em Filosofia da Matemática
Tarefa: avaliação 3
Aluno: João Henrique de Oliveira Silva 2021430957, João Victor Ferreira de
Almeida 2021011709

O argumento da indispensabilidade Quine-Putman e a tese da relatividade


ontológica em Quine

Durante a terceira unidade do curso, os maiores focos da disciplina foram na


tese da relatividade ontológica/redução ontológica presentes em Quine; e no
argumento da indispensabilidade, que também é fundamental para o sistema
filosófico de Quine e sua pretensão de “delinear os traços mais gerais da realidade”.

O argumento da indispensabilidade Quine-Putman

O chamado “argumento da indispensabilidade” é um argumento para o


platonismo matemático. O “platonismo matemático”, latu sensu, é como se chama a
posição realista em matemática. Em sentido estrito, o platonismo é a tese segundo a
qual entidades matemáticas (números, conjuntos, e etc) têm existência
independente, são abstratos (imateriais, aespaciais, atemporais e causalmente
ineficazes) e são reais independentemente de serem exemplificadas por objetos
físicos (Zalta, por exemplo). Este sentido estrito não nos será interessante aqui
porque não é compatível com o critério para admissão de existência de entidades
usado no argumento da indispensabilidade, como veremos. Por isso, “platonismo
matemático” deve ser entendido aqui no sentido lato, como sinônimo de “realismo
matemático”.
O realismo a respeito de algum campo pode ser definido de diferentes
maneiras. Em seu Realism, Dummet, com a finalidade apresentar uma definição
universalmente adequada de realismo (aos debates sobre matemáticas, objetos
cotidianos e moral, por exemplo), apresentou uma versão semântica para o debate
realismo vs anti-realismo, segundo a qual ser realista a respeito de algum campo é
adotar a posição de que o valor de verdade de sentenças deste campo é
independente de nossos processos mentais. A versão de Dummet contrasta, de
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maneira explícita, com a maneira ontológica, tradicional, por meio da qual o realismo
foi definido, e o anti-realismo por contraste; tradicionalmente um realista à respeito
de algum campo é aquele que afirma existir, de maneira impendentemente de
nossos processos mentais, esquemas conceituais e práticas linguísticas, entidades
de um tipo determinado. Ser realista quanto a objetos cotidianos, como cadeiras,
rochas, mesas, é afirmar que tais objetos existem de maneira independentemente
de nossos processos mentais, e etc. Assim, um realista matemático, nesta versão, é
aquele que afirma que entidades matemáticas existem de maneira independente.
Para o argumento da indispensabilidade Quine-Putman, é interessante este sentido
ontológico e tradicional, visto que trata de comprometimento ontológico, isto é,
comprometimento com a existência de certas entidades. Ainda que, na versão, a
noção de Dummet apareça como “realismo de sentença”, em oposição ao “realismo
de objeto” (o realismo ontológico, que tratamos).
O argumento da indispensabilidade não foi explicitamente enunciado em
Quine, foi somente sugerido em muitas passagens em sua obra. Quine sequer
usava o termo “indispensabilidade”, ele utilizava-se de sua noção de que “ser, é ser
valor de uma variável”. Putman, em Filosofia da lógica, de 1971, foi quem deu ao
argumento uma formulação mais detalhada. Esta é a razão de o argumento ter
entrado pra história como argumento da indispensabilidade Quine-Putman.
Feitas estas observações preliminares, enunciaremos o argumento por meio
da paráfrase de Colyvan:

P1: Devemos assumir compromissos ontológicos com entidades, se e


somente se, elas são indispensáveis às nossas melhores teorias científicas.

P2: Algumas entidades matemáticas são indispensáveis às nossas melhores


teorias científicas

C: Devemos ter compromisso ontológico com algumas entidades matemáticas.

Como o argumento só exige compromisso ontológico com entidades


indispensáveis às melhores teorias científicas, parte considerável da matemática
não exige comprometimento ontológico, segundo ele. Esta exigência é que justifica
que o platonismo matemático de Quine seja entendido em sentido mais fraco,
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simplesmente como sinônimo de realismo matemático. E trata-se de uma realismo,


certamente estranho à tradição (podemos comparar com Goedel, Frege, Zalta,
Balaguer..), já que verdades matemáticas, ao ter seu status ontológico tornado
dependente de sua relação com teorias empíricas confirmadas, tornam-se a
posteriori e contingentes. É esta exigência também que fez com que Quine
considerasse que certos aspectos da teoria padrão de conjuntos não passavam de
“recreação matemática... sem direitos ontológicos”.
Este argumento está fortemente relacionado com as noções quinianas de
naturalismo e holismo. O naturalismo, aqui, deve ser entendido como a tese
segundo a qual a ciência não carece de uma filosofia primeira, e que é
responsabilidade da ciência julgar que tipos de entidades há. O holismo
verificacional é tese de que não são sentenças isoladas que enfrentam “o tribunal da
experiência”, mas uma teoria, um conjunto de sentenças, e que quando confirmado
o conjunto, cada elemento é também é confirmado. Embora não exaustivas, tais
caracterizações são suficientes ao nosso fim. É o naturalismo que subjaz à tese que
somente entidades indispensáveis às melhores teorias científicas disponíveis são
dignas de compromisso ontológico; é o holismo que garante que todas as entidades
indispensáveis sejam dignas de compromisso ontológico.
O argumento, tal como enunciado acima, é válido. Por isso os críticos
(nominalistas ou não) atacaram as premissas. A crítica de Maddy (1950-), influente
mesmo em defensores contemporâneos de versões reformuladas do argumento da
indispensabilidade, é que a ciência usa, ampla e deliberadamente, de idealizações
(como superfícies sem atrito) sabidamente falsas, convenientes em suas teorias com
a finalidade de simplificação. Fosse verdadeiro, o holismo verficacional, e a P1 do
silogismo acima, estas idealizações sabidamente falsas, também seriam
confirmadas, o que é claramente implausível.
Hartry Field (1946-), um ficccionalista matemático (tese segundo a qual
declarações matemáticas são meras ficções úteis), negou que entidades
matemáticas são, de fato, indispensáveis à ciência. Seu vocabulário, poderia ser
parafraseado de modo a eliminar entidades matemáticas sem maiores danos às
teorias. Como dissemos acima, Field considerava o discurso matemático útil, por
abreviar discursos complexos, mas nada além disto.
Além disto, houve crítica vindas de plantonistas, que argumentaram contra a
própria tese de que a existência de entidades matemáticas deveria ser admitidas, se
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e somente se, estivessem envolvidas em teorias empíricas. Os dois primeiros


argumentos são ataques ao holismo, o último ao naturalismo (ao menos, o
naturalismo quiniano).
Uma outra versão do argumento de indispensabilidade, é a de Michael Resnik
(1956-), famoso, entre outras coisas, por considerar a matemática uma “ciência dos
padrões”, segundo a qual: 1- a ciência assume a existência, e verdade, de entidades
matemáticas ao (no fazer cientifico) enunciar e derivar suas leis; 2- essas assunções
são indispensáveis para o fazer da pesquisa científica, e além disso, muitas de suas
conclusões não seriam possíveis sem se assumir muitos dos enunciados
matemáticos; logo se estaria justificado tirar conclusões de dentro da ciência e a
partir dela somente se considerarmos verdadeiros os enunciados matemáticos
justificadamente; assumido assim um “compromisso ontológico”.
Apesar da versão do holismo epistêmico de Resnik responder de forma mais
solida as criticas impostas a primeira versão, ainda tem problemas, ao se considerar
que no campo dos estudos da matemática pura, diversos de seus elementos
perderiam seu status ontológico, pois dentro desse campo, não acontece uma
divisão entre os elementos usados ou não na ciência, não sendo julgados pelo
tribunal das ciências naturais, e assim, aqueles sem uso cientifico, como
beth(alpha), beth(ômega),..., mas já provados dentro da matemática, ficariam sem
“direitos ontológicos”.
A relatividade ontológica

O outro principal ponto da unidade foi a leitura e interpretação de trechos do


texto Relatividade ontológica (1969), de Quine. Em que, considerando a teoria geral
de conjuntos ZFC e o entendimento, para Quine, de que a lógica é aquela entendida
como a de primeira ordem; a redução ontológica é a substituição das relações de
coisas por uma relação de conjuntos; onde pode-se usar apenas a ontologias de
conjunto se no objetivo for delinear os traços mais gerais da realidade; a descrição
experimental (que vai para o confrontamento) pode ser tratada dentro da ontologia
de conjuntos e funcionaria perfeitamente. Então, só se diz da relação de um
conjunto ontológico em relação a outra relação ontológica de conjuntos
relativamente.
Dentro da relatividade ontológica também são apresentados as dificuldade de
se tratar conjuntos, elementos de conjuntos,..., por meio dos próprios conjuntos e
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elementos da lógica, principalmente por se tratar de um caso compreendido dentro


do primeiro teorema de Godel, que diz de forma simplificada, que não é possível
existir uma extensão consistente, completa, e axiomatizável dentro de uma teoria Q.
E que portanto, mesmo reduzida a ontológica os elementos da realidade para uma
teoria de conjuntos, seria impossível o desenvolvimento de uma teoria conjuntista
completa (ao mesmo tempo que é axiomatizável) e também a sua prova dentro de
uma teoria mais forte.
Dá mesma forma, dentro do modelo de Quine, com a adoção dos conjuntos
como elementos básicos da realidade ontológica, e como aqueles pelo qual são
construídos os números e a aritmética apresentaria uma dificuldade de se conciliar
com possíveis outros modelos aritméticos de formato não standard (e fora do
modelo de Peano), porque també

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