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D A H M E N
F U N D A M E N T O S D A T E O R I A D A R E L AT I V I D A D E
U M A I N T R O D U Ç Ã O À T E O R I A D O E S PA Ç O E D O T E M P O
2
s.r. dahmen
instituto de física
ufrgs
A Teoria da Relatividade sempre exerceu forte fascínio sobre os especialistas e um poder de sedução ainda
maior sobre leigos. A aura que a envolve, mormente a de ser uma teoria de dificílima compreensão e um
campo fértil para os paradoxos é reforçada por algumas estórias. Talvez a mais conhecida seja aquela a
respeito de uma resposta que o físico inglês A.S. Eddington (1882 – 1944), um dos pioneiros da área, teria dado
a um repórter quando perguntado se era verdade que havia apenas três pessoas no mundo que entendiam
a teoria de Einstein. Depois de pensar um pouco, Eddington teria respondido com ironia: “Estou tentando
imaginar quem seria a terceira pessoa ... ”.
Esta aura tem porém um lado reverso: muitas são as tentativas de “provar”, apesar de todo o suporte
experimental à teoria, que Einstein estava errado. Estas teorias são calcadas em grande parte no desconheci-
mento dos experimentos que a comprovam, dos fenômenos que ela descreve, de alguns princípios básicos da
Física e na vã tentativa de oferecer em troca uma teoria mais “intuitiva”, isto é, Newtoniana. Embora este seja
um fenômeno interessante, não é meu intuito aqui tentar entender as raízes psicológicas da não aceitação da
Teoria da Relatividade mas lembrar que estas tentativas não passam por um escrutínio mais rigoroso. Porém,
para que possamos fazer qualquer juízo de valor acerca de teorias alternativas, é necessário dominarmos a
teoria e compreendermos suas consequências e limitações.
na íntegra. Acredito que ao terem meus rascunhos com notas de rodapés, adendos, bibliografia e listas de “to
do’s”, as pessoas interessadas no assunto vejam como o processo de organização e apresentação das idéias é
parte fundamental para o entendimento. Com a pandemia e a mudança das aulas para o regime remoto, vi
uma oportunidade de dar a estas notas um formato mais condizente com as boas práticas letivas, e que de
sobra me permitisse melhorar o texto continuamente à medida que fossem surgindo dúvidas e sugestões.
Assim nasceram estas notas.
Quanto se fala da Teoria da Relatividade de Einstein, a primeira coisa que devemos ter em mente é se estamos
falando da Teoria da Relatividade Restrita ou Especial (TRR ou TRE) ou da Teoria da Relatividade Geral
(TRG). De um modo geral há quatro tipos de livros sobre Relatividade:
(i) livros de TRE mais dedicados à discussão da teoria em si e suas consequências. Normalmente estes livros
mantém a linguagem num nível mais acessível sem introduzir um aparato matemático que posteriormente
se mostra necessário na formulação da TRG (geometria diferencial). Nesta categoria estão os livros de
Christoudolides e Resnick (vide abaixo). Quando o objetivo é adquirir um conhecimento sólida da Teoria
Especial, livros desta linha são na minha opinião os mais indicados. Falta-lhes porém a conexão Instituto
de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
90540 – 090 Porto Alegre Brazil
silvio.dahmen@ufrgs.brcom a Teoria Geral e uma visão mais abrangente que permite ao leitor ver a TRG
como desenvolvimento natural da TRE.
(ii) Livros de TRE que lançam mão de um aparato e linguagem matemática que preparam o caminho para a
TRG. Exemplos são os livros de Ugarov e Tsamparlis. Julgo serem livros desta linha os mais apropriados
para um curso de graduação em Física e Astrofísica, mas a consulta aos livros do tipo (i) para complementar
algumas discussões é indispensável.
(iii) Os livros que têm a TRG como conteúdo principal. Em comum eles têm o fato que a TRE é discutida de
forma muito sucinta nos primeiros capítulos. O que os diferencia é basicamente a abordagem matemática
adotada: a apresentação da TRG na forma “index-free” ou a versão com índices. A versão livre de índices
é de grande elegância e se assemelha muito em espírito à introdução da notação de Dirac – os bras e os kets
– da Mecânica Quântica, embora nela falemos de formas multilineares, dualidade de Hodge e assim por diante.
Ela requer um conhecimento prévio de Matemática que acaba representando uma dificuldade a mais para
quem nunca estudou Relatividade Geral. A versão com índices é a do tradicional cálculo tensorial que,
num primeiro estudo, me parece bem mais intuitiva e de fácil compreensão (sem contar o fato que na
versão sem índices, quando temos que fazer alguns cálculos, temos que recorrer ao uso de índices, da
mesma maneira que na Mecânica Quântica, para problema específicos, temos que achar representações de
bras e os kets na forma de polinômios de Hermite no problema do oscilador quântico, apenas para citar um
exemplo).
(iv) Os livros que discutem a TRR e a TGR de maneira detalhada numa mesma obra. Em comum eles têm o
fato que foram os primeiros livros-texto escritos sobre o assunto e muitos de seus autores tiveram contato
direto com Einstein, como é o caso de Max von Laue, um relativista de primeira hora. Além de von
Laue podemos citar Vladimir Fock, Christian Møller, Arthur Eddington (que introduziu a Relatividade ao
mundo anglofônico), Richard C. Tolman e Max Born. A desvantagem destes livros – se é que podemos
assim falar – é uso de uma notação que à época não havia sido ainda convencionada, além da ausência de
alguns resultados novos, pois são livros escrito há mais de 60 anos. Porém, em termos de profundidade e
abrangência, são excelentes. Muitos dos autores são pioneiros e contribuíram de maneira significativa para
nossa compreensão da Relatividade.
7
A abordagem
É um fato que não estamos acostumados a pensar relativisticamente, e tanto a TRE quando a TRG vão
contra nosso senso comum. Deste modo tentei aplicar, didaticamente falando, as ideias que o filósofo e
educador alemão Karl Jaspers usou em sua obra Os grandes filósofos. Jaspers, um dos grandes filósofos do
último século, escreveu sua obra tendo em mente um público leigo mas interessado em entender o que
constitui a filosofia enquanto área do conhecimento, seus métodos e como ela foi sendo paulatinamente
definida e circunscrita no seu escopo. Para atingir seu objetivo Jaspers propugna um método que consiste em
cinco aspectos que o leitor deve ter em mente quando busca adentrar um assunto:
Guardadas as devidas peculiaridades de cada área do conhecimento, Jaspers propugna a abordagem dos
temas baseadas em cinco fundamentos: o fundamento histórico, ou seja a clara a noção que as questões que
tratamos advém de uma sequência de questionamentos que remontam a um passado longínquo, de visões de
mundo cujas origens estão em grande parte perdidas no passado (o fundamento genético) e que parecem não
ter relação com as questões a nós postas. Com isto surge o fundamento factual: perguntas concretas baseadas
em fatos observados que encontraram respostas dentro de um contexto ditado pelas circunstâncias e meios
disponíveis para os cientistas que com elas se ocuparam em diferentes eras. Isto gerou o desenvolvimento de
um aparato matemático, de um modo de questionamento – em suma, de um modus operandi – que constitui
o fundamento prático da ciência e traz em seu bojo a circunscrição do escopo e metodologia daquilo que
hoje definimos como sendo Física. Além disto, esta dissociação de temas se dá de forma dinâmica, ou
seja, quando imaginos que temos um grande sistema unificador como a Mecânica Clássica que tomamos
como base de toda a Física conhecida, surge uma teoria como a Eletrodinâmica Clássica que traz em seu
bojo resultados que notadamente contrariam fundamentos até então tidos como sólidos. O fundamento
8
dinâmico é essencial a toda ciência, pois ele permite a substituição total ou parcial de teorias pelos surgimento
de novos fatos experimentais. Este embate de forças que, em nosso caso nosso específico, foi a questão
da incompatibilidade das Equações de Maxwell com as transformações de Galileu, levam à ruptura das
amarras da visão newtoniana do espaço e do tempo, lançando as bases de uma nova física. Estes aspectos se
entrelaçam, se digladiam e se auxiliam mutuamente, sendo difícil muitas vezes pensar neles separadamente.
Busquei nestas notas mostrar a Relatividade como um processo de contínuo desenvolvimento dentro da
Física e a passagem entre as versões Especial e Geral como algo orgânico e não extemporâneo. Não devemos
nunca desprezar o desenvolvimento histórico pois, como diz Jaspers, muitas das questões que tentamos
responder dentro da TRE foram já formuladas em passado longínquo, mas vestidas em roupas que muitas
vezes se nos parecem desconhecidas.
Devo aqui expressar meu mais sincero agradecimento a meu amigo H. Hinrichsen que gentilmente me
disponibilizou algumas imagens e com quem pude discutir alguns dos tópicos aqui apresentados. Agradeço
também ao cartunista francês Laurent Taudin por permitir que eu usasse sua gravura no frontispício destas
notas de aula.
O grande orador romano Quintiliano, em sua obra didática De Institutio Oratoria afirmou no livro I, capítulo
V: “Estilo é a personificação de três excelências: correção, lucidez e elegância”, acrescentando, “pois muitos incluem a
importantíssima qualidade de pertinência sob a égide da elegância”. É obrigação de quem escreve um texto tentar
buscar estas quatro virtudes. Ao leitor porém cabe a palavra final se o autor foi bem sucedido na empreitada.
silvio.dahmen@ufrgs.br
Dezembro de 2022.
Literatura
RELATIVIDADE ESPECIAL
RELATIVIDADE GERAL
7. Ø. Grøn e A. Næss: Einstein’s Theory: A Rigorous Introduction for the Mathematically Untrained
Springer, New York, 2011.
Um dos livros mais admiráveis pela tentativa (bem sucedida!) de explicar Relatividade Geral para quem ainda não
sabe o que são vetores e derivadas. A abordagem se justifica pelo fato que Næss era filósofo e se propôs a aprender a
Teoria de Einstein a partir do zero com a ajuda de Grøn. Esta obra é resultado deste esforço. Nivel básico a médio,
com alguns tópicos em nível mais avançado.
11. H. Stephani, General Relativity: An introduction to the theory of the gravitational field
Cambridge University Press, Cambridge, 1982.
Um clássico escrito por um dos líderes da famosa escola de relativistas da Universidade de Jena, na Alemanha.
Discussões claras e nota-se claramente a filosofia de deixar para o leitor muitas das deduções para que assim entenda
o que está fazendo. Pressupõe um bom conhecimento de física e matemática. Nível avançado.
OUTRAS OBRAS
20. H.-J. Treder: Relativität und Kosmos: Raum und Zeit Physik, Astronomie und Kosmologie
Akademie Verlag, Berlin, 1968.
Hans-Jürgen Treder (1928 - 2006) era considerado o maior físico teórico da antiga Alemanha Oriental. Sua área de
pesquisa era Relatividade e Cosmologia e, além de livros, monografias e artigos para especialistas, ele escreveu livros
sobre filosofia e história da ciência, com particular ênfase na sua área de atuação. Este livro, como diz o título, é acerca
dos conceitos de tempo e espaço deste Aristóteles até Einstein. Nível médio a avançado.
Outros livros e artigos científicos consultados são citados ao longo do texto nos locais apropriados.
Sumário
2 Referenciais e a Relatividade. 39
2.1 Referenciais inerciais 39
2.2 A Terra enquanto referencial inercial 40
2.3 A mecânica de Newton enquanto teoria relativística: transformações de Galileu 41
2.4 A eletrodinâmica de Maxwell enquanto teoria relativística: transformações de Lorentz 43
2.5 Dedução 1: transformações de Lorentz segundo Lorentz 48
2.6 Dedução 2: transformações de Lorentz enquanto simetria do espaço-tempo 51
2.7 Dedução 3: transformações de Lorentz e a constância da velocidade da luz 59
2.8 As transformações de Lorentz com velocidade árbitrária 60
2.9 As transformações de Lorentz com rotação 60
2.10 A velocidade e a aceleração relativísticas 64
3 Efeitos geométricos 69
3.1 A contração de Lorentz–FitzGerald e a dilatação do tempo 70
3.2 O problema da medida da barra 73
3.3 O tempo próprio 76
3.4 Os muons e a dilatação do tempo. 77
3.5 A classificação de intervalos espaço-temporais
e o princípio da causalidade 79
14
4 O efeito Doppler 85
4.1 O efeito Doppler relativístico 85
4.2 O efeito Doppler como consequência da invariância da fase de uma onda 91
5 Paradoxos 95
5.1 Realidade e Intuição Física 95
5.2 O paradoxo dos gêmeos ou dos relógios 95
9 Quadrivetores 139
9.1 A quadrivelocidade 141
15
11 O tensor energia-momento e
o tensor das tensões de Maxwell 165
11.1 O vetor de Poynting e a conservação de energia 165
11.2 A conservação de momento para campos e partículas 167
11.3 A versão quadridimensional: o tensor energia-momento 173
11.4 O tensor das tensões na mecânica e sua interpretação física 177
Embora aceitemos que intervalo temporal tenha que mudar para “aco-
modar” os dois fatos – que as distâncias percorridas sejam diferentes
mas c continue igual nos dois referenciais – o cálculo acima está errado.
O erro está em termos usado a relatividade Newtoniana (Transformação
de Galileu) para tentar acomodar um fato experimental (universalidade
de c) dentro de uma estrutura de espaço e tempo que não o comporta.
Nossa dificuldade em conciliar estes fatos vem da ideia que fazemos da
estrutura espaço-temporal como algo dado e independente do estado de
movimento dos corpos - não é sem motivo que Kant chama os conceitos
de espaço e tempo da mecânica Newtoniana de juízos a priori e parte
deles para tentar fundamentar uma Filosofia (Crítica da Razão Pura)
algo que deve estar agindo para manter o movimento. Se nos ba-
seássemos em Aristóteles concluiríamos que mesmo a um movimento
retilíneo uniforme deve estar associada uma força. O mais importante
é que esta lei implica na existência de um repouso absoluto pois se não
há “causa”, não há movimento. Além disso Aristóteles diz 7 : 7
Aristotle, The Physics, Loeb Classical Li-
brary vol. I, W. Heinemann Ltd, London,
Seja A o agente causador do movimento, B o objeto que se move, C 1957, 249b - 250a.
τ = t + to (1.4)
τ = kt (1.5)
n o1
2
| x1 − x2 | = ( x1 − x2 )2 + ( y1 − y2 )2 + ( z1 − z2 )2 (1.6) Figura 1.1: A decomposição aristoteliana
da variedade M = T × Σ, ou seja, em um
e o intervalo temporal vale espaço e um tempo absolutos.
| t1 − t2 | (1.7)
por algum tempo, mas a superfície da água ficará parada, como estava antes do
recipiente se mover; mas o recipiente gradualmente comunicará seu movimento
à agua, fazendo-a girar perceptivelmente e retroceder pouco a pouco, subindo
pelos lados do recipiente de maneira a formar uma superfície côncava [...] Esta
subida da água mostra seu esforço em se afastar do eixo do movimento; e o
movimento circular absoluto, que aqui é diretamente contrário ao [movimento]
relativo, se revela, e pode ser medido através deste esforço [...] e portanto este
esforço não depende da translação da água em relação a corpos no ambiente,
nem o movimento circular verdadeiro pode ser determinado por tais translações
[...] mas movimento relativos [...] são destituídos de quaisquer efeitos reais
[...] descobrir e efetivamente distinguir o real movimento real de corpos dos
movimentos aparentes é na verdade uma tarefa de grande dificuldade; pois partes
deste espaço imóvel em relação aos quais estes movimentos ocorrem não podem
sob quaisquer circunstâncias serem observados por nossos sentidos [...] 13 . 13
Newton, op. cit., Scholium, livro 1.
F = ma. (1.8)
d2 r
m = F0 (1.10)
dτ 2
onde F0 = F/a2 . Esta relação entre F0 e F/a2 significa, do ponto de
vista físico, que estamos adotando simplesmente uma nova unidade
para a força.
é uma fibra. O ponto agora é que cada partícula que se mova com velo-
cidade constante e não intercepte outra partícula define uma projeção
em T e não há motivo para considerar o espaço da partícula A privi-
legiado em relação à qualquer outra partícula B. Em outras palavras,
por exemplo, cada observador pode considerar a sua origem como
representando sempre o mesmo ponto do espaço independente de seu
estado de movimento. Outros observadores atribuiriam a sua origem
diferentes pontos de seus espaços. Em outras palavras, cada observador
pode definir uma projeção local que é totalmente equivalente e em
nada especial comparada à projeção de outro observador. Isto porém
não define uma estrutura do espaço-tempo pois em princípio temos
vários espaços simultâneos. Podemos argumentar que isto nada mais é
um jogo de palavras, pois nossa tendência é pensar da seguinte forma:
existe um espaço subjacente, imóvel, e se um observador se move, ele se
move dentro deste espaço ou em relação a este espaço. Mas a pergunta
é a seguinte: imagine um Universo onde haja apenas uma partícula
e queremos determinar se ela se move. Como fazer isso? Podemos
até imaginar que ela se mova em relação a um espaço no qual ela se
encontra inserida. Mas simplesmente não temos como determinar isto,
e portanto a idéia de movimento não faz sentido.
Este é basicamente o problema com o qual Newton se deparou.
Ele sabia que suas Leis não se aplicavam a todos os observadores,
pois havia uma classe especial deles (os inerciais), para os quais a
aceleração absoluta é zero. Podemos assim, ao menos em princípio,
distinguir entre movimento absoluto e repouso absoluto. Como existe
esta diferença, Newton conclui que existe um espaço absoluto:
Movimento absoluto é a translação de um corpo de um lugar absoluto a outro, e
movimento relativo a translação de um lugar relativo a outro.
Em sua parte inicial, a chamada Estética Transcendental, Kant discute Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1989.
estes dois conceitos fulcrais da física de Newton. Seu objetivo não era
“entender” os conceitos de tempo e espaço mas explicar como nos é
possível ter esse entendimento. Em outras palavras, não responder à
pergunta “O que é?” (ontologia) mas “Como é possível que eu saiba o
que é?”(epistemologia). Para Kant espaço e tempo são juízos sintéticos
a priori, duas categorias aparentemente contraditórias (uma discussão
mais detalhada destes tópicos pode ser encontrada no apêndice B): em
poucas palavras, juízos a priori são aqueles que não são adquiridos
pela nossa experiência sensível mas estão de certo modo “impressos”
na nossa cognição. Porém são sintéticos, ou seja, não auto-explanatórios,
relacionados à nossa experiência com o mundo ao nosso redor. Como é
possível para a ciência – e por ciência Kant tinha a Física e a Matemática
There can be no doubt that the interplanetary and interstellar spaces are not
empty but occupied by a material substance or body, which is certainly the largest,
18
J. C. Maxwell, Encyclopedia Britannica,
9th edition, vol. 8, 1878.
and probably the most uniform, body of which we have any knowledge. 18
... all methods ... by which it is practicable to determine the velocity of light from
terrestrial experiments depend on the measurement of the time required for the
double journey from one station to the other and back again 19 . 19
ibid.
∂B
∇· E = 0 ∇×E = −
∂t
∂E
∇· B = 0 ∇ × B = e0 µ 0 , (1.12)
∂t
vemos que na última equação a velocidade c da luz no vácuo aparece
explicitamente, uma vez que e0 µ0 = 1/c2 21 . Portanto: 21
O uso da letra c tem origem no latim
celeritas. Esta notação era corrente em
se esperamos de uma teoria fundamental que ela dependa de constan- textos científicos mais antigos para repre-
sentar velocidades. Boltzmann a usa por
tes universais, ou seja descreva os mesmos fenômenos em diferentes exemplo na grande maioria de seus ar-
laboratórios, as constantes físicas que definem as escalas dos fenôme- tigos fundamentais da Mecânica Estatís-
tica. Einstein usa em seu famoso artigo a
nos por ela descritos devem ser universais e não podem depender do
maiúscula V para se referir à velocidade
referencial na qual são medidas. Velocidades claramente dependem do da luz.
referencial.
Convém aqui lembrar que as três leis de Newton não tem associadas
a si uma constante, ou seja, uma escala. Visto sob esta perspectiva, a
equação F = ma se aplica para um átomo mas também para um planeta.
Porém, as leis que definem as 4 forças fundamentais da Natureza têm
constantes universais que definem seu regime de aplicabilidade: no
caso da gravidade a constante de gravitação universal G = 6.6743 ×
def
10−11 m3 kg−1 s−2 e, no caso da interação Coulombiana ε 0 = 1
c20 µ0
≈
8.854 187 8128(13) × 10−12 F/m .
Mas o que dizer de uma teoria que se pretende universal quando a
constante que a caracteriza é uma velocidade e portanto depende do
referencial? Se c reclama para si o status de uma constante universal,
pois surge naturalmente nas equações fundamentais da teoria, a con-
A Física estava assim, na virada do século XIX para o século XX, numa
encruzilhada entre duas teorias fundamentais mas incompatíveis entre
si. Havia três possíveis soluções para este dilema:
F = ma = qE + q v × B. (1.15)
1.1 Um barco navegando a montante (rio acima) passa por toras que se
movem a jusante (rio abaixo) levadas pela correnteza do rio. Passada uma hora,
o motor do barco para, sendo necessários 30 minutos para seu conserto. Durante
estes 30 minutos o barco é levado rio abaixo pela correnteza. Consertado
o motor, o barco desce o rio com uma velocidade relativa à corrente igual
àquela quando subia o rio. Ele ultrapassa as toras em um ponto à distância
1.6 Uma cientista trabalha num instituto fora da cidade. Um carro sai
da instituto para pegá-la todo dia e chega à parada de ônibus no mesmo
instante que ônibus que ela toma chega à parada. Certo dia, a cientista chegou
1 hora mais cedo ao ponto de ônibus e, decidida a não esperar pelo carro,
resolveu caminhar até o instituto. No caminho ela encontrou o carro e chegou
ao instituto 10 minutos antes de seu horário usual. Quanto tempo esta cientista
caminhou até encontrar o automóvel? Resolva este problema graficamente.
1.8 Um ônibus viaja por uma estrada a uma velocidade de v = 16.0 m/s.
Um homem se encontra a 60.0 m da estrada e a 400.0 m do ônibus. Dado que
ele pode correr a uma velocidade máxima de 4.0 m/s, em que direção ele deve
correr para chegar num ponto qualquer da estrada no mesmo instante (ou
antes) do ônibus? Qual a velocidade mínima que ele deve ter para alcançar o
ônibus e em que direção deve correr?
A s C
1.11 Um barco navegando rio acima cruza com uma jangada que desce o
rio com a correnteza. Passados 45 minutos (t1 ) o barco para numa plataforma
de embarque por t2 = 1 hora. Então, o barco desce o rio e ultrapassa a jangada
passado um tempo t3 = 1 hora. A velocidade do barco em relação à água
é constante e vale v1 = 10 km/h. Determine a velocidade v2 da correnteza.
Resolva o problema analitica e graficamente.
(iii) Suponha agora que o vento sopre em direção norte. Mostre que neste caso
o tempo de viagem é
t0
tN = p (1.18)
1 − v2 / ( u 0 )2
(iv) Nos ítens (ii) e (iii) precisamos partir do pressuposto que v < u0 . Por quê?
1.14 Considere um sistema estelar binário onde uma estrela faz um mo-
vimento circular com velocidade v. Considere 2 posições, a denominada I,
quando a estrela se afasta da Terra, e a II, quando se aproxima (ver figura
abaixo). Considere o período de sua órbita como sendo T e a distância Terra –
estrela como sendo l. Suponhamos também que l é grande o suficiente para
que os pontos I e II possam ser considerados como estando separado por meia
órbita.
I
l v
Terra l v
II
1.15 Um projétil lançado por uma arma viaja a uma velocidade de 335/s.
Num dia sem vento, o projétil é disparado de um trem em direção a uma
pessoa que se encontra exatamente a 335 m da arma. Qual dos dois, o
projétil ou o som do disparo, atinge o homem primeiro se
x 0 = ax + bl ; l 0 = bx + al; y0 = y; z0 = z.
∂2
2 = ∇2 −
∂l 2
mantém sua forma (i.e. 20 = 2 ) se for satisfeita a condição
a2 − b2 = 1
c+v n c+v n
0 0 vx
x = γ( x − vt) ; t = γ(t − 2 ) ; y0 = y; z0 = z; n ∈ N∗ .
c−v c c−v
ω = kc ± kv. (1.21)
(John Locke, An essay concerning human understanding, Book II, Chapter XIV,
1689.
v v
R T
x0 = Rx + vt + x0 com RR T = 1
0
t = t + t0 (2.1)
x0 = x + vt
0
t = t (2.2)
que usaremos com frequência nestas notas de aula. O grupo de Galileu tem
10 parâmetros livres: as 3 coordenadas em x0 , 3 componentes de velocidade
em v, uma coordenada temporal t0 e 3 ângulos de rotação em R.
As equações de movimento de Newton mantém sua forma por uma transfor-
mação pelo grupo de Galileu, ou seja, elas são covariantes. Para um sistema
de N massas interagentes as equações:
d2 x i
mi = Fi (|xi − x j |) (i 6= j = 1, 2, · · · N ) (2.3)
dt2
se transformam em
d2 xi0
mi0 = F0( |xi0 − x0j |) (i 6= j = 1, 2, · · · N ) (2.4)
dt2
onde Fi0 = RFi e mi0 = mi . A identidade das massas inercias é uma proposi-
ção ad hoc e reflete o fato que na teoria clássica de Newton, a massa inercial
se transforma como um escalar sob o grupo de Galileu:
dx0 dx
= +v
dt dt
u0 = u+v (2.6)
∇· E = 0
∂B
∇×E = −
∂t
∇· B = 0
∂E
∇×B = e0 µ 0 (2.11)
∂t
Tomando o rotacional da 2ª e 4ª equações obtemos
∂ ∂ ∂E
∇ × (∇ × E) = − ∇ × B = − e0 µ 0
∂t ∂t ∂t
∂ ∂ ∂B
∇ × (∇ × B) = e0 µ0 ∇ × E = e0 µ0 (2.12) Figura 2.2: James Clerk Maxwell (1831 –
∂t ∂t ∂t 1879).
Usando as identidades vetoriais
∇ × (∇ × E) = ∇(∇· E ) − ∇2 E
|{z}
=0
2
∇ × (∇ × B) = | {zB}) − ∇ B
∇(∇· (2.13)
=0
∂2 E ∂2 B
e0 µ 0 = ∇2 E ; e0 µ 0 = ∇2 B, (2.14)
∂t2 ∂t2
com
1
c= √ = 2.99792458 × 108 m/s. (2.15)
e0 µ 0
A constante c é a velocidade da luz no vácuo, uma nova constante universal
que surge naturalmente na eletrodinâmica de Maxwell. Introduzindo o
operador quabla (ou operador D’Alembertiano) por meio de
1 2
2 := ∂ − ∇2 (2.16)
c2 t
as equações de onda acima podem ser escritas de forma mais sucinta como
2 E = 0; 2 B = 0. (2.17)
ω = ±|k|c . (2.19)
∂ xei
xei = Λij x j + si onde Λij = (2.22)
∂x j
∂xi
= δij . (2.23)
∂x j
∂ ∂ ∂
∂ xek
= ∑ ∂x Blk = B
∂xl lk
(2.25)
l l
∂ xei ∂
δij = = Blj Λij x j + si
∂ xej ∂xl | {z }
xei
∂x j
= Blj Λij = Λil Blj (2.26)
∂xl
|{z}
=δjl
Com isto fica agora fácil calcular como os operadores diferencias se trans-
formam na mecânica newtoniana ao passarmos de um referencial a outro:
!
˜ 1 0
(∂t ∇ ) = (∂t ∇ ) ·
e (2.29)
v 1
ou, de forma mais explícita:
∂˜ t = ∂t + v · ∇, ∇
e = ∇. (2.30)
A = D, C = Bc2 , AD − BC = 1 (2.40)
x C
v= =− (2.43)
t D
Combinando este resultado com as três equações em (2.40) obtemos final-
mente
1 v
A = D= √ , B=− √ ,
1 − v2 /c2 c2 1 − v2 /c2
v
C = −√ . (2.44)
1 − v2 /c2
Nestas expressões encontramos pela primeira vez o famoso fator de Lorentz
p
γ = 1/ 1 − v2 /c2 (2.45)
em termos do qual podemos escrever as transformações de Lorentz em sua
forma usual
v
x 0 = γ( x − vt) , t0 = γ(t − x) . (2.46)
c2
A relação inversa é obtida pela inversão da velocidade relativa, ou seja
substituindo v por −v nas transformações:
v 0
x = γ( x 0 + vt0 ) , t = γ(t0 + x ). (2.47)
c2
Em notação vetorial temos
! ! !
ct0 γ − βγ ct v
= , β= (2.48)
x0 − βγ γ x c
e a inversa ! ! !
ct γ βγ ct0
= . (2.49)
x βγ γ x0
Este ângulo recebe o nome de rapidez 10 e mede o ângulo entre os eixos das 10
Do inglês rapidity.
coordenadas dos dois referenciais inerciais que se movem com velocidade
relativa v.
Ax 0 + Bt0 + C = 0 (2.60)
P(t, x )
t0 =
Q(t, x )
R(t, x )
x0 = (2.61)
Q(t, x )
P = At + Bx + C
R = Dt + Ex + F
Q = Gt + Hx + K. (2.62)
x0 = f 1 ( x, y, z, t)
y0 = f 2 ( x, y, z, t)
0
z = f 3 ( x, y, z, t)
0
t = f 4 ( x, y, z, t) (2.63)
x 0 = x2 . (2.64)
x20 − x10 = 12 − 02 = 1
(2.65)
x30 − x20 = 32 − 22 = 5.
x20 − x10 = ξ 0 = f 1 ( x2 , · · · ) − f 1 ( x1 , · · · ) = f 1 ( x1 + ξ, · · · ) − f 1 ( x1 , · · · ).
(2.66)
Mas, se ∂ξ 0 /∂x1 = 0 então
∂ f 1 ( x1 + ξ, · · · ) ∂ f (x , · · · )
− 1 1 =0 (2.67)
∂x1 ∂x1
ou seja
∂ f 1 ( x1 + ξ, · · · ) ∂ f (x , · · · ) ∂f
= 1 1 =⇒ 1 = const. (2.68)
∂x1 ∂x1 ∂x1
e logo f 1 tem que ser linear em x. Isso pode ser estendido a todas as outras
variáveis e funções f i , e portanto as transformações são lineares.
x0 = k(v)( x − vt)
0
y = λ(v)y
0
z = λ(v)z
t0 = µ(v)t + α(v) x (2.69)
A função α(v) é a única função ímpar entre nossas funções. É possível assim
expressar as transformações usando apenas funções pares se introduzirmos
uma nova função η (v) de tal modo que podemos expressar a função α em
termos de nossa função µ e desta nova função na forma
v
α(v) = − µ(v) (2.72)
η (v)
x0 = k(v)( x − vt)
0
y = λ(v)y
0
z = λ(v)z
v
t0 = µ(v) t − x (2.73)
η (v)
Da mesma maneira que temos uma transformação que serve para irmos de
I para I 0 , a mesma transformação de I 0 para I deve valer, notando apenas
que em relação ao referencial I 0 o referencial I se move com velocidade −v.
Logo, aplicando as transformações acima para a mudança inversa temos
Desta duas soluções apenas a solução λ = 1 faz sentido pois, caso contrário,
para v = 0 a solução λ = −1 nos daria um sistema com coordenadas y0 e z0
invertidas. Multiplicando agora a primeira e a última equação em (2.73) por
µ e kv, respectivamente, e somando as duas, obtemos
v2
µx 0 + kvt0 = µk 1 − x. (2.76)
η
x0 vt0
x= + (2.77)
k(1 − v2 /η ) µ(1 − v2 /η )
1
µ(v) = k(v) = q 2
(2.79)
1 − ηv(v)
x − vt
x0 = q 2
1 − ηv(v)
y0 = y
z0 = z
t − vx/η
t0 = q 2
(2.80)
1 − ηv(v)
Falta agora determinar a função η (v). Uma coisa já podemos afirmar sobre
ela: sua dimensão é a de (velocidade)2 .
v x0
v x
t 0
= k ( v1 ) t − 1 ; t = k ( v2 ) t − 2
00 0
(2.81)
η ( v1 ) η ( v2 )
x − vt t + vx/v2∞
x0 = q 2
t0 = q 2
(2.85)
1 + vv2 1 + vv2
∞ ∞
x − vt t − vx/v2∞
x0 = q 2
t0 = q 2
, (2.86)
1 − vv2 1 − vv2
∞ ∞
∆t + v∆x/v2∞
∆t0 = q 2
. (2.88)
1 + vv2
∞
∆t − v∆x/v2∞
∆t0 = q 2
. (2.90)
1 − vv2
∞
∆t 2
|v| > | |v −→ |v| > v∞ . (2.92)
∆x ∞
Esta condição não pode ser satisfeita pois para que t seja real, a relação
−v∞ < v < v∞ , tem que ser obedecida. Existe portanto uma classe de
eventos Z( E1 , E2 ) para os quais é impossível achar uma transformação que
viole a causalidade e como consequência a única transformação admissível é
aquela representada pela equação (2.86). Existe porém, experimentalmente,
uma velocidade limite c para todos os entes físicos o que implica que v∞ = c.
x 2 + y2 + z2 = c2 t2
x 02 + y 02 + z 02 = c2 t 02 (2.93)
2
2 2 2 2 2 2 vx
( x − vt) k + y + z − c µ t− = 0. (2.94)
η
Para que esta expressão seja consistente com a primeira equação acima,
devemos impor que
µ2 c2 µ2 c2 v2
k2 − = 0; k2 − = 1; v2 k2 − µ2 c2 = −c2 . (2.95)
η η2
! ! !
a0x cos(−θ ) − sin(−θ ) ax
=
a0y sin(−θ ) cos(−θ ) ay
! !
cos θ sin θ ax
=
− sin θ cos θ ay
!
ax
= Rp . (2.103)
ay
x’ θ
outra.
x x x’
y’ = xsin α+ ycos α
Rotação e translação
Consideremos inicialmente uma rotação seguida de uma translação e olhe-
mos como ficam as coordenadas ( x, y) de um vetor posição r. Lembrando
que se para as transformações passivas as componentes do vetor se transfor-
mam pela aplicação de R−1 temos
x0 = x cos θ + y sin θ
0
y = − x sin θ + y cos θ (2.104)
y y’
y’’
r
r’’ θ
x’’
O O’ O’’ x’ x
x 00 = x 0 − vt cos θ
y00 = y0 + vt sin θ (2.105)
Translação e rotação
No caso de iniciarmos por uma translação temos, numa primeira etapa, as
transformações simples de Galileu
x 0 = x − vt ; y0 = y (2.107)
x 00 = x 0 cos θ + y0 sin θ
y00 = − x 0 sin θ + y0 cos θ (2.108)
x’1
x
1
u’
θ’
O’ x’
3
φ’ v
x3
O
x’
2
x
2
Definindo
dx 0
u0x = (2.117)
dt0
γ(dx − vdt)
u0x =
γ[dt − (v/c2 )dx ]
γ dt [dx/dt − v]
=
γ dt [1 − (v/c2 )dx/dt]
ux − v
= (2.118)
1 − ucx2v
ux − v uy
uz
u0x = u0y = . u0z =
1 − u x v/c2 γ(1 − u x v/c2 )
γ(1 − u x v/c2 )
(2.119)
Diferentemente das transformações para as coordenadas ( x, y, z), onde ape-
nas a coordenada na direção do movimento sofre uma modificação, para as
velocidades todas as três componentes mudam. Isto se deve claramente ao
fato que, embora dy0 = dy e dz0 = dz, dt0 6= dt. Um resultado interessante
desta transformação é quando a partícula se move com a velocidade da luz.
Neste caso, para efeitos de ilustração, tomando a direção da velocidade u
ux − v
u0x =
1 − u x v/c2
c−v
=
1 − cv/c2
c−v
=
1 − v/c
c−v
=
(1/c)(c − v)
→ u0x = c (2.120)
onde
v = vêq , êq · ê⊥ = 0 êq · ê = ê⊥ · ê⊥ = 1 (2.122)
uq − v
uq0 =
1 − vc·2u
u
u0⊥ = ⊥ (2.123)
γ 1 − vc·2u
0
du x d ux + v
=
du0x du0x 1+
u0x v
c2
v2
1− c2
= 2 . (2.125)
u0x v
1+ c2
Em outras palavras
v2
1− c2 0
du x = 2 du x (2.126)
u0x v
1+ c2
v2
1− c2 du0x dt0
= 2 dt0 dt (2.127)
u0x v
1+
|{z}
c2 a0x
2 3/2 2 3/2
1 − vc2 1 − vc2
a0x = 3 a x ou ax = 0
3 a x (2.129)
1 − ucx2v ux v
1 + c2
(John Locke, An essay concerning human understanding, Book II, Chapter XIV,
1689.)
v
medirmos intervalos de tempo e distâncias. Normalmente o processo que
utilizamos para medir um objeto parado (ou uma distância entre 2 pontos) é
primeiro cauda, depois cabeca
1 0
l0 = l −→ l 0 = γ l0 (3.4)
γ
1
∆x 0 = γ ∆x → ∆x = ∆x 0 . (3.6)
γ
x = γ ( x 0 + vt0 ) (3.7)
1
∆x = γ ∆x 0 → ∆x 0 = ∆x. (3.8)
γ
x0
x= + vt (3.9)
γ
Uma barra que tem, em repouso, um comprimento l 0 passa por você com uma
velocidade v na direção de seu comprimento.
(a) Quanto tempo ela leva para passar por você, um observador no referencial S
“em repouso”?
l0
l= (3.12)
γ
No referencial S, um objeto de tamanho l = l 0 /γ que tem uma velocidade v
leva um tempo (t2 − t1 ) para passar pelo observador, tempo este dado por
l l0
t2 − t1 = = . (3.13)
v vγ
v
t
1
O’ x’
x
O
y’
y’
l0
t20 − t10 = . (3.14)
v
l0 l0
> −→ (t20 − t10 ) > (t2 − t1 ) (3.15)
v vγ
O’ x’
x
O
−v
y’
y’
l l0 0.6 0.75
t2 − t1 = = = = . (3.16)
v vγ 0.8c c
l0 1.0 1.25
t20 − t10 = = = . (3.17)
v 0.8c c
l0
∆t0 = ; ∆x 0 = −l 0 (3.19)
v
onde o sinal negativo em l 0 se deve ao fato que para o problema em questão, a
barra é percorrida da extremidade de coordenada maior para a extremidade
de coordenada menor. Por isso a t20 > t10 corresponde x20 < x‘1 e o ∆x 0
portanto deve ser negativo2 . Partindo destes valores e substituindo-os na 2
Devemos sempre ter cuidado ao usar-
equação acima obtemos mos as transformações de Lorentz pois
devemos associar ao tempo ti a coorde-
l0 γ l0 v2 nada espacial xi correspondente.
v 0
∆t = γ( − 2 l ) = 1− 2 . (3.20)
v c v c
Lembrando que
v2 1
1− = 2 (3.21)
c2 γ
chegamos finalmente à
γ l0 1 l0
∆t = × 2 = , (3.22)
v γ γv
ou seja, recuperamos o resultado que obtivemos no início destas notas.
Talvez para esclarecer um pouco melhor esta questão olhemos pelo seguinte
ponto de vista. Consideremos a transformação
v v v
∆t0 = t20 − t10 = γ(t2 − 2 x2 ) − γ(t1 − 2 x1 ) = γ ∆t − γ 2 ∆x (3.23)
c c c
Todos os relógios em S, que marcam o tempo t, estão sincronizados. A
pergunta é: o que mostram os relógios em S0 num dado instante de tempo t
fixo? Se t é fixo, naquele instante todos os relógios em S marcam o mesmo
tempo e portanto ∆t = 0. Disto segue que
v
∆t0 = t20 − t10 = −γ 2 ∆x, (3.24)
c
ou seja, visto de S, todos os relógios em S0 estão dessincronizados e esta
dessincronização varia continuamente com a distância entre os relógios
medidas por S. Notem também que a dessincronização independe do tempo
t fixo que escolhemos. Para ilustramos isto, simplifiquemos um pouco a
discussão considerando que instante em que as origens coincidem, ajustemos
os relógios tal que t = 0 = t0 e x1 = 0. Chamando x2 = x temos
v
t0 ( x, t = 0) = −γ x. (3.25)
c2
Portanto, para S, todos os relógios de S0 à sua esquerda (eixo x negativo)
estão marcando um tempo maior que t = 0 e os relógios à sua direita (eixo
x positivo) estão marcando um tempo menor. Ou seja, os primeiros estão
adiantados em relação ao tempo marcado em S e os outros atrasados. A
figura ao lado ilustra isto.
t’(x,0)
adiantados
t=0
1 2000 m
l= lo = = 209.42 m (3.33)
γ 9.55
Para o múon, num tempo de τo = 2.197 µs ele pode percorrer uma distância
de
∆h = 0.9945c × 2.197 × 10−6 s = 655 m (3.34)
e portanto ele chega ao solo.
Vamos supor que num dado referencial I os intervalos ∆x12 e ∆t12 são
diferentes de zero. Ou seja, para S, eles ocorrem em diferentes pontos do
espaço em diferentes tempos. Escolhamos agora um referencial S0 , também
inercial, e nos coloquemos as seguintes perguntas:
Isto significa que o intervalo ∆s12 deve ser real. Neste caso obtemos
0 1
∆t12 = ∆s (3.39)
c 12
Em outras palavras, existe um referencial S0 onde dois eventos não coin-
cidentes em S ocorrem no mesmo ponto do espaço em um intervalo de
tempo real (e que portanto existe!). Por este motivo, intervalos para os quais
∆s2 ≥ 0 (isto é, s é real) recebem o nome de intervalos tipo-tempo (time-like
intervals).
A condição física para que um intervalo seja do tipo-tempo é que ∆x12 < c ∆t12 . O
significado físico desta expressão é simples: a distância ∆x12 entre dois even-
tos é sempre menor que a distância que a luz percorre no mesmo intervalo de
tempo e portanto o evento E1 pode ser a causa do evento E2 pois dentro do
intervalo de tempo em questão um sinal que se propaga com a velocidade
da luz teria tempo de sair de x1 e chegar a x2 . Não necessariamente dois
eventos separados por um intervalo tipo-tempo guardam uma relação de
causa–efeito entre si, mas toda relação causa–efeito necessariamente é um
intervalo tipo-tempo. Vamos mostrar isto mais detalhadamente.
Considere uma partícula com massa de repouso diferente de zero (a grande
maioria das partículas com as quais lidamos na natureza). Vamos supor,
visando simplificar a discussão, que a partícula se mova na direção do eixo x
positivo e percorra uma distância ∆x em um intervalo de tempo ∆t quando
observada a partir do referencial S. No referencial S0 a mesma partícula
percorre uma distância ∆x 0 em um tempo ∆t0 . Obviamente a velocidade da
Olhando para esta expressão é fácil ver agora qual a velocidade relativa
entre os referenciais para que nossa pergunta original, isto é, se é possível
ter um ∆x 0 = 0 seja satisfeita. Tomando ∆x 0 = 0 na primeira das equações
acima temos que necessariamente u = v, ou seja, no referencial que se move
com a partícula os eventos ocorrem no mesmo ponto do espaço, como era
esperado.
Um outro resultado importante diz respeito ao sinal de ∆t e o sinal de
∆t0 para eventos separados por intervalos tipo-tempo. Suponhamos que
∆t > 0, ou seja, o evento E2 ocorre depois do evento E1 no referencial S.
Para que ∆t0 > 0, olhando para a segunda das equações acima, temos que
obrigatoriamente uv
1− 2 > 0 (3.41)
c
Porém, esta condição é sempre satisfeita pois a velocidade de qualquer objeto
com massa de repouso diferente de zero é sempre menor que c. Mas isto
vale para quaisquer intervalos tipo-tempo, pois olhando mais atentamente
para a expressão acima podemos reescrevê-la como
v ∆x
1− (3.42)
c c ∆t
Vamos agora considerar intervalos para os quais ∆s212 < 0, ou seja ∆s12 é
imaginário. Nosso objetivo é achar um referencial S0 no quais dois eventos
não simultâneos em S sejam simultâneos em S0 , ou seja, ∆t12
0 = 0.
v ∆x
1− (3.45)
c c ∆t
pode ser negativo. Neste caso ∆t0 tem o sinal contrário ao de ∆t e a ordem
temporal de eventos pode ser invertida: o “antes” de um referencial passa a
ser o “depois” de outro referencial.
Resumindo, temos:
(a) Eventos tipo-tempo são aqueles separados por distâncias menores que
aquela percorrida pela luz no mesmo intervalo de tempo. A ordem tem-
poral é mantida para todo intervalo tipo-tempo. Eventos que guardam
uma relação de causa–efeito entre si necessariamente são tipo-tempo, mas
o inverso não é necessariamente verdadeiro. Pensemos num exemplo:
8.5 min após uma erupção solar um satélite apresenta uma falha em seu
circuito. Como a distância Sol–Terra é de 8.0 minutos-luz, passados 8.5
min qualquer sinal do Sol já teria passado pela Terra e portanto a falha do
satélite pode ser devido ao evento solar, mas não necessariamente. Este
evento corresponde a um intervalo tipo-tempo: não existe um referencial
inercial no qual a erupção solar é posterior à falha do satélite.
(b) Eventos tipo-espaço são aqueles separados por distâncias maiores que a
luz é capaz de percorrer no mesmo intervalo de tempo. A ordem temporal
não é necessariamente mantida. Os conceitos de “antes” e “depois” são
relativos. Eventos que guardam uma relação de causa–efeito entre si não
podem estar separados por um intervalo tipo-espaço. Exemplo: 4.0 min
após uma erupção solar um satélite apresenta problemas. Como não deu
tempo ainda de qualquer sinal do Sol chegar a Terra, a falha do satélite
não pode ser um efeito do evento solar. A ordem dos eventos portanto
não é fixa: é possível encontrar um referencial inercial no qual a falha do
satélite ocorre depois da erupção solar.
Para atingir O, a luz precisa viajar por um tempo ∆t = x2 /c. Deste modo, o
tempo entre dois pulsos medido por O é dado por
x2 vγT0
T = t2 + ∆t = t2 + = γT0 +
c c
= γT0 (1 + β)
s
1+β
T = T0
1−β
r
c+v
T = T0 (4.1)
c−v
Embora iremos fazer a dedução mais abaixo para o caso clássico, vale neste
ponto comparar com a expressão acima com aquela obtida da mecânica
clássica. Temos, para o efeito Doppler clássico, as expressões
c − vF c − vO
{ T, λ} = { T0 , λ0 } , ν = ν0 (4.4)
c − vO c − vF
e
c − vF
ν = ν0 (4.5)
c − vO
O estudante de Física. Vamos supor que você tenha sido pego por um
radar e é parado por um policial por ter ultrapassado o limite de velocidade
permitido, de 50 km/h. Ao ser questionado se você não tinha visto o
sinal vermelho no semáforo, você argumentou que estava andando a uma
velocidade cujo efeito Doppler teria feito o sinal vermelho parecer verde para
você. Para seu azar, o policial era apaixonado por física e contra-argumentou:
“Pelos meus cálculos, para que você tivesse observado um desvio para o azul
tão grande, sua velocidade deve ter sido bem maior que o limite permitido.
Vou te fazer uma proposta: lhe concedo uma hora para que você calcula a
velocidade necessária para que o efeito que você observou tenha ocorrido.
Passado este tempo, você tem duas opções: eu lhe aplico uma multa de R$
1.000 ou você paga uma multa no valor de 1 centavo para cada km que você
passou do limite permitido nesta rua”. O estudante, que tinha acabado de
concluir um curso de Teoria da Relatividade e lembrava da sua Óptica, sabia
que a luz verde tem um comprimento de onda entre 492 e 577 nm. Já a luz
vermelha, entre 622 e 780 nm. Tomando os valores médios λ̄verde = 535 nm
e λ̄vermelho = 700 nm, ele aplicou a fórmula de quem se aproxima da fonte
r
c−v
λ̄verde = λ̄vermelho (4.6)
c+v
Substituindo os valores acima ele chegou à conclusão que
v
β= = 0.2626 −→ v = 0.2626 c = 2.84 × 108 km/h (4.7)
c
o que implicaria numa multa de 2, 84 milhões de reais. Você obviamente
optaria pela multa de 1000 reais.
Questão 1. Uma nave espacial com duas fontes de luz.. Suponha que uma
espaçonave muito longa tenha em cada uma das extremidades fontes de luz de com-
primento λ popa = 700 nm e λ proa = 400 nm. A nave está praticamente alinhada
com você, tão próxima que você pode considerar que estão sobre a mesma linha.
Suponha que num dado instante você esteja mais ou menos entre os extremos da
nave, e vê a popa se aproximando enquanto a proa se afasta de você. Para qual
velocidade v0 da espaçonave as duas luzes parecerão, do seu referencial, como tendo
o mesmo comprimento de onda λ0 e qual o valor deste λ0 ?
Questão 3. Qual deve ser a velocidade de uma fonte que se afasta de nós para que
uma onda tenha o dobro do comprimento que tem no refencial da fonte? Expresse
r1
(x2 − x1 ) cos θ
r2
θ
x1 x2 x x’
Observador O
p Luz
1 + βr 1 − β2 1 + βr
T = T0 p , ν = ν0 , λ = λ0 p (4.13)
1−β 2 1 + βr 1 − β2
Observador (I) θ=π Fonte (I’)
θ = 0, cos θ = 1. Neste caso temos o efeito Doppler longitudinal puro com Fonte (I’)
1 + βr θ
λ = λ0 p (4.20) α − Centauri v
1 − β2
vθ
D
onde β r = vr /c, dada pela velocidade radial a estrela. A figura ao lado
esclarece melhor a geometria do problema.
Como θ
2
v = v2r + v2θ (4.21) Sol
temos que
Figura 4.5: A geometria do problema do
β2 = β2r + β2θ (4.22) efeito Doppler aplicado à α-Centauri.
e portanto a expressão para λ fica
1 + βr
λ = λ0 q (4.23)
1 − β2r − β2θ
Nosso objetivo é determinar β r pois uma vez determinado este valor pode-
mos determinar β e consequemente v. Sabemos porém que
λ0
= 1.000 073 (4.24)
λ
e, substituindo este valor na expressão acima, ficamos com uma equação de
segundo grau em β r , ou seja
2 2
λ0 λ0 λ0
1+ β2r + 2 β r + β2θ − 1 + = 0. (4.25)
λ λ λ
Após substituirmos o valor de λ0 /λ = 1.000 073 nesta expressão ficamos
com
β2r + 1.000 073 β r + 0.000 073 = 0 (4.26)
cujas raízes são
(1) (2)
βr = −1 , βr = −7.3 × 10−5 (4.27)
(1)
A solução β r = −1 pode ser descartada fisicamente pois implica em
|vr | = c, ao passo que a segunda raiz nos dá
O ângulo formado pela velocidade v da α-Cen com nosso Sol é dado por
±23.5
vθ
θ = arctan = arctan = arctan(±1.073) = ±133 ◦ (4.30)
vr −21.9
A velocidade radial negativa significa que α-Cen se aproxima de nosso
Sol,algo que já poderíamos ter deduzido pelo fato da variação do compri-
mento de onda ser negativa: a luz da estrela sofre um desvio para o azul e
portanto se aproxima de nós.
Questão 4. Uma fonte de luz se move em uma órbita circular com uma velocidade
de 0.5 c. Qual o desvio Doppler da linha amarela do Sódio quando observado do
f ( x, y, t) = A cos(2πF ) (4.31)
etiquetada passa por ele até o momento que ele chega no ponto P será
exatamente o mesmo contado por P 4 . Ou seja, 4
Por quê? Aparentemente este resultado
parece contraditório, mas há uma ma-
x̃ cos α̃ + ỹ sin α̃ neira relativamente simples de visuali-
F = ν̃ t̃ − . (4.34)
c̃ zar isto: estando P̃ mais à esquerda de
P, a onda etiquetada passa primeiro por
ele. A partir deste momento ele começa
4.2.1 O efeito Doppler clássico a contar as ondas que o atingem. As on-
das que passarem por ele eventualmente
No caso clássico, como as variáveis (x, y, t) e (x̃, ỹ, t̃) estão relacionadas por atingirão P. Em outras palavras: até o
uma transformação de Galileu podemos escrever momento em que P̃ atingir P, todas as
ondas que estiverem entre os dois são
( x̃ + vt̃) cos α + ỹ sin α
x̃ cos α̃ + ỹ sin α̃
ondas que já passaram pelo primeiro e
ν t̃ − = ν̃ t̃ − . (4.35) ainda passarão pelo segundo. Se eles
c c̃
contassem um número diferente de on-
das, significaria que houve o surgimento
Observando que os fatores que multiplicam as variáveis t̃ e x̃ devem ser as
de uma frente de onda do nada entre os
mesmas dos dois lados da igualdade, segue que dois.
v
ν̃ = ν 1 − cos α (Doppler clássico), (4.36)
c
bem como as relações
ν̃ cos α̃ ν cos α
= ,
c̃ c
ν̃ sin α̃ ν sin α
= . (4.37)
c̃ c
Destas equações obtemos
v 12 r
1− c−v
0 c
ν =ν v =ν . (4.41)
1+ c c+v
v
1−
ν0 ≈ ν 2c
v
1+ 2c
v v
≈ ν 1− 1−
2c 2c
2
v v
= ν 1− +O 2 , (4.42)
c c
n · vo
νo = νe 1 − , (4.44)
c
n · v n · vo
ν0 ≈ νo 1 − 1+
c c
· vo ) (n · v)
0 o n o ( n
ν = ν 1 − (v − v ) −
c c2
n ( n · v o ) (n · v)
ν 0 = ν o 1 − ( vr ) + (4.47)
c c2
Façamos agora a análise da viagem de Beatriz sob o ponto de vista dos dois
referenciais: primeiro do referencial de Alice, na Terra, (sistema S, tabela D.1)
e depois do referencial de Beatriz, a viajante (sistema S’, tabela D.2). Nossa
análise basear-se-á na contagem da troca de sinais entre as gêmeas e do
efeito Doppler relativístico.
a) Primeira parte da viagem de Beatriz Tabela 5.1: Viagem de Beatriz vista por
Alice.
a. Início t=0
b. Velocidade relativa de B v
T
d. Distância AU entre A e B quando d= 2v
B chega ao ponto de retorno U
q
1−v/c
e. Frequência dos sinais emitidos por B νB ida = ν0 1+v/c
e captados por A
T d
f. Tempo t1 no qual A fica sabendo do t1 = 2 + c
retorno de B
h. Velocidade relativa de B −v
q
1+v/c
i. Frequência dos sinais emitidos por B νB volta = ν0 1−v/c
e captados por A
a) Primeira parte da viagem de Alice vista por Beatriz Tabela 5.2: Viagem da Alice vista de seu
referencial próprio.
a. Início t0 = 0
b. Velocidade relativa de A −v
T0
d. Distância AU (contraído para B pois d0 = d
γ = 2 | − v|
para ela Alice e a estrela U estão em movimento)
q
1−v/c
e. Frequência dos sinais emitidos por A νA ida = ν0 1+v/c
e captados por B
h. Início t00 = T 0 /2
i. Velocidade relativa de A v
q
1+v/c
j. Frequência dos sinais emitidos por A νA volta = ν0 1−v/c
e captados por B
k. Distância d00 = d
γ = d0
0 00
l. Número de sinais de frequência νA volta NA volta = νA volta T2 = νA volta T2
emitidos por A e recebidos por B = ν0 vd (1 + v/c)
até seu retorno
dt0
dt = q (5.1)
u2
1− c2
Ou seja, haverá uma dilatação menor que aquela que ocorreria se a viagem
fosse realizada a velocidade constante com inversão abrupta. Porém há uma
dilatação do tempo, uma conclusão inescapável da equação acima.
Qual o argumento que devemos adotar? O da troca simultânea ou o de
Einstein? Embora o da troca simultânea não recorra a argumentos fora da
Relatividade Especial e neste sentido apresenta uma solução que não foge
ao escopo da teoria, a troca instantânea de referencial não é algo fisicamente
realizável pois corresponderia a uma aceleração infinita, de v para −v em
∆t0 = 0. Neste sentido o argumento Einsteniano é mais realista.
A Mecânica à qual Mach se refere é seu famoso tratado Die Mechanik in ihrer
Entwicklung, historisch-kritisch dargestellt (A Mecânica em seu desenvolvimento,
apresentada de maneira crítica e histórica), obra esta que muito influenciou
Einstein e toda uma geração de físicos contemporâneos a ele. Mach define a
massa da seguinte maneira:
(a) Proposição experimental: sob certas condições, corpos que se encontram
próximos um do outro geram acelerações em sentidos contrários na
direção da linha que os une.
(b) A relação entra suas massas é a relação inversa entre suas acelerações
tomada com sinal negativo
Notem que Mach não fala de força (que ele define porsteriormente como
sendo o produto desta massa pela sua aceleração) e, para aquilo que aqui
nos interessa, as duas proposições são suficientes. Basicamente o que Mach
diz é o seguinte: seja a B| A a aceleração sofrida pela partícula A devido a
sua interação com B, e a A| B a aceleração que o B sofre devido à presença de
A. A experiência mostra que a razão das massas m A /m B é uma constante
positiva e igual ao negativo da razão inversa das respectivas acelerações:
mA a B| A
=− (6.1)
mB a A| B
mA aC | A
=− , (6.2)
mC a A|C
mC a B|C
=− (6.3)
mB aC | B
ou seja,
m2 ∆v
m1 ∆v1 + m2 ∆v2 = 0 −→ =− 1 (6.6)
m1 ∆v2
y’
Figura 6.1: A colisão entre duas partí-
O’ culas A e B como vistas do referencial
Uy B’ I 0 (figura de cima) que se move com ve-
B locidade v na direção x em relação ao
ux B’ Ux B’
referencial I (figura de baixo). Notem
uy B’ que o observador em I 0 tem velocidade
O’ x’ nula. No referencial I ele tem uma velo-
uy A’
cidade v. Letras minúsculas representam
as velocidades antes da colisão; maiús-
Ux A’ ux A’ O’
A culas representam as velocidades após a
v
colisão.
y Uy A’
Uy B
B
ux B Ux B
uy B
O x
Uy A
uy A
A
0 1 uyB q uyB
uyB = B = 1 − β 2
uB v
(6.10)
γ 1 − ux v 1 − cx2
c2
p = m(u)u (6.13)
onde as massas agora são diferentes para cada corpo uma vez que esta
deve depender da sua velocidade. Partindo então da situação simétrica do
0 0
referencial I 0 , onde temos duas velocidades iniciais uyA = −uyB as equações
A B
(6.10) e (6.11) nos dão os valores de uy e uy diretamente
1
uyA = uyB u xB v
(6.15)
1− c2
0 u xB − v
u xB = v = u xB v
(6.17)
1− c2
dx dx dx
p = γm0 u = γm0 = m0 1 = m0 (6.22)
dt γ dt dτ
dv dŝ v2
a= ŝ + v = as + n̂ (6.32) n
dt dt R
Ou seja, recuperamos o conhecido resultado que num movimento curvilíneo
temos uma aceleração centrípeta, responsável pela mudança da direção
da velocidade e uma aceleração tangencial, responsável pela mudança do a
ou seja,
u2
1 3 2d d
m0 γ u + γu u · u = u · F. (6.37)
2 u dt c2 dt }
| {z
1 du2
2 dt
d u2 1 d u2 c2
1
m0 γu3 u2 + = u · F, (6.38)
2 dt c2 γu2 dt c2
Isto se reduz à
u2
1 m0 d
( u2 + c2 − u2 ) = u·F (6.40)
2 (1 − u22 )3/2 dt c2
c
ou seja,
m0 c2 u2
1 d
= u·F (6.41)
2 (1 − u22 )3/2 dt c2
c
Notando que o termo do lado esquerdo desta equação corresponde à deri-
vada temporal de m0 γu c2 podemos escrever a expressão como
m0 c2
d
= u·F, (6.42)
dt (1 − u22 )1/2
c
que é equivalente à
m0 c2
d u2 1/2
= F · |{z}
u dt = F · dr . (6.43)
(1 − c2
) dr
m c2
q 0 . (6.45)
2
1 − uc2
Esta grandeza, que não é a energia cinética do corpo (pois não é nula para
u = 0) é chamada de energia total E da partícula:
m0
E= q c2 = m(u)c2 = mc2 (6.46)
u2
1− c2
E0 = m0 c2 . (6.47)
Para termos uma noção da orgem de grandeza desta energia, para que esta
mesma massa tivesse uma energia cinética deste valor, segundo a mecânica
newtoniana ela teria que ter uma velocidade u dada pela expressão
s
1 2 2K
K = m0 u −→ u = (6.49)
2 m0
energia cinética seja n vezes maior que sua energia de repouso é dada pela
equação
s
1 1
n= q − 1 −→ u = c 1 −
. (6.53)
1− u2 ( n + 1)2
c2
m c2
q 0 + U = K + U + m0 c2 = constante (6.54)
u2
1 − c2
p2
Hclássico = K + U = + U (q) (6.55)
2m
onde por clássico queremos dizer não relativístico. As equações do movimento
são obtidas via
∂H dp ∂H dq
=− ; = (6.56)
∂q dt ∂p dt
Se quisermos obter uma relação entre energia e momentum para poder
então escrever o Hamiltoniano de modo que seja relativisticamente correto,
podemos proceder da seguinte maneira: consideremos uma partícula de
velocidade u no referencial I mas que, para um referencial I 0 que se move
com velocidade v em relação à I, sua velocidade seja u0 . Como a massa de
repouso m0 é um invariante, podemos escrever a energia total da partícula
nos diferentes referenciais como
E = K + m0 c2 , E 0 = K 0 + m0 c2 , (6.57)
E0 + vp0x
py = p0y ; pz = p0z ; E= q (6.60)
2
1 − vc2
E
p x , py , pz , (6.61)
c2
se transformam exatamente como as coordenadas x, y, z, t. Portanto, da
mesma maneira que o intervalo
c2 t2 − x 2 − y2 − z2 = c2 t 02 − x 02 − y 02 − z 02 (6.62)
é um invariante, a grandeza
E2 E 02
2
− p2 = 2 − p02 = m20 c2 (6.63)
c c
A importância deste resultado está também no fato que ele nos permite
achar uma relação entre a energia e o momentum de partículas de massa de
repouso zero, como por exemplo o fóton. Para o caso do fóton em particular
temos
hν
E = pc → hν = pc → p = = h̄ k (6.65)
c
m c2
0
m0 c2 9 × 1014
= = 1.8 × 1011 (6.67)
K 5 × 103
ou seja, a energia de repouso é quase 200 bilhões de vezes maior que a
energia cinética do projétil. Isto significa, segundo a relatividade, que a
energia total do projétil em movimento ou em repouso é praticamente a
mesma, pois a energia cinética representa uma correção na energia total
na 11ªcasa decimal. Imaginemos agora a situação em que estamos num
avião que voe à 3600 km/h, ou seja, tenha a mesma velocidade do projétil
lançado do solo na mesma direção do nosso avião. Poderíamos pegar o
projétil com a mão sem nos ferirmos, algo que obviamente não faríamos
se estivéssemos parados em relação ao fuzil. Embora o projétil parado e
o projétil em movimento tenham energias cinéticas muito diferentes – e
está diferença é fundamental para os danos que ele posso nos causar – em
ambas as situações a energia de repouso está, digamos, escondida e por
este motivo não contribui para um eventual dano que o projétil possa nos
causar. A energia de repouso não se manifesta e simplesmente podemos
desprezá-la: todas as energias relevantes podem ser medidas tomando a
energia de repouso como nível “zero” de energia. Mas é justamente nesta
constatação que está a chave para verificarmos sua realidade: seu processo
de conversão. Afinal, uma das características da energia é a possibilidade
de sua conversão em outras formas de energia. Neste sentido, se houver
experimentos que mostrem a conversão de massa de repouso em outras
formas de energia, então mO c2 é efetivamente uma energia e não apenas
um denominador comum na dinâmica de um corpo que pode ser, digamos,
cancelado em ambos os lados da equação.
A conversão de energia de repouso em outras formas de energia é real e
ocorre em diferentes sistemas físicos, como discutiremos adiante. O caso
mais emblemático é o da chamada aniquilação de pares, ou seja, aquela entre
uma partícula e sua antipartícula. No caso da aniquilação elétron-pósitron
e− + e+ −→ γ, ambas as partículas deixam de existir e surge um fóton γ
cuja energia é a soma das energias cinéticas antes da colisão e de sua energias
de repouso. Nos processos de aniquilação de pares há uma conversão total
de massa de repouso em energia cinética, mas há processos outros onde
uma fração da massa de repouso é convertida. Segundo Matveev 11 : 11
A.N. Matveev, op.cit., p. 182–183.
reações nucleares. Estes são processos usados nas reatores nucleares para
geração de energia.
por processos nucleares obrigatoriamente passa pela discussão da energia de Mir, Moscou, 1987, pp. 133 – 135.
ligação entre os constituintes do átomo em questão.
À toda força atrativa está associada uma energia potencial negativa. Pensemos
no caso de um corpo sobre a superfície da Terra. À velocidade de escape do
corpo é aquela cuja energia cinética associada é suficiente para levar o corpo
a um ponto infinitamente distante, onde então sua energia total será zero.
Assim como K + U = 0, segue que U deve ser negativo no caso de potenciais
atrativos. Pensemos porém o caso da energia relativística. Tomemos um
satélite gravitando em torno da Terra. A soma da energia total e potencial
E + U do satélite em órbita deve ser menor que sua energia de repouso,
ou seja E + U < m0 c2 . Imaginemos que o contrário fosse verdadeiro, ou
seja, E + U > m0 c2 . Por conservação de energia seria possível então o
satélite ir para r → ∞, onde U = 0 e teríamos E > m0 c2 . Isto obviamente é
verdade pois a energia de uma partícula que não esteja sob ação do potencial
é sempre maior (no mínimo igual) à sua energia de repouso. Já quando
E + U < m0 c2 , o satélite e a Terra formam um estado ligado e não tem como
o satélite se desprender do campo gravitacional, pois para termos U = 0 e
a equação acima implicaria em E < m0 c2 . Como nenhum corpo pode ter
energia menor que sua energia de repouso, então a condição que tenhamos
um estado ligado (bound state) se resume à
E+U < m0 c2
( E − m 0 c 2 ) +U < 0
| {z }
=K
K+U < 0 (6.68)
ou seja,
Mnuc = M0p + M0n − ∆Mnuc (6.71)
A grandeza ∆Mnuc = ∆Enuc /c2
é chamada de defeito de massa (mass defect) do
núcleo. Para um núcleo pesado de número atômico Z e número de massa A
esta relação pode ser escrita como
∆Enuc
e= (6.73)
A
d d
(mv) = F | (γmv) = F (7.1)
dt dt
F Ft/m vcl
vcl = t = acl t. | vrel = r 2 = q . (7.3)
m vcl 2
1 + mcFt 1 + c
A expressão para vrel deduzida acima, embora correta, não deixa explícita
o fato que nenhum corpo com massa m pode ter uma velocidade igual ou
superior a da luz, pois classicamente a expressão para vcl não tem limite
superior. Porém, de acordo com a relatividade, à medida que aumenta a
velocidade há um aumento de massa inercial. Isto implica que sendo F uma
força constante, a aceleração não mais o será, diminuindo com o tempo.
Para ver isto basta reescrever a expressão acima em termos da aceleração do
122 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
acl t c
vrel = r 2 = r , (7.4)
c2
1 + aclc t 1+ a2cl t2
Z t
acl t
x (t) = r 2 dt, (7.6)
0
1 + aclc t
cuja solução é
s
c2 acl t 2
x (t) = 1+ − 1 . (7.7)
acl c
acl
a(t) = acl = constante | a(t) = r 2 . (7.9)
1 + aclc t
pela expressão:
v
a2cl t2
s u
v2
Z t Z tu
c2
= 1− dt = t1 − dt
u
τ
0 c2 0 a2 t2
1 + clc2
c acl t
= arcsinh
acl c
s
c a cl t a2cl t2
= ln + 1+ 2 . (7.10)
acl c c
eE
Vamos olhar agora para o caso de uma partícula de carga e positiva com
velocidade inicial v0 = (v x , vy ) = (0, v0 ) que se mova entra as placas de um −
capacitor plano cuja dimensão é suficientemente grande para que o campo E
possa ser considerado constante. Este problema é equivalente ao lançamento
x
rel 2 t→∞
q
vrel = (vrel 2
x ) + ( vy ) −→ c. (7.18)
que é o resultado por nós obtido para o caso clássico, a última expressão da
eq. (7.14).
dp
= ev×B (7.24)
dt
Diferente dos outros casos porém, no caso em questão as equações não
são apenas idênticas na forma, mas também no conteúdo. Isto ocorre
pois o campo magnético não realiza trabalho sobre a carga e portanto sua
energia permanece constante. Sabemos obviamente que as expressões para
os respectivos momenta são diferentes no caso clássico e no caso relativístico.
Usando então a relação (7.16), i.e. p = cE2 vrel podemos escrever a expressão
acima como
dvrel ec2
= v × B. (7.25)
dt E rel
Para efeito de comparação, a equação para o caso clássico quando p = mv é
dv e
= v × B. (7.26)
dt m
Portanto, as equações nos dois casos diferem apenas no fator que multiplica
o termo v × B. Vamos escolher o vetor B como tendo a direção do eixo z
positivo, i.e B = Bk̂. Temos assim, nos dois casos
dv eB dvrel ec2 B
= v × k̂ | = vrel × k̂ (7.27)
dt m dt E
Os dois termos que multiplicam o produto vetorial
s
eB ec2 B eB ω v2
ωcl = ωrel = = = cl = ωcl 1− (7.28)
m E mγ γ c2
dv x dvy dvz
= ω vy ; = −ω v x ; =0 (7.29)
dt dt dt
onde, dependendo do caso, usamos ωcl ou ωrel , têm uma solução que pode
ser obtida pelos métodos tradicionais na forma
vx = v0 cos(ωt + α)
vy = −v0 sin(ωt + α) (7.30)
dM + dM0 = 0 (7.31)
d dM
( Mv) = u . (7.34)
dt dt
Esta equação vale quer estejamos lidando com o caso clássico, quer com o
caso relativístico.
dv dM dM
M = (u − v) = u0 (7.36)
dt dt dt
que tem a vantagem sobre a equação anterior por ser u0 conhecida ao longo
do processo. Este detalhe é crucial na solução do foguete clássico: embora o
foguete represente um referencial inercial diferente a cada instante de tempo,
na mecânica clássica todos as velocidade e seus respectivos incrementos
se adicionam linearmente. Portanto não importa se a equação por nós
obtida diz respeito a um único referencial inercial ou a vários. A velocidade
final pode ser obtida integrando esta equação diretamente. Chamamos
atenção para isto pois esta fato – a aditividade de velocidades a la Galileu – é
fundamental para que cheguemos à (7.36). Isso porém não se aplica ao caso
relativístico pois as velocidades (ou seus incrementos) não se adicionam
diretamente, como veremos posteriormente. Caso o foguete esteja sob a
ação de uma força externa F a equação acima se torna
dv dM
M = F + u0 (7.37)
dt dt
Esta equação descreve o movimento de foguetes não relativísticos sujeitos à
ação de uma força externa. Na astronáutica costuma se definir a grandeza µ
como sendo a taxa temporal de consumo de combustível via µ = −dM/dt >
0, de modo que a equação acima é normalmente escrita como
dv
M = F − µu0 (7.38)
dt
A força µu0 é chamada de força reativa do foguete. A equação acima nos diz
que se v e u tem mesma direção mas sentidos opostos, o foguete é acelerado.
Caso tenham o mesmo sentido, o foguete é desacelerado. Para quaisquer
outras direções destes dois vetores, não apenas a velocidade do foguete
muda em módulo como também direção.
constante e não há forças externas atuando sobre o foguete. Neste caso (7.36)
se torna
dv dM
M = −u0 (7.39)
dt dt
Supondo que o foguete tenha uma velocidade inicial v0 e uma massa inicial
M0 , e escrevendo a equação acima como
dM dv
=− 0 (7.40)
M u
uma integração simples nos leva à
M 0
v − v0 = u0 ln 0 ⇔ M = M0 e−(v−v0 )/u . (7.41)
M
Esta é a famosa fórmula de Tsiolkovsky para um foguete clássico, deduzida
em 1903 por K. Tsiolkovsky 5 . Ela pode ser usada para se determinar qual 5
K. E. Tsiolkovsky, Selected works of Kons-
a mudança de velocidade do foguete dada uma mudança de sua massa (eq. tantin E. Tsiolkovsky, University Press of
à esquerda) ou qual sua nova massa conhecida sua mudança de velocidade the Pacific, Honolulu, 2004.
(eq. à direita). É possível ver por esta equação que a velocidade do foguete
será tanto maior quanto maior a razão M0 /M.
Se nosso objetivo for enviar uma nave ao espaço com o menor consumo
possível de combustível, ou seja para a menor diferença possível entre M0
e M, uma velocidade final suficientemente grande só pode ser atingida
aumentando-se a velocidade de escape dos gases. Porém, na vida real as
velocidades de ejeção de gases são da ordem de 4 ∼ 5 km/s. Portanto
se faz necessário usar uma outra idéia de Tsiolkovsky para imprimir a
espaçonaves velocidades grandes o suficiente: um foguete de vários estágios.
A vantagem dos estágios está não apenas na possibilidade de levar mais
combustível como também se livrar do peso dos tanques e motores pois
uma vez fora de uso eles representam uma massa que não faz parte da carga
útil (payload) que se deseja enviar. Por exemplo, se quisermos levar uma
espaçonave para além do campo gravitacional terrestre, é preciso imprimir
a ela uma velocidade de 11.5 km/s. Considerando que a velocidade inicial
de lançamento é v0 = 0 e a velocidade típica de ejeção u0 = 4 km/s, ao
substituirmos estes valores em obtemos
11.5 M
M = M0 exp − −→ M ≈ M0 e−3 ≈ 0 , (7.42)
4 20
ou seja, apenas 5% da massa total do foguete poderá ser levada para além da
atração gravitacional terrestre. Na realidade a situação é mais desfavorável
pois não estamos levando em conta na equação acima a resistência da
atmosfera sobre o foguete durante os primeiros 100 km da sua subida.
Como exemplo de aplicação, tomemos o foguete Saturn V, utilizado no
projeto Apollo para enviar o homem à lua. Coloquemos o problema da
seguinte maneira: a carga útil projetada para ser colocada em TLI 6 era de 6
TLI = trans-lunar insertion, a manobra
M = 48600 kg, que era a massa do módulo lunar mais módulo de comando. necessária para se colocar a espaçonave
A velocidade a ser atingida era de 7.8 km/s. Repetindo o cálculo acima, numa trajetória que a levará à Lua.
sendo 2.58 km/s a velocidade de ejeção dos gases, teríamos
7.8 M
M = M0 exp − −→ M ≈ M0 e−3 ≈ 0 , (7.43)
2.58 20
M0
M= q (7.44)
v2
1− c2
M0 vu x dv dM0
2 2
1− 2 = (u x − v) (7.49)
1 − v /c c dt dt
De novo, é mais conveniente expressarmos a equação acima em termos da
velocidade de ejeção u0x dos gases medido no referencial do foguete. Pela
transformação de Lorentz sabemos que
ux − v
u0x = . (7.50)
1 − u x v/c2
Quando substituimos este valor na expressão que acabamos de deduzir,
chegamos a uma expressão de forma mais simples:
v2 dM0
dv
M0 = 1− u0x (7.51)
dt c2 dt
De novo, notamos que a velocidade de ejeção dos gases deve ser direcionada
no sentido contrário à v para que o foguete seja acelerado, ou seja, u0x = −u0
onde u0 é a magnitude da velocidade de ejeção. De maneira análoga ao caso
anterior podemos reescrever esta equação como
dM0 1 dv
=− 0 (7.52)
M0 u 1 − v2 /c2
1 1 1 1 1
2 2
= + (7.53)
1 − v /c 2 1 − v/c 2 1 + v/c
a integral é trivial e nos leva finalmente à
M0
c 1 + v/c 1 + v0 /c
ln 0 = − 0 ln − ln
M0 2u 1 − v/c 1 − v0 /c
(1 + v/c)(1 − v0 /c)
c
= − 0 ln (7.54)
2u (1 − v/c)(1 + v0 /c)
c+v v
≈ 1+2 (7.57)
c−v c
e também n
1
lim 1+ =e (7.58)
n→∞ n
Consideremos um exemplo no qual queremos acelerar um foguete à velo-
cidade de c/2 usando combustível químico, como de praxe, de tal modo
que u0 = 4 km/s. Quanto da massa inicial deverá ser ejetada neste caso?
Segundo a expressão acima temos
3×105
M00 M00
0 1/2 2×4
M = M00 ≈ ≈ (7.59)
3/2 3 3/8×105 1020000
Questão 1.1. Utilizando a fórmula clássica v = v0 + gt, estime o tempo que uma
espaçonave, partindo de uma velocidade inicial v0 = 0, demoraria para atingir uma
velocidade final c (classicamente a velocidade c não é um limite físico para corpos
com massa).
Com esta equação e uma aceleração de g, estime qual será a velocidade da espaçonave
passado 1 ano do início da viagem (visto por um observador na Terra) e qual a
velocidade passados 2 anos.
Esta equação nos permite estimar, passado um certo tempo, a distância que
a espaçonave terá percorrido.
Questão 1.3. Estime a distância que a nave estará de nosso planeta passados 1 e 2
anos, respectivamente.
A expressão que acabamos de usar para x (t) nos permite calcular o tempo,
do nosso ponto de vista na Terra, que a nave levaria para percorrer uma
distância igual a toda a extensão do universo.
Questão 1.4. Estime o tempo em anos que a nave levaria para percorrer uma
distância de 28.5 Gigaparsecs.
Lembrando da definição
p
arcsinh x = ln( x + 1 + x2 ) (7.65)
Questão 1.5. Usando as equações acima para x (t) e a relação t(τ ), mostre que a
fórmula que expressa x como função de τ, isto é, x = x (τ ) é dada por
c2
a τ
x= cosh cl −1 (7.67)
acl c
Questão 1.6. Estime o intervalo de tempo próprio (em anos) que os tripulantes de
nossa nave precisaram para chegar aos confins de nosso Universo.
pois sempre teremos que lidar com muitas somatórias e podemos nos perder
nas contas. Por isso usaremos a partir de agora a notação de Einstein, ou
seja, sempre que dois índices aparecem repetidos numa expressão, significa
que sobre eles é feita uma soma, isto é
de f . n
A = Ai ei ≡ ∑ Ai ei (8.2)
i =1
A = Aµ eµ (8.3)
Aµ = A · eµ (8.4)
Aν = A · eν = Aµ eµ · eν = gµν Aµ (8.6)
| {z }
gµν
136 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
é um invariante, onde
1 0 0 0
0 −1 0 0
gµν = (8.8)
0 0 −1 0
0 0 0 −1
A = ( A0 , A1 , A2 , A3 ) ou A = ( A0 , A1 , A2 , A3 ). (8.9)
Pela equação (8.6) sabemos, em função da métrica gµν , que a relação entre
as componentes covariantes e contravariantes vale:
A0 = A0 ; A1 = − A1 ; A2 = − A2 ; A3 = − A3 (8.10)
e portanto
A2 = ( A0 )2 − ( A1 )2 − ( A2 )2 − ( A3 )2 (8.11)
2
A 6= ( A0 )2 + ( A1 )2 + ( A2 )2 + ( A3 )2
e façamos o produto
Com isto ficamos então com as expressões que relacionam uma representa-
ção do vetor à outra representação:
Aµ = gµν Aν , Aµ = Aν (8.14)
Estas equações gerais nos mostram que num sistema de coordenadas or-
tonormais, eµ eν = δµν , gµν = δµν e portanto Aµ = Aµ : simplesmente a
diferença entre coordenadas covariantes e contravariantes desaparece.
A2 = A · A = gµν Aµ Aν = Aν Aν (8.16)
eν = Λν e0λ
λ
(8.19)
λ
Qual a relação entre Λνµ da transformação direta e Λµ da transformação
inversa? Podemos achar isto combinando (8.18) e (8.19) para escrever:
Vamos agora entender como um vetor posição r muda por uma transforma-
ção arbitrária como a que discutimos acima. Vamos projetá-lo em termos de
variáveis contravariantes, o seja, paralelas aos eixos ordenados. Podemos
escrever este vetor de duas formas:
x ν eν = x 0µ e0µ , (8.22)
pois o vetor é o mesmo, o que muda são suas projeções nos diferentes eixos.
De novo, das equações (8.18) e (8.19) podemos escrever
x ν Λν e0µ x 0µ e0µ
µ
=
x ν eν = x 0µ Λνµ eν (8.23)
x 0µ = Λν x ν ; x ν = Λνµ x 0µ
µ
(8.24)
e0µ A0µ = Λν Aν
µ
= Λνµ eν
e0µ = Λνµ eν
A0µ = Λνµ Aµ
Λν e0µ Aν = Λν A0µ
µ µ
eν =
(8.26)
Isto foi ilustrado com alguns exemplos simples acima. Lembremos que
quando estamos lidando com referenciais ortonormais, a diferença entre
tensores covariantes e contravariantes não existe.
x0 0 = γ( x0 − β x1 )
x0 1 = γ( x1 − β x0 )
x0 2 = x2
x0 3 = x3 . (9.2)
x0 0
γ −γβ 0 0 x0
x0 1 −γβ γ 0 0 x 1
0 2 =
x 0 0 1 0 x 2
x0 3 0 0 0 1 x3
x0 µ
µ
= Lν x ν (9.3)
Esta notação tem em si uma vantagem pois, como sabemos, ela também se
aplica aos deslocaments infinitesimais no espaço-tempo da TER
dx 0 µ = Lν dx ν
µ
(9.4)
temos
ds2 = dxν dx ν
(Lν dxµ0 ) (Lνσ dx 0σ )
µ
=
(Lν Lνσ ) dxµ0 dx 0 σ
µ
=
δσ dxµ0 dx 0 σ
µ
=
= dxµ0 dx 0 µ (9.7)
µ µ
Convém lembrar que a inversa Lν (v) = Lν (−v), ou seja é dada simples-
µ
mente com a troca de v por −v. Com isto é fácil demonstrar que Lν Lνσ = 1.
Mas talvez o mais interessante é notarmos que há outras grandezas que se
transformam de uma maneira semelhante. Quanto estudamos as relações
entre energia e momentum para chegarmos à famosa equação E = m(γ)c2
mostramos que para estas grandezas obtivemos as equações
p0x = γ p x − vE/c2
p0y = py
p0z = pz
E0 = γ ( E − vp x ) (9.8)
Este resultado é bastante significativo pois se olharmos mais atentamente
veremos que as grandezas
E
, p x , py , pz . (9.9)
c
se transformam exatamente como as coordenadas (ct, x, y, z). Portanto, da
mesma maneira que o intervalo
c2 t2 − x 2 − y2 − z2 = c2 t 02 − x 02 − y 02 − z 02 (9.10)
é um invariante, a grandeza
E2 E 02
2
− p2 = 2 − p02 = m20 c2 (9.11)
c c
também é um invariante e tem o valor igual à m20 c2 ( para chegar à última
expressão usamos o fato que E2 = m2 c4 e p2 = γ2 m20 u2 ). Com isto chegamos
à famosa relação relativística entre energia e momentum
q
E2 = ( pc)2 + (m0 c2 )2 −→ E = p2 c2 + m20 c2 (9.12)
O que estes resultados ressaltam é o fato que, sendo o espaço-tempo qua-
dridimensional, podemos definir vetores que “vivem” neste espaço e que
se transformam exatamente da mesma maneira que os intervalos, ou seja,
µ
pela mesma matriz Lν . Definimos assim os quadrivetores como o 4-tuplo
de números A = ( A , A1 , A2 , A3 ) que se transformam segundo:
0
A0 0 = γ ( A0 − β A1 )
A0 1 = γ ( A1 − β A0 )
A0 2 = A2
03
A = A3
A0µ Lν A0ν
µ
= (9.13)
com
A2 = Aµ Aν = Aν Aν = A0ν A0ν
ou
A filosofia por trás dos quadrivetores é que eles são os entes matemáti-
cos “naturais” no espaço pseudo-euclideano da relatividade restrita, trans-
formando-se de um referencial para outro de maneira “trivial”. Vamos
então tentar achar quem são estes quadrivetores pois uma vez familiari-
zados com estas novas grandezas, muitos dos resultados da TER podem ser
estendidos de maneira simples para áreas correlatas, como por exemplo a
eletrodinâmica e a óptica. Comecemos então pela quadrivelocidade.
9.1 A quadrivelocidade
Partindo da definição do quadrivetor posição R = (ct, r) = (ct, x, y, z) =
( x0 , x1 , x2 , x3 ) parece natural definir a quadrivelocidade V como
dR
V= (9.15)
dt
O problema com esta definição é o fato que dt não é um escalar invariante
por transformações de Lorentz. O intervalo temporal invariante é o tempo
próprio, ou seja, o tempo medido por um relógio que se move junto à
partícula de velocidade u, isto é o tempo medido no referencial no qual a
partícula está parada. Recordando brevemente p o conceito, lembremos que
se uma partícula tem um deslocamento dl = dx2 + dy2 + dz2 segundo um
referencial inercial, no referencial da partícula dl 0 = 0. Porém, devido à
invariância do intervalo ds2 temos que
ou, explicitamente
dx α dx α
Uα = =γ = γ uα ,
dτ dt
dx0
U0 = γ = γc,
dt
ou
U = (γc, γu x , γuy , γuz ) (9.19)
γ0 u0 x = Γ[γu x − B(γc)]
γ0 u0 y = γuy
0 0z
γu = γuz
γ0 c = Γ[γc − B(γu x )] (9.23)
γ 1
= (9.24)
γ0
vu x
Γ 1− c2
γ ux − v
u0 x = 0 Γ (u x − v) = x
γ 1 − vu
c2
γ y uy
u0 y = 0 u = x
γ Γ 1 − vu
c2
γ z uz
u0 z = 0 u = x
γ Γ 1 − vu
c2
(9.25)
dU
d d
A = = ( γ c ), (γ u)
dτ dτ dτ
d d
= γ ( γ c ), γ ( γ u ) (9.26)
dt dt
P = m0 U = (m0 γ c, m0 γ u) (9.29)
dP
d d
F= = γ ( m0 γ c ), γ ( m0 γ u ) (9.30)
dτ dt dt
A primeira pergunta que devemos nos fazer é com relação à cargas elétricas
que, como sabemos, são as fontes dos campos elétrico e magnético. Da
mesma maneira que a massa desempenha um papel fundamental nas leis da
mecânica, a carga tem um papel semelhante no eletromagnetismo. Porém,
como já pudemos ver, a massa inercial não é um invariante relativístico e
muda com a velocidade. A carga, porém, é invariante. Trata-se de um fato
experimental, comprovado de diferentes formas.
Se considerarmos por exemplo o fato que a velocidade do elétron no estado
fundamental do Hidrogênio é da ordem de ∼ c/137 ∼ 0.0073c, ao passo
que o próton do núcleo é praticamente estacionário, se a carga do elétrono
dependesse de sua velocidade o átomo de Hidrogênio se nos mostraria
como tendo uma carga. Vários experimentos nesta direção foram feitos
a partir dos anos 60 por J.G. King no MIT e extendidos para átomos e
moléculas mais complexas 2 . A idéia básica é a de encerrar um gás em um 2
J. G. King, Phys. Rev. Letters 5, 562
container metálico inicialmente neutro – no trabalho original de King foram (1960); V.W. Hughes, L.J. Fraser, E.R. Carl-
usados 17 g de H2 (aproximadamente 5 × 1024 moléculas). Para evitar que son, Zeit. Physik D - Atom. Mol. Clusters
10, 145 (1988).
eventuais íons, elétrons livres e partículas de poeira carregadas escapassem
do câmara metálica, havia na saída do gás um deionizador (capacitor) que
permitia que apenas moléculas com uma carga elétrica hipotética de 10−18 C
pudessem escapar. Como o conjunto container + gás eram inicialmente
neutros, se as moléculas que escapassem possuíssem uma carga diferente
de zero, surgiria no container metálico uma carga de valor absoluto igual à
carga que escapara. Na hipótese de uma diferença entre a carga do elétron e
do próton de 1 parte em 102 0, o container adquiriria uma carga de
onde |e| é o valor absoluto da carga elementar do elétron. Nenhuma carga foi
observada no container. Outros experimentos importantes que comprovam
a invariância da carga com a velocidade são aqueles que estudam a ação de
forças sobre cargas em movimento que, segundo a TER obedecem à equação
d m0 u
√ = qE+qu×B (10.2)
dt 1 − u2 /c2
Experimentos com elétrons com energias cinéticas de 25 GeV (u = 0 999 999 999 8 c)
e prótons com 7 TeV (u = 0 999 999 991 3 c) comprovaram que esta equação
se aplica a estas altíssimas velocidades com os valores conhecidos para a
carga destas partículas elementares.
densidade de carga − λ0
eletrons em movimento
v0
REFERENCIAL
LABORATORIO
E=0
q x
v
carga−teste em movimento
eletrons
em movimento
v’0
REFERENCIAL r
CARGA TESTE
q x
F’ = q E’
Assim, o fator de Lorentz γ00 que devemos usar para calcular como a den-
sidade linear de elétrons em seu referencial próprio (λe ) muda quando
passamos para o referencial da partícula teste é
2 1
γ00 = (1 − β00 )− 2 . (10.7)
Questão 2.1. Mostre, usando um pouco de álgebra, que a expressão acima pode ser
reescrita como:
γ00 = γγ0 (1 − ββ 0 ) (10.8)
γ00
λ0 = γλ0 − λ
γ0 0
λ
= γλ0 − 0 γγ0 (1 − ββ 0 )
γ0
= γββ 0 λ0 . (10.9)
Deste modo, cada pedaço do fio tem uma densidade líquida λ0 positiva e
que gera, a uma distância r do fio, um campo elétrico de magnitude
λ0
E0 = r̂ (10.10)
2πe0 r
dpy dp0y
Fy = , Fy0 = = (10.12)
dt dt0
Porém, como mostramos em uma de nossas aulas, as componentes do
momentum se transformam exatamente da mesma maneira que as coor-
denadas x, y, z se transformam quando passamos de um referencial para
outro (equações 6.59 e 6.60 das notas de aula):
βγ E
p0x = γp x − ; p0y = py ; p0y = py . (10.13)
c
Questão 2.2. Usando o fato que ∆p0y = ∆py , segundo o resultado acima, e que
∆t0 = γ∆t, mostre que
Fy
Fy0 = (10.14)
γ
1 qλ0
Fy = −
γ 2πe0 r
1 q (γββ 0 λ0 )
= −
γ 2πe0 r
qββ 0 λ0
= − . (10.16)
2πe0 r
Olhando para esta expressão e reconhecendo que −λ0 v0 é a corrente I que
passa pelo fio e β = v/c onde v é a velocidade da carga teste na direção do
eixo x positivo, a expressão acima se reduz à
− I/c
q z }| {
Fy = − β β 0 λ0 . (10.17)
2πe0 r |{z}
v/c
q vI
Fy = . (10.18)
2πe0 r c2
µ I
onde identificamos o termo 2π0 r como o campo magnético B gerado a uma
distância r de um fio pelo qual passa uma corrente I.
Este resultado mostra que dependendo do referencial inercial em que nos
encontramos, a força pode ser vista como resultado da atuação de um campo
elétrico ou de um campo magnético. Isto tem consequências bastante profun-
das na nossa discussão subsequente pois implica que não é possível achar
um quadrivetor que corresponda à E ou B separamente, uma vez que por
uma mudança de referencial estes vetores se misturam. Quadrivetores não
podem mudar sua natureza por mudanças de referencial. Precisamos assim
de um objeto mais geral, que contenha em si as componentes dos campos
E e B de tal modo que por transformações de Lorentz estas componentes
sejam transformadas umas nas outras. Este objeto é o tensor de campo
eletromagnético, um quadritensor.
D = eE, B = µH (10.20)
∇·B = 0 ∇ · H = 0, (10.24)
D = e0 E + P B = µ0 ( H + M ). (10.26)
f = ρ (E + v × B) (10.27)
ou f é a densidade de força.
Visando facilitar a discussão, vamos aqui nos concentrar nas equações de
Maxwell no vácuo e na ausência de cargas e correntes. Temos neste caso:
∂E
∇×B = e0 µ 0 ∇·B = 0
∂t
∂B
∇×E = − ∇·E = 0 (10.28)
∂t
Queremos ressaltar neste capítulo, como já enfatizado anteriormente, que as
equações de Maxwell já vem relativisticamente “prontas”. Para mostrar va-
mos relembrar alguns fatos importantes do curso de teoria eletromagnética:
em se tratando de equações de Maxwell, é conveniente expressar muitas
vezes os campos E e B em termos do potencial escalar φ e do potencial vetor
A. Sendo ∇ · B = 0 é possível definir B em termos de um potencial vetor A
via
B = ∇ × A. (10.29)
A priori a introdução desta grandeza representa apenas uma transformação
matemática pois o divergente do rotacional de um vetor a qualquer é sempre
igual a zero: ∇ × (∇ · a) = 0. Se um campo vetorial tem circulação, ele não
pode ter fluxo. Se substituírmos esta expressão na equação acima para o
rotacional de E obtemos
∂ ∂A
∇×E = − ∇×A −→ ∇× E+ =0 (10.30)
∂t ∂t
∂A ∂A
E+ = −∇φ −→ E = −∇φ − (10.31)
∂t ∂t
∂
∇2 φ + (∇ · A) = 0
∂t
1 ∂2 A
2 1 ∂φ
∇ A− 2 2 −∇ ∇·A+ 2 = 0 (10.33)
c ∂t c ∂t
Com isto conseguimos reduzir um conjunto de quatro equações para apenas
duas, mas ainda acopladas. É possível desacoplar estas equações usando
a arbitrariedade na definição de B em termos de A. O potencial vetor é
arbitrário pois sempre podemos adicionar a ele o gradiente de uma função
escalar Λ arbitrária, pois pela transformação
A → A0 = A + ∇ Λ (10.34)
B permanece inalterado. Para que isto porém não afete o campo elétrico,
somos obrigados a redefinir o potencial escalar segundo
∂Λ
φ → φ0 = φ − (10.35)
∂t
Esta liberdade nos permite escolher um conjunto de potenciais (A, φ) de
tal modo a tornar o termo entre parênteses na segunda equação em (10.33)
nulo:
1 ∂φ
∇·A+ 2 = 0. (10.36)
c ∂t
Esta escolha nos permite desacoplar as duas equações para Φ e A e escrever
1 ∂2 φ
∇2 φ − = 0 → 2φ = 0
c2 ∂t2
1 ∂2 A
∇2 A − 2 2 = 0 → 2A = 0 (10.37)
c ∂t
onde usamos o operador quabla por nós já encontrado anteriormente
1 ∂2
2 = ∇2 − = ∂µ ∂µ = gµν ∂µ ∂ν (10.38)
c2 ∂t2
Junto com (10.36) estas equações são completamente equivalentes às equa-
ções de Maxwell para E e B na ausência de cargas e correntes, as chamadas
equações de Maxwell homogêneas. No caso das presença de ρ e j, este
resultado pode ser facilmente generalizado. A condição representada pela
equação (10.36) é chamada de condição de Lorenz 5 . 5
Ludvig Valentin Lorenz (1829–1891), fí-
As transformações (10.34) e (10.35) são aquilo que chamamos de transforma- sico e matemático dinamarquês.
ções de calibre (gauge transformations). Uma outra transformação de calibre
muito usada é o chamado calibre de Coulomb (ou de radiação ou transversal).
Este é o calibre onde tomamos
∇ · A = 0, (10.39)
∇2 φ = 0. (10.40)
1 ∂2 φ ρ
∇2 φ − = −
v2 ∂t2 e
1 ∂2 A
∇2 A − 2 2 = −µj (10.43)
v ∂t
Φk = (Φ0 , Φ1 , Φ2 , Φ3 ) = (φ/c, A)
Jk = (J 0 , J 1 , J 1 , J 3 ) = (cρ, j) (10.44)
J0 = γ c ρ0
1
J = γ( β cρ0 ). (10.49)
ρ20
J 2 = J 02 = − (10.53)
c2
pois J é um quadrivetor e portanto seu módulo é um invariante. O fato de
J 2 < 0 significa que ele é um vetor tipo-tempo pois os portadores nunca
podem ter uma velocidade maior que a da luz.
Vamos supor agora que no referencial I 0 há um condutor neutro (ρ0 = 0)
pelo qual flui uma corrente (j00 6= 0), ou seja
∂A
B = ∇ × A; E = −∇ φ − (10.57)
∂t
Com relação à aparente “troca de sinal” na última das equações acima, não
devemos nos esquecer que a métrica do espaço de Minkowski tem assinatura
(+, −, −, −) (10.59)
1
Ex = (Φ0,1 − Φ1,0 ) Bx = (Φ3,2 − Φ2,3 )
c
1
Ey = (Φ0,2 − Φ2,0 ) By = (Φ1,3 − Φ3,1 )
c
1
Ez = (Φ0,3 − Φ3,0 ) By = (Φ2,1 − Φ1,2 ) (10.66)
c
Escrevendo explicitamente a matriz temos
0 − Ex /c − Ey /c − Ez /c
ik
E /c
x 0 − Bz By
F = (10.67)
Ey /c Bz 0 − Bx
Ez /c − By Bx 0
da métrica µν
0 Ex /c Ey /c Ez /c
− E /c 0 − Bz By
x
= (10.68)
− Ey /c Bz 0 − Bx
− Ez /c − By Bx 0
Bz − v2 Ey
F 0 21 = Bz0 = q c (10.73)
22
1 − vc
ou, se preferirmos
j
Fij ≡ (Φ ,i − Φ i,j ) (10.75)
Se tomarmos a derivada desta última expressão em relação ao índice k
teremos
ij j
∂k Fij = F ,k = Φ ,ik − Φ i,jk (10.76)
Por permutação cíclica de índices teremos:
ij j
F ,k = Φ ,ik − Φ i,jk
jk j
F ,i = Φ k,ji − Φ,ki
F ki
,j = i k
Φ ,kj − Φ ,ij (10.77)
ij jk
F ,k + F ,i + F ki k ij i jk j ki
,j = ∂ F + ∂ F + ∂ F = 0 (10.78)
Notem que nesta expressão os índices não estão somadas pois não apare-
cem repetidos! Não é difícil mostrar que se 2 índices forem repetidos na
expressão acima, a obtemos a identidade 0 = 0. Assim o número de equação
restantes é dado pela combinação de 3 índices de um conjunto de 4, isto é
C34 = 4!/3! = 4. Por exemplo, tomando os índices 0, 1, 2 temos, na equação
acima
∂2 F 01 + ∂0 F 12 + ∂1 F 20 = 0
1 ∂ 1 ∂ 1 ∂
− Ex + − Bz + Ey = 0
c ∂y c ∂t c ∂x
∂Ex ∂Ey ∂Bz
− = −
∂y ∂x ∂t
∂B
(∇ × E)z = − (10.79)
∂t z
∂B
∇×E = − . (10.80)
∂t
As 3 equações restantes de um total de 4 nos dão as componentes x e y da
equação acima e também a equação homogênea
∇ · B = 0, (10.81)
ρ ∂E
∇·E = e ∇ × B = µ 0 j + e0 µ 0 (10.82)
e0 ∂t
Notem que nesta expressão há uma soma implícita nos índices segundo a
convenção de Einstein! Por exemplo, tomando o termo em j = 2 temos
∂i F i2 = µ0 J 2
∂0 F 02 + ∂1 F 12 + ∂2 F 22 + ∂3 F 32 + = µ0 Jy
1 ∂Ey ∂Bz ∂ ∂Bx
− − + 0+ = µ0 Jy
c2 ∂t ∂x ∂y ∂z
∂Bx ∂Bz 1 ∂Ey
− = µ0 Jy + 2
∂z ∂x
c ∂t
1 ∂E
(∇ × B)y = µ0 j + 2 (10.84)
c ∂t y
F = qE + q u × B
0
F = qE0 + q u0 × B0 (10.85)
Fy
Fy0 = (10.87)
γ(1 − v u x /c2 )
ou v ux 0
Fy = γ 1 − 2 Fy . (10.88)
c
Substituindo agora as expressões para as forças nestas equações temos
v ux 0
q Ey + u0z Bx0 − u0x Bz0
q Ey + uz Bx − u x Bz = γ 1 − 2 (10.89)
c
Pela transformações de Lorentz, no entanto, segue que as velocidades se
transformam segundo
ux − v uz
u0x = ; u0z = (10.90)
1 − vu x /c2 γ (1 − vu x /c2 )
Substituindo estes valores na expressão das forças logo acima ficamos com
v ux 0
Ey + uz Bx − u x Bz = γ 1 − 2 Ey + uz Bx0 − γ (u x − v) Bz0 . (10.91)
c
Esta expressão pode ser reescrita como
h i h i
Ey − γ Ey0 + v Bz0 − Bz − γ Bz0 + v Ey0 /c2 u x + Bx − Bx0 uz = 0
(10.92)
Uma vez que esta expressão deve valer para quaisquer valores de velocidade
relativa v entre referenciais, ela só será satisfeita se os coeficientes forem
iguais a zero termo a termo:
Ey = γ Ey0 + v Bz0 , Bz = γ Bz0 + v Ey0 /c2 , Bx = Bx0 (10.93)
Lembrando que
uy uy
u0y = e u0y = (10.98)
γ(1 − vu x /c2 ) γ(1 − vu x /c2 )
ficamos, na expressão da força, com uma expressão longa cujos únicos
termos independentes das componentes de v são qEx e qEx0 . Portanto eles
devem se cancelar mutuamente, levando-nos à
Ex = Ex0 . (10.99)
Ex0 = Ex Bx0 = Bx
Ey0 = γ( Ey − vBz ) By0 = γ( By + vEz /c2 )
Ez0 = γ( Ez + vBy ) Bz0 = γ( Bz − vEy /c2 ) (10.100)
H · ∇ × E − E · ∇ × H = ∇ · ( E × H ). (11.4)
Ḋ · E + Ḃ · H = −j · E − ∇ · (E × H)
E·D+B·H
∂
= −j · E − ∇ · (E × H)
∂t 2
∂
u = −j · E − ∇ · (E × H) (11.6)
∂t
No termo da esquerda identificampos por u a densidade de energia dos
campos
E·D+B·H
u= (11.7)
2
que, no caso do vácuo, se reduz à conhecida expressão
1 1 1 1 2
u= eo E2 + µ o H2 = eo E2 + B . (11.8)
2 2 2 2µo
Integrando a equação (11.6) num volume V do espaço obtemos, lembrando
R
que U = V u dV
dU
Z Z
=− j · E dV − ∇ · (E × H) dV (11.9)
dt V V
f Lorentz = ρ (E + v × B) = ρE + j × B. (11.11)
v · f Lorentz = ρ v · E = j · E (11.12)
f Lorentz = ρ E + j × B.
Existe porém uma assimetria nesta equação pela falta de um termo propor-
cional à H∇ · H. Uma vez que pela lei de Gauss para campos magnéticos
este termo é zero, ou seja
∇·H = 0 → µH (∇ · H) = 0,
ou seja
e E (∇ · E) − E × (∇ × E) + µ H (∇ · H) − H × (∇ × H) =
∂
f Lorentz + eµ (E × H) . (11.17)
∂t
Olhando atentamente para a equação (11.17) vemos que o lado direito da
equação tem uma força de Lorentz, que corresponde à variação da densidade
de momento das cargas e um termo
eµ E × H = = g, (11.18)
c2
que corresponde à densidade de momento do campo magnético (comumente
os livros de Teoria Eletromagnética e Relatividade representam a densidade
de momento pela letra g). Antes de discutirmos melhor este ponto, vamos
reescrever o termo do lado esquerdo de (11.17) de maneira mais conveniente.
(a×)i = ∑ ε ijk a j bk
j,k
onde
1
se (i, j, k) for uma permutação cíclica.
ε ijk = −1 se (i, j, k) for uma permutação anticíclica.
0 se 2 ou mais índices forem repetidos.
Em outras palavras
∑ ε ijk ε ijk = 6
ijk
a× = ∑ ε ijk a j bk êi
i,j,k
= ∑ ε 1jk a j bk ê1 + ε 2jk a j bk ê2 + ε 3jk a j bk ê3
jk
= ∑ ε mjk ε mrs a k ∂r a s
k,m
r,s δjr δks −δjs δkr
= ∑ δjr δks − δjs δkr a k ∂r a s
k
r,s
= ∑ ak ∂ j ak − ak ∂k a j
k
1
= ∑ ∂ a2 − a k ∂ k a j
2 j k
(11.24)
k
eE2 + µH2
∂
∂i eEi Ej + µHi Hj − δij ê j = f Lorentz + eµ (E × H) . (11.29)
2 ∂t
eE2 + µH2
σij = eEi Ej + µHi Hj − δij = Ei D j + Hi Bj − δij u. (11.31)
2
(u é a densidade de energia do campo eletromagnético). No vácuo e em
meios isotrópicos este tensor é simétrico.
Como dito anteriormente, na Eletrodinâmica em 3 dimensões este tensor é
representado por uma matriz 3 × 3. Uma outra maneira de expressá-lo é em
termos do produto tensorial ⊗ (ou produto diádico) dos vetores E e H:
←
→ eE2 + µH2
σ = eE ⊗ E + µH ⊗ H − I (11.32)
2
a = a1 i + a2 j + a3 k
= b1 i + b2 j + b3 k
é definido via:
a∧b = a1 b1 (i ∧ i) + a1 b2 (i ∧ j) + a1 b3 (i ∧ k)
+ a2 b1 (j ∧ i) + a2 b2 (j ∧ j) + a2 b3 (j ∧ k) (11.33)
+ a3 b1 (k ∧ i) + a3 b2 (k ∧ j) + a3 b3 (k ∧ k)
∂σij E×H
Z Z Z
∂
ê j dV = f Lorentz dV + dV. (11.37)
V ∂xi V ∂t V c2
dP
Z
f Lorentz dV = (11.38)
V dt
d ∂σij
Z
(P + Pem ) = ê j dV (11.40)
dt V ∂xi
d
I
(P + Pem ) = σij ni ê j dA (11.43)
dt A
0 Ex /c Ey /c Ez /c
− E /c 0 − Bz By
x
= (11.48)
− Ey /c Bz 0 − Bx
− Ez /c − By Bx 0
O tensor misto vale:
µ
Fα = gαν F νµ
0 − Ex /c − Ey /c − Ez /c
− E /c 0 − Bz By
x
= (11.49)
− Ey /c Bz 0 − Bx
− Ez /c − By Bx 0
Aµ = ( ϕ/c, A) (11.50)
na forma
Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ (11.51)
A quadricorrente J µ .
A quadricorrente vale
J µ = (ρc, J) (11.52)
e satisfaz a equação de continuidade:
∂µ J µ = 0 (11.53)
A quadriforça F µ .
A definição de quadriforça
dpµ
Fµ = (11.54)
dτ
onde τ é o tempo-próprio e pµ = ( E/c, p) é o quadrimomento. Para uma
partícula de massa m temos a relação entre momento pµ e quadrivelocidade
uµ :
pµ = muµ (11.55)
dx µ d
uµ = = γ (ct, x) = (γ c, γv) (11.56)
dτ dt
3
Para que não haja confusão, índices la-
11.3.1 Dedução da expressão para T µν tinos i, j, k variam de 1 a 3; índices gre-
gos, por outro lado, vão de 0 à 4, por
O que queremos agora é construir um quadrivetor que contenha as energias e exemplo α = 0, 1, 2, 3. Assim fica claro
momenta do campo eletromagnético (e que tenha em si também os elementos que σij se refere ao tensor das tensões de
Maxwell, tridimensional, ao passo que
σij do tensor das tensões de Maxwell) 3 .
Tµν representa o tensor energia-momento
Vamos partir de uma situação física simples: o de um grupo de partículas de quadridimensional.
massa de repouso m, todas em repouso num referencial inercial próprio I 0 e
com densidade de partículas n0 (número de partículas por volume). Neste
referencial elas têm:
u 0 = n 0 m c2 = ρ 0 c2 , 0
= 0, σij = 0 (11.57)
u = ( γ n 0 ) ( γ m c2 ) = γ2 n 0 m c2 = γ2 u 0 (11.58)
S x = − u v = − γ2 u 0 v (11.59)
Com isto vemos que quando transformamos os valores por nós hipotetizados
em (11.62) para a forma do tensor T µν , obtemos os valores calculados
anteriormente usando argumentos físicos. Portanto nossa hipótese acerca de
T µν é correta e esta grandeza se transforma como um tensor. Usando agora
os vetores , g e o tensor das tensõ1es σij de Maxwell conhecidos, podemos
escrever diretamente
!
µν eo E2 /2 + B2 /µo (E × B) j /c
T = , (11.67)
(E × B)i /c −σ ij
1 eo E2 + B2 /µo
σij = eo Ei Ej + Bi Bj − δij (11.68)
µo 2
Em outras palavras:
eo E2 /2 + B2 /µo Sx /c Sy /c Sz /c
Sx /c −σxx −σxy −σxz
T µν =
Sy /c −σyx −σyy −σyz
Sz /c −σzx −σzy −σzz
4
C. W. Misner, K. S. Thorne, J. A. Whe-
eler, Gravitation, W. H. Freeman & Com-
O termos do tensor T µν têm a seguinte interpretação física 4 : pany, San Francisco 1970, p. 138.
1
Sx = Ey Bz − Ez By
µo
1
cF02 F2 1 − cF03 − F3 1
=
µo
c
F02 F2 1 + F03 F3 1
=
µo
c
F00 F0 1 + F01 F1 1 + F02 F2 1 + F03 F3 1
=
µo
c
= F0ρ Fρ 1
µo
= cT 01 (11.69)
Da terceira para a quarta linha acrescentamos os termos F00 e F11 pois eles
são nulos. Com isto podemos escrever Sx como uma soma no índice mudo
∂Tik
Fk = . (11.76)
∂xi
No teorema de Gauss-Ostragradsky nk representa a k-ésima componente da
normal n̂ ao elemento de superfície dS. Assim sendo temos
Z Z I
∂Tik
Fk dV = dV = Tik ni dS (11.77)
V V ∂xi S
Portanto concluimos: se a força F que atua num volume unitário puder ser
representada na forma
∂Tik
F= ê (11.79)
∂xi k
sua atuação no volume V pode ser representada na forma de forças superficiais
atuando sobre a superfície S que delimita o volume em questão, de tal modo que o
elemento de superfície dS cuja normal é n̂ = ni êi tem atuando sobre ele uma força
por unidade de área igual à
Tik ni êk . (11.80)
Discutamos o significado físico das componentes do tensor das tensões Tik .
Imaginemos um volume V sujeito à forças de deformação. A força que atua
sobre um elemento dS da superfície S que delimita o volume depende do
valor e da direção deste elemento, ou seja da direção da normal n̂ de dS.
Esta força pn dS não necessariamente tem a direção da normal (note que n
não é um índice que indica a componente do vetor). A figura abaixo ajuda a
esclarecer melhor a geometria das forças envolvidas. Como fica claro pelas
ser escrito como uma combinação das três tensões p x , py e pz que atuam
nas direções dos eixos ordenados x, y, z, ou seja, atuam em superfícies cujas
normais coincidem com os vetores unitários i, j e k. Notem que p x , py e pz
não são vetores que apontam nas respectivas direções ( x, y, z) mas vetores,
cada qual com 3 componentes, que atuam nas superfícies de normais i, j e
k. Podemos escrever portanto
px = p xx i + p xy j + p xz k
py = pyx i + pyy j + pyz k
pz = pzx i + pzy j + pzz k (11.81)
ou seja
pm = pmn ên (11.82)
O que vamos mostrar é que a tensão um elemento de superfície dS com
uma normal n̂ arbitrária pode ser descrito em função das 9 componentes
da tríade de vetores p x , py e pz . Olhando para o tetraedro OABC da figura
acima, a face inclinada tem área dS. Vamos ainda supor que a normal n̂ faz
um ângulo agudo com os eixos, como ilustrado. A área das faces paralelas
aos planos yz, xz e xy são dadas por:
dSyz = dS cos(n,
ci); dSxz = dS cos(n,
cj); dSxy = dS cos(n,
d k ).
−p x dS cos(n,
ci); py dS cos(n,
cj); pz dS cos(n,
d k ); (11.84)
pn = p x cos(n,
ci) + py cos(n,
cj) + pz cos(n,
d k) (11.86)
n1 = n̂ · i =| n̂ | | i | cos(n,
ci) = cos(n,
ci)
p
zz
n2 = n̂ · j =| n̂ | | j | cos(n,
cj) = cos(n,
cj)
p
zy
n3 = n̂ · k =| n̂ | | k | cos(n,
d k) = cos(n,
d k ), (11.87) p
zx p
yz
p
xz
ficamos com p
yy
p
p n = p1 n1 + p2 n2 + p3 n3 (11.88) e
z p
xx
p
xy
yx
e também e
y
y
e
pm = pmn ên . (11.89) x
x
Disto concluímos que
pn = pij eˆj ni (11.90)
Figura 11.2: As tensões que atuam sobre
Fisicamente pij representa a componente j da tensão na direção i da nor- as faces que delimitam um volume. Cos-
tumamos chamar as tensões normais à
mal da superfície dS sobre a qual ela atua. A figura ao lado representa superfície de pressão, aquelas paralelas de
estes elementos. tensão de cisalhamento ou shear stress.
A P = A P x e x + A P y ey ; A Q = A Q x e x + A Q y ey , (12.1)
ou seja
(∆A) PQ = A P − AQ (12.2)
L = |eθ | ∆θ (12.8)
dθ eθ = eθ (S) − eθ ( P) (12.12)
onde definimos
r θ
∂eθ ∂eθ
Γ rθθ = ; Γ θ
θθ = (12.14)
∂θ ∂θ
Os índices inferiores indicam qual vetor da base está sendo variado pela
mudança infinitesimal de qual coordenada. O índice superior indica a
componente do vetor em questão. No caso específico que acabamos de
estudar temos
Γ rθθ = −r ; Γ θθθ = 0 (12.15)
| ∆r e θ | |e |
= θ (12.16) Figura 12.7: a variação do vetor eθ devido
∆r r
a um deslocamento radial infinitesimal
e portanto ∆r. Fonte: Grøn e Næss.
∆r
| ∆r e θ | = | e θ | . (12.17)
r
No limite ∆r → 0 obtemos
dr
| dr e θ | = | e θ | (12.18)
r
∆r er = 0 (12.21)
Figura 12.8: a variação do vetor er devido
o que já nos dá diretamente que Γ rrr = Γ θrr = 0 pois se o vetor ∆r er é a um deslocamento radial infinitesimal
zero, suas componentes tem que ser zero. Vamos calcular a variação de ∆θ. O vetor er( P) é deslocado paralela-
er em função do deslocamento infinitesimal ∆θ (figura abaixo). mente a si mesmo até o ponto S, onde
temos er ( P) k. A variação é dada pela
O círculo de arco L e raio |er | = 1 vale, neste caso diferença er (S) − er ( P) k. A figura infe-
rior mostra a variação em maior detalhe.
L = |er |∆θ = ∆θ (12.22) Fonte: Grøn e Næss.
|dθ er | = dθ (12.23)
deµ = Γ ν
µα dx α eν (12.28)
(2) calcule as derivadas dos vetores eµ como função das suas variáveis
naturais, no caso acima as derivadas de (eθ , e ϕ ) como função de
(θ, ϕ).
∂x ∂y ∂z
er = e x + ey + ez
∂r ∂r ∂r
∂x ∂y ∂z
eθ = e x + ey + ez
∂θ ∂θ ∂θ
∂x ∂y ∂z
eϕ = ex + ey + ez (12.30)
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
ou
∂x m xm ∈ { x, y, z}
eµ = em com (12.31)
∂x µ xµ ∈ {r, θ, φ}
1 1
der = dθ eθ + dϕ e ϕ
r r
Γ θrθ dθ eθ + Γ rϕ dϕ e ϕ
ϕ
=
1 cos θ
deθ = dr eθ − r dθ er + dϕ e ϕ
r sin θ
Γθθr dr eθ + Γrθθ dθ er + Γ θ ϕ dϕ e ϕ
ϕ
=
1 cos θ
de ϕ = dr e ϕ + dθ e ϕ − r sin2 θ dϕ er
r sin θ
− sin θ cos θ dϕ eθ
= Γ dre ϕ + Γ dθ e ϕ + Γ rφϕ dϕ er + Γ
ϕ ϕ θ
ϕr ϕθ ϕϕ dϕ eθ
(12.34)
que por vezes nos servem de atalho. Quando partimos de uma base
em onde m = ( x, y, z) por exemplo, e queremos chegar numa base eµ ,
onde µ = (r, θ, ϕ) sabemos que a relação entre os vetores de uma base
e outra é dada pela expressão
∂x m
eµ = em (12.36)
∂x µ
Esta foi a equação que usamos acima para expressar a base (er , eθ , e ϕ )
em função da base (e x , ey , ez ). Por outro lado a derivada total de um
campo vetorial é semelhante em sua forma à derivada total de um
campo escalar
∂eµ α
deµ = dx
∂x α
∂ m
∂x em dx α
= α µ
∂x ∂x
=eµ
∂2 x m
= dx α em (12.37)
∂x α ∂x ν
Mas pela definição (12.28) dos símbolos de Christoffel temos
∂eµ
=Γ ν
µα eν (12.38)
∂x α
Comparando as duas expressões temos
∂2 x m
eν Γ ν
µα = em (12.39)
∂x α ∂x ν
Como ∂α ∂ν = ∂ν ∂α temos que
Γ ν
µα = Γ ναµ (12.40)
+ Aα Γ
µ µ µ
A ;ν =A ,ν αν (12.50)
e portanto
dA µ
= A ;ν uν eµ (12.51)
dλ
Ficamos assim com
dA
dλ→ derivada direcional covariante do vetor A ao longo da curva
parametrizada por λ.
µ
A ;ν → derivada covariante da componente Aµ do vetor A.
µ
A ;ν uν → derivada covariante direcional da componente Aν do
vetor A na direção do vetor u = uν eν tangenta à curva λ
Sendo Γ rθθ = −r e Γ θ
= 1/r a expressão acima se torna
rθ
2 2
a = (r̈ − r θ̇ ) er + θ̈ + θ̇ ṙ eθ
r
eθ
= (r̈ − r θ̇ 2 ) er + (r θ̈ + 2 θ̇ ṙ )
r
= (r̈ − r θ̇ 2 ) r̂ + (r θ̈ + 2 θ̇ ṙ ) θ̂ (12.58)
O que acabamos de ver foi como conceitos por nós conhecidos precisam
ser reformulados numa linguagem mais apropriada quando precisamos
aplicar estes conceitos em espaços mais gerais. Vamos agora tentar
nos ater um pouco a Física propriamente dita e ver como podemos
também expressar uma física por nós conhecida em termos desta nova
linguagem. Quando queremos descrever o movimento de um partícula
podemos escolher coordenadas cartesianas x, y e y com
O Lagrangiano de uma partícula livre pode ser escrito nesta caso como
1 2 m
L= mv = gαβ ẋ α ẋ β (12.66)
2 2
As equações de Lagrange do segundo tipo são, como sabemos
d ∂L ∂L
− ν =0 (12.67)
dt ∂ ẋ ν ∂x
Fazendo as derivadas temos
∂L ∂L m
= m gαν ẋ α , = L ,ν = gαβ ,ν ẋ α ẋ β (12.68)
∂ ẋ ν ∂x ν 2
É importante ver como obtivemos o primeiro termo da equação acima
pois muitas vezes nos esquecemos da convenção de Einstein e deixa-
mos uma das derivadas de lado. Vamos assim escrever a somatória
explicitamente:
∂L ∂ m
∂ ẋ ν
= ∑
∂ ẋ ν α,β 2
g αβ ẋ α β
ẋ
α β
m ∂ ẋ β α ∂ ẋ
2 ∑
= g αβ ẋ + ẋ
α,β
∂ ẋ ν d ẋ ν
m
2 ∑
α β β α
= g αβ ν δ ẋ + δ ν ẋ
α,β
m m
=
2 ∑ gνβ ẋ β + 2 ∑ gαν ẋα (12.69)
β α
1
gαν ẍ α + gαν ,β ẋ α ẋ β − gαβ ,ν ẋ α ẋ β = 0 (12.72)
2
Podemos escrever o segundo termo do lado esquerdo da equação acima
de forma mais simétrica
1
gαν ,β ẋ α ẋ β = g + gβν ,α ẋ α ẋ β (12.73)
2 αν ,β
que substituido em (12.74) nos dá
1
gαν ẍ α + gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ẋ α ẋ β = 0 (12.74)
2
Finalmente um último passo: vamos multiplicar toda a expressão acima
por gµν e somar sobre a variável ν. Obtemos
1 µν
gµν gαν ẍ α + g gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ẋ α ẋ β = 0
2
µ
δα 6
Embora não seja difícil provar este re-
1 sultado, ele é deveras trabalhoso. Uma
ẍ + gµν gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ẋ α ẋ β
µ
= 0 (12.75) dedução bastante acessível é aquela do
2
livro de Grøn e Næss, Eintein’s Theory: A
Porém, o termo do meio na verdade nada mais é do que o símbolo de Rigorous Introduction for the Mathematically
Untrained, Springer, New York, 2011, pp.
Christoffel escrito em termos da métrica do espaço 6 156 – 158..
1 µν
gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ≡ Γ
µ
g (12.76)
2 αβ
ẍ µ + Γ
µ
αβ ẋ α ẋ β = 0 (12.77)
r̈ − r θ̇ 2 − r sin2 θ ϕ̇2 = 0
2
θ̈ + ṙ θ̇ − sin θ cos θ ϕ̇2 = 0
r
2
ϕ̈ + ṙ ϕ̇ + 2 cot θ ϕ̇ θ̇ = 0 (12.79)
r
de onde, comparando com a equação (12.77) podemos obter direta-
mente os símbolos de Christoffel por nós calculados na equação (12.35).
A equação da geodésica nos diz o que são “retas” num espaço curvo,
ou seja, a menor distância entre dois pontos;
r A = r, r B = r + dr, ϕ A = ϕ, ϕ B = ϕ + dϕ (13.3)
Notem que o tensor varia de acordo com o ponto do espaço onde nos
encontramos, mas isto não implica que o espaço seja curvo, afinal nosso
espaço subjacente é o mesmo R2 . Além do mais, o fato da matriz
ser diagonal significa que coordenadas polares são ortogonais. Vamos
tratar agora de um espaço realmente curvo.
x = r sin θ cos ϕ
y = r sin θ sin ϕ
z = r cos θ (13.7)
Geodésicas
Uma curva sobre a qual queremos fazer a integral precisa ser definida,
ou seja, parametrizada. Sendo uma curva e portanto unidimensional,
necessitamos em princípio de um parâmetro apenas. Vamos chamar
este parâmetro de λ. Podemos assim definir ds como
s
gµν dx dx dλ2
µ ν
ds = dλ dλ
q
= gµν ẋ µ ẋ ν dλ (13.13)
ficamos com
Z t q
` = v2x + v2y dt0
0
Z t q 2
= v20x + v0y + gt0 dt0
0
(13.18)
cuja solução é
2 t
1
q
` = (v0y − gt0 ) v20x + v0y − gt0
2g 0
2 t
2
v0x
q
+ ln (v0y − gt0 ) + v20x + v0y − gt0
2 0
(13.19)
1
q 2
` = (v0y + gt) v20x + v0y − gt
2g
v20x
q
2
+ ln v0y + gt + v20x + v0y − gt
2
1 q v2 q
− v0y v20x + v20y − 0x ln v0y + v20x + v20y (13.20)
2g 2
Esta variação nos dá nada mais nada menos que a equação de Lagrande
do segundo tipo da mecânica (onde substituímos λ por t):
d ∂L ∂L
− u =0 (13.23)
dλ ∂ ẋ u ∂x
Como a métrica do espaço Riemanniano codifica a curvatura da varie-
dade em cada ponto p e na Teoria da Gravidade de Einstein a métrica
gµν que muda de ponto a ponto codifica a gravidade, a equação acima
diz como é a geodésica de uma partícula num campo gravitacional.
Mostramos no capítulo anterior, depois de fazermos uma quantidade
razoável de conta, que a equação de Lagrange acima leva à equação
1 µν
ẍ µ + g gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ẋ α ẋ β = 0 (13.24)
2
que, quando usamos a definição do símbolos de Christoffel como função
da métrica
1 µν
gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ≡ Γ αβ
µ
g (13.25)
2
ẍ µ = −Γ
µ
αβ ẋ α ẋ β (13.26)
Esta equação foi por nós deduzida no capítulo anterior como sendo
a equação de movimento de uma partícula livre cuja Lagrangeana é
L = 12 mv2 . A beleza da teoria de Einstein é capturada por esta equação
simples, mas profunda: a mesma equação que descreve o movimento
de uma partícula livre descreve a menor distância entre dois pontos
num espaço cuja curvatura está codificada em sua métrica via os Γ αβ .
µ
(13.27)
! !
1 0 1 0
gµν (θ ) = , gµν (r ) =
0 sin2 θ 0 sin−2 θ
ϕ̈ = 0 → ϕ̇ = K → ϕ = λK (13.32)
13.3 A curvatura
1 dφ 1
K= p = p φ0 (13.35)
1 + y 02 dx 1 + y 02
y00
y00 = (1 + tan2 φ)φ0 −→ φ0 = . (13.36)
1 + y 02
Disto temos
y00
K= (13.37)
(1 + y02 )3/2
Não devemos confundir y00 , as vezes chamada imprecisamente de curva-
tura, pois esta representa a mudança da tangente da curva por unidade
de comprimento medido na direção x. A curvatura é a mudança do
ângulo por unidade de comprimento ds ao longo da curva. Como
vetor final. Num espaço plano, a diferença entre os dois vetores é nula.
Mas como calcular isto explicitamente? Para isto temos a conhecida
definição da circulação C de um vetor B ao longo de uma curva T pelo
deslocamento infinitesimal dr = dx ν eν
I
C= B dr (13.39)
Aµ ;ν dx ν = 0 (13.42)
Aµ ,ν dx ν = Aτ Γτ µν dx ν −→ Aµ ,ν = Aτ Γτ µν (13.43)
e
dAµ = Aτ Γτ µν dx ν = Bµν dx ν (13.44)
Isto pode ser escrito de maneira ainda mais familiar, se notarmos que
podemos escrever
Bµν dx ν = Bµ · dr (13.46)
onde Bµ são vetores. Isto leva finalmente à
I
∆Aµ = Bµ · dr (13.47)
ou, explicitamente
I
~B · d~r = (rot ~B) xy ∆S xy + (rot ~B)zy ∆Syz + (rot ~B)zx ∆Szx
∆Aµ = Aν Γν τα Γτ µβ − Aν Γν τβ Γτ µα
+ Aν Γν µβ,α − Aν Γν µα,β ∆Sαβ
(13.56)
Rνµαβ = ∂α Γν µβ − ∂ β Γν µα + Γν τα Γτ µβ − Γν τβ Γτ µα . (13.59)
T 30 T 31 T 32 T 33
∂
Lembrando que grr,r = ∂r grr e grr = eα ficamos com
1 α 0 α0
Γ rrr = e α = . (14.10)
2 eα 2
Se fizermos as contas para os outros símbolos de Christoffel obtermos
t β0 1 1
Γ Γ Γ Γ
θ ϕ ϕ
tr = ; θr = ; ϕr = ; = cot θ. (14.11)
2 r r ϕθ
A solução de Schwarzschild
A solução de Schwarzschild segue da solução das equações combinadas
com argumentos físicos. Das primeiras duas equações concluímos que
α0 + β0 = 0 −→ α + β = const. (14.23)
1 − e− β + rβ0 = 0 (14.25)
cuja solução é
rS
e − β (r ) = 1 − (14.26)
r
onde rS é uma constante de integração. Com isto obtemos finalmente a
famosa métrica de Schwarzschild
r r −1 2
ds2 = − 1 − S c2 dt2 + 1 − S dr + r2 dθ 2 + r2 sin2 θ dϕ2
r r
(14.27)
O raio de Schwarzschild rS desempenha um papel importantíssimo
na métrica de Schwarzschild e portanto esta “constante de integra-
ção” deve ser, em última instância, determinada por escalas típicas do
problema como massa e a constante gravitacional G. Isso vem de consi-
derações físicas pois há uma outra importante condição física que esta
métrica deve satisfazer: ela não apenas deve reduzir-se a uma métrica
de Minkowski no limite de r → ∞, como acabamos de ver, mas também
deve reproduzir a gravitação de Newton para campos gravitacionais
fracos. A questão então passa por mostrarmos inicialmente como obter
da teoria de Einstein o chamado limite Newtoniano ou, se preferirmos,
como descrever a gravitação Newtoniana na linguagem de TGR. Com
isto conseguimos determinar quem é rS comparando por um lado a
teoria Newtoniana em linguagem Einsteiniana e a métrica (14.27).
Newton e Einstein
Do ponto de vista físico, a TGR se fundamenta sobre 3 hipóteses:
i. a constância da velocidade da luz;
d2 x µ α
µ dx dx
β
2
+ Γ αβ =0 (14.32)
dτ dτ dτ
Consideremos uma partícula inicialmente em repouso. Se este for o
caso, todas as três componentes espaciais de sua quadrivelocidade
j 1 ∂g
Γ 00 = − g jν 00 (14.37)
2 ∂x µ
Uma vez que a métrica é diagonal, apenas os termos em g jν para os
quais j = ν são diferentes de zero, e portanto
j 1 ∂g
Γ 00 = − g jj 00j . (14.38)
2 ∂x
Como gµν = 1/gµν e na aproximação de campos gravitacionais fracos
µν = ηµν + hµν , a expressão acima se reduz à:
c2 ∂h00
aj = . (14.41)
2 ∂x j
Disto segue que o potencial gravitacional Newtoniana está relacionado
ao termo perturbativo da métrica via
Φ
h00 = −2 (14.42)
c2
Portanto, no limite perturbativo (campos gravitacionais fracos) o ele-
mento de linha do
espaço onde atua a gravidade de Newton vale
ds2 = − 1 + 2 cΦ2 c2 dt2 + dx2 + dy2 + dz2
De volta a Schwarzschild
c2 0
gt t = −c2 (1 − htt ), a= h . (14.43)
2 tt
Mas sabemos também que na gravitação de Newton a aceleração vale
GM
a=− (14.44)
r2
onde G é a constante de gravitação universal e M a massa do corpo
que gera o campo gravitacional. Isto significa que
2GM 1
h0tt = − (14.45)
c2 r 2
Integrando h0tt em r obtemos
2GM 1
htt = + const. (14.46)
c2 r
sob a condição que a métrica é plana para r → ∞ e portanto limr→∞ htt =
0, logo K = 0. Disto sobre
2 2GM
gtt = −c 1− 2 (14.47)
c r
2GM −1 2
2GM 2 2
ds2 = − 1 − 2 c dt + 1 − 2 dr + r2 dθ 2 + r2 sin2 θ dϕ2
c r c r
(14.48)
A grandeza
2GM
rS = (14.49)
c2
é o chamado raio de Schwarzschild. Para que tenhamos uma noção
da sua ordem de grandeza, reproduzimos abaixo alguns valores para
objetos físicos de diferentes dimensões.
Este resultado por exemplo mostra por qual motivo podemos usar
a gravitação de Newton para nosso sistema solar: se colocarmos a
distância da Terra ao Sol r ≈ 148.15 × 106 km ficamos com
rs 3
= × 10−6 ≈ 2 × 10−8 (14.50)
r 148.15
ou seja, a métrica é praticamente plana.
Buracos Negros
dz 1
= q (14.53)
dr r
r −1 S
cuja solução é
1
Z q
z= q dr = 2 (r − rS )rS + constante (14.54)
r
rS −1
Esta seção poderia se chamar “Por que o buraco é negro” pois pretende-
mos mostrar aqui a trajetória de um fóton na métrica de Schwarzschild.
Como é o caso na maioria dos problemas em que lidamos com a mé-
trica de Schwarzschild, as equações de movimento de pontos materiais
formam um conjunto de equações acopladas nas variáveis r, θ e ϕ e por
isto, para melhor entendermos o fenômeno, algumas simplificações e
aproximações são necessárias.
Na TGR, toda partícula livre tem por trajetória uma geodésica.
Quando falamos “livre” devemos lembrar que na TGR não existe
força gravitacional, e sim uma curvatura do espaço. Portanto por “li-
vre” entendemos partículas que não estão sujeitas à ação de outras
forças físicas. Vamos considerar o movimento radial de fótons, ou
seja dθ = dϕ = 0 ao longo de suas linhas de mundo. Em se tratando
de fótons, suas linhas de mundo são geodésicas nulas, ds2 = 0, que
quando substituída na métrica de Schwarzschild )14.27) resulta em
dr2 rS 2 2
rS = 1 − c dt , (14.57)
1− r r
dr r
= ± 1− S (14.58)
dt r
onde o sinal + e − indicam um fóton que se move para longe ou
para perto da massa, respectivamente. Estas equações mostram que
ao aproximar-se de rS a velocidade do fóton → 0, mas este resultado
vem do fato da singularidade de coordenadas que discutimos acima e
não tem realidade física. É preciso estudar esta equação em coordena-
das apropriadas, as coordenadas de Eddington-Finkelstein 5 . Vamos 5
Arthur S. Eddington (1882 - 1944), céle-
estudar o caso de um fóton que se aproximada da massa (sinal − na bre astrônomo e físico inglês, escreveu os
primeiros artigos em inglês explicando
equação acima) e passa pelo raio de Schwarzschild. Reescrevamos a a TGR para o público de língua inglesa.
equação acima na forma Coordenou um dos famosos experimen-
tos de 1919 sobre a deflexão da luz pelo
r campo gravitacional do Sol. David R.
dr = −cdt (14.59) Finkelstein (1929–2016) foi um físico ame-
1 − rS
ricano, especializado em TGR.
e a integremos
r
Z Z
dr = − c dt −→ r + rS ln |r − rS | = −ct + K (14.60)
1 − rS
onde K é uma constante de integração. A idéia é escrever a equação na
forma
r = −ct̄ (14.61)
definindo uma nova coordenada temporal (coordenada de Eddington-
Finkelstein) de tal modo que no relógio que meça t̄ o fóton se mova na
direção radial com velocidade −c. Uma comparação desta forma com
a equação acima nos mostra que
rS
t̄ = t + , ln |r − rS | (14.62)
c
Como dito, este é o tempo medido por um relógio que é diferente do
tempo de coordenada t de Schwarzschild mas para o qual o fóton se
move com velocidade c constante. Com um pouco de álgebra podemos
reescrever a métrica de Schwarzschild em termos de dt̄ de tal modo
que (14.27) se torna
r
ds2 = 1 + S dr2 + r2 dθ 2 + r2 sin2 θ dϕ2
r
r r
+2 S c dt̄ dr + 1 − S c2 dt̄2 (14.63)
r r
[Este resultado nos mostra como muitas vezes, dependendo do pro-
blema, a escolha de coordenadas adequadas faz toda a diferença! Mas
obviamente não devemos acreditar que isto caiu do céu: há muito tra-
balho envolvido em achar as coordendas corretas.] Nestas coordenadas,
a equação da geodésica ds2 = 0 para o fóton se movendo radialmente
(dθ = dϕ = 0) vale então
r r r
1 + S dr2 + 2 S c dt̄ dr + 1 − S c2 dt̄2 = 0, (14.64)
r r r
que nada mais é que uma equação de 2º grau para dr/cdt̄. Temos duas
raízes possíveis para esta equação, a saber:
dr
= −c
dt̄ in
r − rS
dr
= c (14.66)
dt̄ out r + rS
v2 = gαβ ẋ α ẋ β = c2 (14.70)
∂L ∂L
d
− =0 (14.73)
∂x α dτ ∂ ẋ α
que nos dão as equações de movimento do planeta em questão. Sendo
x0 = ct, x1 = r, x2 = θ e x3 = ϕ, temos quando α = 0
∂L ∂L d ∂L
d
− = 0+
∂x0 dτ ∂ ẋ0 dτ ∂ṫ
d rS
= 1− ṫ
dτ r
= 0 (14.74)
devemos recorrer aos resultados conhecidos para ver quais são man-
tidos e quais mudam. Um detalhe muito importante das soluções de
Newton é que o movimento tem estabilidade planar, ou seja, o corpo
que orbita o Sol mantém o plano de sua órbita. O que define o plano da
órbita, em variáveis esféricas, é a coordenada θ. Por isso vamos olhar
para a equação (14.75) e considerar o movimento no plano equatorial,
ou seja θ = π/2, por uma questão de simplicidade. Vamos também
assumir que em τ = 0 temos θ̇ = 0. Neste caso a equação se reduz à
d 2
(r θ̇ ) = 0 → r2 θ̇ = constante (14.77)
dτ
d 2
(r ϕ̇) = 0 → r2 ϕ̇ = L (L = constante) (14.78)
dτ
A grandeza L é o momento angular do corpo por unidade de massa.
Vamos integrar agora a equação (14.74), o que nos dá
r
1 − S ṫ = K (K =constante) (14.79)
r
Substituindo estes nosso resultados em (14.72) com θ = π/2 ficamos
com
K2 ṙ2
− − r2 ϕ̇2 = c2 (14.80)
1 − rrS 1 − rrS
Esta não é uma equação trivial. A posição r de Mercúrio depende
do tempo e de ϕ. A experiência mostra que a maneira mais fácil de
resolver esta equação é através da substituição
1
r= (14.81)
y
d2 y 3r r c2
2
+ y = S y2 + S 2 . (14.86)
dϕ 2 2L
d2 y 3GM GM
+ y = 2 y2 + 2 . (14.87)
dϕ2 c L
No limite clássico rS = 0 (c → ∞) obtemos a equação para a órbita na
mecânica newtoniana (vide discussão a seguir, em particular a equação
(14.93)).
L2
2 GM GM L ∂ L ∂r
r̈ = r ϕ̇ − 2 −→ 3
− 2 = 2 . (14.92)
r r r r ∂ϕ r2 ∂ϕ
Esta equação fica mais fácil de resolver com a substituição y = 1/r,
que, após um pouco de álgebra nos dá:
d2 y GM
+y = 2 . (14.93)
dϕ2 L
A solução desta equação é
1 GM
y( ϕ) = = A cos( ϕ − ϕ0 ) + 2 . (14.94)
r ( ϕ) L
Com uma translação apropriada de ϕ podemos escolher ϕ0 = 0 e A ≤ 0
de modo a ficarmos com uma solução da forma
1 GM AL2
= 2 1 − e cos ϕ ; e=− . (14.95)
r L GM
Esta é a equação de uma elipse de excentricidade e.
d2 y
+ y = a y2 + b −→ y0 = a y20 + b, (14.97)
dϕ2
d2 y1
+ y1 + y0 = a ( y0 + y1 )2 + b (14.98)
dϕ2
ou seja
d2 y1
+ y1 = 2ay0 y1 + ay21 . (14.99)
dϕ2
Sendo y1 muito pequeno podemos desprezar o termo quadrático em y1
e escrever finalmente
d2 y1
+ (1 − 2ay0 )y1 = 0. (14.100)
dϕ2
1 1 p
= 1 + e cos( 1 − 2ay0 ϕ) . (14.103)
r r0
rS
∆ϕ = 3π (14.107)
r0
1.12. The orbit of the planet mercury has an eccentricity 0.206 and a period 0.241
year; moreover, the perihelion advances slowly at a rate of 43 seconds of arc per
century. One possible explanation of this is that the potencial energy around the
sun has the form V = −(mMG/r )(1 + α GM/rc2 ) where α is a dimensionless
constant and MG/c2 ≈ 1.475 km characterizes the sun’s gravitational field.
Demonstrate that the resulting orbit indeed represents a precessing ellipse. Find
the magnitude and sign of α needed to fit the observed data.
ds2 = 0 (14.108)
K2 ṙ2
rS − − r2 ϕ̇2 = 0 (14.110)
1− r 1 − rrS
que nos leva a uma equação final muito parecida com a equação (14.87)
porém sem o termo clássico GM/L2 ! Isto era esperado pois na gra-
vitação newtoniana o fóton não sofre a ação do campo gravitacional!
Fazendo a mesma transformação de variáveis y = 1/r que fizemos no
problema anterior chegamos à:
d2 y 3GM
+ y = 2 y2 . (14.111)
dϕ2 c
Esta é a equação que vamos resolver.
d2 y0
+ y0 = 0. (14.114)
dϕ2
Como no caso anterior, busquemos uma solução do tipo
y = y0 + y1 , y1 y0 . (14.115)
d2 y1
+ y1 = a y20 (14.116)
dϕ2
d2 y1 a
+ y1 = 2 cos2 ϕ (14.117)
dϕ2 R
A solução deste tipo de equação diferencial tem a forma
y1 = A + B cos2 ϕ (14.118)
Problema 3. Mostre que para que esta função realmente seja solução
da equação diferencial acima, as constantes A e B devem satisfazer:
2a a
A= ; B=− . (14.119)
3R2 3R2
Ficamos assim finalmente com a expressão
1 cos ϕ a
y= = y0 + y1 = + 2 (2 − cos2 ϕ) (14.120)
r R 3R
Para r → ∞, ϕ → ϕ∞ e da expressão acima obtemos
cos ϕ∞ a
0= + 2 (2 − cos2 ϕ∞ ) (14.121)
R 3R
Para a hipótese da passagem do fóton de “raspão” , sabemos que
ϕ∞ ≈ π/2, desviando-se pouco deste valor. Por isso tomamos ϕ∞ =
π/2 + ∆ϕ. Para este valor temos
3. Lentes Gravitacionais.
R0
= tan ∆ϕ (14.124)
D
O que é mais curioso é que este efeito foi previsto em 1912 por Einstein
antes que tivesse concluído a sua TGR, pois é possível calcular a traje-
tória da luz numa dada métrica gµν sem ter que resolver as equações
de Einstein. O efeito porém pareceu tão absurdo a Einstein que ele
não publicou seu resultado e só foi convencido de fazê-lo em 1936. A
descoberta experimental só foi feita 67 anos depois, em 1979.
Caro Professor,
Através da carta de um amigo 2 que se encontra no momento no exterior, tive 2
Trata-se de Yuri Alexandrovitch Krut-
a honra de ser informado que o Sr. submeteu uma nota curta, a ser publicada kov (1890-1952), físico russo que partici-
no 11º volume da Zeitschrift für Physik, onde se afirma que, uma vez aceitas as pou do projeto de construção da bomba
atômica soviética. Krutkov percebeu o
hipóteses feitas em meu artigo “Acerca da Curvatura do Espaço”, seguiria das erro de Einstein com relação ao traba-
equações do universo deduzidas pelo Sr. que o raio de curvatura do universo é lho de Friedmann e teve vários encontros
uma grandeza independente do tempo. com o físico alemão a este respeito.
Os resultados de meu cálculo mostraram que ... tanto um universo com curvatura
constante (e negativa) e um universo com uma curvatura que muda com o tempo
podem existir. A possibilidade de obter uma universo com curvatura constante e
negativa a partir de suas equações é de enorme interesse para mim e portanto lhe
peço para responder à minha carta, embora saiba bem o quão ocupado o Sr. deve
ser. Caso o Sr. confirme que os cálculos apresentados nesta carta são corretos,
peço a gentileza de informar aos editores da Zeitschrift für Physik sobre isto;
talvez, neste caso, o Sr. publique uma correção à sua afirmativa anterior ou
permita que parte desta carta seja publicada.
15.1 O modelo
dr2
ds2 = + r2 dϕ2 (15.0)
r2
1− R2
z
A curvatura de uma superfície esférica de raio R vale k = 1/R2 e
θ
portanto podemos escrever a expressão acima como
dr2 r
ds2 = + r2 dϕ2 (15.0)
1 − k r2
R
y
Esta forma do elemento de linha é válida para o plano, no qual k = 0
e o elemento
ds2plano = dr2 + r2 dϕ2 (15.0)
x
nada mais é do que o elemento de linha escrito em termos de coordena- Figura 15.3: A relação entre r e R em
das polares r, ϕ. Este elemento na verdade vale para superfícies curvas coordenadas esféricas.
em geral, sejam as curvaturas positivas (k > 0) ou negativas (k < 0).
A generalização para o elemento de linha de um espaço de curvatura
constante em 3 − d vale
dr2
ds2 = + r2 dθ 2 + r2 dϕ2 (15.0)
1 − k r2
dl = a(t)ds (15.0)
dr2
ds2 = a2 (t) + r2 dθ 2 + r2 dϕ2 − c2 dt2 (15.0)
1 − k r2
a2 ( t )
grr = ; gθθ = a2 (t)r2 ; g ϕϕ = a2 (t)r2 sin2 θ; gtt = −c2
1 − k r2
(15.0)
Para calcular agora os símbolos de Christoffel Γαβγ e os elementos do
tensor de Ricci Rij basta aplicarmos as definições por nós já apresenta-
das. Não há nada de diferente nos cálculos a não ser muita álgebra. Os
termos são (onde ȧ representa da/dt e lembrando que os símbolos de
1 8π G
Rµν −R gµν + Λ gµν = 4 Tµν (15.-5)
2 c
sem a constante cosmológica Λ, o que precisamos é substituir no lugar
do tensor momentum-energia Tµν o tensor correspondente para um
fluido ideal de densidade de massa rho e energia cinética por unidade
de massa igual à:
1
E = ρ v2 (15.-5)
2
No caso particular o tensor Tµν vale:
p
Tµν = ρ + 2 uµ uν + pgµν . (15.-5)
c
v = Hl (15.0)
que nos diz o quão rápido as galáxias se afastam de nós. O valor atual
da constante de Hubble está em
km s−1
H = (69.8 ± 1.9) (15.1)
Mpc
Para a galáxia mais próxima, a de Andrômeda, isto corresponde a uma
velocidade de aproximadamente 175 km s−1 . Esta velocidade é apenas
a devido à expansão do Universo, e se soma à velocidade relativa entre
Andrômeda e a Via Láctea.
p = (1 − β ) ρ (15.8)
ρ a3β = K β (15.10)
ρrad (ρrad )0
a= a (15.14)
ρdust (ρdust )0 0
dr2
2 2
ds = a (t) + r dθ + r dϕ − c2 dt2 .
2 2 2 2
(15.19)
1 − k r2
4π G p
ä = − ρ+3 2 a (15.20)
3 c
para a qual uma possível interpretação vem da dinâmica de gases, pois
considerou-se a distribuição de massa como um gás ideal. No caso
de um gás ideal, sabemos da Termodinâmica que, à medida que um
gás se expande com velocidade u (pressão p > 0), sua energia diminui
segundo
d 3k B T
ρ = − p∇ · u (15.21)
dt 2m
pois ∇ · u > 0. Esta equação nada mais é que a lei de conservação de
energia (equação da continuidade) pois um gás ideal tem energia ciné-
tica, segundo o teorema da equipartição de energia, igual à (3/2)k B T
onde k B é a constante de Boltzmann. Ao se expandir com pressão p
ele realiza trabalho e portanto sua energia diminui. Olhando para a
equação de Friedmann podemos então dizer que os termos da direita
8π G 2
ȧ2 + kc2 = ρa
3
4π G
a ä = − (ρ + 3p/c2 ) a2 (15.22)
3
8π G
2ȧ ä = (ρ̇ a2 + 2ρ a ȧ) (15.23)
3
4π G 8π G
2ȧ − (ρ + 3p/c2 ) a = (ρ̇ a2 + 2ρ a ȧ)
3 3
8π G 8π G
− (ρ + 3p/c2 ) a ȧ = (ρ̇ a2 + 2ρ a ȧ)
3 3
−(ρ + 3p/c2 ) a ȧ = (ρ̇ a2 + 2ρ a ȧ)
(15.24)
ou seja
ȧ
ρ̇ + 3(ρ + p/c2 ) =0 (15.25)
a
3H p
ρ̇ + 3Hρ = − (15.26)
c2
3H p
ρ̇ + 3Hρ = −
c2
ȧ 3p ȧ
ρ̇ + 3 ρ a = − 2
c a
3p 2
(× a3 ) → ρ̇a3 + 3ȧ a2 ρ = − 2 a ȧ
c
d 3 p
ρa = −3 2 a2 ȧ
dt c
p
d ρa3 −3 2 a2 ȧ dt
= ( ȧ dt = da)
c
d ρc2 a3 −3p a2 da
=
d ρc2 a3 = − p da3
(15.27)
8π G 2
ȧ2 + kc2 = ρa
3
d 3 p da3
ρa = − 3 (15.30)
dt c dt
As condições do universo hoje são tais que a distribuição de matéria é
tal que temos da ordem de 4 átomos de H por m3 . Isto significa que
o gás não faz pressão (poeira cósmica) e na equação de continuidade
podemos escrever
d 3
ρa = 0 → ρ a3 = constante (15.31)
dt
que, em outras palavras, significa que - segundo modelos mais recentes
- representa um universo dominado pela matéria, o que ocorreu num
tempo t ≥ 4.4 × 105 anos após o Big Bang (440 mil anos). Em outras
palavras vale, para o momento em que vivemos
ρ a3 = ρ0 a30 (15.32)
8π G 2
ȧ2 + kc2 = ρa
3
8π G 1
ȧ2 + kc2 = ρ a3
3 |{z} a
=ρ0 a30
2
8π G ρ0 a30 1
da
+k = 2
cdt {z } a
| 3c
=C
2
da C
= −k (15.33)
dτ a
Historicamente Friedmann propôs suas equações considerando as equa-
ções de Einstein sem a constante cosmológica (vide figura abaixo).
Por este motivo os livros a apresentam neta forma. Lemaître porém viu
que mantendo este termo chegamos a uma equação análoga à (15.30):
8π G ρ + Λ c2 2
ȧ2 + kc2 = a . (15.34)
3
A única modificação que isto traz para a equação (15.33) é a inclusão
de um novo termo na forma
2
da C Λ a2
= + −k (15.35)
dτ a 3
Vamos considerar a equação com constante cosmológica Λ pois ela nos
permite classificar os diferentes universos.
Se ρm = 0 a equação se reduz à
Λ a2
ȧ2 (τ ) = −k (15.38)
3
da
Z
τ=± √ (15.39)
Λ a2 /3 − k
1. a = const para Λ = 0, k = 0
Solução estática para um espaço plano e vazio.
2. a = τ para Λ = 0, k = −1
Solução da Teoria Especial da Relatividade de E.A. Milne (1896-1950)
para um universo aberto que se expande indefinidamente.
√
3. a(τ ) = a(0) e± Λ/3τ para Λ > 0, k = 0
Universo de de Sitter que obedece o chamado princípio cosmológico
perfeito de Hermann Bondi e Thomas Gold: on universo não apenas é
igual em qualquer ponto mas também igual em qualquer tempo. Nesta
√
solução a constante de Hubble vale ± Λ/3. Todas as soluções com
termo cosmológico e mesmo com presença de matéria convergem para
esta solução para todos os valores de a até a → ∞.
√ √
4. a(τ ) = Λ/3 cosh( Λ/3τ ) para Λ > 0, k = 1
Solução também encontrada por de Sitter. Solução que corresponde
a uma velocidade de expansão inicial igual a a(0) = sqrtΛ/3 e que
cresce indefinidamente.
√ √
5. a(t) = Λ/3 sinh( Λ/3τ ) para Λ > 0, k = −1
Solução também encontrada por de Sitter. Solução que corresponde a
uma explosão inicial em τ = 0 quando a = 0 (Big Bang) com expansão
infinita até a → ∞.
√ √
6. a(t) = Λ/3 sin( Λ/3τ ) para Λ < 0, k = −1
Solução também encontrada por de Sitter. Solução que corresponde
a uma explosão inicial em τ = 0 até a velocidade de expansão chegar
ao valor máximo a(0) = 3/sqrtΛ decrescendo à zero (colapso ou Big
Crunch) no tempo τ = 3/sqrtΛπ.
1. k = 0, universo plano.
A solução neste caso é
2/3
3H0 t
a ( t ) = a0 (15.41)
2
Este é o modelo de universo chamado de Einstein-de Sitter. Este
universo se expande indefinidamente e traz em si a idade do universo
na forma t0 = 2/(3H0 ), de modo que podemos escrever
2/3
t
a = a0 (15.42)
t0
é uma ciclóide. O universo começa no Big Bang e termina no Big
Crunch.
2. k = 1, universo fechado.
A solução neste caso é comumente paramatrizada na forma de um
ângulo de evolução θ de tal modo que
C
a(θ ) =(1 − cos θ ) (15.43)
2
onde a relação entre θ e a coordenada τ = ct é
C
τ= (θ − sin θ ) (15.44)
2
A curva a(τ ) é uma ciclóide. O universo começa no Big Bang e termina
no Big Crunch.
C Λ a2
ȧ2 − − = −k (15.47)
a 3
Esta equação é semelhante à de uma massa puntual que se encontra
num ponto a(τ ) no instante τ sob a ação de um potencial V ( a) dado
por
C Λ a2
V ( a) = − − (15.48)
a 3
com uma energia igual à −k. Podemos ver isto na imagem a seguir:
8π G 2
ȧ2 = ρ a − kc2 (15.53)
3
por conter, dentre suas possíveis soluções, uma que apresenta um Big
Bang (e um Big Crunch, dependendo da curvatura do Universo) é a
teoria a partir da qual a descrição em larga escala de nosso universo
se baseia. Porém, a EFL diferente de outras equações da física onde
podemos ir ao laboratório e medir parâmetros que definem as escalas
e constantes das equações, para a EFL não podemos fazer os experi-
mentos mas apenas observar os fenômenos, aprimorando as medidas
Para isto basta que o navio carregue uma tabela com as eclipses de
Io medidas num local padrão e comparasse com horário do eclipse
registrado por um relógio no navio. Este método se mostrou pouco
confiável pelas tabelas não tão precisas de Galileu e pela dificuldade de
se observar os eclipses a bordo de um navio.
Em 1671, Rømer e o astrônomo francês Jean Picard (1620 -1682)
observaram um total de 140 eclipses de Io a partir do observatório
de Uraniborg (o observatório fundado por Tycho Brahe na ilha de
Hven 4 ). Comparando estes resultados com os resultados medidos por 4
Hven, chamada de Ven em sueco, é uma
Giovanni Domenico Cassini (1625 - 1712) em Paris, eles foram capazes pequena ilha no estreito de Øresund, em
torno de 30 km ao norte da estrada que
de determinar a diferença de longitude entre Hven e a Cidade Luz. Em liga a capital dinamarquesa København
Paris Rømer continuou suas observações e por meio delas estabeleceu e a cidade sueca de Malmö.
a finitude da velocidade da luz, algo que já havia sido aventado por
Cassini. Esta finitude teria por consequência uma diferença entre o
horário previsto e o horário efetivamente observado do eclipse de Io.
Isto ocorre pois se fizermos medidas em diferentes épocas do ano, a
distância da Terra a Júpiter terá mudado e portanto a luz de Io leva
mais tempo para chegar até nós. Baseado na hipótese que a velocidade
da luz seria finita, Rømer anunciou em setembro de 1676 – baseado
nas observações que ele fizera em agosto – que o eclipse previsto
para as 5h45m45s no dia 9 de novembro seria observado dez minutos
depois, como de fato foi! Alguns dias depois Rømer explicou perante
à Academia Real de Ciências que o atraso se devia ao fato que entre
agosto e novembro a distância entre a Terra e Júpiter havia aumentado
e portanto a luz necessitava de 10 minutos para percorrer o caminho
extra, uma vez que sua velocidade era finita. A ideia por trás da medida
pode ser explicada pela figura abaixo.
`n
tn = nτ + (A.3)
c
onde `n é a variação total da distância L durante este tempo. Há
duas incógnitas nesta equação: por um lado τ, que não conhecemos
exatamente bem como a velocidade c da luz, que queremos determinar.
Com 2 medidas adequadas, podemos determinar estes valores.
3 × 108 km
c= = 300 000 km/s (A.6)
103 s
isto é com velocidade −v. Assim, a velocidade da luz na ida até o espe-
lho é de c − v (contra o “vento”) ao passo que na volta sua velocidade c (1− v2/c2 )1/2 c (1− v2/c2 )1/2 c
e portanto o tempo total gasto pela luz na trajetória de ida e volta até o
espelho S1 é
2L 2L
T1,t + T2,t = = √ (A.11)
c⊥ c 1 − v2 /c2
Os livros que tratam deste assunto normalmente contornam esta discus-
são apresentando este resultado de uma maneira diferente na forma
mas igual no conteúdo. No trajeto até o espelho S1 a luz gasta um
tempo T1,t , ou seja, ela percorre uma distância cT1,t . Porém, neste
tempo, o espelho se moveu por uma distância vT1,t para a direita da
figura. Isto significa que a luz percorreu
q um caminho total que, segundo
o Teorema de Pitágoras, vale 2 . Portanto:
L2 + vT1,t
q
2 L
cT1,t = L2 + v T1,t =⇒ T1,t = √ . (A.12)
c2 − v2
Como no retorno o feixo de luz percorre um caminho análogo, temos
que T2,t = T1,t e portanto o tempo total gasto pelo raio para ir e voltar
é:
v2
2L 2L
Tt = T1,t + T2,t = 2T1,t = √ ≈ 1+ 2 (A.13)
c2 − v2 c 2c
Note que a equação (A.11) e a penúltima equação em (A.13) são idên-
ticas. A diferença de tempo gasto pela luz para percorrer as duas
trajetórias vale
2L 1 2L 1
Tl − Tt = − √
c 1 − v22 c 1 − v2 /c2
c
v2 v2
2L 2L
≈ 1+ 2 − 1+ 2
c c c 2c
v2
≈ L (A.14)
c3
Se a frequência da luz é ν, para uma diferença de tempo Tl − Tt corres-
ponde um deslocamento de fase (franjas) igual a
v2
∆F = ν ( Tl − Tt ) ≈ νL . (A.15)
c3
Nesta dedução supomos que os dois braços do interferômetro tenham
comprimentos exatamente iguais. No entanto, em uma típica mon-
tagem experimental, é difícil garantir esta igualdade. Neste caso, é
L1 + L2 v2
Tl − Tt ≈ , (A.16)
2 c3
que reproduz assim, com maior fidedignidade, a situação experimental
real. Isto porém traz em seu bojo uma outra dificuldade: qualquer
∆F observado em condições experimentais pode advir também da
diferença de comprimento dos braços do interferômetro, mascarando o
efeito do arrasto da luz. Contudo, este problema pode ser eliminado
girando o aparato por 90 graus, exatamente como Michelson e Morley
fizeram. Ao girar o equipamento, qualquer diferença de fase devido
à diferença nos braços do equipamento continua presente, mas a fase 6
Fonte: R.S. Shankland, S. W. McCuskey,
F. C. Leone and G. Kuerti: New Analysis
devido ao movimento relativo ao éter se torna −∆F. Assim, as franjas
of the Interferometer Observations of Dayton
de interferência se descolarão por 2∆F. Os experimentos, porém, não C. Miller. Rev. Mod. Phys. 27, no. 2
mostraram qualquer deslocamento nas franjas, como podemos ver na (1955), pp. 167 – 178..
tabela abaixo 6 .
esperado
Autores Ano Local L(m) 2∆F 2∆F medido
(valor esperado) (valor medido)
P1i = P1 f + P2 f , (A.17)
E20
P22f = P1i2 + P12f + 2 ( P1i − P1 f ) − 2 P1i P1 f . (A.23)
c
Comparando esta expressão com (A.21) concluimos que
1 1 c 1 1 1
− = (1 − cos θ ) =⇒ − = (1 − cos θ ). (A.24)
P1 f P1i E20 E1 f E1i E20
O que esta expressão nos diz é que pela colisão o fóton transfere parte
de sua energia ao elétron e que o ângulo de espalhamento θ, que
determina a direção do movimento do fóton após a colisão, depende
do quanto de energia ele perdeu. Esta equação pode ser também escrita
para mostrar a mudança de comprimento de onda (ou frequência) de
um fóton depois do espalhamento. Lembrando que para um fóton de
frequência ν e comprimento de onda λ, sua energia pode ser escrita
como E = hν = hc/λ e portanto
h 1 1 h
λ f − λi = (1 − cos θ ) =⇒ − = (1 − cos θ ). (A.25)
me c νf νi m e c2
P1i,⊥ = P 1 f ,⊥ + P 2 f ,⊥
P1i,k = P 1 f ,k + P 2 f ,k . (A.27)
α P(2,f)−P(2,i) = 2 P(1,i)
P(1,i)
P(1,i) tangencial
h̄ω h̄ω 0
cos α + M2 v = − cos β + M2 (v + ∆v x )
c c
h̄ω h̄ω 0
sin α = sin β, (A.32)
c c
e a conservação de energia como
M2 v2 M2 (v + ∆v x )2
h̄ω + = h̄ω 0 + =⇒
2 2
M2 ∆v2x
=⇒ h̄ω = h̄ω 0 + M2 v∆v x + (A.33)
2
Considerando a expressão para a conservação de momentum na direção
horizontal (eliminando o termo M2 v dos dois lados da igualdade) temos
h̄
M2 ∆v x = (ω cos α + ω 0 cos β). (A.34)
c
h̄v h̄2
h̄ω = h̄ω 0 + (ω cos α + ω 0 cos β) + (ω cos α + ω 0 cos β)2 .
c 2M2 c2
(A.35)
Obviamente podemos tratar o espelho com um corpo clássico, newtoni-
ano, ou seja no limite M2 → ∞ esta expressão se reduz à
v
1− cos α
ω0 = c
v ω (A.36)
1+ c cos β
β β
α v α v
P(1,i) P(1,i)
P(1,i) tangencial P(1,i) tangencial
1.25
Ângulo no lab. Figura A.8: Ângulo de reflexão β como
1.2 pi/4
1.15
função da razão v/c segundo a equação
1.1
(A.38) para α = π/4. Autor: Henrique
1.05 Lengler.
beta'
0.95
0.9
0.85
0.8
0.75
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
v/c
B
A α
β
y D
G
φ
v
x
n
C
D
φ
v
BD + DG
sin α =
AG
AC − AF
sin β = (A.40)
AG − EF
onde considerou-se que ED = AG. Como já explicado anteriormente,
temos que
AC = BD = c(t − t0 ) (A.41)
Olhando para o entorno do ponto A com um pouco mais de detalhe (v.
fig. A.5), temos que AO = d = v(t − t0 ) sin φ. Disto seguem as relações
AO v(t − t0 ) sin ϕ
DG = AE = =
cos α cos α
AO v(t − t0 ) sin ϕ
AF = = 1
cos β cos β t
1’
β
t0 E
O
(A.43) α
F
v (t − t 0 )
Gedanken ohne Inhalt sind leer, Anschauungen ohne Begriffe sind blind. Pensamentos sem conteúdo são vazios; intui-
ções sem conceitos, cegas.
(I. Kant, Kritik der Reinen Vernunft, B75, 1781)
De acordo com Kant, foi a obra do empirista inglês David Hume que o
tirou da “sonolência dogmática” e o colocou no caminho de uma crítica
da razão pura cujo objetivo era a “solução do problema de Hume em
sua forma mais geral possível” 7 . O empirismo britânico de Bacon, 7
Prolegomena p. 260, §13 e p. 261, §15.
Locke e Hume enfatiza o papel da experiência sensível e da evidência
na formação de ideias, em detrimento das ideais inatas ou racionalismo 8
Para os empiristas todas as idéias se
de Descartes, Leibniz e Espinosa 8 . originam com a nossa experiência sensível.
O problema ao qual Kant se refere na obra de Hume, e que ele toma Para os racionalistas, há outras maneiras
que independem da experiência, embora
como ponto de partida para sua digressão, é o problema da causalidade 9 : não a excluam enquanto fonte de conhe-
segundo Hume, causa é um evento/objeto que é seguido por outro – cimento.
9
D. Hume, An Enquiry Concerning Human
o efeito – de tal modo que todos eventos similares à causa devem ter
Understanding, in Locke, Berkeley, Hume:
como consequência efeitos similares entre si. Para Hume o problema Britannica Great Books of the Western World,
se resume, filosoficamente falando, ao seguinte: como chegamos ao vol. 35, Chicago, 1957.
16
Na literatura filosófica usa-se também
igualmente de juízos explicativos ao passo que os segundos de juízos extensivos; os termos juízos de elucidação quando
16 ; isto porque [nos juízos analíticos] o predicado nada acrescenta ao conceito analíticos ou de ampliação quando sintéti-
do sujeito e apenas pela análise o decompõe nos conceitos parciais, que já neles cos.
estavam pensados (embora de maneira confusa). Os juízos sintéticos, ao contrário,
acrescentam ao conceito do sujeito um predicado que nele não estava pensado e
dele não podia ser extraído por qualquer decomposição 17 . 17
Kant, op. cit, p. 57, B10 e B11.
seus conceitos, para que apenas reste a intuição empírica. Em segundo lugar,
separaremos ainda desta intuição tudo o que pertence à sensação, de tal modo que
reste somente a intuição pura e simples, forma dos fenômenos, que é a única que
a sensibilidade a priori pode fornecer. Nesta investigação se apurará que há duas
formas puras da intuição sensível, como princípios do conhecimento a priori: o
espaço e tempo, de cujo exame nos ocuparemos a seguir. 20 Kant, op. cit, pp. 93, A19, A22, B33,
20
B36.
Indo diretamente ao ponto, vejamos o que Kant tem a dizer sobre o
espaço. Segundo ele:
iii. o espaço tem realidade pois tudo o que possa apresentar-se externa-
mente a nós tem comprovação empírica e idealidade transcendental
pois podemos, tão logo deixemos de lado a experiência, imaginá-lo
como algo subjacente a todas as coisas.
Aparentemente o tempo não pode ser visto, tanto quanto o espaço, como algo em
nós. [...] O tempo não é um conceito empírico que derive de uma experiência
qualquer. Nem a simultaneidade, nem a sucessão surgiriam na percepção se a
representação do tempo já não estivesse [em nós] a priori. É apenas quando a
pressupomos que podemos representar em nossa mente que uma coisa existe num
só e ao mesmo tempo (simultaneamente), ou em tempos diferentes [...] O tempo
não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal, mas uma
forma pura da intuição sensível. Tempos diferentes são apenas partes do mesmo
tempo.22 I. Kant, op. cit., p. 97, A23, B37; p. 106,
22
A30, B46.
Kant também conclui que:
O tempo não é algo que exista em si mesmo ou seja inerente às coisas enquanto
designação objetiva e portanto continue existindo quando abstraimos todas as
condições subjetivas da intuição. [...] O tempo não é mais do que uma forma
do sentido interno, isto é, da intuição de nós mesmos e de nosso estado interno.
Realmente, o tempo não pode ser determinado pelos fenômenos externos; ele não
pertence a uma figura ou a uma posição etc., mas antes determina a relação
das representações no nosso estado interno. E precisamente por esta intuição
interna não se apresentar como figura, procuramos suprir essa falta de analogias
representando a sequência do tempo por uma linha contínua, que se prolonga
até o infinito e cujas diversas partes constituem uma série que tem apenas uma
dimensão. Das propriedades da reta tiramos todas as propriedades do tempo, com
exceção de uma só, a saber, que as partes da primeira [reta] são simultâneas e as
do segundo [tempo] sucessivas. Por aqui se vê também que a representação do
próprio tempo é uma intuição, pois todas as relações se podem expressar numa
representação externa. [...] o tempo constitui a condição a priori de todos os
fenômenos em geral; é, sem dúvida, a condição imediata dos fenômenos internos
(da nossa alma) em por isso mesmo também, indiretamente, dos fenômenos
externos. 23 Kant, op. cit., pp 109, 110; A33,34 e
23
B50,51.
Tempo e espaço não são portanto conceitos empíricos, discursivos
e portanto analíticos que podemos obter da experiência. Eles estão
presentes antes que possamos apreender algo em seu contexto espacial
e/ou temporal. Para melhor entender isto podemos fazer uso de um
simples exemplo de um juízo que pode nos parecer sintético a priori
mas não o é: o conceito de “vermelho”. Quando dizemos que o sangue
é vermelho – um juízo sintético a posteriori – o conceito de vermelho
pode se nos parecer como estando já presente em nossa cognição,
sendo portanto a priori. Este conceito no entanto não está presente
a priori em nossas mentes uma vez que não trazemos, ao nascer, as
categorias de cores definidas em nossas mentes. “Vermelho” é um
conceito empírico, adquirido em algum momento de nossa primeira
infância quando nossos pais nos ensinaram o que era vermelho nos
mostrando objetos que eram vermelhos, associando a cor ao nome24 . 24
I. Strohmeyer, op. cit, p. 28.
Tempo e espaço são genuinamente conceitos que trazemos prontos em
nossa estrutura mental e que nos permitem entender as relações de
posição e ordenamento temporal nos fenômenos naturais.
Convém notar que muitas pessoas argumentam que, uma vez que
Kant pretende fundamentar os conceitos Newtonianos de espaço e
tempo absolutos, sua filosofia estaria ultrapassada quando a confron-
tamos com as teorias de Einstein. Na realidade, como argumenta I.
Strohmeyer, a filosofia de Kant é compatível com as ideias de Einstein
pois
[...] A Crítica da Razão Pura não tem, como proposta, fundamentar uma teoria
do conhecimento empírico (baseado na experiência) mas um estudo sobre a
possibilidade [de existir] conhecimento a priori 25 . 25
I. Strohmeyer, op. cit., p. 12.
1632 Galileo Galilei (1564 - 1642) publica seu famoso livro Dialogo
sopra i due massimi sistemi del mondo: Tolemaico e Copernicano no qual
ele formula o princípio da inércia e a invariância das leis da Física
para referenciais inercias que se movem em relação um ao outro. É
interessante notar que Galileo, diferentemente de outros cientistas da
época, escreveu sua obra em italiano e não latim, como era costume
na época.
1644 René Descartes (1596 - 1650) sugere que o Éter dos antigos filó-
sofos como Platão (em Timaeus) e Aristóteles possui propriedades
mecânicas e através dele as forças entre corpos são impingidas. Ro-
berto Hooke (1635 - 1703) estende para o conceito para o do éter
luminífero, o meio no qual a luz se propaga. Michael Faraday (1791
- 1867) atribui ao Éter propriedades magnéticas - em particular da
força magnética - e Carl Friedrich Gauss (1777 - 1855) e Bernhard
Riemann (1826 - 1866) incluem entre as forças transmitidas pelo Éter
a da gravidade e da interação Coulombiana.
1687 Isaac Newton (1642 - 1727) publica seu opus magnum, o Philo-
sophiae Naturalis Principia Mathematica, conhecido hoje simplesmente
por Principia. Nele Newton formula suas 3 leis do movimento e
introduz a idéia de espaço e tempo absolutos.
300 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
1842 Christian Doppler (1803 - 1853) descobre o efeito que leva seu
nome e abre a possibilidade de se medir a velocidade de astros
distantes. A precisão experimental já era suficiente na época para
observar o efeito clássico (da ordem de v/c) sem no entanto ter ainda
precisão para detectar os termos da correção relativística de ordem
v2 /c2 . O efeito Doppler em estrelas distantes foi confirmado pelo
físico alemão Johann Karl Friedrich Zöllner (1834 - 1882) que desen-
volveu espectrômetros da alta precisão com o objetivo de estudar o
espectro de estrelas.
1849 - 1862 Armand Hippolyte Louis Fizeau (1819 - 1896) e Jean Ber-
nard Léon Foucault (1819 - 1868) medem com grande precisão a
velocidade da luz em laboratório usando rodas dentadas e prismas.
1861 - 1862 James Clerk Maxwell (1831 - 1879) formula sua teoria para
o eletromagnetismo clássico, provando teoricamente a existência
√
de ondas eletromagnéticas de velocidade 1/ e0 µ0 = c no vácuo.
Com isto Maxwell afirmou ser a luz uma onda eletromagnética,
unindo portanto a Óptica ao Eletromagnetismo. Em 1888 Heinrich
Rudolph Hertz (1857 - 1894) comprovou experimentalmente a teo-
ria de Maxwell, primeiro na Universidade Técnica de Karlsruhe e
posteriormente na Universidade de Bonn. Alguns anos antes, entre
1873 e 1874, Ludwig Eduard Boltzmann (1844 - 1906) publicou os
resultados de suas medidas da relação entre a constante dielétrica e
e o índice de refração n de diferentes meios, confirmando a previsão
da teoria Maxwelliana que e ∼ n2 .
1883 Ernst Mach (1838 - 1916) publica seu famoso livro Die Mechanik
in ihrer Entwicklung: historisch-kritisch dargestellt (A mecânica em seu
desenvolvimento: uma apresentação crítico-histórica) onde propugna suas
idéias a cerca do tempo e do espaço e de que a inércia dos corpos
resulta da interação com todos os outros corpos do universo. Este
trabalho exerceu enorme influência sobre Einstein.
1887 Woldemar Voigt (1850 - 1919) introduz uma versão diferente das
transformações de Lorentz que, posteriormente, Voigt afirmou serem
para a resolução de um problema específico e não pensadas como
uma transformação geral entre coordenadas que se movem com
velocidade relativa v na direção do eixo x. O trabalho de Voigt é inti-
tulado Ueber das Doppler’sche Princip (Acerca do Princípio de Doppler).
Lorentz, que por ocasião da publicação das suas transformações em
1902 não conhecia o trabalho de Voigt, reconheceu o pioneirismo de
Voigt, bem como Minkowski em sua palestra de 1908.
1908 Hermann Minkowski (1864 - 1909) mostra que a teoria de seu ex-
aluno quando professor em Zürich, na Suíça, podia ser interpretada
geometricamente num espaço quadridimensional (espaço-tempo)
com uma métrica pseudo-euclideana.
1915 Einstein publica as famosas equações que hoje levam seu nome
no artigo Die Feldgleichungen der Gravitation (As equações de campo da
gravitação).
a) Primeira parte da viagem de Eva Tabela D.1: Viagem de Eva (na espaço-
nave) vista por Ava (na Terra).
a. Início t=0
T
d. Distância EU entre Ava e Eva quando d= 2v
Eva chega ao ponto de retorno U
q
1−v/c
e. Frequência dos sinais emitidos por Eva νEva ida = ν0 1+v/c
e captados por Ava
T d
f. Tempo t1 no qual Ava fica sabendo do t1 = 2 + c
retorno de Eva
k. Número total de sinais recebidos por Ava NEva ida + NEva volta =
NEva = √
= ν0 T 1 − v2 /c2
a) Primeira parte da viagem de Eva - Sistema I’ Tabela D.2: Viagem de Eva vista de seu
referencial próprio.
a. Início t0 = 0
T0
d. Distância AU (contraído para Eva pois d0 = d
γ = 2 | − v|
para ela Ava e U estão em movimento)
q
1−v/c
e. Frequência dos sinais emitidos por Ava νAva ida = ν0 1+v/c
e captados por Eva
h. Início t00 = T 0 /2
k. Distância d00 = d
γ = d0
0 00
l. Número de sinais de frequência νAva volta NAva volta = νH volta T2 = νAva volta T2
emitidos por Ava e recebidos por Eva = ν0 dv (1 + v/c)
até seu retorno
m. Número total de sinais recebidos por Eva NEva = NEva ida + NEva volta =
= ν0 2d
v
C.S. Unnikrishnan:
dt0
dt = q (D.3)
u2
1− c2
Linha de Simultaneidade de B
Linha de Simultaneidade de C
dX aT
u= = p (D.10)
dT 1 + ( aT/c)2
e portanto
a∆0 T
v= p (D.11)
1 + ( a∆0 T/c)2
é a velocidade adquirida pelo corpo (do ponto de vista do referencial
inercial) atingida depois de um tempo ∆0 T transcorrido. Isto significa
que podemos escrever
v
a∆0 T = √ (D.12)
1 − v2 /c2
√
Usando agora a expressão para o tempo-próprio dτ = 1 − u2 /c2 dt
e a expressão para a velocidade u acima, podemos calcular o tempo
próprio τ20 do relógio C2 :
Z ∆0 T p Z ∆0 T 0
dT c −1 a∆ T
τ20 = 1 − u2 /c2 dT = r 2 = a sinh
0 0 c
1 + aTc
(D.13)
Podemos agora usar a equação (D.12) para escrever
ou seja p
∆τ2 = ∆τ1 1 − v2 /c2 (D.18)
Veremos agora que o mesmo resultado pode ser obtido se todo o pro-
cesso é visto do ponto de vista de um referencial S2 com coordenadas
( x, y, z, t) que segue o movimento do relógio C2 de tal modo que este
relógio se encontra sempre parado na origem. Nos intervalos de tempo
em que S2 está acelerado em relação ao referencial S1 ou a estrelas
distantes, no referencial S2 há um campo gravitacional. Durante o inter-
valo de tempo 0 < t0 < τ20 de magnitude ∆0 t = τ20 o campo gravitacional
é descrito pelo potencial (vide eq. ??)
c2
Φ= ( g00 − 1) = (D.19)
2
[4] V.A. Ugarov, The special theory of relativity, Mir Publishers, Moscow,
1978.
[14] B.C. van Frassen, An Introduction to the Philosophy of Space and Time,
Columbia University Press, 1985.
[21] Derek J. Raine and Michael Heller, The Science of Space–Time, Pa-
chart Publishing House, Tucson, 1981.
[25] Aristotle, The works of Aristotle, vol. I, W. D. Ross (ed). Great Books
of the Western World, vol. 8. Encyclopedia Britannica, Chicago,
1952. A tradução do livro Φυσικη por R. P. Hardie e R. K. Gaye.
[26] K. Simonyi, Kulturgeschichte der Physik: von den Anfängen bis 1990
(História cultural da Física, dos primórdios até 1990), Verlag Harri
Deutsch, Thun/Frankfurt am Main, 1995.
[29] A. Pais, Subtle is the Lord. The Science and the Life of Albert Einstein,
Oxford University Press, Oxford, 1982.