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Curso: FILOSOFIA (Bacharelado)

Disciplina: Introdução à Filosofia


Tutor: Wagner Montanhini
Aluno: Antonio Carlos Martins Lima
Unidade (Polo): São Paulo-SP
RA: 8142288
Turma: DGFIB201SPOAOD (Calendário: SI)

PORTFÓLIO – ATIVIDADE CICLO 2

1 – Análise do texto de Desidério Murcho

Das quatro justificativas a cerca das convicções do filósofo Desidério Murcho sobre a
importância da Filosofia, contida em seu tratado “O que é filosofia?”, foi o tomo “1.2. O
pensamento filosófico é consequente”.

Logo de saída a pergunta que faz o autor “Será que a ideia de que tudo é relativo é também
relativa?” já coloca em cheque o enunciado filosófico científico da relatividade, pegando no
contrapé convicções sabidamente comprovadas.

A partir daí, o texto apresenta uma série de questionamentos paradoxais, já que coloca o
domínio da verdade dessa relatividade no campo pessoal, apontando que para algumas
pessoas tal principio pode ser verdadeiro ou falso, de acordo com o que cada pessoa crê ou
tem como princípio social, ético ou moral.

O autor se utiliza dessa aparente incongruência para trazer o cerne de seu texto, qual seja
“Ser consequente é aceitar as consequências das nossas ideias.”.

Fica claro a partir daqui que as premissas filosóficas precisam ser consequentes, ainda que
tais consequências sejam ranhentas para quem as postula. Não resta dúvida de que ao se
tomar um caminho ou outro relativamente a postulados filosóficos, para além das
responsabilidades intrínsecas que possam haver no conteúdo, a aceitação irrestrita das
consequências que tais ideias podem causar na sociedade, deve ser inalienável.
Outro aspecto muito interessante do texto diz respeito à necessidade de se manter firme ao
se postular um pensamento filosófico, ainda que seja contraditório, como o autor aponta a
seguir: “Se defendes que tudo é relativo e que não há verdades, não podes defender que a
tua convicção é verdadeira.”

Nota-se que escarafunchar o pensar filosófico, exige coragem e convicção, inclusive para
recuar, caso este viajante cerebral se depare com incongruências que tornem suas
explanações “falsas, improváveis, absurdas ou de outra forma difíceis de aceitar”, o que, de
acordo com Murcho, deve suscitar em quem postula, a mudança de rumo.

Por fim, os três elementos apresentados pelo autor (problemas, teorias e argumentos), a
partir do relativismo analisado em seu texto, trazem um resumo perfeito sobre como lidar
com o pensamento filosófico, sendo o problema a postulação em si; a teoria os pontos de
vista que apontam as diversas possibilidades de abordagem do tema e os argumentos o que
torna o postulado crível.

Esses três pilares têm, no entanto, que estar coadunados com o que Murcho descreve, de
modo sintético e fascinante como “saber formulá-los claramente e saber discuti-los com
rigor”. Armado com esses dois princípios, creio que o filosofo estará apto a desafiar seus
demônios e contradições para chegar a um enunciado consequente.

O outro tomo do texto “O que é filosofia?” de Murcho que mais me impactou foi o “1.4. A
filosofia é diferente da história”.

Nesta parte do enunciado, o autor volta a se envolver com a teoria do relativismo, atribuída
à Protágoras de Abdera. Cabe destacar a visão do autor de que os textos filosóficos tinham
um contexto histórico que os envolvia na época em que foram escritos, o que, em si, leva a
que outros filósofos e pensadores que viveram ou vivem em outra época podem – e devem –
analisar tais ideias com à luz das descobertas vigentes em seu tempo, como ocorre com a
própria teoria da relatividade.

A partir da constatação de que é fundamental contextualizar historicamente o estudo da


filosofia, Murcho alerta inequivocamente que tal contextualização não pode se confundir
com a análise puramente filosófica dos textos estudados, ou seja, “na filosofia estudamos o
que os filósofos dizem para discutir as suas ideias”, independentemente do período histórico
no qual tais ideias vieram à tona.
Por fim, chamou-me muito a atenção a comparação que o autor fez sobre o estudo da música
e da historia da musica com o estudo da filosofia e da historia da filosofia, paralelo que
deixa muito claro que ao debruçarmo-nos num tratado filosófico devemos lidar com ele
como um instrumentista se dedica ao mergulhar numa partitura de obra musical, analisando
a notação, os intervalos, os tempos, os silêncios e intensidades ali apontados e não se a obra
foi escrita no século XII ou no século XXI. Indo mais fundo nessa comparação, o autor
propõe que ao aprofundarmo-nos no estudo de um instrumento, temos as ferramentas para
não só executar e apreciar uma canção ou sonata, mas também para criar nossas próprias; do
mesmo modo, com a filosofia, ao analisarmos de modo correto o que os filósofos que nos
antecedem ou coetâneos formulam, podemos não só entendermos tais tratados, mas também
criar nossas próprias teorias sobre tudo.

2 – Análise do texto “O valor da filosofia”

Logo de saída, Russel já nos apresenta uma questão muito em voga com o texto a seguir “É
muito importante considerar esta questão, tendo em vista o fato de que muitos homens, sob a
influência da ciência ou dos negócios práticos, tendem a duvidar de que a filosofia seja algo
mais que uma ocupação inocente, porém inútil, com distinções sutis e controvérsias sobre
questões acerca das quais o conhecimento é impossível.”

Nesta introdução o autor já nos remete a um dos principais paradoxos da humanidade,


largamente apontado por autores como Bauman e Airton Krenak, qual seja, a utilidade da
vida e das relações humanas.

Numa sociedade tecnicista e pragmática, alguns incautos homens “práticos”, apontam que o
estudo da filosofia é supérfluo e desnecessário. Dentre essas mentes pouco afeitas ao saber e
à própria evolução tecnológica, já que grandes avanços da ciência tiveram a filosofia como
mola propulsora, estão políticos contemporâneos como o Deputado Federal Izalci Lucas
Ferreira (PSDB-DF), que apresentou a estapafúrdia proposta de retirar do ensino médio as
disciplinas Filosofia e Sociologia, o qual continua a tramitar, permanecendo, pois, a trágica
ameaça no ar.

Nesse contexto em que o parlamento discute se jovens que entrarão na vida adulta e
funcional em breve devem ou não saber pensar por si, as justificativas sobre a importância
da filosofia contidas no texto de Bertrand Russel tornam-se não só importantes, antes,
fundamentais.

O autor aponta de modo sistemático e claro as diferenças que se vê entre os resultados de


ciências outras como História e Matemática, os quais são facilmente mensuráveis, com os
advindos dos estudos filosóficos, já que a evolução natural de vários questionamentos
científicos foi chegar a finalidades reconhecidas como ciência. Aqui pode-se citar o exemplo
de Filósofos Jônicos, que naqueles primórdios da filosofia, através de suas intuições e
experimentos, tiraram do misticismo vigente à época. Fenômenos naturais que hoje são
facilmente assimilados até por crianças da mais tenra idade, como a duração do ano e das
estações, pensadas por Anaxímandro e que hoje é aceita como ciência inquestionável, assim
como devaneios desse filósofo primevo relativamente a evolução dos seres vivos, viraram
ciência dois mil e quatrocentos anos depois sob os auspícios de Charles Darwin. Como
outros exemplos de ciências que, em sua origem, eram formulações filosóficas, podemos
citar a Psicologia e a Astronomia.

Vê-se, pois, que o infindável vai e vem dos questionamentos filosóficos nem sempre
chegam a resultados práticos. Os infinitos insights, sinapses e contrapontos que um filosofo
precisa lançar mão para estruturar seus estudos, podem dar em tudo e, inclusive, em nada.
Ao se dispor a analisar teorias que podem mudar o modo de vida dos humanos, o verdadeiro
filosofo deve estar disposto a recuar, caso suas ideias não consigam assentar na veracidade e
coerência, descambando para o que Murcho descreve como “falsas, improváveis, absurdas
ou de outra forma difíceis de aceitar”.

A filosofia, por ser um estudo a priori, em muitos casos, necessita de elementos empíricos
para se estabelecer como verdade. Como descreve Murcho, esta aparente contradição do
pesnamento filosófico de não resultar em produtos palpáveis, mensuráveis, metrificáveis
como em outras ciências, e, muitas vezes, como já dito, ser o ponto de partida para que
aquelas intuições e experimentos tidos como abstratos, resultem nos produtos mensuráveis a
que os “homens práticos” usam como argumento para colocar a filosofia, por não os ter, seja
classificada como inútil.

Num trecho muito importante do texto, o autor enumera alguns dos problemas sem solução
no atual momento da consciência humana “Tem o universo alguma unidade de plano ou de
propósito, ou é uma confuência fortuita de átomos? É a consciência uma parte permanente
do universo, dando-nos esperança de um aumento indefinido da sabedoria, ou ela não pas-
sa de um acidente transitório num pequeno planeta no qual a vida acabará por se tornar
impossível? São o bem e o mal importantes para o universo ou apenas para o homem?”.

Toda esta problemática descrita por Russel encontra variadas respostas trazidas por filósofos
em contextos e épocas diversas. Fica evidente que são questões ainda em aberto; contudo, é
esse ruçar que pode ser apontado como a importância central do pensamento filosófico.
Continuar fuçando nesses questionamentos é, sem sombra de dúvidas, a chance que temos
de um dia, quem sabe, conseguir responde-los. Segundo o autor, a busca pelo valor
intrínseco da filosofia deve ser buscado antes em suas incertezas que em suas descobertas
concretas.

Creio ser importante destacar a panaceia existencial na qual Russel associa a filosofia ao
desenrolar da vida do cidadão comum quando diz que “O homem que não tem a menor no-
ção da filosofia caminha pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum,
das crenças habituais da sua época e do seu país, e das convicções que cresceram na sua
mente sem a cooperação ou o consentimento deliberado de sua razão. Para tal homem o
mundo ten- de a tornar-se finito, definido, óbvio;”.

Aqui fica evidente o papel da filosofia na busca de elevar os cidadãos à condição de seres
livres de fato, sem estarem aprisionados a dogmas que os levam a se aliar a religiões
sectárias e fundamentalistas ou a políticos opressores, como descreve com riqueza de
detalhes e postulados científicos, o sociólogo, psicoterapeuta e cientista Wilhelm Reich, em
publicações como Psicologia de Massas do Fascismo, o qual, destarte ter sido escrito nos
idos anos de 1930, quando tomava forma o fascismo e o nazismo, infelizmente, volta a ter
assustadora verossimilhança com a realidade, ao aflorar sob a onda de extrema direita
radical que assola vários países do mundo e também o Brasil.

Outro aspecto levantado por Russel em seu texto que merece destaque é a visão
cosmológica que a filosofia trás para a vida social. O pequeno ciclo a que se insere um
individuo não o capacita para pensar o mundo e suas idiossincrasias, contradições, estéticas,
éticas e coisas que tais. Essa visão ampla que os problemas e respostas filosóficas apontam,
aproximam as pessoas, afastando-as de viver apenas suas questões comezinhas,
encaminhando assim seus pensamentos e ações para caminhos de liberdade, amparado nessa
contemplação filosófica como descreve o autor, o ser pode além de ser ele mesmo em sua
plenitude, aceitar que existem outros seres com suas próprias complexidades, motivações,
desejos, entendimentos e metas, o que fica evidenciado nesse trecho basilar do texto, onde o
autor diz que “O intelecto livre deverá enxergar assim como Deus pode ver: sem um aqui e
agora; sem esperança e sem medo; isento das crenças habituais e dos preconceitos
tradicionais: de forma calma e desapaixonadamente, com o único e exclusivo desejo de co-
nhecimento – um conhecimento tão impessoal, tão puramente contemplativo, quanto seja
possível a um homem alcançar.”

Por fim, comparo o estudo da filosofia à definição sobre utopia atribuída a Fernando Birri e
eternizada pelo jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galiano, na qual diz que “A utopia
está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que
serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”. Para mim, o que torna
a filosofia importante e fundamental para a humanidade é sua busca e não seus resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RUSSEL, B. O valor da Filosofia. Tradução de Jaimir Conte. Oxford: Oxford University


Press, 1959. Reimpresso em 1971-2. Capítulo 15 http://conte.prof.ufsc.br/txt-russell.pdf ]

E-REFERÊNCIA
MURCHO, D. O que é Filosofia? Disponivel em:
https://cricanarede.com/oqueeafilosofia.html . Acesso em : 30 de julho de 2020

Excerto “Para que serve a utopia? – Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano in ‘Las
palabras andantes?’ de Eduardo Galeano. publicado por Siglo XXI, 1994.

https://www.revistaprosaversoearte.com/para-que-serve-a-utopia-eduardo-galeano . Acesso
em: 23 de setembro de 2021.

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