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I – APÊNDICE
Entendo por visada todo ato que manipula um significante (ou ícone ou
símbolo): a uma simples observação duma palavra ou vocábulo, há uma seqüência
de unidades mínimas a que denominamos letras. A noção de sucessão comporta
tanto a escrita (visual) como a fala (auditiva). Esta intencionalidade é uma
operatividade psíquica predominantemente cognitva e – na maioria das vezes –
involuntária.
(…). Na maneira como falamos das coisas, já se mostra uma pré-compreensão das
coisas, e a tarefa da filosofia consiste exatamente na explicitação e tematização crítica
dessa nossa pré-compreensão do real, que é obrigatoriamente mediada
lingüisticamente. (OLIVEIRA, 1996: 33).
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componentes é um fator analítico, ou seja, o reconhecimento das unidades que
compõe a palavra em questão. Se invertermos a combinação das unidades (letras),
podemos ter outra palavra, como por exemplo: ‘maca’. Também a palavra ‘roma’,
possui as mesmas unidades, constituindo a palavra ‘amor’ por combinação368
diferente. A ordem das sucessões refere-se às variações de encadeamento das
unidades (letras).
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da vida fisiológica; por suas raízes mergulha no organismo. A percepção e o
pensamento estão ligados a funções nervosas. A organização que o psicólogo estuda
deve ser aproximada à que o fisiologista estuda. (...) E se não há elementos psíquicos
independentes, tampouco há processos cerebrais elementares independentes.
(GUILLAUME, 1960:14).
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verbo, adjetivo), regras de seleção (lexical) e de co-ocorrência (semântica)].
(...) Segundo o Filósofo Granger, a noção de estrutura poderia então, ser assim
definida: Sistema integrado, de modo que a mudança produzida num elemento
provoca uma mudança nos outros elementos. (PIAGET, 1970: 09).
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A GRAMÁTICA GERAL se propõe formular certos princípios aos quais todas as
línguas obedecem, e que fornecem a explicação profunda do emprego destas; trata-se,
portanto, de definir a linguagem, de que as línguas particulares constituem casos
particulares. (…).
Se todas as línguas têm un fundamento comum, é que todas têm o objetivo de
permitir que as pessoas se “signifiquem”, dêem a conhecer uns aos outros seus
pensamentos. (DUCROT/TODOROV, 2007: 15).
é um animal classificador: em certo sentido, pode ser dito que todo o processo da fala
não passa de uma distribuição de fenômenos – dos quais não há dois que sejam
idênticos em todos os aspectos – em classes diferentes, com base nas semelhanças e
desemelhanças percebidas. No processo de atribuição de nomes testemunhamos a
mesma tendência inerradicável, e muito útil, de ver a parecença e expressar a
similitude nos fenômenos através da similitude nos nomes. Mas o que a ciência
procura nos fenômenos é muito mais que a similitude, é a ordem. As primeiras
classificações que encontramos na fala humana não tem qualquer objetivo estritamente
teórico. Os nomes dos objetos cumprem sua tarefa se nos permitirem comunicar
nossos pensamentos e coordenar nossas atividades práticas. Têm uma função
teleológica, que aos poucos se desenvolve para função mais objetiva, “representativa”.
(…). Em alguns idiomas a borboleta é descrita como um pássaro, ou a baleia como um
peixe. Quando a ciência começou suas primeiras classificações, precisou corrigir e
superar essas semelhanças de superfíciais. Os nomes científicos nãos são criados ao
acaso; seguem um distinto princípio de classificação. A criação de uma terminologia
sistemática coerente não é, de modo algum, um aspecto acessório da ciência, e sim um
de seus atributos inerentes e indispensáveis. (CASSIRER, 2005: 340 e 341).
(…) a Gramática, tal como entendia Vaugelas, não passava de um registro de usos, ou
melhor, de “bons usos”, sendo a qualidade do uso julgada sobretudo à luz da qualidade
do usuário. A Gramática Geral, por sua vez, procura dar uma explicação dos usos
particulares a partir de regras gerais deduzidas. (DUCROT/TODOROV, 2007: 17).
Uma vez que na maioria das vezes falamos num contínuo de emissão
sonora, como podemos entender uma frase composta por diversas palavras, uma
vez que a emissão sonora é contínua? Ou seja, que não sofra recortes para que
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possamos discriminar, reconhecer tais grupos de palavras numa frase falada?
(…) poder-se-ia dizer que a relação entre língua e fala é precisamente a distinção entre
um sistema de virtualidades abstratas e o conjunto de suas realizações empiricamente
observáveis, entre forma pura370 e uso concreto. (BONOMI, 2001: 100).
(…).Segundo Herder, a fala não é uma criação artificial da razão, nem deve ser
explicada por um mecanismo especial de associações. Em sua tentativa de estabelecer
a natureza da linguagem, Herder põe toda a ênfase sobre o que chamada de reflexo. O
reflexo, ou o pensamento reflexivo, é a capacidade que o ser humano tem de
distinguir, detre toda a massa indiscriminada da corrente de fenômenos flutuantes,
certos elementos fixos para poder isolá-los e concentrar sua atenção neles:
O homem manifesta a reflexão quando o poder de sua alma age de modo tão livre
que consegue segregar de todo o oceano de sensação que irrompe por todos os seus
sentidos uma onda, por assim dizer; e consegue deter essa onda, chamar a atenção para
ela e ter consciência dessa atenção. Manifesta a reflexão quando, de todo o sonho
bruxuleante de imagens que passam por seus sentidos, consegue apanhar-se em uma
imagem espontaneamente, obsevá-la com clareza e com mais tranqüilidade e abstrair
características que lhe mostram este e não outro é o objeto. Assim, manifesta a
reflexão não só quando consegue perceber vívida ou claramente todas as qualidades,
mas também quando consegue reconhecer uma ou várias delas como qualidades
distintivas… Ora, por quais meios ocorreu tal reconhecimento? Por uma característica
que ele deve abstrair e que, como elementos de consciência, apresentou-se claramente.
Bom, exclamemos então: Eureka! Esse caráter inicial da consciência foi a linguagem
da alma. Com isso, a linguagem humana foi criada. (CASSIRER, 2005: 70 e 71).
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‘espaço’ maior que identifica um grupo (palavra); separamos através da
imaginação de tais signos contínuos, por uma descontinuidade em nossa
recepção sensorial auditiva em sucessão.
(…) O campo originário, que inicialmente parecia composto por uma massa confusa
de elementos heterogêneos, começa deste modo a revelar linhas de força, centro de
articulação, entre os quais transparece uma primeira dimensão de sentido. (BONOMI,
2001: 125).
371Esta faculdade humana (operativa) que atua sobre signos (internos e externos) foi
chamada por Pierre Bourdieu de: principium divisiones… como já apareceu numa das citações
que selecionei.
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certas áreas é unificado e, ao mesmo tempo, relativamente segregado de seu ambiente.
A teoria mecanicista, com seu mosaico de elementos separados é, naturalmente,
incapaz de explicar uma organização nesse sentido. (KÖHLER, 1968: 70).
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sensível seja a da consciência e seus objetos ideais são compartilhados pelos
psicólogos da Forma e pelo Fenomenólogo Husserl. A idéia de correlação
estrutural é também solidária do Estruturalismo, como sendo nossos atos – sejam
mais sensoriais, sejam mais abstratos – sempre em referência ao objeto, ao mundo
circundante.
A idéia de conhecimento372 como produto da relação necessária entre
noese e noema, bem como a essência como correlato da correspondente estrutura
interna do objeto guarda íntimas relações com o paralelismo, ou seja, a isomorfia
da atividade da consciência (uma vez depurada do dogmatismo) e o objeto pelo
qual atuamos, visamos, intencionamos. A Gestalt e os Estruturalistas postulam
uma similaridade qualitativa entre níveis, a que pode ser chamada de paralelismo
entre as formas operativas do sujeito (percepiente e epistêmico) a manipular os
dados sensoriais. A diferença entre esses dois é que, no primeiro, a apreciação
duma melodia, por exemplo, é algo que não ocorre na dimensão externa, ou seja,
as relações entre notas sucessivas e a tonalidade que infere modos de apreensão
pela posição da nota no acorde. O segundo, por sua vez, faz parte da constituição
interna do objeto, uma vez que os atos intencionais da consciência epistêmica
(transcendental nos termo de Husserl) articulam relações entre as partes,
reconhece propriedades e explica por gêneros abstratos (categorias explicativas) a
partir da experiência sensível.Se no primeiro caso (Gestalt) temos modos de sentir
a partir de dados sensoriais; no segundo (Fenomenologia) temos modos de
explicar (doação de sentidos) as relações das partes e dos momentos, bem como as
propriedades e descrição das essências de Husserl. Com este último temos o
correlato da descrição essencial em seu caráter ontológico, ou seja, como
descrição dos seres, de seus aspectos necessários: numa palavra, da estrutura
interna, da constituição do objeto pela apreensão essencial, formal, via objetos
ideativos. Os objetos ideativos são artifícios, visadas da consciência que
pertencem ao sujeito, mas que remetem às peculiaridades dos fenômenos.
O paralelismo não existe entre fatos elementares, mas sim entre formas,
fisiológica e psíquica, apresentando uma comunidade de estrutura. Tal é o princípio
do isomorfismo, pelo qual a teoria da Forma renova a velha noção de paralelismo. Por
372 Conhecimento como processo. Nesta perspectiva Husserl intervêem com a noção de
pedaços e momentos. Se aqueles são recortes de objetos sensíveis, estes são recortes dos
processos e, portanto, somente pensáveis como dependentes da gama de movimentos que o
erigiu.
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essa doutrina, prenhe de conseqüências filosóficas, nega-se a estabelecer, sobre a base
dessa propriedade de organização, uma separação entre o espírito e o corpo. O espírito
não é uma força organizadora que, de maneira misteriosa, por uma atividade
espontânea e incondicional, faria surgir, de um caos de processos fisiológicos, uma
ordem que lhes seria completamente estranha. E Köhler põe como título de um dos
seus capítulos a frase de Goethe: “Was innen ist, is aussen” (O que está dentro
também está fora). (Fonte???) (GUILLAUME, 1960:15).
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mas um simples fenômeno. (DARTIGUES, 1973: 27-28).
[...]. A árvore não é outra coisa senão a unidade ideal de todos esses “momentos
sensíveis” que são o rugoso, o pardo, o verde, todos esses “momentos sensíveis” que
se modificam à medida que me aproximo da árvore ou ando em volta dela, que se
encadeiam e convergem na certeza de que aí, no jardim, há uma árvore. Esta certeza
ou “crença”, como dirá Husserl, não é uma qualidade da árvore, mas um caráter do
“noema” da percepção. A realidade, a exterioridade, a existência do objeto percebido e
o seu próprio caráter de objeto dependem das estruturas da consciência intencional,
estruturas graças às quais a consciência ingênua vê o objeto como o vê. [...].
O fato de que o objeto e finalmente o próprio mundo dependam assim dessas
estruturas conduzirá Husserl a dizer que eles são constituídos. A fenomenologia
tornar-se-á conseqüentemente o estudo da constituição do mundo na consciência, ou
fenomenologia constitutiva. [...] “É preciso aprender a unir conceitos que estamos
habituados a opor: a fenomenologia é uma filosofia da intuição criadora. A visão
intelectual cria realmente seu objeto, não o simulacro, a cópia, a imagem do objeto,
mas o próprio objeto”.
[...] Assim a fenomenologia abarca tudo o que abarcam as metafísicas tradicionais,
mas jamais abandonar o solo da experiência, já que a referência à intuição é
permanente. (LYOTARD, 1986: 26-27).
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manifestações do fenômeno. Constituir o mundo não significa tomar o lugar da
substância, mas explicar o que esta tem de essencial, quais suas relações entre as
partes constituintes e propriedades e funções de cada uma delas dentro do todo, do
conjunto, numa palavra: dentro do sistema da consciência a articular predicados,
definindo essências (fatores dependentes dum fenômeno específico). A própria
noção de sistema dos Estruturalistas pode-se aplicar à consciência que tanto sente,
percebe, como também simboliza, doa sentido e explica: significa o que é esse
objeto ou fenômeno, quais suas reações em face do meio a que está sujeito,
sobretudo na interação entre unidade e meio, entre objeto e entorno.
[...] o “a priori da correlação universal” tem como concepção central a idéia de que o
sujeito e o objeto aparecem como inseparáveis. Sendo assim, trata-se de uma
correlação de dois pólos que não podem existir independentemente; de “uma
vinculação essencial, definida por leis a priori, sem as quais não seriam concebíveis a
consciência nem o mundo”.
[...] Não se trata aqui de uma posição realista, na qual o objeto está isoladamente
independentemente do sujeito nem de uma posição idealista, na qual tudo está
representado no sujeito. [...] Correlação na qual encontramos dois pólos no sujeito
intrinsecamente ligados: um pólo que é caracterizado pelo ato que visa (noese), e que,
ao captar os dados, os dota de sentido; e o pólo da coisa vivida (noema), o próprio
conteúdo. [...]. (GOTO, 2008: 68-71).
A redução fenomenológica fez, com efeito, aparecer como resíduo, que não pode
ser reduzido, a vivência da consciência. Mas esta vivência é vivida por um sujeito, ao
qual se referem os objetos do mundo e de onde vêm as significações. [...].
(DARTIGUES, 1973: 31).
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É importante lembrarmos que toda linguagem é uma formação, ou seja,
uma montagem de unidades mínimas que tomamos como modelos, como
paradigmas necessários que engendram-se, tomam formas diversas no
encadeamento significante. Nesse ínterim, a Teoria Semântica de HUSSERL é
pertinente:
[...]. A evidência primeira, o terreno absoluto para o qual cumpre voltar não será mais
o sujeito, mas o próprio mundo tal como a consciência o vive antes de toda a
elaboração conceptual. Tal será, notadamente, a interpretação de Merleau-Ponty:
“Voltar às coisas mesmas é voltar a esse mundo antes do conhecimento, do qual o
conhecimento fala sempre e com relação ao qual toda determinação científica é
abstrata, signitiva, e dependente, como a geografia com relação à paisagem onde
aprendemos pela primeira vez o que é uma floresta, uma campina ou um rio.
(DARTIGUES, 1973: 32).
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Se na natureza há ordem e agrupamentos, o ser humano, como extensão
dessas qualidades está inserido nela, é algo que interage a partir dum solo comum:
a natureza em seus diversos níveis de manifestação. Se nos campos sensoriais as
partes são enxergadas em grupos específicos e tal ação pertence ao sujeito
percepiente como um movimento não adquirido, ou seja, não aprendido, mas
espontâneo(natural); então, o sujeito cognoscente de Husserl, com sua doação de
sentido que constitui o objeto enquanto entendimento de propriedades (elementos
e qualidades) e categorias (essências e relações) são algo que integram o objeto,
nosso entendimento dele, tanto quanto é necessário e homólogo à unificação de
dados sensoriais em unidades discriminativas e tais em conjuntos maiores.
É evidente que, uma vez que a teoria mecanicista exclui quaisquer inter-relações
dinâmicas entre as partes de um campo, tal campo pode ser disposto de qualquer
maneira arbitrariamente escolhido. Em um simples mosaico, cada elemento é de todo
indiferente à natureza de seus vizinhos. (...) os fatos físicos não podem ser insensíveis
às características de outros fatos ocorridos em sua vizinhança. (KÖHLER, 1968: 70).
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projeção do já conhecido, que por sua vez discrimina a massa sonora linear, em
fragmentos justapostos na série de palavras. O nível ou âmbito fonético, como um
modo de organização, como condição necessária da comunicação humana, como
uma Forma Conjuntiva Fonética: opera a base para que a discriminação lexical
monte-se (assim como os fonemas) uma classificação num outro nível ou âmbito
de abstração: uma Forma Conjuntiva Morfética.
Uma classe de palavras, como por exemplo: madeira, água, metal, pessoas
e demais apreensão sensoriais pelo tato e visão são rotulados de substantivos.
Como sabemos, tudo aquilo que é passível de descrição sensorial guarda um
aspecto denotativo. Uma classe de palavras, como por exemplo: afeto, ternura,
indignação, valoração, ansiedade, desejo, belo, feio etc.. demais juízos de valor no
tocante a sentimentos são rotulados de adjetivos. Como sabemos, tudo aquilo que
é passível de descrição de estados subjetivos, de qualidades guardam um aspecto
conotativo.
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e, se elas nãos são contíguas, a que distância se encontram uma das outras.
PARADIGMA. No sentido amplo, chama-se paradigma toda classe de elementos
lingüísticos, qualquer que seja o princípio que leve a reunir estas unidades. Neste sentido
considerar-seão como paradigmas os GRUPOS ASSOCIATIVOS de que fala Saussure
(…) e cujo elementos são reunidos apenas por associações de idéias. (…) Diante do
grande número de critérios divergentes sobre os quais se poderiam basear tais
paradigmas, muitos lingüistas modernos procuraram definir um princípio de classificação
que estivesse ligado ao papel único das unidades dentro da língua.
(DUCROT/TODOROV, 2007: 108 e 107).
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(…). Sem um complexo sistema de símbolos o pensamento relacional simplesmente
não pode nascer, nem muito menos desenvolver-se plenamente. Não seria correto
dizer que a mera consciência das relações pressupõe um ato intelectual, um ato de
pensamento lógico ou abstrato. Essa consciência é necessária até nos atos elementares
de percepção. A teorias sensacionalistas descreviam a percepção como um mosaico de
dados simples dos sentidos. Os pensadores dessa corrente menosprezaram
constantemente o fato de que a própria sensação não é, (…), um mero aglomerado ou
feixe de impressões. A moderna psicologia gestaltiana corrigiu essa visão. Mostrou
que os mais simples processos perceptuais implicam elementos estruturais
fundamentais, certos padrões ou configurações. Este princípio serve tanto para o
mundo humano como para o animal. Mesmo em estágios comparativamente baixos da
vida animal, a presença desses elementos estruturais – em especial das estruturas
espaciais e ópticas – foi provada por experiências. A simples percepção das relações
não pode, portanto, ser vista como uma característica específica da consciência
humana. Contudo, encontramos no ser humano um tipo especial de pensamento
relacional que não tem paralelo no mundo animal. (CASSIRER, 2005: 68).
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são abstraídas dum conjunto menor.
(…). É na intersecção de seu horizonte externo com seu horizonte interno que a coisa
vem a se constituir: por um lado, encontra-se em relação com conjuntos mais
compreensivos (introduz-se num campo), por outro lado compreende a multiplicidade
de subconjuntos (é analisável em suas partes internamente constitutivas). (BONOMI,
2001: 75).
(…) A linguagem e a ciência são os dois processos principais pelos quais avaliamos e
determinamos nossos conceitos do mundo exterior. Precisamos classificar nossas
percepções sensoriais e agrupá-las em noções e regras gerais para podermos dar-lhes
um sentido objetivo. Tal classificação resulta num esforço persistente no sentido de
simplificação. (CASSIRER, 2005: 234 e 235).
(…). Os termos da fala comum não podem ser medidos pelos mesmos padrões que
aqueles com que expressamos conceitos científicos. Comparados com a terminologia
científica, os termos da fala comum apresentam sempre um caráter um tanto vago;
(…) eles são tão indistintos e mal definidos que não resistem à prova da análise lógica.
Mas, não obstante esse efeito inevitável e inerente, nosso termos e nomes cotidianos
são os marcos de quilometragem da estrada que leva aos conceitos científicos, é nesses
termos que recebemos nossa primeira visão objetiva ou teórica do mundo. Tal visão
não é simplesmente “dada”; resulta de um esforço intelectual construtivo que não
poderia alcançar seus fins sem a constante assistência da linguagem. (CASSIRER,
2005: 221 e 222).
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Se a abstração do Paradigma I é campo de semelhanças e o do Paradigma
II375 é associação conceitual-referente-fenômeno, o Paradigma III corresponde
ao agrupamento por característica mais geral: substantivo, adjetivo por exemplo.
Tal abstração tem a função de classificar por aspectos comuns, determinadas
funções que qualquer palavra da mesma classe pode ter numa frase. O âmbito
sintático, antes de ser uma leitura, uma interpretação do morfema enquanto
palavra, é uma interpretação do morfema em seu aspecto mais geral: não mais a
consideração madeira, água, metal ou mesmo medo, receio, pavor...
respectivamente, agora, substantivos e adjetivos, ou seja, classes e não mais
unidades que figuram numa ordenação predicativa que é a frase e que lida mais
com o termo geral de tais classes do que das unidades, das singularidades.
Se cada aspecto comporta implicações sui gêneris à sua própria natureza, a
língua como rede de relações, de combinações, regras e interpretações só pode
prestar sua eficácia se lidar com regras gerais que comportem ou abarquem os
termos singulares = aplicação de critérios. A abstração, ou seja, a construção de
termos que se agrupam em características não apenas como mole, duro, quente e
frio da dimensão sensível, mas características comuns como substantivos que
guardam determinadas funções numa frase da dimensão ideativa.
375 Este aspecto (Paradigma II) na verdade é o primeiro numa questão cronométrica:
primeiro associamos um conteúdo (Paradigma II), para depois dispô-los, reuni-los num
grupo ou classe por algum familiaridade ou elemento comum (Paradigma I) e, finalmente,
para agruparmos perante um característica comum: substantivo, adjetivo, verbo (Paradigma
III). Será este última paradigma que possibilitará a Sintaxe: que será um Paradigma IV =
função do Paradigma III na oração = sujeito, predicado etc.
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2001: 125 e 126).
(…) o que está em jogo aqui não são os juízos reflexivos do sujeito, mas suas
intuições profundas, o conjunto de regras por ele tacitamente aceitas, que agem a um
nível inconsciente. (BONOMI, 2001: 108).
A finalidade dessa gramática não é ditar normas mas dar conta de todas (e
apenas) as frases gramaticais, isto é, que pertencem à língua.
Assim é que surge a Gramática Gerativa de Noam Chomsky. Gerativa porque
permite, a partir de um número limitado de regras, gerar um número infinito de
seqüências que são frases, associando-lhes uma descrição. O mecanismo que essa
teoria gerativa instala é dedutivo: parte do que é abstrato, isto é, de um axioma e um
sistema de regras, e chega ao concreto, ou seja, as frases existentes na língua.
(ORLANDI, 2007: 38 e 39).
376Esta atividade semi-voluntária, ou seja, quase autômata corresponde a uma atividade Pré-
Consciente: que será condição necessária para a atividade consciente de articulação,
significação e dedução. Arrisco predicar que esta operação Pré-Consciente equivale à
Estrutura Profunda do caríssimo NOAM CHOMSKY.
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(…). O recurso de Chomsky às estruturas profundas projeta como linha de
desenvolvimento uma explicitação dos universais, ou seja, daquelas “faculdades
mentais” subjacentes e comuns à luz das quais adquirem sentido pleno as diferentes
configurações das línguas. (…). Finalmente é importante sublinhar aqui que a
formulação do problema gerativo leva Chomsky a recusar, como destituída de sentido,
a velha antinomia entre objetivismo e subjetivismo. (BONOMI, 2001: 109).
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semelhantes, sabe separar frases que fazem parte da língua das que não fazem, etc.
Nessa perspectiva, não interessa a performance, ou seja, o desempenho de
falantes específicos em seus usos concretos, mas essa capacidade que todo falante
(ouvinte) ideal tem.
Partindo dessa capacidade, ele define a língua como um conjunto infinito de
frases. Esse “infinito” dá à definição de língua um caráter aberto, dinâmico, criativo.
Não se trata, entretanto, de qualquer criatividade, mas de uma criatividade governada
por regras. A língua não se define só pelas frases existentes mas também pelas frases
possíveis, aquelas que se pode criar a partir das regras. (ORLANDI, 2007: 39 e 40).
377 Necessários e dependentes como vimos na teoria das partes e o todo de Husserl.
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transforma o dado sensorial (...) acentuam esse aspecto transformador de percepção.
(...) Mas coloca-se então, inevitavelmente, o problema da fonte dessas transformações,
logo, de suas relações com uma “formação”, simplesmente. Sem dúvida, é preciso
distinguir, numa estrutura, seus elementos, que são submetidos a tais transformações,
e as leis próprias que regem estas últimas. (PIAGET, 1970: 12-13).
Não aquilo que o falante é capaz de relatar o que fez, mas simplesmente o
que faz sem ajuda de alguém que explicite passo-a-passo as regras de formação e
transformação. Tal fazer é chamado de intuitivo (por Chomsky e seus
seguidores), ou por mim, de atividade Pré-Consciente que já internalizou as
regularidades da fala, para extrair-lhes das recorrências pontos em comum, regras
assimiladas por uma atividade abaixo do campo mental consciente.
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ou antes ou depois do substantivo. Tais regras, por inciderem sobre a disposição
dos significantes numa frase são batizadas de regras sintáticas. Distinguo dois
tipos de situações agramaticais (sendo uma acidental/contingente/arbitrário e
outra, essencial/constante/necessário).
Quando afirmo que é proibido o adjetivo anteceder um substantivo (tal
como ocorre na Língua Inglesa) temos um caso do primeiro tipo: no Português e
no Grego é permitido ambas as possibilidades de sucessão entre substantivo e
adjetivo. Este proibir da Língua Inglesa em nada afeta o significado global da
frase: não há um fator moral aqui além da convenção prescrita por tal gramática.
Consideramos noutro capítulo a distinção feita por Henry Sweet entre palavras-
plenas e palavras-forma. Palavras-plenas são essencialmente aquelas que podem ser
tratadas com uma certa propriedade pelo dicionário, ao passo que as palavras-forma
(apesar de sempre virem referidas no dicionário) têm de ser tratadas pela gramática da
língua. Os linguistas modernos preferem distinguir entre LÉXICO e GRAMÁTICA. (…).
O problema da distinção entre gramática e o léxico é posto freqüentemente, na
lingüística moderna, em termos de distinção entre frases que são inaceitáveis, ou
«desvios», por razões gramaticais, e as que são excluídas por razões lexicais. Não há
aparentemente qualquer dificuldade em reconhecer um «desvio» gramatical. Temos,
por exemplo, * The boys in the garden (Os rapazes está no jardim). Neste caso só é
desrespeitada uma regra, mas podemos facilmente inventar frases que pareçam não
obedecer a qualquer regras, como * Been a when I tomato (Sido um quando eu
tomate). Em contrapartida, vamos rejeitar, mas por razões diferentes * The water is
fragile (A água é frágil) ou * The flower walked away (A Flor foi-se embora). Trata-se
neste caso de um problema de co-ocorrência ou restrição de seleção que determina a
co-ocorrência de elementos lexicais, rejeitando aqui a co-ocorrência de water e fragile
e de flower e walk.
Têm no entanto sido manifestadas opiniões contraditórias quanto a estes dois
tipods de restrição, um gramatical e o outro lexical, não havendo acordo sobre se são,
em princípio, diferentes. (…). Assim, Chomsky criou a frase Colour-less green ideas
sleep furiously (Ideias verdes incolores dormem furiosamente) que parece ser
impecável do ponto de vista gramatical, mas completamente inaceitável em termos
lexicais. (…).
Apesar de tudo isto, Chomsky tentou, mais tarde, tratar as restrições de selecção
como fazendo parte da gramática (…). Não vamos com certeza dizer que * John drank
the meat (John bebeu a carne) é uma frase não gramatical no mesmo sentido em que o
é * The boys is in the garden. Para os falantes nativos a diferença é perfeitamente
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clara, pois reagiremos demaneiras diferentes perante os dois tipos de «desvio». Se se
trata da infracção a uma regra gramatical, podemos, e é o que geralmente fazemos,
corrigir a frase (…); se a frase não respeita qualquer regra gramatical, rejeitam-la pura
e simplesmente como um disparate. Porém, nos casos em que o desvio se verifica em
relação às restrições de selecção, sendo portanto de natureza lexical, tentamos
normalmente «dar-lhe sentido», procurando integrá-la num contexto que a torne
pertinente. A frase John drinks fish (John bebe o peixe) poderia parecer um desvio até
nos lembrarmos de que se podia referir a sopa de peixe, e também não é de modo
algum difícil encontrar uma interpretação poética (ou até talvez científica) para a frase
The water is fragile. (…). (PALMER, 1979: 131 a 134).
Contudo, quando temos uma frase que é incoerente pela seleção lexical
incompatível entre sujeito e predicado, predicado e verbo… então, tal construção
(Formação, nos termos de RUDOLF CARNAP) é um caso do segundo tipo: o de
agramaticalidade que desrespeita uma Coerência Comunicativa: que pode ser o
de amalgamar um predicado a um verbo (incompatível semanticamente → não se
deve usar, sob pena de repreensão por combinar elementos incompatíveis =
contraditórios) ou mesmo um predicado a um sujeito (também incompatível
semanticamente → não se deve usar, sob pena de repreensão por combinar
elementos incompatíveis = contraditórios).
O segundo conceito – o de representabilidade (Habermas) – são regras
semânticas e pragmáticas que, independente das variações culturais convencionais
(como as supracitadas regras gramaticais) são características essenciais
(constantes) para a coerência dos significados das palavras e dos conteúdos
semânticos – com seus aspectos – para derivações dedutivas. É através do critério
da categoria explicativa filosófica essencial-acidental ou nas ciências naturais
constantes-variáveis que definirão se ou uma regra é convencional – quando
variável e acidental – ou se uma regras é condição necessária para a
Comunicação. É o desejo de coerência dos signos que torna possível argumentos
sem falácias, consenso semântico e pragmático e a representação discursiva ou
teórico dum estado de coisas (fenômeno ou referente).
(…), como regra e para a maioria dos pensadores, em vez de nossas referências
determinarem os nossos símbolos, o vínculo e a interligação dos símbolos é que
determinam a nossa referência. Limitamo-nos a zelar por que não ocorre violação
alguma de certas regras de procedimento. Algumas dessas regras não são de grande
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importância, como as exageradas nas partes da gramática que se ocupam do uso
literário e das convenções para a formação de frases. Outras, porém, são de um caráter
muito diferente e são devidas, nada mais nada menos, à natureza das coisas em geral.
Por outras palavras, essas regras são leis lógicas no sentido de que qualquer sistema de
símbolos que não lhes obedeça deve falhar como um meio de registrar referências,
independentemente daquilo a que essas referências sejam feitas. Essas necessidades
fundamentais de um sistema de símbolos e as simples regras de discurso polido acima
mencionadas estiveram sujeitas, historicamente, a alguma confusão. (OGDEN-
RICHARDS, 1972: 210).
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nas regras de formação frasal pelas quais os morfemas estão suscetíveis e
desempenham esse papel se e na medida em que correspondem, participam da
mesma classe gramatical: substantivo, adjetivo, verbo etc.. Meu esforço é de uma
descrição operativa da formação de constructos ideais (subjectos) como mediação
de seus significados (conceitos e referentes = objectos)378. A gênese ou o
desenvolvimento dos graus de complexidades crescentes e hierárquicos das
Formas Conjuntivas nasceu de meu breve estudo sobre duas magníficas figuras da
subjetividade humana: JEAN PIAGET (Psicólogo e Filósofo) e NOAM CHOMSKY
(Lingüista e Filósofo):
(…) É por isso que se pode falar aqui do problema genético: que é, em definitivo, o
problema das operações constitutivas ou, como diz o próprio Piaget, “construtivas” do
sujeito.
Deste ponto de vista, compreende-se o interesse de Piaget pela obra de Chomsky,
interesse que também neste caso sera aqui exemplificado com algumas observações de
ordem extremamente geral. Com o questionamento do proceder rigidamente
“indutivo”, a investigação deixa de caracterizar-se como processo de segmentação e
de classificação dos dados observáveis, e se orienta para as operações que geram
aqueles dados. Isto é, o discurso segue uma direção que conduz da heterogeneidade
dos fatos empiricamente perceptíveis para um núcleo limitado e homogêneo de
possibilidades constitutivas: em outras palavras, adquire relevância (como já acontece
com Saussure) o problema de explicar a multiplicidade, que no limite se apresenta
como infinita, das produções através da capacidade geradora de um repertório finito de
possibilidades formais: isto é, através do caráter combinatório e recorrente destas
possibilidades. (BONOMI, 2001: 106 e 107).
378À interação entre interno e externo – noese e noema nos termos de EDMUND HUSSERL – no
processo constituidor dos objetos: os objetos serão para nós o resultado das visadas ideais
nos sensoriais, obtendo assim uma síntese semântica a partir da interação mútua entre os
dois aspectos ou momentos do processo de significação = conhecimento = doação de sentido
(em características essenciais e não acidentais).
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Como são expressas relações na linguagem? Na maioria, são simbolizadas por
outras relações, como em quadros, mas são nomeadas, exatamente como os
substantivos. Denominamos dois itens, e colocamos o nome de uma relação no meio;
ist significa que a relação mantém juntos dois itens. “Bruto matou César” indica que
“matar” medeia Bruno e César. Onde a relação não é simétrica, a ordem de palavra e
as formas gramaticais (caso, modo, tempo, etc.) das palavras simbolizam sua direção.
“Bruno matou César” significa algo diferente de “César matou Bruno” e “Matou César
Bruno” não é absolutamente uma sentença. A ordem da palavra determina, em parte, o
sentido da estrutura. (LANGER, 2004: 82).
(…) pode-se dizer que o problema central consiste em dar conta da capacidade por
parte do organismo, de gerar o “novo”, da sua produtividade. No interior desta atitude,
o interesse é polarizado, não só pelas estruturas “de superfície”, mas também pelas
“estruturas profundas”, ou seja, pelo conjunto restrito das estruturas elementares em
que se baseia a complexidade (e a variedade) das estruturas empiricamente
observáveis. O que é pertinente neste nível é portanto a estrutura formal das operações
do sujeito (isto é, suas possibilidades geradoras, a competência tácita que ele tem de
um língua), e não o uso observável que dela faz em situações concretas. (BONOMI,
2001: 107).
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conceituação necessária = essencial. Este último foi o desejo de Husserl de que
uma ciência ideal fosse apodíctica e, nos termos de Apel, que uma fundamentação
última da Pragmática Transcendental (isto é, regida por regras gerais ou ideais
= critérios comunicativos) é possível… trabalhoso, mas possível, desejado e
eticamente Comuns – unidade comum a ser aplicada a casos… casos esses sempre
singulares.
A percepção sensível, real, o objeto ideal, ou, como Husserl o denomina, o objeto
categorial, se constitui por meio de um ato categorial, que se distingue do sensível na
medida em que é fundado em outros atos. Portanto: a partir de sua concepção
objetivista, Husserl é levado a compreender as situações objetais, os fatos como
objetos compostos, mas como objetos de uma ordem diferente da daqueles objetos de
que eles se compõem, e tenta resolver os problemas aqui surgidos por meio de sua
teoria da síntese categorial. (OLIVEIRA, 1996: 47 e 48).
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a primeira é atingida pela percepção, a segunda, só é constituída pelo pensamento, o
que não significa que não seja real. Também o pensamento, para Husserl, é uma forma
de consciência do objeto e também do ato. Ora, os atos do pensamento são chamados,
em função de sua distinção, atos categoriais, e sua característica é que eles
representam as objetividades compostas precisamente enquanto compostas o que só é
possível enquanto ele se ao mesmo tempo representam seus objetos parciais. A
representação de cada objeto parcial é, por sua vez, um ato. Dessa forma o ato
categorial é necessariamente um ato sintético e, portanto, fundado essencialmente em
outros atos, isto é, em atos sensíveis, que representam os objetos reais, os quais fazem
parte das objetividades sintéticas. Por meio dos atos fundados, os categoriais, realiza-
se a composição dos objetos dos atos fundantes, isto é, os sensíveis, e com isso se
constitui uma nova objetividade, a objetividade sintética. (OLIVEIRA, 1996: 48).
Mas, afinal, o que é uma visada (subjetiva)? Para que ela ocorra, há toda
uma conjuntura sócio-cultural que pode abrir espaço e até mesmo estimular tal
atividade (capacidade) abstrativa e predicativa, como também coagir –ou direta ou
indiretamente – paraque nenhum indivíduo desprenda energia na reflexão
heurística, só porque os papéis sociais definidos e que estão em voga não
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conferem valor, ou mesmo desvaloram a atividade articulativa, como se fossem
apenas para acadêmicos num círculo fechado, num “papo cabeça” de
desocupados, ou mesmo devido à inércia mental provocada pelo conteúdo dos
meios de comunicação de massa e pelos discursos que visam manter o status quo
de dominação: ideológicos-discursivos-visão de mundo.Uma visada é um
interesse vivo pela produção de sentido que segue regras de derivação para
afirmarmos algo sobre a natureza, a sociedade e sobre nós mesmos. Cada juízo de
valor – quando condiocionadas a reduzirem sua atividade ao mínimo –
estáimpregnado de camadas que obliteram uma produção que seria livre, livre
para afirmar, negar e levantar hipóteses, problemas e possíveis soluções, caso o
indivíduo fosse uma entidade com certo grau de vontade própria e não coagido de
expressar idéias correntes que legitimam um estado sócio-cultural com valores
invertidos e mesmo destituídos de desenvolvimento subjetivo e
intersubjetivo.Cultuar o estado de coisas – de instituições e de discursos vigentes
– é uma espécie de território invisível demarcado do que “deve” ser
problematizado e pensado. Numa metáfora: é um jogo de cartas marcadas na qual
a competição é cerceada por limites conceituais e axiomáticos que exprimem mais
a marca da carta do que a possibilidade de jogarmos num estado de espera pelo
novo. Há uma xenofobia generalizada que destitui os discursos problematizadores
– estes que apontam para incoerências e injustiças sociais – que são anulados tanto
na esfera volitiva do indivíduo, como também em sua capacidade intelectiva
(como mímesis do já dado) que raramente ultrapassa a realidade dada (situação
sócio-cutural).Ainda que de maneira implícita, SABEMOS quando há
argumentos falaciosos e tendenciosos, ainda que não possamos distinguir os
critérios que regem o verdadeiro do falso, o justo o injusto, ou mesmo, do válido e
do inválido. Há uma vaga percepção interna da incoerência e enviesamento dum
determinado discurso, mas como é necessário um labor que não somos
estimulados para tal, um labor em investigar, analisar e detectarmos as falhas, as
mentiras parciais, os desvios de foco, os convencimentos apelativos de
sentimentalismo e de hipocrisia que ainda se pautam mais na autoridade
reconhecida no que nos critérios de verdade e validade (lógicos), de conceitos
(semânticos) e de valores (psíquico-pragmáticos). Por motivos que ainda
desconhecemos, aceitamos e emitimos explicações que longe estão de darem
conta dos critérios esparsamente mencionados acima... na maioria dos casos, certa
dose de medo, de resistência psíquica em lidar com o que pode ser melhor,
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justamente porque necessita de labor, empenho, sagacidade e comprometimento:
em suma, MUDANÇA!
Nunca o conhecimento – ou melhor, as informações – foium termo tão
destituído de suas bases de emancipação e construção duma realidade social e
psíquica favorável para pensarmos e sentirmos as intenções e conseqüências da
maneira que vivemos e o quanto reproduzimos os mesmos valores (desvalores?).
A aceitação dum discurso pode ser por autoridade reconhecida alheia às nossas
vivências, mas também pode ser uma reconstrução que se inicia pelo discurso
interno e externo do “como” justificamos para nós e para outros, os valores, ações
e vícios que vivemos, produzimos e reproduzimos.
Se não domino a linguagem tão pouco identificarei meus próprios
discursos de origem involuntária que permeiam nossa consciência e que temos
pouco controle. As causas e também as intenções são elementos que integram uma
noção menos distorcida de que os pensamentos geram relações humanas. A
interpretação intencional é mais importante que apenas a causal das ciências
naturais, uma vez que analisamos uma intenção não apenas pelo texto emitido,
mas pelo contexto não expressado que se relaciona como inter-texto e contexto
extra-lingüístico: que apenas uma investigação e ponderação das implicações de
tais idéias, argumentos e ações é que configurarão uma interpretação intencional
do agente informacional: que pode ou ser ou não Comunicativo.
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