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ESCOLA SUPERIOR DE JORNALISMO

SEMIÓTICA DA COMUNICAÇÃO

Nome: Sofia Francisco Matola


Tema: Romper a resistência de ideologia do signo
Dezembro de 2021

Signo e símbolo
Uma mensagem qualquer é composta pelo falante/emissor a partir de uma seleção promovi
da num repertório de signos. Pode-se dizer que signo é tudo aquilo que representa
outra coisa, ou melhor, na descrição de Charles S. Peirce, é algo que está no lugar de outra coisa.
Compreende-se que sem o signo a comunicação seria praticamente inviável pois pressuporia a
manipulação, a todo instante, dos próprios objetos sobre os quais incidiria o discurso. Em seu
caráter de substituto do objeto visado, o signo propõe-se assim como uma medida de economia
comunicativa.

Na teoria de Saussure, o signo pode ser analisado em duas partes que o compõem: o conceito e a
imagem acústica. As palavras faladas de uma língua apresentam-se como imagens acústicas que
trazem à tona, quando manifestadas, um determinado conteúdo ou conceito.
As designações "imagem acústica" e "conceito" foram substituídas, ainda na própria teoria
saussuriana, por outras que tornam mais evidente a oposição que as separa e que permitem uma
aplicação mais adequada quando o signo não é vocalizado. No lugar daquelas propôs-se,
respectivamente, significante e significado.

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Entende-se por significante a parte material do signo (o som que o conforma, ou
os traços pretos sobre o papel branco formando uma palavra, ou os traços do desenho
que representa, por exemplo, um cão) e por significado o conceito veiculado por essa parte
material, seu conteúdo, a imagem mental por ela fornecida. Deve-se observar
que não há signo sem significante e significado, do mesmo modo como uma moeda não pode
deixar de ter cara e coroa.
Na teoria linguística, o signo é considerado como unidade mínima de primeira articulação.
Mínima porque não poderia ser analisado (isto é, dividido) numa sucessão de unidades menores e
portadoras de sentido, assim como se analisa um longo discurso numa sequência de unidades (ex.:
frases) bem determinadas e com sentido próprio.

Condições da análise semiológica


Na formulação de seu modelo, Hjelmslev parte de um postulado segundo o qual existe um
isomorfismo de todos os sistemas de signos, do que resulta ser a teoria da linguagem, construída a
partir do modelo formal das línguas naturais, aplicável a todos os sistemas de signos desde que
estes constituam uma linguagem. Hjelmsle adverte contra o uso indiscriminado do termo
”linguagem” para concretizaram processo qualquer de comunicação.

Para que se possa falar em linguagem, para que algo se constitua em objeto de uma análise
semiológica, é necessário constatar a existência de uma série de traços característicos que se
ajustem a esse mesmo modelo formal das línguas naturais proposto pelos Prolegômenos... Estes
traços foram condensados pelo próprio Hjelmslev num texto que constitui a substância de um curso
por ele dado na Universidade de Londres em 1947 e que teria permanecido inédito até 1968, data
da publicação da edição francesa dos Prolegômenos: trata-se de La structure fondamentale du
langage, espécie de resumo bem sucedido dos próprios Prolegômenos.
Nesse texto, Hjelmslev apresenta cinco traços sem os quais não se pode falar na existência de uma
linguagem e, portanto, na validade de uma semiologia derivada de sua teoria. Estes traços não
chegam a contradizer os constantes da teoria de Saussure mas sobre estes têm, como já foi
observado, a vantagem de uma formalização mais rigorosa. São em número de cinco, e destes os
dois primeiros dizem respeito à existência de dois eixos (o texto ou processo linguístico e a língua

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ou sistema linguístico) e dois planos (expressão e conteúdo), absolutamente essenciais e dos quais
derivam os outros três , advertindo-se no entanto que na tentativa de identificar uma linguagem o
pesquisador não deve deter-se no encontro desses dois primeiros elementos.

Conceito de signo
Um signo , para Peirce, é aquilo que, sob certo aspecto, representa alguma coisa para alguém.
Dirigindo-se a essa pessoa, esse primeiro signo criará na mente (ou semiose) dessa pessoa um
signo equivalente a si mesmo ou, eventualmente, um signo mais desenvolvido. Este segundo signo
criado na mente do receptor recebe a designação de interpretante (que não é o intérprete), e a coisa
representada é conhecida pela designação de objeto. Estas três entidades formam a relação
triádica de signo que, com base numa proposta de Ogden & Richards, pode ser graficamente
representada.

Divisão dos signos


Embora Peirce tenha proposto a existência de dez tricotomias e sessenta e seis classes de signos,
serão descritos a seguir apenas três tricotomias e dez classes, não apenas porque estas surgem
como inicialmente suficientes para uma análise semiótica como, principalmente, pelo fato de
nunca terem sido essas tricotomias e classe adicionais suficientemente detalhadas pelo próprio
Peirce.
A primeira dessas três tricotomias diz respeito ao signo em si mesmo; a segunda é estabelecida
conforme a relação entre o signo e seu objeto, e a terceira diz respeito às relações entre o signo e
seu interpretante. Embora isto inverta a ordem original seguida por Peirce, inicialmente v irá a
descrição da segunda tricotomia, não apenas por ser a mais conhecida como porque, sendo de mais
fácil apreensão, facilita a compreensão das outras duas.

Semiótica selvagem ou poética do signo


Chien andalou, de Lus Bunuel, começa com uma cena em que o olho de uma mulher, bem diante
da câmera, em close-up, é cortado ao meio por uma navalha. Simples agressão ao espectador ("Que
ele saia da sala", disse Bui fiel) ou através da destruição de um olho viciado, de uma visão anterior
prisioneira de si mesma, proposição de um novo modo de ver a “realidade”. Para o Bunuel daquele
momento, provavelmente ambas as coisas. Aqui, embora reconhecendo que um novo modo de

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qualquer coisa quase sempre começa como agressão, interessa reter sobretudo o poder do corte da
navalha como instaurador de uma nova visão. Talvez seja este o verdadeiro "corte epistemológica”.
Neste caso, e particularmente no que diz respeito à arte como objeto de análise, a navalha seria
passada longitudinalmente através dos vários modelos semióticos.

E os produtos ou estados estéticos não seriam mais vistos como linguagens, não constituiriam mais
textos. Não haveria mais uma estrutura, os signos deixariam de sustentar-se e o sentido não teria
uma lógica. Restaria apenas, para os estados estéticos, o domínio do Sentimento, da Sensação ou
do Emocional, não conseguindo evitar porém , como se vê, o recurso de Peirce. O d arte seria um
código sem mensagem, a mensagem estética não teria código, o signo da arte seria um quase-
signo, algo que já não é o caos mas ainda não é a ordem, como propõe Décio Pignatari. Ou, na
prosa de Peirce: um simples perfeito e sem partes.

Romper a resistência ideológica do signo


O trabalho da semiótica deve ser capaz de tornar exterior o interior o interior, senão tornar o
exterior semelhante ao interior. E nessa produção reveladora, o que será exteriorizado é exatamente
aquilo que se constitui na grande barreira a ser atravessada: a ideologia. Revelar uma ideologia,
combate-la, destrui-la: tal é a operação fundante de toda prática teórica.

A semiótica como ciência das ideologias não constitui um objeto recente. Ao redor de 1928, os
formalistas russos colocavam-se a questão do significante (ou do material significante) como
organizador e sustentáculo do material ideológico. Em 1956, Roland Barthes tentava fornecer ao
discurso sobre a ideologia uma linguagem extraída diretamente do Curso de linguística geral de
Saussure; seu Mitologias esforça-se por municiar a análise das ideologias com os conceitos da
ciência que Saussure denominou de semiologia. Doze anos depois, em seus ensaios sobre a
"semanálise", Julia Kristeva exporá o conceito de uma semiótica enquanto disciplina "crítica de
semiótica que desemboca em algo diferente da semiótica: a ideologia".

Esses três exemplos, tomados em meio a outros possíveis, de fato servem antes para evidenciar,
senão o fracasso, pelo menos as dificuldades aparentemente enormes que a semiótica vem
encontrando para cumprir uma vocação na verdade já inscrita no projeto do próprio Saussure, em

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1916. Para Saussure, era possível conceber uma ciência (a semiologia) "que estude a vida dos
signos no seio da vida social". A declaração de intenção não pode ser mais clara. No entanto, a
distância entre a intenção e a execução parece imensa. Grande o suficiente, em todo caso, para não
ter sido atualizada até agora, para não ter tido seu esquema de sustentação claramente descrito,
senão definido. Saussure, ele mesmo, não se dedicou à determinação dos elementos de uma
semiótica enquanto disciplina de análises das ideologias; os textos de Barthes em Mitologias não
conseguem, apesar de seu interesse, ultrapassar o nível para o qual foram aliás dirigidos, o das
revistas semanais de informação e a sua critica dos mitos não é capaz de demonstrar aquilo que
ela praticamente se deferência de dissecações ideológicas mais tradicionais. E o ensaio de Kristeva
tampouco ultrapassou o estádio da manifestação de uma vontade. Em suma, a semiótica não
consegue romper o círculo dentro do qual se isola da "vida social". Nessa condição, a prática
semiótica é incapaz de promover a eventual "ruptura epistemológica" que consistiria no
afastamento da consciência em relação à prática ideológica para apoderar-se dela na direção de
uma teoria dessa prática; que consistiria, isto é, na transformação do produto em conhecimento.

Nessa sua condição circular, a semiótica não consegue ser uma crítica da semiótica, como quer
Kristeva. É uma prática que não isola uma ideologia mas que, ao contrário, produz uma ideologia
ou reforma outra preexistente. Produzir uma ideologia não é um fato em si negativo: é, antes um
fato inevitável e sob esse aspecto, portanto, não há reprimendas a fazer a essa semiótica. A questão
é que essa semiótica circular produz ideologia sem se dar conta disso ou, pior, pretendendo não
produzi-la. Ao invés de operar a mutação de um produto ideológico num produto conhecimento
teórico, que pelo menos num primeiro momento é igualmente de base ideológica e não cientifica,
como frequentemente se pretende, embora sendo qualquer modo uma reflexão crítica sobre si
próprio , ela simplesmente se aliene numa ideologia. Em outras palavras, ela se apresenta quase
como verdadeira prática técnica, transformando matérias-primas, ou matérias produzidas por uma
técnica prévia, em produtos técnicos através de instrumentos de produção determinados,
produzindo igualmente,, na esteira dessa transformação, a ideologia correspondente a esses meios
de produção e as relações por eles estabelecidas.

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Bibliografia
PEIRCE, CHARLES S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 1977. PEIRCE, Charles S. Semiótica.
São Paulo. Perspectiva, 1977.
OGDEN, C. K. e I. A. Richards. O significado de significado. Rio de Janeiro, Zahar, 1972.

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