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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENFLE – CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO


CURSO DE FILOSOFIA – LICENCIATURA
FILOSOFIA ANALITICA
DOCENTE: JONATAN HENRIQUE PINHO BONFIM
DISCENTE: FRANCISCO CLEUTON DE FREITAS
MATRICULA: 05983254332

Questionário referente a teoria fregeana da linguagem

1- Sob quais aspectos a teoria da linguagem fregeana se contrapõe a filosofia


transcendental kantiana?

Para Kant tanto a lógica quanto a aritmética são juízos analíticos, pois são conhecimentos
universais e necessários, também chamado de conhecimento a priori, por seu conceito de
predicado está contido no conceito do sujeito, ou seja, a experiência não é suficiente para
fundamentar sua verdade ou falsidade, com isso, são extraídos por pura análise. Isto
significa que a lógica e a aritmética (predicado) nada mais fazem do que explicar ou
explicitar o seu sujeito. Já Frege defende que, por meio distinção entre sentido e referência,
a lógica e a aritmética também assumem valores cognitivos diferentes, como informar
algo. Para compreender melhor essa contraposição entre Frege e Kant, vejamos o
exemplo dado pelo próprio Frege, observemos as seguintes expressões: a = a e a = b.
Conforme a teoria kantiana a = a é juízo a priori, pois é conhecimento analítico, ou seja,
é conhecimento universal e necessário. Já a = b contém algo a mais, por isso nem sempre
podem ser justificadas a priori. Com isso, podemos afirmar que a = a e a = b são frases
com valores cognitivos diferentes, porém, com o mesmo valor de verdade, pois a e b tem
a mesma referência e exprimem diferentes modos de apresentação do mesmo objeto.

“Ora, se quiséssemos ver a identidade como uma relação entre aquilo a que se referem os
nomes “a” e “b”, pareceria que a = b não poderia ser diferenciado de a = a, caso a = b seja
verdadeiro. Por esse meio seria exprimida uma relação de uma coisa consigo mesma, e,
na verdade, uma relação que cada coisa mantém consigo mesma, mas que nenhuma
mantém com outra. O que se quer dizer com a = b parece ser que os símbolos ou nomes
“a” e “b” se referem à mesma coisa, e assim estaríamos a falar desses símbolos; uma
relação entre eles seria afirmada”. (in: FREGE, F. L. G. Sobre o Sentido e a Referência.
2011, p. 21).
2 - Com base em um exemplo, estabeleça a diferença entre sinal, sentido e significado
(valor) em Frege.

Para exemplificar podemos pensar no exemplo dado por Frege. Pensemos na estrela da
manhã e na estela da tarde – hoje sabemos que tanto a estrela da manhã como a estrela da
tarde são o planeta Vênus. Ou seja, aqui usamos um sinal (Vênus) como referência, para
designar outros dois sinais (estrela da manhã e estrela da tarde) com sentidos diferentes e
com novos significados, pois se Vênus é visto pela manhã, este tem um significado
(estrela da manhã), porém, se é visto a tarde, esse já ganha um novo significado (estrela
da tarde) e quando visto somente como planeta é chamada de Vênus. Por isso, dizer que
a estrela da manhã é a mesma estrela da tarde, é dizer que esses dois sinais, indicam o
mesmo objeto, porém com sentido e significado diferentes. Porém, deve-se compreender
que Vênus não é a referência de estrela da manhã e estrela da tarde, pois Vênus é outro
sinal que podemos utilizar para representar um mesmo objeto. Podemos assim concluir
que a referência desses nomes (Vênus, estrela da manhã e estrela da tarde) seria a mesma,
porém, com diferentes modos de apresentação e com diferentes sentidos.

Isso acontece, pelo fato de Frege distinguir o sentido de um sinal especifico de suas
representações. A representação é subjetiva e depende das lembranças, já o sentido é
objetivo, pois é a parte comum dessas representações. Quando duas pessoas representam
a estrela da tarde, pode ser que uma represente-a brilhando mais e outra represente-a
brilhando menos, porém as duas pessoas estão pensando ou falando sobre a estrela da
tarde. Já quando se fala estrela da tarde, nos vem ao pensamento que é a estrela que
aparece no céu antes do pôr-do-sol, isso seria o sentido. Ou seja, por meio do sentido, o
sinal estrela da tarde que aparece antes do pôr-do-sol, se refere ao objeto que comumente
é conhecido como Vênus.

3 - De que forma Frege se desvia da investigação dos estados mentais e as


representações subjetivas?

Para Frege, existem os pensamentos ou representações objetivas que independem do ser


pensante e, existem as representações mentais ou representações subjetivas, que
dependem dos sujeitos pensantes. Porém, para ele, diferentemente dos pensamentos, as
representações mentais não podem ser denominadas como objeto da lógica, pois as
representações mentais são privadas, ou seja, é tudo aquilo que é produto da mente:
impressões dos sentidos, criações da imaginação, sensações, sentimentos, estados de
espírito, inclinações, desejos, etc. Já os pensamentos sendo são essencialmente objetivos,
são comunicáveis, isto é, através da linguagem é possível compreender o que é pensado,
pois é intersubjetivo, ou público.

4 – Para Frege, qual a referência de um nome próprio e qual a referência de uma


proposição (sentença)?

“A referência de um nome próprio é o próprio objeto que designamos com ele; a


representação que então temos é totalmente subjetiva; entre os dois reside o sentido, que
não é subjetivo como a representação, mas por certo não é o próprio objeto”. (in: FREGE,
F. L. G. Sobre o Sentido e a Referência. 2011, p. 25).

Para melhor compreender, vejamos a analogia utilizada pelo próprio Frege quando
alguém resolve observar a Lua por meio de um telescópio. A Lua é tida como a referência,
pois ela é o objeto da observação. A mesma é propagada pela imagem real produzida no
interior do telescópio através da lente objetiva e da imagem na retina do observador. A
imagem no telescópio é restrita, ou seja, para ser vista dependente do lugar, porém,
também é objetiva, pois vários observadores podem vê-la. Já a imagem na retina, é única,
pois cada um teria a sua própria. Com isso, podemos observar que a própria representação
pode ser tomada como objeto, porém, cada observador possui sua representação.

5 - Explique de forma sucinta a teoria do significado composicional desenvolvida


por Frege.

A teoria do significado composicional de Frege analisa semanticamente a composição


dos elementos necessários a compreensão do significado de uma sentença, pois Frege,
defende a existência de um novo elemento semântico de natureza objetiva que se
diferencia do próprio nome, que é o sentido. Ou seja, o princípio de composicionalidade
de Frege é um princípio estrito, que deve explicar os significados das expressões por meio
dos sentidos.

6 – Com base na teoria fregeana da linguagem, o que torna possível a compreensão


mútua entre interlocutores?

Segundo a teoria da linguagem de Frege o que torna a compreensão possível entre as


pessoas são os pensamentos, pois ele acredita que a comunicação entre dois indivíduos é
possível unicamente se,
“(...) (a) o pensamento expressado por um e o pensamento captado, por consequência,
pelo outro são um e o mesmo, e se (b) ambos sabem que isto é de fato o caso”. Isto indica
que, a fim de satisfazer (b), o pensamento expresso por nossas expressões linguísticas
deve ser algo de acesso inter-subjetivo ou público. Portanto, os conceitos (um elemento
do pensamento) devem ser alguma coisa inter-subjetiva ou pública. Ora, e essa é a
constatação seguinte, as representações mentais são entidades que não gozam das mesmas
características dos conceitos. Para destacar isso, Frege alude à hipótese da inversão do
espectro segundo a qual é possível que os conceitos de vermelho e verde sejam os mesmos
para todas as pessoas, mas algumas delas vejam tenham a representação mental de ―
verde onde outras veem ― têm a representação ― vermelho e vice-versa.2 Se é possível
que tal hipótese seja verdadeira, então os conceitos de vermelho e verde não podem ser
as representações mentais particulares que cada pessoa associa às palavras “vermelho” e
“verde”; nem mesmo podem estar relacionados de algum modo necessário a tais
representações. Junto com isso Frege admite que ninguém pode ver o que outra pessoa
vê, pois ninguém pode ter a representação mental de outra pessoa. Com isso, a hipótese
da inversão do espectro, mesmo que possível, mostra-se inverificável e, por conseguinte,
tudo o que é dito sobre as representações mentais ― se se pode fazê-lo ― é
incomunicável” (in: MACHADO, A. N. Frege, psicologismo e o problema da
linguagem privada 2007, p. 55).

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