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DE MAGISTRO

No primeiro capítulo, Agostinho introduz sua noção de linguagem, está que o


sujeito dispõe para o ato de ensinar. Tanto a linguagem no seu sentido de
discurso como no sentido de rememoração existem com essa finalidade, a de
transmissão de uma ideia por meio de seu correspondente signo, que remonta
à ideia desejada por meio de sua própria enunciação, que exprime seu
conceito, rememorando de volta ao intelecto. Conceituando uma locução que
remete a uma ideia interna, o autor se direciona para o ato de orar, que seria
clamar internamente para Deus em si, para as próprias coisas como princípio
em palavra, constituindo uma forma de salvação interna.
Com isso dado, Agostinho prossegue para o desenvolvimento de sua teoria à
cerca da natureza dos signos da linguagem como todo, sem se limitar aos
verbais. Define signo como tudo que a algo significa, não podendo ter um “não
significado”, para isso faz a distinção dentre significados sensíveis, isto é,
‘extramentais’, e aqueles que internos são, disponibilizados pela mente e que
são significados por meio de uma “disposição da alma” como o exemplo citado,
‘Nihil’ (Nada), um signo que não se sustenta por um correspondente externo,
portanto, é colocado no gênero de significados ‘espirituais’. Nisso também situa
os signos como tendo um significado ultimo do qual certamente não será outro
signo, mas que por mais de um poderá ser significado.
No terceiro capítulo, será colocada uma primeira concepção de linguagem,
sendo esta toda forma em que se dá o procedimento de transmissão de uma
ideia ou juízo feito em nosso, salvo aquilo que se refere a um fenômeno
natural, que é aprendido/ensinado pela coisa mesma, como uma espécie de
autodidatismo, sem a ferramenta da linguagem, a própria coisa já se mostra
por seu signo. Agostinho procede por colocar os signos como excedentes as
palavras, assim um gesto representa um signo visual, na medida em que
remete a um sentido, o que o permite distinguir a coisa em si da palavra e do
signo no processo de aprendizagem, a transmissão por meio de um gesto não
vai transpor palavra por palavra, mas sim signo por signo de modo a tentar se
transmitir o mesmo conhecimento em si que a oração escrita tenta.
Pelos próximos capítulos (IV – VII) as questões dos signos na comunicação e
sua relação com a palavra serão aprofundadas. Agostinho propõe uma
distinção entre o signo e o significado, aquilo que é passada na fala são signos
por signos ao passo que significam um sentido que remete a uma coisa em si
(‘res’, que já foi estabelecido que não pode signo ser) a qual serve de centro
por onde o “ensinar” e o “rememorar” devem se articular. No mesmo capitulo a
distinção dos signos por faculdade sensitiva é feita, assim uma palavra escrita
remete a visão ao passo que falada remete a audição, por onde remete ao
significado inteligível na mente. A conexão sensível – inteligível tem a Alma
como sínolo mediador. Dessa forma a linguagem se fundamenta em uma forma
articuladora (sons, no caso da falada) que se apresenta como sistema de
signos (palavra, por exemplo), que percutem na faculdade sensível como
significante a alcançar um significado, que já deve ter o conhecimento
possuído, o que por essência torna a linguagem um ensinar por rememoração.
O tópico seguinte de discussão é a natureza do que é um ‘nome’ e seu
contexto na linguagem. A primeira concepção de nome segue a regra de que
significável é algo que signifique um signo sem signo ser, assim o nome seria
esse signo que remete diretamente ao significado. Nessa visão, portanto,
certas palavras seriam excluídas do cargo de nome (o exemplo utilizado é o
conjunto dos pronomes), o que é expresso na frase “Pelo que, todos os nomes
seriam palavras, porém nem todas nomes seriam” (numa relação particular-
universal) a palavra por si só seria então um signo de um nome, que por sua
vez é signo (ao denominar) de uma realidade em si. Essa é a posição
sustentada por Adeodato, a qual Agostinho ira argumentar contra.
Agostinho propõe, ao passo que toda palavra é palavra por se articular e
assim algo proferir, todo nome será nome por a algo nominar, e nesse sentido
toda palavra algo nomeia, uma vez que algo significa. Assim toda palavra é
nome, assim como todo nome palavra é, toda palavra a um nome pode proferir,
não que sejam a mesma coisa, mas que se encontrem no mesmo objeto
(assim como colorido e visível tenham significados diferentes, embora se
encontrem no mesmo objeto) O argumento é aprofundado ao se questionar
sobre traduções, o exemplo utilizado é do grego-latim, sendo bene (‘bem’, a
princípio advérbio) traduzido para kalõos, Agostinho sustenta que por poderem
ter funções sintáticas diferentes podendo ser um advérbio ou substantivo, o
que principia a tradução é a equivalência encontrada justamente no que
nomeia, o que se estende para as outras palavras uma vez que se permite a
tradução. Nisso toda palavra é um nome (ou expressão referencial) que tem
sua extensão que é aquilo que significa. Em outros termos o nome próprio
(signo) nomeia (significa) o seu “proprietário” (significado).

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