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Página Citação
Ao Leitor
XI ... esta síntese é também produto de uma reflexão sobre a teoria semiótica de
Charles Sanders Peirce que dá apoio à Teoria da Tradução Intersemiótica. Foi a
partir desse referencial que me exercitei na prática e teoria da Tradução cujo
resultado se apresenta aqui ao leitor.
A operação da tradução de cunho intersemiótico — por mim concebida como
forma de arte e como prática artística na medula da nossa contemporaneidade
— necessita de apoio teórico para que possam ser interligadas as operações
inter e intracódigos.
p. 1 A operação tradutora como trânsito criativo de linguagens nada tem a ver com a
fidelidade, pois ela cria sua própria verdade e uma relação fortemente tramada
entre seus diversos momentos.
p. 2 … a tradução para nós se apresenta como “a forma mais atenta de ler” a história
porque é uma forma produtiva de consumo...
Parte I
A Semiose da Tradução Intersemiótica
CONTINUIDADE
O signo é… mediação como ser social noológico que se supõe enraizado numa
comunidade.
p. 21 … casa tipo de signo serve para trazer à mente objetos de espécies diferentes
daqueles revelados por uma outra espécie de signos.
Signo… algo que representa alguma coisa para alguém, dirige-se a alguém, isto
é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo mais
desenvolvido. Este signo é o significado ou interpretante do primeiro signo.
… para Peirce, o signo tem dois objetos, seu objeto tal como é representado
(Objeto Imediato) e seu objeto no mundo (o Objeto Dinâmico).
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ÍCONES: signos que operam pela semelhança de fato entre suas qualidades, seu
objeto e seu significado.
Peirce chega a estabelecer os “hipoícones” ou ícones já materializados que,
conforme participam de suas Categorias, seriam: as imagens como simples
qualidades primeiras; os diagramas, que representam relações diádicas e
análogas entre suas partes constituintes; e aquelas que tendem à representação,
que como as metáforas, traçam algum paralelismo com algo diverso.
p. 29 ... “toda tradução não é mais do que uma maneira provisória de nos ocuparmos
a fundo com a disparidade das línguas” (Walter Benjamin).
LEITURA
A simpatia com tem analogia, pois muito antes de ser uma categoria psicológica
a empatia é "insistente da semelhança", uma semelhança encantada e imantada.
A andança do tradutor se dá na procura das similitudes e das falas semelhantes
adormecidas no original.
p. 36 É por isso que a leitura para a tradução não visa captar no original o
interpretante que gere consenso, mas ao contrário, Visa penetrar no que há de
mais essencial no signo.
Para Peirce, claro que os dois tipos de associação implicam a ideia de conjunto.
Contudo, nas inferências por contiguidade, a noção de conjunto decorre da
experiência, enquanto que na inferência por similaridade a noção de conjunto
provém de operações mentais.
INVENÇÃO
p. 47 Sinestesia e memória são dois dispositivos que nos permitem estabelecer uma
comunicação adequada com o nosso meio ambiente e que nos permitem
estabelecer as chaves culturais pertinentes.
Edward T. Hall, no seu livro The Silent language, capta com sensibilidade a
inter-relação do homem com seu meio ambiente. Hall fala da limitação dos
sentidos, da sua divisão em canais receptores à distância (ouvido e visão) e dos
receptores imediatos (tato, gosto e olfato), das tendências culturais e recortar o
real, eliminando "ruídos culturais de fundo" e também da tendência dos seres à
policromia e monocromia. (...) As diferenças culturais correspondem às
diferenças de culturas sensoriais, isto é, às diferentes formas de cultura dos
sentidos. Os limites culturais e a incapacidade dos canais sensoriais, para captar
o real durante o tempo todo, são transferidos para as linguagens e códigos como
extensões dos sentidos. Cada sentido capta o real de forma diferenciada e as
linguagens abstraem ainda mais o real, passando-nos uma noção de realidade
sempre abstrata que possibilita que as linguagens adquiram toda uma dimensão
concreta na sua realidade sígnica.
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(...) Os signos se interpõe entre nós e o mundo, mas ao mesmo tempo nos
presenteiam com significações e apresentações de objetos que, sem eles, não
viriam Até nós e com situações até mesmo previamente existentes.
p. 60 A relação entre som e sentido é uma relação externa, por contiguidade; “não é
arbitrária, é necessária. (...) Foi em conjunto que os dois ficaram impressos no
meu espírito”. Mas a relação entre som e sentido também pode ser da ordem da
semelhança como acontece nos sons onomatopaicos e expressivos que
designam um objeto fora do som. Para Jakobson, a intimidade dos laços entre
som e sentido na palavra leva os sujeitos falantes a completarem a relação
externa com uma relação interna, a contiguidade com uma semelhança, com um
rudimento de caráter visual. Em virtude das leis neuropsicológicas da
sinestesia, as oposições fônicas podem chegar a evocar relações com sensações
musicais, cromáticas, olfativas, táteis etc. A oposição dos fonemas agudos e
graves, por exemplo, é capaz de sugerir a imagem do claro e escuro, do agudo e
do arredondado, do fino e do grosso, do leve e do pesado etc.
p. 61 ... são as características estruturais dos sentidos que são traduzidas para os
canais tecnológicos e para os Objetos Imediatos dos signos.
Analógico-Digital
p. 62 ... o nosso fundo mais geral é supersensorial na acepção de que deve a sua
existência, potencialmente, às contribuições de todos os sentidos...”. O caráter
inter- modal entre os sentidos é também ressaltado por Werner (via Paul
Guillaume), quando enfatiza o caráter analógico-organizativo na relação
sujeito-objeto. Assim, o caráter analógico-integrativo como origem comum às
experiências sensoriais se superpõe à irredutibilidade dos sentidos isolados de
suas estruturas como propriedade intermodal.
É por demais evidente, na sua estrutura organizativa, o caráter analógico e
ambíguo dos sentidos que confere à percepção sensorial seu status de
complementariedade, isto é, a percepção de um acontecimento ou objeto,
imaginário ou observado, está enraizada em mais de um dos sentidos. A
identidade de uma flor repousa tanto no seu aroma e em sua forma como em
sua cor, de modo que a experiência, e a memória possam conter um ramalhete
de sensações e percepções.
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... permitem estabelecer uma ordem sígnica que nos faz discernir entre o que é
igual, semelhante e o que é diferente, providenciando, assim, as condições para
o estabelecimento de uma síntese.
Semelhança de Qualidades
Pelo caráter das coisas, uma percepção estética tende a conservar esse aspecto
de globalidade do sentimento, enquanto a análise, que nos providencia um
conhecimento em sucessividade, faz-nos perder essa qualidade.
p. 89 (...) tipologia, nos referimos a uma espécie de mapa orientador para as nuanças
diferenciais (as mais gerais) dos processos tradutores. São tipos de referência
que, por si mesmos, não substituem, mas apenas instrumentalizam o exame das
traduções reais. ... nossa tipologia deverá levar em conta naturalmente aqueles
aspectos dominantes do operar tradutor encontrados neste trabalho, como são
os legissignos. Esses três tipos entram em correlação com os caracteres de
iconicidade, indicialidade e simbolicidade. Distinguimos, como ponto de
partida, três matrizes fundamentais de tradução: Tradução Icônica, Indicial e
Simbólica.
Tradução Icônica
p. 91 (...) se pauta pelo contato entre original e tradução. Suas estruturas são
transitivas, há continuidade entre original e tradução. (...) Na operação de
translação, pode-se deslocar o todo ou parte.
p. 92 (...) essas traduções se caracterizam em montagem sintática (como referência de
meios) e em montagem semântica, como referências por contiguidade, isto é,
ela indicia a relação de contato físico com o objeto, muito mais do que a
transposição por invenção.
Tradução Simbólica
p. 93 Este tipo de tradução opera pela contiguidade instituída, o que é feito através de
metáforas, símbolos ou outros signos de caráter convencional. (...) define
apriori significados lógicos, mais abstratos e intelectuais do que sensíveis.
Comparação dos Tipos de Tradução