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O texto, de início, aborda a questão do Sentido.

Esse sendo não apenas uma


forma-conteúdo de apenas um aspecto. O Sentido pode ser remetido em três níveis:
Palavra, Elocução e Texto. Porém essas três formas – ou níveis – representam uma
totalidade (conforme indicado como “níveis”, hierárquicos ou não) articulada que
existem em determinações recíprocas. Assim, podemos inferir que “os possíveis
sentidos das palavras contribuem para o sentido de uma elocução (...) e os sentidos
das palavras, por sua vez, vêm das coisas que elas poderiam fazer nas elocuções” (pg.
60).
Essa questão do Sentido nos remete, necessariamente, para as formulações de
F. Saussure. Onde, ele diz que “o que torna cada elemento de uma língua o que ela é, o
que lhe dá sua identidade, são os contrastes entre ele e outros elementos dentro do
sistema da língua.” (pg. 61). O que dá o conteúdo de um elemento é, portanto, sua
função; sua forma-conteúdo tem que estar inserida em um sistema, podendo assim,
pelo “uso” se portar de determinada maneira que lhe irá conferir um sentido que, por
sua vez, será idêntico apenas consigo mesmo.
O que faz com que um elemento corresponda a um determinado sentido não é
conferido pela sua palavra, nem muito menos pelo objeto ao qual ele torna e toma
referência, mas o lugar em que ocupa na estrutura sistemática: “a sua identidade é seu
lugar no sistema” (pg. 61)
Sendo a língua um sistema de signos, esses têm que ser composta de forma
arbitrária, pois não devem comportar sequer um átomo de naturalidade ou
essencialidade. O uso, em um determinado “lugar” é o que de fato determina a
natureza semântica do signo. O signo, por sua vez, tem uma composição sintética de
dois elementos essenciais: Significado e Significante. Aquele sendo o sentido, o outro
sendo a forma. Essa forma é remetida a um fenômeno sonoro, enquanto o sentido o
plano do pensamento.
Um Signo é algo impar e singularmente possível.
Não há signos que se proponham como “sinônimos”, pois o conteúdo de signo é
intimamente conferido a uma única determinação. Um signo, portanto, é uma
representação real de uma síntese entre significado e significante. Significante e
significado são chamado, também de Imagem Acústica e Conceito. Assim, o signo é
uma representação mental formado por, necessariamente, duas categorias
conceituais: Conceito e Imagem acústica. Isso significa que o signo não sintetiza uma
coisa e uma palavra, mas uma imagem acústica a um conceito: esse como uma
imagem mental, e o outro como uma representação fônica.
Dento da estrutura linguística como sendo a língua um sistema – que, por isso,
pode-se ser posta ao lado de qualquer objeto de estudo que tenha por orientação uma
ciência própria – “cada língua é um sistema de conceitos de formas: um sistema de
signos convencionais que organiza o mundo” (pg. 62).
Ao “organizar” o mundo, a língua participa da vida social e de suas atribuições
mais pertinentes, desde as visões de mundo individual, até as questões mais coletivas
das tomadas de decisões – como a política e etc. A língua é portadora de uma forma
de pensamento que está no e para o mundo. Assim, “a língua é, dessa maneira, tanto a
manifestação concreta da ideologia – as categorias nas quais os falantes são
autorizados a pensar...” (pg. 63)
Porém, se temos uma ciência para estudar essa forma objetiva de manifestação
categorial da vida humana, essa mesma ciência divide-se em duas formas de métodos
de análise para com a língua: forma sincrônica e forma diacrônica. A forma de estudo
sincrônica “enfoca a língua como um sistema num momento específico”, enquanto a
forma diacrônica “examina as mudanças históricas sofridas por elementos específicos”
(pg. 64). Assim, o estudo científico da língua não é entender o sentido de uma forma
de linguagem, se está certa ou errada, mas o seu processo técnico: uma análise
objetiva da relação da língua como sistema, sem problematizar um possível “sentido
verdadeiro” das frases, sentenças e etc. Assim, “a tarefa da linguística é descrever as
estruturas da língua...” (idem)
No estudo da linguagem há uma discussão entre formas de analisar os sentidos
de uma de uma proposta literária: hermenêutica e poética.
A proposta poética tem como consideração a forma interpretação variada e de
uma autonomia relativa; a hermenêutica, por sua vez, tenta se ater ao que de fato está
posto sem mediação da subjetividade. A primeira tem a intenção de entender os
sentidos e os efeitos causados sobre determinados elementos, desde a ironia até o
lírico; o segundo tenta procurar interpretar e melhorar cada vez mais o entendimento
do texto pelo texto – uma tentativa de exprimir a parte objetivamente posta daquela
forma.
Se o texto se apresenta de várias formas, ele também tem várias formas de
receptibilidade. Nessa forma, o leitor é quem é mais “interessado” na questão. Chama-
se Estética da Recepção o fato de uma obra passar pelo clivo do leitor no qual é sua
experiência para com o texto que configura o sentido daquele. Contudo, como cada
leitor tem seu ponto de partida, sua visão de mundo, suas vivências, classes sociais e
determinações histórico-culturais e etc. remetem para uma perspectiva tal que suas
inclinações pessoais possam ser colocadas em exposto. Assim, há, ao se ter contato
com uma determinada obra, um “horizonte de expectativas”. Ou seja, “interpretar é
uma prática social” (pg. 67) que quer dizer que o momento histórico do indivíduo não
só contribui como também é parte constitutiva de sua modelação particular e
subjetivante: seu “ponto de vista” não só informa sua posição sociocultural, como esta
consegue enxergar o que a obra tem e que às vezes o próprio autor não “enxerga”.
O que falar de uma literatura, como Dom Casmuro, em que o escritor lírico é
um homem, e em que a situação da mulher é negligenciada através da “visão”
masculina; outros aspectos que podemos ver em outras obras, onde as minorias
tendem a serem caladas em detrimento de serem “vocalizadas” por porta-vozes que
em nada “enxergam” seus verdadeiros anseios e realidades.
Por outro lado, a visão de uma obra sendo apontada por uma visão não
hegemônica e normativa, dá contribuições imprescindíveis; um leitor do século
hodierno pode entender As Ilusões Perdidas com mais ênfase e propriedades que o
leitor da França do século XIX, e descobrir que na verdade o Balzac foi “contra a sua
classe social”, pois a obra de arte permite essa autonomia, pois “o sentido de uma
obra não é o que o escritor tinha em mente em algum momento durante a composição
da obram ou o que o escritor pensava que a obra significa depois de terminada, mas,
ao contrário, o que ele ou ela conseguiu corporificar na obra.” (pg. 69). Isso tem
validade plena, pois o sentido de um texto é a experiência do leitor. (Tomemos
cuidado com essa assertiva, pois quando falamos que o sentido é dado pelo leitor,
tempos que ter em mente que “sentido” não quer dizer reconstrução textual, mas
uma busca que vai em encontro ao objeto – aqui, no nosso caso, o texto – porém com
o conteúdo subjetivo que olhara para esse objeto e não para uma reconstrução dele.
Portanto, “o sentido está preso ao contexto, mas o contexto é ilimitado” (pg. 70))
Dessa forma, podemos dizer que o sentido do texto não nem a Intenção (do
autor ou leitor), texto, contexto e leitor, mas tudo isso junto, pois o texto só é texto em
um contexto específico, onde o leitor que o ler tem sua postura, podendo ser ou não a
do autor, e onde esses podem ter intenções completamente diferentes.
Fechado essa discussão, deixaremos uma citação que resume nosso capítulo
em relação ao Sentido e sua receptibilidade:
O sentido de uma obra não é o que o autor tinha em mente em
algum momento, tampouco é simplesmente uma propriedade do texto
ou a experiência do leitor. O sentido é uma noção inescapável porque
não é algo simples ou simplesmente determinado. É simultaneamente
uma experiência de um sujeito e uma propriedade de um texto. É
tanto aquilo que compreendemos como o que, no texto, tentamos
compreender.

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